Conversa ao pé do fogo.
O grito de Patrulha.
Prefácio:
- No esporte, existem campeões e
existem heróis. Campeões vencem porque são bons no que fazem e tiram proveito
particular de suas vitórias. Heróis vencem quando menos se espera, superam seus
próprios limites, e quando recebem os louros dividem suas vitórias com uma
nação inteira... Augusto Branco.
O escotismo é interessante. À
medida que vamos conhecendo seu programa, sua metodologia, suas histórias e
tradições, passamos a nos entregar plenamente a sua filosofia. Muitos não sabem
explicar esta atração Badeniana. A cada reunião, a cada atividade, a cada
acampamento nosso coração pulsa pensando que vai ser para sempre. O Fogo do
Conselho? E a Canção da Despedida? E as amizades de Patrulha, de cursos de
encontros escoteiros? Eita... Aguenta coração.
Hoje me deu vontade de dar o
Grito da Minha Patrulha. “Arranca uenka, lelenka”... Ilka, telita no globo... Orgulho
de ser da Patrulha Lobo! Era assim mesmo? Acho que sim, nem lembro mais. Cada
um que teve uma Patrulha sempre se orgulhou do seu grito. Já vi milhares. Não
importa as frases, as tiradas, pois todos os gritos tem seu valor. Um Velho Chefe
a quem chamavam de Velho Lobo me disse um dia que Gritos são tradições
imutáveis. Eles existem para dar vida a Patrulha. É como se ela quisesse dizer:
- Jovens, se unam como um todo em volta da fraternidade, pois aqui somos um só.
E como é delicioso, agradável
quando se vê uma Patrulha orgulhosa dando seu Grito de Patrulha. Cada tropa tem
sua mística. Cada uma tem sua história para as patrulhas darem seus gritos. Tem
aquelas que as patrulhas ficam em circulo fechado, bastão ao meio, todos ali
segurando e o Monitor eleva acima o totem e todos eles dão o grito. Tem outras
que se formam em linha e olhando a frente com o Monitor com bastão levantado
dão seus gritos sorrindo deliciosamente. Não importa como. Aquele Velho Lobo também
contou que pelo Grito conhecemos o Monitor e a tropa. Acredito ser verdade. Quantos
artigos da Lei estão ali? Quem sabe a cortesia, a lealdade, a fraternidade, a
honra o sorriso que vale mil palavras.
Os Gritos mostram muito. A força
simpática do Monitor mostra a alegria do mais antigo ao mais novo em
participar. E quando terminam? Uma apoteose. Vejam o olhar! Vejam o orgulho de
pertencer a Patrulha. Só quem esteve lá sabe como é. Não importa se o grito é
longo, curto, se é em português, latim, francês, inglês, ou mesmo em linguagem
galáctica ou em tupi-guarani. Não importa mesmo. Sabem o que é mais importante?
Nunca aceite que troquem o grito. Ele é uma tradição e tradições se mantem
firmes no coração de cada um.
Alguém que assumiu a monitoria
não gosta? O Chefe também? Mas meu amigo, quantos passaram pela Patrulha e hoje
antigos escoteiros nunca esqueceram seus gritos? Quantos seguraram no bastão,
gritaram alto para o mundo ouvir? Quantos nunca se esqueceram da vibração da
Patrulha? O orgulho de pertencer a ela? Portanto grito não se muda nunca. É
eterno. Para sempre. Forever!
Em toda minha vida escoteira fui um eterno
observador dos gritos de Patrulha. Lembro-me de um dado por uma Patrulha, em um
Acampamento Regional de Patrulhas onde tive a honra de ser o Chefe do Sub Campo
Sênior. Cento e trinta e seis patrulhas. Para mim na época uma apoteose. Uma
delas de um Estado Brasileiro teve seu grito escrito escritos nos anais da
história. O Grito demorava bem uns três ou quatro minutos. Quando as patrulhas
terminavam os seus gritos corriam para se juntar a essa Patrulha e era um
espetáculo fabuloso vendo todos juntos dando o grito dela.
Gritos quando a Patrulha gosta não
tem hora nem lugar. E nos acampamentos? Alvorada, lusco fusco da manhã, o orvalho
caindo, um frio danado e lá estávamos nós. Bastão ao meio, totem levantado e
gritava! Quem se importava com o sono? Com o frio? Se em uma excursão ou em uma
atividade aventureira chegávamos ao ponto escolhido, com chuva ou sem chuva lá
estava a Patrulha a mostrar que tinha orgulho, tinha união e seu grito nunca
podia ser esquecido. Já dei com a Patrulha Lobo gritos em montes e vales, em
altas montanhas, em diversos estados, dentro de vagões em viagens intermináveis.
Quando cresci gostava de participar
dos ajuris, dos ARPs, dos Acampamentos Distritais e Regionais tirando um tempo
para ver e ouvir os Gritos de Patrulha. Dizem que hoje nestas atividades os
gritos deixaram de existir. Dificilmente a Patrulha participa completa. Uma
pena. Uma tradição que nunca deveria ser esquecida. Lembro que a Patrulha voltando
de um acampamento, já noite de um domingo e passamos por um comício na praça da
cidade, um candidato nos viu, desceu do palanque e pediu para darmos o grito de
Patrulha. Atendemos sem reclamar ao Senhor Jânio Quadros!
No escotismo temos os gritos de Tropa, do
Grupo, do Distrito e o da União dos Escoteiros do Brasil. Todos são
importantes, mas o Grito da Patrulha é único. Ele dá uma comichão no corpo, uma
sensação deliciosa de pertencer aquela Patrulha. Lembro que quando alguém por
um motivo qualquer fosse sair da tropa, dávamos o grito. O único onde não havia
sorrisos só o Adeus da Despedida.
Amo o escotismo, por todos meus setenta
anos o Grito sempre me marcou. De escoteiro, de sênior, de pioneiro, e quando fiz
o CAB e o Avançado de lobinho fiquei bambambã, só porque não tinha grito só
grande uivo. Rs, rs.
Que as patrulhas gritem. Alto e em
bom som. Que mostrem a todos sua força, sua vontade seu orgulho em ser
Escoteiro. Grito de Patrulha, quem já deu nunca mais vai esquecer!