Conversa
ao pé do fogo.
A arte do
aconselhamento tem técnica?
A primeira vez que conheci
Pataxó foi há muito tempo. Ele era Sênior. Encontramo-nos em um acampamento
distrital de patrulhas. Escolheram-me como Chefe do subcampo Sênior. Ele não
era Monitor, mas uma tarde me procurou na barraca de chefia – Chefe! Pode me
dar um tempo? – Claro meu jovem, o tempo que você quiser. – Por favor, não me
ache infantil. Nada disto. Mas vim aqui para fazer escotismo e o que vejo são
as guias e seniores conversando aqui e ali. Não quero que mudem nada, mas não é
o que eu queria para uma confraternização distrital. – Assim sabe Chefe estou
querendo ir embora. Sei que meu Monitor não vai entender, ele está namorando
uma menina de outro grupo. Sei também que quando chegar ao grupo na primeira
reunião eles irão fazer um Conselho de Tropa e claro, irão claro me punir de
alguma forma. Se acontecer prefiro sair do movimento Escoteiro.
Pataxó franziu a testa e levantou as sobrancelhas. Não disse mais nada.
Fiquei conhecendo o rapaz. Educado, prestativo e pelo que me contou era
esforçado para atingir um objetivo que matinha em sua mente. Queria ter uma boa
fábrica de móveis, pois era aprendiz em uma e lá estava aprendendo o ofício com
amor e abnegação. Estudava também à noite. Era corrido para ele. Foi por dois
anos escoteiro, mas quando conseguiu a vaga na marcenaria os sábados foram
cortados. Voltou a menos de um ano para os seniores. Seu Marcondes dono da
Marcenaria passou a fechar ao meio dia de sábado. Ele gostava do escotismo.
Gostava de atividades aventureiras, de acampamentos e excursões. Fizera amigos
na tropa. Agora era tudo diferente, as moças chamadas de guias estavam juntas
nas patrulhas.
Em dois acampamentos ele se sentiu um peixe
fora d’água, mas acostumou. Ficar o dia inteiro com elas – Na Patrulha somos
seis, três são guias disse. Porque estranhou? Perguntei. – Bem Chefe, o Senhor sabe
correr para o matinho e ficar de olho nelas se não estão por ali, subir em
arvores, falsa baiana e construir um ninho de águia com elas juntos não é
fácil. Concordo que elas eram animadas, esforçadas e até em certos casos eram
superiores a nós seniores. – Pataxó contou, contou e ficamos até altas horas da
noite conversando. Ou melhor, ele falando. Eu só ouvia. No dia seguinte ele
estava alegre, brincalhão, foi em sua Patrulha várias vezes e até me perguntou
se podia voltar. – Você quer? Perguntei? – Sim Chefe, o Senhor não vai
acreditar, mas a Franciele disse que sentiu saudades de mim! – Problema
resolvido. Este escotismo moderno não é fácil. De vez em quando deixar falar e
ficar calado é o melhor caminho.
Passou-se mais de dez anos quando encontrei novamente Pataxó. – Uma
surpresa. Estava em meu Grupo Escoteiro em atividade num sábado à tarde com os
escoteiros e uma Assistente da Alcatéia me procurou – Chefe tem outro Chefe da
Bahia querendo falar com o Senhor. Olhei e lá estava Pataxó. Nos seus vinte
seis anos. Um homem formado na família escoteira. Ao seu lado uma linda moça. –
Olá Chefe, ele disse, lembra-se de mim? – Nunca o esqueceria. – Esta é
Franciele. Minha noiva. Vamos nos casar no ano que vem. – Sabe Chefe, nunca o
esqueci. O Senhor foi o único que me mostrou o caminho sem dizer nada. Sou
eternamente grato. Ainda estou no Grupo Escoteiro. Hoje sou Chefe de Tropa
Escoteira. Minha noiva me ajuda, pois temos duas Patrulha femininas. Mas
separadas! E riu a vontade.
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