Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 29 de dezembro de 2012

Por que as pessoas sofrem?



Por que as pessoas sofrem?

     — Vó, por que as pessoas sofrem?

     — Como é, minha neta?
     — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
     — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
     —Vó...
     —Oi...
     — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
     —Não, Vovó.

     — Você lembra-se da estorinha do Patinho Feio?
     — Lembro.
     — Então... O Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.

     — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
     — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.

     — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
     — É por isso! Viu como você é esperta?
     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
     — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
     —O que?

     — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
     — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
     — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
     — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
     — Não entendi minha filha?

     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
     — Todos nós somos querida. Em parte.
     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
     — E aí viramos cisnes?
     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
     — Aonde você vai?
     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!

     A boa vovó apenas sorriu!

(encontrado na internet sem identificação)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O passo do elefantinho.



Lendas escoteiras
O passo do elefantinho.

“O circo chegou na cidade,
É tempo de pensar no que se viu
Montaram uma tenda bem grande,
“Uma tenda do tamanho do Brasil”!

             Interessante. A vida da gente é sempre cheia de surpresas e quando nos lembramos das boas damos um enorme sorriso. Estava eu absorto e escrevendo quando começou a tocar “O Passo do Elefantinho” com a orquestra de Henry Mancini (Baby Elephant Walk, escrito em 1961 por este compositor para o filme Hatari). Adoro esta música principalmente porque ela me faz lembrar-se de Rafaella, uma lobinha morena, sete anos, miudinha e sempre de fisionomia séria. Dificilmente sorria para alguém. Nunca faltou uma reunião e mesmo doente chorava para ir. Uma vez chorou tanto que seus pais com sua charrete (não tinham carro) a levaram agasalhada e enrolada em uma manta para a sede. E quem disse que adiantou a Akelá, o Balu ou a Kaa falar com ela? Necas! Ficou lá sentada em uma cadeira só olhando e sem sorrir!

           O Circo dos Palhaços Impossíveis estava na cidade. Naquela época onde armavam sua tenda eles faziam questão do desfile apoteótico. Eles sempre se instalavam as margens da Estrada do Fim do Mundo. Chamava-se assim porque era esburacada, pontes caídas, assaltantes enfim, era mesmo um fim de mundo. Não se chegava a lugar algum. Nem bem o circo chegou e um carro de som saiu às ruas anunciando as atrações. Depois vinha atrás palhaços, equilibristas, artistas e animais exóticos. A rua enchia de gente e nas janelas apinhavam-se todos. A meninada vibrava correndo atrás e muitos davam plantão junto ao circo na sua montagem para ver o movimento. A maioria dos jovens do Grupo Escoteiro Olavo Bilac estavam lá. Boquiabertos. Vendo aquela parafernália sendo montada. Os pais sorriam de contentes, pois pelos menos os filhos tinham aonde ir e os sonhos das molecagens agora tinham uma pausa.

             Rafaella viu o desfile. Não sorriu, mas quando o elefante passou com a Rainha de Sabá sentada em seu dorso seus olhos brilharam. Sua mãe e seu pai não notaram seu súbito interesse. Eles mesmos achavam estranho dela não sorrir. Pessoas humildes sem posses consultas a médicos especialistas estava fora de cogitação. Chefe Noravinio em reunião dos chefes do grupo sugeriu que o grupo todo fosse em um espetáculo. Época de férias poderiam combinar com o dono do Circo e quem sabe seria mais barato? Dito e feito. O Senhor Wiener Neustadt proprietário do circo exigiu que fosse chamado de Arquiduque Maximiliano, pois era trineto do próprio. Discutir para que? – Sexta, às dezesseis horas. O circo vai apresentar um espetáculo especial para os Escoteiros falou. Uma gentileza de Arquiduque Maximiliano, lembrem-se disto! Não irão pagar nada!

            Uma festa. Mais de cento e quarenta membros. Grupo grande. Junto outros tantos de familiares e penetras aproveitando a “boca livre”. Duas horas todos na porta. Uniformizados é claro. Rafaella rondava o circo. Viu a jaula dos animais e próximo o elefante. Tentou aproximar. Não deixaram. O espetáculo começou. Uma bandinha, o apresentador – Respeitável publico! Seguiu os artistas, equilibristas, mágicos, saltimbancos e os animais. O brilho, a beleza e o colorido dava asas a imaginação e a fantasia dos escoteiros. Eram levados para um mundo diferente. Um mundo de sonhos, das alegrias e os palhaços? Incríveis! A escoteirada pulava de alegria. Mas Rafaella só olhava. Não sorria. Um elefante adentrou na arena. Junto um menino vestido de indiano com um turbante azul. O elefante o seguia. Rafaella ficou de pé. Sorriu! Rafaella sorria! Ninguém a viu sorrindo, acho que só eu.

               Ninguém prestava atenção em ninguém. Naquela hora só a arena e os espetáculos de sonhos, de azuis, amarelos, vermelhos e de mil cores que estavam sendo visto pelos escoteiros. Só viram Rafaella na Arena. Susto! Gritaram – Rafaella volte! Ela não ouvia ninguém. Foi até o elefante. O tocou na tromba. O elefante olhou para ela. Ajoelhou-se e sentou. A pegou com a tromba e bramindo a jogou no ar pegando-a novamente. Rafaella dava gargalhadas e a escoteirada acompanhou. Seu Arquiduque Maximiliano veio correndo. Mas o elefante levantando a colocou em seu dorso e ficava em pé sempre segurando Rafaella com a trompa.

                O adestrador de animais conseguiu retirar Rafaella de lá, mas ela gritava para não sair. Na arquibancada ela parou de rir. Ninguém entendeu nada. Rafaella sorrateiramente pulou por baixo da arquibancada, passou por baixo da lona e quando procuraram por ela foram encontrar junto ao elefante atrás do circo e dando risadas. Interessante que o elefante gostava dela. O circo ficou na cidade nove dias. Embarcaram em um trem da Leopoldina rumo à outra cidade. Rafaella sumiu. Cidade pasmada! Impossível diziam. Aqui não tem disso. Procuras mil. Rafaella tinha entrado no vagão do elefante como clandestina. Descobriram quando chegaram a Nuvem Azul. Seu Arquiduque Maximiliano passou um telegrama para buscá-la. Interessante. Rafaella voltou a sorrir. Quando voltou a Alcatéia foi recebida como a heroína de aventuras. Palmas e abraços. Valeu Rafaella. Um dia não há vi mais. Soube que seus pais foram morar em uma fazenda de um parente que morreu. Quem sabe lá junto à natureza ela não esteja sorrindo junto a um Lobo Guará cinzento e brincando pelas campinas verdejantes? Rafaella, um sonho de menina. Uma lobinha que soube fazer sua própria aventura.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.



Lendas escoteiras.
O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.

                       A cidade de Ouro Fino era pequena para ele. Se ele andasse no passeio os outros tinham de ir para a rua. O chamaram de tudo. Gordão, baleia, Jamanta, mas o que pegou mesmo foi Tonico Tonelada. Seu nome era Antonio Maquete de Marisia.  Nasceu com doze quilos e meio. Até o berçário foi improvisado. Interessante que sua mãe era magrinha e seu pai um pouco avantajado, mas com a barriga. Não teve irmãos. Eram classe media e não faltava nada para ele. Com o passar dos anos chegou a pesar 125 quilos aos seis anos. Comia feito um esfomeado. Andava com um bornal cheio de doces, chocolates, biscoitos e muitos lanches salgado que Marinalva a empregada fazia para ele. Seu pai e sua mãe eram proprietários de uma pequena fábrica de parafusos que ia de vendo em popa. Alem do mercado interno agora estavam exportando para o exterior.

                      Quando fez quatro anos ele passou nas mãos de vários médicos. Cada um tentando isto e aquilo e nada. Foi quatro vezes internado num Spá. Sempre a noite causava o maior reboliço por falta de comida. Desistiram. Na escola uma carteira especial foi improvisada. Demorava em sentar e levantar e no recreio sentava em uns tocos e comia e comia. Aos seis e meio pediu para matricular nos escoteiros. Chefe Joasem assustou. E agora meu Deus! Pensou. Nunca deixou um menino chorando do lado de fora. Mas aquele não era só um menino. Era uma carreta de vinte toneladas com vinte e quatro rodas! Chamou o Akelá, o Balu a Bagheera e Hathi. Eles levaram um susto. Como fazê-lo entrar em uma matilha? Como seria recebido? E os jogos? Ele não podia correr, não tinha agilidade, mas negar a entrada?

                    Tonico Tonelada entrou para os escoteiros. Sorria sem parar. Agora seria alguém. Falou com Marcelinho primo da sua matilha que ele não iria se envergonhar dele. Não levou seu bornal de doces e quitutes. Pediu a Marinalva que não preparasse mais nada para ele. Na primeira reunião estava com 145 quilos. Em dois meses com 122 quilos. Em um ano com 100. Mas ficou franco, muito fraco. No acantonamento em Joaçalva, um sitio do pai de um lobinho ele desmaiou. Foi duro para carregá-lo. Mas Tonico Tonelada não desanimava. Tonico Tonelada era outro. Chegou aos 90 quilos aos dez anos. Tentou o Cruzeiro do Sul, mas acharam que ele não estava preparado. Ele não acreditava nisto. Fez tudo que era pedido. Já andava com mais agilidade. Mas a tristeza de não conseguir o distintivo o desanimou. Passou para a Tropa Escoteira com 100 quilos. Engordava a olhos vistos. Joubert seu Monitor não gostava dele. Nenhuma Patrulha o queria e só os Panteras em votação o aceitaram. Pudera, eram cinco e todos novos inclusive o Monitor.

                      Durante cinco meses Tonico Tonelada sofreu nas mãos dos patrulheiros. No acampamento em Campo Novo prepararam uma armadilha para ele. O levaram em uma garganta fechada e ele conseguiu a custo passar, mas no retorno não. Ficou engastalhado entre duas pedras. Depois de muitas risadas a Patrulha viu que o assunto era sério. Com medo do Chefe chamaram a Gavião para ajudar. O Chefe Joubert desconfiou e foi atrás. Com uma corda por cima conseguiram retirá-lo, mas com muitas feridas. Chamou a atenção de todos. Tonico Tonelada não acusou ninguém. Disse que ou se é amigo de todos e irmão dos demais ou não se é nada. Não se trai um patrulheiro irmão. Escoteiros não são dedo duro! Com suas palavras passaram a olhar para ele com outros olhos.

                      Tonico Tonelada tinha um sonho. Ser Escoteiro Liz de Ouro. Ninguém acreditou nele. O Máximo que poderia conseguir seria o Cordão Verde Amarelo. Aos doze anos não teve jeito. Entregaram para ele o Distintivo especial. Quando ia fazer treze lá estava ele recebe o Vermelho e Branco. Esmerava-se nas especialidades e já possuía cinco e se preparando para a de primeiros socorros nível II. O vermelho e branco não teve dificuldade. Com as doze especialidades e a de cozinheiro e acampador nível II viu que em breve seria um Liz de Ouro. Entrou com o pedido na Corte de Honra. Ela não teve como dizer não. Sua chefia ficou em duvida, mas Tonico Tonelada voltou aos 90 quilos. Seu corpo modificava. Agora já não parecia gordo, mas incrivelmente forte. Cresceu muito e sua altura com quatorze anos já era um metro de setenta e seis.

                      Tonico Tonelada não perdia tempo. Fez seu projeto individual, as especialidades requeridas e já tinha a IMMA (Insígnia Mundial do Meio Ambiente). Tirou de letra os 36 conjuntos de etapas de progressão rumo e travessia. Dito e feito. Todos boquiaberto. Tonico Tonelada, o gordão, o Jamanta era o primeiro Escoteiro a receber o Liz de Ouro no Grupo. Fato inédito. Na data da entrega foi uma festa. Seus pais contrataram um bufê caríssimo para receber todos os amigos dele naquele sábado à noite. A cerimonia de entrega na Arena da Bandeira foi uma apoteose. Linda. Todo o grupo presente. O Comissário Distrital também.

                        Tonico Tonelada se tornou um modelo para todos os escoteiros que um dia acharam que ele não iria conseguir nada. Conseguiu. Sei que hoje ele é um radialista. Montou uma emissora em sua cidade. ZYW.120. Cresceu e montou varias outras rádios em outras em cidades vizinhas. Um homem de sucesso. Ameaçou compra a Rede Globo. Nunca acreditei nisto. Risos. Sei que continua Escoteiro. Agora é Diretor Técnico do Grupo onde começou. A cidade de Ouro Fino e as demais da região faziam o povo todo correrem todas as tardes para ouvirem Tonico Tonelada. “Esta é a Radio Tonelada, falando de Ouro Fino para o Brasil e para o Mundo; Alerta Escoteiros do Brasil”!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Uma noite maravilhosa de Natal!



Lendas escoteiras.
Uma noite maravilhosa de Natal!

                 Eu sempre tive um carinho enorme pela noite de natal. Família reunida, muitos presentes, abraços uma bela ceia isto sempre me encantou. Triste eu ficava quando lembrava que muitos não tinham esta minha felicidade. Já passava da meia noite e junto com minha esposa admirávamos na varanda os foguetes e a luzes no céu. Uma enorme tristeza se abateu sobre mim.  Lembrei-me da última visita que fiz na casa do Chefe Maninho. Sempre foi um pai para nós escoteiros de Esperança Feliz. Dizem que ele entrou para o Grupo em 1943. Ficou mais de sessenta anos no escotismo. Sempre notei nele uma pessoa triste, um olhar perdido no horizonte, olhos fundos e sempre com uma lágrima furtiva que ficava tentando esconder.

                  Chefe Maninho morreu há dois meses. Nas suas exéquias poucos foram. Nunca entendi isto. Esperava uma multidão e não foi quase ninguém. Claro era difícil vê-lo sorrir. Acho que ninguém nunca recebeu dele um abraço. Era muito fechado em si mesmo. Nunca esqueci o que ele me contou um dia. O Fogo do Conselho havia terminado e ficamos lá eu ele, Rosa uma Chefe Escoteira, Nair sua Assistente e Paulo Alberto um Chefe de tropa. Ficamos conversando e a meia noite todos foram dormir. Ficamos só eu e ele. Não sei por que ele estava com os olhos marejados de lágrimas. – Calma Chefe eu disse. Está se sentindo mal? - Não meu amigo, respondeu. São as lembranças que não cessam. E então, começou a contar parte de sua vida que acredito era desconhecido por todos que ficaram ao seu lado por muitos e muitos anos.

                 - Chefe, eu perdi meu pai quando tinha dez anos. Eu o adorava. Ele era tudo para mim. Levava-me aos parques de diversões, me levava em alto mar para pescar, fomos acampar em lugares inóspitos e mesmo já sendo um Escoteiro eu vibrava em sua companhia. Ele era Militar das Forças Armadas. Segundo Sargento do Regimento de Infantaria e todos o admiravam pelo seu caráter, por ser tudo o que hoje não sou. Um pai alegre, prestativo, amigo e muito respeitado não só em seu regimento como em toda vizinhança. Ele mesmo me contou com orgulho que fora incorporado ao 3º Regimento do Exercito Brasileiro. Um regimento da Força Expedicionária Brasileira. Em poucos meses ele partiu para a guerra na Itália.   Eu e mamãe choramos muito quando ele partiu. Sabe amigo Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrança nunca mais me sai. Chamou-me e disse – Filho, seu pai vai lutar lá na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e você. Eu voltarei.

                  - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mamãe, minha querida mamãe! Ela lia suas cartas, baixinho devagar, dizia que logo estaria de volta, pois a guerra estava prestes a acabar. Todos os dias ele vinha em meus sonhos, e nele retornava como se estivesse me abraçando. Passou um ano e ele não voltou. No natal escrevi para o Papai Noel uma carta. Uma carta simples, só pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. – Olhe Papai Noel, você que pode mais que a gente, e tem uma força sem igual, me dê Papai Noel este presente, se possível nesta noite milagrosa de natal. Mas nada. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. – Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu coração como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos tem o seu papai em casa, só eu Papai Noel é que não tenho?

                Os dias, os meses foram passando. Mamãe só vivia pelos cantos chorando. As cartas não vieram mais. O silêncio era completo. Lembro-me que um dia mamãe passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ninguém. E para piorar tudo meu amigo, um tarde chuvosa do mês de julho, bateram em nossa porta e dois oficiais do Exército Brasileiro entregaram a minha mãe uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um herói. Mamãe, mamãe, eu quero meu papai! Ela calada, taciturna não chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera. Na missa dos domingos ela disse para o Padre Antonio que estava perdendo a fé. Perdeu seu marido na guerra, ainda tinha seu filho, mas o mundo para ela desmoronou.

                 Sabe meu amigo, aquele mil novecentos e quarenta e cinco foi o ano que mais chorei. Eu sempre a noite rezava. Não acreditava que ele tivesse morrido. Jesus, meu amado e bom mestre eu dizia, se os tais heróis não voltam para casa, será que vale a pena ser herói? Senhor Jesus, meu santo e bom paizinho, me dê neste natal um presente. Acabe com minha revolta e me traga de novo o meu papai que foi brigar na guerra. Eu sei que o Senhor pode tudo e sei que vai dar um jeitinho de mandar o meu papai de volta. – Olhei para ele e ele chorava. Um "Velho" de oitenta anos chorando. Continuou a me contar - Olhe meu amigo Chefe. Não dá para esquecer. Acho que mamãe sempre ouvia minhas preces, pois um dia, naquela noite de natal, eu dormi abraçado com o retrato do meu pai. E confesso que tive lindos sonhos com ele. E sabe meu amigo Chefe, ao acordar gritei surpreso, pois lá estava enrolada em meu sapato uma enorme bandeira do Brasil!

               Sem palavras. Chorava ali com aquele velho naquela fogo que aos poucos se apagava. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos céus. Lânguidas e serenas para logo serem levadas com o vento. Papai Noel. E quem ainda não acredita nele? O natal, linda noite para alguns, muitas tristezas para outros. Abracei com força o Chefe Maninho. Ficamos ali até o amanhecer.  Nunca mais o esqueci. Que Deus esteja com você meu amigo, nestes pastos verdejantes do céu, junto ao seu papai e sua mamãe!

(História baseada no poema de Orlando Cavalcante, “Oração de natal de um órfão de guerra”).