Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 27 de julho de 2013

Gloria feita de sangue. A última Luta de Manuelito.



Atenção! Se você tem coração fraco, não leia esta história. Pode se emocionar demais. (um conto longo, mas quem não leu vale a pena para ver a luta por um sonho).

As mais lindas histórias escoteiras.
Gloria feita de sangue. A última Luta de Manuelito.

                      Não dá para esquecer, foi no último verão de sessenta e um. As chuvas de Santo Inácio que todos esperavam não aconteceram como o previsto e ali, a beira da Lagoa do Lagarto, o fogo de conselho já havia terminado. A escoteirada já se recolhera. Aqui e ali a fogueira ainda se esforçava para mandar aos céus uma ou outra fagulha brilhante. Todos já haviam se recolhido e eu resolvi ficar. Panchito me fazia companhia. Bom amigo. Conhecemos-nos em Aguascalientes no sul do México em cinquenta e oito. Ele já morava no Brasil há vinte anos, mas seus pais residiam nesta cidade e ele a cada cinco anos voltava para fazer uma visita. O motivo porque estava em Aguascalientes fica para outra história. Deitamos a beira da lagoa sobre uma lona leve e admirávamos o vai e vem dos cometas e satélites que giravam em torno da terra a grandes velocidades. Já sentia o orvalho da madrugada se aproximando quando vi que Panchito chorava baixinho. – O que foi? Perguntei. Olhe Chefe, sempre quando me lembro de Manuelito meu coração bate forte.

                      Deixei que ele se acalmasse e foi assim que ele me contou toda a história de Manuelito. – Era um jovem de seus doze anos. Magro, raquítico, tamanho normal para sua idade. Cabelos loiros, olhos negros fundos, nariz afilado estava na tropa havia oito meses. Falava pouco e ficamos amigos. Assim como ele eu também era da Corvo. O Gentil era o Monitor. Ótima pessoa. Tudo começou quando Gentil comentou que na Corte de Honra foi discutido a data do próximo Grande Desafio. Nos últimos três anos sempre foram realizados. Nunca fiquei sabendo como tudo começou. Toda a tropa só comentava a vinda de mais três tropas de cidades vizinhas. Ia ser um espetáculo a parte as disputas naquele ano. Seriam realizadas no Estádio do Azulão Futebol clube, pois no ano anterior houve grande aglomeração de pessoas no campinho de pelada em frente à sede prejudicando em parte a visão de todos. – Não estava entendendo, mas deixei que Panchito continuasse sua narrativa. – Chefe, precisava ver o olhar de Manuelito quando disse que o primeiro lugar ganharia uma Faca Suíça e um Cantil do Exército. Nunca o vi sorrir daquele jeito. – Fiquei com pena. Manuelito não tinha a mínima condição de chegar as finais.

                  - Sabe Chefe quando conto esta história para alguém, dão risadas. – Uma simples briga de galo? – Mas isto se faz em todas as tropas a século! Mas Chefe, conosco era diferente. Havia uma técnica própria. Cheguei a ver em um ano dois contendores ficarem uma hora e meia lutando. Vi tantas lutas que eu mesmo desisti, pois nunca cheguei além do nono lugar. Manuelito não. Perguntou-me a data, como ia ser a seleção e se todos podiam se inscrever. – Disse a ele tudo que perguntou e mais além, disse também que ele nunca tinha lutado. Pediu-me que mostrasse como se luta. Ficamos uma hora lutando. Ele mal se matinha em pé. Caía sempre. Desistir? Jamais. Manuelito sonhava com a Faca Suíça. Só falava nela. Queria ter uma e sabia que nunca poderia comprar. Uma semana antes da seleção, que seria feita com todas as patrulhas por duplas Manuelito disse que estava preparado.

                     - Chefe, Manuelito estudou tudo. Desenhou. Treinou horas e horas em sua casa a ficar parado ou pulando em um só pé. Suas mãos as costas pareciam aço. Não se soltavam. Sabia fazer com perfeição uma Asa Direita ou esquerda (cotovelos em forma de V). O Joelho do Papagaio aprendeu rápido. Mas era magro, respirava com dificuldade e mesmo assim se mostrou um valente. O primeiro, segundo e terceiro lugar já tinham dono. Neco, Lastimer e Juventino eram os melhores. O quarto lugar foi disputado com galhardia. Manuelito a muito custo conseguiu o quarto lugar. O Chefe Wantuil não acreditava no que via. Ele ficou preocupado. O corpo de Manuelito não foi feito para aquele tipo de luta. Tentou falar com seus pais que sempre arredios não iam à sede. Desistiu e deixou que Manuelito participasse. Arrependeu-se muito depois. O grande dia chegou. Centenas de pessoas já estavam alojadas nas arquibancadas. Poderia jurar que ali no inicio do Grande Desafio tinha mais de três mil pessoas. Os parentes e vizinhos das outras três cidades compareceram em peso.

                       Chico Nonato o comissário distrital abriu a competição. Chamou um a um os dezesseis finalistas gritando alto seus nomes e conquistas escoteiras. Quatro por tropa. Formaram em linha. Todos parrudos, fortões e Manuelito se destacava pela sua magreza. Nas arquibancadas gritavam – Tira o magrelo! Tira o minhoca! Esta pestinha vai morrer! Ele de cabeça baixa não se incomodava. Sonhava com a Faca Suíça. Ele sabia que não poderia ficar lutando por muito tempo. Sabia o que tinha internamente e se ele brotasse em seu estomago iria ser levado à boca e aí não ia ser fácil. Seria desqualificado na hora. Isto não poderia acontecer! – Não foi difícil para Manuelito chegar as quartas de finais. Aprendeu e treinou dias e dias a rodopiar com seu Joelho do Papagaio e deixava que os outros pulassem sobre ele. A Joelhada era fatal. Ninguém acreditava no que via. Ficaram quatro competidores finais. Ele ia lutar com um dos campeões do passado. Matusalém era famoso. Quando ele olhou para Manuelito sorriu. – Este está no papo. - Não quer desistir formiga? Perguntou. Uma hora de luta. Sempre Manuelito se esquivando. Manuelito o sentiu no estomago. Deus! Deus meu! Não deixe que suba! Ajude-me. Eu preciso desta Faca Suíça! E meu sonho meu Deus!

                       Ganhou para espanto de todos. Sentiu que suas pernas e suas entranhas não aguentariam a final. Botelho Papa Léguas era o finalista da Tropa de Jaguatiruna. As apostas perdiam a graça. Ninguém apostava em Manuelito. Eram trinta por um contra ele. Mesmo vencendo ninguém acreditava. Agora estava em dez por um. Um silêncio enorme e a luta de morte começou. Ambos se estudando. Botelho Papas Léguas não subestimou Manuelito. Se ele chegou até ali é porque era bom. Viu uma brecha, viu os olhos de Manuelito piscando e se fechando. Deu oito saldo longos e pegou Manuelito de jeito com a asa direita. Manuelito conseguiu se esquivar, mas a esquerda roçou com força seu olho direito. Uma dor incrível! Manuelito quase perdeu o equilíbrio. Não iria aguentar outra. O sangue agora estava enchendo sua boca. A hemorragia que seu pai sempre falava estava chegando. Sabia que uma ou duas veias tinham partido. Se não parasse iria morrer.


                        Não podia, não podia parar! Meu Deus me ajude! Dê-me mais uns minutos, daria minha vida para ter esta Faca Escoteira!  Botelho Papa Léguas não sentiu piedade. Ele também queria ser o campeão do torneio. Nunca tinha ganhado. Entrara para o escotismo pelo premio e claro pela fama. Afinal perder para aquele escoteirinho de nada? Raquítico, pequeno, e agora chorando? Sim Manuelito tinha os olhos cheios d’água. A asa esquerda o pegou de jeito entre os olhos. O sangue quente na boca. Firmou os lábios. Tentou engolir. Não deu. Não iria soltar o sangue na grama verde. Seria desqualificado! Pulou uma duas vezes. Fez um sinal para Botelho Papa Léguas como a dizer – Venha moleza! Botelho Papa Léguas não se fez de rogado. Pulando com uma rapidez incrível preparou sua asa direita para liquidar logo esta contenda. Infelizmente ele sabia que Manuelito ia se estatelar no chão. Podia machucar, mas e daí? Quem entra na água é para se molhar. Mas não podia ter pena nem dó e nem piedade. Como dizia sua Avó, jogo é jogado e lambari é pescado.

                        Manuelito viu num relance o que Botelho Papa Léguas ia fazer. Sabia que não podia desviar muito. Se pulasse o sangue ia jorrar de sua boca. Ele sentia mais e mais a pressão do sangue subindo goela acima. Uma dor incrível no cérebro, o corpo tremendo. Esperou. Faca Suíça! Não vou perder você. Deus vai me dar forças! Manuelito esperou até que Botelho Papa Léguas se virasse e novamente usasse a lateral esquerda para lhe bater a toda no seu ombro com a Asa Direita. Quando sentiu o hálito quente da respiração de Botelho Papa Léguas, Manuelito abaixou e levantou de uma vez. Pegou Botelho Papa Léguas desprevenido. Ninguém esperava que ele usasse este truque. Velho conhecido de todos. O vai e vem do corpo subindo e descendo. Botelho Papa Léguas perdeu o equilíbrio. Nas arquibancadas um murmúrio alto. Todos ficaram em pé. Não acreditavam no que viam. Todos só viram Botelho Papa Léguas se esparramar pelo chão. Os apostadores não acreditavam na cena estática que se apresentava. Eram dez por um. Impossível diziam.

                  Manuelito se equilibrou ainda na perna direita por alguns segundos. Suas mãos se soltaram e foram forçadas no ventre como a querer interromper o sangue que agora saia aos borbotões dos seus lábios. Não dava para segurar mais. Rodopiou em si mesmo e caiu esparramado no chão gemendo alto e querendo sorrir. Afinal ele ganhou a luta. A Faca Suíça era sua! O sangue vermelho se misturou ao verde da grama. Um colorido sem graça. Vários chefes acorreram. Viram Manuelito com enorme hemorragia interna. Desmaiado. A morte parecia que ia chegar. Um carro apareceu no campo. Ele foi transportado para o hospital da cidade. Uma semana depois souberam que ainda estava na UTI. Perdera muito sangue. Precisava ir para a Capital. Seus pais choravam, mas não condenaram o filho. Se ele morrer foi porque sabia que seu sonho seria maior que a morte!

                   Seis meses depois em uma tarde de agosto bolorenta, um sol preguiçoso no céu Manuelito apareceu na sede em uma cadeira de rodas uniformizado. A tropa parou espantada. Ele sorria, um sorriso tênue como se o sol ali como ele estivesse esperando para levá-lo. Seu pai estava junto. Disse que ele insistiu em vir. Queria receber a Faca Suíça dos seus sonhos. O Chefe Wantuil foi até sua casa e voltou com ela. Todo o grupo se formou. Honra ao mérito ao escoteirinho herói. Como bons escoteiros todos prestaram continência em posição de sentido a Manuelito. Pediu que eu entregasse a ele a faca e colocasse no seu cinto do lado direito. Uma honra para mim Chefe! Um Anrê foi dado. Uma explosão de alegria em todos os presentes. Um exemplo para ser lembrado por toda a vida.

                  Manuelito ainda viveu mais um ano. Morreu com treze anos. Só então ficamos sabendo que ele era tuberculoso. Sua família também. Uma época em que a medicina não tinha cura nestes casos.  Seu pai sabia, mas como tantos outros escondiam, pois ele tinha exemplos de pessoas portadoras de tuberculose que foram defenestrados pela sociedade. Eram párias abandonados à própria sorte.  Uma semana antes de morrer, Manuelito me pediu que quando fosse para o Campo Santo, que a Faca Suíça estivesse no cinto, pois queria estar uniformizado. Chefe, meu Deus! Quanta tristeza. Centenas de escoteiros e de gente da cidade ali em volta da sua ultima morada chorando. Eu Chefe, era o que mais chorava. Não sabia como enfrentar tudo daí para frente. Ate hoje ainda vou lá visitá-lo. Falo com ele sempre. Sei que ele não está ali, mas isto alivia minha dor e me conforta.


                 Panchito se levantou. Chorava copiosamente. Desculpe Chefe. Desculpe. Melhor é ir para minha barraca. E lá foi ele me deixando ali a beira daquela lagoa cinzenta, ao lado de uma fogueira apagada, só cinzas e um orvalho caindo e molhando minhas faces. Vi que as minhas lágrimas também se misturavam ao doce orvalho do amanhecer. Uma bruma escura pairava sobre a lagoa. Nunca fora assim, sua cor sempre era branca. Pensei em ir dormir e ir para minha barraca. Não fui. Sentei a moda índia e fiquei ali até o amanhecer de olhar fixo no horizonte, acima da Lagoa do Lagarto. Não houve sol aquele dia. Uma chuva leve e intermitente começou a cair. Um peixinho pulou sobre as águas cinzentas da lagoa. Minha mente voltava ao passado. Manuelito, um sonho realizado. Uma morte honrosa. Um menino que foi homem para aceitar o seu maior desafio. Uma luta sem gloria. Ou melhor, Gloria feita de Sangue! 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os pais e o Grupo Escoteiro


Conversa ao pé do fogo.
Os pais e o Grupo Escoteiro

                Muitos escotistas comentam comigo sobre as dificuldades encontradas quando procuram os pais para colaborarem em diversas situações no Grupo Escoteiro. Claro, sabemos que vários grupos não têm este problema, portanto nos dirigimos àqueles que nos lêem e gostariam de algumas sugestões a respeito.
Alguns dos comentários recebidos:

               Alguns jovens participam com idealismo, mas nunca vi seus pais e quando peço uma reunião com eles, poucos aparecem. - Em época de eleição da diretoria é uma luta para que alguém se ofereça para ajudar, e isto nos poucos que comparecem. - Para qualquer atividade que for necessário uma taxa, isto sem falar na mensalidade, a maioria (os pais) não colaboram e não ajudam em nada. Quando algum Escotista pretende participar de alguma atividade ou cursos para aprimorarem seus conhecimentos, sempre arcam com todas as despesas de transporte e taxas, com isto muitos desistem de prosseguirem na trilha escoteira. - Enfim, sem eles ficamos sem condições de manter o Grupo Escoteiro, e até o registro anual é prejudicado. Ou fica sem fazer ou se registra poucos membros do Grupo.

              É, é uma situação constrangedora. Claro tudo isto não existiria se na entrada do jovem, algumas providencias fossem tomadas. Se o Grupo já está com vários destes problemas, só existe uma solução e esta infelizmente tem de ser tomada para que possamos ter os pais de volta. Vou dar um exemplo de vários grupos escoteiros que são exigentes na admissão do jovem. Vejam como tratam o assunto:

               - Os pais devem vir acompanhados dos filhos interessados; (se não vierem não tem admissão) - Não aceitar pais de jovens inscritos no grupo trazendo filhos de vizinhos ou parentes.  - É feito uma ficha de inscrição, onde consta que os pais também vão pertencer ao Grupo e é explicado a eles o que se espera após a aceitação do filho e o que o movimento escoteiro tem a oferecer a ele.

                - Eles ficam automaticamente inscritos no primeiro Curso Informativo (pode ser feito pela própria chefia no grupo ou então ver no Distrito ou Região se existe algum a respeito) este curso não deve ser maior que 4 horas e menor que 2 horas. - Enquanto estas formalidades não forem cumpridas, o jovem não participa diretamente. Ele pode ficar por um tempo observando a movimento das tropas sem interferir. - Depois de feito os quesitos acima, quando da Cerimônia de Bandeira, o jovem e os pais são apresentados à tropa/alcateia, aí sim o jovem começa na sua patrulha ou matilha que vai recebê-lo do chefe da seção correspondente, onde então se fará alem do grito da patrulha ou similar na alcatéia, saudando o novo membro.

               - Os pais são convidados à sede para que o Diretor Técnico mostre a eles o calendário anual das atividades e as reuniões dos pais e Assembleias do Grupo. Também deverão preencher uma pequena ficha, com nome, telefone e endereço e dizendo como podem colaborar no grupo, semanal ou mensal. Uma lista de funções deve ser apresentada pelo Chefe, ou melhor, o Diretor técnico. A partir deste momento, o Chefe não deve deixar de fazer contato telefônico, pessoal ou mesmo lembrar a eles que precisam de sua presença conforme foi acertado anteriormente.

                 O mais importante é que a falta de duas ou três atividades marcadas nenhum deles comparecerem, e após contato telefônico e pessoal sem resultado, o jovem leva um aviso aos pais que ele só continua se eles vierem ao grupo para conversarem novamente. Claro, vocês podem dizer que isto é muito radical, mas é bom lembrar que somos um movimento voluntário, sem fins lucrativos e nosso intuito é colaborar com os pais, a escola e a igreja. Sem a presença destes nada podemos fazer em benefício do jovem. Muitos escotistas ainda não chegaram à conclusão que é os pais é que precisam de nós e não o contrário. 

                   É importante que o Grupo Escoteiro mantenha algumas atividades para os pais em seu programa, a fim de motivá-los e sempre acontece que muitos deles passam a se interessar mais pelo movimento, oferecendo seu tempo para colaborar como escotistas. Existem exemplos que em pouco tempo, surge um grande número de chefes resolvendo de vez a falta de adultos tão reclamados por muitos.

Algumas atividades sugeridas:

                 Uma vez por ano, com ajuda de alguns pais, escolher um local onde todos possam passar um dia inteiro, em confraternização (se possível um sítio fora da cidade, que tenha instalações necessárias para os participantes). Nesta confraternização executar um programa nos moldes escoteiros, formando patrulhas junto com os filhos, competições entre elas, com grito próprio, cerimonial de bandeira e encerramento com fogo de conselho (lampião) e a Cadeia da Fraternidade.

                Nas atividades de Alcatéia, sempre ver com a chefia quantos pais serão necessários e convidar aqueles que se propuseram a isto. Comissões internas para em conjunto com a Comissão Executiva (diretoria) desenvolver tarefas tais como: Arrecadação financeira compras para acampamentos – transporte para atividades de seções – instrutores de especialidades e outras de comum acordo com o Conselho de Chefes e Diretores do Grupo Escoteiro.

                  Alguns grupos costumam se organizar quinzenalmente, com revezamento uma noite de confraternização na casa de um pai previamente sorteado. Cada família deve levar salgados e doces. Outras bebidas. Já conheci casos onde os casais aproveitavam em Karaokê, baile informal etc. Sem caráter de obrigação é uma forma de arregimentar os pais em um ambiente escoteiro onde se conversa temas de interesse de todos.

                 Finalmente, agindo conforme aqui sugerido, os resultados serão sempre alcançados, e os chefes poderem ter mais tempo com suas famílias, pois agora o trabalho é dividido por todos aqueles que são responsáveis também pelo Grupo Escoteiro. Conheci diversos grupos, que a participação de pais é tão grande (seus efetivos superam 200 membros participantes), que quando realizam as atividades extra sede com os pais, superam em mais de 400 participantes (vão avós, tios, tias, primos e amigos que eles também convidam).


                  É necessário que o Conselho de Chefes seja regularmente informado de tudo, para evitar atritos e sentirem responsáveis também pelos pais presentes. Espero ter colaborado, mas se quiserem mesmo ter os resultados esperados, mãos a obra. Um poeta já dizia: Quem quer anda, quem não quer manda! E não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Do destino ninguém foge.



Conversa ao pé do fogo.
Do destino ninguém foge.

Certa vez, há muito tempo atrás, fui convidado por um Grupo Escoteiro de uma pequena cidade do interior, para proferir uma palestra sobre os Valores do Escotismo na sociedade. Era um Grupo simples, com um efetivo excelente e uma alegria e amizade que não se encontra facilmente aonde eu vou. Moças e rapazes sorridentes, me olhando respeitosos e dentro de seus olhos sentia o verdadeiro “Espírito Escoteiro” tão procurado por todos nós.

Durante a palestra, em um salão paroquial repleto, composto por muitos pais, amigos simpatizantes e até alguns membros da sociedade política da cidade, observei um chefe, que permaneceu encostado em uma parede, me olhando com olhos ávidos, prestando uma atenção canina, que fez com que me perdesse algumas vezes na continuidade da palestra. Este chefe, aparentando uns 50 anos, tinha um aspecto não muito simpático, apesar de estar muito bem uniformizado, com o caqui tradicional (um pouco velho, mas limpo e bem passado) um chapéu de abas largas bem posto, meiões dentro dos padrões e o lenço impecavelmente bem dobrado. Seu semblante deixava a desejar. Sua boca parecia inchada e uma grande mancha no rosto não dava um ar atraente a sua pessoa.

Cabelos negros, lisos e compridos, contidos por um “rabo de cavalo” simples, dava uma conotação estranha e extravagante. Tinha uma maneira de andar meio bizarra com os braços abertos, ombros curvados, mas seu sorriso era contagiante. Após a palestra, fui dar uma volta no pátio onde se realizava as reuniões, e vi ali um bom escotismo sendo praticado por uma alcatéia mista, duas tropas uma masculina e uma feminina e uma tropa sênior composta de uma só patrulha.

O chefe em questão estava em pé, observando o andamento das reuniões, sempre curvado, e esperando que alguém o chamasse. Estranhei que ele não participasse diretamente de alguma sessão. O Chefe do Grupo que me acompanhava vendo minha curiosidade explicou:- Apareceu aqui há uns quatro anos. Fica sempre afastado, pois sabe que sua fisionomia assusta os jovens e também os adultos. Com o tempo estamos nos acostumado a ele. Remo era o seu nome, o sobrenome ninguém sabia. O uniforme foi doado por um chefe que mudou desta cidade e acho que a doação foi como o descobrimento de uma grande pessoa. Sua alegria, mesmo com um sorriso torto, contagiava.

Sempre tivemos receio de convidá-lo para uma das sessões. Não fizemos sua promessa, achamos que não deveríamos. Os pais não o viam com bons olhos. Muitos ainda o julgavam pela fisionomia. Até eu acreditei que fosse analfabeto e você sabe a dúvida em colocar alguém assim em uma sessão é preocupante.  Ele é um dos primeiros a chegar à sede, faz a limpeza com esmero, fica a porta esperando que alguns de nós peçamos alguma coisa e é de uma vassalagem preocupante. No inicio das reuniões sempre está pronto a colaborar com a chefia, buscando materiais, e limpando o pátio quando alguém joga algum ao chão ou mesmo depois das reuniões.

Muitas vezes quando venho à noite à sede, o encontro sentado no meio fio, como, a saber, que eu viria. Entra comigo e enquanto faço minhas obrigações ou mesmo aguardo outros para alguma reunião, ele está a ver figuras sem parar na pequena biblioteca escoteira que temos aqui no grupo. Claro que sempre dou um livro para ele levar para casa, sempre com muitas gravuras. Ele sorri e me agradece muito. Enfim, nos acostumamos com ele, como se acostuma com um... Ele ia dizer cão amigo, mas preferiu se calar. Acho que não era sua intenção desmerecê-lo.

O pouco que sabemos é que trabalha no moinho do português (muito conhecido na cidade) e mora em um pequeno quarto alugado num bairro afastado. Achei interessante o fato. Para mim inusitado. Os anos se passaram e de novo voltei ao Grupo citado e agora não me lembro bem o motivo. Foi num verão atraente, mas cujo calor ameaçava passar dos 40º. Cheguei pela manhã, viajando boa parte da noite em um ônibus de carreira. Após os comprimentos de praxe, conversava com um ou outro escotista e foi então que dei falta do Chefe Remo. Seu lugar de sempre onde ficava encostado a parede estava vazio. Vi com espanto lagrimas nos olhos do chefe do grupo e a tristeza nos demais quando perguntei a respeito.

- Ele desapareceu um dia da sede e não voltou mais. Sentimos uma grande falta. Não tínhamos mais aquele que limpava que ficava a nossa disposição como um serviçal sem salário, nunca reclamava, estava sempre pronto a ajudar e então chegamos à conclusão que não demos o valor necessário ao um grande homem, a um grande Escotista que foi sem nunca ter sido. Todos, sem exceções sempre esperavam chegar à sede e encontrá-lo ali, subserviente, pronto a ajudar e nunca esperando nada em troca.  Até mesmo os jovens perguntavam por ele. Antes do seu desaparecimento ele já participava de pequenas atividades, mais como colaborador e assim a admiração pela sua fidalguia estava crescendo no coração de todos.

Esperamos duas semanas e fomos ao moinho onde ele trabalhava. Ficamos sabendo que ele desapareceu também de lá. Seu Manuel dono do moinho foi com a policia ao quarto dele e nada encontrou. Convidou-nos a ir até lá para vermos como era. Meu amigo foi uma punhalada no coração, pois o quarto dele era uma linda sede escoteira, com um quadro enorme de BP. Quadro de nós, de sinais, bandeirolas de semáforas penduradas na parede, uma colcha bordada com flor de Liz jazia em sua cama e uma linda Bíblia aberta na pagina onde se lia o salmo jazia acima de uma pequena cômoda. Ficamos chocados com tudo. Nunca esperávamos isto.

 Seu quarto era muito limpo e bem arrumado. Não havia cartas, papeis nada que pudesse identificar de onde era e para onde foi. O tempo passou não mais que cinco meses e ficamos sabendo que ele tinha sido atropelado em uma cidade próxima, e imprensado a um poste tinha morrido na hora. Mesmo com sua identidade não sabiam de onde era e de onde vinha. O enterraram como indigente. Ele estava com o cinto escoteiro e um dos investigadores resolveu fazer uma consulta à direção escoteira do estado. Em vão. Ele não tinha registro lá. Alguém sugeriu consultar o Grupo Escoteiro mais próximo. Conversa daqui e dalí se passaram vários meses. Um pai soube e comentou do desaparecimento do Chefe Remo. Ele o conhecia e recordava como todos ficaram preocupados. Ao confirmar a identidade, não havia mais dúvida.

Foi um choque para todos nós. Não sei por que, se foi uma boa idéia, mas reunimos todo o grupo e um dia de domingo à tarde fomos até a cidade onde havia sido sepultado. Em volta de sua campa simples, fizemos uma oração, cantamos a cadeia da fraternidade, todos chorando, engasgados dizendo com dificuldade que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus, pois bem cedo junto ao fogo, tornaríamos a nos ver. Ali, com os olhos marejados de lágrimas, vimos um beija flor azulado, sozinho, batendo asas em volta do seu tumulo, e enquanto permanecemos ele também ficou, sem pousar, sem cansar. Não digo que seria um sinal, nada disto, eu mesmo não acredito. Sou meio céptico com essas coisas. Um fato não pode ser esquecido, o chefe Remo merecia ter tido muito mais de nós. Pelo menos sua promessa.

Voltamos tristes, silenciosos. Não havia canções, só as lembranças pululavam na face e no íntimo de cada um. Agora sabíamos que tínhamos conhecido um grande escoteiro, um grande chefe, mas só demos o valor quando ele se foi. Não houve promessa, não houve medalhas, não houve certificados de gratidão. Nem um simples agradecimento verbal. Só mesmo a lembrança ficou. Saudosa, dolorida e que nunca mais vai ser esquecida em nosso grupo escoteiro.

Fiquei pensando que nem sempre a escrita, a formação intelectual e docente deve ser avaliada para a escolha de um líder. Como diz o Grande Arquiteto do Universo, a muitas moradas na casa de meu pai.  Ele se sentia satisfeito com o que fazia e ali era o seu lugar. Confirmar tais indivíduos que se multiplicam por todas as plagas, dando seus valores merecidos, faz parte de nossa aceitação em chamá-los de escotistas, de chefes. Voltei para casa meditando. Era um Escotista cumpridor de seus deveres. Não almejava nada. Fazia seu trabalho sem recompensas. Era o lixeiro, o carregador, o apanhador de sonhos. Vi então que a Lei do Escoteiro também é a lei do Chefe Escoteiro.


Nunca mais voltei lá. Não porque não quis, não houve oportunidade. Mas o chefe Remo ficou marcado para sempre em minha memória.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A canção que ela fez para mim!



Lendas de um Chefe Escoteiro.
A canção que ela fez para mim!

                     Naquele sábado fui para a reunião meio desanimado. Não sei por quê. Muitas reuniões parados na sede, nenhuma excursão, jornada ou até um acampamento de fim de semana. Para ser franco eu também não mexi uma palha para animar a patrulha. Na sede ninguém. Por quê? Sempre nos encontramos ali antes do inicio, falar dos outros, papear, “causos” não era uma rotina? Fui para o pátio da sede. Então eu a vi. Fiquei sem fala. Linda! Impossivelmente linda! Uma princesa seria? Desceu das nuvens direto na sede? Ou quem sabe um anjo que Deus mandou para dar novo ânimo aos seniores? Olhe meu coração disparou. Minha mente deixava o corpo e se transportava para os mais lindos locais que já tinha ido. Fui à Cachoeira do Sonho, fui à Montanha Das Borboletas Douradas, fui até no despenhadeiro da Mil Mortes. Joguei-me lá de cima. Sabia que não ia morrer.

                 Foi então que percebi. Lá estavam os Seniores. Todos eles. Não faltou ninguém. Em pé encostados na parede da sede, e como eu não tiravam os olhos da linda moça dos cabelos dourados. Cachos despencando como na Cascata do Sol Nascente. Olhos? Azuis! Incrivelmente azuis. Uni-me a eles. Não notaram a minha presença. Seus olhos esbugalhados assim como o meu só tinham uma direção. Cláudia Alvonaro. Seu corpo? Não posso dizer aqui. Mas parecia ter sido esculpido por Michelangelo, ou melhor, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ah! Una Madonna Escoteira? Quem sabe ali estava sua obra prima da renascença sua bela escultura a Pietá. Não podia ser. Estávamos em 1958 e não 1498 quando ela foi esculpida.  

                   A paixão tomou conta de mim. De mim só não de todos os seniores. Doze rapazes perdidamente apaixonados pela bela Cláudia Alvonaro. Mas de onde ela veio? Da cidade não era. Conhecíamos todas as beldades. – Ela é de Vitória. Espírito Santo disse Patachuco um Sênior. Meu Deus! Capixaba e linda assim? Bendita Vitória. Santino o Chefe Sênior adentrou ao pátio. Jovem ainda. Vinte e oito anos. Viu-nos e foi até nós cumprimentando. Ninguém olhou para ele. Inteligente como todo Chefe Sênior descobriu através de um “Kim” imaginário o motivo de nossa perplexidade e imutabilidade. – Ora, ora, parecem que nunca viram uma garota! Ele disse. Sem respostas. Continuávamos mudos. Olhos vidrados na bela Cláudia Alvonaro. A mais bela capixaba que o mundo conheceu. E nós os bravos seniores da tropa Anhanguera.

                     Ela estava linda. Uniforme azul, bonezinho de lobo. Saia curtinha (que pernas meu Deus!). Akelá? Não tinha mais de dezoito anos! Não seus bobos disse o Chefe Sênior. Ela é Assistente. Tem dezessete. Está fazendo uma visita. Vai embora hoje no trem noturno das oito. – Vou também, adeus Chefe! Falaram todos ao mesmo tempo. Chefe Santino riu sonoramente. Que vida. Descobre-se o amor de nossas vidas, a nossa alma gêmea e ela vai embora assim? E para piorar tudo ela começou a cantar. Os lobos sentados em círculo e ela cantando uma canção que não conhecia. Voz? Uma cantora nata! Ninguém na sede tirava os olhos dela. Maravilhosamente bela e uma voz de harmoniosa, que podia seguramente ser a maior cantora de todos os tempos.

                   O céu que me condene! Que me mate! Que acabe comigo. Estava “deverasmente” apaixonado. Perdidamente apaixonado. E o pior aconteceu! Ela olhou para mim e deu um sorriso. Senti o corpo tremer. Tive que sentar. Que sorriso! Que voz! Que rosto! Que corpo! Não podia ser uma mulher Akelá. Era uma deusa trazida do Olimpo. E eis que como se fosse uma chicotada, como se tivesse caído uma pedra enorme em minha cabeça, um Chefe novo de uns vinte e cinco anos entrou acompanhado do Chefe do grupo.  – Vamos embora meu amor! O que? Meu amor? Então olhei melhor, ele estava com a aliança na esquerda e ela também. Marido e mulher.


                  Ela se foi. Deu um “xauzinho” e disse um Sempre Alerta que nunca mais, nunca mais mesmo e eu juro, irei esquecer. A mulher dos meus sonhos, a mulher que iria ser a minha vida, a minha alma gêmea se foi. Se houve reunião de seniores eu não sei. Acho que os outros também ficaram como eu no mundo da lua. Começamos mudos e terminamos calados. Chefe Santino sorria no alto dos seus vinte e oito anos. Um homem experimentado sabendo o que sentia aqueles garotos que estavam crescendo e aprendendo com a vida. Cláudia Alvonaro virou a esquina abraçado com seu amado. A tropa acompanhou com os olhos seu ultimo adeus. E eu? Fiquei meses sonhando, pensando até que um dia!...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O despertar do Chefe Teobaldo, um audacioso Diretor Técnico Escoteiro.


Crônicas Escoteiras
O despertar do Chefe Teobaldo, um audacioso Diretor Técnico Escoteiro.

                    Eles foram chegando e se assentando. Um a um. A sala da sede era pequena, mas ele sabia que eram tão poucos e que teria lugar parar todos. No semblante aquela empáfia de quem não estava gostando. Chefe Teobaldo sabia disto. Afinal eram anos de convivência. Já chegaram a ter maior número de adultos, mas hoje não passavam de seis. – Chefe, precisamos fazer uma reunião do Conselho de Chefes. – Para Que Chefe Teobaldo? Para que? Nunca precisamos disto! No passado ele fazia e depois desistiu. Ele tinha os quatro “chefes de ouro” como ele dizia. Não importava se chovia canivete e lá estavam eles. Claro, hoje pareciam sempre estar com pressa. A maioria deixava o uniforme na sede. O vestia lá. Outros traziam no carro. Chegavam em cima da hora e quando terminava a reunião diziam Sempre Alerta e sumiam!

                     Chefe Teobaldo já não era mais aquele homem que tinha prazer em ir para a sede nos dias de reunião. Ele sabia que de alguns anos para cá, nem tudo eram flores. O sucesso do passado estava desaparecendo. Com tristeza via os lobinhos diminuindo. Antes chegaram a ter duas alcateias. Uma masculina e uma feminina. Hoje era uma só. Menos de quinze lobos. Mas nem onze estavam presentes nos ultimos meses. E na tropa Escoteira? Que desastre. De duas tropas uma masculina e uma feminina agora eram um só e mista. Quando iniciava as reuniões e formavam as sessões ali estavam três patrulhas com menos de três ou quatro gatos pingados em cada patrulha. Como fazer reunião assim? Seniores? Menos de seis. Se não fossem os namoricos acho que não teriam nem isto. E os chefes? Entravam três ou quatro por ano e em pouco tempo davam uma desculpa e iam embora. Por quê? Qual o motivo? Ele sabia que eram conhecidos. O nome do grupo estava gravado em muitos estados brasileiros. Afinal eles tinham quatro jovens de famílias abastadas e que compareciam em todas as atividades nacionais e até internacionais. Distribuíam o lenço do grupo, distintivos, uma festa. Um pai de um deles inclusive dava uma boa soma mensal ao grupo. Mas era certo isto? E os demais escoteiros? Eles não podiam participar. Como pagar? Logo desistiam em pouco tempo saiam do Grupo.

                   Chefe Teobaldo sentou. Olhou para todos. Exceto dois novos chefes a maioria estava pedindo a Deus para terminar logo. O que houve com eles? Pensava. Porque esta debandada? Será que é culpa minha? Porque não havia mais procura como antigamente? Porque os adultos que vinham oferecer ajuda em pouco tempo se afastavam? Chefe Teobaldo sabia por quê. Não ligava, pois tinha os “chefes de ouro”. Mas estava certo? Eles nunca se encontravam. Até nas festividades de fim de ano era um sacrifício. Ele sabia. Precisavam mudar. Urgente! Deveriam voltar às reuniões de Patrulha. Os Conselhos de Tropa, Os Conselhos de Chefes. E a Corte de Honra? Onde foi parar? Meu Deus! Pensou. Estava tudo errado. Vamos fazer trinta e cinco anos e a cada ano mais e mais diminuímos.

                    Ele sabia que precisam de um “choque de gestão”. Não era assim que faziam as empresas que estava fracassando?  Ele hoje iria falar. Falar da amizade. Do amor. Da bondade. Iria falar que precisamos nos cumprimentar mais. Precisávamos entender o ponto de vista do outro. Precisávamos respeitar ideias, respeitar direitos e saber até onde ia nosso dever. Precisávamos sim de uma boa dose de democracia. E o mais importante. Fazer programas e saber cumpri-los. Ele já tinha tomado sua decisão. Reunião de Chefes uma vez por quinzena até acharem onde estava o erro e o consertar. Ele pessoalmente iria conversar com cada um dos que se foram e procurar entender o motivo dos seus afastamentos. A idade pesava e Chefe Teobaldo agora tinha maturidade e tinha encontrado mesmo que tardiamente a voz da razão. Iria exigir mais. Iria cobrar de cada um os programas. Não aqueles feitos as pressas, mas com o auxilio das patrulhas, dos assistentes. Iria exigir que eles se reunissem pelo menos uma vez por mês. Não iria deixar que isto fosse feito virtualmente. O grupo era uma família e devia se portar como tal. Deveriam entender o que era calor humano.

                     Chefe Teobaldo olhou nos olhos de cada um. Eram seis. Não seria assim mais. Ele queria vinte. Vinte? Sim, ele queria vinte chefes. Um Grupo onde todos se respeitassem. Ele queria uma Alcatéia completa. Uma tropa completa. No mínimo dezoito seniores e guias e jurou a sí próprio que iria conseguir. Agora eles iriam fazer escotismo. Nada de namoricos. E quando recebesse convites para atividades nacionais ou regionais ou iriam todos ou não iria ninguém! Iria dizer aos diretores do distrito e região que só participariam de uma por ano. Eles que decidissem qual. Ele agora queria ver acantonamentos, acampamentos, excursões, atividades aventureiras. Iria exigir isto no programa. Que se dane os que não concordassem. Ele sabia que os “chefes de ouro” iriam ficar espantados. Achou até que alguns se demitiriam. Mas sua decisão estava tomada. Agora ele sabia que o Grupo Escoteiro se transformaria em uma grande família Escoteira, onde o respeito, a ordem, o aperto de mão sincero e principalmente a Lei e Promessa Escoteira seriam ponto de honra para todos.

                     Senhores! – Começou Chefe Teobaldo. Nossa reunião hoje terá duração de duas horas. Nem mais nem menos. Teremos a partir de agora duas reuniões por mês até entrarmos na curva da estrada que nos levará ao Caminho para o Sucesso. Espero contar com todos. Mas aqueles que acham que não vai dar para participar podem sair. Eu ficarei triste e de antemão agradeço pela linda e bela colaboração que deram até agora. Vou contar com aqueles que amam o grupo e querem fazer dele uma verdadeira “Família Escoteira”. E a reunião começou. Chefe Teobaldo era outro homem. Outro Chefe. Fiquei orgulhoso quando ouvi esta história. Hoje aqui vendo tantos desistindo acho que precisamos de mais Chefe Teobaldo na liderança de grupos escoteiros. Quem sabe assim iremos perder menos chefes e escoteiros? Quem sabe irão aparecer mais Chefe Teobaldo por ai?


Oi! Você! Isto, você mesmo! Você! Tem algum Chefe Teobaldo no seu Grupo?