Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 1 de junho de 2013

Conversa ao pé do fogo. Ser ou não ser. “Hasta La Vista Baby”!


Conversa ao pé do fogo.
Ser ou não ser. “Hasta La Vista Baby”!

                 Não queria parodiar Shakespeare. “Ser ou não ser, eis a questão: Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja. Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer. dormir: não mais”. – O que tem a ver tudo isto com o que escrevo? Quem sabe nada a ver com minhas implicâncias atuais. Dizem que velhos são assim mesmo. Chatos, um pé no saco, implicantes. Mas ponham-se no meu lugar, vim de uma época de orgulho em tudo que fazíamos no escotismo. Onde o respeito à cidadania, as nossas tradições, a Lei Escoteira sempre se pautaram pela ética e o respeito. Claro, ética que acreditávamos, pois hoje a ética é vista de outra forma. Criam-se tantas coisas a bel prazer de um e de outro. Em nome de uma liberdade que não poderia existir modificam-se normas estatutárias que para mim não passam de ilusões de megalomania. Entendam isto não podia ser decisões de poucos. Todos os adultos deveriam estar envolvidos. Impossível? Impossível para quem não quer ouvir opiniões.

                Todos os estados já têm seus novos eleitos para um novo mandato. Sempre a situação. Eram os melhores? Pode ser. Pode não ser. Comentários pipocam de norte a sul.  Muitos acreditando em mudança. Sei não. Eu sou igual a São Tomé, tenho de ver para crer. Vou falar francamente. Não gosto de meias verdades. Estão prometendo muito. Talvez por que estão sendo cobrados por muitos. Mas sinceridade? Eu não faria assim. Não faria porque vejo o escotismo de uma maneira simples sem complicar. Se tivesse que decidir seria de outra maneira. Nada de burocracia. O Grupo Escoteiro se tornou uma empresa. Bom isto? Também não sei. São cursos para tudo. Aquela leveza, simplicidade do passado acabou. Precisamos hoje de uma parafernália para sermos felizes pra sempre. Mentira? Veja abaixo:

Certidão de Busca para inscrição no município; Pagamento das taxas  pertinentes no próprio cartório. Estatuto Social em 03 vias; Proceder o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica na Secretaria da Receita Federal e alvará de licença - corpo de bombeiros. Tem mais? Putz grila! E os cursos para aprender a manusear o tal de SIGUE? Deus me livre. Nunca ouvi falar disto, mas olhe, em nome do moderno até aceito.

                 Acho interessante. Na maioria dos países com associações escoteiras, não se vê chefes inventando nada. Os uniformes são iguais de norte a sul salvo locais mais frios que usam calças compridas e magas também compridas. Aqui? Virou bagunça. Desculpem meus amigos mais chegados por falar assim. Um dirigente diz – Usem calça azul curta meia branca curtinha. Bah! E lá estão membros da direção e da equipe de formação usando. Não digo que estão errados nada disto. Foi implantado por dirigentes que adoram inventar. E os chapéus? ”É de tirar o chapéu”! Até nas cantinas dos “come quietos” agora são vendidos. Eles pululam nestas atividades de fazer caixa (camporees, ajuris, aventuras e etc) Olhe, não fique bravo comigo. Já disse. Sou um chato de galocha. Mas sabem me dá nos nervos ver dirigentes nacionais ou regionais de camiseta amarela, branca, azul seja lá o que for com o lenço. Agora tudo muda. Tem novo uniforme ou traje como se diz. Não vejo diferença em um e outro. Você pode escolher. São mais de 10 modelos. Pode? Mas eu pergunto isto existe em pais sério? Pode até ser que tem alguns que imitaram jovens em jamborees e isto foi passando de mão em mão. Mas são minorias. E diziam que seria bom para os mais pobres. Pobres? Quem usa mais são os ricos.

                Não sei se aprenderam alguma coisa do passado. Claro que sei que muitos são da nova geração. A geração que acha que pode tudo e que tudo é certo para eles. Acho que nunca ouviram falar de Garbo e Boa Ordem. Apresentação pessoal. Uniforme? O nome diz. Todos iguais. Ainda bem que temos gente que guardou no peito a lembrança do orgulho escoteiro. Souberam adaptar a modernidade sem esquecer o passado. Mantem viva a memoria Escoteira com orgulho. Ainda lembro-me do surgimento do outro uniforme. Calça cinza chumbo, camisa azul mescla. – Nas atividades nacionais, ou no próprio Grupo Escoteiro o dirigente da atividade dizia – Chefes, o uniforme nesta atividade será o social ou o caqui. Eu mesmo dirigi cursos onde se determinava qual uniforme para a atividade. Hoje? Cada um se apresenta como quer. Uma parafernália de cores e tipos.

                Acho o escotismo tão simples, tão alegre, que as pessoas aborrecidas deveriam colocar o chapéu e sair por aí recitando “Hasta La Vista Baby”. (risos sei que me enquadro nisto). Quanto vale um sorriso? De graça para um Escoteiro. Um aperto de mão? Um orgulho de apertar a mão de alguém. E o Sempre Alerta? Questão de honra em ser o primeiro a dizer. Hoje? Não sei. Falo mais para os adultos e meu Deus como temos espalhados por aí tantos e tantos se pavoneando. Dizendo estarem no caminho para o sucesso. Quem sabe estão mesmo? E olhem, dou boas risadas numa charge que existia no passado – “E ainda dizem que somos um movimento organizado e uniformizado” – Época do Escoteiro Chefe Arthur Basbaum. Foi um orgulho para mim apertar sua mão. E seu uniforme? De cair o queixo.

               Mas os tempos são outros. As forjas da vida não temperam mais o aço que um dia forjaram escotistas dirigentes desta estirpe. Arthur Basbaum, Benjamim Sodré, Darcy Malta, Floriano de Paula escoteiros chefes que dava gosto olhar, aprender e cumprimentar. Sem desmerecer muitos que hoje primam pela sua honradez, caráter e ética e claro tem sua maneira de pensar, eu ainda me bato pela cidadania, do garbo e da apresentação. Não importa qual uniforme. Mas que seja um ou dois e que os chefes sirvam de exemplos para os jovens e outros chefes que virão. Esta barafunda de hoje joga por terra todo um trabalho realizado por aqueles que primavam pela apresentação.


               E viva os novos eleitos. Vamos dar um voto de confiança. Afinal isto nunca aconteceu. É uma luz no fim do túnel. Enquanto isto me deixem embarcar na Enterprise. Vou por aí onde ninguém esteve. Data estelar? Não sei. Espaço? Que seja a fronteira final. Estas são as viagens de um "Velho" Chefe Escoteiro chato de  galocha a bordo da nave estelar Enterprise. Em sua missão de muitos anos... Para explorar novos mundos... Novas regiões escoteiras, nova Direção Nacional, novos diretores regionais e nacionais e pesquisar novas vidas... Novas civilizações escoteiras... Audaciosamente indo onde nenhum homem exceto Lord Baden Powell jamais esteve.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma cidade chamada Felicidade.


 Lendas escoteiras.
Uma cidade chamada Felicidade.

                    O Barão Franz Sebastian Denutz Nasceu em Regensburg no leste da Baviera. Seus pais quando conheceram Hitler se assustaram. Sua maneira de agir ao assumir o poder sentiu que tudo podia dar errado para sua família. O Barão estava com vinte e seis anos e sofria uma atrofia na perna o que doía horrivelmente. Médicos consultados não resolveram. Disseram ser uma doença incurável. Católicos e judeus tinham receio que quando Hitler mostrasse a que veio eles iriam perder tudo. Afinal ele e sua família eram judeus. Ele doente e Hitler falando em raça pura muita coisa ia mudar. Chamou toda a sua família para uma reunião. Explicou tudo. Falou sobre o Brasil. Poderiam comprar umas terras, plantar cana de açúcar e viver a paz que aquele pais oferecia. Corria o ano de 1937. Em agosto daquele ano embarcaram para o Brasil a bordo do navio Chalupas.

                   Chegaram a Santa Rita do Passa Quatro em uma tarde de setembro. O Barão Franz comprou no Rio de Janeiro um Ford 29, muito querido na época. O povo todo na rua para conhecer os novos visitantes. No dia seguinte foram conhecer as terras  Foram 25.000 hectares de terra adquiridos do Coronel Laviola. O Barão era incansável. Construiu um império. Não sabia como explicar, mas sua perna não doía mais. Ainda estropiada, mas sem dor. Em dez anos construiu uma grande Usina de Açúcar, plantou 150.000 pés de café e fundou uma cidade. Isto mesmo. “Felicidade” foi seu nome de batismo. Nos estatutos pouca coisa – 1ª’ – Nesta cidade todos serão felizes – 2ª’ – Todos serão bem vindos melhor ainda os jovens possuidores de necessidades especiais. Eram quatro ruas, calçadas com pedras de granito em formato de mosaico. As casas não tinham muros. Eram separadas por canteiros de flores. Naquela região o Barão Franz fundou o primeiro Grupo Escoteiro. O chamou de Grupo Escoteiro Estrelas Cintilantes. Disse que todos os participantes teriam direito a uma estrela e ser feliz. Todos os meninos e meninas portadores de necessidades especiais seriam bem vindos.

                   Dois anos mais tarde mandou construir em uma área arborizada diversos chalés que eram destinados a famílias com filhos portadores de necessidades especiais. Contratou na Europa diversos professores, médicos, pedagogos, para que desse toda a assistência que fossem necessária aos jovens que ali agora residiam. Foi nesta época que nasceu Tim Tim Soneca. Ficou famoso em toda a região. Mudou todo o rumo Escoteiro da região. O Barão tinha por ele um amor especial. Não o demonstrava, mas sabia que em pouco tempo iria ir desta para melhor ou pior, só Deus sabia. A família de Tim Tim Soneca morava em Santa  Rita do passa Quatro. Quando ele nasceu foi uma surpresa. A parteira Dona Matilde nunca acreditou no que vira. Ele nasceu dormindo. Todos acharam que estava morto. Mas seu corpinho respirava. Não havia médicos na época. Só em Ribeirão Preto. Sem posses deixaram de lado.

                    Vinte dias depois Tim Tim Soneca acordou. Deu um belo de um sorriso e disse – Bom dia! Que susto! Vinte dias de nascido e falando? Muitos que estavam na morada da Família Souza saíram correndo. A cidade toda veio para ver. Tim Tim Soneca estava conversando naturalmente com todos na casa. Disse que precisava dormir treze horas por dia. Ninguém devia acordá-lo. Dito e feito. Às seis da tarde ele dormiu e só acordou dia seguinte às sete da manhã. Quando o Barão Franz soube de Tim Tim Soneca ofereceu uma bela casa bem no centro de Felicidade. Não deu outra. Lá foram eles para uma nova história em suas vidas. O Barão queria Tim Tim Soneca ao lado dele. Queria educá-lo. Uma grande amizade surgiu ali. Aos sete anos Tim Tim Soneca entrou para os lobinhos, aos onze foi para os escoteiros. Na sede ele tinha um quarto. Quando dava a hora ele ia para lá e dormia suas treze horas. Nos acampamentos ele tinha sua barraca e os chefes sabiam que na hora ele tinha licença para ir dormir. Assim ordenou o Barão e assim era feito.

                      Tim Tim Soneca passou para os sêniores e depois os pioneiros. Em 1951 com vinte anos assumiu a direção do grupo. Sempre dormindo suas treze horas. Tudo aconteceu quando a cidade foi invadida por um bando de bandoleiros que há tempos saqueava cidades na região. O Barão estava velho. Não tinha mais aquela força do passado. A cidade foi subjugada pelos bandidos. Quando eles dominaram todos Tim Tim Soneca dormia. O Chefe do bando um tal de Periquito Dedo Duro achou estranho aquele marmanjo dormir assim. Tentou acordá-lo e não conseguia. Mandou seus capangas o jogarem no Rio  Mogiguaçu. Tim Tim Soneca levou um baque. Acordou afundando na água turva do rio. Subiu a tona e viu uma turba de homens atirando nele. Nadou para a outra margem. Sentiu seu corpo encorpar. Sua pele ficou vermelha. Correu rio abaixo até a ponte da Laguna. Voltou a Felicidade. Uma luta sem trégua começou entre Tim Tim Soneca e o bando de Periquito Dedo Duro. A cada bandido um soco e ele caia para não levantar nunca mais. Periquito Dedo Duro soube que Tim Tim Soneca estava liquidando seu bando. – Como pode um homem como ele vencer mais de oitenta bandidos?

                     O Grupo Escoteiro foi chamado pelo Barão. Meninos e meninas em cadeiras de rodas, muletas, mancando, uns pulando se reuniram na praça. Declararam guerra para os bandidos. Tim Tim Soneca já tinha mandado por terra mais de quarenta anos. Infelizmente o sono chegou de novo. Bem na Praça Tim Tim Soneca deitou na rua e dormiu. Periquito Dedo Duro sorriu. Correu até onde estava Tim Tim Soneca. Sabia que se desse nele um tiro toda a cidade iria sem reação. Quando ele chegou em frente à Tim Tim Soneca que deitado na rua dormia, apontou a arma e ao puxar o gatilho recebeu uma paulada na cabeça. Toda a cidade saiu às ruas e armados com faca, enxadas, facões e paus atacaram a bandidada que saiu correndo de Felicidade. No dia seguinte um batalhão de soldados de Ribeirão Preto chegou à cidade. Prenderam todo o bando de Periquito Dedo Duro.

                   Nunca em tempo algum um Grupo Escoteiro formado só por excepcionais mostraram tanta coragem. O próprio Barão trouxe do Rio de Janeiro toda a cúpula do escotismo brasileiro. Foram medalhas de valor para todos. Tim Tim Soneca foi considerado o herói Escoteiro da cidade. Felicidade seguiu seu caminho. Mostrou ao mundo que quando se quer se faz só que nem todo mundo tem em suas fileiras um Tim Tim Soneca que quando acordado virou um herói, um forte  e alguém que sabe fazer o que deve ser feito. Tim Tim Soneca até hoje tira sua soneca de treze horas. Agora investido no cargo do Barão que se aposentou, criou um corpo de oito homens, que carrega junto a ele dois colchonetes, pois se der sono, Tim Tim Soneca dorme onde estiver.

                   Quem me contou esta história jurou ser verdade. Antonio Lorota era meu amigo e escoteiro. Eu sempre acreditei nele. (risos). Eu mesmo quando fui a Santa Rita do Passa Quatro procurei a tal cidade Felicidade. Ninguém sabia ninguém conhecia. Verdade ou não, um dia saiu no jornal o Estado de Minas quase uma página inteira homenageando o falecimento de Tim Tim Soneca. De onde era o jornal só dizia que era a  cidade de Felicidade. Risos. Nunca ninguém soube onde ficava, mas que alguém pagou ao jornal pagou. Quem foi o jornal não disse. Para mim que sou um contador de histórias pode ser verdade. Que na eternidade Tim Tim Soneca possa dormir em paz!        

  

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lendas escoteiras. Joviano Perna Fina, os Touros, as Artimanhas e Engenhocas.



Lendas escoteiras.
Joviano Perna Fina, os Touros, as Artimanhas e Engenhocas.

                  Quer saber? Nem sei como tudo começou. Para dizer a verdade acho que valeu e outros não gostaram muito. Éramos quatro patrulhas, todos amigos e não gostávamos muito de jogos ou atividades onde teria de haver um primeiro lugar. Claro quando as quatro acampavam juntas não tinha como fugir. Uma vez vi os Morcegos perderem só para ver a alegria dos Javalis. Bem sei que não compreendem, mas vejam bem, é triste você ganhar e ver a tristeza nos olhos dos outros. Afinal eles também se esforçaram. Claro isto poderia ser considerado como forma de incentivo para que as outras patrulhas conseguissem melhorar. Foi bom eu acho. Outros me disseram que poderíamos fazer em patrulhas sem ficar se gabando como ficou Joviano Perna Fina. Quem sabe foi isto que a maioria não aceitou muito.

                   Foi em um sábado pela manhã que a ideia surgiu. Claro foi ideia do Joviano Perna Fina, mas todos adotaram. Ficamos horas discutindo em patrulhas quais Artimanhas e Engenhocas seria de grande valia em um acampamento Escoteiro. Era regra que Fossas com tampa fosse aberta com um só toque e um dia Tiquinho foi mais alem, a fossa abria e com outro toque a terra era jogada por cima do lixo. Tanto a de detritos como a de líquidos. Isto mesmo, Tiquinho meus amigos foi o maior construtor de pioneirias que conheci. Ele era um “craque”. Não só criava e fazia como tinha um caderno onde desenhava tudo e o melhor, dava medidas e quantas madeiras iam gastar. No entanto Tiquinho era da Touro. Nossa Patrulha a Maçarico fazia o trivial variado e mais nada. Mas não damos por vencido. Planejamos a maior engenhoca que um acampamento pudesse ter. Afinal ficamos cinco dias na casa do Taozinho para planejar.

                 O grande dia chegou. Ninguém contava nada para ninguém. Segredo absoluto. Três dias acampado na Garganta do Morcego. Lá era um local especial. Boa aguada, cachoeiras, entre as duas montanhas enormes moitas de bambus gigantes (Bambusa vulgaris vittata). Ideal para pioneiras de grande porte. O bambuzal lá era tão antigo que muitos pés ultrapassavam os trinta metros de altura. Como sempre o Chefe Jessé só iria no segundo dia. Trabalhava na Vale do Rio Doce e não tinha folga. Sempre que ele não estava Romildo se investia no cargo de Guia. Naquela época o Monitor mais antigo era o Guia de Tropa. Eu mesmo sonhava um dia ser um. Seu bastão com o totem de Guia era enorme e sua ponteira de aço dava inveja. Mas olhe, haja braço para carregar o bastão. Pesado, muito pesado. Bem cedo na sexta com a cidade ainda dormindo lá íamos nós com nossa carrocinha pela estrada do Girassol. Não fomos junto às outras patrulhas. Pelo programa nos encontraríamos lá às dez e meia. Era coisa de quatro horas a pé.

                  Na fazenda do Senhor Girardo demos uma parada. Sabíamos que Dona Filomena sua esposa sempre nos convidava para comer um bolo ou biscoitos. Ele aproveitou para nos prevenir do Trio da Morte. Um touro escapou da Larga do Sol e juntou com mais dois garrotes. Atacavam tudo. Ele já tinha tentado com outros fazendeiros prender os bois, mas ainda não tinha conseguido. Estávamos saindo quando chegaram mais duas patrulhas. Resolvemos ir juntos. Os bois assustavam. Onze e meia chegamos. A Coruja já estava lá. Mãos a obra. Romildo escolheu um pé de Azinheiro e lá arvorou a bandeira. Cada Patrulha escolheu seu campo e ficamos bem longe uma das outras. Até a tarde precisávamos fazer o trivial variado. Fogão suspenso, fossas, mesa com bancos, intendência mateira e WC. Fácil. Nunca gastamos mais que cinco horas para isto.

                  Fumanchú já estava a postos com o almoço. Todo ele ração C. Levado individualmente em bornais. Já à tarde por volta de três horas começamos nossa engenhoca. Trazer água da cascata até o acampamento. Uma bica e um chuveiro deviam ser levantados. Se possível no segundo dia faríamos também um elevador até um ponto alto de alguma árvore para servir como torre de observação. Mãos a obra. Baleiro da Coruja comentou conosco que iriam fazer uma ponte elevadiça que seria movimentada com a força da água. Já sabíamos que os Javalis e os Morcegos iriam construir um pequeno parque de diversões. Pretendiam fazer um Carrossel e uma Roda Gigante. Todos movido à água. Pensei com meus botões se conseguissem seriam uma verdadeira lavada nas demais patrulhas.

                 Foi uma noite divertida. Fugindo as regras ninguém foi dormir cedo. Os lampiões a querosene davam um brilho fantasmagórico em cada Patrulha que bravamente estavam a campo para produzir o que idealizaram. Às duas da manhã se ouviu o apito do Romildo. Hora de dormir. No segundo dia, café, inspeção (feita pelos Monitores, pois o Chefe Jessé ainda não havia chegado) e de volta as construções. Conseguimos as quatro da tarde tomar uma chuveirada fria atrás da barraca de intendência. Valeu os dois cocos maduros que encontramos. Ótimo chuveiro. Bem próximo à cozinha a água jorrava em uma bica formidável. O grito da Patrulha Coruja mostrou que a Ponte Elevadiça funcionava. Faltavam ainda os Javalis e os Morcegos. Fomos até lá. Meu Deus, o carrossel estava pronto. Lindo! Sabia que Toquinho era bom nisto, mas ao ver o Carrossel fiquei abismado. Só ele valia por tudo. Uma engrenagem de bambu, Cinco latas de vinte litros que se enchiam automaticamente no remanso fazia o Carrossel movimentar.

                    Lá pelas quatro da tarde do segundo dia o Chefe Jessé chegou na sua Philips de guerra. À noite o Fogo de Conselho foi uma festa. Vários pularam o Fogo por três vezes e receberam os seus nomes de guerra. O meu sempre foi Tupã. Eu sempre me considerei um trovão dos céus. Waltinho recebeu sua Segunda Classe renovando a promessa em frente ao Fogo de Conselho. Gostava disto. A chama iluminando, o Monitor desfraldando a bandeira e o grito de guerra da tropa era de tirar o folego. O melhor foi os Javalis. Levaram umas duzentas gramas de pólvora, fizeram antes do anoitecer uma valeta com um bambu, nele colocaram um rastilho de pólvora, marcaram o tempo até ela chegar na fogueira e o Marcondes Monitor na sua melhor pose gritou – Acende Fogo eu te ordeno! Uma fumaça, um pequeno estrondo e a pólvora fazia o inicio do crepitar das chamas.

                     No domingo levantamos bem cedo. Acho que cinco da manhã. Era dia para tudo. Inspeção, café e notas para ver a melhor das artimanhas e engenhocas feitas. Toquinho sorria. Sabia que eles ganhariam fácil. Deu sete e meia e levamos o maior susto. O danado do Touro e os dois garrotes fez do nosso acampamento um inferno. Quebraram tudo. Tivemos que correr e subir em árvores para fugir da fúria deles. Ficaram lá por mais de meia hora. Quando se foram não sobrou nada. Tudo quebrado. Nossa água não existia mais, a ponte elevadiça foi levada pela correnteza e a tristeza maior seria o parque de Diversões. Tudo no chão. Maldito touro! O chamamos de Demônio Negro.

                       Chefe Jessé sempre aquele que nos dava ânimo. Chamou todo mundo e disse – Vamos dar as notas conforme vocês viram. Cada um escreva a que dariam o primeiro lugar, o segundo e terceiro. Não deu outra. Os Javalis e os Touros levaram o primeiro lugar. Mereciam. Não tinha o que discutir. Ao voltarmos a tarde o Senhor Girardo disse que teve de matar o Touro. Não tinha mais jeito. Uma pena, um belo touro negro, ou melhor, o Belo Demônio Negro. Voltamos todos juntos. Até o Chefe Jesse voltou a pé conosco. Carinhoso da Patrulha Touro levou sua bicicleta. Uma pena valeu a atividade. Prometemos ir outra vez e fazer de novo, mas sabe, perdeu a graça. Muitas ideias novas surgiram e as do passado foram com o vento para algum lugar.

                        Histórias são historias. Cada um que viveu o escotismo tem a sua. E claro quem conta um conto aumenta um ponto. Nada foi como dantes. As histórias ficam assim mais deliciosas mais apetitosas para um dia serem contadas por aí. Quem sabe em um belo Fogo de Conselho em uma mata enorme e escura?

¶O espirito da coruja mora neste acampamento!¶                    

terça-feira, 28 de maio de 2013

Cada um escolhe seu próprio destino.


Crônicas escoteiras.
Cada um escolhe seu próprio destino.

                 Hoje passei o dia um pouco nostálgico. Quem sabe pelo frio e a chuva fina que caiu intermitente durante todo o tempo. O frio não me faz bem. Nesta época aparecem as benesses que um dia escolhi antes embarcar neste trem que escolhi como destino. Passei quase todo o tempo enrolado em uma manta. Tentava escrever, mas as dificuldades eram muitas. Comecei a fazer uma autoanálise. Para que? Para que possa aceitar as mudanças que o destino Escoteiro me impôs? Acredito que muitos de vocês meus amigos não vão entender nunca minha posição. Para isto teriam que viver o que eu vivi. Dou à mão a palmatória. Não existe mais volta. O mundo moderno agora é dos jovens e benditos os adultos que fazem tudo por eles acreditando fazer o certo. Está aí um novo escotismo. Saudado por muitos.

                   Nunca vou esquecer minhas raízes. Até o fim da vida aceitarei as mudanças, mas elas não fazem parte da minha memoria escoteira. Nunca farão. Como aceitar a displicência de alguns em colocar o lenço de qualquer maneira? Em qualquer vestimenta? Como aceitar um uniforme mal colocado e agora vem à possibilidade de uma escolha pessoal, induzida por adultos que acreditam ser o correto? Sei que tentam me dizer que tudo faz parte da evolução dos tempos. Em termos aceito. Mas eu sou um sonhador. Um Escoteiro que tem espírito de aventura e a natureza no coração. Um Escoteiro que a Lei e a Promessa estão vivas até hoje na sua maneira de viver. Desculpem-me se sou piegas, não estou contradizendo aqueles que afirmam também viver assim. Eu acredito em vocês. É como as pegadas do passado que nós os velhos Escoteiros fizemos, e foram fincadas em uma trilha na curva do rio, e estivessem sendo apagadas para que outras novas fossem colocadas em seu lugar. Seria a velha história substituindo a nova história.

                  Uma vez eu disse que não deixaria nunca de expressar minha opinião. Não vou deixar mesmo. Se tiver de dizer o que penso direi. Mas sei que meu pensamento irá desaparecer como o orvalho da madrugada e fez com que uma gota d’água em uma folha se diluísse quando o sol quente a encontrou. Sei que muitos concordam comigo. Mas sei que eles também são impotentes como eu para enfrentar estas corredeiras que chegam de uma tempestade imprevisível, varrendo das margens tudo aquilo que for contrária à força da natureza de que são possuídas. Meus amigos peço perdão, mas não me sinto em condições de aplaudir este novo uniforme, melhor dizer no plural estes novos uniformes e os novos programas. A simplicidade de alguns em me dizer que devemos pensar nos jovens e trabalhar por eles é muito lindo, mas não iram desancar as novas pegadas que serão coladas em substituição as que foram retiradas.

                  Irei continuar sempre escrevendo a moda antiga. Não vou parar nunca. Sei que o que penso será levado pelas ondas dos tempos que irão terminar e que irão recomeçar de novo e de novo na eternidade. Irei manter nos meus escritos os sonhos românticos que um dia os Escoteiros de outrora possuíram. Os sonhos de aventuras que eram transformados em realidade. Os grandes acampamentos de Tropa, as alcateias cheias e com o espírito voltado para a mística que tão bem o livro da Jângal foi à razão de ser. Nos seniores aventureiros, que respeitavam que diziam sim senhor, que sabiam ser cavalheiros. Que sempre tinham no olhar o brilho próprio dos Cavaleiros que outrora habitaram a Távola Redonda.

              Foi sim uma linhagem que nós os antigos fazíamos questão de possuir. Era questão de honra. Uma saga para ser contada por toda a vida.  Estirpe de grandes Seniores, Escoteiros e lobos, pois sei que nos seus sonhos nunca desistiram de achar o Santo Graal. Acampando e acantonando nas campinas verdejantes, nas gostosas montanhas azuis, nos grandes vales e cânions, nas escarpas impossíveis para alguns escalar. Procurávamos nos mais altos picos e não importava se era dia ou noite. Com sol ou chuva sempre estávamos lá investidos em Sir Lancelot, Sir Kay, Sir Galahad, Sir Gawain ou mesmo Sir Boors, o exilado e partíamos para novas terras, novos sonhos. Sabíamos que um dia iriamos encontrar o Santo Graal.


                  Para nós para nossos sonhos, o que Arthur encontrou e disseram para ele desistir não valeu. Nunca valeu. Nunca desistimos. Como ele também retiramos a espada da pedra. Era questão de honra. “Qualquer um que extrair esta espada desta pedra, será o Rei da Inglaterra, por direito e por merecimento”! Escotismo de BP? Não sei. Acho que nunca mais. Nada mais a dizer.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Você tem valor no seu Grupo Escoteiro?



Crônicas escoteiras.
Você tem valor no seu Grupo Escoteiro?

            Entrei no assunto que estava na minha mente a semana toda. Conversava com o "Velho" Escoteiro. Dizia a ele – Estive lá no Grupo Escoteiro do meu amigo. Aquele que lhe falei. Não gostei do que vi. Para não ser severo com tudo, voltei lá mais duas vezes. Não adiantou. A primeira impressão ficou. Notei lá "Velho" Escoteiro, que os chefes estão desamparados. O Diretor Técnico mesmo sendo um bom homem não tem condições de liderança, não sabe arregimentar. Os chefes que ainda ficaram estão à deriva. Tentam de tudo. Não existe apoio.

            O "Velho" Escoteiro me olhou de soslaio e como aquele olhar peculiar ficou pensativo não sabendo na hora o que responder. Passaram-se minutos. Não disse nada. Era o "Velho" Escoteiro que conhecia. Alguns minutos depois ele falou devagar, baixo, e tive que prestar uma enorme atenção ao que ele dizia. – Sempre achei meu amigo - disse – E sempre afirmei que não é possível desenvolver nenhuma programação com os jovens quando o Chefe da Sessão responsável não tem o aval de todo o Grupo Escoteiro. Não se pode fazer nada se o Diretor Técnico não for competente na sua área.
  
             Continuou - Ele hoje responde por todo o grupo e também pela sua diretoria. Faz a ligação e orienta os escotistas na sua lida semanal. Um bom Grupo Escoteiro se desenvolve quando aqueles que são responsáveis pelos escotistas do grupo, dão a eles condição de desenvolver seu trabalho, provê-los dos meios necessários e estar ao lado deles sem influir em seu trabalho. Um bom Diretor Técnico tem de ter carisma. Não digo que é um dom nato. Mas pode ser adquirido.

             Continuou o "Velho" Escoteiro – Se os Escotistas não estiverem bem assessorados, tanto na parte material, nos cursos de formação (obrigação do Grupo Escoteiro arcar com as despesas, inclusive de transporte) e sempre receber um sorriso e um muito obrigado do Diretor Técnico, poucos, mas muito poucos iram querer assumir como voluntários no Grupo Escoteiro. O Diretor Técnico tem de saber da sua responsabilidade. Ele não deve esperar elogios. Ele tem é a obrigação de elogiar seus escotistas. Assim como os chefes devem elogiar seus assistentes.

            Uma das maiores decepções de um chefe é saber que não tem nenhum apoio por parte daqueles que o dirigem. Todos precisam deste apoio. Eles são necessários para que exista uma diretriz e um trabalho harmônico. É necessário ver que os escotistas de sessões esperam sempre um incentivo, pois só assim irão saber que são importantes no trabalho que realizam.

             Se isso não acontece não vale à pena continuar a jornada. O Diretor Técnico é o único responsável pelo abandono e desistência por parte dos voluntários do grupo. Nos cursos de formação ele deve na medida do possível participar de todos. Precisa conhecer o terreno onde está pisando. Procure ver os Grupos Escoteiros mais bem organizados e estruturados, com efetivo acima da media, um bom número de escotistas participantes e vais ver que ali tem um Diretor Técnico que agrada a todos e faz seu trabalho com perfeição, abnegação e altruismo.

              Os Grupos Escoteiros que sentem dificuldade no seu crescimento, que não conseguem manter um corpo de Escotistas para seu desenvolvimento quantitativo e qualitativo, a responsabilidade única é do Diretor Técnico. Se for ele quem espera elogios o caminho está errado. Shakespeare dizia que o ouvido humano é surdo aos conselhos e agudo aos elogios. Uma verdade sem sombra de dúvida.

             Quando entramos como voluntários no movimento escoteiro, esperamos que haja algum tipo de agradecimento. Este agradecimento tem muitas formas e meios para ser efetuado. No sorriso de um jovem, num “tapinha” nas costas, e o melhor, o sorriso do nosso líder acompanhado do famoso “muito obrigado”. “Muito bom o seu trabalho”. “O Grupo Escoteiro se orgulha em contar com sua colaboração!” Já pensou nisto? E claro você iria retribuir dizendo, obrigado, se não fosse você eu não faria nada!

             É muito importante o Diretor Técnico chegar e elogiar e abraçar seus chefes. Um distrital chegar ao Grupo Escoteiro e elogiar o Diretor Técnico. O dirigente regional fazer o mesmo com seus distritais. E os dirigentes nacionais elogiando os regionais.  Afinal quem não gosta de um elogio?

Se além dos elogios viessem acompanhadas de merecimentos aí sim, o objetivo vai ser alcançado facilmente. Vejam o caso das condecorações. Muitos pensam que se trata de um privilegio e não um direito. Ora, se você fez sete anos, quinze ou vinte e cinco, tem o direito na medalha de bons serviços. E isso não se discute. Agora se você se sacrifica e ninguém lembra que seu trabalho é importante, então não justifica continuar no sacrifício. Isso mesmo. Sacrifício. Tudo dará certo quando dissermos que o Grupo Escoteiro é uma grande família. É como se fosse uma empresa. Sem um bom diretor ela nunca vai dar os frutos que se espera.


             O "Velho" parou de falar, ouvimos vozes. A Vovó e sua filha chegando. Hora de ir embora. Quarta feira gorda. Amanhã é outro dia. Pela rua quase deserta eu como sempre ruminava tudo o que o "Velho" disse. Concordava. Não tinha como ser contrário. Um carro passou por mim buzinando. O orvalho da madrugada molhava as flores que brotavam em todos os jardins. A lua era quarto crescente. Um vento sul leve agitava meus cabelos e acariciava meu rosto. Ah! Que sono. "Velho" Escoteiro, você sempre me trás conhecimentos. Obrigado "Velho".