Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 6 de setembro de 2014

Um fantástico desfile de Sete de Setembro.


Pátria Minha.
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vinicius de Moraes.

Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Um fantástico desfile de Sete de Setembro.

           Semana da Pátria. Sempre foi uma semana importante na vida de um Escoteiro. Quem um dia não sonhou em participar de um desfile? Mochilas cheias de capim, sem ninguém saber, mas pareciam carregadas das “coisas secretas” dos Escoteiros. E o bastão? Hoje sei que foi suprimido, mas naquela época... O Chefe dizia – Todos muito bem uniformizados, afinal vocês terão a cidade inteira observando e tirando conclusões. A gente olhava com orgulho o Pelotão das Bandeiras. Lindo de morrer. Eles colocavam os bastões sobre um cinto (talabarte) prezo ao pescoço, elas ficavam desfraldas todos de luvas brancas, sapatos engraxados, cintos polidos, chapéus de abas retas, ufa! Pose de herói!

          As reuniões de sábados continuavam como sempre, mas as terças e quintas eram dias de treinamento para o desfile. Sabíamos marchar com orgulho. A continência a autoridade era perfeita. E a banda? Ah! A banda! Linda de morrer. A melhor da cidade. O Grupo Escoteiro se orgulhava dela. Em cada instrumento uma bandeirola do Brasil e olhe todos afinados. O Mestre Munir tinha ensinado e todos sabiam o que fazer. Coitado de quem tocasse uma nota errada ou deixasse cair uma baqueta. Se o seu talabarte estivesse sujo ouvia poucas e boas claro, se não fosse defenestrado da banda. Mau exemplo para o público nunca! A ordem do desfile nunca mudou. Primeiro a Guarda de Honra das bandeiras. No meio a Nacional, à direita a do estado, a da esquerda da cidade. Atrás mais três a do grupo, do Clube onde funcionávamos e de vez em quando a da Igreja.

        A cidade em peso corria para ver os desfilantes. O Tiro de Guerra, um Batalhão da Policia Militar Grupos Escolares Colégios e claro os Escoteiros. Palmas e palmas. No palanque o Chefe do Grupo orgulhoso com suas estrelas de atividade brilhando. Quando saiamos da rua transversal, sempre na Frente o Pavilhão Nacional em seguida a banda, depois os lobos, os Escoteiros, os seniores e pais. Estes eram poucos, não mais do que vinte ou trinta. O trecho do desfile não era mais que oitocentos metros. A apoteose era em frente ao Palanque das autoridades e sempre fazíamos evoluções, malabarismo e nosso caminhão com a carroceria aberta estava lá à barraca armada, uma mesa e um fogão suspenso que na hora exata quando passava pelo palanque o café está sendo coado. Já tinha um Escoteiro preparado com uma bandeja, xicaras e ia servir o café para o Prefeito, O doutor Juiz, O padre, o delegado e o comandante militar e do exercito.

             Quando terminávamos sempre dávamos uma volta em algumas ruas. As famílias saiam de suas casas e vinham aplaudir. Ao chegar à sede, mesas cheias de salgados e você podia escolher: – Coxinha de galinha, bolinhos de carne, empadinhas da dona Armênia, croquete, bolinhos de bacalhau, pastei de carne, de queijo, pasteis de mandioca, e você ainda tinha suco de uva, de limão de groselha, de laranja todos naturais para sua escolha pessoal. Ainda não existiam os copos plásticos, mas todos tinham sua caneca guardava no almoxarifado do grupo. Em volta da mesa os comilões se regozijavam, cantavam, contavam causos e alguns sonhando. Sonhando com sua bela que lá foi para aplaudir e piscou um olho para ele. Piscada que nunca seria esquecida.

            Sete de Setembro. Sonhávamos o ano inteiro com ele. Uma época de amor à pátria, respeito à bandeira, cidadania levado ao extremo. Época em que nós meninos acreditávamos no brilhantismo de uma data, de lembrar-se de um Don Pedro I em seu cavalo branco mesmo que não seja a insurgir-se com Portugal. E antes de ir embora, um cerimonial de bandeira diferente. Ela já tinha sido hasteada antes pela patrulha de serviço. Todos formados. Cantamos com dignidade de um infante o hino Nacional, depois os lobinhos cantavam o da Bandeira e por último o grupo cantava orgulhosamente o Rataplã. Nunca esqueci. Os chefes vinham em fileira cumprimentar a cada um. – Parabéns lobinho/Escoteiro pela sua contribuição com a pátria. Sempre Alerta!

            E a gente saia da sede com os olhos brilhando e sonhando. Sonhando com um novo Sete de Setembro. Quanto tempo, quantos Sete de Setembro eu vivi. E hoje nas capitais não querem os lobos desfilando. Tem base a proibição, mas a culpa é de quem? Das autoridades que deixam os meninos por último enquanto os fortes e guapos rapazes da pátria vão primeiro. Mas a vida é assim mesmo, o moderno está aí e as mudanças não param de acontecer. Viva o Sete de Setembro. Para ele o meu amor.


Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
 “Pátria minha, saudades de quem te ama”...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Seria um Grupo Escoteiro padrão?


Conversa ao pé do fogo.
Seria um Grupo Escoteiro padrão?

                    Acabava de chegar àquela cidade e quando desci do taxi em frente ao hotel, surgiu não sei de onde um Escoteiro sênior e foi logo pegando minhas malas, sorrindo, e dizendo: Deixe que eu leve. Fiquei assim sem jeito e ele completou: - Ainda não fiz minha boa ação hoje e além do mais sou o Gerente do Hotel. - Santa Cecília! Falar o que? Adentramos ao hotel e na recepção ele me deu as boas vindas e pediu desculpas, pois tinha de ir para a reunião do seu Grupo Escoteiro. Já ia dizer a ele que também era Escoteiro quando ele se dirigiu a outro Senhor, mais velho e grisalho, também impecavelmente de uniforme caqui com chapelão. Saíram sorridentes se cumprimentando e desapareceram na porta do hotel. Intrigado eu perguntei a recepcionista quem eram. Ela sorridente me disse que o Senhor Martinho era gerente do hotel e Chefe de tropa Escoteira. O outro o Senhor Nando, Juiz de Direito na cidade e membro da diretoria do Grupo Escoteiro. Mas eles vão sempre de uniforme para a sede? - Claro! Ela disse. Afinal aqui todos conhecem o escotismo pelo seu valor, pelo seu histórico e claro pelo seu uniforme e a comunidade tem grande respeito por eles.

                  - Santa Marcelina! Eu tinha de conhecer de perto e melhor tudo aquilo. Deixe que me apresente, sou Engenheiro de Máquinas, represento uma empresa que dá manutenção e estava ali na cidade a serviço. Nas horas vagas também era Chefe Escoteiro de uma tropa Sênior (Assistente) e o escotismo era um dos meus amores que junto a minha filha e esposa me completavam. Corri até o meu quarto e logo estava com o meu uniforme. Tinha de me apresentar. Caramba! Estava com o social somente. Não tinha levado o caqui. Desci e perguntei onde pegaria um taxi. – Tem um ali na porta, Senhor, ela respondeu sorrindo para mim, pois descobrira que eu também participava desta grande fraternidade. Entrei no taxi e pedi que me levasse ao Grupo Escoteiro da cidade. – Olhe Senhor, disse o taxista, é ali na esquina – Está vendo? Se quiser o levo, mas é só atravessar a rua. Veja quantos meninos e meninas estão chegando! E sorriu. Desci agradeci e logo estava na porta. Cheguei bem na hora do cerimonial. Viram-me, dois chefes vieram até a mim, apertaram minha mão esquerda efusivamente, me deram as boas vindas e me convidaram para participar na ferradura.

                   Não vou entrar em detalhes, pois a história é longa. Era um grupo modesto, duas alcateias, uma masculina e uma feminina. Duas tropas, uma masculina e outra feminina. Uma tropa Sênior mista. Três patrulhas. Fui até a sede conhecer. Perfeita. Não era própria, era em um Colégio do Estado. – Fui apresentado a Diretoria. Três deles e mais cinco pais presentes sendo que um deles era uma mãe e Diretora do Colégio. Todos de uniforme caqui. Quem me contou o histórico do grupo foi o Presidente. Olhe Chefe começamos com poucos. Nada de correria, nada de querer ser além do que pretendemos. O Chefe Martinho tinha sido Escoteiro quando jovem e assim também o Senhor Nando nosso Juiz de Direito que foi o idealizador do grupo. O Chefe Martinho ficou três meses só com oitos jovens. Eles hoje são os Monitores e subs. Ele fez antes um curso Escoteiro na capital. A fila de espera foi crescendo à medida que os jovens da cidade viram a movimentação dos jovens no grupo, pois eles sempre estão em atividade no campo.

                 Não tinha segredo. Tudo foi feito com alguns no começo e hoje todas as sessões estão completas. Temos uma lista de espera de mais de quarenta jovens. Já conversamos com a Região de fazer outro grupo aqui na cidade, mas ainda não levaram a ideia adiante. Fiquei ali olhando a movimentação da Alcatéia e das tropas. Perfeitas. Uma amizade incrível entre os jovens. Patrulhas e Matilhas completas. Chefes fazendo um perfeito sistema de patrulhas. Todos vibrando. A Alcatéia parecia estar o tempo todo vivendo a mística da Jângal. – Alguém chegou até a mim. – Sempre Alerta Chefe. A tropa Sênior e guias convidam o Senhor para participar do nosso Conselho de Tropa. - Santo Agostinho! Falar mais o que? Fiquei ali assistindo e participando naquele grupo modelo. Ao final da reunião o Chefe pediu desculpas, pois hoje fariam um Conselho de Chefes do Grupo para discutirem alguns pormenores, ver como estão sendo cumpridas a programação e ouvir o que os chefes têm a dizer do desenvolvimento de suas tropas. Caso eu quisesse, poderia assistir e claro, dar minhas opiniões. Eu também estava convidado para participar de um coquetel dançante na Casa da Akelá à noite. Sempre fazemos assim quinzenalmente em rodízio.

              - Santa Madalena! Fiquei sem palavras. Vi ali um grupo que poucos ainda preocuparam em ser. Faziam questão de tudo para que nada pudesse se perder naquela família Escoteira. Tinham oito anos de atividade. As patrulhas estavam juntas e dificilmente alguém saia e isto facilitava no desenvolvimento da equipe, cujos Monitores tinham um alto grau de conhecimento. No dia seguinte fui até a fábrica olhar as máquinas. Fiquei lá umas cinco horas. Quando terminei a manutenção fui convidado a conversar com os diretores. Cheguei quando estava terminando uma reunião com um jovem de uniforme, impecável, um porte executivo e ele agradecendo pela acolhida. Perguntei ao Diretor o que houve – Há tempos vem pedindo para ser recebido. Uma proposta para sermos sócios do grupo. Uma pequena quantia anual. Sabemos do valor do escotismo. Este jovem que é um profissional Escoteiro do Grupo nos mostrou onde poderíamos ganhar no futuro, com jovens aprendendo ética, honra liderança, respeito e disciplina. Ele tem feito este trabalho no comércio e muitas fábricas aqui da cidade. 


                Santa Bárbara! Era um sonho? Não era não. Era uma realidade. Inveja não é próprio de escoteiros. Mas vi que a perfeição existe. Podemos chamar de perfeito sem sombra de dúvida aquele Grupo Escoteiro Padrão. Que Santa Edwiges me proteja. Utopia? Uma fantasia? Ou será que visitei a cidade dos sonhos, ou melhor, Xangri-lá? Bem, acreditem se quiser. Mas este grupo escoteiro existe. Quem sabe é o seu? - Santo Antonio! São Judas Tadeu! 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O "Velho" e saudoso bastão Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
O "Velho" e saudoso bastão Escoteiro.

                      Tenho lido aqui comentários a respeito do bastão Escoteiro. Interessante. Já há tempos foi abolido. Quem comenta mais são os saudosistas. Eu entre eles. Agora que não existe mais ainda bem que sobrou o bastão da Patrulha, claro sem ele como usar totem? Tenho receio que também vão aboli-lo. Eles fazem tantas coisas que não duvido nada. Não digo que não usaria de novo. Mas porque não? Para dizer a verdade eu usaria sim. Mas concordo com o que dizem. Um trambolho para levar e trazer do acampamento e muitos que não estão acostumados irão esquecê-lo em qualquer encruzilhada de uma aventura, acampamento, ou seja, lá o que for. Sei que outros dizem ser ele um instrumento agressivo e militarizado. É possível, pois eu mesmo já quis dar umas bastonadas na cabeça de alguns dirigentes. Brincando, sou um Escoteiro de paz. Risos. Mas meus amigos, sempre disse que tudo é uma questão de costume. Hábito de comportamento. Eu quando jovem nunca fiquei sem o meu. Eu mesmo o fiz. Calmamente sem pressa. Escolhi de um pé de goiabeira e ele durou muitos anos. Mesmo passando para os seniores eu ainda o usava, apesar de que nesta sessão praticamente ninguém nunca o usou. A Patrulha sabia reconhecer um bom bastão escoteiro. Ele contava a história de seu dono. Seu tempo de atividade, seu crescimento técnico, suas etapas, seus acampamentos. Mil coisas. Lembro que até o meu Insígnia de Escoteiros todos os alunos ainda usavam o bastão.

                     Mas o bastão queira ou não tinha mil e uma utilidades. Abrir picadas em matas, se defender de animais peçonhentos, e olhe importantíssimo em trilhas desfeitas para fazer barulho e espantar alguma cobra no caminho. Elas correm com o barulho. Ele era imprescindível em jogos, serviam como escada para elevar um Escoteiro em uma árvore alta, na montagem de campo e claro nunca esquecer suas mil e uma utilidades nos casos de emergências: - Uma torção do pé, alguma dor na coxa e se necessário se transformar em uma maca rapidamente com duas camisas. Sabe o que fazia nos Grupos Escoteiros que dei minha colaboração? Todos quando chegavam ao campo faziam seu bastão Escoteiro e ficavam com ele durante toda a duração do acampamento. Fácil de fazer. Medidas? Altura até o ombro, uma circunferência do dedo indicador e polegar em forma de O, e pronto você tem seu bastão escoteiro. Escolher uma madeira boa nem sempre é possível. Mas você deve lembrar aos escoteiros que ele deve aguentar seu peso, e não deve ser pesado para que fique fácil seu manuseio. Dependendo do bambu ele pode ser usado sem sombra de dúvida. Claro que ao terminar o acampamento ele seria descartado.

                    Muitos não gostavam. Escolheram tanto e agora jogar fora? Não dava para pegar ônibus urbano, mochila, sacos de intendência e bastão. Mas sempre dávamos um jeito. Lembro-me que qualquer Escoteiro sabia como usar. Quando estavam em forma, em posição de alerta (sentido), descansar ou saudando a chefia e a bandeira e andar em marcha de estrada. Até hoje gosto de ver um Monitor ou sub. passando o bastão para o outro. Uma cerimonia linda e que todos orgulhavam. Não sem se ainda fazem assim. Mudou-se tanto! E quer saber? É incrivelmente ante escoteiro arrastar o bastão em marcha de estrada ou na sede.

                Mas convenhamos que hoje ele seja supérfluo. Quem o dispensou eu não sei, mas devem ter feito uma grande pesquisa nacional com os escoteiros para acabar com ele. Nossos dirigentes sempre fazem quando querem mudar. E penso que todos concordaram. Aos poucos vão retirando muitas coisas do nosso passado. Acredito que os jovens agora pensam de maneira diferente. Tenho que concordar. Para que bastão se a mão está ocupada com um celular ou um laptop? Nossos dirigentes devem saber o que fazem. Mas acreditem, quando vejo uma foto de outros países ou mesmo aqui do nosso, onde os meninos estão de bastão fico orgulhoso. Dei boas gargalhadas quando alguém me disse que BP colocou o bastão para lembrar o fuzil do exército, pois ele sempre viu todos como futuros soldadinhos. Risos. Dizem tanto sobre BP. Meu amigo BP! Falam tanto sobre ele que até esqueço se foi verdade mesmo que existiu. Com os novos Baden Powell que existem por aí a modernidade vai superar o passado sem sombra de dúvida. Acredito que estes em breve serão aclamados por todo o território nacional como os precursores de um escotismo moderno. Viva os novos Baden Powell da liderança nacional. Sem sombra de dúvidas eles são mais modernos mais atuais. Fazendo um escotismo forte e vigoroso. Orgulho da nova geração. E serão lembrados para sempre!


                Um dia vou por aí a vaguear e se achar um belo bastão e eu o trarei comigo. O meu não tenho mais. E este se achar vai ficar em lugar de honra em minha casa. Irei colocar nele tudo que fiz e que ganhei na minha vida Escoteira. Mas isto não deve interessar a ninguém. Não mesmo. Existem outras situações mais importantes para preocuparem. É melhor deixar com os antigos as recordações. São coisas de “Velhos” escoteiros rabugentos e suas manias. Risos.