Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Tributo a Bandeira do Brasil.



Lendas escoteiras.
Tributo a Bandeira do Brasil.

                  Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de pano que para alguns não tinham valor, mas para ele era sempre foi sagrado. Vamos lá ao seu relato.

                 - Chefe, eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando em um armário, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à velha. A principio eu achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha dizia para a nova:

- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais para mim.

- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda, mas se eu não farfalhasse ao vento naquelas alturas eles não se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro.  Entre dois vãos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não desistiam. Sempre atrás de mim.

- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava. Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber como é amada por eles!

                      O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e bem alto digo – Sempre Alerta!


                     Vi que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!             

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.


Lendas Escoteiras.
O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.

                 Calma. Nada a ver com o filme de Anthony Mann, Um Certo Capitão Lockhart. Mas Dona Etelvina assistiu ao filme e batizou seu filho como Capitão Lockhart. A princípio o tabelião se recusou, mas Dona Etelvina foi dura e enfática. Tem de ser este ou não será nenhum. Capitão Lockhart ficou conhecido na cidade de Pedra Roxa. A principio só curiosidade depois ninguém ligava mais. Na escola era bom aluno e todos os colegas gostavam dele por ser prestativo e educado. Capitão Lockhart tinha duas paixões. Papagaios (pipas) e escotismo. Quando fez sete anos lá estava ele se matriculando como lobinho. Não sabia que precisa de sua mãe para isto. Ela foi. Seu pai foi pracinha e morreu na Batalha de Monte Castelo quando ele ainda estava hibernando na barriga de sua mãe.

               Capitão Lockhart fazia papagaios como ninguém. Nos campeonatos anuais na cidade de Pedra Roxa quando não ganhava ficava em segundo. Cada ano mais ele se aprimorava. Sabia escolher o melhor bambu para as varetas, ele mesmo fazia a cola em sua casa usando limão galego, comprou uma tesoura sem ponta e usava sua régua e caneta da escola. Na Casa Ultimato, onde vendiam papeis de seda ela ficava horas escolhendo. Sempre tinha cinco ou seis carreteis de linha dez de reserva. Capitão Lockhart chegava da escola, fazia suas tarefas e a tarde ia até a colina do Morto Enterrado. Lá soltava seus papagaios analisando o peso, a força do vento, as linhadas, tudo para que não perdesse nada na hora de um bom campeonato.

             Capitão Lockhart era da Patrulha Corvo. Seu Monitor Nininho era meio mandão, mas todos gostavam dele. As quintas feiras a Patrulha se reunia na sede, onde eram passadas as provas para cada um. A Patrulha tinha dois primeiras classes, três segundas (inclusive Capitão Lockhart) e dois noviços. Ziri era um deles. Quiseram apelidá-lo de Polegar, mas alguém achou melhor Ziri. Esqueceram que seria Siri e não Ziri. Mas apelido posto só sai morto. Aos sábados o Chefe Martinho não dava folga. Cobrava dos Monitores, cobrava dos subs, cobrava de todo mundo. Capitão Lockhart amava tudo aquilo. A tropa vivia acampando, fazendo excursões, e varias vezes ao ano ele o Chefe deixava as Patrulhas acamparem sozinhas, principalmente em acampamentos volantes bem planejados.

              Em novembro a prefeitura estava programando a primeira Olimpíada do Papagaio de Pedra Roxa. Capitão Lockhart soube que o premio seria de dois mil reais. Precisava ganhar este prêmio. Prometera dar o uniforme e o equipamento de campo ao Ziri, pois ele estava com cinco meses e ainda não conseguiu ter o suficiente para fazer e comprar. Promessa é promessa e o Capitão Lockhart não podia fraquejar. O dia chegou. Capitão Lockhart sabia das regras das Olimpíadas. Usar dois carreteis de linha dez com cento e cinquenta metros cada um, o papagaio tinha de puxar toda a linha, (os fiscais iriam olhar na manivela), ficar duas horas no ar e ganhava em primeiro lugar aquela com mais pingos de chuva no papel de seda. Tudo bem. Não era segredo para o Capitão Lockhart.

               O dia chegou. A cidade em peso lá. Mais de duzentos competidores. Capitão Lockhart fizera uma pipa de bom tamanho, mais ou menos oitenta por quarenta, passara quinze dias preparando as varetas, cortou o papel de seda harmoniosamente sem pontas e para montar seu papagaio ficou dois dias ali debruçado na sua mesinha que sua mãe lhe dera de presente. Às nove da manhã se encontrou com a Patrulha. Estavam todos uniformizados. Várias outras patrulhas, lobinhos, seniores e os pioneiros também lá estavam. O Chefe Martinho tinha orgulho do Capitão Lockhart. Adorava o menino. Ele era viúvo e namorava dona Etelvina a mãe do Capitão Lockhart. Nada contra. Eram um belo casal e juntos também foram assistir a vitória ou derrota do Capitão Lockhart.
   
              Não vou entrar em detalhes, mas foi uma disputa renhida. No final ficaram oito competidores. Passado às duas horas foi dado à ordem de descer os papagaios. Um por um foram chegando. O povo todo se amontoando para ver qual estava marcado com pingos de chuva. A do Capitão Lockhart tinha oito pingos. A do Murilo da Birosca do Pedro Mocho (bar) tinha oito também. E agora? Mais trinta minutos no ar. Então após veriam o provável vencedor. Não podia haver empates. Foi emocionante! Muito mesmo. Um frenesi no ar e em terra. Uma torcida vibrante. Os escoteiros pulando e gritando. Terminou o tempo. As pipas desceram. Capitão Lockhart ganhou com mais dois pingos. A do Murilo só um. Foi carregado entre a multidão.


                      No sábado no cerimonial de bandeira, o Chefe Martinho fez uma entrega de um certificado de mérito ao Capitão Lockhart não só por ter representado o grupo nas olimpíadas, como também pelo seu belo gesto em dar ao Escoteiro Ziri um uniforme completo, um cantil, uma faca Escoteira, uma bússola e um cabo trançado de dez metros. A tropa saiu de forma. Os sêniores também. Os lobinhos se juntaram a algazarra. Abraçavam e beijavam o Capitão Lockhart. Uma apoteose que nunca tinham visto nada igual. Soube que meses depois o Chefe Martinho casou com dona Etelvina. Dizem que viveram felizes para sempre. Agora me disseram por fontes fidedignas e não posso garantir que o Capitão Lockhart foi reconhecido como o maior soltador de papagaios do Brasil e esteve em diversos campeonatos no “estrangeiro”. Verdade ou não ele apareceu na TV e em duas revistas o Cruzeiro e a Manchete. Que ele seja feliz com sua gostosa habilidade. E quem quiser que conte dois! Risos.   

domingo, 24 de novembro de 2013

Eu prometo, pela minha honra!


Orgulho de ser Escoteiro.
Eu prometo, pela minha honra!

           Que semana meu Deus! Minha cabeça a mil. Sonhava com o próximo sábado e ao mesmo tempo meu corpo tremia. De medo? Claro que não. O Chefe tinha dito que nós escoteiros não temos medo. Não foi BP quem disse que os valentes entre os valentes se saúdam com a mão esquerda? Mas sinceramente? Eu tinha sim. Seria um dia que ficaria marcado na minha vida para sempre. Afinal era o dia da minha Promessa Escoteira. Flavio me disse que eu estava pronto. Flavio é meu monitor. Disse que a Corte de Honra aprovou. O Chefe Gildo me chamou na reunião e disse – Sábado que vem você fará sua promessa. Acha que está pronto? Fiquei em duvida na hora. Sim Chefe. Eu estou pronto. Você conhece a Lei dos Escoteiros? Conheço Chefe, ainda não sei de cor, mas prometo que no sábado o Senhor pode perguntar. Direi todas.

           Passei a semana lendo, decorando, pensando e amando o que eu estava fazendo. Amava mesmo o escotismo. Na sexta fui para a pracinha do meu bairro. Ela era meu recanto favorito. Lá eu pensava em mim, na minha mãe, no meu pai e na minha Irmã Constance. Era o meu refugio. Agora estava voltando ao passado. Quatro meses antes. Eu os vi passando na minha rua. Fui atrás. Vi onde se reuniam. Adorei. Amei. Tinha de ser mais um. Minha mãe demorou a dizer sim. Meu pai trabalhava longe. O Chefe entendeu. Fui apresentado. Flavio me apresentou a Patrulha Leão. Todos me deram a mão esquerda. Não sabia o que era, mas nunca mais esqueci este dia.
    
           Não parava de dizer na minha mente, não podia esquecer agora e nunca mais. “Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para...”, e a Lei? Difícil. Muito difícil para entender todos os artigos, mas eu consegui. Saber que tinha de ser leal, ter uma só palavra, ser amigo de todos, irmão dos demais, ser puro nos meus pensamentos. Que lei! Mas ia prometer que faria tudo para obedecê-la. Meu uniforme estava pronto. Não sei quantas vezes o vesti ali no quarto e me olhava no espelho. Gostava do que via. Estava perfeito! Seria um orgulho de mim mesmo!

           O sábado chegou. Tomei um banho pensando. Era meu dia. O mais lindo dia da minha vida. No meu quarto coloquei peça por peça. Bem passado. Meu chapéu perfeito! Ensinaram-me as dobras do meião. Era a primeira vez. Na tropa só podíamos vestir o uniforme a partir da promessa. Lá fui eu rumo à sede. Assoviava baixinho. “De BP trago o espírito, sempre na mente!” Adorava esta canção. A turma estava lá, patrulhas em seus cantos. Sempre Alerta meus irmãos! Abraços. Era assim nossa Patrulha. O apito do Chefe. Bandeira! Ferradura! As bandeiras tremularam ao vento! Subiram aos céus dos escoteiros! Uma oração. Fui convidado. Eu a fiz. Meus olhos cheios de lágrimas.

            Chefe! Tenho um patrulheiro para a promessa! Disse meu Monitor. - Traga-o Marcio. Lá fui eu a frente com o Marcio. – Marley! Você está preparado? Sim Chefe! Meu corpo tremia. – Sabe a lei Escoteira e entende o seu significado? Sim Chefe, e sem ele esperar falei uma por uma. Todos assustaram. Nunca ninguém disse assim. A tropa Escoteira está de acordo com a promessa do Marley? Todos gritaram sim. Levante a mão direita, faça a meia saudação e repita comigo. Interrompi o Chefe. Poderia eu dizê-la sozinho por completo Chefe? Claro. – Estava ali, orgulhoso e agora não mais tremia – “Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para: - Cumprir o meu Dever para com Deus e minha pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro”!

              Que dia meu Deus! Incrível! Meu lenço foi colocado, meu querido distinto de promessa que seria meu para sempre! Um certificado que mandei encadernar e está em meu quarto em um quadro de honra. Agora era um Escoteiro. Orgulhoso! Para sempre teria aquele dia na memória. O grito de Patrulha foi dado, abracei a todos com carinho, a tropa deu o Anrê. Que tarde linda, que beleza de vida! Como eu era feliz! Ser Escoteiro para sempre eu dizia para mim. Minha mãe apareceu, não sabia. A Mana também. Choravam de emoção e me abraçaram com carinho.
Dizer mais o que? Foi o meu dia, um dia que jamais em toda minha vida esquecerei! Orgulho de ser Escoteiro! Claro, para sempre