Quando eu voltei a ser criança.
Uma máquina
do tempo me levou ao passado. Que coisa boa. Nesta viagem os ETs apagaram da
minha mente minha velhice e me fizeram sonhar de novo com os meus sete anos! Um
sonho distante. Que lindo! Voltar de novo a ser criança e era como um cinema na
minha frente e eu vendo...
- Me vi
acordando pela manhã, ouvi novamente os pardais no pé de manga no quintal da
minha casa, que bom. Sabia que não ia à escola, pois era sábado, e ficaria ali
a olhar para o teto e sorrir. Meus pensamentos eram tantos e nem sabia o que
iria fazer hoje, lá fora pela janela o sol forte. E gostava do sol mais que da
chuva. Lindo o sol brilhante. Me via colocando as mãos sobre a nuca pensando
nos meus problemas. Muitos. Sabia que mamãe ia pedir para bombear água para a
caixa logo cedo. Não tínhamos água da rua e uma cisterna resolvia. Ela sabia
que quando saísse não tinha hora para voltar. Seriam cento e cinquenta
bombadas. Nada menos que meia hora e lá ia eu após tomar café com bolo de aipim
que minha fazia sempre. Eu adorava.
- Me vi
sentado na linha do trem, adorava colocar os ouvidos no trilho e ver se alguma
locomotiva ia passar. Dava para ouvir o plac plac ao longe. Os outros meninos estavam
jogando bolas de gude. Eu sempre tinha vinte ou trinta biroscas. Gostava de
jogar. Três panelinhas, correr uma por uma, ganhar ou perder minha birosca.
Mais meninos chegavam. Mais panelas eram feitas. Se tivesse chovido na véspera
era a vez do finquinho. Entretanto hoje neste sábado não teria tempo. Mamãe
conseguiu com a costureira dez carreteis de madeira. Tinha guardado uma lata de
marmelada. Iria dar um belo carrinho para minha coleção.
- Minha
casa, depois da linha da estrada de ferro, tinha uma varandinha, nos fundos um
quintal enorme. Vavá meu primo mais velho comprou uma mesa de ping pong. Eu me virava jogando com minha irmã Cecéia. A mais
velha. Bem próximo ao morro lá no fundão do quintal era minha cidade. Nela eu
sempre fazia estradas, pontes, um posto de gasolina e algumas casinhas. Lá eu
guardava minha frota de caminhões. Todos de lata com carreteis de linha. Difícil
decisão. Minha mente tinha de resolver, não era fácil. Jogar birosca, fazer meu
carrinho ou soltar meu papagaio que papai fez? Quantos problemas eu tinha.
Afinal ele além de fazer um lindo papagaio fez também uma manivela enorme! Eu
tinha prometido aos meus amigos de levar o papagaio aos céus, bem alto e se
voltasse com pingos de nuvens seria uma alegria que iria durar para sempre!
Eram poucos que conseguiam. Só a alegria de voar, sem destruir os dos outros!
- Um sábado.
Quantas coisas eu ia fazer. Mas a turminha da birosca insistia para eu
participar. Já ia caminhando rumo a eles e passou um menino de azul. Quem era?
Nunca o vi. Um boné e um lenço verde e amarelo no pescoço. Nos meus gibis já
tinha visto os caubóis assim. Mas ele era diferente. Estava sorrindo. Orgulhoso
de seu uniforme! Meu Deus! Que lindo menino. – Oi, você, quem você é? – Sou
lobinho. – Lobinho? – Sim, dos escoteiros. - Minha nossa! Onde voces ficam?
Atrás do cinema Pio XII. – Mamãe! Vou lá perto do cinema, volto logo. Vou ver
os escoteiros! – Não demore, o almoço está quase pronto.
- Uma turma
enorme. Mais de cem. Todos brincando. Que lindo! Sentei numa pedra próxima e
fiquei ali o tempo todo vendo. Sabia que mamãe ia ficar “braba”, pois não
queria sair dali. Meus olhinhos brilhavam. Meus lábios sorriam toda vez que
davam um grito esquisito! - Um lobinho me chamou. – Quer participar? Falta um
na minha matilha cinza. Um jogo difícil. Precisamos de mais um! – Que bonito
foi. Esqueci tudo. Meus carrinhos de lata, minhas biroscas, meus finquinhos e
até meu lido papagaio que ia voar nas nuvens. Agora estava nos lobinhos. Meu
Deus! Que coisa maravilhosa!
- Mamãe! Venha comigo. Tem de me
matricular nos escoteiros! Ela riu e disse hoje não. Chorei. Chorei muito. Mas
filho amanhã não pode? Não mamãe, tem de ser hoje. E lá foi ela de mãos dada
comigo. Minha mãe. Minha linda mamãe. E o começo da jornada começou ali. Ela
sempre me apoiou. Meu pai ria quando contava minhas histórias de lobinho. Grande
papai. Senti alguém me puxando, era a máquina do tempo. Trouxe-me de volta ao
meu mundo, a minha velhice, as minhas lembranças. Quando tempo, quantas coisas
boas e quantas recordações. Um dia quero a máquina do tempo de volta. Ver
novamente fatos marcados que ficaram para sempre na minha memória. Como foi bom
voltar a ser criança, valeu. Nunca esqueci aquele menino de azul. Foi quem me
trouxe a esta vida que sempre amei. Obrigado. Não sei mais quem é. Não lembro o
seu nome. Onde estiver, obrigado mesmo!
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