Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Coisas de
escoteiros, coisas da vida.
Verdade, meu carrinho ficou pronto, já posso
deitar e rolar com ele por este mundão de Deus. A pé moletando tava difícil.
Não ficou tão bonito como os “Ninhos de Águia” que fazia nos meus acampamentos.
Mas ficou igual a “Ponte Levadiça” que ninguém quis usar para atravessar as
corredeiras do Rio Pequeno. Pequeno? Só de nome. Fui ao banco e lá chegando o
caixa me disse que meu saldo era igual a Zero menos quinhentos. Voltei. Topei
com uma Radio Patrulha prendendo um casal e nem fiquei sabendo o porquê. Ao
chegar em casa sentei na minha varanda (adoro!) e pensei na prisão.
Não sou um escoteiro tão
limpo de corpo e alma. Não sou não. Já fui preso, ameaçado e levei bordoadas no
trazeiro tudo por culpa de um policial. Mas eles queiram ou não impõe respeito
e não podemos ficar sem eles. Com dezessete anos voltava do meu namorico com a Célia
e um grande comício acontecia na Av. Dom Pedro. Eu sabia que o Senhor Jânio Quadros
estava na cidade. Na Rua Peçanha uma enorme multidão corria em minha direção. Desci
da bicicleta e fui para o passeio me esconder atrás de uma arvore. Só vi o
barulho e a dor no trazeiro. Alguém me batia com uma taboa e não parava. Virei-me
dei nele um soco a “lá Escoteira” e quando ele caiu com o nariz sangrando vi
que era um policial. Putz! A barra pesou.
Levaram-me para o xadrez.
Seis horas depois o Chefe João Soldado e o Capitão Barbosinha me tiraram de lá.
Mas as experiências de cadeia não pararam por aí. No final da década de
sessenta em uma cidade no interior de Minas, fazíamos um Conselho Regional hoje
chamado de Assembleia. Putz! Porque mudaram? Conselho era mais supimpa, mas
esta turma de hoje gosta de mudar. Conselhos os índios faziam. Assembleia a CUT
e o PT faz sempre. Mas tem gente que gosta fazer o que? Mas continuemos. Estava
lá a nata do escotismo mineiro. Eu o Comissário Regional, Chefe Darcy Escoteiro
Chefe, Padre João que foi Diretor Nacional de Adestramento (já notaram que os
nomes do passado eram mais escoteiros?), padre Geraldo, Chefe Hélio
(profissional escoteiro da UEB), o vice-prefeito da cidade e olhe isto sem
contar muitos Distritais e Chefes do Estado.
No sábado, lá pelas onze da
noite terminada as eleições, fomos a um programa típico de escoteiros famintos.
Uma moqueca de peixes (cidade ao lado da represa de Furnas) que ninguém queria
perder. Era perto e caminhávamos a pé junto a um muro alto quando vimos do
outro lado do muro uma plantação de goiabas. Brancas, vermelhas, e soube que lá
tinha verde, rosa e azul apesar de que não vi. Risos. O Chefe Nonato do Grupo
de Sabará viu uma reentrância no muro e subiu por ela pegando duas goiabas.
Demais. Grandes, enormes pareciam ovos de canguru (Chefe canguru não bota ovo!
- Não? Então troca para Ema ou avestruz). E foi então que vi o Padre Geraldo
subindo e pulando do outro lado do muro. Logo o muro ficou cheio de chefes,
todos querendo sua goiaba colorida.
Vinte minutos depois após três apitos
longos e um Lobo, Lobo, Lobo todos retornaram para a rua, cada um com os bolsos
cheios de goiaba. Hoje a vestimenta seria ideal, com aquelas calças bombachas e
bolsões que mais parecem bolso de guerrilheiros para levar munição poderiam
caber muitas goiabas. Eis que chegaram esbaforidos um homem bigodudo e mais
seis soldados. – “Teje todos presos”, ladrões de goiaba! Chefe Darcy com aquela
fleuma britânica respondeu. – Calma, veja o preço, iremos pagar! O Helio que
era lá do norte disse que não iria pagar nada. Seria uma piada se não fosse
sério. Quatro padres, um Regional, um Escoteiro Chefe, Seis DCIM, uns tantos
DCB, muitos IM e oito distritais sem contar o Presidente da Região um Coronel
que todos conheciam pela sua valentia e honradez ir parar no xadrez.
– Eis que o Vice-prefeito da
cidade tomou a frente junto com o Padre Anselmo pároco de lá. – Calma Juvêncio.
São meus amigos. Eu que autorizei! – Pois é doutor, ainda bem, as celas da
delegacia estão vazias e cabe todo mundo. Mas olhe se quiserem abro o portão e
todos poderão colher as goiabas em technicolor e as coloridas a vontade! Agradecemos
e fomos comer a peixada que por sinal estava no ponto e quem iria pagar era o
Lions Club da Cidade, isto porque o Rotary quase saiu nos tapas para ter a
honra de pagar. “Benza” Deus!
Posso afirmar que setenta
por cento foi real, o restante é coisa de escritor que quando não aumenta um ponto
esquece do seu conto. Tempo bom sô! Tempo de sorrir de ser feliz, de ser
fraterno não importando o cargo onde a amizade era real. Boa tarde para todos vocês.
Nota de Rodapé: - Olá gente escoteira. Hoje tirei o dia
para sorrir, para brincar comigo mesmo e não fiquem chateados com a foto publicada.
Uma parecida que publiquei há anos nunca vi tanto politicamente correto me
dando bordoadas. Mas verdade é que não sei se é um lindo uniforme ou não. Parece
que foi desenhado na França. Mas repito hoje estou de bem com a vida, e não
quero me indispor. Principalmente agora com meu carrinho 2003 funcionando,
escapamento furado, mas e daí? E então vi um casal sendo preso e pensei: -
Porque não escrever sobre prisão? E rebusquei nas minhas lembranças “causos”
para contar. Isto mesmo. Já fiquei horas no xilindró. Porque é só ler à
crônica. Boa tarde a todos com um sempre alerta de quem gosta de sorrir, mesmo
estando sem um tostão furado! Rs,rs,rs.
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