Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Eu adoro a calça curta!


Crônicas de um Velho Escoteiro.
Eu adoro a calça curta!

              Ei! Nada contra de quem gosta da comprida caqui, amarela, cinza, azul, branca, roxa, verde e agora marrom e azul. Nada contra. Mas eu? Eu adoro mesmo a calça curta caqui. Quando visto meu uniforme cáqui me sinto bem. Não sei por que. Sinto-me mais Escoteiro. Antigamente, lá pelos idos de 50, 60, 70 e 80 havia uma norma no POR que dizia – Junto aos jovens e em atividades com eles se usa a o caqui tradicional (estava mesmo escrito tradicional). O cinza deve ser usado em cerimonias especiais, atividades sociais etc. Assim aquela norma vale para mim até hoje. Sei que a jogaram pela janela e ela se foi com o vento sul que sopra forte para nunca mais voltar. Novos tempos. Vento moderno.

               Sei que muitos hoje e até naquela época tinham vergonha da curta. Aqui e ali alguns com a comprida cáqui. Bem não era o meu caso. Nunca tive vergonha. Claro hoje vejo fotos de Baden Powell (BP) sempre de calças curtas nunca vi nenhuma foto com ele usando a comprida (estilo inglês podem me dizer) e me orgulho de ter feito o mesmo. Mas já me condenaram aqui por me arraigar nesta fútil ideia de manter uma tradição que não tem valor para eles. Claro. Respeito. Tradições? Bah! Fora tradições. Mas insisto, eu adoro e sempre adorei minha calça curta. Quantas peripécias passei com ela. Mas as alegrias superaram. Chegar a uma cidade, com o grupo, com a tropa ou com a Patrulha o andar ereto em frente, sorrindo e vendo todos nas portas, janelas a admiraram aqueles esbeltos escoteiros (risos eu não era assim tão esbelto) a desfilarem, (Puts! Agora proibiram) bandeiras ao vento! As meninas nos vendo apaixonadas. De onde São? Olhe aquele ali, lindo! Era eu! Risos.

              Claro, sempre provando a mim mesmo que enfrentaria multidões. Um dia fui para a sede. A pé. Tinha a minha bicicleta. Era fácil ir pedalar. Mas como eram somente seis quarteirões porque não desfilar a pé? Fazia isto sempre (hoje se escondem em um automóvel e alguns ainda tem a pachorra de levar o uniforme para vestir na sede, mas eles podem agora. É moderno). Ao passar em frente à Padaria do Osmar alguém gritou! Que belas pernas! Dez pratas para quem passar a mão! Engrossou! E agora? Dezessete anos, metido a valente, faca de um lado, machadinha pequena de outro. Um verdadeiro pistoleiro do oeste. Coloquei a mão na cintura gritei! Quem se habilita? Quem vai ser o primeiro? Risos. Ninguém. Nunca mais falaram nada.

              A calça curta para nós era sagrada. Nossos chefes sempre usaram. Sempre eles são nossos exemplos. Hoje até dirigentes nacionais se vestem com a tal vestimenta, meinhas brancas, outros sem, camisa fora da calça outros não, calça curta outros comprida. Um lenço no pescoço e uma camiseta qualquer. E salve-se quem puder! Exemplos? Claro. Quem os vê assim aprenderam e vão ensinar a todos a nova moda. Risos. E tem um que me garantiu ter achado barato. Deve ser o marido da barata. Garantem que a turma que não gostava do caqui agora vai vir de montão. Vamos esperar para ver. E interessante, só vejo a maioria escotistas classe media usando. Os humildes, os sem nada que nunca poderão comprar o mais caro tem a vantagem do mais barato. O que? Tem para pobre e para rico? Não sabia. Mas estou falando da calça curta. Desculpem. Saí do rumo. Perdi minha bússola prismática da minha lide “caqueana”. Vamos voltar ao percurso de Gilwell aqui comentado.


            Minha calça curta dos velhos tempos! Adoro você! Estranho até hoje quando vejo alguém de comprido caqui. Cinza até que vá lá. Mas como dizem os filósofos, tudo não passa de um hábito de comportamento e gosto não se discute. Aprendeu assim fará assim. Em breve estaremos todos de marrom e azul. Todos não. Eu nem morto. Eles quem sabe estarão de chinelos ou sem meias, com lenço ou sem lenço, o calçado hoje pouco importa. Cobertura? Será a critério de cada um. Pode ser um chapéu de cowboy vermelho vivo! Seria lindo, tudo colorido como se fosse um belo arco íris e com uma linda pena amarela de papagaio. Cacilda. Lá estou eu de novo a criticar. Não tenho este direito, sou um "Velho" Escoteiro chato, gagá e aposentado. Mas acreditem, não importa. Quando eu me for São Pedro que me aguente, chegarei lá de calça curta e chapelão. Risos. Se não me deixar entrar mando chamar Baden Powell. Ou melhor, poderei dizer – “Sabe com quem está falando”? Mas eu juro a vocês, se eu vivesse mais cem, duzentos ou trezentos anos eu estaria envergando a minha linda, a minha gostosa, a minha deliciosa, a minha espetacular, a minha grandiosa, a minha imponente, a minha majestosa, a minha divina a minha linda muito linda calça curta!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Um fantástico dia do Escoteiro. 23 de abril, um dia que nunca mais esqueci!


Um fantástico dia do Escoteiro.
23 de abril, um dia que nunca mais esqueci!

Foram tantos dias do Escoteiro que vivi... Tantos demais.  Hora de fazer a mente voltar no tempo... Quanto tempo! Quer saber? Tempo demais. Eu não sabia que era meu dia, nem deduzia que tínhamos o dia do Escoteiro. Podem acreditar era verdade, só fui saber naquele acampamento da Patrulha na Serra da Garça Branca. Acho que é por isto que nunca mais esqueci aquele dia. Ficou marcado para sempre em meu coração. Eu acreditava que sabia tudo com meus onze anos vividos. Não me chamem de menino, nem de noviço, já me considerava homem feito, pois caminhava para a segunda classe, assim já era um experiente Escoteiro. Bem não foi aquele o meu melhor acampamento, nada disto apenas um fim de semana gostoso. Mas o que aconteceu nele foi demais. Demais mesmo. Lembro-me de tudo, nunca esqueci, ora, ora, esquecer como? Não posso esquecer aquela tarde, um vento sul soprando, um friozinho chegando, uma deliciosa brisa do alvorecer...

Fomos até o mirante do Canta Galo, não mais que duzentos metros do campo. Era linda a vista e sempre quando acampávamos ali era normal e rotineiro ficarmos lá até o anoitecer. Um pôr do sol sem igual em todas as tardes sem muitas nuvens. A tarde chegava e o céu ficava cor de ouro, um amarelo vivo encantando as poucas nuvens no céu. Aos poucos um pedaço do sol ia desaparecendo atrás da montanha do Sabiá, nós de olhos firmes encantados com tão linda vista e de supetão Mauricio o Monitor diz – Hoje é o dia do Escoteiro, nosso dia! Tirei a vista daquele céu celestial e olhei para ele com o cenho franzido: – Temos um dia Monitor? – Temos sim é hoje, 23 de abril. Surpresa! Enorme surpresa! Fiquei encantado. – Então temos um dia? Incrível! Olhei para os outros patrulheiros. Nem ligaram. Não sei por quê. Para mim foi demais. Olhei de novo o céu. O amarelo ouro no meio de poucas nuvens se transformava em vermelho vivo e aos poucos ia escurecendo. O sol se foi. Um bando de andorinhas passou voando sobre nós. Confesso que não dormi direito. - Temos um dia repicava em meu pensamento. Lá pelas duas da manhã, já no dia 24 de abril levantei e sai da barraca. Um frio gelado me esperava.

Sentei em um toco em frente à barraca, as brasas do pequeno fogo não existiam mais. Olhei para o céu cheio de estrelas. Eu o conhecia de cor. Sempre acampávamos ali. – Meu pensamento era o mesmo. Não esquecia o que o Monitor contou. Temos um dia 23 de abril. Era demais. Ficou gravado em meu coração para sempre. Meia hora depois me deu sono, voltei à barraca e dormi. Se sonhei não lembro, mas nosso dia ficou marcado. Todos os anos eu me lembrava dele estivesse onde estivesse. Agora eu tinha um dia que o considerava meu e de todos os meus irmãos Escoteiros. Neste dia elevo meu pensando a Deus para que ele mantenha viva a chama escoteira no coração dos nossos irmãos que participam desta grande fraternidade. Cada um tem um dia especial para lembrar. O meu é como fosse gravado para sempre naquele final de tarde de um abril do passado, um céu cor de ouro, poucas nuvens e o sol se escondendo atrás da montanha do Sabiá. Será que é por isto que amo demais o por do sol?
23 de abril, me junto a todos meus irmãos Escoteiros do mundo para dizer – Sempre Alerta! Como é lindo e fantástico ser um Escoteiro!

UM LINDO DIA DO ESCOTEIRO PARA TODOS! 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Zap, zep e zão... Um viva a revolução!


Conversa ao pé do fogo.
Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

          Menos de dez horas, Nonô e Araceli desceram do ônibus na Praça Sete. Levaram o maior susto. Em todos os lugares soldados do exército armados até os dentes. Tanques de guerra cobriam cada rua e cada canto do centro da cidade. O que estava acontecendo? Nonô foi a uma banca de jornal e comprou o Estado de Minas. Lá explicava tudo. A revolução aconteceu. Nonô não era politico, não era comunista, não era revolucionário. Nonô era um Chefe Escoteiro. Um homem trabalhador que pensava em criar sua família como um bom brasileiro. Nonô foi a capital aproveitando uma folga de 80 horas da Usina onde trabalhava. Combinou com todos no grupo que passaria na Cantina escoteira e quem saber bater um papo com os lideres regionais claro, se tivesse alguém lá. Estava hospedado em casa de um primo. Ficaria só um dia, pois pretendia a noite pegar o trem noturno de volta para sua cidade.

           Nonô comentou com Araceli sua esposa que não deviam se preocupar. Eles não eram malfeitores e melhor eram cumpridor de seus deveres e bons cidadãos. Na Cantina Escoteira fizeram uma boa compra. Como sempre não havia ninguém da liderança regional. Ele entendia, pois sabia que todos trabalhavam. Pegaram o trem noturno e ele partiu da gare às onze e meia. Deviam chegar por volta de nove da manhã. Na estação de Pedreira eles desceram. Logo avistaram Lilico, um motorista de taxi e pai de um lobinho. – Chefe, cuidado, a “coisa tá feia” prenderam o Chefe Laerte e os demais chefes sumiram da cidade. Proibiram o Grupo Escoteiro de Funcionar. Disseram que ali estavam ensinando aos meninos as tática de guerrilhas e que o grupo era comunista. Isto porque o lenço era vermelho e branco. Soube que foram na sua casa e perguntaram por toda a vizinhança. Nonô notou que os trens passavam cheios de prisioneiros com destino a capital. O Chefe Laerte preso? Um rapaz seu amigo e irmão. Conheceram-se na usina e logo passaram a falar de escotismo. Coisas de escoteiros.

           Lilico os levou até sua casa. Alertou para não ficar ali. Era perigoso. Nonô disse para Araceli ficar de sobreaviso. Iria até a paróquia. O Padre Eli era gente boa. Ele devia saber o que estava acontecendo. No caminho alguém gritou de uma janela. Nonô viu que era Gegê, o Monitor da Raposa. – Chefe! Cuidado! Estão procurando o senhor por toda a cidade. Tem uma patrulha acampada atrás do Morro da Viúva. Estão com eles o Vavá e o Jair. Eles ficarão lá até passar esta onda de prisão. Nonô agradeceu e partiu para a paróquia. O Padre Eli sorriu quando o viu. – Chefe acusaram vocês de serem comunistas por causa do lenço vermelho e que estão treinando os meninos para guerrilheiros. Pode? Olhe expliquei para o Sargento Modesto que tudo não passava de um engano. Não sei se ele entendeu, mas o Marcondes estava com eles. Foi ele quem dedurou todo mundo aqui. Lembrei-me do Marcondes. Era Juiz de Menores na cidade e foi contra a fundação do Grupo Escoteiro.

        - Mas olhe continuou o padre Eli, não precisa se preocupar. Fui pessoalmente à 15ª Companhia da Policia Militar. O Capitão Natal foi legal. Disse que nunca acreditou no que disseram do Grupo Escoteiro. – Fiquem nas suas. Ninguém vai incomodar. Ele sabia que os Escoteiros tem uma formação patriótica. Ele iria ver se soltava o Chefe Laerte, mas ele tinha sido levado para o DOPS na capital. Passou uma semana e tudo estava voltando ao normal. Ninguém mais procurou o Chefe Nonô. A patrulha que estava acampada voltou. Vavá e Jair tinham dezessete anos. Eles se assustaram. Como sêniores e novos no Clã ficaram com medo de serem presos. Aos poucos o Grupo Escoteiro foi voltando ao normal com suas atividades. Só três semanas depois que soltaram o Laerte. Ele estava revoltado e dolorido. Aplicaram nele choques elétricos, enfiaram sua cabeça dentro de um vaso de água e com um pequeno alicate arrancaram uma unha de sua mão. Seus olhos estavam vermelhos. Devia ter chorado muito.

          Chefe Nonô! Não vou perdoar estes canalhas. Vou entrar para o sindicado e para a guerrilha. Lá terei respaldo e desculpe, vou deixar o grupo. Não quero que os militares achem que estou lá preparando uma revolução. Chefe Nonô não concordou, - nada disto Laerte. Não é nossa sina. Não somos revolucionários. Temos família para cuidar. Temos o Grupo Escoteiro e temos um nome a zelar. Chefe Laerte abaixou a cabeça e não disse nada. Sumiu de novo da cidade. Ninguém sabia onde fora. Um mês depois soubemos que tinha entrado para uma guerrilha na Mata do Pintassilgo. Durante meses lutaram de arma em punho. Cinco mil soldados chegaram e em menos de um mês acabou a guerrilha. Ninguém mais ouviu falar no Chefe Laerte. Chefe Nonô ficou inconsolável. Dizem que não houvera prisioneiros. A família do Chefe Laerte mudou para longe. Uma cidade grande e ali acharam que ficariam escondidos.


          Muitos anos se passaram. Hoje os filhos do Chefe Laerte são adultos. Boas lembranças do seu pai que só conhecem por fotografias, bem assim me disseram. A vida do Chefe Nonô virou do avesso. Despedido do emprego vagou por varias cidades. Um dia batendo sua bengala na Avenida Angelica passou por um ancião também com uma bengala. Pararam. Entreolharam-se. Impossível, não poderia ser o Chefe Laerte. Mas era ele mesmo. Abraçaram-se e os transeuntes que passavam por aquela rua não entendiam. Dois velhos se abraçando e chorando como duas crianças. Se eles tiveram “causos” para contar ninguém soube. O que sei é que resolveram colocar a conversa em dia. Dizem que ficam sempre conversando na varanda do Chefe Nonô até altas horas da noite. Ambos na casa dos setenta e cinco anos mal aguentavam em pé, mas a amizade que tinham um pelo outro os uniram até o fim da vida. Eu quando me lembro desta história eu fico pensando...  Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

A fantástica lua de mel do Chefe Rosinha.


Crônicas escoteiras.
A fantástica lua de mel do Chefe Rosinha.

         Pelo amor de Deus! Lembrar-me dele de novo? Nunca em minha vida conheci alguém como o Chefe Rosinha. Nem sei como no grupo eles não diziam nada. Quem sabe pelas suas histórias, pelo seu jeito encantador que deixava as escoteiras e guias sorridentes, ou pela sua maneira prestativa, mas era chegar ao fim da reunião ele procurava algum Chefe – Chefe Nonato, tem dez paus para me emprestar? – Nonato coitado era um amor de Chefe e não sabia dizer não. Ele tirou da carteira dez reais e deu ao Chefe Rosinha. – E os mais de duzentos que você me deve Chefe Rosinha? – ele sorriu com aquela cara de besta e dizia – Você sabe, meu casamento é em novembro faltam três meses. Como lhe pagar com as despesas que tenho? Ele devia a cidade inteira. Pegava mal para o Grupo Escoteiro. Donato o Chefe do Grupo resolveu fazer um Conselho de Chefes para discutir o assunto. Ninguém concordou em mandar o Chefe Rosinha embora.

       Chefe Rosinha conheceu Anita na parada de Sete de Setembro. Ele logo apaixonou por ela. Ela estudava no Colégio Aparecida e no desfile se encontraram. Ela de uniforme escolar e ele de Escoteiro. Apaixonaram-se. Foi um amor de duas pessoas idênticas. Anina também não gastava. Cada tostão ela guardava. Mordia a língua para não comprar supérfluos. Todos benzeram o casal afinal eles iam se dar muito bem. Até aceitavam que ele continuasse no grupo, pois além de sua simpatia todos se divertiam com seu estilo. Um dia um chefe novato não sabia como era ele – Chefe Rosinha! O senhor poderia me emprestar quarenta reais? Fique tranquilo que pagarei sem falta na próxima reunião! – Ele sério respondeu – Prá que quarenta? Trinta é muito, vinte não! Penso em lhe dar dez, mas acho que cinco é o suficiente. Tome aqui um real e na semana lhe dou o saldo!

       Eles casaram em uma quinta, pois era mais barato na igreja e no civil. Ele era amigo do Juiz de Paz e tentou tudo para o casamento no civil fosse grátis. Mas Seu Zenóbio foi inflexível. – Nem pensar Rosinha. Eu te conheço bem. Ou paga ou não casa. Rosinha ficou fulo, chamou Turquinho um sênior muito amigo do filho do Seu Zenóbio e pediu a ele por misericórdia que tomasse duzentos reais emprestado do Seu Zenóbio. Ele não deveria contar para quem era. No dia do casório no civil Rosinha e Anita se casaram no civil. Depois de tudo assinado Rosinha bateu no ombro do seu Zenóbio – Obrigado amigo pelo empréstimo dos duzentos que o Turquinho lhe pediu emprestado para mim. “Fique tranquilo que um dia te pago”! Seu Zenóbio sabia que nunca mais iria ver a cor do  dinheiro!

          O grupo ofereceu uns comes e bebes, mas poucos. Não é que o casal saiu mais cedo da festa? Levaram uma bolsa cheia de guloseimas que os Escoteiros compraram para os convidados! Sei não, um Chefe Escoteiro uma vez me disse que o pródigo é arrogante e o avaro é mesquinho. É preferível a mesquinhez a arrogância. Seria verdade? Uma semana depois de casados, eles moravam na casa da Mãe de Anita souberam do acampamento. Chefe Rosinha pediu cinco dias de folga e Anita que era professora pediu também. Insistiram com o Chefe Nonato para eles participarem. Sabiam que seria na fazenda do Inácio Sapoti. Ele não podia ver os Escoteiros que oferecia tudo. Quando o ônibus chegou à fazenda os dois saltaram e procuraram o Inácio – Seu Inácio! Disse Chefe Rosinha, eu e a Anita casamos na semana passada e não seria de bom alvitre ficarmos lá no acampamento dos Escoteiros.

         Claro que Inácio iria convidá-los para dormir em sua fazenda. Foi uma verdadeira lua de mel de cinco dias. Comida farta, um quarto enorme só prá eles, e toda a manhã frutas frescas. O acampamento terminou e eles tiveram que voltar no ônibus. Inácio caiu na besteira em convida-los a voltar e claro eles voltaram nas ferias. Vinte e nove dia comendo e dormindo de graça! Em um Conselho de Chefes Chefe Rosinha pediu a palavra – Sabem meus amigos, a Anita queria participar dos lobinhos, vocês sabem ela é professora, mas ela não tem como fazer o uniforme, então eu pensei que vocês poderiam se cotizar e fazer um bem bonito para ela, mas tem de ser completo com meião e cinto! Todos olharam para ele e viram em seu bolso e ouviram uma voz fininha: - Estou contigo e não abro! Era a carteira de Rosinha o Escoteiro mais pão duro que existiu.

         Para dizer a verdade eu não sei como aguentaram Chefe Rosinha por tanto tempo. Nunca pagou nada. Fez seis cursos todos pagos ou pelo grupo ou pelo chefes amigos dele. Amigos? Acho que por causa da sua conversa, do seu sorriso e da sua alegria a maioria o aceitava. Mas no sábado à noite depois da reunião foram todos para uma choupada. Na maioria das vezes Chefe Rosinha não ia. Sempre tinha alguém para lhe falar umas verdades, pois ele nunca colaborava. Desta vez foi e levou Anita sua esposa. Contou piadas, riu a beça e até cantou musicas escoteira que muitos se surpreenderam. No final Bruno Cara Feia foi escolhido para recolher a parte de cada um. Ele era um Chefe novato e não sabia como era o Chefe Rosinha. Quando ele foi cobrar ele disse – Olhe Bruno, pareço egoísta, mas sempre deixo a satisfação de pagar a conta no bar para meus amigos. E começou a rir. Chefe Bruno não gostou. Foi preciso da intervenção dos demais para não saírem no braço.

       Chefe Rosinha saiu do grupo. Todos só foram saber o que aconteceu muitos meses depois. O danado ganhou um milhão e meio na Loto fácil. Sumiu de um dia para o outro. Sabia que iriam morar na frente de sua casa para receberem o que ele devia. Mais da metade da cidade. Dizem que ele foi morar em São Francisco do Sul. Até hoje o Grupo e a meninada sentem falta dele. Afinal era um boa praça, um pandego e claro um tremendo de um pão duro. Um dia apareceu na TV, levado pelo delegado por não pagar dividas. O pior é que estava de uniforme Escoteiro. Pode?

Os dez mandamentos do pão duro:

  1. Nunca dizer: "Pode ficar com o troco".
  2. Não colocar a mão no bolso em vão.
  3. Amar seu bolso como a si mesmo.
  4. Lembrar que tudo tem sem preço. Então, vamos às promoções!
    Pechinchar sob todas as formas.
  5. Desperdiçar.
  6. Ir a compras somente aos domingos, quando quase tudo está fechado.
    Valorizar cada centavo.
  7. Analisar o custo/benefício.
  8. Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado. Cobrar juros, não!
  9. Valorizar cada centavo.
  10. Analisar o custo/beneficio.