Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Origens do nome Gilwell Park.




Origens do nome Gilwell Park.

- O prefixo “Gill” vem de uma palavra do inglês antigo que significava: Vale ou depressão. O sufixo “well” vem do inglês antigo “wella”, que significava nascente ou ribeiro. Assim, Gilwell seria um vale com uma nascente ou ribeiro.

Gilwell... Um nome. 
O mais antigo registro de terras pertencentes ao Parque de Gilwell (ou Gilwell, como se escrevia antigamente) remonta a1407, quando faziam parte da Paróquia de Waltham Abbey. O seu proprietário era John Crow, que chamava às suas terras “Gyldiefords”. As terras mudaram de dono poucos anos mais tarde e, como era hábito na época, o novo dono (Richard Rolfe) alterou o nome das terras para “Gillrolfes”, usando o seu próprio apelido.

Gilwell… um parque com história.
Ao longo dos vários séculos, as terras que hoje constituem o Parque de Gilwell mudaram de proprietário diversas vezes, tendo sido agregadas e divididas várias vezes. Na década de1730, as terras de Gilwell foram guarida para um.
Místico salteador inglês, Dick Tupin. Em1793, a família Chinnery mudou-se para Gilwell, tendo sido os mais importantes ocupantes do parque. Esta família era um modelo da alta sociedade londrina, dinâmicos, enérgico se ligados às artes. William Chinnery, um jovem ambicioso com um rápido sucesso profissional foi agregando à propriedade outros terrenos ao redor que iam aparecendo para venda.

Margaret Chinnery transformou os terrenos em magníficos jardins e decorou o edifício principal a rigor, organizando frequentemente serões chamando, assim, as atenções da alta sociedade. Até os membros da família real eram frequentadores de Gilwell, como o Rei Jorge III, o Príncipe Regente e o Duque de Cambridge.

Ao longo dos vários séculos, as terras que hoje constituem o Parque de Gilwell mudaram de proprietário diversas vezes, tendo sido agregadas e divididas várias vezes. Na década de1730, as terras de Gilwell foram guarida para um místico salteador inglês, Dick Tupin. Em1812 foram descobertos os estratagemas fraudulentos que William Chinnery usava para desviar enormes quantias de dinheiro dos cofres do reino e assim alimentar a glamorosa vida social da família, tendo-lhe sido confiscado o Parque de Gilwell. Gilwell foi posto à venda através de um leilão, mas, por causa do escândalo com os anteriores donos, só foi comprado em1815, por Gilpin Gorst, pelo preço de 4940 libras.

A propriedade voltou a mudar de dono várias vezes. Em1858 foi comprada por William Gibbs, um industrial excêntrico, poeta e inventor. “A sua invenção de maior sucesso foi o creme dental Gibbs”, produzida na sua própria fábrica. Após a sua morte, em1900, mulher e filhos viram-se incapazes de manter a propriedade em boas condições, dados os elevados custos de manutenção, acabando por vendê-la.

Escoteiros compram Gilwell Park.
William Frederick de Bois Mac Laren era um generoso empresário escocês bem sucedido e também escoteiro, sendo Comissário Distrital (dos escoteiros) na Escócia e grande amigo de BP. William Pertencia ao clã escocês dos Maclaren, que remonta ao século XIII, cujo Tartan encontramos no Lenço de Gilwell. Faleceu em Junho de 1921. Numa visita que fez a Londres, Maclaren impressionou-se ao ver os escoteiros londrinos fazerem as suas atividades em ruas e terrenos baldios. Em Novembro de 1918, Maclaren contatou BP, manifestando-lhe o seu desejo de comprar um campo escoteiro para a associação, que ficasse perto de Londres e acessível aos escoteiros da parte oriental da cidade.

B-P falou nesta ideia a Percy Bantock Nevill, na época Comissário para Londres Oriental. Ainda em Novembro, Maclaren e Nevill juntaram-se para discutir o assunto e, após estudar várias opções, acordaram em procurar uma propriedade em Hainault Forest ou em Epping Forest, tendo Maclaren oferecido sete mil Libras para a compra.

Vários grupos de pioneiros procuraram propriedades em ambas às áreas durante algum tempo, sem sucesso, até que, um dia, o dirigente John Gayfer sugeriu a Nevill o Parque de Gilwell perto da vila de Chingford, onde costumava ir observar aves, e que estava à venda. Nevill visitou o local e ficou bem impressionado, apesar do aspecto deplorável em que se encontrava o parque. A propriedade, com um total de pouco mais de 214 mil metros quadrados, estava à venda por exatamente sete mil libras. B-P visitou o local no dia 22 de Novembro.

Feita a compra, Nevill levou para Gilwell os seus Pioneiros, na Quinta-feira Santa de 1919, para começarem uma operação de limpeza e recuperação durante as férias da Páscoa. Os edifícios estavam degradados e a vegetação desgovernada cobria os terrenos. Na primeira noite descobriram que os terrenos eram demasiado úmidos para montar tendas, por isso ficaram numa velha cabana de jardinagem que batizaram de “The Pigsty” (pocilga, chiqueiro), que ainda hoje existe.

As despesas com a recuperação do edifício principal foram subestimadas, mas Maclaren, entusiasmadíssimo com os trabalhos, doou mais 3 mil libras. Durante vários fins-de-semana, Escoteiros e Pioneiros deslocaram-se ao Parque de Gilwell para participar dos trabalhos. Em Maio de 1919, Francis Gidney foi nomeado Chefe de Campo, orientando de forma mais consistente e direcionada os trabalhos de recuperação. A inauguração oficial do Parque de Gilwell deu-se a 26 de Julho de 1919. A esposa de Maclaren cortou as fitas e o próprio Maclaren foi condecorado por B-P com o Lobo de Prata. O parque evoluiu muito desde 1919 até hoje, com novas construções, reconstruções e marcos importantes.

Formação de dirigentes.
B-P deu os primeiros passos na formação de dirigentes, organizando palestras no.
início da década de 1910. Era evidente que esta formação era demasiado teórica e era necessária uma vertente mais prática, só possível com um local adequado. B-P convenceu Maclaren de que o Parque de Gilwell era suficiente para albergar também um centro de formação de dirigentes.

Gilwell e a Insígnia de Madeira.
Na história do Escotismo, o Parque de Gilwell e a Insígnia de Madeira têm um lugar de destaque pela sua longevidade e importância no Movimento. O parque é um local místico que todos os Escoteiros procuram visitar quando vão à Inglaterra, sempre repletos de jovens e adultos nas mais diversas atividades. Foi aqui que surgiu a Insígnia da Madeira, no curso de formação de dirigentes que, entretanto, se espalhou pelo mundo.

Seguindo as linhas orientadoras definidas por BP, Gidney dirigiu o primeiro curso de formação de dirigentes em Gilwell, de 8 a 19 de Setembro de1919, com 18 formandos. Fizeram parte dos conteúdos temas como organização de patrulhas pioneirismo, faca e machado, formaturas, marcha, bandeiras higiene e saúde em campo, latrinas, fogueiras, tendas, campismo, pontes, fauna e flora, Morse e homógrafo, pistas, jogos, medição de distâncias, mapas, etc. o curso foi um sucesso, ficando conhecido como curso da “Insígnia de Madeira”, devido à certificação que era dada a quem o concluísse.

Nos primeiros cursos, os formandos eram divididos em patrulhas e aprendiam como treinar os seus rapazes através de jogos. As atividades práticas, ao ar livre, eram a parte principal.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Histórias e místicas das Contas de Madeira.



Histórias e místicas das Contas de Madeira.

Nota – Publiquei ontem um artigo sobre essa mística tão desejada por muitos dos Chefes Escoteiros do Mundo. Com esse artigo encerro o tema. Sempre Alerta.

- A Insígnia de Madeira e suas contas são importantes na mística escoteira. Receber as contas da IM e sua sequencia como dirigente de cursos faz parte do desejo de muitos chefes em todo o mundo. É considerado uma honraria ter as três contas para ser um DCB (Diretor de Curso Básico) e quatro contas para ser um DCIM (Diretor de curso da Insígnia de Madeira). Tais honrarias se originam de Gilwell Park. Muitos sonham em chegar lá. Acreditam que podem ajudar na formação de chefes e aqueles que conseguem o Titulo máximo se sentem honrados com tal distinção. No passado os DCC (deputado Chefe de Campo) e AKL (Akela Líder) eram considerados os mestres escoteiros e muitos chamados de Velho Lobo, uma terminologia oferecida aos grandes navegadores e homens do mar, tal qual o Lobo do Mar. O Almirante Benjamim Sodré foi um dos precursores a receber este título. Tenho um artigo sobre ele já publicado.

- Com a implantação em Gilwell Park de cursos escoteiros, foram adicionadas contas para designar o grau de formação do Chefe portador da Insígnia. Interessante notar que as contas originais não eram simétricas, variando de tamanho e espessura, o que é natural vez que o Colar de Dinizulu (o IziQu) foi feito a mão. Nota-se que as contas que serviram de base para a produção das réplicas eram menores do que aquelas utilizadas atualmente. De todo modo a Insígnia de Madeira padrão possui duas contas. À medida que o Chefe se forma nos cursos padronizados pode ser escolhido para participar como membro da Equipe de Formação. Três contas como DCB e conforme seu desenvolvimento e necessidade pode ser escolhido como DCIM recebendo a quarta conta.  

- Conta-se que só existem duas Insígnias de seis contas. A primeira usada pelo próprio Baden-Powell. Além dele foi seu amigo próximo desde o tempo do Acampamento de Brownsea Sir Percy Everett que recebeu a honraria pelo próprio B-P como um presente de reconhecimento pelos bons serviços prestados à causa. A Insígnia de Madeira com seis contas de Sir Percy Everett, foi doada ao Movimento Escoteiro para ser usada pelo Escotista que exercesse o cargo de Diretor de Campo de Gilwell Park. Existe uma dúvida que muitos perguntam. - Se temos uma Insígnia de três quatro e seis contas não deveria haver uma de cinco contas? Ela existiu sim, era dada exclusivamente para os chefes Escoteiros especialmente designados para levarem o Curso da Insígnia de Madeira para seu respectivo país. Recebia o título de “Deputy Chief of Gilwell Park” sendo considerado um representante de Gilwell naquele país. Segundo Peter Ford, do Departamento de Arquivos de Gilwell Park, não existe um registro fidedigno de quais chefes tiveram o direito de usar a IM com seis contas.

- Francis Gidney o primeiro Chefe de Campo de Gilwell Park de 1919 a 1923 e diretor do primeiro curso da Insígnia de Madeira em setembro de 1919 não deixou nenhuma anotação dos seus cursos. Durante a gestão de Francis Gidney fizeram o curso em Gilwell os seguintes escotistas de destaque: o Padre Jacques Sevin, fundador da Scouts de France (percursora da atual Scouts et Guides de France), e que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da França, em 1923, em Chamarande nas proximidades de Paris; o chefe C. Miegl, que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da Áustria, entre 8 e 17 de setembro de 1922; e por fim, o chefe Jan Schaap que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da Holanda, em julho de 1923.  Apesar do pioneirismo de cada um, conforme dito anteriormente, não há registro de que eles tenham recebido o título de Deputy Camp Chief, nem que tenham usado a Insígnia de Madeira com cinco contas. Talvez o caso mais famoso envolvendo a Insígnia de Madeira com cinco contas seja o de William “Green Bar Bill” Hillcourt, da Boy Scout of America (BSA). O que ocorreu foi que demorou muito tempo para que o Curso de Insígnia de Madeira fosse adotado pela BSA.

- As primeiras tentativas, tanto por Francis Gidney quanto por John Skinner Wilson, de implantar o curso nos Estados Unidos, não lograram êxito como nos demais países. O próprio William Hillcourt só recebeu a sua Insígnia de Madeira quando fez o curso em 1936, dirigido por John Skinner Wilson no Schiff Scout Reservation, em Nova Jersey, USA. Nessa época a Insígnia de Madeira com cinco contas já não era mais utilizada, e o cargo de Deputy Camp Chief (D.C.C.) já havia sido extinto. Após isso, demorou mais de uma década para que ocorresse, o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da BSA. Isso não só por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas principalmente devido a dificuldades de adaptação. Por fim, o curso acabou acontecendo em 1948, quase 30 anos depois dos primeiros cursos de Gilwell Park. Todavia, apesar do uso da Insígnia de Madeira com cinco contas ter terminado quase vinte anos antes, William Hillcourt, sempre alegou que deveria tê-la recebido, por ter sido o diretor desse primeiro curso promovido pela BSA.

- Importante lembrar além das contas do Anel de Gilwell. Pergunta-se muito quem foi o autor deste Anel. Dizem que foi Bill Shankley, que com 18 anos era um dos dois funcionários permanentes de Gilwell Park. Utilizou o nó “cabeça de turco” da época que os marinheiros faziam formas decorativas com cordas como hobby. Empregou originalmente uma correia de couro de máquina de costura. Apresentou sua ideia ao Chefe de Campo que a aprovou. Isto tudo no início da década de 1920.

                          Não podemos deixar de ressaltar também o pioneirismo dos Chefes George Edward Fox, que era inglês, e que foi o primeiro portador da Insígnia de Madeira a atuar no país (ele fez o curso em Gilwell Park e recebeu a Insígnia entre 1921 e 1924), e do Chefe David Mesquita de Barros, que era português, e que fez o curso de Insígnia de Madeira em 1929, em Capý na França. Atualmente há uma orientação de que o uso de mais de duas contas na Insígnia de Madeira deve estar vinculado à realização do curso correspondente naquele ano, e assim mesmo, apenas pelo chefe diretor desse curso. Por outro lado, existe ainda uma forte tendência em Gilwell Park no sentido de se utilizar a Insígnia de Madeira com apenas duas contas, inclusive para os chefes que venham a dirigir algum curso de formação.

                                Apesar disso é sempre bom recordar o ensinamento de Baden-Powell no sentido de que a Insígnia de Madeira é o grau de formação mínimo para que um chefe escoteiro possa exercer um trabalho de qualidade à frente de uma tropa escoteira. Mas muito mais importante do que o objeto em si, que é apenas um símbolo, é o que ele representa, ou seja, a qualidade da formação do seu portador, bem como a busca constante pelo aprimoramento por parte do Escotista. No escotismo as tradições e místicas são pródigas em tudo que temos e fazemos para desenvolver o escotismo junto aos jovens. Perder tudo isto sem informar a todos os novos chefes que chegaram ou estão chegando seria um desserviço prestado a memoria escoteira.

Místicas e tradições fazem parte do nosso Histórico Escoteiro Mundial. Baden-Powell foi feliz em deixar para nós uma “pitada” de nossas tradições, onde sempre em uma escala de valores nos mostrou que podemos aprender ensinar e como viver entusiasticamente grandes valores e princípios de ideais. Aqui uma pequena parte de tradições e místicas que nunca serão esquecidas

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Conversa ao pé do fogo. A origem das Contas de Madeira.




Conversa ao pé do fogo.
A origem das Contas de Madeira.

- A mística escoteira encanta. A procura por aprender e conhecer a origem e o significado atrai muitos que adentram ao Escotismo. Baden-Powell é considerado por muitos um iluminado por criar um movimento único que atrai pela sua mística e beleza. Dizia ele: - “Todos os projetos devem responder às aspirações daqueles que os vão viver; devem partir dos seus desejos e sonhos”. Os sonhos materializam-se num imaginário com personagens e símbolos. O imaginário existe em todas as idades, apenas se torna menos explícito com o crescimento e vai-se transformando em situações reais. ”(Livro a Caminho do Triunfo”).

- Conta-se que na manhã de oito de setembro de 1919, dezenove homens vestidos de calças curtas e meias até o joelho, mangas de camisas arregaçadas, formadas por patrulhas iniciavam um curso de Chefes de Escoteiros. Um novo adestramento realizado em Gilwell Park, em Eping Forest, nos arredores de Londres, Inglaterra. O campo foi projetado e orientado por Baden Powell, um general de 61 anos reformado do Exercito Britânico e fundador do Movimento Mundial dos Escoteiros. Quando terminou seu adestramento em conjunto, Baden Powell deu a cada homem um cordão de madeira simples, como se fosse um colar que ele havia encontrado em uma cabana abandonada de um Chefe Zulu. Isto aconteceu quando estava em campanha na África do Sul em 1888. Para os primeiros deste curso, foi um grande sucesso e se tornou tradição por muitos e muitos anos. As perolas de madeira eram reconhecidas para os que tiveram a oportunidade de passar por aquele adestramento.

- Muitas são as versões sobre este simbolismo conhecido em todo o planeta que pratica o escotismo. Aqui algumas de suas histórias. A origem das pequenas contas de madeira está envolta num misto de história e lenda, romantizada por estórias passadas de década para década. Embora haja dúvidas quanto à veracidade de alguns acontecimentos frequentemente relatados, o certo é que estas contas não são umas contas quaisquer.

 Isiqu, a “medalha” dos Zulus.
Os relatos mais antigos remontam ao tempo de Shaka kaSenzangakhona (1787-1828), o famoso rei que transformou várias tribos dispersas da África do Sul na imponente nação Zulu. As suas táticas militares inovadoras e a alteração que fez no armamento dos seus guerreiros, permitiram-lhe criar um exército impressionante, organizado, disciplinado e eficiente. Os mais bravos, tendo protagonizado feitos em batalha merecedores de destaque, eram “condecorados” pelo rei Shaka, em cerimónias públicas, com colares feitos de contas de madeira - os “isiqu”. A madeira destas contas, amarelada, provinha de um salgueiro selvagem (Salix mucronata), a que os indígenas chamavam “um-Nyezane”, considerada “real” e para uso exclusivo do rei Zulu. Após a morte de Shaka, a tradição ter-se-á mantido.

Alguns historiadores sugerem que as contas seriam confeccionadas pelos próprios guerreiros distinguidos, originando colares “isiqu” de aspecto diferente, mas com um traço comum: encaixadas umas nas outras, perpendicularmente. Os colares de contas são muito utilizados na cultura Zulu, ainda hoje, sendo usados materiais naturais tais como madeira, sementes, marfim ou osso. Em 1999, foi construído um monumento em bronze, em Isandlwana, na África do Sul, em memória dos Zulus que tombaram naquela sangrenta batalha de 1879 contra o exército britânico. A estátua representa, precisamente, um “isiqu”.

Dinizulu.
Dinizulu kaCetshwayo (1868-1913) era sobrinho-neto de Shaka e filho de Cetshwayo (o último rei Zulu reconhecido pelos britânicos). Depois da Guerra Anglo-Zulu de 1878-79, os britânicos acabaram com o reino Zulu e dividiram a Zululândia em 13 distritos, cabendo um destes a Dinizulu, herdeiro do trono, que não tardou começar a “conquistar” pela força das armas outros distritos, pretendendo assumir-se como rei dos Zulus. Desavenças com mercenários Bóeres que ele próprio contratou e com os britânicos a quem, entretanto, pediu ajuda, levaram a que fosse procurado por tropas britânicas enviadas pelo Governador da Província do Natal, em 1888. Baden-Powell foi escolhido para oficial do estado-maior das tropas comandadas pelo Major McKean, que perseguiriam Dinizulu.

A lenda do colar de Dinizulu
Diz a “lenda”, entre os escoteiros, que foi o próprio Dinizulu quem ofereceu o colar a BP. Esta versão foi passada pela associação escotista inglesa, a partir da década de 50, devido ao embaraço causado pela versão anterior, segundo a qual B-P ter-se-ia apoderado do colar, abandonado por Dinizulu numa cabana especialmente preparada para ele. Quando B-P chegou a uma zona de penhascos, bastante arborizada e com cavernas, chamada “Ceza Bush”, identificada como baluarte de Dinizulu e dos seus homens, já estes tinham escapado para a República do Transvaal. Os britânicos só encontraram cavernas abandonadas e cabanas queimadas, numa das quais B-P terá - segundo contou ele próprio em 1925 - encontrado o colar “isiqu” de onde provieram as primeiras contas da Insígnia de Madeira. Dinizulu entregou-se três meses mais tarde ao Governador do Natal, em casa da família Colenso, que apoiava a causa Zulu.

No seu livro “Lessons from the Varsity of Life” (1933, capítulo V - Zululândia), BP. Relata o incidente em “Ceza Bush”, mas não faz qualquer referência ao colar “isiqu”. Curiosamente, nesse mesmo texto, conta como se apoderou de um colar de contas de uma moça Zulu que foi atingida por uma bala perdida e faleceu durante a noite, mesmo ao lado de B-P. Nos diários onde Baden-Powell descrevia detalhadamente todos os pormenores da sua vida, também não foi feita nenhuma referência ao colar.

Certo é que B-P nunca conheceu Dinizulu. Se o colar “isiqu” que B-P levou para Inglaterra era em Formato das contas; As contas que hoje ostentamos nos nossos colares da Insígnia de Madeira, são um pouco diferentes das primeiras. Estas tinham um formado mais delgado na zona onde passa o fio de couro, para o encaixe entre elas. A “falha” nas extremidades é natural. Ao fazer os cortes em “V” nas extremidades, que seriam queimados, o interior do cerne da madeira de salgueiro desfazia-se, dando origem às pequenas “falhas”, características, também em “V”. Algumas das contas que são produzidas hoje em dia, não trazem estas pequenas “falhas”, sendo os cortes apenas pintados, e não queimados, exceto na zona da “falha”, que fica da cor da madeira.