Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A bandeira, em saudação!


Cerimonias escoteiras.
A bandeira, em saudação!

            O Chefe responsável pela cerimonia de abertura estava impecável em seu uniforme de campo. Ali, todos tinham seus dois uniformes (a chefia) e o usavam conforme a ocasião. - Tinha em suas mãos a trombeta (tipo berrante) cuja tradição era imutável. A formatura e o cerimonial eram de responsabilidade da Sessão de Serviço. Esta constava na escala feita no inicio do ano, em forma de revezamento. Na reunião anterior, já haviam treinados para evitar qualquer gafe, pois a cerimonia em sua apoteose não cabia erros. Era norma que nenhum Chefe poderia ajudar.  O hasteamento, a oração, sempre marcava profundamente. Era uma tradição e todo o Grupo mantinha respeito, garbo e boa ordem. Também nesta oportunidade, todos aqueles que tivessem “tirado“ suas provas de eficiência ou classes, assim como suas “estrelas” de atividade iriam receber na Grande Ferradura, um marco na vida escoteira de cada um.

            - A família Escoteira tem o direito e deve assistir o crescimento dos seus membros. Assim dizia o Diretor Técnico, um antigo Escoteiro que começou no grupo como lobinho. Tenho pena de certos grupos, onde os jovens de cada sessão são eternos desconhecidos entre si. Muitos deles, principalmente os adultos, se prendem como correntes nas atividades de fim de semana e esquecem-se de si próprios! - Da maneira como fazemos não. Realmente, naquele dia todos sentiam a pujança do Grupo Escoteiro. Eram os pais convidados, a diretoria do grupo, antigos escoteiros que ali se lembravam do seu passado e viam com seus próprios olhos o crescimento de mais alguns que seriam como eles no futuro. Este era o Escotismo, uma verdadeira escola de formação do caráter. E como dizia o nosso querido BP, o que é mais importante! - O resultado, claro.

            O Grupo sempre insistia na entrega de Insígnias para Escotistas e até algumas condecorações dentro da reunião do Grupo. Claro, ressalvando aquelas especiais como medalhas de alto valor. - Quem sente mais orgulho em saber que um dos seus membros foi outorgado com concessões e recompensas, ou mesmo condecorações do que aqueles que estão vivendo o dia a dia junto a eles? O Dirigente da atividade já posicionado aguardava a chamada de cada sessão, pôr um assistente designado. Logo em seguida viria à apresentação de cada uma e pôr fim o inicio da Cerimonia. O mastro em forma de T, com três bandeiras estava pronto. As bandeiras posicionadas conforme manda o manual. Neste sábado, a Tropa Sénior estava de serviço. Pronta à chamada, e apresentada à sessão, os seniores responsáveis pelas bandeiras são chamados. Cada um se orgulha em estar ali naquele momento. Estão impecáveis nos seus uniformes. Cada um sente a responsabilidade daquele ato. Há uma faísca elétrica no ar. Ninguém treme. São Escoteiros. Estão sempre Alerta. Não há duvidas. Não vai haver falhas na cerimonia.

            Eu e mais um Escotista do Grupo fomos buscar um antigo Escoteiro, um dos fundadores que ia ser homenageado. Mais de 90 anos e sempre presente. Ele nos esperava já uniformizado. Podíamos apreciar o garbo presente - Sapatos pretos bem engraxados, meiões cinzas dentro dos padrões com dobra de quatro dedos e listas retas. Calça curta bem passada com vincos. O Metal do cinto polido e correia engraxada. Camisa bem posta e todos os botões abotoados. Anel e contas (Colar da insígnia) impecáveis. O Chapéu, Ah! O chapéu. Era de fazer inveja. O antigo escoteiro não dava motivos de críticas e só exemplos. - Você conhece um escoteiro pelo uniforme - Dizia ele. Quem não tem garbo, não tem nada. Ou você é ou não é. Simples. Muito simples. Faz parte do caráter de cada um! E depois reclamam que ninguém nos conhece. Como? Mal uniformizado? Com um sorriso, alegre pelo dia, deixou que o ajudássemos até o automóvel. Durante a viagem ele de olhos cemi-cerrados deveria estar pensando quando era jovem. No Grupo todos sabiam que ele estaria lá naquele dia. Uma cadeira de braços já havia sido colocada próximo a Grande Ferradura. Quando chegamos, foi aquela festa.

            Ele se sentou rodeado de amigos. Jovens, Escotistas, pais. Todos o queriam muito. Fora ele o responsável pôr tudo aquilo e nada mais justo do que a recompensa da amizade e consideração. Brincadeiras, abraços, conversas ao pé do ouvido. Aos poucos ele se levantou da cadeira e até ensaiou um dança com os lobos. Era o remédio que ele “receitava“ para todos e o efeito era imediato. O Diretor Técnico passou o comando para o Chefe Sênior. A Patrulha de Serviço era de sua tropa. O Antigo Escoteiro não conseguiu ficar sentado. Claudicando e tropeçando em seus calcanhares, cambaleante se levantou e se dirigiu a ferradura. Alguém tentou ajudá-lo. Ele agradeceu. - O Escoteiro caminha com suas próprias pernas! - falou. O silêncio foi substituído pôr uma exclamação. Todos olhavam para o antigo Escoteiro. Lá estava ele, ao lado do Presidente do Grupo e próximo aos pioneiros.

            O Monitor sênior mais antigo deu a ordem: A Bandeira, em saudação!

            Os jovens estavam orgulhosos. Os Escotistas, pais e outros Antigos Escoteiros vibravam com a cerimonia e a “garra“ do fundador que estava ali com eles. Mesmo com aquela idade, era um exemplo para todos. Alguns como eu em posição de sentido ficamos com os olhos marejados de lagrimas, lagrimas de alegria. Sentimos como era importante a máxima de BP - “A verdadeira felicidade, é fazer a felicidade dos outros”! E ela estava sendo feita. Com uma simples cerimonia de bandeira!


Grupo Escoteiro, “A BANDEIRA, EM SAUDAÇÃO!”.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.

            Eu não sei por onde ele anda. Dos sete magníficos da Patrulha Raposa muitos já foram para o grande acampamento. Um deles está vivo, bem velhinho lá pelas bandas do Vale do Rio Doce. Passaram-se anos. Muitos. Lá pelos idos de 1950 quando eu os conheci. Desculpem só três, pois os demais foram lobinhos comigo. Era uma Patrulha recém-formada. Surgiu uma amizade que marcou a todos nós profundamente. Uma época que o intendente se orgulhava do seu cargo. Do Escriba que não deixava uma ata sem fazer. Do bombeiro e lenhador ali na cozinha não deixando nada faltar. Do socorrista sempre pronto a passar uma pomada “Minâncora”, onde ela anda hoje? De todos o mais importante era o cozinheiro. Nenhuma Patrulha neste mundo pode ficar sem ele. Para dizer a verdade é a alma da Patrulha. Ele consegue fazer a patrulha andar, correr, brincar, sorrir e amando como nunca um acampamento mesmo que debaixo de uma tremenda tempestade. Barriga vazia não tem alegria, barriga cheia, Escoteiro alegre.

              Fumanchú era seu apelido. Se não me engano seu nome era Sebastião Felisberto da Silva. Era negro. Bem atarracado. Cortava os cabelos rentes e tinha uns enormes olhos negros que podiam observar tudo ao seu redor. Fui a sua casa muitas vezes. Sua mãe trabalhava como cozinheira do Hotel Condor. Acho que foi aí que ele aprendeu. Desde pequeno ficava muito sozinho em sua casa. Eu não sei hoje, mas naquela época a gente ficava pedindo a mãe para nos ensinar a arte da cozinha. – Mãe me ensine a fazer arroz, uma sopa, um feijão, assar uma carne, fritar peixes e assim íamos aprendendo, pois nem sempre poderíamos contar como Fumanchú. Cada um de nós “quebrava o galho”, mas o dono da cozinha mesmo era ele.

             Andam dizendo por aí que nos acampamentos os escoteiros comem matinho, arroz com fumaça, feijão queimado, carne torrada e assim por diante. Brincam e dizem que era e é assim e eles gostam. Lembram-se sempre dos seus célebres almoços e jantares e sorriem quando pensam como era gostoso acampar. Sem sal e sem gordura. Acho que os meus não foram assim. Fumanchú sempre se esmerou. Seu arroz era soltinho, seu feijão inteiro com farinha de milho ou de mandioca não tinha igual. As sopas que fazia então? Bastava dar para ele alguns maxixes, uns lambaris gordinhos e pronto. A sopa de maxixe dele era de arromba. Como sabia improvisar. E um guisado de rolinhas? Ou de um tatú? Na brasa Fumanchú era invencível. E as bananas verdes na brasa? Com mamão verde fazia milagres. Era bamba com o frango no barro. Piriá, ariranha tudo ele dominava e nos fazia feliz. Uma vez matamos um Caititu, uma espécie de porco do mato e Fumanchú nos esperava de uma jornada para buscar frutas na fazenda do Seu Totinho, com o mais gostoso churrasco que já comi. (lembro aos meus leitores que era outra época).

           Cozinheiro não é só cozinhar. Tem de saber improvisar. Fumanchú era assim. Sabia como ninguém fazer um fogão suspenso. Dos bons. Da sua altura nem mais nem menos. Fogão Tripé, estrela, tropeiro e outros eram feitos assim em segundos. E o forno de barro? Incrível seus pães quentinhos pela manhã. Até bolo ele fazia! Cozinhava em qualquer hora. Em trilhas quando parávamos nas nossas jornadas. Em ribanceiras perigosas, com chuva fina ou não. Acender fogo? Era bamba! Podia contar no dedo até trinta e o fogo logo estava crepitando. Que chovesse canivete, mas o fogão do Fumanchú sempre soltava sua fumaça e fumaça em fogão no acampamento é motivo de alegria e felicidade. Seus bolinhos de chuva, de polvilho, bolinhos de milho, doce de manga, de laranja de goiaba e seu doce de mamão nunca esqueci! E olhe tudo improvisado no acampamento.


            Poderia ficar horas aqui falando do Fumanchú. Das poucas e boas que nos aprontou. Dos causos que contava após o almoço ou jantar e muitas vezes nossos estômagos não aguentavam. No frio ele nem esperava chamar. Seu fogo espelho era nota dez. Podíamos dormir nas barracas sem manta ou cobertor. Saudades do Fumanchú. Do seu sorriso enorme, dos seus dentes grandes, do seu pescoço enorme e do seu coração... Grande demais para a gente esquecer. Saudades mesmo. Bela época. Época que já se foi. Agora só a memória para lembrar.  Se você que me lê tem um cozinheiro assim em sua Patrulha, não esqueça, abrace seu cozinheiro. Ele é a razão de um bom acampamento. Sem ele não acredito no sistema de patrulha, em um acampamento de Giwell, pois se queres ser feliz, coma até pelo nariz! Risos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O fascinante Escoteiro mágico da Tropa 222.


Lendas Escoteiras.
O fascinante Escoteiro mágico da Tropa 222.

Mágico
Gostava de ser um mago, ter a dor e a sabedoria
de fazer magias de um trago e eu próprio ser a magia...
Queria ser um feiticeiro, para aprender todos os feitiços
e estar o dia inteiro a inventar sumiços!
Acho que me estaria a perder, nunca me daria a esse luxo
de transformar ferro em ouro a valer... Um sonho estaria a viver,

Se por magia fosse um bruxo; inventar uma poção e desaparecer!
Rogério Bessa.

                Ele chegou à sede do Grupo Escoteiro como se não fosse ninguém. Calado, simplório, olhando em frente e nunca para os lados. Devia ter uns doze anos não mais. Estava uniformizado. Não tinha chapéu como os nossos e sim um boné parecendo um “casquete”. Magro, cabelos louros bem altos chegou perto do Chefe Ramiro e gritou alto em posição de sentido – Be Prepared! Danou-se! Ninguém na tropa sabia inglês. Todos atônitos olhando para ele. As patrulhas se desmancharam e uma rodinha se fez. Ele levantou os braços e tirou do nada um livro Escoteiro. Presenteou ao Chefe Ramiro. Falar o que? Ele sorriu e nada disse também. Olhou-me nos meus olhos, levou a mão próxima ao meu rosto e tirou em cima do meu chapéu de três bicos uma caixa de bombons. Presenteou a Patrulha. Mais um sinal com a mão direita e ele se elevou no ar uns quarenta centímetros do chão. – Cacilda! Um bruxo? Escoteiro bruxo?

             Marly era lobinha da Alcatéia Raksha. Foi chamada pelo Escoteiro Marlon. Ele sabia que ela morou dois anos em Jamestown no estado da Virginia. Portanto poderia entender o Escoteiro Americano como o chamaram. Mas ele não deu um pio. Calado chegou calado ficou. Marly ficou ali como a olhar o nada. E agora José? Eu não estava gostando nada daquilo. Afinal a cidade era pequena. Sabíamos de quem chegava e de quem saía. Ele abaixou a cabeça enfiou a mão no bolso, fez um gesto imaginário e apareceu uma linda cadeira toda trançada de couro verde. Uma verdadeira obra de arte. Sentou-se. Olhou para o céu e um copo de limonada apareceu em sua mão. Meu Deus! O que era aquilo? O Chefe Ramiro não sabia o que fazer. A reunião praticamente acabou. Uma roda se formava em volta do escoteiro Americano. Ele ficou em pé na cadeira, fez mais um gesto e uma barraca apareceu em sua frente. Aos poucos ela foi armada como se fosse uma câmara de ar inflável. Agora não era apenas uma, mas quatro!

                Ninguém falava. O Escoteiro Americano tampouco. Levantou-se da cadeira, em frente a ela as quatro barracas. Outro gesto e uma mesa apareceu com um lindo abajur verde e amarelo cheio de flores. Que perfume exalavam. Peguei na mão da Marly. Marly! Diga que você fala inglês! Grite no ouvido dele se necessário. Isto está ficando assustador! Marly me olhava assustada. Gritar para quem? – Para o Escoteiro Americano! Este aí a sua frente. Marly assustou. Largou minha mão e saiu correndo. Olhei para o Chefe Ramiro. Ele não dizia nada, enfim ninguém da tropa dizia nada. Estavam todos calados e embasbacados. O Escoteiro Americano foi até o Chefe. Fez um pequeno sinal e colocou na mão dele uma bandeira brasileira e uma americana. Riscou no ar as seguintes palavras: Amizade sem fronteiras. Saiu do circulo em direção ao portão da sede. Fomos correndo até lá. Nada. Tudo que ele fez sumiu!

               Perguntamos a todos se era verdade. Se ele estivera ali. Todos responderam que sim. O Chefe Ramiro estava sem palavras. Ficou mudo o tempo todo. Nas mãos que recebera as bandeiras, nada. Estavam vazias. Sentamos no pátio, um silencio profundo. A Akelá assustou. O que foi perguntou! – Não viu? Um Escoteiro Americano mágico e misterioso? – Não vi nada. – Não é possível. Perguntei aos lobinhos, ninguém tinha visto nada. Pedi ao Chefe que nos desse uma hora. Uma hora para acharmos o escoteiro Americano na cidade. – Que nada! Nem sinal. As cinco e meia encerramento. Todos lá no cerimonial. Luizinho um lobinho de seis anos e meio traz nos braços duas bandeiras. Uma nacional e uma americana. Que deu a você? Perguntou o Chefe Ramiro. - Ninguém. Apareceu em meus braços e uma voz pediu para entregar ao Senhor!


E quem quiser acreditar que acredite. Eu não duvido. Eu estava lá! Risos.   

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma história de fogo de conselho.



As crônicas de um Chefe Escoteiro.
Uma história de fogo de conselho.

Eram três patrulhas com poucos jovens noviços e a maioria com adestramento acima da media. Isto não impedia que o espírito de equipe se mantivesse unido. Eu conhecia alguns dos seus membros e me tornei amigo deles pôr frequentar muito a sede do Grupo. Sempre comentavam as suas aventuras e desventuras. Todos me achavam um amigo  mais velho e pôr me sentir um deles estufava o peito de satisfação, mesmo sendo apenas um  Assistente de Tropa. Havia feito na semana anterior um Curso Técnico de Fogo de Conselho e apesar de ter participado em uma centena deles em acampamentos,  diversos temas novos foram transmitidos. Alguns ficaram gravados em minha mente.  Aproveitei a oportunidade para conversar com os jovens e sentir o que eles pensavam.

Um deles, corroborado pelos demais, me contou sua participação em um acampamento cujo Fogo de Conselho foi considerado um dos melhores, pois achavam que nunca mais seria esquecido. Não eram simples “pata tenras” já que nas patrulhas haviam diversos segundas classes, primeira e até três com Lis de ouro. A  atividade foi no mês de junho anterior e eu me lembrava bem do frio que houve naqueles dias. Conforme contavam, o acampamento foi cheio de surpresas. Aproveitaram um feriado com um fim de semana prolongado e ficaram quatro dias acampados. No segundo dia, uma forte chuva quase arrasou o acampamento, mas o pior foi à cheia do córrego próximo que inundou boa área do campo. Quando montaram o acampamento, levaram em consideração todas as possibilidades, inclusive de uma inundação. Mas a que aconteceu não poderia ser esperado. Uma tromba d’água deve ter caído alguns quilômetros acima  e o pequeno riacho subiu mais de 4 metros do seu nível. Ficou como lição para futuros acampamentos.

Mas na última noite não poderia faltar o Fogo do Conselho. Este era sagrado. Eles tinham participado de diversos tipos de Fogo e o da Tropa era considerado especial. O demonstrativo era cansativo e sem graça. Para eles um espetáculo batido visto em circo ou em TV, dirigido para principiantes e visitantes, mas nunca para os participantes. O Fraterno com outras sessões, até que servia para alguma diversão, ali o importante era participação. O da Tropa, este sim. Valia tudo. Somente a tropa podia estar presente. Dificilmente haviam convidados. Era da tropa e para tropa. Em casos extraordinários um ou dois eram admitidos, mas com a concordância dos Monitores. Sem programa detalhado, sem animador, sem aquela sequência de horário e apresentação. Era o que mais gostavam.

A tropa dominava completamente os acontecimentos que surgiam espontaneamente. E isto tinha um efeito e sabor especial principalmente quanto às dificuldades, às atividades aventureiras  vividas nos dias pré-fogo ou quando um fato novo com alguns deles ou com toda a tropa tivesse um fato marcante, era o inicio e certeza de um excelente Fogo de Conselho. Este é claro acreditavam seria o esperado. Tinham a certeza de que ia ser lembrado pôr muitos e muitos anos! No dia anterior, eles tinham feito tudo para uma limpeza geral, pois a enchente deixou sequelas em alguns campos de Patrulha e em outras praticamente arrasou tudo. Às patrulhas decidiram em Conselho de Tropa, fazer um mutirão, onde aquelas mais prejudicadas seriam ajudadas pelas outras. Precisavam de folhas de bananeiras ou algo similar para forrar o fundo das barracas.

Uma das patrulhas saiu à procura pelas redondezas, e procura daqui e dali, encontraram uma plantação de bananeiras, não muito grande. Claro que procuraram em volta se havia alguma moradia e só encontram uma velha casa abandonada. Pôr dentro não havia nada, mas o chão, as paredes e janelas estavam limpos. Pôr fora, não havia nada jogado pelos cantos e até a cisterna tinha águas cristalinas e asseadas. Pensaram que poderia ser uma morada de pessoas que vinham à noite, mas não havia utensílios e nenhum móvel. Ficaram intrigados. Decidiram cortar as folhas assim mesmo, pois às bananeiras não haviam sido podadas e com o corte não seriam prejudicadas. Quando cortavam sentiam que estavam sendo observados. Paravam,  procuravam e nada. Quando voltavam para o acampamento, novamente aquela sensação de estarem sendo seguidos, mas não viram ninguém.

Às brincadeiras entre si proliferaram naquele dia. Tanto a enchente, o trabalho e até mesmo a casa abandonada, agora chamada da Morada do Fantasma, era motivo de comentário pôr toda a tropa. O espírito do Fogo de Conselho havia sido criado. Isso era bom. Decidiram fazer o fogo no terreiro da Morada  do Fantasma. Ninguém foi contra. A chefia aceitava e acatava, pois nada dizia o contrário. Sempre foi feito assim e nada seria alterado. Após o jantar e um tempo livre, se preparam para o fogo. Os preparativos eram: Madeira, mantas, uma vasilha de alumínio com chocolate, (para esquentar na brasa) biscoitos um violão um pandeiro e muita criatividade. Mais nada.
Não havia um “Animador de Fogo”. Este iria surgir naturalmente no desenrolar da noite. Qualquer programa escrito estava fora de cogitação. Não iriam se prender a um roteiro, pois ali, naquela noite e em todas às outras a participação era completa. Sabiam o que queriam e iriam fazer conforme a Tradição de Tropa.

A Patrulha de serviço não perdeu tempo. Logo que chegaram ela preparou o fogo dentro dos padrões técnicos para evitar incêndios e tinha que ser ascendida com no máximo dois palitos de fósforos. Se não conseguissem, outra patrulha assumiria o que dificilmente acontecia. Se havia uma coisa que detestavam, era o tal Lampião do Conselho. Dava até vontade de rir do tal Lampião. Diziam que um bom mateiro ascende o fogo em qualquer tempo e em qualquer lugar. Eu acreditava, pois o adestramento da tropa sempre foi um dos melhores.  Enquanto isto os demais não se afastavam muito, pois a escuridão da noite e o lugar davam calafrios.

Todos foram chamados e se assentaram a bel prazer, enquanto um Escoteiro ascendia o fogo. Nesta hora, ficaram de pé, e como tradição antiga  invocaram os Espíritos dos Ventos e a viva voz, cantaram a Canção do Fogo de Conselho. Cantavam com gosto. Às chamas já se esticavam aos céus quando terminaram. Ouviram alguém bater palmas. Não eram eles. Se havia alguém escondido para amedrontar não seria com aquela Tropa. Um dos chefes deu uma busca em volta da casa e dentro dela. Nada. Continuaram. Logo uma Patrulha imitava outra quando da enchente. Surgiu palmas escoteiras inventadas na hora. Uma parada para conversa, um chocolate, uma mordida num biscoito. Conversas paralelas. Alguém alimenta o fogo, um dedilha o violão e outro começa a cantar. Alguns acompanham dois se encaminham para o centro da arena e começam a representar um Chefe e um Monitor. Risadas, palmas.

Pedem um jogo, um Monitor se oferece para fazer um  novo aprendido em outra atividade. Um grito. Não muito alto. A tropa se cala. É brincadeira de alguém. Eles aceitam a participação do “Fantasma”. Vai quebrar a cara pensam. Não foi a primeira vez. Ouve outras em outros acampamentos. Agora não seriam surpreendidos. Continuam às canções, improvisações, bate papos, jogos e até um pequeno Adestramento de primeiros socorros. Não faltou o Contador de Historias, e nessa o Assistente  se destacava.  Era assim o fogo da Tropa. Às brasas começaram a aparecer. A lenha foi terminando e todos demonstravam sono. Uma boca abre aqui, outra ali. A noite avançou sem ninguém perceber. Um Chefe convida a todos para encerrarem com a Cadeia da Fraternidade. Começam a cantar e param. Todos olham para dentro da casa e veem uma luz azul brilhante. Ficam estáticos. Alguns vão até lá e dentro da casa não há luz! - Já existem tremedeiras. Sem falar voltam para o acampamento. Ninguém quer ir à frente nem ficar atrás.

Dormiram encostados uns nos outros mesmo com a chefia alegrando e encorajando todos. No dia seguinte, após o desarme do campo, na cerimônia da Bandeira, um morador das proximidades estava presente assistindo de longe. Um Chefe o convidou para participar na ferradura. Ele veio sem jeito e ali permaneceu até o final. Uma rodinha se formou em redor dele, e ficaram sabendo a historia da “Morada do Fantasma”: - Foi construída pôr um jovem, - dizia -  filho de um “meeiro” (usa a terra de uma fazenda para plantar, e paga parte da colheita ao dono) quando se casou. Com menos de quatro meses, ele matou a mulher porque achou que esta o traia. Não era verdade. Foi preso e condenado há vários anos de prisão. Ninguém sabe onde está e quando vai sair da cadeia. O que todos sabem é que o espírito ou “fantasma” da mulher não abandonou a casa e até hoje e a mantém limpa e arrumada, mesmo sem móveis sem nada. Um padre já benzeu a casa, mas ela não sai de lá.


Fim do acampamento. Ninguém acreditava em fantasma nem naquela história absurda. Até hoje alguns ficam em dúvida do que poderia ter sido. Contaram-me com tanta veemência que não duvidei. Foram unanimes em dizer que foi o melhor Fogo de Conselho de suas vidas. Acreditei em parte. Um fogo destes não acontece sempre. Como eram escoteiros e não pescadores,  permaneci na dúvida. Serve como estórias dos Fogos de Conselho onde o calor humano é maior do que qualquer verdade!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Os heróis não tem idade.

Lendas escoteiras.
Os heróis não tem idade.

          Mariel não sabia mais o que fazer. Tentou de tudo e nunca foi sequer ouvida pelos seus pais. Mariel tinha um sonho, dizem que meninas de sete anos não sonham, mas não é verdade. Podia até ser um sonho novo que substituiu a boneca ModelMuse 2013. Seus pais diziam que era muito cara e ela estava crescendo muito depressa. – O que você quer de Papai Noel perguntou seu pai. Ela abaixou a cabeça e disse – Quero ser escoteira! Ela já sabia a resposta. Desde o dia que pediu para participar que seu pai foi contra. Sua mãe também. – Nem pensar, diziam. – Não vou deixar você ir para o mato, dormir na barraca, pode aparecer uma cobra ou um bicho qualquer. E se forem para longe? Não sabe que sumiu um Escoteiro no Pico do Roncador e até hoje ele não apareceu? – Agora eles perguntavam o que ela queria de natal pensando que mudou de ideia. Nunca há deixariam entrar naquela turma. Eles eram esquisitos, vestiam um uniforme e se achavam os tais. Ninguém sabia, mas o Pai de Mariel quando jovem queria ser um e não foi. Motivos? Ele nunca contou.

         Mariel em seu pequeno computador leu sobre tudo o que era os Escoteiros, o que eles faziam, leu as histórias dos acampamentos, aprendeu as provas e se ela entrasse hoje já sabia de tudo. Havia meses que ela insistia com seus pais e eles sempre negando. Chegaram ao ponto de dizer que se ela falasse mais no assunto eles a poriam de castigo. Sua mãe foi mais amiga, explicou para ela que ela era nova, eles não conheciam os responsáveis e se alguém a raptasse? Afinal eles moravam em um bairro nobre, seu pai era Presidente de uma Grande Empresa e ela seria presa fácil para sequestradores. Dizer para sua mãe que havia outras crianças iguais a ela não adiantava. Ela sempre dizia que os pais delas eram irresponsáveis.

        Uma tarde de sábado sua mãe foi com seu pai ao Mercado fazer compras. Dona Nana a cozinheira ficou responsável por ela. Mariel não perdeu tempo. Que seja o que Deus quiser pensou. Sei que é errado e estou desobedecendo meus pais, mas tenho que ir - pensou. Se pelo menos eu pudesse ver o que eles estavam fazendo já seria uma alegria para mim. Pé ante pé abriu a porta da Mansão e passou sorrateiramente pela portaria do Condomínio. Sabia que não era perto. Ficava a duas quadras do seu colégio. Foram mais de uma hora a pé. Ela não sabia pegar ônibus. Não foi fácil. Com seus sete anos ela era uma menina frágil. Seus pais não deixavam nem ela participar de atividades recreativas mais pesadas no colégio. Chegou ao Grupo Escoteiro bem na hora que estavam hasteando a bandeira. Ela ficou de longe olhando. Que belo espetáculo! Seus olhos se encheram de lagrimas. Era bonito demais. E os lobinhos e lobinhas correndo para formar? Que ordem, que disciplina. Ela já sabia que iriam fazer do Grande Uivo. Quem dera eu fosse uma delas. Sei tudo de cor! Disse.

         Esqueceu-se das horas. Quando viu estava escurecendo. Ficou olhando para eles até o final. Correu rua fora e quase foi atropelada. Chegou a sua casa já noite escura. Na porta carros de policia e de parentes. Entrou pelos fundos. – Quem foi papai? Ela perguntou. – Meu Deus! Você está aqui. A mãe e o pai correram para abraçá-la. Eles choravam de emoção. Pensavam que tinha sido raptada. Mariel sabia que o lobinho diz sempre a verdade e contou tudo para eles. Contou com lágrimas nos olhos. Sabia que o castigo viria. E veio mesmo. Mais de dois meses sem computador e sem TV. Mariel não se incomodou. Sim ficou chateada por ter feito tudo sem avisar, mas sabia que nunca eles deixariam ir. Todos os meses do castigo ela não parava de lembrar-se do que viu e sentiu. Ah! Se fosse verdade e eu fosse um deles sonhava.

          Paolo, Billy e Eddy Mário iam para a reunião dos seniores. Todos eles antigos no grupo. Foram lobinhos e agora estavam se preparando para conseguir o Escoteiro da Pátria. Eram amigos desde a Tropa Escoteira. Uma amizade que perdurou por anos. Pararam no farol na esquina da Rua dos Tamoios com a Avenida Campos Gerais. Esperaram o farol abrir. Era um local perigoso e já ouve muitas batidas. Da avenida viram quando um Audi em disparada não obedeceu ao sinal e avançou a toda velocidade. Da Rua dos Tamoios um Utilitário azul da Toyota em velocidade normal viu o farol aberto e entrou. A batida foi forte. Uma verdadeira explosão. O Audi ficou completamente destruído. O Toyota rodopiou sobre si mesmo e quando parou uma pequena explosão no motor. O fogo começou. Não havia o que discutir e nem pensar. Os três correram para o Toyota que pegava fogo. O Audi não estava em chamas. Paolo com se bastão quebrou o vidro da porta do motorista e tentou tirá-lo. Não conseguiu.

            Nada é impossível para escoteiros. Eles não deixariam o homem morrer. Alguém gritou da calçada que o Toyota ia explodir. Corram daí se querem viver! Gritaram. Billy pegou o bastão e foi para a outra porta. Quebrou o vidro e passou por ele, pois a porta estava emperrada. Cortou o cinto que estava preso com sua faca. Paolo e Eddy do outro lado arrastaram o homem para fora. O fogo aumentou. Billy sentiu seu uniforme pegando fogo. Pulou para fora do carro e se jogou ao chão rolando de um lado para outro. Conseguiu apagar, mas seu corpo teve diversas queimaduras. Graças a Deus ninguém morreu. O socorro chegou em seguida. O homem da Toyota estava desmaiado. No hospital Billy ficou internado por três semanas e saiu direto para a reunião de tropa. Sentia uma falta tremenda. Nunca faltou. Que chovesse canivete, mas ele estava lá na sua Patrulha Pico da Neblina.

          Quando Billy chegou uma salva de palmas e todos correram para abraça-lo e ele dizendo que não. As queimaduras não haviam sarado ainda. Aceitou aperto de mão, mas fez questão de dizer que ele e os amigos fizeram o que era certo. Todos eles a sua maneira agiram como Escoteiros. A formatura estava em andamento. Billy tomou seu lugar na patrulha. Notou que chegaram um homem, uma mulher e uma menina pequena e frágil. Eles tomaram lugar na bandeira. Após a cerimonia o homem pediu a palavra. Ele era a vitima do Toyota. Ele chorava. Quase não conseguia falar. Ainda não conseguia andar direito, pois sofrera uma fratura no braço e na perna. Foi até onde Billy, Paolo e Eddy estavam e lhes deu um grande abraço. – Nunca vou me esquecer de vocês! Ele disse chorando. Eu pensava que Escoteiros eram uma turma de arruaceiros, de jovens sem ter uma forma de vida e me enganei. Por anos neguei que minha filha fosse uma, pois ela sempre o desejou.


          Mariel mudou. Agora era um lobinha alegre e cheia de vida. Como era bom saber que seus pais também ajudavam o Grupo Escoteiro. Mariel no final do primeiro dia de reunião se ajoelhou quando os lobinhos e lobinhas faziam o Grande Uivo e mesmo sabendo que ela só iria participar depois da promessa, Mariel rezou. – Obrigado meu Deus! Consegui! Meu sonho se concretizou. – Todos olharam para ela espantados. Ela levantou, sorriu e gritou bem alto – “Melhor Possível”! Agora sou uma lobinha, e prometo a mim mesma que serei escoteira por toda a vida.

Portugal também é minha pátria.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro
Portugal também é minha pátria.

Eu nunca estive lá, mas é como se estivesse. Portugal sempre me atraiu e meus irmãos Escoteiros portugueses sempre me mostraram um caminho de alegrias, o que me faz sentir orgulho em ter centenas de amigos de lá. Um dia irei às terras portuguesas para contar estrelas, para subir nos montes juntos com todos eles, os Escoteiros que fazem a alegria da nação. A cada dia que passa mais admiro este bravo povo português e seus bravos Escoteiros. Seria impossível copiar Fernando Pessoa e dizer a eles - Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo Portugal?

Aqui falamos em fraternidade, em irmandade e muitas vezes somos vistos de outra maneira, e quem sabe o calor da democracia tão nova que assola nosso país nos faz discutir, pensar, idealizar e esquecemos que outros países esta fase já ficou para trás. Não sei se penso se falo se luto ou se aceito as coisas como são. Mas meus amigos portugueses já são uma irmandade de algumas associações que se respeitam.
Eu gostaria de apertar a mão de cada um, destes valorosos Escoteiros de Portugal. Diria para eles o que Pessoa me ensinou - Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido brasileiro... Oriundo de Portugal.

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens. Quem sabe um dia seremos como eles, os Escoteiros de Portugal, viver em paz, aceitar o escotismo fiel aos princípios de Baden Powell. Obrigado amigos portugueses. Vocês me dão um enorme prestigio participando e visitando minhas páginas, minhas histórias dos blogs e hoje a alegria foi maior. Não foi surpresa isto já vinha acontecendo no dia a dia. Confirmei que o número de visitas em meus blogs Escotismo e suas história e Histórias Escoteiras já são maior que os brasileiros. Não tem como não se sentir orgulhoso e se um dia Deus o permitir, quero estar com vocês, a contar estrelas em um Fogo de Conselho, a sentir a brisa portuguesa no rosto, ouvir o cantar da passarada ao nascer do sol em um sertão português.
Aceitem meu abraço fraterno, meu Sempre Alerta e espero estar Sempre Bem Preparado para um dia ser como vocês. Aqueles que cortaram os setes mares, que descobriram terras que ninguém nunca imaginou. A cada um meu especial Anrê, meu especial Bravoô, e que o futuro nos aproximem mais, que o Escotismo sem fronteiras continue assim. Fraterno e irmãos para sempre!

ABRAÇOS PORTUGAL!