Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 28 de abril de 2012

Sonhar é bom e não custa nada!



Sonhar é bom e não custa nada!

Estou sempre sonhando a qualquer hora ou qualquer tempo. Com eles fico pensando e pensando muito. Mas quem sabe meus sonhos não fazem parte do meu pensamento perdido por aí? Sonhos. Pensar. Realizar. Três coisas distintas e quem sabe significando uma só. Muitas vezes sonhamos dormindo. Estes sonhos nem sempre são bons. Já sonhei com tantos números e nunca ganhei nada com eles (e jogava de vez em quando). Mas sabe o melhor sonho? Sonhar acordado! Isto mesmo. Você é quem define o que vai sonhar.
Lembro-me e nunca me esqueço de sonhos que tive quando era menino, quando sonhei no dia que ira entrar como lobinho. No dia que sonhei com minha promessa e no dia que sonhei quando ia ser escoteiro. Sonhava e muitas vezes dormia com meus sonhos. E no outro dia eles aconteciam! Formidável! Aí era sonho acordado. Vendo que eles valeram a pena. Tem sonhos que a gente não esquece. Aquele do acampamento que tanto se comentou e você fica dias e dias esperando chegar a hora. Quando o dia chega você nem dorme direito a esperar a hora de partida.
Tem aquele outro que você sonhou em fazer uma boa ação inesquecível. Como seria? Você fica ali sentando ou deitado na cama sonhando acordado. E assim os sonhos eram sonhados e iam acontecendo. Olhem a vida Escoteira é simplesmente formidável para sonhar e realizar. Em minha cidade tinha uma montanha muito alta. Alta mesmo. Sempre sonhava em ir lá. Todos diziam ser perigoso. Sonhei com a subida muitos anos. Um dia ao passar para os seniores combinamos de ir lá. Hoje não aconselho, pois realmente é um lugar perigoso. Mas meu sonho aconteceu. Foi fantástica a jornada a montanha dos meus sonhos.
A gente vai crescendo e dizem que os adultos não sonham. Tem os pês no chão. Eu não. Sempre sonhei. Quando fiz o meu primeiro curso Escoteiro, lá por volta de 62, fiquei sonhando um mês antes do curso. Depois sonhei durante a viagem de trem mais de 18 hs e finalmente a cada dia vivido ali com amigos da Patrulha. Toda noite eu sonhava. E meu insígnia então? Imaginem quanto sonhei. E finalmente ao enviar meu “caderno” sonhava em receber de volta com uma cartinha. Parabéns! Estamos nomeando um observador para ver se você é capaz de colocar este lenço no pescoço! E quando me deram ao lenço, ai meu Deus! Que sonho maravilhoso!
É. Quantos sonhos aconteceram. Sonhos de jamborees, de Acampamentos nacionais, internacionais, mas já adulto organizei um belo sonho. Quando conseguimos uma medalha (Medalha de valor ouro) post mortem para Caio Vianna Martins e entregar ao seu irmão na cidade onde nasceu. Foi um sonho maravilhoso e melhor ainda, consegui cumprimentar seu irmão que lá estava para receber a medalha em nome do nosso herói menino. Sonhar! Sonhar acordado e ver seu sonho realizado. E imaginem um sonho de dar o meu primeiro curso Escoteiro em minha vida? Como seria? Sim, já havia participado como assistente em outros, mas agora não, eu era o responsável.
Foram muitos sonhos acordado. E melhor ainda se ao sonhar eu dormisse. Aí sim, a realidade se misturava com a ficção de saber que tudo podia ser realizado. Vou contar a vocês uma verdade. Ainda sonho até hoje. Tem sonhos que não vou contar aqui (nada que denigra minha Lei Escoteira) e nem tampouco em ganhar na loto. Não sonho em ser rico. Já o sou com tantos amigos que fiz na minha vida Escoteira. Nesta idade não preciso mais de riqueza e melhor, nunca precisei, pois meus maiores sonhos foram realizados de forma simples sem precisar de dois ou três tostões a mais.
Um dia vou para o outro lado. Não sei como é, ou melhor, leio sobre isto. Mas se for possível lá também eu vou sonhar. Terei sonhos maravilhosos em aumentar meu número de amigos, de rever outros que foram na minha frente e poder beijar minha mãe, meu pai, minha irmã e tantos parentes que ainda acho estão lá.  E quero sempre procurar um jardim (dizem que os de lá são lindos, perfumados e as flores são inimagináveis para nós aqui nesta terra venturosa). E neste jardim vou sentar em um banco qualquer, aspirar o perfume das flores e sonhar... Vão ser sonhos que nunca irei esquecer em toda minha senda imortal.
Não deixem de sonhar. Sonhem muito. Façam eles se tornarem realidade!  

Melhor falar ou calar?



Melhor falar ou calar?

Ontem recebi um e-mail. Dizia: - Senhor Osvaldo, gosto de suas publicações no facebook. Já vi outras em seus blogs, mas sabe, tem muito ali que não concordo. O senhor não sabe como é o escotismo hoje. Tudo mudou. A educação do jovem já não é a mesma. Claro não podíamos continuar vinculados ao passado. Tudo está evoluindo e o escotismo tem de acompanhar esta evolução. Achei interessante sua maneira franca. Queria saber se o "Chefe" que me enviou tal e-mail viu os resultados do escotismo moderno. Poderia enumerar mil observações. Preferi me abster. Mas uma só queria colocar e não coloquei. – Amigo! Espero que você tenha ajudado nas reformulações. Espero mesmo que esteja acompanhando e discutindo os resultados.
É. Tem muito a ser visto. Mas é fácil dizer: - Escotismo moderno. Acompanhar a evolução dos tempos. Mas quem está criando tudo isto? Você? E não me diga que tem os órgãos para que possamos sugerir e participar. Eu os conheço todos. Mas já falei sobre isto. Falar de novo? Não. Chega. Agora vou falar de outro assunto. Bem melhor. Vou falar de alguns que ainda insistem em me mandar e-mails contando suas agruras no grupo de origem. Claro, são poucos. Mas esses poucos representam muitos.
Vejamos um deles. "Chefe"! No grupo que participo os chefes colocam cada tipo de cobertura que não esta no “gibi”. Pergunto a eles se está no POR. Nem me dão “bola”. Insisto – Olhe se você der este exemplo veja a tropa, ela vai te seguir! Ele apenas ri e diz que não me deve satisfações! Procuro o Diretor Técnico. Difícil dialogar com este. Olhe "Chefe" estou pensando em ir para outro grupo. Não tenho ambiente mais lá. E olhe que eles reclamam a falta de chefes!
Agora outro e-mail – "Chefe"! Como fazer para que haja mais sorriso no grupo que colaboro? Quando chega alguém o Diretor Técnico ou outro "Chefe" querem mostrar que são os tais. São todos “posudos”. Tem um que tem três tacos e olhe, parece que BP foi seu aluno. Só fala com a gente como se estivesse dando uma palestra. Ele, o sabe tudo. Quando levo alguém para ajudar no grupo ele desanima logo. Pede-me desculpas, mas não gostou do que viu. E na tropa que ajudo? O titular nem dá bola, trata os assistentes como se nós estivemos ali de favor. Risos.
Mais uma pérola de e-mail recebido. Chefe – Tenho lido e feito alguns cursos, mas não consigo por em execução minhas ideias. Outro dia li que o senhor disse que sempre tem aqueles donos de tudo. Meu grupo, minha tropa, meus escoteiros, meus lobinhos e por aí vai. No grupo em que ajudo é assim também. E a Lei Escoteira? A começar dos chefes é palavrão por todo lado. Eu queria fazer um bom acampamento nos moldes de Gilwell (aprende em um cursos), mas não deixaram. Foram para uma atividade do Distrito alguns e outros para um tal Encontrão. Os que não puderam pagar ficaram na sede. Isto é escotismo "Chefe"?
Fico rindo comigo mesmo. Escotismo moderno. Bons tempos àqueles que quando recebíamos alguém na sede faltava pouco a gente carregá-lo. E se viesse de outra cidade? Uma briga para ver quem o levava para sua casa. Ficávamos horas em nossas casas falando de escotismo. Bons tempos. Ops! Desculpe, hoje é escotismo moderno. É. Bons tempos mesmo. Tempos em que o respeito, o cumprimento da Lei era olhado de outra maneira. Tempos em que nos abraçávamos e era uma verdadeira festa o nosso encontro. Ainda lembro-me das nossas atividades intergrupos. Duzentos trezentos em uma confraternização que marcava. Uma fraternidade sem igual. Sem interesses. E cada um mais elegante no uniforme que o outro. Fazendo escotismo sério, amigo, fraterno e com respeito. Bons tempos.
Mas sou sincero quando digo que desejo que todos os de hoje, daqui a quarenta ou cinquenta anos ainda estejam aqui para dizer o que digo sempre, afinal foram 65 anos “participando, fazendo ou falando de escotismo”. Bons tempos. Deu certo. Juro que deu. Provei a mim mesmo que o escotismo venceu. E nem precisei sugerir. Meus chefes fizeram tudo para mim. Sempre esperei que tudo desse certo e deu. Não me dei ao trabalho de fazer nada. Só trabalhei em “minha” tropa. Como gostaria de ver aquele "Velho" Escoteiro chato e metido de novo. Dizer a ele – Está vendo? Você achou que só seus velhos tempos valeram? Mas esqueceu de ficar vivo até hoje para ver o meu! Risos. 

Olá Moço, desculpe, mas não posso aceitar!



Olá Moço, desculpe, mas não posso aceitar!

Obrigado pelo convite. Sei que ele é sincero. Sabe, eu tenho pensado sobre isso. Já tive outros que disseram que eu devia participar. Mas confesso que estou em dúvida. Por quê? Olhe um dia no passado eu tinha um caderno, meu pai comprou para mim. Um lindo caderno. Mas a capa! Oh! Moço. A capa era linda. Muitos escoteiros em uma montanha, bem perto do céu, com uma linda bandeira do Brasil desfraldada. Era incrível Moço! A “coisa” mais linda que tinha visto.
Pensei logo em ser um deles. Já pensou? Um dia eu lá com aquele lindo uniforme, com aquele chapéu “bacana”, correndo pelas campinas com a minha querida bandeira do Brasil desfraldada ao vento? Pois é Moço. Eu queria mesmo ser um deles. Pensava e sonhava com grandes aventuras, sabe Moço. Dormir numa barraca? Era meu sonho Moço. Lá na floresta bem longe da civilização. Olhe Moço, queria ouvir o cantar da passarada e tomar um banho gelado na cascata. Acredite Moço, queria ver os peixes, ouvir a voz do vento, sentir o cheiro da terra que aqui na cidade não tem. 
Então Moço, eu ia sorrir, gritar e cantar com minha Patrulha, e sabe mais? Eu ia usar a minha machadinha que iria comprar, queria mesmo construir belas construções que vocês dizem ser pioneirias. Queria com meus amigos fazer um jogo cheio de aventuras, quem sabe a busca do Tesouro? Assisti a tantos filmes que pensava que seria maravilhoso encontrar enterrado na encosta do morro do Papagaio um tesouro que foi escondido a muitos e muitos anos na gruta do Pirata.
Pois é Moço, um amigo me contou que a noite eles acendem uma fogueira, que cantam que riem que olham para o céu e sabem de cor todas as constelações. Quando ele dizia isso eu vibrava. Mas Moço, não foi isso que encontrei. Não foi mesmo. Meu pai me levou um dia a um Grupo Escoteiro. Moço, Moço, foi triste. Nem apresentado aos outros eu fui. Jogaram-me em uma Patrulha. Não fui bem recebido. Mas Moço foi triste mesmo. Só o "Chefe" Escoteiro falava. Ninguém dizia nada. O tempo todo o "Chefe" Escoteiro dizendo, faça isso faça aquilo.
Aí Moço eu fiquei mais triste ainda. Levavam-me para a cidade desfilar, plantar árvores, ir em atividades que não me agradavam. O pior Moço é que o uniforme que sonhei ficou na terra do nunca. Deram-me um lenço Moço. Um lenço. E o chapéu? Aquela calça caqui e a camisa?  E o cinto de couro? Não Moço não era mesmo o que sonhei. Tudo bem Moço. Podíamos sim fazer isso se tivesse as outras coisas que sonhei um dia encontrar ali. Olhe Moço, eu queria mesmo aprender sinais de pista, sinais de longas distancias, queria aprender dezenas de nós. Queria mesmo aprender a usar o facão, a armar sozinho a barraca, mas veja o Monitor não deixava. Era ele quem fazia tudo quando o "Chefe" Escoteiro não estava junto.
Então Moço resolvi não ficar mais lá. Moço, foi difícil tomar esta decisão. Fiquei somente seis meses e olhe que muitos que entraram comigo e depois de mim também saíram. Neste tempo Moço só tive um acampamento. E o pior Moço. Perto de muitas casas. Foi ruim mesmo. Não fizemos nada. Alguns pais faziam tudo. Bem gostei do tal jogo da lama, mas sempre o mesmo moço. Sabe moço, se o "Chefe" Escoteiro tivesse me perguntado eu diria para ele o que eu queria encontrar quando entrei na Patrulha. Diria para ele o que sonhava. Em ir a um acampamento de verdade. Mas ele Moço nunca me perguntou. Era ele quem decidia tudo. Triste, muito triste Moço.
Obrigado mesmo Moço. Sei que seu convite é sincero. Mas agradeço. Não dá mesmo Moço. Até meus amigos de turma do bairro dão risadas quando falamos em ser escoteiros. Eles dizem que seus programas são melhores e quem sabe são mesmo Moço? Olhe, estamos juntos com a turma há muitos anos. Só o Neném que foi embora da cidade não está lá mais. E sabe Moço? Lá não tem chefes!
Quem sabe Moço quando crescer eu mesmo vou ser um "Chefe" Escoteiro? Aí Moço eu vou deixar que os meninos que ali entrarem encontrem seus sonhos que fizeram quando resolveram participar. Moço, eu vou deixar eles decidirem quase tudo. Vou mostrar a eles a capa do meu caderno que guardo até hoje e dizer: Podem sorrir turma, agora é para valer! Segurem nossa bandeira, desfraldem-na contra o vento, pois vamos para o nosso acampamento e lá vamos viver mil aventuras!
Obrigado mesmo Moço. Desejo tudo de bom para o senhor. Quero acreditar que outros meninos vão aceitar seu convite, mas eu Moço, não posso. Infelizmente são diferentes dos meus sonhos e olhe moço, não fique triste, seja feliz e aceite o meu Sempre Alerta, de um menino triste que foi Escoteiro por seis meses e não encontrou a felicidade dos seus sonhos! Adeus, adeus Moço!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ei você! Quer fazer uma viagem ao passado? Conhecer como era o escotismo?



Ei você! Quer fazer uma viagem ao passado?
Conhecer como era o escotismo?

Não sei se foi você. Acho que não. Foi alguém que me perguntou como era o escotismo no passado. Não soube responder na hora. A cabeça do "Velho" Escoteiro já não anda a toda. Mas vamos lá. Encilhe seu cavalo, escolha uma “sela” macia, olhe, veja se ela foi engraxada varias vezes. Se não o couro pode estar ressequido e quem sabe partir e você pode cair. Mas estou dizendo isso para que? Você é experiente. Já fez muitos cursos. Teve um assessor dos melhores que lhe mostrou o caminho para o sucesso.
Mas vamos lá. A cavalo será mais fácil. Iremos pegar aquela trilha ali na mata do Saci. Não conhece? Era onde acampávamos muito. Não espere grande coisa. Mas quem sabe estaremos lá. Alí está o nosso campo de patrulha. Duas barracas de duas lonas cada uma, cabem bem dois escoteiros, mas dormimos em três. O que? No chão duro? Claro, veja ela está forrada de capim e por cima folhas de bananeira. Não precisamos de muita maciez para dormir. Temos de fazer uma pequena valeta em volta. De uns vinte centímetros para evitar água de chuva na barraca à noite. Aquilo? Estamos construindo uma barraca suspensa e lá na virada da trilha é o WC. Bonito não? Não gostou da mesa? Mas é rústica, cabe toda a patrulha sentada. E veja o conforto, tem até lugar para colocar os pés. Água no campo? Claro, de bambu. Trouxemos da cascata próxima.
Alí perto daquela árvore você vai ver o fogão suspenso. Bonito não? E o cozinheiro e o aguadeiro que resolveram fazer um forno por baixo? Claro, eles fizeram. Já comemos bolinhos de queijo que o danado produziu. Ali está a fossa de detrito e liquido. Muito bem cuidadas para não deixar mosquitos aproximarem-se. Tem tampa! Observe! Abrimos com os pés. Risos. Não entendeu as roupas penduradas? Uma das nossas manias. Todas às tardes lavamos o corpo e as roupas. Elas são esticadas entre dois galhos para quando secarem ficarem parcialmente passadas. Está rindo? Mas sempre foi assim no passado.
E veja, ali está o lenheiro, o aguadeiro, e o cepo onde colocamos as ferramentas de corte. O cozinheiro fez até um armário com galhos secos para colocar as canecas e os pratos. Veja a perfeição do garfeiro. Boa não? E ali naquela cabaninha é a nossa intendência. Tudo lá fica muito bem acondicionado. O que? Onde estão todos? Fomos explorar uma caverna lá no morro da Onça Parda.  Dizem que lá tem ouro. Risos. Não sei. Mas vamos voltar à tardinha. Não a pressa. Nosso acampamento conforme está vendo não tem "Chefe". Claro, ele nos adestrou muito e aqui na Patrulha o mais novo tem dois anos de atividade sem contar o tempo de lobinho.
Tudo bem, se voltar comigo aqui no mês que vem, a tropa toda vai estar presente. Então vai ver o “salseiro”. É um corre de meninos para lá e para cá. Os jogos são formidáveis. Fizemos um o ano passado que demorou dois dias. Risos. Não acredita? Bem, vamos continuar nossa visita ao passado Escoteiro. Agora vamos à sede. Olhe não esqueça lá no campo no passado andávamos sempre com o uniforme Escoteiro. E impecavelmente bem trajados. Afinal ele não foi feito para isto? De brim amigo. Considerado um pano indestrutível!
Chegamos. Aqui é nossa sede. Humilde, muito simples. Lá dentro só cabem os materiais das patrulhas e da alcateia. Tudo muito bem cuidado. Cada Patrulha tem um baú. Aquele ali olhe bem nos lados tem alça para levarmos com bastões. Todas as patrulhas tem a carrocinha, mas como não cabem aqui na sede, alguém na Patrulha se prontificou a guardar em sua casa. Alí ao lado é a sala do "Chefe" do Grupo. Pequena, é só para ele receber os pais. Claro, nesta época ainda não tínhamos o tal congresso, assembleia ou Conselho de grupo. Veja, estamos em 1950. Claro, muitos anos depois que o escotismo veio para o Brasil, mas aqui no interior ainda somos “matutos”.
Aquele ali é o "Chefe" veja ele conversa com os monitores e o outro lá do outro lado é o "Chefe" assistente. Está com as patrulhas fazendo um jogo. Hoje só três patrulhas. Uma foi acampar. Você viu. Risos. Agora preste atenção, veja o garbo no uniforme e veja o "Chefe" Escoteiro. Ele é impecável. Penacho verde no chapéu atrás do tope? Sim, identifica o "Chefe" de tropa Escoteira. Se fosse "Chefe" de lobinhos era penacho amarelo e se fosse Sênior era marrom. Verde e amarelo? Claro, é o "Chefe" de grupo. Se aparecer alguém com penacho azul pode crer que é um dirigente distrital ou regional, mas aqui? Nunca aparecem. Sim? As Jarreteiras? Só os chefes usam quando nas solenidades.
Alí estão os lobinhos, uma turma sorridente. Claro veja que eles são “craques” para formar. Olha os primos. Exigentes não? Levam a sério formatura. Veja o garbo! A Akelá que você está vendo veste uniforme de brim azul. Nada do filme o Diabo veste Prada. Risos.  Ela tem um chapeuzinho azul. Um amor de pessoa. Diferente a reunião de lobinhos? Não se preocupe. A Akelá não fez curso. Aprendeu com a Akelá antiga. O grande uivo ainda é meio esquisito. Os lobinhos o consideram como uma mística séria e não brincam em serviço. Estão preparando um acampamento para sábado que vem. Vão a pé. Seis quilômetros. Levarão tudo na mochila, duas Patrulha emprestaram a eles suas carrocinhas.
Sabe, os distintivos de matilha e de Patrulha são feitos por eles mesmos. O lenço e o uniforme também. Sempre tem uma mãe que ajuda e é costureira. Temos sim a mensalidade. Dois reais. Pago pelo lobinho ou Escoteiro que ganhou com o próprio suor. E olhe, é ponto de honra pagar. Bem, tem muito mais, mas fica para uma próxima vez. Vou te apresentar a nossa Patrulha, O Monitor, o sub., o almoxarife, o intendente, o cozinheiro o aguadeiro, o socorrista e quem sabe o escriba. Ele escreve lindas atas. Se você ler uma vai conhecer tudo da Patrulha. Seus acampamentos, excursões, quem já pertenceu a ela, seus distintivos... Bem, por hoje chega, fica para uma próxima sua nova visita. Vamos devolver os cavalos e no outro dia, viremos de trem, ok? Sei que vai gostar. Até outro dia meu amigo!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Métodos e Programas do Escotismo



Quinto Fascículo

A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta. A democracia pode salvar o mundo,
Porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos.                                        
Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz!
- Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.
                             Baden Powell (BP)

Métodos e Programas do Escotismo

     Da varanda da casa do “Velho” e através da cerca de madeira "caiada" de branco, podíamos avistar a rua sem nenhum movimento. Aqui e ali, os vizinhos também procuravam às áreas frescas, pois fizera um calor insuportável naquela tarde de março. Agora, o sol estava se pondo no horizonte e uma brisa leve e fresca vinda do leste, soprava em nossa direção. A criançada aproveitara às benesses dos pais com seus olhos havidos ali presentes, para brincarem seus folguedos nos passeios e jardins, dando um colorido todo especial em nossa conversa que já se arrastara há horas.

     Era domingo e domingo era o dia em que passava minhas tardes com o “Velho”.  Minha esposa quase nunca participava, mas não me criticava pela presença. Ela também gostava do “Velho” e da Vovó. De vez em quando aparecia um ou outro amigo ou membro do Grupo, mas naquele dia estávamos somente os três. - O “Velho” como não podia deixar de ser, parava a conversa de vez em quando, para ouvir com maior atenção não só a algazarra dos jovens como o som de uma ópera clássica ou mesmo às velhas musica escoteiras dos seus discos já gastos com o tempo cujos sons vinham através da janela, de uma vitrola antiga, mas que funcionava divinamente.

     Vovó num esforço concentrado estava lendo um livro e transportada para as páginas de sonhos não perguntei pôr educação qual livro era. Eu e o “Velho” naquele bate papo informal, também nos esquecíamos de tudo e de todos. De um a outro tema a mudança era rápida. Eu não tinha nenhum especial e o “Velho" também. Seu cachimbo estava apagado e dentro do cinzeiro que ganhou ha muito anos de um amigo do exterior, trazia no bojo a foto de BP. Com a luta que se trava hoje contra o fumo, era até um paradoxo ter BP como fundo de cinzas e brasas envenenadas. Mas não era eu que iria falar para o “Velho”.

     - Nosso Movimento dentre outras necessidades pretende a formação e adestramento de Lideres. - falou o “Velho”. Isso é claro procurando fornecer aos jovens a boa cidadania, iniciativa e desenvolvendo suas potencialidades físicas, mentais e espirituais. Em síntese seria isto que pretendemos, mas como fazer com Escotistas-não formados e atuando como amadores?

     Não entendi o que o “Velho” queria dizer. Não tínhamos falado nada a este respeito - Fiquei calado. Aguardava o momento para intervir. Com o “Velho” era assim. Claro que ele apreciava uma boa discussão. Mas não era nada disso. Era a maneira dele e eu aceitava. Até gostava de ouvi-lo. Caso contraria não viria visitá-lo sempre.

     - Se o nosso Movimento é uma fraternidade livremente aceita, - continuava o “Velho” - e não tem caráter de obrigação, o adulto só atua com supervisão. Ele (o Escotismo) pretende fazer com que o jovem participe de uma sequência de atividades, adaptadas a sua idade, exercitadas principalmente ao ar livre, ajudando uns aos outros, confiando-lhes responsabilidade e assim acreditando que seu caráter se afirme. Só assim é possível que ele se torne também capaz de cooperar e liderar.

     - Vejo que você não está entendendo onde quero chegar. É parte de nossa conversa anterior quando falávamos que hoje seriam necessários termos profissionais atuando como Escotistas. Não acredito nisso. Temos um programa simples e que está se complicando pelas alterações feitas através dos tempos.

     - “Velho”, - falei - Se entendi bem, lembro-me de que a rápida expansão do Movimento Escoteiro durante os primeiros anos foi devido ao método novo de educação, que se apresentava de uma maneira simples e que atraia os jovens pela sua própria simplicidade. Recorria a uma linguagem fácil, muito afastada dos termos técnicos utilizados no mundo pedagógico e sociológico de hoje. Posso até completar que talvez este seja um dos motivos para não citarem Baden Powell ou o Escotismo como a fonte originária dessas ideias e técnicas. Nosso Movimento tem uma finalidade tão séria, que exige uma abordagem de qualidade profissional.

     - O “Velho” gostou da minha intervenção. Tinha na ponta da língua a resposta, mas suspirou , relaxou, pegou o seu cachimbo e começou a encher o fornilho, até que soltando belos rolos de fumaça pelo ar, atraiu os olhares dos vizinhos, que sorriram ao ver o olhar de alegria e satisfação daquela tragada infernal. Durante segundos, minutos, não sei quanto, ficou calado como a pensar no que eu dissera.

     - Nos países avançados, - quem falava era o “Velho”. A prática da demonstração e a da descoberta, às atividades ao ar livre e a aprendizagem em pequenos grupos de fazer para aprender, são técnicas escoteiras que conhecemos de outra maneira. Aqui, talvez pela repetição pura e simples dessas técnicas, dos jogos e até a completa ausência do método nas atividades práticas da tropa, trouxe aos olhos do publico um desinteresse e em alguns casos alguns educadores nos consideram um Movimento excessivamente infantil e nos domínios da educação somos vistos como atrasados e ineficazes.

     - Mas não seria interessante rever o papel do Escotista? - falei - Se é esta a situação, se às autoridades educativas não tem levado a sério o Escotismo e não o considera como importante meio para completar a educação não teria que concentrar nossos esforços na seleção e formação dos dirigentes?

     Claro! - falou o “Velho”. Não se nasce líder. Mas é possível formar e adestrar um líder. Isto leva mais do que algumas semanas para ingerir informações e conhecimentos. Meses para desenvolver a competência e anos para que esta competência se torne um hábito de comportamento. É evidente que o homem tem necessidade de direção e orientação, mas não é porque tem nos faltados recursos e sim imaginação.

     - Quando BP reuniu em 1907 na ilha de Brownsea na Inglaterra 20 jovens de diferentes meios socioeconômicos e educativos, ele trouxe uma enorme contribuição educacional que, na época estava estagnado. Assim o Escotismo veio dar uma visão mais abrangente às escolas e estas é que estão tirando partido das técnicas escoteiras de demonstração, observação e dedução, aplicando-as às suas classes. Às técnicas de aprender fazendo e tentar fazer sem saber, até descobrir o certo através do erro, sempre foram partes do método Escoteiro. Confiar no rapaz para que ele próprio seja responsável pela sua autoeducação e disciplina sempre fez parte do Escotismo.

 Tudo é muito simples. Não é preciso ser um Super Homem para ser um Chefe Escoteiro. É só dar liberdade ao jovem para que ele próprio seja responsável pela sua autoeducação e disciplina. Dar liberdade ao espirito de competição e da aventura, através de jogos, acampamentos e excursões. Este é o Programa Escoteiro e que bem realizado se mantém na liderança das técnicas até hoje empregadas.

     - Poderia completar - continuava o “Velho” - Que temos uma base excelente e sem similar para realizar isto: - A Patrulha! - Ali os jovens podem viver trabalhar e jogar em seu próprio grupo. É simples. Muito simples. Não precisamos de profissionais nesta área, veja bem.

     - Também não precisamos de professores, pedagogos e outros para fazerem experiências sem conhecimento de causa, mas que são bem-vindos para participarem desde que de maneira simples e direta.  Se conseguirmos fazer com que o jovem permaneça pelo menos dois anos em atividade, vencemos a batalha. Sejam bem vindos todos, mas cada um deve se manter dentro do método e programa do Escotismo. Não venham com aquele blábláblá que conheço de longa data.

     - Estamos falhando e falhando feio. Durante todos estes anos falaram em mudanças, mas a melhor mudança é visitar Grupos Escoteiros. Nada mudou a não ser nomenclaturas e formas que não trouxeram nada de proveitoso ao movimento. Lembre-se, os profissionais devem existir, mas em áreas especificas. Nestas sim, eles são de grande valia.

     - Tinha minha duvidas. Ainda me debatia entre o Chefe profissional e o voluntário. Mas não falei para o “Velho”. - Veja você - continuou o “Velho” - Qual a diferença desta ária da outra que ouvimos antes? - Veja a perfeição da orquestra! - Tudo nela flui harmoniosamente. Um pouco de silêncio agora para podermos sentir dentro de nós a suave melodia. Musica é a arte de nos expressar pôr meio de sons de uma maneira agradável aos ouvidos. Agora silêncio pôr favor.

     Era assim o “Velho”. De um tema, pulava para outro. Mas concordava com ele e da melodia que vinha de mansinho entrar em mim, e fazer esquecer-se de tudo para flutuar no ar com os olhos semicerrados de uma tarde quente e bolorenta.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Tradições, cerimonias, garbo e boa ordem.



Quarto fascículo

- É uma pena que um homem tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida e a leve para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo, cometendo os mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas...

Baden Powell (BP)

Tradições, cerimonias, garbo e boa ordem.

  - Tarde de sexta feira, céu parcialmente escuro, temperatura gratificante para mais um encontro com o “Velho”. Para mim, que admirava sua fidalguia e ao mesmo tempo sua anarquia, era realmente uma alegria estas conversas, onde minha mente teria que andar a mil pôr hora para acompanhar o raciocínio estimulante de um homem que viveu o que dizia e transmitia de uma maneira simples e direta suas experiências do passado. 
Naquele dia eu acompanhava seus gestos lentamente. À medida que o “Velho” enchia o "fornilho" do seu cachimbo, na mais típica performance inglesa eu me entusiasmava com o estilo da mais pura tradição do "homem do cachimbo”.  O fumo irlandês, tabaco preferido pôr ele há muitos anos, era transportado em pequenos feixes com um jeitinho todo especial. 
  - Tradições? Ah, Ah! Sua tez enrugada acompanhava o movimento dos olhos e das sobrancelhas já grisalhas, num movimento sincronizado e sistemático, sempre fixos no tabaco que ia sendo colocado no fornilho do cachimbo. - Pausadamente, levando segundos e ate minutos para falar, continuou sua eloquência, minha velha conhecida de muitos anos de convivência. 
  - Repare bem num destro - falou - e sua maneira peculiar de colocar o cinto. Tente compreender o recruta na sua marcha junto aos veteranos. Vai ser difícil você acompanhá-lo no dia a dia, pois o sol caminha para o oeste junto ao entardecer. Preste atenção naquele lobinho Pata Tenra no seu primeiro Grande Uivo na Alcatéia... O “Velho” socava o tabaco de maneira firme e suave. Não olhava para mim. Seus pensamentos poderiam estar em suas palavras ou bem longe dali... 
  - Olhe com muita atenção aquele monitor, com seu bastão ao chegar à sede para a reunião, - continuou - Veja seus movimentos. Observe na saudação a sua pose. Veja o garbo. - Com a ponta mais fina do socador do cachimbo, ele "amaciava” a entrada até o fornilho, para sentir se o fumo queimaria pôr igual. Piscou os olhos num relance e continuou sua fala como se estive falando para si mesmo. 
  - Aquele Antigo Escoteiro, quando vem à sede, se sente orgulhoso em ver que nada mudou.  O garbo na formatura o inicio das atividades, o hasteamento da bandeira, a oração, a inspeção, tudo na mesma sequência e metodologia de sua época. Ele está sentindo o aroma e o sabor das doces recordações do passado. 
  O “Velho” colocou o cachimbo na boca, ainda apagado, suavemente. Deu algumas baforadas para sentir que a “piteira” estava macia e o fluxo de ar aberto. Seus movimentos metódicos e sincronizados pareciam um ritual de anos e anos de aprendizado. - Ritual, pensei comigo mesmo... 
  - Ele (o Antigo Escoteiro) relembra com saudades da velha moeda da Boa Ação. Do nó no lenço que ainda mantém guardado até hoje. Ouve o Grito de Sua Patrulha e baixinho, acompanha. Do totem, meio descuidado, mas ali está intacto. Olha ao redor, novas caras, mas com o mesmo carinho de sempre. Como se fosse sua segunda família, ele sente-se bem naquele meio. 
  - Mas “Velho”, dizia eu. - Não é isto que me trouxe aqui. Tenho dúvidas e procuro algumas respostas, falei.  - Ele nem me olhou. Mantinha o olhar fixo no cachimbo, como se este sim, tivesse alguma importância.  Com a mão esquerda, de um modo bastante peculiar, segurava o mesmo com a outra mão, e com um fósforo aceso, dava grandes baforadas, ao mesmo tempo em que socava levemente a borda do fornilho. A chama e a fumaça expelida, iluminou seu rosto e deu para ver melhor seus cabelos grisalhos, com mechas brancas caindo sobre testa. 
Insisti novamente e retruquei. - Foi isso mesmo, sem nenhuma duvida, o nosso diretor do Curso Básico da Insígnia Sênior tem outras ideias a respeito quanto as Tradições, Cerimonias e Garbo. Quando levantei dúvidas a respeito como fazemos em nosso Grupo Escoteiro, ele foi sarcástico, como se o sistema dele fosse o certo e não o nosso. E o pior, os alunos riram como se eu fosse de outro planeta. 
  - O “Velho” nem piscou. Nada notei de recriminação ou mesmo superioridade com quem não estava ali presente.  Sua atenção estava dirigida a ascender o cachimbo. Mantinha a chama em circulo, e sentindo que este estava no ponto, se refastelou na poltrona de vime já gasta com o tempo, deu grandes baforadas, fechou os olhos e se extasiou com o aroma adocicado expelido em formas de rolos de fumaça. 
  - Ele “Velho”, continuei, mostrou o ponto exato, matematicamente onde fica cada um dos participantes. Como se deve dirigir-se a bandeira, o local dos assistentes, totalmente diferente do que fazemos em nosso Grupo Escoteiro! - e olhe. Deu pôr escrito e desenhado, e assinado. - O “Velho” abriu os olhos lentamente, e falou sussurrando, não dando para entender se era sarcástico ou se havia sentido em suas palavras. 
  - “Tudo o que estamos fazendo, são meios para atingirmos o fim. O fim é a formação do caráter. O Diretor do Curso não esta errado. Aprendeu assim, faz assim, e talvez não tenha a experiência necessária para analisar as vantagens desta cerimonia que pode estar dando certo no seu Grupo de origem. Cheque no presente o que fizemos no passado. Deu certo? Deu? Para que mudar! Quantos antigos nos visitam e se sentem orgulhosos de participar de nossa Cerimonia. O importante é sabermos que estamos praticando cidadania, e estas cerimonias servem para testar e ensinar os nossos jovens nesta prática”. 
  Parou de falar, fechou os olhos novamente, continuou a dar grandes baforadas em seu cachimbo, mantendo aquele aroma adocicado meu conhecido de muitas e muitas noites junto aquele “Velho” Escoteiro. Dali para frente, eu sabia que nada mais ouviria dele. Esperei o delicioso cafezinho da Vovó que apareceu com seu sorriso simpático, que me fazia esquecer a 'carranca' do “Velho” naquele momento. 
  Era sempre assim, deixava uma ' pitada' de duvida nas suas respostas. No fundo eu entendia bem. Mas o tempo é que mostraria a realidade do certo e do errado. Teria que ver os jovens crescer e mostrar que o Escotismo praticado daquela maneira tinha ou não sua razão de ser. Seguindo pela rua deserta, já noite alta, ruminava o quando devemos mudar. Quem sabe é a mentalidade de certos dirigentes do nosso Movimento. 
Eu não podia decidir sozinho qualquer mudança. Éramos uma equipe no Grupo. Minha euforia de ' fim' de curso teria que ser mais cuidadosa.  Analisava o andamento do Curso e alguns tópicos importantes. Cada um dos alunos deveria ver suas necessidades dentro de seu Grupo Escoteiro. 
  O aroma adocicado do cachimbo do "Velho" parecia ter grudado em minhas narinas e me perseguia enquanto seguia para minha casa naquela noite clara e fresca que prenunciava um inverno gostoso.
                                                                                              

terça-feira, 24 de abril de 2012

Projetos de Pioneiras



Terceiro fascículo

Projetos de Pioneiras

  - Você pode ver em ambos os casos que o crescimento nunca vai se igualar, mas a verdade é que a sua maneira, cada uma dessas patrulhas estão alcançando o objetivo. - Disse o Chefe. A diferença estava à vista. Logo ao chegar ao acampamento de fim de semana, uma Patrulha nova, recém-formada, tentava fazer o melhor possível para sua instalação do campo. Às outras três, bem mais experientes, estavam bem à frente, com quase todos os acessórios necessários prontos.
  Era um acampamento de dois dias. Chegaram sábado pela manhã, e iriam retornar no domingo à tarde. No entanto, a instalação padrão sempre foi exigida. O motivo era simples: - Precisavam aprender que o campo de Patrulha seria uma extensão de suas casas e o mínimo de conforto deveria ser conseguido. Não se pretendia formar técnicos em construções e projetos, mas cada um deveria ter a mínima noção de que sua parte era importante nesta montagem de campo. Era assim o Sistema de Patrulha e assim se trabalha em equipe.
  Nada ali era improvisado. Às patrulhas em reuniões anteriores, tinham decidido o que fazer e como fazer.  Muitos dos escoteiros já conheciam bem o “Projeto de Pioneiras”, que o chefe sempre falava. “Os projetos” tanto poderiam ser de uma pequena ou uma grande pioneiria. Devia ser levados em consideração a duração do acampamento, o material que estaria disponível no campo e o programa. Tudo era muito simples, dizia o Chefe:
  - Nada de burocracia.  A experiência com o tempo facilitava muito mais a montagem de campo já que os projetos em sua maioria estavam prontos no arquivo da Patrulha. A liberdade para criar e modificar era ampla e irrestrita. Havia o básico para um acampamento de uma noite ou de mais, dependo do planejamento anual.
  - É possível que você tenha razão, - falou o “Velho” - Hoje já não é possível encontrar facilidades de locais para acampamentos e principalmente em florestas com alguns tipos de madeira para corte. Mas vamos olhar para o outro lado da questão. Não pretendemos que o jovem se adestre para se preparar de uma eventual possibilidade de no futuro usar tais conhecimentos. (apesar de saber que é um excelente meio para descobrir seu potencial profissional!) A possibilidade de se perderem numa floresta é mínima.
  - A técnica de pioneirias tem a finalidade de preparar seu espírito para a vida de adulto - continuou -. Saber que às dificuldades serão vencidas, e que em qualquer ramo de atividade é necessário estar bem preparado e só assim poderá vencer na luta pela sobrevivência profissional. A inventividade faz parte do homem, mas a maturidade traz o sucesso.
  - Também não vejo tanta dificuldade em conseguir um local para pelo menos duas vezes ao ano, poder utilizar a técnica de pioneirias. Existem tantas fazendas e grandes sítios, onde algumas árvores são consideradas como “praga” que pôr mais que se corte mais ela se multiplica. Um exemplo é o “Assa peixe“, sem nenhuma utilidade e qualquer proprietário (desde que seja amigo dos escoteiros - emendou) ficaria satisfeito pela poda ou corte e não irá ser prejudicado e nem iríamos agredir o meio ambiente. Também se podem usar outros tipos de madeira, tipo eucaliptos, bambus etc. que são plantados com a finalidade de uso diversos, principalmente na construção civil. O que não se pode, é tentar formar e adestrar técnicas de campo, usando um fogareiro a gás, pois isto não traz nenhum beneficio a não ser a técnica de cozinha, e que claro também faz parte do adestramento.
  - Infelizmente, alguns de nossos Escotistas pôr não estarem devidamente preparados já que não vivenciaram tais técnicas, procuram de todas às formas motivos diversos para fazerem Camping e não acampamentos. - Posso afirmar que é possível manter um padrão técnico de pioneirias em qualquer parte do mundo. E afinal é o sonho de qualquer jovem saber que vai participar de um acampamento com padrões escoteiros, dormindo sob barracas, fazendo sua própria comida, construindo sua cama sua cadeira sua mesa e até sua torre de observação.  
  - O importante é o trabalho em equipe. A Patrulha é a base para que esta técnica seja primordial no seu crescimento. Os Escotistas não podem de maneira nenhuma tentar modificar as estruturas e métodos somente porque acham que não é possível ou pode ser substituído.
  - Vou ser sincero, o que cortamos de madeira em um acampamento, claro, desde que o Projeto foi bem feito é o mínimo e não prejudica de forma alguma o meio ambiente. Quando você corta uma arvore, em alguns casos elas produzem diversas mudas que pela simples razão da natureza se multiplicam. E se você ensina aos jovens como plantares mudas, você está retribuindo em dobro o que cortou. - Devemos também ensinar aos rapazes e moças que a proteção e o respeito à natureza faz parte da formação e do “Espirito Escoteiro”.
Tive que concordar com o “Velho”. Escotismo é campismo na sua forma primitiva. Mudar isto seria mudar o sistema e a sua maneira de ser. Nós e amarras são técnicas escoteiras com finalidades objetivas. Se for para fazer Camping, um ou dois nós bastam para armar a barraca.
  O “Velho” pigarreou algumas vezes, foi conversar com a Vovó e esqueceu que eu estava na sala. Nada mudou no país de “Abrantes”. Eu estava acostumado.
  Mas valeu mais uma noite e a conversa com o “Velho”.  Meu Adestramento estava sempre aprimorando, principalmente agora que bolei uma nova mesa de patrulha com apenas quatro pedaços de madeira de 2 metros!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Programando o programa



Segundo fascículo
Programando o programa
                                                                                                                                   
A Reunião de chefes da tropa Escoteira Masculina e Feminina já havia começado há algum tempo. Toda primeira quarta feira na segunda quinzena do mês. Era uma rotina. Algumas vezes “gostosa” outras vezes macete. Já tinha ouvido de alguém que, participar do movimento não era difícil, pois bastava dar de duas a quatro horas pôr semana do seu tempo. Ledo engano. Não seria possível a ninguém somente com este tempo fazer alguma coisa numa sessão escoteira. Hoje, já passados nove anos que participo, cheguei à conclusão que com menos de oito horas pôr semana é uma utopia a colaboração. É impossível. Isto sem contar as horas de acampamento e outras atividades extra sede.

  Acredito, no entanto que alguém com mais experiência possa fazer com menor tempo o que eu não consigo. Se não vejamos: Um dia na semana, mínimo de 4 horas na reunião de sede com a tropa. Domingo sempre tem alguém na minha casa ou eu vou à casa de alguém para “fazer” escotismo. Terça vou as sede, pois sou instrutor de especialidades, ou conversar com monitores. Uma quinta pôr mês é a reunião de chefes. Terça folgo para na sexta voltar e tentar colaborar na parte burocrática da tropa, e é claro, participar da “choupada” dos chefes no fim de semana.

  Isto sem contar as reuniões de chefes do Grupo, reunião do Distrito ou atividades de pais e correlatas. Ufa, difícil para eu manter um ritmo, sem esquecer cursos, atividades regionais e nacionais. O chefe da 1ª tropa estava comentando a ultima Reunião de Monitores, quando estes deram diversas sugestões para as reuniões do trimestre. Um assistente achou as ideias muito infantis. Eu ouvia e quase não falava, pois a semana tinha sido difícil no meu emprego e cansado só esperava o termino para ir embora descansar.

  Meus olhos insistiam em fechar e eu lutava para mantê-los abertos. Outro assistente insistia que nossa programação não estava atingindo o objetivo. Tínhamos que programar a curto, médio e longo prazo. Cada programa teria que atingir a cada jovem da tropa e o seu desenvolvimento teria que ser criativo, pois caso contrário, alguns poderiam se adestrar rapidamente e outros não acompanhariam.

  -Vejam bem dizia o assistente - No ultimo Processo de Lis de Ouro, tivemos dificuldades. Varias especialidades foram rejeitadas devidas não satisfazerem o tempo determinado entre uma e outra conforme o POR. Os assistentes regionais e nacionais parecem não fazer outra coisa senão procurar erros finalizou. Começou a discussão de novo, pensei. Meu cochilo prolongava noite adentro e torcia pelo fim da reunião. Minha mente brigava entre dormir e programar o programa. E ainda me diziam que bastava duas horas pôr semana!

  Um burburinho tomou conta da sala. Eis que adentrou nada mais nada menos que o “Velho” com sua pose favorita de deixar que os outros o admirem sem falar nada. Na boca o inseparável cachimbo. Nos olhos, um sorriso infantil. Na testa, mechas do cabelo branco cismavam em embaralhar a visão. Acordei de pronto. Milagre pensei. O “Velho” aqui? Pelo que sabia, havia mais de dois anos que não comparecia em reuniões noturnas.

  Educadamente pediu se podia sentar e ouvir. - Claro, disseram todos se levantando. A sala começou a ter mais penetras e a modorrenta reunião se transformou em segundos. Ninguém falava, e olhando para o “Velho” esperavam dele o sinal para continuar a reunião. O “Velho" soltava baforadas em seu cachimbo e como sempre empesteava a sala de fumaça do odor achocolatado.

  O Chefe da Tropa meio sem jeito pediu licença e continuou a reunião explicando para o “Velho” onde estavam. Ele balançou a cabeça e continuou calado. Alguns assistentes querendo mostrar o que aprenderam (eram jovens e iniciantes) começaram a falar e discutir acaloradamente. Era o que o “Velho” queria, pensei. Não passara 5 minutos e contei mais de 10 pessoas na sala. Só mesmo o “Velho” para isto.

  Na tropa tínhamos reuniões em que não eram permitidos outros participantes, mas em algumas, não fazíamos questão da presença, só que a opinião serviria apenas como sugestão. - Vamos fazer o seguinte, - propôs um deles. Faremos o esboço de todas as reuniões do trimestre, cada assistente terá cinco fichas de escoteiros em mãos, e vendo o que cada um precisa montamos o adestramento progressivo! Falou orgulhoso.

  O "Velho" nem piscou. Fechou os olhos e fingindo dormitar, deixou o cachimbo pendurado na boca e respirava lentamente. Foi uma discussão de primeira. Todos davam opinião, falavam ao mesmo tempo e a discussão acalorada a principio foi esmorecendo, esmorecendo, pois o “Velho” não participava e o interesse caia. Só mesmos eles para acharem isto. Eu sabia perfeitamente que ele participava e gravava cada palavra do que acontecia.

  Lá pelas tantas, cansados, foram feitos três programas. E era para fazer 12. O “Velho” tremeu na cadeira. Ninguém prestou atenção.

  - E a tropa não vai ser ouvida? - disse ele. Foi uma bomba na sala. Ninguém entendeu. - Ouvir como? - disse o Chefe da Tropa. - Como? Repetiu o “velho”.  - Opinando é claro.  São eles os interessados. - Mas “Velho” os monitores já deram sua opinião. - Falou o assistente. - Que opinião deram que não ouvi! - Disse o “Velho”. Ficaram meio sem jeitos e calados. Se me permitem, gostaria de dar uma pequena sugestão - disse o “Velho”. Lá vem “bomba” pensei eu.

  - Programa é importante. Não se faz nada sem ele. - Disse o “Velho”. Mas é preciso atingir o objetivo a que se propõe. Esta historia de curto, médio e longo prazo é muito bonito, mas de difícil execução. Claro, pode e deve ser feito. A Patrulha é responsável para isto. Vocês só devem acompanhá-los. Quando se quer fazer tudo para todos com voluntários é impossível. Se vocês fossem profissionais escoteiros e estivessem à disposição do movimento todo o tempo, ainda vá lá, apesar de que o Escotismo não quer e nem precisa disso.  E olhem que não foi isso que BP pensou ao organizar as bases do Movimento Escoteiro.

  - Profissionalismo só em casos específicos e nunca para a chefia. Esta em principio deve ser espontânea e objetiva, praticada pôr rapazes advindos do movimento ou mesmo pais atuando inicialmente como assistentes. Os rapazes sabem bem disto, pois foram beneficiados ou com bons programas ou com programas ruins dependendo a tropa que pertenceram. Dois assistentes torceram a cara. Eram pais e tinham pouco tempo de movimento.

  - Mas disse o “Velho”, os novos são bem-vindos, desde que desejem aprender e colaborar até terem sido bem adestrados. O “Velho” era didático e eu não sabia deste “seu” outro lado. Ninguém retrucava. Ali estavam dois insígnias da Madeira e os demais tinham Cursos Básicos além de cursos alternativos.

  O “Velho” continuou. - “É difícil quando a tropa já segue uma rotina não opinativa adaptar uma participação ativa”. Mas é preciso insistir até que eles aprendam. Tudo fica mais fácil quando ensinamos a eles pescar, em vez de pescar nós mesmos achando que estamos ensinando. Não compliquem o programa. Não somos profissionais e mesmo se fossemos não é isso que pretendemos. Basta o “feijão com arroz” e chegaremos lá.

  - A experiência tem demonstrado que rapazes que participaram do escotismo fazendo seus próprios programas são os que mais permanecem no movimento. Uma reunião de patrulha, uma de monitores, 15 a 20 minutos para cada uma e garanto um ou dois programas bons! - para eles é claro. Aos chefes, bastam acertar horários, alguns itens surpresas e adaptar a rolagem da programação. 

  - Vocês já chegaram à conclusão que estão tendo muito tempo de suas vidas particulares tomada com reuniões e mais reuniões. São válidas, mas desde que moderadas. Afinal somos um movimento de fim de semana e não semanal. Deixem que seus escoteiros e monitores programem para eles mesmos e aguardem o resultado. Deem a eles o que eles querem. Aos poucos e com tempo, suas tropas terão padrões nunca antes alcançados e principalmente a evasão vai diminuir consideravelmente.

  - Quanto ao Adestramento Progressivo, é papel do monitor! - É ele quem vai ver as necessidades de cada um. A Tropa tem além dele, o Sub. e tenho certeza, outros escoteiros que possuem adestramento para colaborar. Vocês chefes, devem estar sempre ao par, para evitar atrasos no adestramento ou mesmo se algum outro jovem não conseguir acompanhar. Esta é a principal função. Manter a rotina saindo da rotina! - Motivando os monitores através de Eficiência Especiais a cada adestramento alcançado pôr algum Escoteiro e que orgulhosamente usarão no bastão totem.

  - O Conselho de Patrulha tem uma excelente base para fazer isso. - Esqueçam que vocês são adultos! - se coloquem no lugar deles, afinal fora do Escotismo, eles estão sempre criando e fazendo seus programas com os amigos do bairro. Reuniões de patrulha são excelentes meios para adestramento.

  - Agora, cabe a vocês o desenvolvimento, acompanhamento e até o adestramento dos monitores. Tenho certeza que a tropa de vocês é de ótima qualidade. Mas o importante em tudo e gosto de repetir sempre, é o resultado final! - Tudo que vocês estão fazendo tem um objetivo: - A formação dos jovens. Assim o resultado pode ser avaliado se deu ou não certo. - Gostei muito da reunião de vocês! - Se todas as tropas tivessem chefes preocupados com o método Escoteiro como vocês estão nosso Movimento teria outra qualidade.

E olhem bem - continuou o “velho”, se encontrarem o Chefe do Grupo, digam para ele que estive aqui e mando um forte abraço e para vocês, “Sempre Alerta!“- Rodopiou na cadeira e saiu sem maiores explicações. A Sala ficou muda como muda estava. Eu não me surpreendi. Já conhecia o “Velho" de longa data. Suas opiniões bateram fundo em todos. Alegrou-me bastante, pois meu sono acabou e acreditei que dali para frente, as reuniões de chefia em dias de semana seriam moderadas. Obrigado “velho” você ajudou bastante aos escoteiros, mas não sabe a ajuda que me prestou.

Padrões de Acampamento




O PRIMEIRO FASCICULO PUBLICADO. SERÃO 20. ESPERO QUE GOSTEM
Padrões de Acampamento

 “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.
                                                    KIPLING

Já era noite alta e da fogueira restavam apenas algumas brasas, que aqui e ali iam adormecendo. Algumas fagulhas ainda se arriscavam a subir aos ‘céus’, mas lânguidas e serenas perdiam sua força e desapareciam na escuridão. Alguns metros além, podíamos ouvir o piar da coruja no grande carvalho frondoso e que a noite dava arrepios com sua figura fantasmagórica. Bem próximo à lagoa de águas azuis naquela hora da noite, era apenas sombras cinzentas e não permitia ver os sapos e rãs que coaxavam seus cantos noturnos...

Até a melodia doce e suave da bica de água límpidas, trinavam sons repicantes e intermitentes na audição de um velho mateiro. Em volta daquele calor que aumentava a sensação da amizade existente, eu, o “Velho” e dois chefes escoteiros e duas chefes femininas, uma delas casada com um dos chefes, ainda respirávamos o sabor do ar fresco, vindo da pequena floresta a sudoeste do acampamento.

  O “Fogo do Conselho” terminara há algum tempo e a alegria, as canções, o folclore das tropas masculinas e femininas, ainda permaneciam como “fantasmas” amigos que prometiam manter aceso pôr toda a eternidade o espírito que reinou naquela “festa” de moças e rapazes, no seu mais puro e inocente lirismo. Uma tradição de anos e anos naquela terra sagrada de “São Lourenço”. No semblante do "Velho" se estampava toda a alegria de estar ali presente. O aroma adocicado do seu cachimbo era um perfume doce e suave que se espalhava e misturava com a pequena brisa que soprava vinda de todos os cantos dos pontos cardeais conhecidos.

  A presença do "Velho" deu nova conotação ao acampamento. Três monitores e duas monitoras foram a sua casa fazer o convite. A principio se mostrou surpreso, reservado e se fez de rogado.  Não quis aceitar. Ao saber que era um convite dos jovens aceitou de pronto. Ao saber que seria nas Terras de São Lourenço se animou mais ainda. E animou mais ainda quando viu que teria a possibilidade de ver como acampam as meninas. Disse, entretanto que não iria como turista. – “Quero ver os monitores fazerem o programa junto a suas patrulhas”. Os jovens arregalaram os olhos de espanto e em silêncio sorriram compreensivos. Eles já conheciam ao "Velho".

  Foram vários dias brilhantes de preparativos. Através da Vovó, soube dos arranjos do "Velho", escolhendo e montando sua mochila que ainda remontava a década de 40. Levou o que sempre levava aos acampamentos, mas que eram motivo de especulação pôr parte de todos que o conheciam. Ate o famoso sabonete do banho das “três e meia“ da manhã e que ficou famoso pôr onde acampou e até hoje ninguém sabe o que é ele levou.

  Quatro dias de acampamento. Talvez uma de minhas maiores emoções e cuja recordação ficou gravado para sempre em minha mente. Aconteceu de tudo e o "Velho" sentiu-se orgulhoso em ver que os “Padrões de acampamento” ainda eram mantidos naquele Grupo Escoteiro. No primeiro dia, o corre-corre da saída, um ou dois atrasados (o “Velho” não aceitava isto) a alegria das canções entre os escoteiros e escoteiras tudo isto fez o "Velho" entrar naquele jogo divertido. Não havia alegria maior que vê-lo cantando as velhas canções e principalmente aquela do “Velho Olmeiro”, recordações saudosas de um acampamento no Canadá.

  A chegada, a orientação aos monitores, à escolha do campo pelos próprios, tudo isto era ponto de honra para o "Velho". O acampamento é dos jovens e nós adultos somos intrusos. É bom saberem disto, dizia para os Escotistas. Aqui e ali ele observava a movimentação e principalmente o material de “Sapa”, todos eles oleados e afiados. O uso pelos jovens o envaideceu mais ainda.

  Quando dois escoteiros passaram próximo ao campo da chefia, ele largou a construção da sua famosa “Poltrona de Astronauta” (conhecida pôr todos que acamparam com ele) e ficou observando como carregavam o facão e o machado do lenhador. - Muito bom, muito bem, resmungava baixinho. Notou que os Escotistas e também as Escotistas estavam bem adestrados. No campo da chefia, sabiam dar um “volta do salteador” um nó de frade ou arnês bem apertado com destreza. Uma amarra paralela ou diagonal tinha o acabamento de um velho mateiro. A Amarra para tripé simples não deixava a desejar. Até mesmo, a costura de arremate na tampa da mesa central mereceu um elogio do "Velho", o que deixou a todos embevecidos.

  A chefia respeitava o campo de patrulha não invadindo desnecessariamente. A instrução era feita aos monitores e sempre se usava a “trombeta” e ela não era usada indevidamente. (O “Velho” reclamava quando chamavam mais de 6 a 8 vezes pôr dia)            - Isso - dizia, é para “pata-tenras”. Quem fala muito e dá muitas instruções, perde o tempo dele e dos jovens. Fazer fazendo, esta é a maneira certa!

  Elogiou quando os jovens saiam do campo de patrulhas, sempre em duplas e nunca só. O que mais gostou foi da independência das patrulhas e que quando convidados a participarem das refeições nos campos, os Escotistas só aceitavam quando estavam “tirando” alguma prova. E olhe que se pudessem, delegavam poderes a algum escoteiro 1a classe.
 
  Na primeira noite, após um jogo noturno “bem bolado”, tiveram tempo para fazer um chá quente e a “Corte de Honra” foi realizada sem avançar no horário. Notou que o mínimo de 8 horas para o recolher e a alvorada eram ali respeitados.       - A “Corte de Honra” estava muito tensa, - falou o "Velho" durante a realização da “Conversa ao pé do fogo”, realizada somente com os Escotistas. Deixem os monitores mais a vontade. O padrão de eficiência a ser exigido na primeira inspeção e avisado anteriormente aos monitores podem e devem ser aumentados. É necessário que eles saibam que a higiene, a limpeza e a apresentação não tem lugar e hora. O bom escoteiro é aquele que sabe se manter digno em qualquer situação e nos estamos aqui para adestrá-los, terminou. Os chefes não retrucaram. Aceitavam o "Velho" como ele era.

  No segundo dia, fez questão de orientar os Escotistas antes da inspeção da manhã, impreterivelmente às 9 horas. Comentou sobre as funções de cada um, o que devia ser exigido e olhado e não ver somente o lado negativo. A Patrulha deve ser elogiada pôr tudo aquilo que merecer, mesmo que não consiga a classificação estipulada em "Corte de Honra". Comentários de erros e defeitos podem ser falados, mas sem exageros. Nunca tomar atitudes individuais ou coletivas que podem dar a interpretação de humilhação. Falou também da contagem de pontos, começando com a nota mais alta e diminuindo se fosse o caso.

  E assim o "Velho" foi participando, orientando, falando e agindo. Não parava. Sempre com um sisal, um cipó e sempre fazendo suas pioneirias, mantinham aqueles olhos miúdos e azuis a perscrutarem o horizonte em busca de alguma coisa o que me fazia pensar no tempo em que ele acampava.

  Um fato desconcertante aconteceu no terceiro dia. Após o almoço e uma inspeção surpresa, quando da chamada geral uma patrulha não se apresentou (era rotina apresentarem-se completos). Faltava um escoteiro. Procura daqui, procura dali e nada. Foi dado o “Alerta Geral”. As buscas foram intensas. Um raio de mais de 5 km foram abrangidos.

Quase 16:30 hs e nada. O "Velho" continuava a fazer uma e outra pioneiria, sem demonstrar o menor interesse nas buscas e no motivo desta. Não dava a mínima pelo que estava acontecendo. Deslanchando seu corpo magro num bater de ossos, sentou em sua “poltrona do astronauta”, e tomando um cafezinho quente (detestava chá) feito na hora pôr ele mesmo sem usar o coador (testando a clara de um ovo), já se preparava para encher o fornilho do seu “cachimbo”, quando gritei com ele com os nervos a flor da pele:

  - “Diabos”!  Todo mundo ajuda e você fica ai parado como se nada estivesse acontecendo? Deus do céu! - Onde esta sua responsabilidade? - Explodi. Ele riscou o fósforo, me olhou, deu sua primeira baforada e na maior calma do mundo olhou uma barraca ao longe da patrulha Touro e falou -: A primeira coisa a fazer depois do almoço é procurar dentro das barracas, quem sabe ele não esta dormindo? - Tremendo, lá fui eu e encontrei o “danado” roncando. Cessou as buscas. A calma voltou ao campo.

  Durante o jantar feito naquele dia pelo "Velho" e que pôr sinal estava excelente (a chefia tinha campo próprio e ali desenvolvia todas as suas necessidades), perguntei ao “velho” como sabia e porque não tinha falado nada. - “Eu? respondeu, - eu não sabia de nada”. Só que é muito comum após o almoço, um ou outro jovem mais novo na tropa tirar uma “soneca” e que pode causar um reboliço destes. - E porque não falou, - perguntei novamente. - “A arte no escotismo “é aprender a fazer fazendo”“. Nas buscas o aprendizado foi melhor que o jogo programado. E cá pra nós, que foi divertido foi e com que realismo! - É o "Velho". Só ele mesmo.

  No Fogo do Conselho, cantamos com o ele canções nunca ouvidas. Das montanhas geladas dos Alpes Suíços, as velhas canções dos caçadores de pele dos grandes lagos do Canadá. Cantamos também canções inglesas e escocesas, sem faltar as tradicionais do nosso querido país. O Quebra Coco teve que ser interrompido lá pelas tantas. Ele gostou também do desarme do campo. Rápido e simples. Participou da inspeção final e verificou que o campo foi deixado quase como encontrado. Ficou satisfeito e até elogiou as chefias -: Parabéns, vocês conseguiram treinar e adestrar bem toda a tropa. Isto é o que importante. Como diz o antigo ditado, - Se vai para o mar, avie-te em terra.

Valeu mesmo o acampamento com o "Velho". Nunca mais irei esquecer.