Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Obrigado por me dar a honra de ser meu amigo e minha amiga!



O ANO FINDA, OUTRO COMEÇA, E COMO BOM MINEIRO DIREI AO ENTRAR EM 2014 - “A NÓS AQUI TRAVEIS”!

Obrigado por me dar a honra de ser meu amigo e minha amiga!

Hoje não vou escrever uma história. O dia foi para analisar o ano que passou. Um ano proveitoso para muitos e principalmente para mim que adquiri centenas de amigos. Os amigos chegaram e os recebi de braços abertos. Na minha página do Facebook, no Grupo Escotismo e suas Histórias, em meus sete blogs sem contar um Clube de leitura via e-mail onde os comentários do que escrevo são vários. Nem todos concordaram com tudo que escrevi, mas não dizem que toda unanimidade é burra? Bem vindos os que deram sugestões, os que fizeram críticas simpáticas, os que por falta de tempo nada disseram. Todos a sua maneira enriqueceram as minhas publicações.
Nunca em minha vida me senti tão feliz ou quem sabe, mais feliz do que se estivesse na ativa com os jovens. Publiquei milhares de fotos quase todas de jovens enaltecendo o escotismo, respondi centenas de e-mails de membros do escotismo todos com suas dúvidas. Em quase todas as minhas escritas fiz questão de falar em um escotismo autêntico, de uma Lei de uma Promessa, comentei sobre a honra, a palavra, a lealdade, a ética e tudo que nossos jovens precisavam conhecer e saber. Se não ajudei mais foi porque minha saúde não ajudou.
Não agradei a todos. Sabia que não. Usei da minha liberdade de pensamento para discordar com nossos dirigentes com os destinos do escotismo no Brasil. Não bati palmas como alguns queriam. Poucos formadores entraram em contato e por isto não dei um sorriso e um abraço, mas aos demais chefes eu fiz tudo para motivá-los. Sai duas vezes da minha caverna para visitar atividades escoteiras a convite. Senti-me honrado onde fui. Por falta de outros convites não houve mais visitas.
Não sei o que me reserva em 2014. Espero que repita 2013 um ano muito frutífero para mim. Entretanto o que vier aceitarei sem reclamar. Seguirei sempre nesta trilha de falar o que penso, de passar o que aprendi, de ajudar quando posso e estar sempre com um sorriso, claro quando não for chorar. Obrigado amigos e amigas por me aceitarem como sou. Estou orgulho de ser amigo de todos vocês.

Gostaria de estar presente e apertar a mão individualmente de todos. Não sendo possível o faço mentalmente com orgulho de ter você como meu amigo. Que 2014 seja o ano do escotismo. Não importa qual nação. Que a felicidade more no coração de todos vocês para sempre!

FELIZ ANO NOVO!

Chefe Osvaldo Ferraz.

Obrigado Senhor por tudo que me destes por todos estes anos.



Um poema sem nexo de um Velho Escoteiro.
Obrigado Senhor por tudo que me destes por todos estes anos.

“Senhor obrigado por ter feito de mim um Escoteiro”,
A ser também um mateiro, mil noites, em campos sem fim.
Por me deixar conhecer a natureza perfeita, a sua maior obra...
Obrigado senhor por me dar a visão, por ela eu vi o sol,
Vi a lua, as estrelas e o firmamento. Doces momentos, obrigado Senhor.
Tudo que me destes fez de mim o que eu sou. Me deste a água da fonte,
Fez de mim amigo dos animais, deixou-me andar pelas florestas do mundo,
Conhecer pássaros coloridos e Gaviões tão grandes que me fizeram sorrir.

Senhor eu agradeço de coração, pois me deu além do que merecia.
Meu deu o olfato para sentir o cheiro da terra, sentir o perfume das flores,
Deixou-me rolar em uma campina florida, sorrindo junto a borboletas douradas.
 Eu consegui Senhor só porque sou Escoteiro, senti o aroma da orquídea,
Nas florestas verdejantes e tão distantes que um dia explorei.
Eu sei senhor que fui um privilegiado, conheci a chuva tão doce a me refrescar.
E por ter me dado o tato eu a pude senti-la em meus ombros, O ribombar e o Estrondo, de uma tempestade juvenil.  Eu tive a benesse, de acariciar a
Pele de um esquilo, em um vale colorido quando o sol se escondeu.
Brinquei com os dedos no dorso, de um Lobo cinzento charmoso,
Que me aceitou venturoso como irmão de ideal.
Senhor quer alegria maior do que sentir o vento no rosto?  
Sentir o orvalho da madrugada? O sol nascer e o cantar dos pardais?
A audição que me destes, deixou-me ouvir os sons da natureza.

Meu Deus que alegria, ouvir o cantar da passarada, ouvir o trinar do bem-te-vi,
O som da cascata murmurante, o trovão da cachoeira distante,
O piar da Coruja no carvalho, ouvir o lenho arder nas noites de fogo amigo. As
Chamas tão vermelhantes, fazendo o lenho arder e fagulhas subindo aos céus.
O sorrir da meninada a cantar o Guinganguli, os olhos lacrimosos lembrando,
Da canção da despedida, cantada em versos sofridos, mas alegres no despertar.
Nada Senhor é mais lindo que sentir a respiração, ao subir em uma árvore.
A nadar num belo remanso e ver peixinhos a pular. E Senhor, ver todos,
Meus companheiros, cantantes alegres e faceiros, infantes lá nas estradas,
A marchar em terras desconhecidas, e na trilha do alvorecer!

Obrigado mesmo meu Senhor, por ter me dado o paladar. Estalar a língua no
Almoço e no jantar, feito pelo meu amigo cozinheiro. Ele um bom Escoteiro,
Não reclama mesmo se o sal faltar, se tiver picadinhos de folhas rosa,
 Se uma formiga no arroz pedir socorro, à gente a retira e nunca vai reclamar.
Tudo isto senhor será motivo de glória, pois sabemos que o que fizemos,
E o que somos, irá ficar na memória e para sempre em nossa história.
Obrigado Senhor, e nesta passagem de ano, eu nos meus setenta e três anos,
Ainda tenho no coração a alegria de um menino que nunca deixou de sorrir.
E sonhar. Sabe Senhor, a graça que me concedeu, de me dar grandes amigos.
Que os outros da minha idade, possam lembrar com saudade de tudo que aconteceu.
Aceite o agradecimento, de um Velho Lobo teimoso, que se acha venturoso,
Por ter estado presente em sua obra tão linda e eu só posso dizer:
Valeu meu Deus. Valeu! Escoteiro eu sou graças a ti!

   Vamos passando, passando, pois tudo passa. Muitas vezes me voltarei, as lembranças são trombetas de caça, cujo som morre no vento.

(Guillaume Apollinaire)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma canção para o Canário Amarelo de Giacomo.



Contos de Natal.
Uma canção para o Canário Amarelo de Giacomo.

Imagine que não há paraíso. É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós, acima de nós apenas o céu.
Imagine todas as pessoas vivendo para o hoje .

         Era apenas um filhotinho de canário amarelo caído do alto de uma castanheira em flor. Ficava em pé com dificuldade e já sabia que não podia voar. Sentiu-se só e abandonado. Sua mãe saíra para buscar o almoço e não voltou. Estava ali há horas e a fome só aumentando. Tentou um lugar para esconder, pois sua mamãe canária lhe dissera para tomar cuidado com o Gavião Malvado. Ele podia morrer se fosse encontrado só. Mas o que ele poderia fazer agora? Não podia andar e nem voar. Era muito pequeno e ali perdido naquela grama alta seria descoberto logo. Poderia ser pelo Gavião Malvado, poderia ser por um animal da floresta e poderia ser também pelo filhote de homem. Eles gostavam de machucar os pássaros da natureza. Fechou os olhos e chorou. Dizem que canário não chora, mas ele chorava. Saudades de sua mamãe canária, saudades do sua Tia A coruja Buraqueira. Ela também o protegia, mas desapareceu como o vento na tempestade.

Imagine não existir países não é difícil de fazer,
Nada pelo que matar ou morrer e nenhuma religião também,
Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.

              Ele ouviu passos. Pequenos passos de um menino pequeno. Ele o viu. O filhote de Canário Amarelo tremeu. Era sua hora de morrer. Meninos não gostam de pássaros assim disse sua mamãe canária. O menino vestia de azul com um lenço verde e amarelo no pescoço e um boné azul também na cabeça. Ele não sabia o que era isto. Mas viu que o menino sorria, não o maltratou. Tentou falar com ele, mas ele não o ouvia. O menino viu que ele não podia andar nem voar. Saiu correndo e algum tempo depois voltou. Colocou em sua frente semente de arroz cozida. Em uma latinha havia água de beber. Ele viu que o menino de azul tinha um bom coração. Se sentiu revigorado após comer e beber. O menino ficou ali, não foi embora. Um sorriso simples como a dizer – “Não tenha medo eu tomarei conta de você”. Ele dormiu em paz acreditando na paz do menino de azul. Não sonhou. Canários não sonham. Acordou sozinho, pois o menino de azul se foi. De novo sozinho. De novo o medo. Agora tinha água e comida e mesmo assim ele não podia fugir dos seus predadores.

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas não sou o único, tenho a esperança de que um dia,
Você se juntará a nós e o mundo será como um só.

          A noite chegou. Ele não tinha medo da noite. Para ele o dia e a noite era igual. Gostava mais da noite, pois podia se esconder. Ganharia mais um dia na vida. Sabia que o menino de azul não ficaria ali por muito tempo. Viu ao longe um amarelo branco aparecendo. Era a alvorada. O dia estava chegando. Onde estaria o menino de azul que lhe deu água e comida? Onde ele foi? Não entendia porque ele sumiu. A comida não iria durar muitos dias. Ele era pequeno tinha de comer bastante. Sentiu seu corpo revigorar. Levantou as asas e ela bateu para cima e para baixo. Tomou distância em uma trilha correu e saltou para o espaço. Caiu feito uma abóbora madura. Ainda não estava na hora? Impossível, ele tinha de tentar e tentou muitas vezes. Qual foi sua surpresa que de tanto tentar levantou voo. Como era lindo voar. Rodopiou no ar varias vezes e quase foi engolido pelo Gavião Malvado que voava por trás. Ele não viu. Não sentiu o som de suas asas.

Imagine não existir posses me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo.

      Ele viu ao longe uma onça parda olhando por um precipício e sabia que devia ser sua caça. Ele estava à espreita, mas não atacou. Vou baixo para ver e qual foi seu espanto quando viu o menino de azul caído no buraco fundo. Ele estava com os olhos fechados e parecia estar com dor, pois chorava e cantava baixinho – Meu Jesus me proteja, não deixe que nada aconteça comigo neste dia de natal. Meus pais irão chorar quando não me virem na ceia da meia noite. Senhor Jesus amado, não quero que eles chorem. O filhote de Canário Amarelo sabia que precisava fazer alguma coisa. O menino de azul o salvou e ele tinha de fazer o mesmo. Pousou em um galho de uma arvore e ficou pensando. Sentiu um esvoaçar nos céus. Milhares de Canários Amarelos o procuravam por todos os lugares. Sua mãe o viu, voou até ele e com bico o beijou varias vezes. Ele contou para sua mamãe sobre o menino de azul. Ela lhe disse para não se preocupar. Mandou-o ficar ali na espreita enquanto ela iria montar um plano para salvar o menino de azul.

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas não sou o único tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós e o mundo viverá como um só.

         Não demorou muito tempo. Milhares ou milhões de canários chegaram com uma enorme rede de cipó feita por Araras vermelhas, tico tico da floresta, pardais das campinas verdejantes e tantos pássaros que agora só havia um objetivo. Tirar o menino de azul do buraco. Quinhentas andorinhas voaram por cima da Onça Parda. Não deram sossego e quando ela se sentiu bicada pelas andorinhas saiu em desabalada carreira. Em pouco tempo os Canários Amarelos jogaram a rede em cima do menino de azul que assustado sentou no meio da rede e foi levado pelo ar até onde estava acantonada sua Alcateia. O deixaram ali e dezenas de lobinhos e lobinhas batiam palmas por tão belo espetáculo. O menino de azul foi salvo. Naquela noite de natal ele e sua família cantaram felizes por estarem juntos. Os pais não sabiam que ele salvou um Filhote de Canário Amarelo e eles o salvaram de morte certa. Ele nunca mais esqueceu este dia. Para ele o menino de azul foi o melhor natal de sua vida. Ele sabia que o que fizerdes de bem sempre terá em troca o dobro.

Noite feliz, Noite feliz,
O Senhor, Deus de amor,
pobrezinho nasceu em Belém.
Eis na lapa Jesus, nosso bem.
Dorme em paz, oh Jesus.
Dorme em paz, oh Jesus.


A canção Imagine tanto a letra como a musica é de autoria de John Lennon.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!



Contos de natal.
E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!

“Em uma montanha bem perto do céu, se encontra uma lagoa azul
Que só a conhecem aqueles que têm a dita de estar em meu clã”!

           E quem disse que a vida do Pedrão Pioneiro era fácil? Ele sabia que não, mas como bom Escoteiro que sempre foi enfrentava tudo com um sorriso nos lábios. Enquanto sua mãe cozinhava para a Fábrica de Motores ele podia estudar. Agora não mais. Ela ficara doente e a mandaram embora. Reclamou na justiça e eles recorreram. O advogado disse que poderiam protelar por muitos anos. Ficaram a Deus dará. Ele seu irmão Juventino de seis anos e sua mãe que já estava chegando aos setenta. Pedrão Pioneiro tinha 21 anos e trabalhava em uma loja de calçados. Salário Mínimo e comissão. Tirava uns mil e trezentos por mês. Pagava sua faculdade novecentos. Não dava para a família comer. Teve que trancar a matrícula. O pior aconteceu. Devido dar muita atenção a sua mãe que mal podia andar faltava muito ao serviço e foi demitido. Chorou e implorou ao seu Nonato para ficar. Nada feito. Seu Nonato foi inflexível. O pior que isto aconteceu uma semana antes do natal. Belo presente de Papai Noel pensou. O Clã partira para o Rio de Janeiro. Foram convidados por pioneiros cariocas a passarem o réveillon com eles. Ele não foi. Ir como? Sem dinheiro? Deixar sua família em dificuldade? 

♫ “A sede de riscos que nunca se acaba, as rochas que há a escalar
O rio tranquilo que canta e que chora jamais poderei olvidar”.

           Pedrão Pioneiro soube que havia uma vaga na loja de calçados do shopping Sol Nascente. Levantou cedo e partiu. Seu dinheiro acabara e nem para o ônibus tinha mais. Seguiu a pé. Não era longe, menos de doze quilômetros. Quantas vezes ele fez mais que isto nos Escoteiros? Riu com as lembranças. Mas no fundo chorava sem ninguém ver. Ele sabia que só tinham alimentos para mais dois dias. Depois só Deus para ajudar. Quando atravessou a Avenida Rebouças uma multidão correndo. Ele se assustou e ficou em pé em frente a um bar que já havia descerrado suas portas. Vários policiais o agarraram e batendo com seus cassetetes gritavam – “Toma seus Black Bloc filhos da mãe”! Pedrão Pioneiro tinha ouvido pela TV da baderna que faziam. Cruz credo logo ele um Escoteiro, um amante da paz apanhando daquele jeito? Levaram-no preso para o oitavo distrito. Foi jogado em um camburão com mais seis. Um inferno! Não podia se mexer e feriu seus pulsos com a algema que lhe colocaram. Os que estavam com ele logo foram soltos. Na delegacia advogados estavam lá a espera. Ele? Um pobre coitado sem eira e nem beira e nem conversou com o delegado. O levaram para o cadeião de pinheiros. Jogaram-no em uma cela de três por quatro junto com mais vinte presos.

♫ “No alto da serra na gruta escondida, foi lá que eu fiz o meu lar”.
“Subindo e descendo com corda ligeira, eu vi o meu clã acampar”.

            “Meu Deus!” rezava Pedrão Pioneiro. Ajuda minha mãe e meu irmão ela está doente e ele só tem seis anos! Pedrão Pioneiro no noticiário das seis apareceu como Chefe dos Black Bloc. – Preso o mais perigoso arruaceiro de São Paulo! Diziam em alto e bom som. Logo ele? Um Escoteiro? Uma pessoa que nunca fez mal a ninguém? Passou mais três dias na cadeia. Todas as noites seus olhos se enchiam de lágrimas a pensar em sua mãe e seu irmão. Dia 24 de dezembro véspera de natal ele foi solto. Esperava-o na Secretaria da Cadeia o Delegado Paulo Santos. Olá Pedrão Pioneiro, o que eles fizeram com você? O delegado Paulo Santos quando ele passou para Escoteiro com onze anos estava nos seniores fazendo a Ponte Pioneira. Pedrão Pioneiro tinha se esquecido dele, mas ele não se esqueceu de Pedrão Pioneiro. Foi ele quem o soltou. Deu uma carona até sua casa e Pedrão Pioneiro não aguentou. Chorou de felicidade em saber que amigos no escotismo são amigos para sempre. A surpresa maior foi ver na porta de sua casa dezenas de Escoteiros e chefes do seu grupo e de outros da redondeza. Eles souberam do acontecido e em nenhum momento acreditaram na acusação. Uma campanha do quilo e o problema da comida de Pedrão e sua família estava resolvido por alguns meses.

♫ “O sol no caminho, a seguir direciona, o vento estimula a andar,
Paredes e vidros e grandes rochedos, repetem o eco a cantar”!

           Era noite de natal. A mãe de Pedrão Pioneiro fez uma linda ceia. Convidou o Delegado Paulo Santos que ficou por alguns instantes. Tinha de partir para ficar com a família dele. Dois pioneiros que não viajaram para o Rio de Janeiro ficaram com ele até a meia noite. Uma parte resolvida pensou Pedrão Pioneiro. Pelo menos comida eles teriam por alguns meses, mas e depois? Pedrão Pioneiro sorria ao ver o irmão Juventino brincando com amigos. Uma hora da manhã e uma perua parou em sua porta. Pedrão a viu, pois estava no portão vendo o belo céu cheio de estrelas. Viu que era a Perua da Loja de calçados que trabalhava. O próprio “Seu” Nonato desceu e chorando pediu desculpas a Pedrão Pioneiro. – Olhe eu fiz um cálculo errado na sua rescisão de contrato. Faltaram doze mil reais e fiz questão de trazê-lo pessoalmente. E quero que volte. Você foi nosso melhor funcionário que já tivemos. “Seu” Nonato, muito obrigado, mas não me tenha como vingativo. Eu agradeço, mas sabe? Com este dinheiro vou abrir na minha garagem uma lojinha de pequenas coisas. Minha mãe vai cuidar e tenho certeza que poderei estudar e voltar a tempo para administrar com ela! E a vida voltou a sorrir para Pedrão Pioneiro. Nada como um dia após o outro!
É melhor não contar, mas Pedrão Pioneiro se formou e hoje é dono de uma grande rede de lojas de calçados. Dizem que têm filiais até nas “Horopas e America”

Só dê ouvidos a quem te ama. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito!

♫ “Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri”!
O que importa é vencer o mal, mantenha sua alegria,
“Não importa você se zangar, pois o mal vai acabar”! ♫


domingo, 22 de dezembro de 2013

Milagres existem, é só acreditar.


Contos de Natal.
Milagres existem, é só acreditar.

♫ “Rataplã do arrebol, Escoteiros vede a luz”!
Rataplã olhai o sol, do Brasil que nos conduz” ♫

               Liminha não pensou duas vezes, se tinha de pular não ia discutir com o Monitor. Tomou distância e correu, pulou e quase alcançou a margem do outro lado. Não conseguiu, caiu por uns bons cinco metros e sentiu a pancada nas costas. Foi a primeira vez que sentiu uma dor enorme. Foi também que descobriram que ele estava com leucemia. Não foi assim tão rápido. Começou quando após a queda sentia uma dor de cabeça que não passava. Uma fraqueza e cansaço tremendo. Viu manchas arroxeadas na pele e sentia dor nos ossos e articulações. Apareceram outros sintomas, mas os médicos diagnosticaram facilmente. Liminha nunca pensou que podia ter esta doença. Era um Escoteiro alegre, Corredor, valente nas atividades e sempre se sobressaindo em tudo. Quando seus pais souberam acharam que o escotismo era o culpado. A dor é muito forte e achar a culpa de alguém é mais fácil para enfrentar o desespero que passavam. Liminha nunca chorou na presença dos seus amigos de patrulha. Aceitou e muitos estranharam por vê-lo sempre sorrindo.

♫ “Alerta, ó Escoteiros do Brasil, alerta!
Erguei para o ideal os corações e flor!
A mocidade ao sol da Pátria já desperta
A Pátria consagrai o vosso eterno amor” ♫.

               Seus pais não mediram esforços para tentar uma cura. A leucemia era uma doença cruel. Primeiro os medicamentos e a poliquimioterapia. Era demais para ele. Mas com três meses começou a se sentir melhor. Exigiu voltar para sua patrulha. Não pediu e disse aos seus pais que sem o escotismo ele iria morrer logo. Na primeira reunião de patrulha disse para todos o que tinha, mas não queria compaixão – Vocês tem que me considerar como um igual. Se acharem que estou doente nunca mais eu conseguirei melhorar! O escotismo era um balsamo para Liminha. Não perdia um acampamento e com tristeza não pode participar de um bivaque. Seria muitos quilômetros e o próprio Chefe o aconselhou a não ir. Foi a primeira vez que Liminha o viu. Tinha quase sua idade e sem nenhum fio de cabelo, mas com um belo sorriso. Ficaram amigos e seus pais ficaram mais ainda preocupados. Liminha apresentou seu amigo, mas ninguém via ninguém. Um amigo que foi tirado da sua imaginação, todos pensaram. A contra gosto aceitaram. Se isto o fazia feliz porque não? Liminha o chamava de Tércio. Passavam horas conversando.  

♫ “Por entre os densos bosques e vergéis floridos,
Ecoem nossas vozes de alegria intensa!
E pelos campos fora em cânticos sentidos
Ressoe um hino avante à nossa Pátria imensa”! ♫.

           Quatro meses depois Liminha teve outra recaída e desta vez passou meses internado no hospital. – Só um transplante de medula óssea poderia resolver, aconselharam. Mas e como achar um doador perfeito? Vários membros da família se revezaram nos exames, mas nenhum serviu. Liminha se tornou um exemplo para os internos do hospital. Vivia sempre sorrindo e contava longas histórias para os meninos internados no mesmo quarto que ele. Todos aprenderam a reconhecer quando Tércio estava com ele. Tércio sabia tantas histórias e mesmo não o vendo eles se divertiam. Até mesmo os Escoteiros da sua patrulha e da tropa gostavam de ir ao hospital para não só visitá-lo, mas para mandar um abraço a Tércio. Um Tércio que só Liminha conseguia ver. Liminha não melhorava. Pediu aos seus pais que trouxessem o seu uniforme. Gostaria que quando houvesse visita ele estivesse com ele. Era contra as normas do hospital, mas os médicos autorizaram. Quinze dias antes do natal Liminha piorou. Quase não falava. Os médicos comunicaram aos seus pais que não havia retorno. A vida de Liminha era uma questão de dias.

♫ “Unindo o passo firme à trilha do dever,
Tendo um Brasil feliz por nosso escopo e norte
Façamos ao futuro, em flores antever
A nova geração jovial confiante e forte”! ♫.

            Liminha pediu e foi autorizado que fizessem uma reunião de tropa em uma área ajardinada do hospital. Era o dia 24 de dezembro. Ele foi em uma cadeira de rodas. O Chefe Escoteiro emocionado fazia tudo para que Liminha participasse sem notar que o programa tinha sido feito para sua participação. Liminha ria a valer nos jogos e gritava a mais não poder para Tércio seu amigo imaginário. No final da reunião na cerimonia de encerramento antes da bandeira Liminha pediu ao Chefe se seu Amigo Tércio poderia fazer a promessa. O Chefe Escoteiro não sabia o que dizer ou fazer. Os pais de Liminha em um canto choravam lágrimas doídas. – Deus oh Deus porque tudo isto? Dizia sua mãe em prantos. Liminha na cadeira de rodas foi até o centro da ferradura e apresentou seu amigo Tércio a tropa. Quando assustado o Chefe Escoteiro tomava a promessa uma forte luz azul se fez presente. Ninguém entendia nada, mas todos viram em uma névoa branca um menino de branco, com a meia saudação a dizer: - Eu prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para: Cumprir o meu dever para com Deus e a Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro.

♫ “E se algum dia acaso a Pátria estremecida,
De súbito bradar: Alerta aos Escoteiros,
Alerta respondendo, à Pátria a nossa vida
E as almas entregar iremos prazenteiros!
Alerta! Alerta! Sempre Alerta”!
       A emoção foi demais. Lágrimas foram derramadas por todos. Liminha assustou todo mundo quando ficou de pé e corria rindo em volta do arvoredo do pátio do hospital. Ele gritava: Não vá embora Tércio. Não me deixes! Quero ir com você! Todos viram um redemoinho que se elevava aos céus. Alguns juram que ouviram Tércio dizer que voltaria. Seria por pouco tempo. Liminha chorava e andando normalmente pediu aos seus pais que o levassem para casa. Os médicos sem saber o que fazer concordaram. No outro dia ele voltaria ao hospital. Liminha voltou, mas para surpresa de todo mundo ele estava curado. Não sentia mais nada. Um milagre. Um milagre de Natal. Tércio no céu sorria. Liminha na terra sorria. O mundo Escoteiro voltou a pensar que no escotismo tudo pode acontecer. Foi o próprio Liminha quem disse ao seu pai e sua mãe:
♫ “Não é mais que um até logo,

Não é mais que um breve adeus” ♫. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Do mundo nada se leva.


Um conto de Natal.
Do mundo nada se leva.

Cabecinha boa de menino triste,
De menino triste que sofre sozinho,
Que sozinho sofre, e resiste...

      Valentine seguia pela rua deserta. Era dia ainda e ela não tinha medo, pois conhecia a todos no bairro onde morava. Tentou a casa de Marly e ela não estava. Era sua sub-monitora. Sentia um vazio tremendo. Não gostava de férias. O grupo Escoteiro interrompia suas atividades e ela ficava sem saber o que fazer. Os chefes precisavam mudar de rumo, passear com suas famílias e ter uma folga merecida. Valentine só pensava em escotismo. Sempre foi boa filha e boa estudante, mas quanto tempo tinha que entrou e amou? Acreditava ser mais de nove anos. Lobinha, escoteira e agora guia. Porque não dar liberdade às patrulhas para fazerem atividades sem os chefes? Valentine caminhava devagar. Era véspera de natal e sua mãe em viagem pela firma prometera chegar no dia vinte e quatro sem falta. Sua avó materna era quem tomava conta. Valentine se acostumara e sabia que sua Avó tomava conta dela como se fosse sua mãe. Valentine ouviu um choro de uma criança recém-nascida. De onde vinha? Viu do outro lado da rua uma pequena cesta e correu atravessando a rua sem olhar. O que viu quase perdeu a respiração. Um lindo bebê de olhos azuis a sorrir para ela.

Cabecinha boa de menino ausente,
Que de sofrer tanto se fez pensativo,
E não sabe mais o que sente...

         Pegou a cestinha e sorria de alegria. Mas o que fazer? Ir à delegacia? Ela estava tão sozinha em sua casa, e muitas das amigas viajando que pensou: Sempre sonhou em ter um bebê porque não este? Valentine tomou uma decisão não condizente com uma Guia Escoteira. Sem pensar levou a criança para sua casa. Tinha que escondê-la da sua Avó e de algumas visitas que costumavam aparecer. Entrou e foi direito para seu quarto. Uma parte da cama ela colocou o bebezinho. Correu a cozinha e fez uma mamadeira. Ela sabia como fazer. Tirou a especialidade de Babá. Ninguém notou nem mesmo quando de madrugada José chorou. Ela o chamava de José quem sabe para homenagear o esposo da virgem Maria. Assim como Jesus nasceu em uma manjedoura por um milagre, ela começou a acreditar que aquela criança seria seu milagre. Dois dias seguidos e ninguém desconfiou. Sua Avó era bem velhinha e meio surda. Isto ajudou muito nos planos de Valentine. Marly chegou de supetão ao seu quarto. Eram amigas e ela tinha plena liberdade de entrar e sair quando quisesse. Marly se assustou com a criança. Valentine explicou. – Impossível Valentine. Você sabe disto. Uma mentira não dura para sempre e você é uma escoteira tem honra e ética. Valentine chorava. Não queria perder o bebê. Mas qual a saída?

Cabecinha boa de menino mudo,
Que não teve nada, que não pediu nada,
Pelo medo de perder tudo.

     Pediu a sua amiga Marly que não contasse nada para ninguém. Que ela esperasse até o natal e ela iria levá-lo a delegacia. Seriam apenas mais três dias. Marly mais nova que ela tinha a cabeça no lugar. Sabia que era errado o que ela queria fazer e seria errado ela esconder também. Mas adorava sua amiga viu em seus olhos pequenos lágrimas que desciam e ela teve pena. Virou cumplice. Será que a Chefe Noêmia iria entender? Ela falava tanto da Lei Escoteira! Agora elas eram duas a cuidar do menino José. Sem perceber Marly começou a amar aquela criança. As noites ela dormia pensando como fazer para as duas ficarem com ela para sempre. Sabia que em sua casa era impossível. Nonô seu irmão mais novo “fuçava” em tudo. Ele logo iria descobrir. Onde então? Não vislumbrou nenhum local para criar a criança. Adotar? Mas elas eram tão novas! Valentine com desesseis e ela com quinze. Contar para o Padre Zózimo? Ele nunca iria entender. Também nenhum Chefe do grupo iria compreender. Constance, Joelma, Mary e Nair da patrulha não poderiam saber. Correriam para contar as suas mães e o segredo iria para o brejo.

Cabecinha boa de menino santo,
Que do alto se inclina sobre a água do mundo
Para mirar seu desencanto.

          Era o dia de Natal. Dia que elas se comprometeram ser o ultimo a viver com o menino José. Sabiam que no dia seguinte seria um martírio devolvê-lo a delegacia. Valentine sabia que ele seria levado ao Juizado e eles o encaminhariam para uma Vara da Infância e Juventude. Alguém um dia iria adotá-lo. Não poderia ser elas? Mas com esta idade? Sua mãe nunca iria concordar em entrar com um pedido de adoção. Valentine passou a pior véspera do natal de sua vida. Chorou o dia inteiro. Corria a dar tudo para o Bebê José. Teve hora que riu de si mesma pelos cuidados e ria mais ainda quando Marly chegava e queria disputar com ela os cuidados com o menino José. Valentine deixou o menino com Marly e foi comprar leite na padaria. Onde tinha encontrado a cestinha com o bebê ela viu uma mocinha sentada na calçada e chorando. Perguntou por que chorava e ela respondeu – Deixei meu filho recém-nascido aqui. O abandonei em uma hora de desespero. Agora me arrependi. Não sei quem o levou e onde ele foi parar. Valentine pegou sua mão, pare de chorar moça, seu filho está comigo. Venha, vamos a minha casa e você poderá ver que o tratamos como se fosse um filho nosso.

Para ver passar numa onda lenta e fria,
A estrela perdida da felicidade
Que soube que não possuiria.

          Não há mais para contar. Mirtes a mãe de José foi com ela a sua casa e passou um natal com todos eles como nunca passou em sua vida. Era de família rica e sabia que eles não iriam entender a gravidez. Mas ela resolveu enfrentar a tudo e a todos. A mãe de Valentine chegou e a festa foi mais linda ainda. No dia seguinte Mirtes levou José para sempre. Deixou o endereço para um dia se quiserem visitá-lo. Era em uma cidade não muito longe. Insistiu para que elas fossem madrinhas. Valentine e Marly não paravam de chorar. Madrinhas? Seria uma honra! Quando o ônibus partiu Valentine e Marly abraçaram-se chorando. Elas sabiam que foi encontrada a melhor solução. Fizeram questão de contar para todos o que fizeram. Não houve recriminação, mas sua mãe a orientou que não deviam ter feito o que fizeram. Do mundo nada se leva e devemos perceber que os verdadeiros valores da vida devem ser feitos dentro da lei e da ordem. Isto antes que seja tarde demais...


Os versos são de autoria de Cecília Meireles.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O último adeus do Velho Lobo.



Contos de Natal.
O último adeus do Velho Lobo.

                Para ele seria o mesmo natal de sempre. A família reunida, os netos correndo pela casa, as conversas dos filhos, tudo muito parecido com os anos anteriores, mas sempre com um sabor especial. Quarta feira, 24 de dezembro. Ele acordou cedo. Tomou seus remédios e sem o desjejum partiu. Era sempre assim. Uma volta no bairro para sua caminhada matinal. Sabia que no retorno o café fumegante estaria pronto. A família sempre se reunia à tarde, e por volta da meia noite todos iam a mesa para se refastelarem com o magnifico manjar da Mama. Ele já havia notado uns lapsos de memória e sabia a tempos que seus pensamentos se misturavam. A Santa Catarina pirolim pirolim pom pom, era filha do Rei”♫. Sentiu-se cansado e sentou em um ponto de ônibus na avenida próxima a sua casa. Fechou os olhos para tentar fazer sua mente voltar ao presente. Não sabia como, mas o ônibus chegou e ele entrou. Sentou na frente. Porque fazia isto? Ele não sabia. Nunca fez isto antes. Na viagem que ele não sabia o destino se lembrou do seu passado. Se viu menino escoteiro na Mata do Morcego. Encurralado em uma árvore por uma jaguatirica. Ela o olhava com olhar amigo. Ele não acreditava. ♫”Acenda, Fogo, acenda, Acenda essa fogueira”. Aqueça minha tenda e ilumine essa clareira! ♫...

          - Senhor aqui é o ponto final! – disse o motorista. – Mas como vou fazer para voltar? – Espere o próximo ônibus. Este vai se recolher a garagem! Ele desceu. Não sabia onde estava. Lembrou-se quando sênior acordou em um vale enorme, cheio de pássaros cantantes e uma cascata que faziam um barulhão. Ele não sabia onde estava quando saiu da barraca. Chegaram à noite perdidos e sem rumo certo. ♫ “Acorda escoteiro que o galo já cantou, cantou, cantou o galo já cantou... Co-co-ro-có.... ♫. Olhou para um lado e para o outro, uma enorme avenida e milhões de carros passando de um lado e de outro. Prédios enormes. Qual ônibus para voltar? Ele não sabia. Não sabia de mais nada. Esquecera seu telefone e endereço. Nunca saia com seus documentos pois sua volta no quarteirão era pequena. Viu que nem dinheiro tinha – Seu guarda, preciso voltar para casa – Onde o senhor mora? – Não sei! – Seu nome? – Não lembro. Sei que me chamavam de Velho Lobo, eu fui escoteiro. – O guarda o olhou de esguelha. – Não posso ajudar, atravesse a rua e ande dois quarteirões. Vais encontrar uma viatura equipada com rádio. Quem sabe podem ajudar o senhor! ♫ “Avançam as Patrulhas, lá ao longe, lá ao longe. Avançam as Patrulhas, cantando com valor, lá ao longe!”“... 

           Teve medo ao atravessar. Nunca viu tanta gente correndo e querendo chegar do outro lado. Confundiu-se e no meio do caminho parou. Sua mente o levou até o Despenhadeiro do Lobo. Um medo incrível de escorregar e cair. Ele ficou pendurado em um galho e se não fosse o Nonato cozinheiro tinha morrido.  ♫ “Rigor, Boom, rigor, boom. Vem correndo depressa Escoteiro Ajudar o cozinheiro a fazer um jantar supimpa, supimpa Parazibum, zibum” ♫. Parou no meio da avenida. Nunca sentiu tanto medo. Ninguém se preocupava com ele. Mesmo com seus 87 anos ele ainda pensava que podia manter o domínio de sí mesmo. Em passadas largas atravessou a outra parte da avenida. Sentiu que alguém o segurava por trás e na frente um jovem lhe deu um murro na barriga. Ele sentiu uma dor tremenda. Ali na calçada estava sendo assaltado por pivetes e ninguém o socorreu. ♫ “Como é feliz o acampamento na floresta, Junto de nós passa um riacho a murmurar, cantam as aves em seus ninhos sempre em festa, o vento sopra a ramagem a cantar!” ♫. Uma moça o pegou com braço e mandou-o sentar próximo ao vão do MASP. Eram duas da tarde, ele precisava dos seus remédios. A fraqueza chegava e ele sabia que não ia aguentar.

               Precisava comer. Em sua casa já teria almoçado. Lembrava que nem o café da manhã tomou. Levantou com dificuldade. Viu uma lanchonete, viu coxinhas, e bolinhos de carne. – Moço eu posso comer um e pagar depois? – O garçom riu. - Sem dinheiro necas meu Velho. Saiu andando em passos trôpegos. Começou a sentir tontura. Sabia por quê. A diabete fazia efeitos em seu corpo. ♫ “Quando se planta la bela polenta, la bela polenta, Se planta cosi. Se planta cosi. Oh!, oh!, oh!, bela polenta cossi” ♫. A tarde chegou de mansinho e as luzes dos postes se ascenderam. O frio começou a fazer efeito em seu corpo. Não tinha blusa. Uma senhora negra riu quando viu que ele tiritava de frio. Lembrou-se quando se aventurou no Deserto de Atacama e no Vale da Morte. No dia um calor de rachar a noite o frio era demais. – Venha comigo ela disse. Debaixo do viaduto tem fogueiras feitas pelos meus amigos. Ele foi. ♫ “Em Silêncio acampamento, este canto vinde ouvir, são fagulhas da fogueira que nos dizem escoteiros a Servir” ♫...

            A noite foi cruel. Mesmo em volta daquela fogueira ele pensava que não iria resistir até o outro dia. Carros passavam proximo buzinando. Era noite de natal e ele não se lembrava do seu nome, de sua família só lembrava-se do seu apelido. Velho Lobo. Lembrou-se também da subida no Pico da Manada no Peru. Dormiram encostados em uma enorme pedra onde cabia só dois e eram cinco! Foi lá que pela primeira vez viu a neve que caia em flocos brancos e lindos de ver. ♫ “Longo é o caminho, longo, longo, mas andaremos sem parar! Duro é o caminho, duro, duro, cantemos para não cansar!” ♫... Dormia e acordava, dormia assentado encostado a lateral do viaduto. Os seus novos amigos dormiam tendo como cobertor papelões que eles guardavam das lides onde recolhiam lixo reciclado para sobreviver. Ouviu ao longe alguém cantando uma canção de natal. Lembrava vagamente quando em uma reunião de Giwell em um Jamboree alguém contou uma história de natal. A lembrança o emocionou. ♫ “Eu era um bom lobo um bom lobo de lei. Não estou mais lobando, o que fazer não sei, me sinto velho e fraco não sei mais lobear, logo a Gilwell Assim que eu possa vou voltar” ♫...

            O dia amanheceu. Ele estava fora de si. Sentia falta de ar, tremia e quase não ficava em pé. Seu corpo não obedecia a sua mente. Como um robô saiu cambaleando pela rua. As pessoas desvencilhavam-se achando que ele estava embriagado. Até uma senhora disse bem alto – “Com esta idade e bêbado pela manhã”? Ele começou a se sentir mal. Uma dor enorme no peito. Sabia que era seu fim. Seus olhos se fecharam. ♫ “Prometo neste dia, cumprir a lei, sou teu escoteiro, Senhor e Rei. Eu te amarei pra sempre, cada vez mais. Senhor minha promessa, protegerás” ♫... Viu sua mãe sorrindo, como ela era bela e nova. Viu seus irmãos e irmãs que já tinham partido ali acenando. Fechou os olhos e esperou ser chamado para subir aos céus com eles. Acordou assustado em sua cama em seu quarto. Toda sua família em volta sorrindo. Era sua mulher, eram seus filhos, seus netos e vizinhos. O quarto cheio de gente. Bem vindo Papai, bem vindo marido, Vovô estava morrendo de saudades! Então não tinha morrido? Viu próximo uma jovem uniformizada de Escoteiro. – Quem é você? Foi sua esposa quem contou – Ela viu você caindo e dizendo ser um Velho Lobo. Sabia que você era um Escoteiro. Pediu um taxi e o levou ao pronto socorro. Telefonou para várias delegacias e uma delas já sabia do seu sumiço. Comunicaram por telefone. Ela meu marido, foi seu anjo de natal!


Bravo, bravo Bravo, bravíssimo, bravo, bravo bravo, bravíssimo bravo, bravíssimo bravo, bravíssimo bravo, bravo bravo, bravíssimo” ♫...

domingo, 15 de dezembro de 2013

São coisas do passado.




Conversa ao pé do fogo.
São coisas do passado.

        Jovens Escoteiros e jovens escoteiras. Estou aqui a imaginar vocês em volta de um fogo amigo, em uma clareira de uma floresta onde o verde se foi e agora a noite chegou, com um riacho cantante ao lado, fazendo seu caminho de sempre a procura de um rio e depois o mar. Sei que vocês estão ali porque ainda acreditam na beleza do escotismo. Sei que vocês já sentiram o cheiro da terra, o perfume da floresta, a brisa gostosa que sopra do lago dourado, um poente que nunca irão esquecer. Sei que agora aqui em minha volta, assentados neste banco tosco feito de madeira simples, quem sabe a saborear um café brasileiro cujo bule cheio está a manter o calor, bem próximo à pequena fogueira. Não é um fogo do conselho e vocês sabem disto. É apenas uma conversa ao pé do fogo sem eira e nem beira, sem inicio e sem fim. Todos estão ali para jogar conversa fora, mas que não escapa algumas frases que saem de dentro do coração.

     Cada um de nós, vocês e eu vivemos uma vida diferente de muitos outros rapazes e moças. Hoje sabemos o valor dela e com o passar do tempo também poderão valorizar mais e mais aqueles que viveram nas benesses escoteiras. Quando o inverno chegar daqui a muitos e muitos anos quem sabe, irão sentar em algum canto da casa e deixar o pensamento correr pelos céus, a perseguir a borboleta verde que perdida na rua vazia, irão sorrir ao lembrar-se do seu passado. Dizem que não é triste lembrar o passado, triste mesmo é não ter passado para lembrar. Confirmam-me os poetas que fechar os olhos e lembrar-se do passado é a maior máquina do tempo e o melhor remédio para o homem. Quantas coisas belas vocês viveram no escotismo? Se ainda não viveram façam elas se tornarem realidade. Não deixe que a inercia de uma vida sem aventuras aconteçam com vocês. Não reclamem que nunca deram nada a vocês. Nada cai do céu aleatoriamente. A montanha não é intransponível. Será sim se ficarem a admirar sua beleza sem pisar em suas terras no mais alto cume que puderem alcançar.

        Sabem meus amigos e minhas amigas escoteiras que estão aqui na frente da minha barraca, aproveitando o calor gostoso desta noite fria, a falar de amores, de sonhos e de belas coisas que estão vivendo e poderão conhecer melhor. Não siga a rotina da vida, lutem para sair da caserna pelo menos uma vez. Se acamparem procurem ver o que poucos Escoteiros e escoteiras conseguiram ver. Quantas estrelas têm no céu? Quantos cometas passaram em chispas velozes e quantos pedidos vocês fizeram? Olhem aquela campina, vejam quantas flores silvestres. Não as tire do seu habitat, vá até elas, sinta o perfume de cada uma. Feche os olhos e sonhe que poderia ser também uma borboleta dourada, um beija flor azul e branco a voar pelos vales floridos. Inocência? Pode até ser, mas é uma inocência gostosa de fazer e sonhar. Deixe seu cérebro acompanhar o lumiar dos vagalumes, procure ver na árvore próxima os olhos enormes de uma coruja esverdeada. Veja quanta beleza! Cantem a velha canção – “O espírito da coruja mora neste acampamento”!

       Saboreiem meus caros Escoteiros e escoteiras o cantar dos pássaros no céu. Regozijem com um amanhecer maravilhoso. Saiam da barraca para apreciar os pardais a tocarem suas sinfonias impossíveis. Se possível sinta o gosto da água retirada de uma pequena nascente, tomada em uma folha que colheste no pé da arvore encantada. Hoje o dia findou. Sei que cada um de vocês cantou, correu, criou pioneirias fantásticas e viram o sol seguir seu caminho para o oeste. Sei que bombasticamente viram sua bandeira a saudar a natureza aproveitando o vento que lhe trouxe a paz. Não ouve chuvas, não precisaram ver que se tens vento e depois agua deixando andar que não faz mágoa, e nem se tem agua e depois vento e não foi necessário pôr-se em guarda e toma tento. Risos. Não foi preciso. Um céu de brigadeiro aconteceu. Agora fechem os olhos e imaginem quantas coisas belas vocês aprenderam e estas coisas estão armazenadas em cada um dos seus cérebros nos imagináveis chips da vida.

      Que outras centenas de conversa ao pé do fogo aconteçam com vocês. Alguém me disse que não se vive mais o espirito de aventuras, que não se vive mais o sentir a natureza em todo seu esplendor. Dizem que agora os tempos são outros. Um poeta sempre ele me disse que nós humanos somos os únicos seres que conseguimos pensar no futuro. Lembrar-se do passado e “destruir” o presente. Não sei se acredito nisto. Nas minhas noites enluaradas ou não, ao pé de um fogo amigo quantas histórias eu tenho para contar. Vejo meu amigo Gilliard que não é Escoteiro, mas que dizia: - Posso usar meu dia para imaginar o Futuro, agir no Presente ou lembrar-se do Passado. O Segredo é saber extrair o máximo da década de cada um deles. Lembrar-se do Passado apenas o suficiente para fazer do Presente um bom lugar para viver, e a cada dia tornar realidade um Futuro mais feliz e mais real.

         Nós, você, eu e todos os membros participantes do movimento Escoteiro temos nosso quinhão de responsabilidade para fazer uma vida melhor, onde a alegria e a felicidade estejam conosco, presas em nossos corações para sempre. E assim quando todos vocês meus jovens e minhas jovens escoteiras chegarem na minha idade, poderiam dizer para si  próprio ao recordar. Em fiz parte, eu ajudei, eu sou um deles. Como fui feliz e nunca esqueço que até hoje ainda sou feliz! Oh! Meu Deus, obrigado por me dar a oportunidade de recordar!