Conversa ao pé do fogo.
O Troféu eficiência.
Desistir dele? Jamais!
Nunca liguei se
perdia ou se vencia. Para mim o escotismo era só diversão. Sentia-me bem na
patrulha Condor e nunca parei para pensar o porquê ela se deixava levar como o
vento sem ter uma direção firme, uma abordagem um leme seguro para chegar ao
porto escolhido. Quando comecei o ano passado tentei mudar o estilo. – Meu nome
é Zito e o seu? Perguntei. Ninguém respondeu. O Monitor me olhou e disse que se
fosse bom logo todos aprenderiam o me nome. Eram quatro patrulhas e cada uma a seu modo
tinha sua maneira de viver. Os Pintassilgos e os Mergulhões sempre foram os
primeiros. Era normal e ninguém se incomodava. Parecia um jogo de cartas
marcadas e que não incomodava ninguém. Claro que a Patrulha Uirapuru de vez em
quando conseguia um troféu, um elogio mas a Condor? Ninguém se preocupava.
Jerônimo o Monitor arrastava o bastão quando corríamos, Jader e Pepeu na fila
da patrulha não se entendiam. Agora tinha duas meninas que só sorriam e mais
nada. Paty e Vilminha. Bill já estava fazendo a Rota Sênior e durante o tempo
que participou da Patrulha nunca se preocupou em ganhar ou vencer.
O Chefe Jean
Pierre estava na tropa há mais de dez anos. Não sei se ele prestava muita
atenção em tudo que acontecia ou se ele achava que cada um tinha que descobrir
o sentido da vida na patrulha. Ele sempre dizia que a vida tem quatro sentidos:
amar, sofrer, lutar e vencer. Por isso patrulheiros amem muito, sofram pouco e lutem
bastante e claro, vençam sempre. Se isto era uma motivação de nada valia para
nós os Condor. Nos acampamentos era comum a cada manhã, após a inspeção de
campo e depois do cerimonial de bandeira a eficiência de campo ser entre aos
Mergulhões e aos Pintassilgos. E assim os dias de acampamento iam passando, nós
ali brincado de Escoteiros valentes, de experientes mateiros e nunca desejando
também ser um daqueles que já atingiram o panteão dos vencedores.
Um dia
conversava com meu pai. Eu o adorava. Achei que ele devia ser um Chefe
Escoteiro mas nunca tinha tempo. Quando não estava em atividade em um domingo
ele me convidava para passear. Não íamos longe. Havia um bosque proximo e ele
me levava para me ensinar a crescer, a dar o passo certo e ele colocava as
coisas de tal maneira que nunca se tornava enfadonho nossa conversa. – Zito,
como vai você nos escoteiros? Antes falava tanto que até aprendi com você a Lei
escoteira. Ele ria quando se lembrava dos meus sonhos, das minhas vontades e
para ele sempre jurei que nunca deixaria de ser um escoteiro. Um domingo ele
tocou com palavras que nunca pensei que ele pudesse falar sobre meu
crescimento, sobre a luta pela vida, a respeitar, ser um homem honrado e lutar
por tudo que sonhar. – Meu filho, poetas já diziam que bom mesmo é ir a luta
com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com
ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” para ser
insignificante.
Paramos na sombra
de uma enorme pitangueira e sentamos ali vendo o lago do parque, pessoas nos
barquinhos indo e vindo e ele continuou – Você nasceu para vencer, mas para ser
um vencedor você precisa planejar para vencer, se preparar para vencer, e
esperar vencer. Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é
o desejo de vencer. Saiba que nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho
mais certo de vencer é tentar mais uma vez. E lembre-se que quem quer vencer um
obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente. Naquela
noite e naquela semana fiquei pensando se a vida que levava no escotismo era a
que queria. Pela primeira vez pensei o porquê os outros ganhavam e nós não. Eu
não podia continuar em uma patrulha que nunca venceu, que não tinha sonhos e
que a vida para ela era um jogo de cartas marcadas.
Na semana procurei
Jerônimo o nosso Monitor. Abri-me com ele. Disse que precisávamos mudar nosso
estilo. Não devíamos continuar sendo uns “Maria vai com as outras”. Tinhamos
que aprender a dar os passos certos e também sermos os melhores. Não precisava
ser mais que os outros mas tínhamos que igualar. Jerônimo não se interessou
muito no que eu disse. A monitoria para ele sempre foi uma maneira de se
manifestar com líder e agora eu sabia que ele nunca tinha sido um líder. Mesmo
assim ele marcou um Conselho de Patrulha para discutirmos o assunto. Não sei se
fui muito loquaz no dia da reunião. Vi os olhos da Paty e Vilminha brilharem.
Senti também que Jader e Pompeu se entreolhavam como se a perguntar se eles
eram uns derrotados. Até Bill entrando nos seus catorze anos se interessou.
Foram quatro
Conselhos de Patrulha e cinco reuniões de patrulha. Partimos para o acampamento
na Mata do Pastor cheios de planos. Podíamos até tirar o segundo ou o terceiro
lugar mas o ultimo não. Era questão de honra. Agora cada um sabia o que fazer.
O Bombeiro, o Aguadeiro, o Construtor de Pioneirias, o cozinheiro, o Intendente
o sub e o Monitor eram como uma máquina afiada. Tudo nos seus conformes. Sempre
os primeiros com o grito de campo pronto, de refeições prontas e até o Chefe
Jean Pierre se assustou e aceitou o convite para jantar conosco. Afinal era o primeiro dia e quase todas as
patrulhas ainda não tinham dado o grito. Ficou estupefato com o que viu. A mesa
com bancos, o fogão de barro na altura certa do cozinheiro. Os toldos bem
firmes. O aguadeiro sempre disposto ao lado do cozinheiro. A barraca da
intendência perfeita. Nenhuma ferramenta do lado de fora e todas elas bem
colocadas na barraca.
No dia seguinte levantamos
cedo. Nem esperamos o toque do Chifre do Kudu que o Chefe fazia para a
alvorada. As nove em ponto estávamos formados em frente ao campo. Tudo limpo.
Tudo arrumado. Cada um se esforçou ao máximo. O Chefe se aproximou com os
monitores. Fizemos o melhor grito de patrulha do mundo. Estava tudo perfeito.
Fomos para a bandeira cantando. Perder ou ganhar já não era tão importante.
Dizem que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Não era o nosso caso.
Bandeiras ao vento. O Chefe após a oração se aproximou do meio da ferradura com
A bandeirola de Couro da eficiência geral já nossa conhecida só de olhar. –
Patrulha Condor, se aproxime. Um frenesi. Meu corpo tremeu. Todos se olharam.
Vocês tiraram o primeiro lugar! Falar o que? Jerônimo virou para a tropa e
disse: Na vida vocês tem duas opções perder ou ganhar. Se apaixonem por alguém
e percam, faça as pessoas se apaixonarem por vocês e ganhem. Obrigado a todos e
espero que possamos nestes quatro dias de campo dividir nossa alegria com a
alegria que teremos sentido a ver vocês ganharem.
Nós os Condor
daquela época nunca mais nos esquecemos daquele dia. Dia que se multiplicou por
toda a vida que fui um honroso patrulheiro da Condor. Meu pai me deu uma lição,
meu Chefe me ajudou a completar a tarefa. Meu Monitor mudou sua maneira de
pensar. “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que
tombaram antes de vencer”.
Neste conto alguns temas foram tirados de frases de: Augusto Branco, Abraham Lincoln,
Zig Ziglar, Mahatma Gandhi, Thomas Edison, Giulia Staar.
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