Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 10 de dezembro de 2011

APELO DE UM IDOSO



APELO DE UM IDOSO

"Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes sem respeito nenhum"

Dizem que sou um velho. Por vezes, você passa por mim, com um grupo de amigos e ri do meu andar lento e atrapalhado.

Você pode achar que eu não percebo os seus risos. Contudo eles me ferem, porque eu gostaria de andar rápido como fazia há tão pouco tempo. Mas as pernas não obedecem ao meu comando com presteza.

Às vezes, não consigo distinguir com clareza o letreiro do ônibus e acabo por tomar a direção errada.
Motorista, tenha um pouco de paciência comigo. Reconheço que você tem horário a cumprir, que muitos reclamam do seu desempenho, das suas freadas e da sua forma de dirigir.

Pense um pouco. Não errei por querer lhe atrapalhar, simplesmente me enganei. Pense em quantas vezes você já se enganou na vida e precisou da compreensão dos outros.

Explique-me onde descer, de preferência aquele ponto que seja menos complicado para eu retornar ao lugar onde estava e depois tomar o ônibus certo.

Ajude-me. Eu poderia ser seu avô, a quem, com certeza, você trata com carinho e atenção.

Se eu tivesse um neto como você, possivelmente não andaria sozinho pelas ruas. Ele me tomaria pela mão e me guiaria, impedindo que eu corresse tantos riscos.

Ah, não esqueça. Quando eu estiver atravessando a rua e o sinal abrir, espere um minutinho mais.

Não me apresse com buzina ou arrancada brusca. Posso tentar ser mais rápido e cair.

Você que anda pela rua e é indagado por mim a respeito de algum local, use de paciência.

Posso demorar um pouquinho para desdobrar o papel que trago no bolso com o endereço exato de onde eu devo chegar. Minhas mãos tremem e os dedos parecem rígidos.

Espere que eu pergunte e se eu não entender, explique outra vez. Pense em quantas vezes você já pediu a seus pais, seus professores, seus colegas que repetissem a explicação de algo que você não entendeu.

Procure ser claro. Fale devagar. Se possível, me acompanhe até o local mais próximo de onde eu devo chegar
.
Você que está na fila do caixa eletrônico, tenha calma. Preciso fazer tudo devagar. Afinal, ainda não consegui assimilar as grandes mudanças da eletrônica.

Passar o cartão, guardar números de memória, a tal da senha e digitar... Tudo é um tanto complicado. Eu consigo fazer direitinho, se você me der um tempo.

Lembre: sou um idoso, hoje. Já fui jovem, fui ágil, preciso, produtivo.

Também fui impaciente. O tempo me ensinou a ter paciência comigo mesmo, pois já não consigo fazer tudo que desejaria. E com os outros que não conquistaram ainda a paciência.

A comunidade que despreza os seus idosos está longe do caminho da civilização. Mesmo que tecnologicamente apresente avanços surpreendentes, se não alcançou o respeito à vida humana, aos mais velhos, aos mais fracos, ainda necessita andar muito.

A mais elevada nação será aquela que souber amparar o mais fraco. Que estabelecer programas de atendimento especializado aos necessitados e primar pela atenção àqueles que se esforçaram para que as leis fossem implantadas, a economia direcionada e a felicidade florescessem nos corações da infância, da juventude e da madureza.


"Nosso amor pela pessoa velha não deve ser uma opressão, uma tirania a inventar cuidados chocantes, temores que machucam. Façam o que bem entendam, cometam imprudências, desobedeçam conselhos. Libertemos os velhos de nossa fatigante bondade"

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LIRIO DO CAMPO - A MENINA QUE SONHAVA SER ESCOTEIRA



LIRIO DO CAMPO – A MENINA QUE SONHAVA SER ESCOTEIRA

De quando em quando, destaquemos uma faixa de tempo para considerar quantas afeições e oportunidades preciosas temos perdido, unicamente por desatenção pequenina ou pela impaciência de um simples gesto.
Emmanuel

Já faz tempo. E quanto tempo! Participava como chefe de um Grupo Escoteiro onde permaneci por mais de 10 anos. Era um bairro simples, de classe media e muitas favelas já urbanizadas próximas.  Habitava este mundo escoteiro vivendo cada dia, cada hora, cada minuto da jornada sem contagem regressiva.

Sabia de cor o nome de todos escotistas, pioneiros, guias e seniores, escoteiros e escoteiras, lobinhos e lobinhas. Sem contar muitos pais que foram e são até hoje meus amigos.

Era uma rotina de sábados, praticamente toda a tarde isto quando a noite era concatenada, e só chegava a minha casa após 22 ou 23 horas. Não havia desânimos. Fazia aquilo com prazer e regozijo. Ajudava o desenvolvimento das reuniões sem dar “pitaco”, não influenciando as chefias, mas mantendo após as reuniões a posição de aconselhador e tutor, isto para melhor desenvolvimento de todo efetivo em nosso Grupo Escoteiro.

Eu ainda não tinha notado a sua presença. Só aconteceu alguns sábados depois. E olhe que eu sempre fui bom observador. Ela não tinha mais que dez ou onze anos. Magrinha, vestida com simplicidade, sempre com a mesma roupa, um sorriso ingênuo e cativante, mostrava ser uma jovem que prezava sua apresentação pessoal.

Cabelos castanhos compridos, com uma pequena trança pendendo para frente, escondendo um pouco de si própria. Seu semblante era de uma atenção cautelosa, a me olhar de soslaio. Vi que não tirava os olhos da tropa das escoteiras.

Seus sentidos eram os mesmos das meninas que ali brincavam. Riam, cantavam e ela de longe sonhava em ser uma delas como estar em uma patrulha participando. Não houve interferência de minha parte. Ela permanecia durante todo o tempo da duração da atividade das escoteiras, confinada em um canto do pátio e nunca se aproximava.

Um dia, durante a promessa de uma das jovens, ela chegou mais perto, e vi seus olhos brilharem quando a promessa foi dita de viva voz pela noviça. Quando foi entregue o lenço e distintivo de promessa, seus olhos encheram-se de lágrimas. Notei que ela sonhava em ser uma delas e aquele momento prodigioso transpunha no seu imaginário, forçando entre o sonho e a realidade uma transferência física, como a estar ali com a mão direita em saudação, falando aquelas magníficas palavras que já sabia de cor.

Mesmo assim não me aproximei. Sua expressão foi totalmente alterada quando a chefe perguntou se ela poderia participar de um jogo. Das três patrulhas duas estavam com sete e uma com seis. Completar seria mais lógico para haver igualdade de competição.

Não há palavras para descrever sua alegria. Incrível! Nunca vi ninguém participar de um simples jogo com tanta energia e vibração, de algum que se não foi ficaria agora marcado para o resto da vida. As outras escoteiras não observaram nada. Nem a chefe. Ao final do jogo um agradecimento e ela conseguiu pelo menos ficar mais próxima, ouvindo, tentando entender o que as patrulhas faziam com cabos pequenos, bandeirolas, e uma parafernália de papeis e desenhos misteriosos.

A reunião terminou e ela não estava mais lá. Fora como chegara. No sábado seguinte não apareceu. Esqueci completamente dela. Mas lá estava no outro sábado. Agora procurava ficar mais perto. Fez amizade com uma das meninas e de soslaio compartilhava de uma ou outra patrulha, isto quando a chefe ou a assistente não estavam presentes.

Achei que estava na hora de intervir. Interpelei-a polidamente perguntando se pretendia ser mais uma delas. Ou seja, participar como escoteira. Ela não me respondeu. Seus olhos de novo encheram-se de lágrimas e saiu correndo. Não entendi. Achei que devia tomar uma atitude. E tomei.

No sábado seguinte a chamei até o escritório da nossa sede. Conversei com ela, mas sempre respondia em monossílabos. Tentei ser amigo, saber de seus pais e quando falava neles ela se apavorava. Falei com a chefe sobre o assunto e pensei que ela teria uma melhor abertura com a menina.

Contou que sua mãe trabalhava fora, inclusive aos sábados. Seu padrasto nada fazia e não admitia ela participar. Quando insistiu levou uma sova. Ela explicou que não chorava, nunca. Era ponto de honra para ela. Não fora a primeira vez e nem seria a última.

Sua mãe sabia, mas nada fazia a respeito. Já era do seu conhecimento há tempos que ela apanhava do padrasto. Ele costumava ficar fora por meses. Durante estes períodos achavam que o paraíso agora era real, mas durava pouco. Ele voltava mais perverso que antes. Sua mãe tentou várias vezes voltar a sua terra no norte do país, mas ele sempre violento e bestial sempre a fazia desistir.

Parece historia da Cinderela sem sapatinhos de cristal e com um final sem o príncipe encantado, mas não. Esta é real. Aconteceu. Nada podíamos fazer. É impossível o escotismo ajudar neste processo, pois ele depende e muito dos pais. Ela continuou a vir e assistir as reuniões. Orientei a chefe para não abrir muito sua participação. Era uma situação cruel e talvez patética, no entanto podia evitar situações imprevisíveis no futuro.

Não sabíamos com quem estávamos lidando. Podíamos ter problemas com os pais não só dela como os demais. Todo cuidado deveria ser tomado. Num sábado com uma garoa forte, a reunião das sessões estavam sendo realizadas dentro do salão de festas e na área coberta, pequenas por sinal para alocar a todos, mas com jeitinho sempre conseguíamos.

Nestes dias chuvosos, após algumas atividades de praxe, sempre fazíamos uma Conversa ao pé do fogo, onde desenvolvíamos programa similar ao “famigerado” Lampião do Conselho. Não fiquei durante o desenrolar da atividade. Fui até o escritório, pois estavam lá dois diretores e alguns pais que queriam fazer a inscrição dos seus filhos. Apesar dos dirigentes saberem como agir, sempre ficava junto para alguns senões.

Observei a porta um homem dos seus 50 anos, meio grisalho, estatura mediana e cá prá nos, semblante arrepiante e com uma cicatriz no queixo, vestido de maneira desleixada com um olhar nem tanto amistoso. Dirigiu-se ao meu encontro e levantou levemente sua blusa mostrando estar armado. O nervosismo apareceu e mesmo tendo alguma experiência no assunto, não gostei da maneira com que ele se apresentava.

Foi logo dizendo que era o pai da “Lírio do campo” (nome fictício, para preservar a jovem que hoje pode estar lendo esta sua história). Perguntou quem autorizou sua participação no grupo, o que pretendíamos, pois ele não tinha permitido e agora o pior tinha ocorrido. “Lírio do campo” tinha desaparecido.

Após ter insistido em participar e não sabendo qual era a intenção de vocês, vetei e a proibi de sair aos sábados. Esclareci que este movimento não era para ela, pois se tratava de pessoas “endinheiradas” e romanescas. Precisava isto sim de estudar e logo que fizesse quinze anos conseguir um bom emprego para ajudar a família.

Para minha surpresa ela jogou uma chaleira de água quente no meu rosto (fiquei sabendo depois que foi por defesa própria) e saiu correndo. Isto foi ontem de manhã e até agora não voltou. Fugiu de casa sem nada levar. Procurei por ela em todo o bairro e nada.

Tentei educadamente argumentar, mas ele foi enfático e deselegante. Encostou o dedo no meu nariz e disse que eu era o responsável – ameaçou que se ela não voltasse eu sofreria de um jeito ou de outro. Insistia que havia colocado “minhocas” em sua cabeça e pagaria com a vida pela minha ação incoerente no caso.

Fiquei calado, não era hora e nem adiantava retrucar. Os diretores e dois pais que permaneciam na sala estavam atemorizados e sobressaltados.  Claro que eu também estava espantado e assustado. Não era nenhum herói e de karatê e luta livre não entendia nada. Pelo sim ou pelo não, ele saiu me ameaçando que se ela não aparecesse até o dia seguinte, alguém iria pagar com conseqüências funestas.

Ficamos pasmos. Sem saber como agir. O que fazer? – Todos os caminhos indicavam que a paciência e a cordialidade era essencial. Conversei com um pai de um sênior, oficial da Polícia Militar que se prontificou a tomar providencias, mas achei que agora o momento não era oportuno. Claro, um assassinato, uma áspera briga, alguém de uniforme trocando sopapos em plena sede, não estava em meus planos.

No sábado seguinte, ainda preocupado, já que o padrasto de “Lírio do campo” podia aparecer, tivemos uma bela surpresa. A mãe de “Lírio do campo” surgiu juntamente com ela e elegantemente se apresentou. Chorando vez sim vez não, contou sua história, salpicada de novas informações, pois conhecíamos parte quando conversamos com a jovem. Disse para não nos preocuparmos, pois ele tinha viajado e ela tinha certeza que iria demorar em regressar.

Não vou repetir aqui uma história que aparece às dezenas nos jornais escritos e televisados todos os dias. A única diferença era envolver toda uma organização voltada para os jovens, com uma pessoa extremamente violenta e que se algum fato nefasto pudesse acontecer, poderíamos perder todo o trabalho realizado e olhe que não eram poucos.

Na semana seguinte, marcamos uma reunião da Comissão Executiva, discutimos todos os ângulos do problema, e a solução não estava à vista. Ir a delegacia fazer um Boletim de Ocorrência estava fora de cogitação. (apesar de ser o mais correto) Enfrentar o homem violento também. Não éramos super-homens e nem tampouco arrojados para tal situação.

Uma jovem que amava o escotismo sem ter sido escoteira. Uma jovem que sonhava dia a dia em ser uma a mais, na patrulha dos seus sonhos. Uma família que não existia. Um padrasto violento, uma mãe subjugada.

Deixamos como se diz na gíria, ver como fica com o passar do tempo. Ele o padrasto não apareceu mais. “Lírio do campo” também não. Não tivemos notícia de sua mãe. O tempo passou. Não mais que quatro meses.

Num sábado de sol, pela manhã, estávamos preparando material para o acampamento geral do Grupo Escoteiro, que fazíamos sempre com um grupo irmão de alguma cidade próxima e eis que para nossa surpresa, lá estava “Lírio do campo” e sua progenitora. Ambas sorridentes me procuraram para ver se podia aceitar sua filha como escoteira.

Disse que seu marido tinha desaparecido há muitos meses e souberam que ele havia falecido, pois junto com outros bandidos tentara furtar um banco em outro estado e tinha sido vítima por eles próprios durante a fuga. Ela não se interessou em saber detalhes e nem lá foi para averiguar mais de perto. Estava livre de um homem violento e agora trabalhando, pensava só na felicidade da filha.

Não era assim o procedimento de admissão, contudo este era um caso especial. “Lírio do campo” foi admitida. Inclusive, abrimos uma exceção e ela participou do acampamento programado no mês seguinte. Riu, cantou, brincou, enturmou, confraternizou e acredito que aquele primeiro acampamento foi o clímax de seu sonho, de seus desejos infantis em participar de uma grande Organização fraterna que só o Escotismo sabe oferecer.

Ficou conosco por 6 anos. Foi escoteira e guia. Conseguiu a primeira classe e como guia alcançou a eficiência II. Sempre era a primeira a chegar e a última a sair. Sua mãe fez um lindo uniforme. Foi uma grande emoção no dia de sua Promessa. Ela se orgulhava em vestir aquele traje e todos que a conheciam tinham por ela uma grande afeição e ternura.

Um dia ficamos surpresos em saber que sua mãe voltaria para a casa de seus pais no norte do pais. Ela teve que ir junto. Fomos todos nós seus amigos, o que surpreendeu a muitos na rodoviária local na sua despedida e viagem. Toda a tropa das escoteiras havia comparecido. Muitos também dos seniores, dos escoteiros e das guias. Contei mais de 8 chefes presentes.

Ali mesmo na rodoviária nos despedimos com a Canção da despedida. Muito choro, mas todos orgulhosos de “Lírio do campo”. Todo o fato de antes e do agora foi repassado em minutos em meu pensamento.  Uma historia com um final feliz.

Cinco anos depois, uma surpresa - recebemos na sede a visita de “Lírio do Campo”, desta vez acompanhada de seu marido e dois filhos. Apresentou-nos a todos com orgulho. Estava a passeio e contou que era Akelá de lobinhos em um Grupo Escoteiro na cidade onde morava. Sorria nos encantando a todos.

Havia ainda muitas jovens que eram de sua época. Uma grande confraternização e lembranças amigas. De vez em quando recebo uma cartinha e agora com o email sempre solícita troca de conceitos, pede sugestões, envia fotos e vai contando de uma maneira amável e jovial o dia a dia do seu Grupo Escoteiro, que conforme diz vai admiravelmente bem na trilha do sucesso. 

Assim como várias outras, as historias contadas ou narradas onde se começa com a dor, com o ódio, com a falta de esperança, também esta se firma dentro deste prisma para no final abrir o sol depois da chuva, mostrando que o escotismo é maravilhoso tanto nas horas difíceis como nas horas de alegria.

E quem quiser que conte outra....

“Pois com o critério que julgardes sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.”
 JESUS. (Mateus, 7:2.)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O CONTADOR DE HISTÓRIAS


* Que contradição: para desligar o computador clica-se no menu iniciar'.
Anônimo
O Contador de Historias
Há muitos e muitos anos atrás, tive a curiosidade de saber como criar desenvolver e contar uma boa historia, principalmente nos fogos de conselhos. Achava que estava faltando alguma coisa no meu adestramento, pois sempre fui um fã incondicional quando jovem, de boas historias e apesar de não ter conhecido um bom Contador de Historias, quem sabe poderia trazer algum diferente para os escoteiros.
Mas como contar, como atrair a atenção, qual o tempo? – bem tudo isto foi aos poucos sendo assimilado e aprendido e fui fazendo pequenos estudos aqui e ali, e eis que me achei um contador de historias (razoável, é claro). Um filme na época me chamou a atenção, tratava-se de Entre dois Amores, onde Meryl Streep, contava historias para Robert Redford, de uma maneira simples, misteriosa, carismática, com um suspense próprio, e criativo. Não memorizava a historia antes, simplesmente solicitava um tema, e dava inicio a narração.
Ela através do tema (dado por Robert Redford na historia) imaginava um inicio criativo e aos poucos desenvolvia a historia como se estive lá, vivendo com o personagem as peripécias e daí o final vinha naturalmente e de uma maneira espontânea. Assistindo o filme podemos tirar melhores conclusões, pois ela a sua maneira (uma grande atriz), explica como dar o inicio o meio e o fim. (aconselho aqueles que querem se iniciar como contador de histórias, que assistam ao filme)
Iniciei minha saga de Contador de Histórias em um acampamento. A noite era escura, sem luar, e o local descampado, poderia quem sabe dar uma boa historia.  Perguntei aos monitores (era um acampamento de monitores e subs) se queriam uma historia e qual seria o tema dela. Claro, sempre tem aqueles que pedem uma historia de terror.
O Fogo de Conselho fora montado próximo a um riacho com muitas pedras e muitas folhas além de varias madeiras formando um pequeno remanso. Olhei para uma pedra saliente das demais e vi um índio (em meus pensamentos), olhando para mim, com os olhos vermelhos, parecendo soltar faíscas e foi então que começou minha saga de Contador de Historias em Fogos de Conselho e claro em algumas outras atividades especiais.
Experimente e você verá que não é difícil. Deixe que os jovens e as jovens o ajudem quando sentir dificuldade. Em pouco tempo, teremos mais um grande contador de histórias, a deslumbrar jovens com sorrisos lindos, marcados pela chama do fogo em uma clareira qualquer.
Para cada sessão, existe um tipo de historia. Crie a sua com ajuda deles e verá que vale a pena sentir o suspense, junto a eles numa noite qualquer, escura ou com luar, com a chama do fogo clareando tudo e verás que se a historia for boa, sentirás a respiração solta ou presa dependendo da narrativa. Quanto ao tempo, não vá muito longe, enquanto o interesse estiver presente, tudo bem, mas 15 ou 25 minutos é o tempo ideal para uma boa historia.
Fazendo uma pesquisa encontrei dados interessantes de como contar historias. Não sei se vai ajudar. Não seria meu estilo, pois gosto mais de inventar na hora conforme o tema, mas vale tudo desde que os jovens gostem e peçam sempre para que o chefe repita ou conte uma nova historia. Vejam abaixo.
E para você, que agora se inicia como um Contador de Historias, desejo tudo de bom, não esquecendo que cada historia tem sua postura, e a voz adequada a situações que podem aparecer.
Como contar historias

O processo de estímulo e incentivo para se contar uma história são inúmeros, mas sua eficácia depende de como o contador os utilizará. Não há “fórmulas  mágicas” que substituam o entusiasmo do contador.

Quem aspira ser um bom contador de histórias, deve desenvolver alguns passos importantes em seus preparativos:

(1) a história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo do livro, para não perder “o fio da meada” e ficar procurando algum tópico durante a apresentação;

(2) destacar e sublinhar os tópicos mais importantes, interessantes e significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização;

(3) procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a emoção dos personagens e ao apresentá-la atrair os ouvintes para a magia da história;

(4) ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas entonações de voz;


(5) oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem ouve. É o tempo dos porquês;


(6) toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está sendo apresentado.

Segundo Abramovich (1993), “o ouvir histórias pode estimular o “desenhar”, “o musicar”, “o sair”, “o ficar”, “o pensar”, “o teatrar”, “o imaginar”, “o brincar”, “o ver o livro”, “o escrever”, “o querer ouvir de novo”.

. Afinal, tudo pode nascer dum texto!”A criança, ao ouvir histórias, vive todas essas emoções. Afinal, escutar histórias é o início, o ponto-chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador.

Que tal começar a contar uma historia? Comece agora: - Era uma vez.

“Era uma vez, numa cidade muito distante, onde uma montanha azul, linda, incrustada no horizonte, eu vi um dia, uma estrela cintilante brilhando no seu cume de uma maneira irradiante de luz. Pensei comigo que deveria conhecer esta estrela e com meus amigos escoteiros, lá fui serra acima...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A VINGANÇA DO GRILO FALANTE



A VINGANÇA DO GRILO FALANTE

* Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão: Ai meu Deus! Vou ter que catar tudo de novo!

Não sei se realmente era uma família aristocrática e nobre. Disseram-me que sim. Quando os vi pela primeira vez senti que tinham uma maneira delicada, distinta e um pouco requintada. Soube depois que eram netos de um Duque nascido na Itália. Sendo de família nobre o pai insistia no tratamento coloquial. Insistiam em ser chamados de Duque e Duquesa.

Entendia que o filho único deveria ter o mesmo tratamento por parte dos amigos. Na escola os professores sabiam das “manias” dos pais e as respeitavam. Os colegas tentavam. No entanto às escondidas davam seus risinhos jocosos e lançavam piadas muitas vezes censuradas. 

Queira ou não, conservavam na vida particular detalhes que não escondia tal nobreza e aristocracia. Quem os visitasse era recebido por um mordomo alemão e se davam ao luxo de ter um cozinheiro Francês. Isto mostrava que eram pessoas de posses. Moravam em uma boa casa, mas sem considerarmos uma mansão. Se própria ou alugada também não se sabia. Suas posses e trabalhos profissionais eram desconhecidos.

Mas o filho, único por sinal, Era a preocupação dos pais. Para isto uma atenção toda especial era dirigida. Com 8 anos, não parecia nada com o pai e com a mãe. Era alegre, fazia amigos com facilidade, tinha sempre um sorriso para qualquer situação e... Bem, não parava de falar. Falava e falava. Um palrador de primeira e isto não agradavam em nada os pais, bastantes circunspectos.

Faziam questão em aparentar ser uma família discreta, mas nada disto aparecia. Seus estilos e posturas suntuosas, cheias de manias, tanto na rotina diária como na maneira de conversar, ostentando aquele gênero de realeza. Diziam que durante as refeições, em uma mesa enorme, a mãe ficava de um lado, o pai do outro e o filho no meio. Era difícil até uma comunicação íntima.

O filho era totalmente diferente como já dissemos. Não gostava nada da maneira dos pais. Talvez por este motivo o levassem a um Psicólogo e que aconselhou atividades em grupo de jovens, que pudesse produzir nele disciplina e autenticidade, diferente da maneira como agia agora.

Um amigo sugeriu o escotismo. Tinham ouvido falar, mas desconheciam por completo o que seria. Sendo um estudioso e responsável, não matriculou o filho antes de pesquisar tudo que encontrou na internet. Perguntou, e até contratou um detetive particular para investigar como funcionava e a vida pregressa dos dirigentes do Grupo Escoteiro próximo a sua residência. 

Enfim, em um sábado foram até a sede, para fazer a matricula. Ficaram indignados com as exigências. A esposa, no entanto foi mais cordata e aceitaram com alguns senões. Deixar o filho ir acantonar passear em locais estranhos, não era para ser aceito. O responsável afirmou ser condição final. Tentou inclusive mostrar aos pais as vantagens do programa escoteiro. Concordaram com reservas.

Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni finalmente foi apresentado à alcatéia, em um sábado de sol, em pleno verão brasileiro. Seus pais quiseram ficar ali algum tempo para ver a reação do filho e a aceitação. Foi desaconselhado pelo Chefe do Grupo. Disse ser preciso que ele tivesse livre-arbítrio de mostrar sua posição de liberdade, companheirismo e afirmação por parte da matilha e da alcatéia. Seria o melhor.

Assim começou a saga de Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni que de família nobre, tirou toda a inocência da disciplina rígida da alcatéia nos dois primeiros meses.  Não parava de falar, conversava ininterruptamente todo o tempo. Não ficava parado. Na matilha Cinza não sabiam onde estava. Poderia estar entre os lobinhos e lobinhas da Vermelha, azul ou preta.

Não demorou e o apelidaram de Grilo Falante. Era comum ali o apelido. Todos tinham. Mas sem desmerecer ou mesmo denegrir a imagem de qualquer um. Ele aceitou naturalmente. Achou bonito até. Disse para a Akelá e a Bagheera que iria estudar bem o inseto e um dia iria fazer uma surpresa a todos.

Mesmo irrequieto e arteiro, se saiu bem no seu adestramento progressivo. Motivou muitos outros na busca de liberdade individual. Claro que os dirigentes da Alcatéia tinham certo trabalho. Notaram, porém que houve uma maior aceitação de todas as atividades e um retorno bem maior que antes.  

Os pais ainda não sabiam do apelido. Fumacinha, uma lobinha da mesma idade, se tornou muito amiga de Grilo Falante. Um dia, ligou para a casa dele e pediu para chamarem o Grilo Falante. Desligaram. Insistiu. Desligaram. Como morava perto foi até sua casa e pediu para o mordomo chamar Grilo Falante. Levou uma “carraspatana” o que a deixou triste e foi para sua casa chorando.

A mãe quis saber o que aconteceu e Fumacinha contou. Ela pegou a filha pela mão e foi até a casa do Grilo Falante, mostrando uma grosseria que não era natural com o tal mordomo. Nunca em sua vida agiu daquela maneira. Sempre foi educada, mas agora não. Sua filha tinha 8 anos e não poderia ter sido atendida daquela maneira.

Os pais de Grilo Falante não estavam em casa. Quando chegaram ficaram ciente do acontecido. A mãe foi também a casa da vizinha e lá pediu desculpas, pois de maneira nenhuma queriam ofender a quem quer seja. Dissera desconhecer quem era Grilo Falante e quando soube sabia que o marido não ia gostar.

Naquele sábado a alcatéia fora fazer uma excursão até o Jardim Botânico. Grilo Falante foi junto. Seus pais disseram que seria a última atividade. Falaram ao Chefe do Grupo que o filho não participaria mais. O Chefe argumentou, explicou, tentou ver uma saída e nada foi aceito pelos pais de Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni.

Grilo Falante só ficou sabendo quando chegou a sua casa. Em principio não entendeu o porquê. Seus pais quando o matricularam não perguntaram se ele gostaria de participar. Nada conhecia do escotismo. Mesmo assim aceitou. Sua mente aguçou conhecer, e quando assim aconteceu amou o escotismo como nunca.

Adorava a Akelá, o Balu, a Bagheera e Kaá. Eram para ele tudo aquilo que sonhava em conviver com adultos. Sua Matilha era sua paixão particular. Em casa escrevia, anotava, lia e aprendia tudo que o Livro do Lobinho continha. Fez muitos amigos, gostava de todos eles, mas a sua melhor amiga era a Fumacinha. Não se lembrava do nome dela.

Quando havia excursões ou acantonamentos passava noites e noites sonhando com o dia que demorava em chegar. No retorno, contava tudo aos seus pais que não demonstravam curiosidade e só o ouvia sem comentar. Ele já conhecia seus pais. Sabia como eram, mas não se preocupava.

Agora vieram dizer que não iria participar mais. Não aceitava aquilo. Argumentou, chorou, implorou, mas tudo inútil. Foram irredutíveis. Pela primeira vez disse ao seu pai que não se conformava com tal atitude. Se não voltasse ao Grupo ele seria outro menino. O pai disse a ele que era a autoridade e enquanto fosse criança teria que aceitar.

No sábado seguinte chegou à janela e viu na rua vários lobinhos e lobinhas com faixas e cartazes dizendo: - Volta! Volta! Nós queremos você! Viva o Grilo Falante! Viva o Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni! Seus pais não gostaram. Mandaram o mordomo dizer que se continuassem ali, chamaria a policia.

A escola telefonou aos pais dizendo que ele estava irrequieto, indisciplinado e não participava em trabalho em grupo, ficou respondão, enfim bem diferente do aluno de antes. Não adiantou a reprimenda dos pais. Ele ficava calado nestas horas, saia correndo dizendo que se não o respeitassem ele não respeitaria ninguém.

Apesar de severos os pais não aceitavam castigos cruéis. Usavam os aconselhados pelos psicólogos, tais como castigo de não sair de casa, de não ver TV, não ir ao cinema e não poder ligar o computador. E tudo isso por um simples apelido. O tempo foi passando e a situação insustentável. Já não sabiam o que fazer com Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni.

Uma noite, seus pais fizeram uma recepção de gala em sua residência, devido à presença de uns nobres italianos na cidade. Várias autoridades e pessoas da sociedade local foram convidados. A rua que moravam fora interditada. Um grande policiamento. Pessoas chegando de limusines e até helicópteros pousaram próximo a casa.

A recepção estava no auge. Uma orquestra tocava sem parar. Casais dançavam. Todos se divertiam e a champanhe da melhor qualidade assim como o whisky rolava a solta. Lá pela meia noite, a luz piscou algumas vezes e os presentes sobressaltados viram cair do teto centenas de grilos que voavam em torno, saltitantes e não deixava ninguém em paz.

Assustados, as pessoas e os grilos não sabiam o que fazer. Houve um clarão e apareceu no alto da escadaria de mármore nada mais nada menos que Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni fantasiado de Grito Falante, com uma Guguzela na boca, tocando alto e dizendo: Sou o Grilo Falante! Meus pais não querem meu apelido, mas eu gosto. Eu sou o Grilo Falante!

Abestalhados com aquilo, os presentes começaram a se retirar da recepção. Outros se entusiasmaram e bateram palmas gritando: Grilo Falante! Grilo Falante! Nada mais havia a dizer. Os pais o levaram para o quarto. Preocupados e furiosos com o acontecido.

Logo todos se foram. A casa ficou vazia. Naquela noite nada disseram. No outro dia, a imprensa achou o fato um “prato feito” para as manchetes. Não saíram de casa por alguns dias.  Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni ficou preso em seu quarto. Nem na escola foi.

O tema tomou conta da cidade. Todos os Grupos Escoteiros ficaram sabendo da saída e o porque foi o motivo. Milhares de telegramas não paravam de chegar. Na internet era o fato do dia. Mas tudo acaba com o tempo. Nada dura para sempre. Os pais pensaram em mudar de cidade. Era difícil. Seu ganha pão ali estava. Não podia tomar medidas que prejudicassem suas vidas.

Passado dois meses. Em um sábado frio, sem sol, lá estava Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni chegando à sede do Grupo Escoteiro. Os pais pediram desculpas ao Chefe do Grupo. Todos os amigos mostraram a eles que estavam errados. Quanto mais nos preocupamos com apelido mais ele se enraíza. No futuro seria esquecido. Só uma boa lembrança do que foi.

Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni voltou à vida de Lobinho. Agora era o Grilo Falante com muito orgulho. Mudou muito sua maneira de ser. Mais responsável e sem abandonar aquela característica que lhe era tão peculiar. Falar, falar e até algumas pequenas traquinagens.

Seus pais receberam uma carta da Direção Regional. Agradecia pela atenção dada ao escotismo de maneira responsável. Parabenizava suas atitudes e se colocaram ao dispor para quaisquer contatos agora ou no futuro.

Grilo Falante ficou por muitos anos na saga escoteira. Escreveu sua história praticando uma atividade de jovens voltada para eles mesmos. Aprendeu a fazer fazendo e no seu pensamento ficou marcado a palavra caráter. Quando cresceu era um homem de bem. Formou-se, dirigiu e dirige a empresa do pai que ninguém conhecia, se casou e hoje tem dois filhos.

Ambos no Grupo Escoteiro que passou sua vida. Um se chama Murilo Vinicius de Albuquerque e Orsinni e a outra Lívia Valquíria de Albuquerque e Orsinni. Na alcatéia são mais conhecidos como Risadinha e Cigarra Altaneira. A vida é assim, uns gostam outros não. O respeito é tudo na vida, mas cada um deve escolher seu próprio destino. Disto não tenho nenhuma dúvida!

E quem quiser que conte outra...
     
* Não tomo café, porque penso em você. Não almoço, porque penso em você. Não janto, porque penso em você. Não durmo... Porque estou morto de fome!!!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A PROMESSA ESCOTEIRA




Não dormi a noite. Meu coração bate forte, uma emoção que poucas vezes senti. Cochilei sim, mas sempre com a mente voltada para minha promessa. Hoje é meu dia. Afinal esperei meses, dei duro, fiz meu uniforme,  já sei como sou olhando no espelho. Hoje vou usá-lo para sempre. O chefe já me disse que este dia me pertence. Minha promessa vai ser linda! Sei que nunca mais vou esquecer! E quando chegar a hora, direi com orgulho – “Prometo, pela minha honra...


A PROMESSA ESCOTEIRA
                           
Vários fatores são importantes para evitar a rotatividade (entrada e saída de jovens e adultos). Um deles acredito ser a Promessa Escoteira. Feita talvez sem conhecimento do interessado e que muitas vezes não marcam o dia para sempre. Afinal a Promessa é a parte mais importante na vida de qualquer um que adentra no movimento escoteiro.

Sem tentar modificar ou mesmo influir nos Grupos Escoteiros que realizam a Promessa conforme aprenderam ou faz parte de uma tradição, ela é ponto preponderante para que o dia seja muito especial para o noviço e para que sua permanência seja frutífera por muitos e muitos anos. Seja ele lobinho (a), escoteiro (a) sênior, guia ou pioneiro (a) ou escotista.

Deve ser um dia esperado, contado, sonhado, marcado por ele (o (a) noviço (a)). É uma cerimônia individual e não coletiva. Ele é a pessoa mais importante naquele dia. Para isto os escotistas responsáveis devem seguir algumas pequenas regras (sem alterar o que fazem hoje claro se está dando certo).

Acredito e não tenho nenhuma sombra de dúvida que é uma cerimônia da sessão, privada, sem a presença de outras pessoas. A participação é exclusiva da tropa ou alcatéia, com um convite ao Diretor Técnico, que somente fará a entrega do lenço do grupo. Se houver mais de um (a) noviço (a) pronto para a promessa, esta deve ser realizada em dias diferentes. Afinal para que a pressa? Colocar dois, três ou mais fazendo a promessa simultaneamente não é benéfico. Já disse, é um dia especial, para aquele que vai fazer. A ele todas as honras do dia.

No entanto quando for à entrega de algum certificado, seja de especialidades, de classe ou de tempo no movimento estes sim devem ser realizados com a presença se possível de todo o Grupo Escoteiro. É dia de festa, marcado por alegria e visto por todos para que a motivação dos demais seja constante.

Aproveito o adendo para afirmar que inclusive a entrega da Insígnia da Madeira ou condecorações, devem ser feitas com todo o Grupo Escoteiro presente e não em atividades nacionais, distritais e regionais como algumas regiões o fazem. Essas outorgas são importantes demais para ser celebrada somente por aqueles que não participaram da vida e do crescimento do interessado em seu habitat natural.

Voltando para a Promessa, pode-se até convidar os pais ou responsáveis e isto é interessante, pois, reforça o orgulho do (a) noviço (a) e claro dos pais, pois vão se orgulhar e muito daquele dia. Não convide autoridades, políticos, a não ser se estão de uma maneira ou de outra ligada na cerimônia. Repito, não é uma cerimônia pública.

A propaganda, o proselitismo e o marketing não fazem parte da promessa na comunidade. Existem outras formas para isto. Já vi diversas cerimônias sendo feitas por uma gama enorme de Grupos Escoteiros que se iniciam. Fazem disto um espetáculo para a comunidade, muitas vezes parecidas com as cerimônias militares.

Claro, como dizia BP o importante é o resultado. E se deram bons frutos não se muda o que está dando certo. Entende-se como bons frutos a permanência do promessado por um período mínimo de 3 anos no movimento. Não um, mas todos os jovens ou adultos que fizeram sua promessa. Uma promessa em grupo pode até ser uma cerimônia linda, mas não toca no fundo do coração em cada jovem.

Não se faz uma promessa sem uma preparação com antecedência. Não importa quem seja. Do Lobinho ao Escotista. Surpresas devem ser para certificados, agradecimentos, elogios, condecorações entre outros. Nunca para uma cerimônia de promessa.

Acreditamos que as etapas solicitadas por cada sessão, foram cumpridas. Acreditamos também que no caso dos lobinhos, o responsável já conversou com ele, mostrou sua responsabilidade (lembrar sempre do melhor possível), o que se espera dele, o significado da Promessa e da Lei do Lobinho. O orgulho do uniforme (só veste neste dia), sua manutenção, apresentação, do garbo e finalmente se ele ou ela estão prontos para a Promessa.

Tanto nas seções escoteiras, seniores e guias, o caminho é o mesmo, alterando somente a responsabilidade do monitor e da Corte de Honra. Cabe ao monitor preparar o noviço (a), cabe a ele também comunicar ao chefe responsável que está preparado e na reunião da Corte de Honra é apresentado o noviço e esta aprova colocando no livro de ata o dia e a hora da Cerimônia da Promessa.

O Chefe da Seção deve ter uma conversa com o noviço (a), saber se ele entende a Promessa que vai realizar, dos artigos da Lei, que agora passarão a ter outro significado e após aconselhamentos a cerimônia é programada próxima reunião ou em data determinada, nunca no mesmo dia. Esta conversa é muito importante e é feita a sós, mostrando que o chefe confia que o jovem ou a jovem esta em perfeita condições para assumir mais esta responsabilidade em sua vida.

Lembramos que no caso de adultos a direção nacional tem norma específica e esta deve ser do conhecimento não só do Diretor Técnico como do postulante a escotista. BP era enfático ao dizer que qualquer um pode ingressar em um Grupo Escoteiro, mas ser escoteiro não é para qualquer um (disse em outras palavras). O Espírito Escoteiro, tão delineado e comentado faz parte da iniciação quando da promessa e segue por toda a vida escoteira. 

A apresentação do (a) noviço (a) no dia da cerimônia é feita pelo primo ou monitor. Apresentado ao chefe da seção dá-se o seu inicio. Forma-se em ferradura e no caso de alcatéia pode se escolher em circulo ou não (a critério da sessão.)

Muitos escotistas acham que a promessa deve ser repetida pelo jovem e não dita diretamente. Eu fico com a segunda parte. Acho que o jovem deve saber bem a promessa e dizê-la com toda clareza. Isto vai fazer com que o significado seja bem maior. Nesta parte, acho que cada um deve analisar qual é a melhor para a cerimônia.

Acredito que o que se diz e como é feito é do conhecimento geral. O responsável pela cerimônia é o Chefe da Seção. Compete ao chefe do Grupo colocar o lenço, ao chefe da seção o distintivo de promessa um assistente o certificado e pelo primo ou monitor o distintivo de matilha ou patrulha.

O responsável dirigirá breves palavras aos presentes, uma palma escoteira, ou Grito da Tropa ou Grande Uivo. Nunca mais de que 10 ou 15 minutos. Será recebido pela matilha que vai abraçá-lo ou pela patrulha onde será cumprimentado e dado o Grito da Patrulha.

Tenho visto promessas de escotistas, que muitas vezes são pegos de surpresa, nem uniforme possuem (inclusive não devem usar antes da Promessa – vide normas regulamentais para se inteirarem melhor do assunto). Isto acontece porque o Grupo Escoteiro acredita que nesta cerimônia eles ficarão mais interessados na participação com as seções do grupo (leiam alguns artigos aqui publicados onde faço comentários sobre o assunto)

Ao contrário, no entanto já vi em Grupos Escoteiros cujos escotistas novos ficam meses sem fazer sua promessa. Por quê? Se não servem devem ser notificados não? Agora se o assessor não sabe ou não chegou ainda uma conclusão se ele está apto ou não, alguma coisa está errada.

A promessa é somente a ponta do iceberg para uma motivação duradoura. Tente fazer sua própria pesquisa em seu Grupo Escoteiro. Seja leal com você mesmo. Não enxergue somente a alegria de hoje nos jovens que participam. Tentem ver os que não estão mais. Analise o porquê. Se o escotismo é formidável, se você não pode viver sem ele, se ele é a razão do seu modo de ser você deve mostrar isto aos demais escotistas do grupo.

Não afirmo que a promessa é responsável muitas vezes pela desistência ou mesmo a perda de continuidade da vida escoteira. Mas ela tem fator preponderante em tudo. Lembre-se você também é responsável pelos jovens ou adultos que sob a sua orientação abandonaram o Movimento Escoteiro. Não acredita? Breve postarei um artigo aqui, onde comentarei a evasão no movimento escoteiro.

E para terminar, pergunte a você mesmo o que pode fazer para ajudar. Plagiando John Kennedy repito – “Meus irmãos dirigentes adultos do Movimento, não perguntem o que o escotismo podem fazer por vocês. Perguntem o que vocês podem fazer para o escotismo. Que ele seja grande e forte e possa dar a juventude brasileira o que nós recebemos”.

Não conheço nenhuma fórmula infalível para obter o sucesso, mas conheço uma forma infalível de fracassar: tentar agradar a todos