Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 25 de janeiro de 2014

O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.


Lendas escoteiras
O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.

                    “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Ninguém esquece. O grito de patrulha de quem já foi um patrulheiro fica marcado para sempre. Eu era um deles, da Raposa. Um ano e meio na tropa. Era meu mundo naquela época. Não havia outro. O escotismo para mim estava no meu sangue, na minha alma e no meu coração. Naquela quinta do mês de julho, lá pelos idos de 1952 combinamos com o Seu Leôncio de pegar uma carona em seu Carro de Boi até o seu sítio, nas proximidades da Colina dos Sete Cavalos. O Chefe Jessé amigo dele aprovou um acampamento nosso em suas terras de seis dias. Prometeu passar por lá pelo menos duas vezes e Seu Leôncio disse que tomaria conta de nós.

                   Quem um dia teve a felicidade de viajar num carro de boi, Jamais esqueceu. Aquele zumbido infernal com o tempo é como se fosse uma suave melodia de uma recordação sem igual. Foram duas horas e meia de sorrisos, e a gente ficava cantando, gritando, dando vivas e olhando a Canga, o Canzil, os Arreios, o Cabeçalho, e tentando descobrir o cantar das rodas no Cocão, na Cheda, no Recavem e tantas coisas lindas que compõe o carro de boi. Seu Leôncio era bom carreiro. Usava com maestria a vara do ferrão com dois guizos sem machucar os bois. Chegamos à subida das Colinas dos Sete Cavalos lá pelas onze da manhã. Trabalho duro. Armar campo. Mesa, toldos, fogão suspenso, lenheiro, aguadeiro e o Jairinho era muito bom na construção de um pórtico.

                   Eu gostava daquela Patrulha. Éramos amigos de verdade. Depois do jantar ainda à tardinha, sentados no chão e tomando um cafezinho próximo à mesa (faltavam os bancos) nós levamos o maior susto. Susto tal que nem correr deu ânimo. Minhas pernas tremiam como se fossem vara verde. Bem no centro do pórtico um enorme Leão Branco! Isso mesmo! Um Leão Branco. Parado a nos olhar. Eu comecei a molhar as calças e acho que os demais também. Lembramos quando o Chefe Jessé nos instruir quando víssemos uma onça. – Não correr Jamais. Todos olham nos olhos dela. Um de nós passo a passo para trás tenta dar a volta. Sobe em uma árvore e lá grita, Faz barulho para chamar a atenção do animal. Quando conseguisse todos corriam e subiam na primeira árvore que encontrassem. Eu era o que estava mais atrás. Não fiz nada disto. Um medo terrível. Meu corpo parecia um tronco fincado no chão. Diabos! Não sei o que deu em Marino. Como se estivesse hipnotizado foi devagarinho até o leão. Ele afagou sua juba. O Leão Lambeu os pés de Marino. Ninguém acreditava no que via.

                     Assim começou a fantástica amizade de sete escoteiros e um Leão Branco. Marino o chamou de Eddy. O dia inteiro ele brincava conosco em nosso campo de Patrulha. Chegou até a nadar junto a nós no córrego da Canoa Quebrada. A noite ele sumia para bem de manhãzinha voltar. Muitas vezes ainda dormindo ele abria as portas das barracas e nos lambia fazendo cocegas. Amei aquele Leão. Ninguém pensou o que ele estaria fazendo ali. Ninguém lembrou como ele se alimentava. No sábado Seu Leôncio viu. Assustou. Pegamos na mão dele e o levamos até o Eddy. Ele não acreditava. Manso como um potrinho recém-nascido. Conversou com nosso Monitor. Natanael nos contou depois. Eddy estava matando para comer bezerros e pequenas ovelhas dos fazendeiros da redondeza. Queriam matá-lo. Eles sabiam que ele havia fugido do circo Garcia há cinco meses. Tentaram capturá-lo e até alguns homens armados percorreram os montes, vales, campinas e tantos outros lugares tentando encontrá-lo e matá-lo e não conseguiram.

                   Eu não podia acreditar. Matar o Eddy? Nunca. Preferia morrer com ele. No domingo pela manhã chegaram mais de vinte homens armados junto com Seu Leôncio. Eddy estava conosco brincando. Gritaram para sairmos de perto. Eu não sai. Agarrei o pescoço de Eddy. Ele me deu um puxão e foi correndo em cima dos homens armados. Um verdadeiro tiroteio. Nós gritávamos para não matá-lo. Eddy gemeu forte, virou para nós e como se fosse um último adeus abanou seu rabo e mexeu com sua enorme juba. Caiu morto no chão crivado de balas. Tinha sangue em todo seu corpo. Eu corri e fiquei abraçado com Eddy. Eu gritava e chorava. Chamava os homens de assassinos. – Mataram meu amigo! Malditos! Vão para o inferno! Não sabia o que pensar, coisas de meninos coisa de escoteiros que amam os animais.

               Durante vários meses nossa Patrulha não sabia o que falar. Nas reuniões ficávamos por muito tempo em nosso canto de patrulha, calados sem nada dizer a não ser ter os olhos vermelhos e cheio de lágrimas. De vez em quando um olhava para o outro e soluçava forte. Papai e Mamãe tentaram me consolar. Tentaram explicar que um leão tem um alto custo para alimentar. Come mais de oito quilos de carne por dia. Ele estava matando os animais dos fazendeiros. Nada. Isto para mim nada adiantava. Eu amei o Eddy enquanto vivo e o amava agora também.

           “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá rá rá, Raposa”! O tempo passou. Mas sempre me lembrava do Eddy. Um dia encontramos toda a Patrulha no Bar do Elias. Já adultos. Eu com mais de vinte e cinco anos. Tomamos varias cervejas e comemos linguicinhas picadinha com cebolas fritas, famosas na cidade.  E quem se lembra do Eddy? Perguntou Afonsinho. Pronto. Marmanjos chorando. Quem nos visse naquela mesa iria ver sete marmanjos chorando. Ficamos no bar por mais de cinco horas, sempre a lembrar dos belos dias que passamos com o Eddy. E triste ter belas histórias para contar como esta sem um final feliz. Um Leão Branco que vivia na Montanha dos Sete Cavalos. Nunca mais voltamos lá. Para que? Para chorar? Para lembrar-nos de um Leão que amamos e que nos tiraram assim? Hoje sei que foi a melhor decisão. Mas lá no fundo do meu coração eu não aceito isto. Como conviver com o Eddy para sempre eu não tinha explicação. Mas sua morte foi dura demais para enfrentar.


          “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Minha Patrulha. Patrulha que amei por muitos anos. Patrulha com belas histórias que nos marcaram para sempre. Marquito, Marino, Natanael, Jovelino, Afonsinho, Jairinho e eu. Onde andam vocês? Saudades de todos. Imensas Saudades também do Eddy. O Leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos que amei e ficou para sempre no meu coração.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Condecorações & Recompensas.


Sábado tem reunião? Porque não levar este artigo ao seu Diretor Técnico?

Conversa ao pé do fogo.
Condecorações & Recompensas.

             Um tema que por diversas vezes abordei em meus blogs. Espinhoso. Muitos desistiram de receber algum dia pelo menos uma condecoração que teriam direito. Isto acontece por diversos motivos. Pode ser que ele por ser o líder do seu grupo e como não sabe como agir em causa própria e como o distrito não toma nenhuma atitude, ele vê o tempo passar e nada recebe. Uma simples de Bons Serviços e lá se vão sete anos, quinze, vinte e nada. Fica triste e pensando, ora, ora, vou a uma Assembléia e lá estão vários sendo condecorados. Principalmente os dirigentes distritais, regionais e nacionais. Melhor dizer por aí que não tenho interesse. Estou no escotismo porque gosto dele e não ando atrás de medalhas. Certo isto? Não e não! De quem é a culpa? Afinal hoje a UEB tem um sistema que acho perfeito no cadastro de todos os seus associados. O SIGUE. Ter uma listagem dos escotistas e até escoteiros de quem fez sete anos ou mais é tão fácil como mandar um e-mail. Mas porque não se toma uma providencia?

            Interessante. Eu claro tenho conhecimento de como devemos agir no Grupo Escoteiro, mas tem muitos que não. Se isto hoje é ensinado nos cursos de formação não sei. Se sim acho que falta ainda detalhes mais profundos da ficha técnica. Realmente fazer a pergunta quem é mais importante um dirigente ou um humilde Chefe Escoteiro e se ele quer receber seria um paradoxo. Lembro-me de uma passagem em nosso evangelho - “A César o que é de César" é começo de uma frase atribuída a Jesus nos evangelhos sinóticos, onde se lê «Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Como? Afinal para que foram criadas a condecorações? Não seria uma forma de motivar e premiar o Escotista? Afinal ele está lá todos os sábados tentando ao seu modo colaborar na formação dos jovens, sacrifica seu tempo, família, amigos e vê outros que só porque são da liderança receberem e ele nada? Se isto não for considerado bons serviços então estou por fora do significado.

           Tente explicar para ele que existe norma, existe um processo, é necessário ter diversas assinaturas confirmando seu merecimento e ele vai pensar o que? Que seus anos de escotismo, seu trabalho tem o valor de um papel com firma reconhecida? Difícil pensar assim. Enquanto isto vamos perdendo em um “turnover” enorme, escotistas que poderiam estar participando e não sendo substituídos por novos. Estes é claro quando estiverem como ele também farão o mesmo. Agora se me perguntarem como resolver eu digo – Simplifique. Mude esta burocracia que só desanimam aqueles que têm valor e não são valorizados. Tens 10 anos? Vinte? Receba o que tem direito. Todo ano o grupo e o distrito Escoteiro deveria tomar esta atitude. Mas dizem que eles ficam em duvida quando alguns não merecerem. Putz! O Chefe está lá há anos e ninguém nunca falou para ele que nunca vai receber nada? Nenhum agradecimento? Ele tem sim e seu direito nunca poderia ser postergado.

              Há tempos um dirigente me disse que é muito fácil fazer um processo. Fácil? Tem os caminhos certos para percorrer meu caro. E não é tão fácil assim. Mas isto é para os de baixo, pois os de cima já tem tudo prontinho. Eu pergunto, porque a maioria dos escotistas em nosso país com sete, quinze ou mais anos até hoje não foram agraciados? De vez em quando aparece um e a gente bate palmas. E os demais? Interessante que os dirigentes responsáveis têm várias condecorações. Acho que eles pensam que a Gratidão e outras só sendo um dirigente distrital regional e nacional. O Chefe que labuta direto em uma sessão, se sacrificando dificilmente será agraciado com uma condecoração maior. Eu mesmo quando assumi uma região e depois uma Equipe de Formação Regional recebi várias. Claro eu tinha amizades na cúpula e um pequeno toque lá estava eu recebendo uma. Depois que deixei de pertencer à liderança regional e fiquei somente no Grupo Escoteiro nunca mais. Já não era merecedor. Ou seja, meu trabalho antes era mais importante que aquele junto aos jovens. Gente dá vontade de rir, ou melhor, de chorar.

              Tem hora que desanimo em ver dirigentes recebendo as mais altas condecorações e outros que fizeram um trabalho justo e dignificante em seu Grupo Escoteiro sem nada receber. Dizer que seria fácil mudar este estado de coisas seria quem sabe uma verdade que ninguém quer ouvir. Mas garanto se estas condecorações fossem entregues a quem de direito, sem burocracia, muitos chefes ainda estaria motivado. Eu pergunto não é verdade que temos uma só palavra? Precisamos provar? Se alguém por um motivo ou outro não for merecedor é melhor dizer a ele. Falta coragem? Se ele serve para liderar uma sessão por que não serve para ser agraciado? Não conheço nenhum Escotista de sessão, com mais de quinze ou vinte anos de movimento com uma alta condecoração Escoteira. Há não ser quando fica Velho. Mas conheço dirigentes com muito menos portando uma ou mais orgulhosamente.

               Posso garantir que a motivação seria outra. Os escotistas ficariam bem mais motivados, outros se sacrificariam mais para também ter este direito e com isto o movimento Escoteiro só teria a ganhar. Não falo somente na de Bons Serviços. Esta seria obrigatória. Provar que está lá a sete, dez ou vinte anos e fez um ótimo trabalho? Se não fez o que fazia lá? E as demais? A Chefe ou a assistente de lobinhos que deixa seu lar para ficar em atividade em um grupo sacrifica um tempo que não tem para mim tem o mesmo valor que um dirigente nacional ou regional ou até muito mais. Não basta um certificado, não basta um sorriso, todos nós gostamos de um elogio e se ele vier em forma de premiação que “existe” na UEB melhor. Afinal não foi este o objetivo que foram criadas? Ou elas só foram para quem participa da elite escoteira? Eu sei que muitos dos Grupos Escoteiros no Brasil não têm a estrutura necessária para tomar providencias em premiar seus escotistas. E o pior, quem poderia fazer isto lá ou não sabe fazer ou criou áreas de antipatias pessoais. Distritos e regiões nem pensam nisto ou se pensam ficam sempre naquela de deixa estar para ver como é que fica. Temos de mudar o sistema. Os grupos dificilmente serão mudados. Temos que ver que o valor, o merecimento não é de meia dúzia e sim de todos.


               Que não me venham dar explicações de processos de como fazer etc. Conheço todo o caminho deles. Eu sei o caminho, mas façam uma pesquisa e depois se perguntem por que ninguém disse a ele que tem direito. Precisamos premiar a quem de direito. Precisamos agradecer a ele pelo trabalho que está dando ao escotismo. Muitos querem apertar a mão dos dirigentes e esquecem-se do Chefe que está lá lutando pelos seus jovens. Não sei não, mas acredito que o Chefe Escoteiro tem um valor enorme. Em minha opinião maior que os dirigentes. Sem ele não haveria escotismo. Chefes Escoteiros formam uma estirpe, ou melhor, uma linhagem de valentes que não pode ser privada dos seus mais simples direitos por causa de uma burocracia que a meu entender não deveria existir. E não me venham com senões, pois os finalmente eu já conheço. Risos.