Conversa ao pé do fogo.
Ser ou não ser. “Hasta La Vista Baby”!
Não
queria parodiar Shakespeare. “Ser ou não ser, eis a questão: Será mais nobre em nosso espírito
sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja. Ou insurgir-nos
contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer. dormir: não mais”.
– O que tem a ver tudo isto com o que escrevo? Quem sabe nada a ver com minhas
implicâncias atuais. Dizem que velhos são assim mesmo. Chatos, um pé no saco,
implicantes. Mas ponham-se no meu lugar, vim de uma época de orgulho em tudo
que fazíamos no escotismo. Onde o respeito à cidadania, as nossas tradições, a
Lei Escoteira sempre se pautaram pela ética e o respeito. Claro, ética que
acreditávamos, pois hoje a ética é vista de outra forma. Criam-se tantas coisas
a bel prazer de um e de outro. Em nome de uma liberdade que não poderia existir
modificam-se normas estatutárias que para mim não passam de ilusões de
megalomania. Entendam isto não podia ser decisões de poucos. Todos os adultos
deveriam estar envolvidos. Impossível? Impossível para quem não quer ouvir
opiniões.
Todos os estados já têm seus
novos eleitos para um novo mandato. Sempre a situação. Eram os melhores? Pode
ser. Pode não ser. Comentários pipocam de norte a sul. Muitos acreditando em mudança. Sei não. Eu
sou igual a São Tomé, tenho de ver para crer. Vou falar francamente. Não gosto
de meias verdades. Estão prometendo muito. Talvez por que estão sendo cobrados
por muitos. Mas sinceridade? Eu não faria assim. Não faria porque vejo o
escotismo de uma maneira simples sem complicar. Se tivesse que decidir seria de
outra maneira. Nada de burocracia. O Grupo Escoteiro se tornou uma empresa. Bom
isto? Também não sei. São cursos para tudo. Aquela leveza, simplicidade do
passado acabou. Precisamos hoje de uma parafernália para sermos felizes pra
sempre. Mentira? Veja abaixo:
Certidão de Busca para inscrição no
município; Pagamento das taxas
pertinentes no próprio cartório. Estatuto Social em 03 vias; Proceder o
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica na Secretaria da Receita Federal
e alvará de licença - corpo de bombeiros.
Tem mais? Putz grila! E os cursos para aprender a manusear o tal de SIGUE? Deus
me livre. Nunca ouvi falar disto, mas olhe, em nome do moderno até aceito.
Acho interessante. Na maioria
dos países com associações escoteiras, não se vê chefes inventando nada. Os
uniformes são iguais de norte a sul salvo locais mais frios que usam calças
compridas e magas também compridas. Aqui? Virou bagunça. Desculpem meus amigos
mais chegados por falar assim. Um dirigente diz – Usem calça azul curta meia
branca curtinha. Bah! E lá estão membros da direção e da equipe de formação
usando. Não digo que estão errados nada disto. Foi implantado por dirigentes
que adoram inventar. E os chapéus? ”É de tirar o chapéu”! Até nas cantinas dos
“come quietos” agora são vendidos. Eles pululam nestas atividades de fazer
caixa (camporees, ajuris, aventuras e etc) Olhe, não fique bravo comigo. Já disse.
Sou um chato de galocha. Mas sabem me dá nos nervos ver dirigentes nacionais ou
regionais de camiseta amarela, branca, azul seja lá o que for com o lenço. Agora
tudo muda. Tem novo uniforme ou traje como se diz. Não vejo diferença em um e
outro. Você pode escolher. São mais de 10 modelos. Pode? Mas eu pergunto isto
existe em pais sério? Pode até ser que tem alguns que imitaram jovens em
jamborees e isto foi passando de mão em mão. Mas são minorias. E diziam que
seria bom para os mais pobres. Pobres? Quem usa mais são os ricos.
Não sei se aprenderam alguma
coisa do passado. Claro que sei que muitos são da nova geração. A geração que
acha que pode tudo e que tudo é certo para eles. Acho que nunca ouviram falar
de Garbo e Boa Ordem. Apresentação pessoal. Uniforme? O nome diz. Todos iguais.
Ainda bem que temos gente que guardou no peito a lembrança do orgulho escoteiro.
Souberam adaptar a modernidade sem esquecer o passado. Mantem viva a memoria
Escoteira com orgulho. Ainda lembro-me do surgimento do outro uniforme. Calça
cinza chumbo, camisa azul mescla. – Nas atividades nacionais, ou no próprio
Grupo Escoteiro o dirigente da atividade dizia – Chefes, o uniforme nesta
atividade será o social ou o caqui. Eu mesmo dirigi cursos onde se determinava
qual uniforme para a atividade. Hoje? Cada um se apresenta como quer. Uma
parafernália de cores e tipos.
Acho o escotismo
tão simples, tão alegre, que as pessoas aborrecidas deveriam colocar o chapéu e
sair por aí recitando “Hasta La Vista Baby”. (risos sei que me enquadro nisto). Quanto vale um sorriso? De graça
para um Escoteiro. Um aperto de mão? Um orgulho de apertar a mão de alguém. E o
Sempre Alerta? Questão de honra em ser o primeiro a dizer. Hoje? Não sei. Falo
mais para os adultos e meu Deus como temos espalhados por aí tantos e tantos se
pavoneando. Dizendo estarem no caminho para o sucesso. Quem sabe estão mesmo? E
olhem, dou boas risadas numa charge que existia no passado – “E ainda dizem que
somos um movimento organizado e uniformizado” – Época do Escoteiro Chefe Arthur
Basbaum. Foi um orgulho para mim apertar sua mão. E seu uniforme? De cair o
queixo.
Mas os tempos são outros. As
forjas da vida não temperam mais o aço que um dia forjaram escotistas
dirigentes desta estirpe. Arthur Basbaum, Benjamim Sodré, Darcy Malta, Floriano
de Paula escoteiros chefes que dava gosto olhar, aprender e cumprimentar. Sem
desmerecer muitos que hoje primam pela sua honradez, caráter e ética e claro
tem sua maneira de pensar, eu ainda me bato pela cidadania, do garbo e da
apresentação. Não importa qual uniforme. Mas que seja um ou dois e que os
chefes sirvam de exemplos para os jovens e outros chefes que virão. Esta barafunda
de hoje joga por terra todo um trabalho realizado por aqueles que primavam pela
apresentação.
E viva os novos eleitos. Vamos
dar um voto de confiança. Afinal isto nunca aconteceu. É uma luz no fim do
túnel. Enquanto isto me deixem embarcar na Enterprise. Vou por aí onde ninguém
esteve. Data estelar? Não sei. Espaço?
Que seja a fronteira final. Estas são as viagens de um "Velho" Chefe
Escoteiro chato de galocha a bordo da
nave estelar Enterprise. Em sua missão de muitos anos... Para explorar
novos mundos... Novas regiões escoteiras, nova Direção Nacional, novos
diretores regionais e nacionais e pesquisar novas vidas... Novas civilizações
escoteiras... Audaciosamente indo onde nenhum homem exceto Lord Baden Powell
jamais esteve.