Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 17 de dezembro de 2011

NUNCA TÃO POUCOS FIZERAM TANTO POR TANTOS



"NUNCA TÃO POUCOS FIZERAM TANTO POR TANTOS"
(palavras de Winston Churchill, no final da Batalha da Normandia, com a libertação da Europa das forças alemãs)
Nosso país passa por um momento difícil. Para alguns momentos de transição, para outros caminhamos para o caos. A corrupção grassa nos meios políticos e em muitas organizações brasileiras. Enquanto milhares de brasileiros levantam cedo e com seu suor ganham o pão de cada dia, ficamos cada vez mais abismados com o que vemos nos noticiosos nacionais.
Ficamos em duvida quando nos lembramos de frases que nos marcaram no passado e que ainda resiste em nosso pensamento:
- A honestidade fingida é desonestidade dobrada;
- Alcançar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos os que assim procedem;
- Para o homem honesto uma boa reputação é a melhor herança;
- O trabalho afasta três grandes males: O ódio, o vício e a necessidade;
- Um homem honesto não sente prazer no exercício do poder sobre seus iguais;
- Devemos julgar um homem mais por suas perguntas que pelas suas respostas;
- Se queres ser feliz por um dia vingue-se; por toda a vida, perdoe;
- Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.
Aristóteles já dizia a muitos e muitos anos atrás – “Nosso caráter é o resultado da nossa conduta”.
Porque escrevi isso? “Talvez por querer mudar um pais dos seus erros que tão poucos estão cometendo em nome de tão muitos”.
Mas por outro lado, temos “tão poucos fazendo tanto por tantos”. Sim o MOVIMENTO ESCOTEIRO. Uma força na comunidade. Apenas algumas algumas horas em um fim de semana. Pouco, muito pouco. Mas como produzem. Como marcam! É um passo gigantesco para mostrar uma juventude forte, sadia, cheia de valores e que nos orgulhamos nesta pequena gota de orvalho de um amanhecer glorioso.
Se pudéssemos crescer, abancar um grande número de rapazes e moças poderíamos mudar uma nação. Uma nação forte cheia de honra, de ética onde teríamos a altivez em saber que produzimos muito “por tantos”.
Mesmo assim somos felizes, muito. Nós escoteiros nos orgulhamos pelo que fazemos. Poderia ser mais, muito mais, mas pelo menos fazemos.
Parabéns a você, escoteiro, escoteira, ou Escotista. Parabéns mesmo. A nação silenciosa sabe o valor do seu trabalho. Sua recompensa? Um sorriso. Vale muito. Mais de um milhão de tudo que possa existir!
Um dezembro, um final de ano, inicio de outro. Quem sabe poderemos fazer mais? E assim dizer com orgulho:
"Nunca tão poucos fizeram tanto por tantos"

UM EXPLENDIDO SÁBADO A TODOS

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A SUA SEÇÃO CANTA BASTANTE?



  Elmer Souza Pessoa
  "Viver como Escoteiro é crescer como indivíduo!".


Reflexões de um Velho Lobo

49  -  A  SUA SEÇÃO CANTA BASTANTE?

Você tem o hábito de cantar com a sua seção? Todas as reuniões de sede costumam iniciar com uma canção, após a inspeção, hasteamento e oração? Pode ser um Hino, uma canção escoteira ou até uma canção popular... Sente dificuldade, inibição ou é apenas a falta de hábito...

Talvez o chefe tenha esquecido a razão das canções nas reuniões e atividades escoteiras... O tempo é curto e ele tem muitas coisas para pensar e fazer... Às vezes até nos esquecemos que o chefe é um ser humano como qualquer outro, que tem emprego, família e há casos que ainda estão fazendo faculdade e, para a alegria de seus jovens, é chefe da sua Tropa de Escoteiros!

Então, vamos procurar lembrar a todos os chefes o papel da canção na seção e, mais amplamente, no Escotismo!

A canção é um importante recurso de formação! Por isso vamos dar algumas “dicas” de como usar esses recursos, com naturalidade.

Usamos a canção no início da atividade para miscigenar o ambiente inicial. Conforme o horário da reunião, alguns vem de casa ainda meio sonolentos, outros muito ativos, ansiosos com a reunião, outros temerosos em fazer determinada atividade. Alguns com o estômago cheio da refeição e mais lentos por esse motivo, outro talvez nervoso com o boletim recebido e a possibilidade de enfrentar o pai em uma proibição e outras tantas situações emocionais diferentes que podem gerar um comportamento desigual e que pode oscilar da hiperatividade até uma apatia para com a reunião. 

O efeito da canção é quase milagroso! Quando bem aplicada, levanta a moral daqueles que precisam e refreia o entusiasmo daqueles excessos de molecagem, equilibrando o entusiasmo com o desânimo, nivelando por igual o comportamento e preparando a seção para a programação do dia.

E por que acontece isso?  Todos cantando a mesma música, no mesmo ritmo, na mesma altura e tom de voz, fazendo os mesmos gestos, a canção tem o poder de, praticamente, igualar a todos, tendendo a torná-los uma só mente em toda a seção.  
Todos sabem que a canção pode alegrar um ambiente, torná-lo feliz e descontraído, bastando ser uma música alegre, fácil de cantar e até com movimentos. Pode baixar o ânimo, criar desânimo e tristeza, se for uma música sentimental e melancólica. Pode gerar motivação, prontidão e até disposição para um confronto se for um hino patriótico. 

Fazer crescer o espírito natalino, compaixão, solidariedade, fraternidade, como acontece quando ouvimos as músicas de Natal! Criar um momento de reflexão e religiosidade em um culto ecumênico ou um ato inter-religioso, ou mesmo indo ao outro extremo, tocando músicas sinistras e próprias para as festas de Halloween irão produzir o medo, suspense e terror...

É só saber usá-las! Existem aos milhares em nossos cancioneiros escoteiros e também nos populares. A canção corretamente escolhida, e aplicada no momento certo, é capaz de mudar totalmente o ambiente, tornando a seção atenta e receptiva! Esse recurso pode ser usado em qualquer momento da atividade, ou quando perceber que existe o perigo de se instalar o desânimo.

As canções mais fáceis de cantar, principalmente quando recebemos a visita de outro Grupo Escoteiro, é a “canção com guia” a qual um chefe puxa a letra e os outros repetem. Não há erro e dispensa a necessidade de todos conhecerem a letra e a música. É só seguir o guia...

Não se deve levar em conta o fato que as músicas são cantadas diferentes por outros Grupos. É bastante comum um Grupo cantar uma canção conhecida, com letra e até a música diferente da cantada pelo outro Grupo. No Escotismo existe muita paródia, isto é, em uma música popular bastante conhecida é colocada uma letra escoteira. Isto fere os direitos autorais, mas citando o autor original, é relevada porque não tem objetivos comerciais.

Um bom Grupo Escoteiro não pode dispensar este recurso e, principalmente, privar seus jovens de um divertimento sadio e ao alcance de todos. Quem nunca participou de um Festival de Canções Escoteiras? É o lugar adequado para ser apresentados novos cantores escoteiros, novas canções com músicas inéditas, novos arranjos musicais e uma juventude alegre e descontraída.

Se você ainda não tem o habito de cantar, comece o mais rápido possível e verá como sua seção se tornará mais alegre e susceptível a sua direção. E isto acontecerá em pouco tempo, pois você terá jovens mais felizes e contentes...

É por aí o “caminho das pedras”! É só percorrê-lo.

Elmer S. Pessoa -  DCIM - novembro 2011.
55º MORVAN – Santos/SP

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MORTE NO GRUPO ESCOTEIRO - Chefe Elmer




Elmer S.Pessoa

13 – Reflexões de um Velho Lobo

                  MORTE  NO  GRUPO  ESCOTEIRO

Certa vez, um Grupo Escoteiro estava em uma situação muito difícil.

As reuniões não iam bem, os Escotistas desmotivados, as atividades externas não aconteciam há bastante tempo...   Alguns já falavam até em fechar o Grupo...

Faltavam recursos humanos e financeiros.

Era preciso fazer algo para reverter o caos, mais ninguém queria assumir nada.

Havia algumas idéias, mas sempre para outros fazerem e, o pior, é que ninguém tinha tempo...

Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins no Grupo e que não havia perspectivas de progresso.

Eles achavam que alguém devia tomar a iniciativa de reverter àquela situação.

Um dia, quando os Escotistas e Dirigentes chegaram para a reunião do Grupo, encontraram na porta da sede, um cartaz enorme no qual estava escrito: “– Faleceu ontem a pessoa que impedia o seu crescimento e também o crescimento do Grupo Escoteiro. Você está convidado para o velório, na sala principal da sede”.

No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois, ficaram curiosos para saber quem estava bloqueando o progresso do Grupo Escoteiro e até o dele próprio.

A agitação no velório tornou-se tão grande que foi preciso formar uma fila para ver o corpo.

Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava e alguns chegaram até a comentar já com um pouco raiva:

“- Quem será que estava atrapalhando o meu progresso? Ainda bem que este infeliz morreu!”

Um a um, os membros do Grupo, agitados, aproximavam-se do caixão, olhavam  e engoliam a seco. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma e saiam cabisbaixos.

Certamente vocês já adivinharam: o caixão estava vazio e no visor da tampa, havia por baixo, um espelho comum.

Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: você mesmo!

É muito fácil culpar os outros pelos problemas, mas você já parou para pensar se você mesmo poderia ter feito algo para mudar a situação? Será que realmente você fez o seu melhor possível ou apenas dava idéias para os outros fazerem?

Você é o único responsável por sua vida e pode fazer a diferença na comunidade em que vive, capacitando-se para exercer sua função com eficiência, empenhando-se no seu próprio desenvolvimento  e, como conseqüência,  no crescimento do Grupo Escoteiro.

Não nos propusermos a deixar o mundo melhor do que o encontramos?

Não temos o compromisso de deixarmos cidadãos melhores para habitar esse mundo melhor?

Portanto, vamos todos ressuscitar e reviver nossos ideais!

Vamos fazer a diferença! 

Elmer S. Pessoa – DCIM
55º Morvan – Santos/SP – 1970
(conto adaptado de autor desconhecido)

MEU AMIGO CHEFE GAFANHOTO E UM INESQUECÍVEL ACAMPAMENTO



Meu Amigo Chefe Gafanhoto e um inesquecível Acampamento

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.
              
A vida não é feita de sonhos, mas eles existem. Nós escoteiros temos o privilegio de poder ver em nossas vidas o sol da manhã, a chuva na primavera ou a brisa leve a açoitar suavemente o rosto. A majestade da visão do alto de uma montanha qualquer e o cheiro da terra após a nevasca são sonhos reais. Nada como sonhos e lembranças que ainda permanecem firmes para alegrar as noites frias de inverno ou o sol escaldante do verão.

Sempre é bom voltar ao passado principalmente se são fatos que nos trazem a juventude de uma época, a aventura de uma historia, a força do caminho a seguir ou o equilíbrio de decidir se valeu ou não tomadas de decisões que desapareceram com o tempo.

Foi numa tarde de junho, lá pelos idos de 1960, apesar de estarmos no inverno, o sol estava a pino. Na pausa do trabalho me deslocava a minha casa para almoçar e minha mãe me entregou uma correspondência recebida aquela manhã.

Logo vi que era do meu amigo Chefe Gafanhoto (prefiro preservar seu nome), pois somente dele ainda recebia alguma carta.

Eu o conheci no ano anterior, quando fiz meu primeiro CAB (Curso de Adestramento Básico). Ainda lembro, acho que foi em setembro de 1958. Tinha recebido um convite da Direção Regional para fazê-lo, totalmente sem ônus.

Foi uma aventura a saída, de uniforme e calças curtas, com meu chapelão e a mochila ofertada por um militar aposentado. Carregada de apetrechos exibia o garbo que sempre tive. O peso mostrou que poderiam diminuir e muito os aprestos. A viagem foi de trem e aquele curso o primeiro de muitos outros que viriam a seguir, ficou marcado na minha saga escoteira. Mudou completamente minha vida e a maneira de pensar como escotista.

Cheguei à capital pela manhã, uma viagem de 12 hs, sem dormir direito, mas com aquela excitação do primeiro acampamento ou da promessa escoteira. Fui direto para o local determinado e com a mochila as costas, alcancei sem problemas o campo escola conforme as instruções que havia recebido.

No meio de um arvoredo, avistei uns 20 ou 25 chefes, conversando, rindo e cantando. Cheguei e na melhor pose tomei a posição de sentido e gritei para todos – “Sempre Alerta”. Riram da minha pose militar (era assim que tinha aprendido). Mas foram camaradas durante o curso e um deles, moreno magro três anos mais velho que eu aproximou e apresentou-se como chefe Gafanhoto, de uma cidade bem próxima a minha e que eu ainda não sabia da existência de um grupo escoteiro.

Gafanhoto e eu ficamos muito amigos. Éramos da mesma patrulha. Estávamos na mesma barraca e os cinco dias de campo deram tempo suficiente para nos conhecermos mais, e planejar planos para o futuro. (fizemos a parte de campo da Insígnia um ano depois, foram mais oito dias juntos)

Assim nos conhecemos e assim trocamos muitas correspondências, pois apesar de sua cidade ficar a 180 quilômetros da minha, era uma época muito difícil para um intercambio maior. Estrada de terra, poucos ônibus e tínhamos que fazer uma baldeação, pois de sua cidade até o entroncamento da rodovia federal a distancia era de 58 quilômetros em uma péssima estrada carroçável e com poucos veículos circulando. Telefone nem pensar. Muito difícil. (mais tarde, fui lá varias vezes de bicicleta, eu e vários escoteiros da tropa)

Mas voltemos à correspondência do Chefe Gafanhoto. Ele me convidava para um acampamento com as tropas escoteira, nas férias de julho, na fazenda de um pai de um escoteiro dele, de uma semana, com quase todas as despesas pagas. (o pai ofereceu transporte em carros de boi, da estrada até a fazenda (nove quilômetros) carne de boi, porco e frangos, ovos, gordura de porco, arroz, feijão leite, verduras e frutas da época, pois havia um belo pomar em sua fazenda.

Seria uma incoerência não aceitar tal dádiva, pois vi que os gastos seriam mínimos e já estava em nosso programa um acampamento nesta data. Era só mudar o local.

Conseguimos através da prefeitura local um caminhão que nos levaria até o entroncamento e nos buscaria no dia determinado. Os preparativos foram intensos, a tropa muito motivada (quatro patrulhas duas com 7 escoteiros e duas com oito).

Chegou o grande dia, saímos pela manhã, e a viagem de caminhão seria de mais ou menos três hs até a entrada da fazenda. Combinamos via correspondência encontrar a tropa do chefe Gafanhoto entre 12 e 13 horas. De lá, juntos iríamos até o local determinado.

O pior ainda estava por acontecer. Uma chuva torrencial nos pegou pelo caminho. Era um caminhão sem lona, só com bancos. Abrimos algumas lonas, mas o vento pouco ajudava. Chegamos com um atraso de duas horas. E então vimos que a estrada onde estava marcado o encontro e encontraríamos o chefe Gafanhoto estava toda enlameada, e a única ponte havia sido levada pela enchente. Do outro lado, avistamos a tropa do nosso amigo. Algazarra dos dois lados, mas sem possibilidade de atravessarmos, pois o riacho totalmente cheio e sem ponte nos obrigava a estudar um novo plano.

Aos gritos tentamos nos comunicar, mas pouco se entendia por causa da chuva e do barulho do riacho. Um dos monitores veio com um par de bandeirolas (todas as patrulhas tinham sinaleiros) e aí começamos a nos entender por semáforas. Decidimos dispensar nosso caminhão. Estava fora de cogitação voltar.

Ali mesmo ao lado da estrada os monitores começaram a armar suas barracas de duas lonas, fizeram uma pequena cozinha e um pequeno acampamento foi montado em instantes. Do outro lado a tropa fazia a mesma coisa. Um posto de transmissão foi montado e conversamos com todos do outro lado, devagar, mas nos entendo bem. À noite, a chuva tinha diminuído, mas não cessada. Dormimos molhados, mas com sonhos de um sol brilhante e quente ao alvorecer.

O amanhecer não trouxe um belo dia, mas pelo menos sem chuva. Para surpresa um monitor me comunicou (estava só, pois os assistentes não vieram por diversos motivos) que achou em sua barraca, quatro escorpiões amarelos.  Preocupado, chamei os monitores e juntos inspecionamos todas as barracas. Eram em grande numero. Um perigo. Mas sempre temos a proteção de Deus.


Ainda bem não tivemos alguém picado por um deles. Desmontamos devagar o campo, olhando com carinho as dobras (para não levar escorpiões juntos) e resolvemos fazer uma jangada para a travessia, pois sem a ponte a diminuição das águas seria demorada. Nosso programa era acampar junto à tropa do chefe. Gafanhoto e de maneira nenhuma iríamos desistir da nossa intenção.

Demoramos mas conseguimos. Foi divertido passar uma corda para o outro lado a fim de firmar a jangada. Um monitor fez um arco e uma flecha, amarrou um cabo (juntamos 5 cabos para dar o comprimento ideal, pois todos usavam na cintura um na época) e foi preciso de muitas tentativas antes de conseguir.

Não era uma bela jangada, mas deu para o gasto. A travessia demorou toda à tarde. La pelas 19 hs estávamos confraternizado com a outra tropa. Era o inicio de uma grande amizade entre os jovens. Dois dias haviam-se passado. Não perdidos, pois a aventura apenas tinha começado.

Dois grandes carros de bois estavam a nossa espera. Carregamos todo o material pesado e conversando e cantando, marchamos para o local do acampamento. O pai e dono da fazenda veio a cavalo, nos parabenizou pela travessia e disse que tinha pedido a sua cozinheira para fazer um grande sopão de arroz e muito angu (polenta) com carne de porco. Não precisaríamos fazer o jantar naquele dia.

Aqueles nove quilômetros até a fazenda foi o inicio de uma grande confraternização. Cantando, sorrindo, fazendo amizades que iriam perdurar por muitos e muitos anos. Quando chegamos a casa sede, jantamos e lá pela meia noite, iniciamos a montagem de nosso acampamento.

A tropa do chefe Gafanhoto era muito bem adestrada. Vimos que eles possuíam todas as pioneirias básicas em cada campo de patrulha. Os monitores também eram de uma cortesia e lealdade e assim procediam em todas as atividades em conjunto. Montamos um pequeno campo de chefia onde eu o Chefe Gafanhoto e mais 4 assistentes escolhemos como nossa morada.

Não vou aqui entrar em detalhes de tudo que aconteceu.  Teria que escrever mais cinco ou quem sabe vinte folhas. Não quero que os amigos que me lêem percam tempo e quem sabe poderiam perder o interesse. Portanto com certa mágoa e pesar, fico sem narrar a invasão dos bois nos campos de patrulha na hora do banho, da lagoa do sapo gigante de três pernas, do piau de cinco quilos pego por um escoteiro da patrulha leão. De escoteiros que sumiram por um dia inteiro, e só retornaram à tarde com três sacolas cheia de goiabas deliciosas.

Seria bom narrar como usamos a floresta dos bambus gigantes, imensos, do escoteiro que quebrou a perna, foi a cavalo até um médico próximo e voltou para o acampamento. Mesmo assim não deixou de participar das outras atividades. Não me esqueço da caça ao porco selvagem, (havia muitos na fazenda) do Lobo Guará que apareceu com 6 crias e não saiam do campo, de três jovens filhos de meeiros que se juntaram as patrulhas em todo acampamento (muito choro na partida), e da gruta do lago cinzento inexplorada. Tomamos banhos diversas vezes em seu lago profundo.

Foi interessante a insistência de dois vaqueiros que queriam participar conosco de um grande jogo noturno (houve interferência do dono da fazenda), da invasão dos carrapatos, do cachorro ladrão e da árvore fantasma. Do córrego das pedras preciosas, da filha do fazendeiro que encantou a dois chefes que se achavam formosos, do feijão tropeiro feito no último dia, do leite fresco que fez ambas as tropas correrem para o mato freqüentemente. Do Fogo de Conselho, uma apoteose.

Impossível esquecer o barulho feito pelos eixos das rodas dos carros de boi, de todos a cantarem e rirem durante o retorno, enfim de detalhes que nos deslumbrou e nunca foram esquecidos. Não houve participantes que na estrada federal, quando da partida de cada tropa para sua cidade, choraram e alguns já dentro do caminhão, se mostravam deprimidos e tristonhos.

Final do acampamento. Voltamos para nossa cidade. O riacho estava meio seco, fácil para atravessar a pé. Voltamos para nossas vidas. Nas reuniões de tropa, os comentários faziam inveja aos seniores que não foram e historias para os lobinhos que um dia também teriam o que contar.

Foi um dos meus melhores acampamentos. Ficou marcado na lembrança. Ali fizemos amizades que perduraram por muito tempo.

Depois da década de 70, não vi mais o chefe Gafanhoto. Ele não deu mais noticias e nem eu. Mudei-me daquela cidade e talvez seja culpado por não procurá-lo mais uma vez. Não sei se o grupo dele permanece na ativa, mas era um grande chefe e com escoteiros que obtiveram tudo aquilo do escotismo e das aventuras que ele oferece.

Como é bom ser escoteiro. Sempre temos história para contar. Assim como você que me lê, garanto que deve estar se lembrando, do acampamento inesquecível, marcante em forma de memória que permanecerão vivas por toa a existência. São saudades assim que marcam uma vida. Fazem de nós escoteiros uns românticos do passado e do futuro.

Histórias dignificam o “Espírito Escoteiro”. Somos uma irmandade sem igual. Temos em comum, a força e mesmo fantasiosos agradecemos a Deus por tudo que nos oferece. E quando o tempo passar poderemos dizer sem receio que também somos heróis. E sorrir e falar em altos brados: – “Valeu a pena e se valeu!!!

E quem quiser que conte outra...

"Cada homem tem a sua hora. Cabe a cada um escolhê-la.” 
Anônimo

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CONDECORAÇÕES, DISTINTIVOS E... Fasc. 47



Obs. Este é um tema polêmico escrito a mais de quinze anos. Não sei se mudou. Se isto aconteceu ótimo. Mas tenho muitos amigos ainda sem nada receber!

O "Velho" é uma figura criada em 1976, que tem profundos conhecimentos escoteiros, mas agora é um critico contumaz das mudanças. Sua esposa a Vovó sempre o acompanhou em toda sua vida de casada. O chefe Escoteiro é aquele que fez dele seu assessor escoteiro. Os que quiserem conhecer melhor esta figura, podem ler no blog http://chefeosvaldo.blogspot.com

CONDECORAÇÕES, DISTINTIVOS E...  Fasc. 47
Sessenta anos atrás eu sabia tudo, hoje sei que nada sei. A educação é o descobrimento progressivo da nossa ignorância.
Willian James Durante
O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância.
Provérbio chinês
Aqueles que fazem o pior uso do seu tempo são os primeiros a reclamar de que o tempo é curto.
Jean De La Bruyere

PARA AQUELES QUE ACREDITAM QUE VAMOS CRESCER EM QUALIDADE E EM QUANTIDADE

Não duvidava nem tinha argumentos para tentar mudar alguma coisa. O que o ‘Velho’ dizia não tinha contestação.
A vida é cheia de altos e baixos, e o que estava vendo não me agradava. Pensava em como mudar aquilo, mas não sabia como.
Lembro que fiz um curso/treinamento em minha empresa (sistema de organização e métodos) o que me fez ficar muito metódico, cheio de melindres para executar qualquer tarefa.
Uma vez estava fazendo uma excursão noturna, com a tropa sênior e as guias em conjunto. Tudo foi muito bem planejado, pois éramos mais de quatro adultos presentes, 16 seniores e oito guias. Era uma jornada e tanto e junto à chefia e os monitores, colaborei para fazer um planejamento, digno de uma grande jornada, ou melhor, dizendo, talvez digno para minha seção na empresa.
Nada deu certo. Os horários furaram. O plano teve que ser modificado. Choveu a noite a noite toda e não havia locais de abrigo. Um pai já idoso ficou revoltado (não explicaram para ele que seria 35 k a pé)
Aí pensei, de que serviu meu curso, mas depois pensei muito e cheguei à conclusão que o que vale é a aventura e nisto ouço até hoje por parte dos seniores e guias, as historias contadas, os sorrisos, as alegrias, e tenho certeza que aquela atividade ficou marcada no coração de todos.
Era sexta feira, uma tarde fria de junho, tinha feito uma jornada no trabalho de 06 as 14 hs na empresa e estava em casa só, sem nada para fazer. Minha esposa só chegaria após as 19 hs. Nada melhor que um papo com o “Velho” e quem sabe, saborear um chocolate quente com biscoitos e uma bela sinfonia, harmoniosamente tocada para o meu deleite e do “Velho” que adorava por na sua vitrola já gasta com o tempo.
Cheguei cedo. A porta estava aberta, e o “Velho” estava cochilando na poltrona de vime e seu ronco era como se fosse motores de avião na hora de levantar vôo. Não disse nada, sentei no meu banquinho de três pés, e ali fiquei. Sem perceber, fechei os olhos, pensando como devia ter sido a infância do “Velho” como lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro. Naquele tempo, não sei se ele fez um melhor escotismo que os jovens hoje fazem. Sem fazer barulho a Vovó entrou, sorriu e já ia saindo quando um pigarro do “Velho” me acordou dos meus pensamentos. Cumprimentei a Vovó e o “Velho” que não respondeu.
O que faz aqui tão cedo? – me perguntou – Sorri. Era seu jeito. Mandaram-lhe embora? Afinal você só fica fazendo escotismo e se esquece da esposa e do trabalho. Nem filho tem que diabo de chefe é você?
Não respondi. Não adiantava. O velho sabia por que ainda não tínhamos filhos e que eu trabalhava em turnos alternados, quando a participar do escotismo, ele tinha razão. Eu tinha que me patrulhar mais. Ele vivia dizendo que o Escotismo é um Movimento de fim de semana e não semanal.
Eu andava preocupado com um tema que me chamava muito à atenção. Verificava que na maioria dos Grupos Escoteiros, que não tinham uma organização burocrática e não sabiam como proceder para premiar os Escotistas do grupo, e até outros membros inclusive os jovens, estavam a “deriva” de como agir para que as providencias fossem tomadas junto ao órgão superior.
Isto fazia com que Escotistas com 7, 10, 15, 20 ou mais anos de movimento, não tivessem acesso a premiação que tinham direito, por uma condecoração que fosse de encontro a sua colaboração ao movimento. E olhe que daria de olhos fechados a muitos deles, um certificado qualquer de bons serviços, uma medalha, seja por tempo, seja pelo trabalho executado, seja por merecimento.
Claro, podiam e podem alegar que o POR é claro. E é mesmo. Mas e daí?
Era o assunto que ia levantar com o ‘Velho’. Já tinha uma idéia do que ele iria dizer. Ele gostava de falar dos nossos dirigentes de uma maneira peculiar, própria de sua experiência e que sei os mesmos não gostavam, e ficavam sempre longe do “Velho”.
No ultimo Conselho Regional e Nacional (agora Congresso) vi com surpresa diversas condecorações escoteiras serem aprovadas por indicação de algum participante e entregues a seguir sem nenhum processo escrito e aprovado. Pensei comigo – Porque essa diferença? No Grupo que participava isto não acontecia. (O “Velho” não gostava que dissesse meu Grupo, Minha Tropa, Minha Patrulha, Meus monitores – dizia sempre que isto não tem preço e não somos donos de nada, ali somos meros colaboradores) –
É realmente um erro, dizia o “Velho”. Muitos ainda participam por amor ao movimento, mas no fundo ficam tristes por não receber nada e outros talvez até sem merecer recebendo muito. Talvez sua Comissão Executiva não saiba como agir, o Comissário do Distrito, o assistente de Condecorações, todos eles com uma parcela de culpa. E quando um grupo, que não tem domínio da burocracia não dá o primeiro passo, o Escotista ali fica sem jeito de abrir os olhos dos outros em proveito próprio. Lá está ele, dando tudo de si, e o que ganha é só o sorriso dos jovens numa atividade qualquer.

O pior não é só isto. Quando você manda um processo além da demora da resposta, muitas vezes a exigência ultrapassa o bom senso. Ele é devolvido, e solicitado a corrigir erros. O Grupo que viu seu Escotista crescer, ajudar, trabalhar enfim, tem que refazer e mandar de novo. E aí, quando por um milagre aprovam, vem a Região dizer que deve esperar uma atividade própria para entregá-la. Vi eu mesmo no passado, regiões que guardaram as condecorações esperando o dia próprio, e quando este aconteceu o Escotista já tinha saído do movimento. Ele tinha desistido. Porque não entregar ali, no seu Grupo? Afinal seus membros merecem esta solenidade mais que encontros nacionais. Todos no Grupo ficariam orgulhosos e muitos iriam se dedicar mais e que sabe, seriam os próximos da lista.

Agora, para melhorar tal situação não aparece nenhum membro da nacional para fazer modificações. Ele o dirigente sabe como funciona e sabe também que todos ali na alta direção terão suas medalhas entregues muitas vezes com ou sem merecimento. Se quiser, vamos visitar 10 Grupos Escoteiros, um em cada estado e veremos quantos dos Escotistas com mais de sete anos de atividade, tem sua condecoração que merece. Você conta a dedo quantos recebem por ano, claro leve em consideração quantos Escotistas temos e quantas são entregues.

Você já viu alguma informação da Direção Nacional da entrega de condecorações a jovens? Por ato heróico, por trabalho comunitário? Por ter se destacado nos estudos? Por ser um escoteiro modelo? Claro que não, mas já viu figurões recebendo sua mais alta condecoração em um Conselho (me recuso a dizer Congresso – desvirtuaram as coisas belas que tínhamos no escotismo, amanhã vão mudar a Corte de Honra para Congresso de Honra. Conselho de Monitores para Congresso de Monitores e por ai vai.  Isto se não já mudaram. Risos. (é, o “Velho” não tem papa na língua, já conhecia seu estilo debochado).

Já comentei a burocracia em outras ocasiões. Acho que são necessárias. Mas com um simples telefonema ou um email se resolve tudo. A UEB tem consigo os dados de escotistas com mais de sete anos de atividade. Porque ainda não criou um sistema de comunicação aos grupos para atuarem nos processos necessários? Seria tão difícil lembrar a Região? O Distrito? O Grupo? Isto não. É muito trabalho e eles vão dizer que não tem pessoal para isto.

 De repente o “Velho” levantou e saiu rápido da sala em direção a porta. Era sua filha chegando, com os dois filhos, e aí eu sabia que nada mais ouviria. A algazarra dos netos era uma fonte de energia para o “Velho”.  Voltei aos pensamentos anteriores. Ele estava certo. (Só não via quem não queria ver). Eu tinha nove anos no movimento, recebi só um certificado distrital de bons serviços! Paciência! Quem sabe um dia vou receber o “Tapir de Prata”? . Claro, sabia que para isto teria de ser um dirigente regional ou nacional. Ou então envelhecer e receber a tal medalha da velhice!

Ser da Equipe de Formação (o “Velho” dizia adestramento e não mudava a maneira de pensar). E um participante ativo de Conselhos (congresso). Sem contar a..., melhor calar. O silencio traz uma paz interior, que nós os Escotistas temos, pois nossa abnegação, nossa lealdade, sempre está acima das coisas  importantes, mas quase sempre somos obrigados a considerar supérfluas.

Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

AS APARIÇÕES DO CHEFE TROVÃO



As aparições do Chefe Trovão

Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.
Pitágoras

Todo o sábado à tarde, levava meu filho para as reuniões da tropa escoteira que se realizavam em seu grupo. Ele se sentia realizado, e não aceitava faltar ou chegar atrasado. A princípio não achei tedioso, pois, ficava por ali esperando o término e aproveitava para ver o que faziam. Assim como eu vários pais ali também permaneciam.

O Chefe Trovão ficava quase sempre conversando conosco. Não participava diretamente. Não era o Chefe do Grupo. Sabia que era bem reconhecido, pois todos o tratavam de maneira respeitosa. Soube depois que era um dos poucos que dirigia cursos, e conhecia como ninguém o fluxograma, o projeto e o intento do programa escoteiro.

Tornou-se para nós um amigo e assim como os demais chefes após as reuniões sempre nos reuníamos em casa de alguém, para conversar, sorver é claro um whisky importado, claro que alguns preferindo cervejas ou refrigerantes. Com o tempo, o chefe Trovão convenceu a todos nós a participar mais diretamente no programa escoteiro, colaborando com o Grupo em questão.

Nada como experimentar. Reuniu 25 pais, e durante uma tarde de um sábado e o dia inteiro do domingo, aplicou a todos o CAP (Curso de Adestramento Preliminar). Foi divertido, mas logo nosso tempo aos sábados, domingos e alguns dias da semana começaram a ser tomados, em função única e somente para as atividades escoteiras.

Nos primeiros meses estávamos em dúvida, mas com o passar do tempo ficou enraizado em nossos pensamentos e sem notar nos dedicamos de corpo e alma ao movimento escoteiro. Fomos mordidos pelo mosquito encantado de Baden Powell. Daí para um CAB e a parte II da Insígnia foi um pulo.

No mês de julho, estava marcado um acampamento de 5 dias, numa pequena mata pertencente a um amigo do chefe Trovão, a tropa escoteira e sênior iria participar. Claro que também estaríamos presente. Aos poucos fomos aprendendo como preparar o material, a intendência, as caixas de patrulhas, ou seja, tudo aquilo que os escoteiros conhecem tão bem.

Ficamos sabendo pelos outros chefes dos mitos do acampamento, e um fato chamou a atenção. O chefe Trovão fazia questão que todos participassem do banho das “três e meia” da madrugada no primeiro dia de acampamento.

Para isto era preciso um sabonete especial, que seria emprestado pelo chefe. Era uma tradição. Ninguém podia faltar. “Que diabos” pensei. Por quê? Qual a finalidade? Como havia um respeito nato ao Chefe não perguntamos. Vamos ver o que é e depois comentar.

No dia marcado partimos. Alegria geral. Chegamos cedo ao local. Lindo se querem saber. Uma grande lagoa tendo em volta uma pequena floresta nativa. Havia uma bela clareira e a poucos metros acima corria um córrego com águas limpas com uma pequena cascata. Chamada de Bica Molhada por todos que acamparam ali.

Os monitores escolheram seu campo e nós ficamos em um campo próprio não muito distantes deles. Esqueci de explicar que há mais de três dias fazia um frio horroroso em nossa cidade, e verificamos que ali no campo, na madrugada chegaria tranquilamente abaixo de zero. Principalmente próximo a lagoa.

Tudo transcorreu nos conformes.  À tardinha, ainda com sol, todos se lavaram junto ao lago, e nós fomos até uma bica bem abaixo, que corria em bambus formando uma ducha sem igual. Após o jantar, foi feito um jogo. Terminado a reunião como os monitores, cada um foi procurar o seu canto para dormir.

Já tínhamos se esquecido de tudo e eis que o chefe Trovão nos chamou a todos dizendo que o horário de três e meia era sagrado, não gostaria que ninguém faltasse ou chegasse atrasado. Nesta hora foi que nos lembramos do tal banho. Achei um absurdo. Um frio de rachar. Isto no inicio da noite. Acreditei que estava de seis as dez graus.

Já ia discordar quando o chefe Trovão me olhou enviesado e como estivesse lendo o meu pensamento, apontou para mim dizendo: - Sinto muito, quem faltar vou considerar como falta de “Espírito Escoteiro”. “Diacho” E agora? Como não podia fugir e os demais não comentaram, não falamos nada. Tínhamos enorme respeito pelo Chefe Trovão.

Dormi preocupado. Era o cúmulo do absurdo. Se isto era escotismo meu pai era um macaco falante. Não aceitava tal idéia ou tal imposição. Pensei que no outro dia juntaria minhas tralhas e iria embora. Mas meu filho estava ali. Seria uma falta muito grande e uma tremenda decepção para ele. O jeito era esperar a madrugada, pois achava que aquilo não passava de uma piada.

Não acordei às três e meia. Ninguém acordou. Não fomos chamados. Mas o Cléu um dos pais acordou dez minutos após e chamou a todos nós. Levantamos assustados, um frio de rachar. Enrolado em um cobertor nos reunimos em volta do que restava do fogo aceso frente às barracas. O chefe Trovão não estava na sua. Já tinha partido sozinho.

O que fazer então? Cada um deu sua opinião no final, resolvemos ir até a ducha e pedir desculpas ao chefe Trovão. Não era longe nem perto. Uns 200 metros abaixo da lagoa. Saímos tiritando de frio. Na trilha todos nós sentíamos calafrios. Não acredito em fantasmas nem em alma do outro mundo. Mas não sei por que, talvez o silencio, as arvores sombrias, sombras na lagoa. O medo me bambeava as pernas.

Pé ante pé avistamos a ducha (ficava uns 10 metros abaixo de nós) e vimos o chefe Trovão só de short, debaixo da ducha com as mãos levantadas, abaixando junto ao corpo e ficando em pé repetindo sempre, a rezar numa linguagem inteligível até que uma luz brilhante apareceu.

Olhe, estava tremendo igual vara verde. Nunca tinha visto nada igual. A luz foi aumentando e em poucos segundos, diversos vultos como sombras também lá estavam saudando o chefe Trovão. “Deus do Céu” que era aquilo? Ainda não tinha visto nada. O chefe levantou as mãos para o céu e ficou acima do chão uns dois metros continuando sua reza e os vultos numa espécie de dança ficaram rodando em sua volta.

Um grande redemoinho foi formado. Não vi mais os vultos e o chefe Trovão. A luz brilhante começou a faiscar, lançando raios para todos os lados. Fugimos dalí, esbaforidos, tremendo, alguns garanto que tinham molhado os pijamas, ninguém falou nada, todos queriam ir à frente e ninguém atrás.

Cada um entrou em sua barraca, ofegando, esperando a calma chegar. Que nada, a tremedeira não passava. Não estávamos acostumados com isto. Os minutos foram passando, estávamos acalmando e eis que bem no inicio da trilha, pela fresta da barraca avistamos o chefe Trovão.

Com um short curto, a toalha jogada nos ombros, assoviava alegre o “Acampei lá na montanha”. Parecia estar em uma praia num escaldante verão. Não mostrou curiosidade em saber se estávamos acordados. Fez uma pequena ondulação com o corpo, mexeu com os braços e se dirigiu a sua barraca. Ao entrar se voltou e abanou as mãos em direção a mata. Nada vimos.

No dia seguinte levantamos calados. Poucos conseguiram dormir. O acampamento cumpriu seu programa. Os escoteiros alegres, os seniores com seu grito de guerra, enfim uma grande exultação de um programa que se não fosse o acontecido, poderia dizer sem similar.

Retornamos no dia marcado. O Chefe Trovão parecia o mesmo. Professor, tutor, instrutor, mas sempre quando nos encarava, um sorriso maroto brotava para logo mostrar sua carranca de chefão.

Na semana seguinte, notei que somente eu e mais dez pais ainda estávamos participando do grupo. Os demais mandaram as mães levar os filhos e avisar ao Chefe do Grupo que não poderiam continuar no movimento.

Não sei por que, não houve comentário. Parece que um pacto de silencio acometeu a todos. Eu mesmo nem com minha esposa falei do assunto e do acontecido. Acho que todos tinham medo de serem ridicularizados.

Mas acredito e disso não tenho nenhuma dúvida, que o Chefe Trovão tem um pacto com o coisa-ruim ou então com espíritos amigos, cuja visita recebe sempre no afamado “banho das três e meia e seu sabonete mágico”.

O porquê de seu convite pode ter alguma lógica. Se formos nada acontece e demonstramos disciplina em uma tradição, se não ele sempre está só para seus encontros maquiavélicos. Ele sabe que aqueles que viram seu ritual nada dirão. O medo de tudo o receio de represálias, seu estilo dominador nos faz esquecer o fato.

Continuo até hoje no escotismo. Sou escotista de tropa escoteira. O Chefe Trovão há alguns anos mudou de cidade. Não ouvi falar mais nele. Ninguém no grupo comenta o assunto. Dizem que o Chefe do Grupo também participa do ritual, mas eu não posso provar. Não vi. Quando me lembro dele, sem querer vejo chifres em sua cabeça. Deus me livre!

E a vida continua, falei por falar. Narrei por narrar. Não vi, não sei, não ouvi estou com os olhos fechados e minha mente não pensa. Esqueçam o que disse!

E quem quiser que conte outra...

Creio que tenho prova suficiente de que falo a verdade: o demônio está dentro do homem.
Ninguém transforma um demônio em um anjo, mas um anjo pode virar demônio facilmente.