Lendas escoteiras.
Marie, a escoteira que
sempre aceitou desafio.
(esta é uma história de
ficção, nada mais que isto).
A história de
Marie sempre me fez lembrar o ensaio escrito por Elbert Hubbard no seu celebre
conto que ficou conhecido no mundo inteiro como a “Mensagem a Garcia”. Muitos
explicam a sua maneira o que ele quis dizer, mas eu sempre penso que todos nós
Escoteiros deveríamos ter também um pouco do teor desta mensagem. Hubbard disse
que ele o homem chave da história deveria ser imortalizado em bronze e a sua
estátua erigida em todos os colégios da terra. Uma história para lideres que
não perguntam onde é o acampamento, não tem dificuldades para chegar lá seja
onde for. Quando você menos assusta ele bate a sua porta. É uma história conhecida,
mas faço um pequeno resumo, pois a história toda é bem maior. O ensaio relata a história de "um camarada de nome Rowan" que
heroicamente, contra todas as adversidades, entregou uma mensagem do presidente
estadunidense McKinley ao general Calixto Garcia
Íñiguez, líder das forças rebeldes cubanas durante a Guerra Hispano-Americana. Em síntese a história ficou famosa porque Rowan
diferente de todos os outros não perguntou ao Presidente quem era Garcia, onde
ele estava e como chegaria lá. Pegou a mensagem, colocou em seu bornal e
partiu. Dias depois a mensagem foi entregue apesar de todas as adversidades.
Marie a escoteira não ficou famosa só por isto. Acho que poucos ficaram sabendo
dela. Mas desde que nasceu mostrou uma extraordinária força de vontade. Aos
cinco anos lia perfeitamente. Conversava qualquer assunto e seu lugar preferido
era a biblioteca da cidade. Aos sete entrou para os lobinhos. Gostou tanto que
nunca mais saiu do movimento Escoteiro. Sua fama de líder iniciou quando uma
forte Tromba D’água caiu sobre a cidade. Muitos desaparecidos e muitos
desabrigados. O prefeito não sabia o que fazer as autoridades só reclamavam da
falta de verbas estaduais e federais. Marie com seus onze anos reuniu sua
patrulha. As outras a seguiram. Lobo é com vocês conseguirem comida para todos.
Morcegos põe a cuca para funcionar. Leve quantos for possível para a Escola
Estadual. E assim as patrulhas começaram a trabalhar. Marie não parava. Estava
em todo lugar. O prefeito vendo seu trabalho correu a ficar do lado dela. Ela
riu e deu uma enxada para o prefeito. Excelência! Ela disse, comece limpando a
lama que entrou na casa do senhor Amadeus.
O prefeito não gostou. Seus auxiliares corriam dela. Ela soube das
verbas estaduais e federais. Cobrava de cada um e não aceitava promessa. Nunca
faltou a uma reunião escoteira. Quando descobriu que os que perderam suas casas
no Bairro Jardim das Flores não tiveram nenhuma colaboração financeira mandou
um e-mail para o Ministro das Cidades. Não recebeu resposta. Combinou com todos
do grupo e amigos do colégio para enviar e-mails, pelo menos quatro por dia. O
ministro respondeu que a verba estava com o prefeito. Ela botou a boca no
trombone. O prefeito nada. Fez um cartaz e saiu pela rua gritando onde estava à
verba dos sem casa! Em pouco tempo tinha uma multidão com ela. Ela deu queixa
na delegacia e o delegado não queria aceitar a ocorrência. Ligou para a Polícia
Federal e não foi bem tratada. Marie desistir? Nunca. Escreveu diretamente para
a Presidente. Se foi ela ou não a responsável, o certo é que as casas começaram
a ser construídas.
Todos que a conheciam sabiam que quando crescesse ela poderia ser
Presidente. Tinha jeito para tudo. Sabia reclamar, mas sabia elogiar e sempre
dizia – Vamos fazer juntos. Interessante que Marie nunca aceitou ser prima,
monitora nos Escoteiros e nas Guias. Ajudava em tudo. O grupo sabia o que ela
fez. No comércio conseguiu todo material de campo para todas as patrulhas.
Quando acampavam os mantimentos ela conseguia. Como guia participou de uma
Aventura Sênior. As atividades não foram ruins apesar de que as patrulhas nunca
foram acionadas. Mais na base do eu sozinho e você meu amigo. Dois fatos ficaram
conhecidos. Um Chefe novo deu nela uma cantada. Ela o pegou pela mão e o levou
a presença da equipe dirigente – Agora repita o que me disse Chefe! O moço
envermelhou, gaguejou e pediu desculpas. Exigiu uma reunião com a equipe
dirigente. Falou sobre palavrões, a falta de espírito Escoteiro, namoros
escondidos e a indisciplina de alguns (não de todos). Queria uma providencia. O
Alto Falante do campo alertou a todos sobre o que ela pediu. Não resolveu, mas
diminuiu. Ela dizia sempre que vestir o uniforme é fácil, mas mostrar o
espírito Escoteiro aí à “porca torce o rabo”.
Marie fez dezoito anos
e não quis ser pioneira. Preferiu participar da chefia. Inscreveu-se em todos
os cursos. Sua fama de líder e direta nas palavras já era do conhecimento dos
dirigentes. Isto atrapalhava Marie, ela queria ter uma vida simples, conhecer
alguém, namorar e quem sabe casar e ter filhos. Sonhava em ter um casal. Na
cidade todos os partidos a procuravam. Ofereciam tudo. Nunca aceitou. Ela
gostava do Giovani que nunca olhou para ela. Ele como todos os rapazes da
cidade achavam-na metida, dona de todas as ideias e não gostavam de sua
liderança. Homens são sempre assim. Nunca querem ser mandados principalmente
por mulheres. Acham que são eles os donos das ideias. Marie sabia que nem
todos. Marie tinha 23 anos quando vários homens a espancaram. Quase morreu.
Perdeu o olho direito. O delegado tinha uma rixa com ela, pois ela interferia
em tudo por isto os culpados nunca foram encontrados. Nunca não, Marie fez
questão de colocar na rádio e no jornal da cidade o nome de cada um. Muitos
filhinhos de papai. Tiveram que abandonar a cidade para sempre.
O Grupo Escoteiro onde
Marie atuava crescia assustadoramente. Ela pediu a direção regional para ajudá-la
a organizar outros grupos. Nunca deram bola para ela. Acho que não gostavam
dela. Pessoas com liderança se não souberem se conter em alguns casos ficam
antipatizadas. O coração de Marie não ligava para os invejosos, egoístas e os
falsos que lhe dirigiam palavras só para agradar. Marie estudou. Fez direito,
Abriu um pequeno escritório de Advocacia. Tornou-se uma advogada respeitável.
Sua fama de honesta e sincera correu mundo. Aos 48 anos ainda participava do
escotismo. Foi convidada diversas vezes para diversos Talk show. Marie era
diferente de muitos que quando adquirem status profissional esquecem-se do
escotismo, dos seus amigos. No seu país Marie fez tudo para que o escotismo
fosse reconhecido. Nunca participou de eventos escoteiros nacionais tais como
Assembleias, Congressos, Atividades nacionais onde só adultos participavam. Ela
conhecia o esquema. Tudo era carta marcada apesar de muitos jurarem que não.
Ela não gostava disto.
Nunca foi agraciada com
nenhuma medalha escoteira. Recebeu sim diversas condecorações de outros países.
Uma vez a inscreveram para o Premio Nobel. Todas admiravam sua performance de
ajuda ao próximo sem nunca desistir do resultado. Sua fama correu mundo. A
própria liderança escoteira mundial a convidou diversas vezes para seus
congressos. Sempre recusou. Muitas organizações reconheciam nela uma líder que
nunca sabia dizer não. Quando ela completou 56 anos seu nome foi cogitado para
Ministra do Supremo Tribunal Federal. Morreu dois anos depois vítima de um
câncer no seio. Nunca ligou para si. Acredito que pensava que os outros vinham
em primeiro lugar. Suas exéquias foram comentadas na imprensa escrita e
televisada vinda de todas as partes do mundo. Muitos políticos e empresários
famosos lá estavam. Disseram que foram prestar sua última homenagem a uma
mulher de fibra. Ao lado do seu esquife estava a Patrulha lobo. Não faltou
ninguém. Alguns de sua época fizeram questão de comparecer uniformizados. O
mundo girou muitas vezes depois que Marie se foi. Marie nunca mais foi lembrada
pela imprensa. Ela tinha o escotismo em seu coração e até o ultimo momento fez
dele sua filosofia de vida.
Sempre Alerta Marie, que seu exemplo seja seguido por todos Escoteiros e
Escoteiras do mundo!
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