Crônicas
de um Chefe escoteiro.
Vontade
de acampar.
Tem
dias que me vem uma vontade imensa de acampar. Vontade de pegar minha mochila e
sair por aí. Você levanta, põe os pés no chão. Olha pela janela o sol entrando,
dá um sorriso e diz! Bom dia a todos que não vejo e desejo que tenham um ótimo
dia. E então começa a lembrar dos tempos passados, quando abria a porta da
barraca, sorria e era hora de enfrentar um novo dia. Aí você cantava alto para
todos ouvirem – Alô! Bom dia! Como vai você, um olhar bem amigo, um certo
sorriso um aperto de mão! E a gente fica sem saber como e porque, e passa a
sorrir e passa a cantar, alegre canção!
Eu adorava
esta musica. Era um bálsamo quando me levantava e olhe que era antes das seis
da manhã. Bem, agora não dá mais. O jeito é tomar um café e botar o pé na
estrada mesmo tropeçando aqui e ali com minha bengala. Andar um ou dois
quilômetros voltar e sentar para a respiração voltar ao normal. Ver um vizinho
passar e dar bom dia e então fazer o que faço sempre. Sonhar acordado. Adoro
isto. Sabem como fazer? Fácil. Fecho os olhos e deixo minha mente solta em
busca dos meus desejos. Assim eu faço meu acampamento. Imagino que pego no meu
baú minha mochila, meu cantil, minha faca, minha machadinha, minha bússola,
minha lanterna, meu cabo solteiro de vinte metros e minha capa preta que nunca
abandonei. Uma muda de roupa, shorts, cuecas, meias, material de higiene, uma
toalha pequena alguns comprimidos, uma caixinha pequenita de primeiros socorros
e lá vou eu. Não esqueci meu canivete suíço, meus talheres fixos, e duas
caçarolas sem alça que se encaixam. Não levo barracas. Não precisa. Sou mestre
mateiro, faço de olhos fechados uma boa cabana para dormir.
No bornal
levo meu “farnel” para três dias. Ração B. Tudo muito simples. Nos meus sonhos
sei que vou pescar uns lambaris e os adoro fritos no fubá. Acredito que aonde
vou encontrarei algumas mandiocas, quem sabe uns inhames, ou mesmo mamão verdes
para uma deliciosa sopa. Pode ser que dou sorte e encontro uns pés de maracujá.
Não vou me apertar. Vou sozinho. Adoro acampar sozinho. Sozinho o silêncio me
faz muito bem. Adoro acampar ouvindo a passarada. Quem sabe sentar a moda índia
em uma campina, ou uma relva fresca e esperar que um lobo guará venha comer
sementes ou mesmo venha lamber minha mão. Não é impossível. Já aconteceu antes.
Lá naquela
clareira onde estou, tem uma cascata. Linda. Aguas claras, límpidas,
borbulhando na queda como se estivesse fazendo o sinal de pista – Agua boa para
beber! Durante o dia, nada de novo no front. Quem sabe viria um quati para me
fazer companhia. Quem sabe uma capivara me olharia com aqueles olhinhos
maravilhosos. E depois de tudo pronto em meu campo de fantasia, eu iria sentar
em frente ao remanso e iria ver os peixinhos a nadar. E à tardinha depois de um
jantarzinho simples e iria ver o sol se por lá no alto do morro, seria uma
visão fantástica. Que coisa maravilhosa. Adoro isto.
Quando a
noite chegar, uma pequena fogueira. Claro, minha poltrona do Astronauta estaria
pronta. Minha gaita de fole importada da Escócia iria tocar e lembrar belas músicas
escoteiras. A árvore da montanha. Guinganguli. Toadas da serra. Terra do belo Olmeiro.
Avançam as patrulhas e porque não a Canção da Promessa e antes de tocar a
Canção da Despedida iria ouvir o som da floresta que é imperdível à noite. O
doce farfalhar do orvalho veria se misturar às fagulhas da fogueira que de
maneira faceira vão viajar ao sabor do vento. Se tivesse sorte, Veria a Coruja
Buraqueira, com aqueles olhos enigmáticos e incrivelmente belos a piar para mim
como estivesse dizendo – Meu amigo, boa noite. Seja feliz como eu sou vivendo
aqui nesta floresta encantada.
Não sei
se teria sono. Não sei. Mas lá pelas tantas, após deitar na relva e admirar as
estrelas, o firmamento com aquele brilho próprio de um universo fantástico ia me
perguntar por que ainda alguns duvidam da existência de Deus. Então iria me dizer
boa noite. Ainda de olhos abertos através da porta da minha cabana eu sabia que
os insetos noturnos fariam seu bailados e quem sabe vaga-lumes iriam dançar para
me mostrar como estavam contentes em me fazer companhia. Podem acreditar não ia faltar o grilo falante,
pois sempre esteve presente para me desejar boa noite. Mas tudo que é bom dura
pouco. Uma vez calma e linda me chama. Meu marido, hora do almoço. Acorde!
Caramba! E lá se foi meu sonho acordado. E a tarde, quem sabe volto de novo as
minhas viagens por este mundo de Deus como fazia antes? Como é bom sonhar!
Adoro sonhar!
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