Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 17 de agosto de 2013

Jogando conversa fora. Canções.



Jogando conversa fora são artigos em série onde quatro chefes discutem temas que no dia a dia vemos em nossas atividades escoteiras. Eles simplesmente levantam o problema que deixa para os leitores chegarem as suas próprias conclusões. Este é o sexto série. Os anteriores já foram publicados aqui. Se ainda não leu e quiser ler, peça pelo meu e-mail. Em PDF. elioso@terra.com.br

Conversa ao pé do fogo. Parte VII
Jogando conversa fora. Canções.

                  ¶ Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o jantar, supimpa! ¶ - Todos riram. – Você está desafinado. – Eu? O que achou da minha voz Matheus? (Mateus era o dono da pizzaria) – Ele riu. Sei lá! Mas vá treinando. O chope já estava na mesa. As postas fritas de peixe também. Com um limãozinho ficava uma delicia. Hoje chegaram mais tarde. Uma Assistente da Alcatéia fazia aniversário. Os parabéns a você foi cantado desafinado, horroroso mesmo. - A tropa ainda não está boa em canções. – Já notei. – Estive visitando o grupo do Chefe Tornado – Lembram-se dele? – Pois é precisam os ver cantando – Faço ideia. Ele é exigente “paca” – Mas será que não estamos errados? – Pode ser. Vi outro dia uma competição de quem cantava mais alto – Cantar? – Será? – Não sei um dia me disseram que musica é a arte de expressar por meio de sons de uma maneira agradável aos ouvidos – Todos deram boas gargalhadas.

                - Quem foi que disse que aquele que não gosta de cerveja, vinho, mulheres e música será um tolo por toda a sua vida? – Caramba! Hoje você está demais. – Me disseram que ensinar os jovens a cantar é como ensinar a brincar e buscar na magia o belo prazer da música. – Perfeito – Completou dizendo que se bem ensinado a cantar, no fazer musical do jovem, ajudando-o a quebrar o preconceito de que não sabe cantar ou não tem ritmo o fortalece a cantar melhor – Isto mesmo. Ruim é quando uns dizem preconceituosamente que este tem ritmo e aquele não tem. – Vamos lá Matheus, outra rodada e seu peixe está um maná dos deuses – Mas não toma muito tempo? – Depende – Não vamos dizer que tal reunião por mês tem uma “aula” de música. – Mas procurar alguém que entende um pouco de altos e baixos, e aos poucos ir cantando uma ou outra canção o resultado é surpreendente.              
           
                  - Isto mesmo. Já me disseram que a cerveja, se bebida com moderação, torna a pessoa mais dócil, alegra o espírito e promove a saúde! – Só você – Estamos falando das canções que gostaríamos que as sessões cantassem e pudéssemos ouvir harmoniosamente. – Olhem, na Alcatéia consegui uma Pioneira que conhece bem a arte de cantar com crianças. Pedi a ela se colaboraria conosco uma vez por mês e ela gostou tanto que pediu para ser assistente – Ah! Esse mosquito Escoteiro é pior que a dengue! – Ela me disse que ensinar música é garantir ao jovem a compreensão de que ela canta porque identifica os sons do seu ambiente, que bate o ritmo na pulsação, proporcionando-o a segurança e confiança do ato de se expressar através da linguagem musical! - Nossa! Desta vez você bateu seu próprio recorde de intelectualidade musical! – Todos riram.

                  - Matheus! A saideira! - Mas chegamos tarde hoje. Poderíamos ficar até meia noite não? – Nada disto. Amanhã vou ao campo com os Monitores. Vamos ver com identificar água potável, como ferver e tirar o gosto ruim das salobras – E você sabe fazer isto? – eu não, mas um pai sabe e vai conosco – Fizeram uma pausa. Lá se foi à metade do copo. O pratinho de peixe já era. Um deles começou a cantar - ¶ Acampei lá na montanha, de manhã fiz meu café, arrumei minha mochila e toquei prá frente a pé ¶ - Todos acompanharam e não é que estava bonito todos os quatro cantando? – Menos de cinco minutos e todo o salão cantava com eles - ¶ Como é bom viver, acampando assim, vendo o sol no horizonte nascer, todos devem ter um grande ideal e com ele lutar e vencer! ¶ - Uma salva de palma dos presentes. Os clientes do Matheus logo pediram o endereço do grupo. Queriam levar seus filhos.


                  - Quase meia noite e meia, lá fora um vento gelado. – Sabe estive pensando, do suor do homem e do amor de Deus, veio à cerveja ao mundo! – risos. E então Akelá, nada de taxi? – Nada. Já disse aqui é rápido e barato. Os chefes entraram no taxi e a Akelá ainda deu para ouvi-los cantarem - ¶ Amanheceu! O céu é cor de anil! Alerta, alerta de pé pelo Brasil!  ¶

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Diário secreto da Escoteira Carmem Lucia.

Lendas Escoteiras.
O Diário secreto da Escoteira Carmem Lucia.



12 de março, sábado.

Meu querido diário, a semana não teve nada extraordinário. No colégio algumas provas e acho que me sai bem. Natali como sempre irredutível. Não quer ser escoteira. Por mais que fale ela diz não. É minha melhor amiga você sabe disto. Sábado passado tivemos uma ótima reunião. Fizemos uma carta prego. Foi divertido e infelizmente extrapolamos o horário. Chefe Nadir com toda sua simpatia não nos desclassificou. Levamos um susto na quinta. Papai teve uma parada cardíaca que chegamos a pensar no pior. Felizmente foi alarme falso. Esqueci-me de contar. Sabe o Marinho? Aquele Escoteiro metido a sabe tudo? Caiu do telhado da sede. Ele viu uma pipa solta no ar e ela caiu no telhado da sede. Atabalhoado correu para pegar e despencou lá de cima. Braço quebrado. Eu fiquei com pena, mas dei boas risadas. Ele é muito metido.  Não é a primeira vez. Pagou sorvete para toda Patrulha pensando que seria eleito Monitor. Quebrou a cara! Estou preocupada. Na quarta terei uma prova de matemática e estou com medo. Preciso estudar mais e tenho muito medo. Bom dia meu caro diário. Eu te amo demais porque em cada pedaço de mim, sempre haverá um pedaço de você!

19 de março, sábado.

Meu querido diário, tirei sete na prova de matemática. Imagine meu pai achou pouco, pode? Adoro meu pai. Ele sempre tem um sorriso para mim. Hoje a reunião será no Parque da Princesa. A Chefe Nadir combinou com vários pais para nos levar. Minha Patrulha Lobo treinou dois dias na semana a transmissão de Semáforas. Haverá uma competição entre as três patrulhas e acredito que podemos ganhar. Eu cheguei a transmitir trinta letras por minuto. Vamos ver, pois como sempre O Marinho com sua pose de bom geral já disse que o troféu é da Patrulha dele. Ontem minha mãe me perguntou sobre o novo uniforme. Disse a ela que a Tropa votou em continuar com o caqui. Eu o adoro. O novo é sem graça. Tivemos a visita de um Velho Chefe Escoteiro. Disseram-me que ele foi lobinho em nosso grupo. Um velhinho muito simpático. O Professor Nelsinho me deu dez em história. Disse que eu sou uma menina muito bonita. Não gostei. Meu pai também não vai gostar, pois vou contar para ele. Na terça fui ao shopping com mamãe. Compramos umas roupas. Eu precisava, pois estou crescendo demais. Agora com treze anos tenho que andar mais bem arrumada. Não porque vou arrumar namorado. Não quero. Um dia ele vai chegar e eu vou esperar. Não tenho pressa. Bom dia meu caro diário. Eu te amo demais porque em cada pedaço de mim, sempre haverá um pedaço de você!

26 de março, sábado.

Meu querido diário. Eu e minha patrulha discutimos muito o ADIP Regional. Mudaram tudo. Nos anteriores íamos com a patrulha completa e nossas tralhas. Varias vezes levamos inclusive nossa intendência. A taxa era pequena. Só para simbolizar que nada era de graça. Agora não. Dizem que só precisamos levar as barracas e roupa de cama. Lá tem tudo. Refeições, chuveiros, banheiros e serviço médico. A patrulha achou um absurdo à taxa cobrada mesmo dividida em seis vezes. Resolvemos não comparecer. Iremos aproveitar e ir acampar cinco dias no Vale da Lontra. Sempre quis ir lá. Sabe meu querido diário. Soube que em alguns países estão tirando o nome de Deus da promessa pode? Acho um absurdo. Se aqueles que dizem ser ateus estão forçando tudo isto que façam um grupo só para eles. Não venham colocar ideias para nós. Nossa patrulha nunca vai aceitar isto. Mas olhe, lembra-se do Marinho? Ele disse que se aparecer um ateu no grupo ele vai jogá-lo na Cascata da anta só para ouvi-lo gritar – Deus me ajude! Risos. Bom dia meu caro diário. Eu te amo demais porque em cada pedaço de mim, sempre haverá um pedaço de você!

12 de novembro, terça.

Quantos anos passados eu e você juntos meu querido diário. Ainda lembro quando comecei. Tinha nove anos você lembra. Hoje tirei o dia para ler todos os cadernos. São mais de vinte. Você sabe você me acompanhou por todos os sábados por muitos anos. Lembra-se do Marinho? Aquele chato metido a bom? Risos. Não sei por que pergunto isto. Você sabe que eu casei com ele. Ninguém e nem eu nunca pensamos nisto. Você tem acompanhado. Ele é um excelente Chefe de Tropa Escoteira. Eu me dedico aos lobinhos. Me amarro neles. Chamam-nos de pragas azuis. Doces pragas. Ainda não fiquei grávida, mas logo que tiver um vou fazer tudo para ele ser escoteiro ou escoteira. Quero que ele seja feliz como eu fui e sou. Quantas coisas passamos juntos querido diário? Quantas histórias quantos causos, a morte do meu pai que nunca esqueci. Ainda bem que tive você como amigo e confidente. Tento meu querido diário trazer a mamãe para vir morar comigo. Ela não quer de jeito nenhum. Prefere ficar sozinha naquele casarão. Lembra-se das risadas que dei quando Natali resolveu entrar. Acho que entrou por causa do Norberto. Valeu para os dois. Casaram e ela já tem um filho. Ganhou de mim a danada que nem gravida fiquei. Boa noite meu caro diário. Eu te amo demais porque em cada pedaço de mim, sempre haverá um pedaço de você!

15 de novembro sábado.


Meu Deus! Desculpe meu querido diário. As dores de parto se iniciaram. Tenho de ir para o hospital. Não vou esquecer-me de você, pois vai junto comigo. Você vai ser um dos primeiros a conhecer meu filho com o Marinho. Sabe meu querido diário eu estou muito feliz. Vou ser mãe, mãe escoteira sabe? Por quê? Por que amo o escotismo e nunca vou deixar de amá-lo. Desculpe, tenho de encerrar. Meu marido já está com minhas malas. Eu te amo demais porque em cada pedaço de mim, sempre haverá um pedaço de você!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A lenda de Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.


Lendas escoteiras.
A lenda de Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.

             Esta é uma história de um lobo, um lobo solitário que nas madrugadas vagava pela Montanha de Cristal com seu uivo sinistro como a pedir à ajuda que nunca teve. Dizem que ele chorava, que de seus olhos negros sempre se via uma lágrima a cair. Não é uma história de um final feliz. Disseram por aí e eu não posso afirmar que os lobos nas montanhas andam em matilhas, o mais forte protege o mais fraco, mas quando ele está Velho, sem condições de sobrevivência é deixado pelos demais e morre uivando de fome sede e frio. Mas deixe-me contar a vocês a história de Sasquatch. Foi Sandra quem o apelidou assim. Sandra foi outra que viu seu mundo desmoronar. Mas não vamos avançar a história. Melhor narrar parte por parte para que vocês conheçam melhor tudo que aconteceu com Sandra e Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.

            Sandra tinha trinta e seis anos quando Otávio seu marido faleceu. Ficou mais de quatro anos agonizando de hospital em hospital até que Deus o levou e quem sabe para melhor. Sandra não chorou. Chorou sim quando soube que ele tinha uma grave doença pulmonar e que não sobreviveria mais que um ano. Viveu quatro anos dos mais felizes em sua vida com ele e o tratando com o maior carinho. A doença consumiu tudo que tinham. Gastaram todas suas economias. Vendeu sua casinha que compraram há muitos anos com muito sacrifício. Não tiveram filhos. Otávio já doente no primeiro ano de casado resolveu assim. Seis meses depois da morte de Otávio, Sandra ainda morava só. Uma irmã no nordeste escreveu para ela para ir morar com ela. Sandra não quis e resolveu ficar. Sua tristeza quando chegava à noite em casa do seu trabalho era enorme. Lia um livro, um programa de TV e ia dormir sonhando com Otávio ao seu lado.

            A vida de Sandra era uma rotina. Foi Amélia sua colega de trabalho quem mudou tudo. – Preciso de uma assistente. E você vai me ajudar disse. – Sandra riu e aceitou. Quem sabe o Escotismo lhe daria um novo caminho? O tempo passou. Amélia casou e saiu do Grupo. Sandra ficou em seu lugar. A Alcateia passou a ser um pouco sua vida. Dedicava de corpo e alma aos seus lobinhos. Adorava os meninos e as meninas. Fez curso, aprendeu muito em outras alcateias que visitou e acantonou. Tonho e Marilda eram suas assistentes. Baloo e Bagheera. Os lobinhos e as lobinhas tinham verdadeira adoração por eles. Sandra já não mais se sentia só. O escotismo deu a ela nova motivação e uma filosofia de vida que ela nunca esperava.

            Tudo aconteceu em julho. Anualmente sempre faziam um acantonamento no Rancho dos Grandes Amores. Seu Ruan proprietário adorava os lobos e dizia sempre – Enquanto estiver vivo aqui será um rancho de lobos! Atrás da casa sede tinha uma montanha. Linda. Muitos bosques e uma nascente. Sandra quando ia ali ficava horas e horas a olhar para ela. Chamavam-na de a Montanha de Cristal. Sandra não sabia por que, mas no dia da viagem para o acantonamento bateu uma enorme saudade de Otávio. Três anos sem ele e ela não entendia aquela melancolia, logo agora em um acantonamento. Quem sabe por que ia só e os seus dois assistentes iriam à noite. Duas mães foram juntas para ajudar na cozinha e limpeza diversas. Chegaram, arrancharam, e logo começou as atividades. Iam ficar três dias.

         À tarde do primeiro dia enquanto os lobos arrumavam suas tralhas para a noite e o banho Sandra como sempre olhava para a Montanha. Assustou quando avistou um Lobo parado em uma pequena trilha olhando para ela. Não sabia o que fazer. Entrou correndo na casa sede. Olhou pela janela. O lobo se afastava. Mancando. Notou que sua perna direita estava quebrada. Sentiu pena dele. Sem perceber o chamou de Sasquatch. Nada há ver com a história do homem de neve que contam por aí. Ela saiu de novo da casa. O lobo parou e voltou. Ela notou seus olhos tristes. Parecia que lagrimas caiam. Não era possível. Ela devia estar enganada. Lobo não chora. Viu que ele se aproximou dela. Lambeu seus pés. Ela foi até a cozinha. Cortou um pedaço da carne do almoço do outro dia e deu para ele. Ele olhou para ela com os olhos húmidos e balançou a cabeça como a agradecer. Não comeu a carne. Pegou entre os dentes e subiu a trilha que levava ao alto da Montanha de Cristal.

       Sandra acordou várias vezes. Jurava ouvir uivos enormes. Acordou pela manhã e alguém uivava lá fora. Era ele. Sasquatch. Sempre mancando. Sandra aproximou dele e ele deixou que ela o acariciasse. Viu que a perna estava curta e tinha sinal de perfuração de bala. Um caçador malvado só podia ser. Ela o olhou nos olhos, viu o brilho firme a encará-la. Foi de novo buscar alimentação para ele. Ele ajoelhou e balançou a cabeça. Deu um enorme uivo pegou a carne com os dentes e de novo seguiu a trilha da montanha. Vários lobinhos viram o lobo, tentaram se aproximar, mas ele mancando corria. Só com Sandra ele se deixava acariciar. Assim foram os três dias. No último ele fez um sinal para ela. Parecia saber que ela ia embora. Andava em direção à trilha, parava e olhava para trás. Sandra o seguiu. Não andou muito e ele entrou em uma pequena caverna.

        Sandra ficou com medo de entrar lá. Por diversas vezes Sasquatch chegou à entrada e fez o sinal para ela entrar. Resolveu segui-lo. O que viu foi de estarrecer. Dois lobinhos recém-nascidos mortos e dois vivos entre a vida e a morte. Tinha carne junto deles, mas não conseguiam comer de tão fracos. Olhou de novo para Sasquatch. Viu que ele era um lobo macho. A femea devia ter morrido, mas ele não abandonou os lobinhos. Filhos dele? Sandra não sabia o que fazer. Ele olhava para ela com carinho como a pedir que o ajudasse. Ajudar como? Ela tinha de ir embora. Sentia enorme pena dos lobinhos e sabiam que eles iam morrer. Fazer o que? Saiu da caverna. Olhou para o céu e perguntou a Deus o que devia fazer. Viu em uma nuvem Otávio a sorrir para ela. Era alucinação, ela não acreditava nisto. Resolveu voltar ao Rancho. Olhou para trás, Sasquatch ajoelhado uivava. Um uivo dolorido, choroso, e lágrimas caiam de seus olhos.

        Sandra voltou. Colocou os dois lobinhos no colo. Iria levá-los com ela. Não tinha outra saída. Desceu com Sasquatch a acompanhando. O ônibus chegou e a lobada cantando tomou seus lugares. Brincavam com os lobinhos que já estavam recuperando suas forças. Sandra deu leite para eles que beberam sofregamente. Ao entrar no ônibus deu uma última olhada em Sasquatch. Ele uivava e ela não sabia se de alegria ou tristeza. Sabia que não podia levá-lo. Não tinha condições. O ônibus foi saindo devagar pela estrada vermelha. Sasquatch tentou acompanhar, não conseguiu. Coxeava muito. Sua perna quebrada não deixava. Uivou muito e Sandra ouvia chorando baixinho. Quando o ônibus chegou à estrada asfaltada ele olhou pela ultima vez a Montanha de Cristal. Parecia que uma luz brilhante pairava sobre ela. Mas viu a figura novamente de Otávio sorrindo. Tranquilizou-se.


       Dizem que durante muitos anos Sandra cuidou dos dois lobos. Um ela chamou de Lobo Gris e o outro... Sasquatch. Por onde andava os dois lindos e enormes lobos a acompanhavam. Um de cada lado. Disseram-me que ela voltou muitas vezes a Montanha de Cristal. Foi até a caverna onde os lobos nasceram. Levou Gris e Sasquatch e eles uivaram por muito tempo como a lembrar de seu pai que deu a eles um grande carinho e amor e porque não a vida. Ao retornar ouviu bem no alto da montanha um uivo enorme. Sabia que era ele. Olhou para lá, não viu nada. Mas sentiu um calafrio. Não era ele em vida, mas ali estava seu espirito como a agradecer o belo gesto de Sandra. E posso garantir as mil e umas historias que um dia poderei contar, Sandra viveu feliz para sempre na companhia dos dois lobos. Sei que ficaram amigos para sempre! E contam até hoje que uma estrela brilhante paira todas as luas cheias por cima da caverna da Montanha de Cristal. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Civismo, garbo e boa ordem.



Conversa ao pé do fogo.
Civismo, garbo e boa ordem.

Resolvi hoje republicar este artigo. Nele falo do passado o que nem todos gostam e emendo com o presente, pois é mais atual. Quando quero descansar um pouco a mente costumo passear por páginas de amigos e sempre dou uma olhada nas fotos vendo o civismo, o garbo e a boa ordem do Grupo Escoteiro. Um fato tem me chamado a atenção. Os jovens estão se uniformizando melhor que seus chefes. Posso afirmar que estão brilhantes na sua postura e apresentação. Graças a Deus que não tem como exemplo os mal uniformizados. (Nem todos peço perdão). Não importa qual uniforme escolhido pelo grupo, seja o cáqui seja o azul mescla. Nem comento o novo. Para mim foi a pior escolha feita pela UEB imposto de maneira autoritária apesar de dizerem o contrário.  

Mas vou enveredar para outro tema. Diversas vezes assisti e ouvi comentários diversos sobre ordem unida nas seções escoteiras. Eu mesmo tive experiências, algumas boas outras nem tanto quanto a ordem unida, marchas militares etc. Não sei o quanto isto implicou com minha formação escoteira e formação de vida. Por um lado acho que foi bom e por outro não sei. E olhe, marchei muito na minha vida, tive instruções de ordem unida por muitos anos. Ops! Isto não impediu incríveis e maravilhosas aventuras e acampamentos escoteiros.

Quando fiquei adulto, comecei a ver o escotismo de outra forma. Não na sua parte de  Princípios e Métodos, isto não. Alguns membros de equipes de adestramento (hoje formação, incrível a mudança da UEB), diretores nacionais e regionais não aprovavam muito a ordem unida. Diziam que o escotismo não é militarista e etc. e etc. No desfile devíamos apenar andar sem marchas, garbosos (?), apenas mantendo o corpo ereto e o espírito escoteiro.

Participei de alguns desfiles conforme as instruções dadas. Senti-me um peixe fora d’água. Nunca vi tamanha mentalidade que prefiro não comentar.

Lembro que no passado, lá pelos idos de 1920/50, em algumas regiões escoteiras diversos políticos nacionais e regionais em cargos de relevo, aprovavam o escotismo de tal maneira, que, quase era obrigatório ter um Grupo ou Associação como se dizia na época em todas as escolas. Na falta de chefia, as polícias militares e o exercito eram convidadas a colaborar. Muitos cursos foram dados a estes, mas nem todos proveitosos. A maioria fazia o que sabia no quartel. Ordem unida e marcha.

Por uma época quando jovem tive um chefe de grupo (diretor técnico hoje – não gosto desta mudança) era militar (indicado pelas autoridades da cidade) e passamos a ter muitas atividades de ordem unida, marcha militar e até uma pequena fanfarra foi adquirida. Participei dela. Tenho saudades. Claro, as atividades de tropa, o sistema de patrulhas e as atividades extra sede eram frequentes. Nesta época sempre nos portávamos com uma postura pseudo militar o que para nós significava garbo e boa ordem. Acho que valeu muito para a minha disciplina e postura quando adulto.

Hoje aconselho sempre que posso, que uma postura como esta é necessária. Admito que alguns pensem o contrário, até aceito, mas não acho válida participação de atividades cívicas, onde todos estão com uma postura e o escoteiro mantém outra. Dá uma impressão de indisciplina ou quem sabe displicência.

Fiz diversas pesquisas deste assunto na internet e vi que muitos psicólogos e pedagogos (nem todos) dizem o contrário do que penso. Acham que a formação não precisa disto e o movimento escoteiro também. Não sei. Não concordo. Vi uma juventude crescer e se tornarem ótimos cidadãos. Precisamos mais de disciplina e respeito na juventude atual. A liberação, a escolha e a forma que é mostrada atualmente não me satisfazem. Prefiro um grupo sério no seu pragmatismo a outro liberal. Acredito que ambos podem atingir o seu objetivo, mas prefiro o primeiro no sentido mais disciplinar.

Ao formar patrulhas, matilhas, ou mesmo adultos escotistas em atividades próprias, insisto na disciplina, na postura militar sem exigir claro, igualdade aos métodos militares. Também parabenizo Grupos Escoteiros que treinam seus jovens quando das atividades cívicas e mostram um garbo próprio quando dos desfiles, recebendo o carinho da comunidade e os aplausos da população que ali comparecem. Ao contrário, aqueles que simplesmente passeiam, mesmo que disciplinarmente, não serão bem visto pela sociedade presente. Poderia dar centenas de exemplos.

Durante meus 65 anos vividos no Movimento Escoteiro, acompanhei milhares de jovens recebendo o mesmo que recebi, e todos, quase sem nenhuma exceção são pessoas bem radicadas na sociedade, com caráter e elevado espírito escoteiro, o que diz tudo. Abomino qualquer outra característica que nos trazem os pensadores, a respeito de nossa juventude escoteira, mas acredito é claro, que também a forma apresentada por estes podem dar excelentes resultados.

Enfim, um pouco de ordem unida em suas seções, podem trazer excelentes benefícios no futuro e não fazem mal a ninguém. Não me convidem para uma atividade cívica onde os jovens estarão andando displicentemente, ou atividades escoteiras onde a postura é deixada a desejar. Lembro a todos que me leem que não sou o dono da verdade. O outro lado também pode dar muitos resultados satisfatórios.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

O filho do "Chefe"



Conversa ao pé do fogo.
O filho do "Chefe"

A meditação nos trás muita paz e as vezes respondem as nossas inquisições do dia a dia. Eu gosto de meditar. Principalmente sobre o nosso Movimento Escoteiro. Sempre volto ao passado mesmo que muitos acham que foi um tempo que passou e não voltam mais. Mas fui até lá, naquele bem distante e depois fui percorrendo o caminho que conheci até chegar os dias de hoje. Quando jovem nossos escotistas eram oriundos do próprio movimento Escoteiro. Difícil explicar e difícil de muitos entenderem. Os jovens ficavam mais anos e a evasão era menor. Enquanto isso aconteceu se manteve o tradicional e o sistema de patrulhas que aprenderam em sua mocidade.

O tempo foi passando. Já não havia tantos escotistas oriundos das próprias tropas. Alguns voluntários adentraram no escotismo. Isto foi bom, pois mantivemos o crescimento que desejávamos. Pequeno é claro, mas satisfatório. Infelizmente a evasão começou a aumentar. Acontece que as cidades crescendo e a falta de adultos se tornou uma tendência que poderia até prejudicar o andar do escotismo em termos nacionais.

O número de escotistas advindo das tropas foi suplantado pelos pais. Um número crescente deles adentrou no escotismo. Aos poucos eles assumiram posições diversas na hierarquia escoteira e para nossa felicidade mantiveram o escotismo unido. No entanto foi aí que começaram as mudanças. Todos é claro sempre acreditaram que o faziam em beneficio do escotismo. A maioria dos pais permaneceram nas sessões escoteiras do grupo. Muitas tropas e alcateias devem agradecer a eles as suas atividades e continuidade.

Como foi essa chegada dos pais? O filho ou a filha interessa em participar. A mãe ou o pai ou ambos o levam a um Grupo Escoteiro mais próximo. Isto acontece muito nas cidades maiores. Difícil deixar o jovem ir e vir só. Já não confiamos como antes. O pai ou a mãe ficam ali esperando o final da reunião. Duas três horas (depende muito do Grupo que leva a sério a pontualidade Escoteira e a retidão do horário). É cansativo. Mas chega uma hora que passam a gostar das atividades. E se já ficam ali esperando porque não participar diretamente? (o começo do vírus escoteiro é aí – risos)

Quando entra o casal muito bom. Se não pode haver discordâncias no lar. Claro que o filho une a todos e o seu sorriso quando de uniforme faz com que os pais se entendam maravilhosamente. (tem casos que não).  Ai vem à parte mais difícil. Deixar que o filho ande com suas próprias pernas. A proteção familiar sem perceber se estende ao grupo. Muitos pais acreditam piamente que isto não acontece. Os demais chefes da sessão olham de outra forma. Quando o Grupo Escoteiro tem boa estrutura tudo se resolve satisfatoriamente.

Mas não é fácil. O espirito Escoteiro ainda não foi assimilado. Existem casos que isto até prejudica ao filho. Principalmente quando um dos pais é o titular da sessão e quer mostrar que ali não tem proteção. Outros casos são os pais que tem receio de fazer certos tipos de atividade que julgam ser perigosas. Não viveram aquela situação e não é fácil participar confiando. Se temos nas sessões escoteiras escotistas bem formados o problema inexiste. Caso contrário à discórdia poderá se um fato que prejudica em muito o filho ou a filha que aos poucos vai sentindo uma animosidade com sua pessoa.

Não é fácil a convivência entre adultos seja no escotismo ou em qualquer parte da sociedade. Uma solução seria um Diretor Técnico com mentalidade aberta, democrático e com boa vivencia no escotismo. Teria que ser um “Salomão” para resolver contendas, um psicólogo para aconselhar e um político (no bom sentido) para resolver tudo entre todos os participantes adultos. Mas sabemos que temos poucos desses escotistas no cargo de Diretor Técnico.  Pelo que vejo pelo que ouço e por histórias contadas o Conselho de Chefes de Grupo praticamente inexiste em boa parte dos grupos escoteiros.

Mas apesar de tudo, se não fossem os pais o destino do escotismo teria sido outro. Talvez bem pior. Eles trouxeram sangue novo. Ideias novas. Vontade de fazer e agir. Louvo isso. Só está faltando que aqueles que aderem a órgãos superiores sejam mais compreensivos nas decisões e na formação de ideias, pois muitos estão dizendo até que BP está ultrapassado, que o mundo é outro, que os jovens aspiram outra forma de atividade. Mil explicações.

Não discuto. Até acho válido. Quem sabe esses poucos que pensam assim não deveriam criar outra organização? UJF (união dos jovens do futuro). Ali eles ou até mesmo escotistas mais antigos poderiam por em prática tudo que acham válido, podem ser criativos, ter um belo traje, um lenço diferente (quem sabe um belo chapéu australiano – risos). Poderia até ser um caminho que precisamos para trazer todos os jovens a uma organização infanto juvenil. Mas o escotismo não. O escotismo é único. O escotismo é aquele de BP. Adaptar sim mudar nunca. A época da carrocinha passou. Não dá mais para sair em Patrulha com ela ao campo. Agora precisamos adaptar outros meios de transporte. Mas só nestes poucos casos posso concordar.


Bem vindo os pais. Eles são hoje o baluarte do Escotismo nacional. Tem um longo caminho ainda a percorrer, mas quem sabe eles serão a solução do futuro? E para encerrar, não se esqueçam. Se querem mesmo mudanças lembrem-se da UJF. Lá é o lugar certo para isso. Risos.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O adeus sem volta do Escoteiro.


Crônicas escoteiras.
O adeus sem volta do Escoteiro.

     Pingo D’água e Varetinha estavam desanimados. Já estavam cansados de dizer a mesma coisa e sabiam que não estavam sozinhos. Tudo mudou da água para o vinho. O escotismo agora era outro e eles não sabiam o que fazer. Pedir conselhos? Comentar com alguém? Eles acreditavam que nenhum adulto iria dar razão a eles. Claro fizeram tentativas no Conselho de Patrulha, mas o próprio Monitor não via nada de errado, portanto suas opiniões nunca foram levadas em consideração na Corte de Honra. Pensaram em comentar com o Diretor Técnico, mas ele e o Chefe Tavinho eram unha e carne. Eles não queriam sair do Grupo Escoteiro, mas tudo estava sendo levado para isto e o pior ninguém via nada. Ninguém enxergava que a tropa encolhia a cada mês e poucos procuravam agora se inscrever. Não dizem que o pior cego é o que não quer ver? Não iam a tanto, mas pensavam que tem gente que é cego e não por cegueira. Deve ser por falta de inteligência.

    Pingo D’água e Varetinha eram amigos desde que se conheceram na tropa. Ambos eram de patrulhas diferentes. Ele da Lobo e Varetinha da Texugo, no entanto eram unidos como se fossem da mesma patrulha. Foram mais de dois anos de felicidade, fazendo acampamentos, excursões, grandes jogos, aventuras mil que agora escassearam e praticamente não existem mais. Lembravam-se do antigo Chefe Josmar com saudades. Ele sim era um Chefe que nunca deveria ter saído da tropa. Quando entrou a Lobo tinha seis patrulheiros. Ele foi o sétimo. Chefe Josmar era daqueles que dizia – Aprender é fazer. Quer aprender? Faça o nó na árvore ou no galho mais alto com uma só mão. Fazer no braço ou bastão na vai ajudar na hora do vamos ver! Ele lembrava que em vários acampamentos as patrulhas estavam completas e as atividades foram lindas. Eles não paravam. Era Morse à noite ou semáforas ou fumaça no dia, sinais de pista, seguir pista a moda índia, grandes pioneiras, dezenas de nós e amarras, barracas suspensas, artimanhas e engenhocas, nossa que saudades!

    Tudo mudou com a mudança do Chefe Josmar para a Capital. Ele nunca teve uma assistente uma pena, pois poderia ter dado continuidade à tropa. Chefe Lobão convidou o Chefe Tavinho para assumir a tropa. Chegou com ares de chefão. Sempre gritando falando com todo mundo e as patrulhas começaram a desanimar com as atividades. Jogos? Nem consultava ninguém. Muitas vezes dava uma bola e dizia - Se virem! Jogar futebol não era meu forte. Bastavam minhas atividades de educação física no colégio. Eu queria escotismo de campo, de luta, de aventuras e de desafios. Ele era cego mesmo, pois não percebia que as faltas aumentaram. Alguns desistiam e nem iam mais ao grupo para dizer que saíram e não iam mais voltar. De 32 escoteiros a tropa agora tinha 18 e muitas reuniões não passavam de 12.

     Perna Fina o Monitor nem se incomodava. Ele sempre foi um bom gritador. Por ser maior e mais forte levava a patrulha no muque. Em tempo algum aprendeu que o bom líder e aquele que sabe liderar e ser liderado. Não ensinaram isto para ele. Esqueceu completamente que precisávamos ser ouvidos. Mesmo falando para ele entrava em um ouvido e saia por outro. E olhe que foi num tal Ponta de Flecha e voltou todo posudo se achando o tal. Mostrou o certificado como se fosse o melhor Monitor do mundo, e só faltou dizer que agora o respeito a ele tinha de ser maior. Eu e Varetinha conversávamos muito sobre isto. As maiorias dos patrulheiros que ainda frequentavam nada diziam. Eu conversei com meu pai. Ele nunca foi Escoteiro e seu conselho foi – Faça o que achar melhor e completou – Aprenda a tomar decisões. Achar melhor? Tomar decisões? Chamei Varetinha e disse a ele que ia sair. Amava o escotismo. Sempre pensei que seria Escoteiro para sempre. A minha maneira aguentei por quase um ano as mudanças na tropa. Não dava mais. Nossa patrulha não tinha mais que três ou quatro frequentando. Ouve dias que éramos três.

     No último acampamento, um dos poucos que fizemos não tivemos liberdade. Ele levou pais para cozinhar para nós. Deus do céu! Pensei que isto só com lobinhos. No nosso canto de patrulha ele não saia de lá. Sempre fazendo o que deveríamos fazer. O fogo do conselho foi o pior que participei. Só ele determinava só ele falava só ele dizia o que fazer. Esperei a reunião seguinte e procurei o Chefe Josmar. Queria ser sincero e dizer por que estava saindo. Nunca devia ter feito isto. Ele me olhou e disse que ser Escoteiro não era para qualquer um. Para ficar e participar tinha de ser forte, aceitar sem reclamar. No escotismo não tem lugar para perdedores. Meu Deus! Nunca esperei isto dele. Eu era para ele um perdedor? Será isto mesmo? Será que ele estava certo e eu errado? Varetinha me disse que não ia falar com ele e lá não pisava mais. No sábado seguinte não fui. Por dois meses não apareci no Grupo Escoteiro. Ninguém nunca me procurou para saber o que houve. Nem o Monitor.  Diversos outros meninos que saíram me procuraram para reclamar. Outros que nunca foram riam e diziam que lá nunca iriam aparecer. Ser Escoteiro? Nunca meu amigo. Nunca!

     De vez em quando encontro com um e outro que ainda estão lá. Dizem que quase todos saíram e entraram outros. Nada tinha mudado. A tropa tinha 15 agora, mas com as meninas. Elas foram incorporadas por falta de chefia. O Chefe Josmar continua. Não mudou nada. Labareda um Monitor da Tigre me contou em segredo – Olhe Pingo D’água, eu estive para sair. Fiquei por causa da patrulha, ou melhor, para dois deles, pois os demais saíram e entraram novos. Tudo continua como antes. É só apito, jogos repetidos, ele gritando para todos e sorrindo para as meninas. Elas agora são o xodó dele. Acampamentos? Poucos. Muito poucos. Dizem que ele vai substituir o Chefe Lobão que anda muito doente. Rezo que sim, pois quem sabe aparece um Chefe de verdade?


- Uma história fictícia. Dizem que não existe que é irreal. Nenhum Chefe vai se reconhecer nesta história. A tropa dele é diferente. Dizem que todos nós inclusive os jovens temos direitos e deveres, mas os jovens tem o que? Direitos? Você acredita mesmo que os jovens irão procurar o Chefe para explicar porque estão saindo? E onde eles podem reclamar? Com o superior no grupo? Com o Distrital? Com a região e cá prá nós, você acredita mesmo nisto? Tem gente que sim. Afinal Papai Noel nos foi enfiado goela abaixo e muitos ainda acreditam nele.

domingo, 11 de agosto de 2013

A TODOS OS PAIS AMIGOS OU NÃO.



A TODOS OS PAIS AMIGOS OU NÃO.

Gostaria de escrever a história de cada um. Impossível. Impossível também colocar a foto de todos. Sei o que é ser pai Escoteiro, viver o escotismo e dar aos filhos o amor que eles esperam de nós. Não é fácil. Minha homenagem a todos que aqui no Facebook compartilham de minha amizade. Sinto-me honrado em ter tantos amigos pais. FELIZ DIA DOS PAIS CAROS PAIS ESCOTEIROS!

Ele era o meu pai

Não tivemos um relacionamento muito próximo. Talvez pela época, onde o respeito e a palavra senhor fazia parte do nosso vocabulário. Pequenos momentos talvez. Ele me contou diversos fatos de sua vida. Não muitos porque se fosse hoje eu queria saber muito mais. Não foi um pai diferente dos outros e nem tampouco excepcional. Mas para mim foi aquele que admirei e admiro até hoje. 

Quando pequeno, não sabia o que se passava não me preocupava com o dia, a semana, o ano. Ia à escola e depois era só brincar. Na minha casa morava eu, minhas duas irmãs, minha mãe. Achava que éramos uma família feliz apesar de pobre. De uma pequena cidade só lembro-me de uma casinha branca, próximo ao cemitério. Por dentro não me lembro de nada. De outra cidade, lembro-me da casa, de madeira, fundos para o rio e embaixo em um porão com piso de terra, alguns pobres aproveitavam a seca do rio para ali morarem. Quando chovia o rio invadia tudo. Também éramos muito pobres, pois em volta de uma pequena mesa, sentávamos em caixotes para as refeições.

Graças a Deus que nunca passamos fome. Dificuldades sim. Elas existiam e eu pequeno não tomava conhecimento. O café da manhã, o almoço e o jantar sempre existiram. Meu pai nesta época era Seleiro, aquele que fazia selas para cavalos e outros apetrechos afins.  Eu pequeno, 06 para 07 anos não ajudava a não ser aos sábados e domingo. Nestes dias ajudava a engraxar os sapatos de vários clientes do meu pai. Tornei-me um excelente engraxate. Lembro-me do Grupo Escolar, do colégio, mas não me lembro de meu pai em momento algum me chamando a atenção ou brigando comigo. Era calmo e ponderado. Nunca em tempo algum me encostou a mão e por muito poucas vezes falou mais alto.

Sei que as manas e ele com muito sacrifício compraram um terreno e construíram um barracão em um bairro na periferia da cidade. Nele tinha o meu quarto próprio. Eu gostava de morar ali. Apesar de não ter ainda água encanada da rua, havia uma cisterna com uma bomba manual. Todos que tomavam banho teriam que usar a bomba por mais de 100 vezes. Assim, mantínhamos a caixa cheia e o serviço feito por todos. Meu pai alugou um salão próximo ao centro. Ali montou uma oficina de rádio. Tinha estudado por correspondência e já era um perito no assunto. Achava que meu pai era muito inteligente. Tentei fazer o mesmo curso, mas não deu certo. Talvez porque não era bom aluno ou quem sabe não era o que queria fazer. Após as aulas ia trabalhar com ele e ver se aprendia alguma coisa na prática.

Ele me deixava ficar com a quantia dos serviços que realizava. Muito poucos por sinal, mas dava para ir ao um cinema, acampar e namorar. Nesta época já trocávamos idéias e ele com sua sapiência me mostrava algumas diretrizes da vida. Conversamos pouco. Foi ali que alguns fatos de sua vida me foram relatados, com parcimônia é claro. Uma de quando moramos em uma fazenda de um tio meu, eu ainda com três para quatro anos, (não me lembro de nada a não ser da casa, pois posteriormente passei algumas férias lá) e o que ele fazia nunca soube.

Uma vez comentou comigo sobre a revolução de 32 (constitucionalista). Ele jovem ainda se alistou. No inicio tudo era festa para ele e seu amigo um tal de Sebastião Barrigada. Andaram por aqui, por ali, até que foram levados de caminhão a uma pequena cidade já dentro do território paulista. No primeiro confronto, foi só correria. Os paulistas inventaram uma matraca que imitava perfeitamente o pipocar de uma metralhadora ponto 30. Quando começou o barulho foi um Deus nos acuda. Depois virou rotina, ninguém mais tinha medo, pois já sabiam o que era. Estavam em uma tarde em uma trincheira, deitados e o matraquear das metralhadoras pipocavam ali e lá. Seu amigo ficou em pé e começou a chingar os paulistas e rindo dizendo que com a mineirada eles não eram de nada. Meu pai gritou para o Bastião deitar. Ele não obedeceu. Achava que era mais uma piada dos paulistas. Em dado momento o Bastião deitou de vez. Meu pai disse para ele, você deita ou não deita? E olhando viu que ele tinha um grande buraco na testa e do outro lado pedaços de seu miolo jaziam por todo o lado. Foi de estarrecer ele disse.

Não contou mais de sua luta, da sua militância política da revolução enfim de muitas outras coisas que eu gostaria de saber.  Sabia que ele gostava do partido da UDN e odiava o PSD. Porque não sei. O tempo passou. Ele ficou doente, quase morreu. Minhas irmãs o levaram para a capital. Lá achavam que ele teria melhores chances. Depois ficamos sabendo que era diabete. Pouco conhecida na época. Muitos anos depois, morando na mesma cidade, aos domingos me dirigia a casa dele, passava lá o dia inteiro, mas conversávamos pouco. Acho que não havia assuntos, mas quanta coisa poderia ter sabido se tivesse perguntado.

Sua vida foi sem sobressaltos. Doente, andava aqui e ali fazendo pequenas caminhadas. O que sentia não perguntei. Devia ter perguntado. Ele nada dizia. Morreu em uma semana qualquer há muitos e muitos anos. Fui ao enterro e chorei. Pensava no meu pai e o quanto poderíamos ter conversado. Hoje, espírita que sou acho que ele não deve ter tido dificuldades para alcançar um lugar melhor para ficar. Senti e sinto falta do meu pai. Hoje com quatro filhos e muitos netos, me pergunto por que não ficamos mais próximos. Ele era assim e eu também. Ainda sou meio taciturno com os meus filhos. Herança? Não sei. Quero me aproximar e não consigo. O mundo é assim. O livre arbítrio nos faz escolher caminhos que nem sempre são aqueles que deviam ser escolhidos. Faz parte do nosso crescimento.


Um dia vou me encontrar com ele. As perguntas que não fiz a farei. Se as respostas forem a que espero ótimo se não forem paciência. Este era o meu pai. Um homem calado, bondoso, amigo que me deixou fazer o que queria. Nunca em tempo algum me fez qualquer admoestação. Que ele seja feliz onde quer que esteja e que na sua próxima encarnação encontre de novo a felicidade que merece.