Nos tempos das falas novas, um novo tempo de Vírus Corona.
- Não... Não é primavera, entramos no outono. As falas novas de hoje são
um tal de Vírus Corona, diferente daquele que Mowgli e seus amigos davam pulos
de alegrias, ao sabor dos ventos benfazejos, das planícies floridas do ar vindo
das montanhas dos perfumes das flores no ar... Ainda temos ventos, temos
chuvas, mas temos agora tempos do qual nunca ouvimos falar. Vejo-me na minha
varanda assumindo meu posto de velho escoteiro em quarentena, não se esquecendo
dos meu aparelhos respiratórios e aspiratórios, lendo calmamente os viventes
postando noticias e pensando o que devo seguir. O assunto é um só... CONVID-19,
mais precisamente Corona-vírus. Mas tem mais, muito mais. Chefes amorosos,
chefes raivosos, chefes revoltosos... Tem todo o tipo de postagem de chefes
escoteiros que não acabam mais.
Às vezes me toco e penso em dar meu pitaco... Vale a pena? Vou dizer
que amo o Presidente e me orgulho de sua prole e do seu respeito para um tal de
Olavo que mora lá nos States? Vou condenar a Rede Globo, pois se ela fechar
metade das outras irão acabar já que não vão ter mais notícias para dar. Que o
Bonner e seus asseclas estão passando da medida concordo, mas tirando a Globo
vou assistir o que? Quem tem TV por assinatura ainda vá lá. Entrou no ar a CNN Brasil...
Não vi nada demais. Tem a Bandnews, ok, tem outras noticias que não o Corona
para dar. E aí vem tantas postagens que
coço o cocoruco e penso se devo comentar... Melhor deixar o vento me levar e
voltar nos meus tempos das falas novas, onde Mowgli desgostoso se sentia
sozinho nas terras de Seeonee.
– “Não há nenhuma caçada para hoje, observou Mowgly. – Irmãozinho
estarão teus ouvidos tapados? Isto que canto não é palavra de caça, mas canto
que quero ter pronto para a primavera. – tinha me esquecido. Reconheço muito
bem a chegada das falas novas, estação em que tu e os outros correreis para
longe, deixando-me sozinho, respondeu Mowgly queixoso. Vós debandais e eu,
Senhor da Jângal, tenho que viver sozinho. Até aquele ano Mowgly se deleitara
com o retorno das estações. Era ele quem, antes de todos, descobria o primeiro
olho da primavera e as primeiras nuvens da estação. Sua voz era ouvida em todos
os lugares, a fazer coro com os outros animais. Como para todos os outros, a
primavera era para ele o tempo de correr, só pelo prazer de correr do anoitecer
ao amanhecer e voltar ofegante, rindo-se, cheio de flores raras. O povo da
Jângal está constantemente ocupado na primavera; Mowgly via-os sempre rosnando,
uivando, gritando, piando , silvando, conforme a espécie de cada um. Suas vozes
mostram-se diferentes então; e por isso a primavera no Jângal é chamada o Tempo
das falas Novas”.
- Sou aquele velho que muitos dizem que não bato bem da “cuca”. Reclamo
calado por não ter comentários dos leitores. Pode ser, gosto de falar de vestir
de sonhar e de viajar nos meus tempos das falas novas escoteirando sem me
afastar do que amo e penso. Porque não vejo tantos dizendo sobre sua promessa?
Valeu? Sobre o que prometeu fazer o melhor possível para cumprir... É, cumprir
uma lei, tão difícil de seguir. Mas não deveriam escrever que somos irmãos uns
dos outros, somos leais, temos uma só palavra, sabemos sorrir e principalmente
somos corteses... Não é isso que diz alguns dos artigos da Lei? Ah! O lobinho
ouve sempre os velhos lobos... Bah! Melhor dizer que ele pensa primeiro nos
outros. Mas Chefe me diz um Lobo da Montanha, estão às pencas oferecendo ajuda
aos velhos, não sabe ler? È eu tenho que concordar. Mas ainda me bato que devíamos
falar mais do escotismo real e não aquele feito para satisfazer o ego de cada
um!
– “Comi bem, disse Mowgli a si próprio, bebi bem, minha garganta não
arde nem aperta. Mas tenho o estômago pesado e tratei mal a Bagheera e outros.
Ora me sinto quente, ora frio; ora nem quente nem frio, mas apenas furioso
contra não sei que. Ah-ah! É tempo de dar minha carreira. Esta noite cruzarei
as montanhas; sim darei uma corrida de primavera até os pantanais do norte, ida
e volta. De muito que caço sem esforço, isto me enerva. Como não encontrou
nenhum de seus irmãos lobos para correrem juntos, Mowgly saiu sozinho,
aborrecido por isso. Assim correu ele aquela noite, ás vezes gritando, ás vezes
cantando; correu até que o cheiro das flores o avisou que estava próximo dos
pantanais e longe, muito longe de sua Jângal. Avistou uma estrela bem baixa e
olhou pelo canudo da mão. – Pelo touro que me comprou é a flor vermelha, a flor
vermelha que deixei pra trás de mim quando me mudei para a alcatéia de Seonne.
Agora, que a vejo de novo, dou por fim a minha corrida”.
Embarco nesta carreira de Mowgly, queria ter a vontade de Caio Vianna
Martins. Andando com as próprias pernas escorando aqui e ali pelas paredes e
ainda penso em correr nos tempos das falas novas. Onde andam as crianças? Onde
andam os jovens que são a razão de ser deste belo movimento Badeniano?
Desapareceram no tempo das falas novas? Agora são folhas de outono perdidas
entre os Bandarlogs próximo ao Waingunga? Não os vejo comentando, sendo
comentados, não os vejo em nenhum lugar. Será que só os “grandes chefes” tem a
primazia de dizer o que fazer? Falar por eles? O que querem? Sento-me nas
Montanhas do Quênia e tento localizar a morada de B.-P. a sua Paxtu amada, onde
dizem estão lá as almas dos amigos dos tempos das falas novas, a recordarem dos
Ashantis, das lutas no Transwal, falando escotismo nas noites enluaradas de
Mafeking, dos ditosos dias de Brownsea, dos primeiros dias em Gilwell, da grama
verde tão lembrada, dos escoteiros e seus sorrisos... Gostaria de estar lá, ouvindo
num canto da sala, a voz de Baden-Powell das suas risadas, dos tempos das falas
novas!
- “Se tivesses vindo quando te chamei, isto nunca se daria, respondeu
Mowgly, apressando o passo. - E agora como será? - Perguntou o lobo Gris. - Mowgly
ia responder, quando uma mocinha trajada de branco surgiu no caminho que levava
à aldeia. Mowgly segui-a com os olhos por entre os talos de milho até que seu
vulto se perdeu ao longe. - E agora? Agora não sei... Respondeu finalmente,
suspirando. Porque não vieste quando te chamei? Nós te seguimos, murmurou o
lobo. Nó te seguimos sempre, exceto no tempo das falas novas”.
E sem carambola no pedaço, ouço o cantar de um bem ti vi lá ao longe bem
distante, quem sabe na terra onde nasci. E volto meus olhos ao Face, leio cada
frase, analiso penso e se penso logo existo! Rs... Até quando? Até quando alguém
disser: - Chefe o Corona acabou, use o Lorenzetti é melhor! Mas e a Lei? E a
Promessa pergunto novamente? E os jovens o que serão deles se não podem opinar?
Nos tempos do Corona sem Lorenzetti eu me perco nos sonhos de uma noite de
outono... Até quando? Até quando não sei!
– “Para! Que estás dizendo? - O lobo gris ficou uns instante calado,
depois falou: - Filhote de homem, senhor da Jângal, filho de Raksha, meu irmão
de caverna: embora eu fraqueie nas primaveras, o teu caminho é o meu caminho, o
teu antro é o meu antro, a tua caça é a minha caça e a tua luta de morte é a
minha luta de morte. Falo por mim e pelos outros três. Mas que irás dizer na
Jângal”? Quem quiser saber que leia o final do conto de Kipling. Eu paro por
aqui, ainda pensando que na história de Mowgly lá nas selvas de Seeonee sem
Corona Vírus os adultos não tinham vez...
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