Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 10 de março de 2012

A lambança, o coveiro, o escoteiro medroso, O prefeito, o delegado e o Valente Comissário.



A lambança, o coveiro, o escoteiro medroso, O prefeito, o delegado e o Valente Comissário.

De novo? Claro, porque não? Alguns se divertem outros não. Sempre disse que quem não tem histórias para contar não sabe o que é viver. Lambanças do passado me fazem dar gargalhadas. Juro pela alma do fantasma que é verdade! Para ser sincero, repito que daria tudo para uma volta ao passado. Risos. Sempre que vem a lembrança fatos e lambanças, me lembro de alguns adágios conhecidos – Cão que ladra não morde. Quem faz muitas ameaças não costuma cumprir nenhuma. - Gato escaldado até a água fria tem medo. Aprendemos a recear tudo quanto nos lembre duma experiência penosa algo que alguma vez nos causou dano.

Bem chega de lenga-lenga e vamos às lambanças. Simples, nem tão cheia de vida, mas porque não escrever sobre elas? Vamos lá:

Primeira – 1969. Uma carta do Escoteiro Chefe. Um Grupo Escoteiro no interior fazendo lambanças. Pedia para que tomasse providencias. Só marchavam. Centenas deles. Meninas juntas. (era proibido, só bandeirante). Mandei um telegrama. Chego domingo pela manhã. Se possível um encontro pessoal para troca de ideias. Iria dar um chega prá lá no Chefe. Se necessário fechar o grupo.  Peguei um ônibus, cheguei às onze horas da manhã. Na rodoviária dois soldados e um tenente me e esperando. – "Chefe" Escoteiro, estão todos praça.

“Diabos” Praça? Lá fui eu com eles. Na praça uma apoteose. Milhares de pessoas. Fui conduzido ao palanque. Presentes o prefeito, o delegado, o presidente da câmara, o padre, o juiz, o promotor, o Capitão da policia militar, e outros que esqueço agora. Cumprimentos, abraços. Discurso. Só o prefeito falou quase uma hora. Deram-me a palavra, não sabia o que dizer. Começou o desfile. Mais de mil escoteiros. Meninas, meninos, adultos uma coisa incrível!

O orador apresentava no microfone – Fanfarra Escoteira se apresentando. Enorme mais de oitenta participantes. Que fanfarra meu Deus! Ficou de frente ao palanque. Agora o pelotão um – os corvos! E passava o pelotão marchado. Agora os Touros! E Assim foi, nove pelotões. Todos com nomes de patrulha! E como marchavam bem. Acho que cada pelotão tinha pelo menos cento e vinte escoteiros.

Terminou o desfile. Levaram-me para almoçar no Clube mais chique da cidade. Mais discursos. À tarde desisti. Vi que não conseguiria falar com o "Chefe" do Grupo. Pensei outra ocasião. Ele não sabe o que o espera. Peguei um taxi para a rodoviária. Perguntei ao taxista: o que o Chefe dos escoteiros faz? – Ele? É Juiz de menor, e dono da maior fábrica da cidade. Irmão do Prefeito, sobrinho do juiz de direito, cunhado do Promotor de Justiça e sua mulher é delegada federal. O juiz é sobrinho da mulher dele. O presidente da câmara é seu filho. O capitão da policia é seu primo. Esqueci, o padre é irmão da mulher dele! “Puts grila!” pensei. Melhor ir para casa e esquecer tudo isso! Que o Escoteiro Chefe se vire.  Risos.

Segunda – 1952, 12 anos. Uma especialidade de acampador. O Monitor me disse que precisava passar na prova de coragem. Claro que topei. Era o mais corajoso da Patrulha. Prova? Ficar de onze da noite até seis da manhã no meio do cemitério da cidade sentado em um banquinho de madeira. Para provar, fazer oito mini-pioneirias. Moleza! Um tamborete, um pedaço de bambu. Saltei o muro (cinco me levaram até lá). Escolhi o local e fiquei perto da lápide da minha bisavó. Ela me protegeria. Escuro feito breu. Um vento frio começou a soprar. Estávamos próximo do Rio Doce.

Meia noite e meia. Olhava toda hora para os lados. Estava tremendo. Não conseguia fazer as pioneiras. O bambu que levei ainda estava intacto. A faca é claro na mão para me defender. A menos de vinte metros uma chama azul saiu de um jazigo. Outra logo em seguida de um sepultura tenebrosa. E mais outra de uma tumba cinzenta. (fogo-fátuo, ou melhor, chamado de fogo tolo. Avistado em pântanos brejos e cemitérios arenosos. Uma inflamação espontânea do gás (metano) ou da decomposição de seres vivos).

Aguentei o que pude. Eram duas da manhã. O fogo virou de outras cores. Tremia. O xixi escorria. – O que faz aí? Uma voz trovejante. Gelei. Olhei para trás, um homem de capa preta, enorme, sem dentes, um chapéu preto. Não aguentei mais. O capeta em pessoa! Sai em desabalada carreira e gritando, saltei o muro e fui correndo para casa. Um banho para tirar a sujeira (me borrei todo).

No outro dia a Patrulha perguntou e ai? Como foi? Moleza. Até tirei um cochilo! Eles riram a valer. O Monitor disse – Olhe não foi o que o Zé Pé na Cova o coveiro disse. (o tal da capa preta). Disse que você se borrou todo e saiu gritando! E todos riram por muitos e muitos anos. Falar o que? Voces que me leem estão rindo? Pensam que é fácil? Então vão lá. A meia noite. Depois podem rir a vontade! Risos. (consegui a especialidade, acharam que eu merecia). 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Qualidade ou quantidade? Eis a questão!



Qualidade ou quantidade? Eis a questão!

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

Sempre sou surpreendido aqui e ali, por ver notícias ou mesmo alguns escotistas que iniciando uma sessão Escoteira ou mesmo um Grupo Escoteiro tem a única preocupação da quantidade. Vejo também até distritos, regiões que em menos de um ano duplicou seu efetivo de forma assustadora. Isso é bom? Não é o que digo sempre, aumentar nosso efetivo nacional?

O tema que pretendo lançar aqui é o inicio de um Grupo Escoteiro ou de uma sessão com grande numero de pessoas. Tenho como exemplo uma construção de qualquer coisa. Um prédio, uma casa, um veículo etc. Tudo demanda tempo. Se quiseres fazer bem feito faça por etapas. Nada a ver com a linha de montagem que Henry Ford desenvolveu em 1863 para produção em série. Sua linha de montagem ficou famosa e até hoje é copiada por todos.

Estamos lidando com seres humanos. Formação de personalidades, diretrizes de conduta, normas de comportamento e tantas outras noções de civilidade que fazem parte do método Escoteiro. Em todos os cursos que participei assim me foi ensinado. Começar com poucos. Se hoje falam diferente não sei. Assim como aprendi, também executei com êxito. Em nenhum caso tentei fazer escotismo em massa para satisfazer egos de amigos ou políticos que assim o desejavam.

Os exemplos não partem somente dos novos grupos cujos dirigentes ainda estão em fase de aprendizado. Partem também de regiões e distritos que de forma ambígua não dão o suporte necessário. Se formos ver em escala por todo o território nacional estamos assistindo a esta corrida que pode até dar certo, mas vai levar o dobro de tempo se ao contrário a maneira correta fosse realizada.

Outro dia conversei com escotistas bem formados, alguns Insígnias de Madeira, que organizando um grupo novo, fizeram inscrições em massa e o mesmo com a promessa. Ora, se isso acontece com quem deveria saber como agir certo, quiçá com aqueles que não foram orientados para isso. O futuro para muitos que começaram assim não será promissor. Acredito mesmo que alguns já estão sofrendo a perda de jovens porque não começaram da maneira correta.

E qual é a maneira correta? Começar com poucos. Na Alcatéia pelo menos oito jovens que poderão ou não ser os futuros primos e segundos. Na tropa a insistência é maior. Também o número máximo de oito jovens que serão os futuros monitores e subs. Estes serão bem formados (adestrados) para quando as patrulhas forem formadas poderão estar devidamente preparados para levar sua patrulha ao caminho do sucesso esperado.

Seniores, guias, pioneiros e pioneiras? Eu não começaria tão cedo. Se você tem jovens nesta idade advindos da própria tropa, a possibilidade de sucesso é grande. Isto não acontece com a formação usando somente novos sem o suporte de antigos. Portanto só iniciaria quando tivessem elementos em condições de começar advindos da própria tropa. Agora eu pergunto. Porque a pressa? Porque querer em pouco tempo ter todas as sessões? Alguns me dizem que não podem deixar que aqueles que querem fazer escotismo não podem ficar de fora.

Bem, quando temos uma quantidade boa de adultos, e principalmente escotistas bem formados até que se pode pensar no assunto. Eu não o faria, mas admito que tenha outros mais preparados do que eu e podem levar a bom termo a nova tropa ou grupo. Sei que poderão dar vários exemplos bem sucedidos. Concordo, mas ao contrário poderia eu mesmo dar outros tantos ou talvez muito mais de exemplos que não deram certo.

Claro que é lindo e espetacular além extremamente agradável ver cinquenta, cem ou mais jovens, como digo brincado – “Durinhos” fazendo uma promessa em massa satisfazendo o ego da população, dos políticos e dos pais que agora irão acreditar que os seus filhos, a comunidade irão receber os benefícios que tantos esperavam. Mas a decepção poderá vir muito rápido. Acredito no crescimento paulatino e na minha modesta opinião é uma forma correta e não uma forma impensada da massa sobrepondo o indivíduo.

Por outro lado, nosso método tão bem idealizado por Baden Powell (BP), nos mostra a força do sistema com uma promessa com poucos. Orgulho de quem a fez, sabendo de sua importância e não em ser mais um junto a tantos outros que levantaram a mão e repetiram uma promessa que pode não ter marcado na memoria a sua importância.

Se isso fosse feito, garanto (experiência pessoal) que a fila de espera teria uma enorme importância. Todos saberiam que a entrada em um Grupo Escoteiro não é tão simples, e quando houver uma chamada o interessado irá dar grande valor a sua entrada no Grupo Escoteiro. Infelizmente vejo hoje, membros adultos escoteiros postando aqui e em outros sites, que as inscrições estão abertas. Abertas? Tem época para isso? Ou é um engodo para tentar arregimentar jovens que por um motivo ou outro são convidados para substituir os que se foram ou uma forma de querer voltar a ser grande. Não é uma maneira feliz de arregimentar.

Uma vez, em um passado remoto, em uma cidade do interior, um religioso me procurou interessado em ter uma tropa Escoteira em sua paróquia. Na época colaborava com um grupo Escoteiro em um bairro próximo. Pedi que escolhesse oito jovens. Seriam os futuros monitores. No entanto o religioso se entusiasmou. Quando lá cheguei no horário determinado, vi em um pátio coberto mais de quinhentos jovens. Quase cai de costas! Mas essa é outra historia. Megalomania de um que não satisfez em começar por baixo.

Sei que tem grupos escoteiros que deram certo. Ótimo. Mas acredito que é minoria. Sei também que muitos hoje lutam com sacrificios enormes da evasão dos jovens, falta de adultos responsáveis, desentendimentos entre chefia, um líder que assumiu e não passa o bastão a outro. Outros que na posição de líder sabe liderar, mas nunca aceitou ser liderado. Isto é uma reação em cadeia. Os exemplos estão aí para quem quiser analisar nos últimos cem anos.

Talvez esse seja um dos nossos motivos do crescimento pífio que sempre tivemos. Não sei. “Doutores” assim como eu terão sempre diversas explicações. Acompanho o escotismo com visão de adulto deste 1961. (entre com sete anos em 1947). Fui aprendendo a cada ano e vendo o porquê não temos um comparativo com outras nações com escotismo grande e forte em qualidade e quantidade.

Infelizmente eu sei que também não vou mudar nada. Não tenho autoridade para isso. Falei por falar. Sugeri por sugerir. O amanhã terá a mesma brisa, o vento irá soprar de novo e ele pode ser um vento sul ou um vento vindo do norte. As flores irão desabrochar. Os pássaros irão cantar nas serras distantes. O sol vai nascer e se por. As estrelas brilhantes no céu sempre serão acompanhadas de uma lua fulgurante.

Não sei quem disse que palavra são apenas palavras! Que elas tem apenas e tão somente o valor que cada um lhes quiser dar. As pessoas definem-se pelas suas reais atitudes e não pelas suas possíveis intenções. Não sei quanto tempo ainda irei aqui dizer o que penso. Não importa. Se amanhã tiver de prestar contas dos meus atos irei prestar com alegria por ter dito o que pensava. O que fiz no passado deu certo. Graças a Deus! O que sempre acreditei como deveria ser tenho orgulho de tê-lo feito.

“Se ficarmos só nas intenções, não vamos a lugar nenhum!” Ou como se costuma dizer: - Palavras leva-as o vento. Mas há palavras ditas que marcam uma vida! Portanto, COMECE COM POUCOS!

Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Estes Escoteiros e estes Lobinhos são o “Cara”



Estes Escoteiros e estes Lobinhos são o “Cara”

(O presidente americano Obama, usou esta expressão para definir o presidente brasileiro – significa o homem certo, aquele que é líder, motivado etc.).

Quem não tem em sua tropa ou alcatéia, aquele jovem ou aquela jovem que mostram serem os melhores?  Os mais interessados? Os mais dedicados? Todos têm alguém assim. São os primeiros a chegar à sede e os últimos a sair.

Nos acampamentos, excursões, em qualquer atividade lá estão eles/as sempre com todo o equipamento, uma boa mochila, bem uniformizados e sempre sorrindo. Não reclamam, são sempre bons estudantes, bons filhos enfim chegamos até a pensar que ele ou ela já nasceram com Espírito Escoteiro. Eles são nosso orgulho e sempre os exemplos em qualquer situação. Pedimos a Deus que toda a tropa ou alcatéia fosse assim. Mas sabemos que não.

Porque os demais não são do mesmo jeito? Afinal o programa dado é o mesmo para todos, e se uns poucos se destacam porque não os demais? Já ouvi alguém dizendo que os “outros” não nasceram para ser escoteiros. Verdade? Existe isso mesmo? Então teríamos que fazer uma seleção quando o jovem nos procurasse?

Infelizmente para muitos a realidade é outra. Eu mesmo acredito que todos podem ser escoteiros. Não importa o QI, o grau de instrução ou seu meio social. Escotismo foi feito por BP com simplicidade. Sem complicação. Se bem aplicado, todos serão ótimos escoteiros ou escoteiras. É claro que depende do treinamento dos chefes. Seja na Alcateia ou na tropa. Se eles são “bons” se eles sim forem os “caras’ não tem erro”.

É preciso respeitar o jovem. Não me entendam mal. Se ele vai à sede, vê os mesmos programas, descobre que as promessas que lhe fizeram de acampamentos, excursões, travessias de rios, florestas, sinais de pista, barracas, grandes construções, e fazer sua própria comida e ao contrário não encontram nada disso, ele vai embora. Podem dizer o que quiserem. Que ele não nasceu para ser escoteiro. Como se todo jovem pudesse fazer sua escolha ao nascer.

Portanto, se sua tropa ou a Alcateia tem poucos “cara” não sei não. Caia na real. Faça cursos, leia muito, procure outras tropas para discutir e aprender. Cuidado com ficar só reclamando: - O João não veio? O Pedro não veio? Problema deles, se faltarem mais uma digam que está cortado da patrulha. Risos. Depois tira daqui e dali. Reformem as patrulhas. Eram quatro? Eles estão indo embora? Façamos três. Se aparecerem novos nós faremos nova Patrulha.  Não é assim? Acho que não teremos nunca uma Patrulha estável agindo desta maneira. Sempre se mexe para um jogo, para um evento ou para uma atividade ao ar livre.

Meu conselho é um só. Sei que não vão seguir, mas converse, converse muito com seus monitores, converse também em particular com os desanimados. Vá a casa deles. Ouça. Não retruque. Não dê explicações ou faça promessas incabíveis. Tudo que aconteceu até agora foi culpa ou sua ou dos chefes. Depois façam um plano junto com os monitores que ainda estão com você. Na Alcateia um pouco diferente, mas os primos podem ajudar e muito.

Sei que é difícil aceitar criticas. Dizer que não vai dar. Ele não nasceu para ser escoteiro ou escoteira. Como disse um dia o nosso querido Chico Xavier, ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas pode a partir de agora começar de novo e acertar. Não culpe os meninos e meninas. Culpe você. Não fique triste. Sei que faz tudo que podia. Sei de seu sacrifício, das horas e dos gastos que fez. Mas não atingiu o objetivo.

Quando você for amigo dos monitores e subs, quando tiver reuniões com eles para seu adestramento ou formação, quando você ouvir suas opiniões, você verá que a procura de novos virá naturalmente. Isto é claro quando as opiniões deles forem válidas. Quando sentirem que o programa agora pertence a eles. Difícil? Para mim não e para você eu sei que também não.

Dê a eles mais campismo. Mas atividades aventureiras. Leve uma barraca, deixe os monitores ensinarem a suas patrulhas, faça um jogo de armar barraca de olhos vendados. Os Sinais de Pistas estão ultrapassados? Pois programe uma patrulha para fazer uma pista por mais de 1000 metros e que as outras sigam. Leve corda deixe por conta dos monitores fazer um comando crawl. Deixe-os aprender até a exaustão descer de arvores com cordas usando o volta do salteador.

Mas deixe-os fazer. Não faça nada. Saia de perto, por favor! Ó programa é deles e não seu. Se fizerem errados é isso mesmo. Nosso método. Aprender a fazer fazendo. Pode dar um “pitaco” ou outro e no final, diga: parabéns patrulhas, muito bom. Será bem melhor na próxima!

Torno a afirmar e podem perguntar aos grupos que assim agem que a procura é sempre maior do que a saída. Nada em tempo algum vai substituir a vida ao ar livre, as atividades aventureiras, os acampamentos e o sonho que o jovem tem de também ser um herói. Pensem bem, se vocês estão sofrendo com a perda de jovens, se a procura é menor que a saída, se ha desinteresse, se somente um ou dois “caras” estão motivados, então é hora de mudar e logo.

Tenho certeza que vocês podem ter e vão ter muitos “caras” em suas seções. Basta querer e ter força de vontade. Desejo de coração o que dizia BP, o sucesso sempre! 

É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

quarta-feira, 7 de março de 2012

ATIVIDADES AVENTUREIRAS



ATIVIDADES AVENTUREIRAS

O Chefe formou a tropa pôr patrulha. Estavam desalinhados, conversando entre si e não prestavam nenhuma atenção ao dirigente. As instruções eram dadas a todos indiscriminadamente.  A maioria não ligava a mínima ao que ele falava. Os monitores a frente ouviam sem interesse. O local apesar de não ser o ideal, oferecia condições para uma boa atividade ao ar livre.

Estava eu junto ao “Velho” Escoteiro que embasbacado não sabia se daria uma “lição” naquele Escotista ou permaneceria calado como eu estava. Foi uma coincidência. Fui levar o “Velho” Escoteiro até um parque fora da cidade, pois ele adorava brincar com os netos em plena natureza. Apesar deles não participarem do movimento ele não deixava de aproveitar para brincar adestrando. Tão logo tínhamos descido do veículo, deparamos com aquela cena que tinha tudo para mostrar ao publico ali presente, um autentico “sargentão“ e seus soldadinhos (só que indisciplinados). Totalmente fora do que pretendia o Movimento Escoteiro.

Com sua pose de líder, um grande bigode para impressionar, lá estava o dito, a preparar uma atividade, mais apropriada para lobinhos. Nada a ver com os jovens que ali foram à procura de atividades aventureiras que nunca tinham feito. Claro eles acreditavam encontrar no Escotismo. Deu um fora de forma na melhor pose e respirou fundo satisfeito. Achou que tinha impressionado a todos que o observavam. Além de péssimo chefe também era um péssimo ator. O Sistema de Patrulhas desaparecera ou nunca tinha acontecido naquela tropa.

Felizmente, o “Velho” Escoteiro não interveio. Me chamou e fomos em frente, evitando ver e sentir a decepção dos jovens que viria com o final da atividade. Durante o tempo que ali permanecemos o “Velho” nada falou ou comentou. Não precisava. A realidade não deixava dúvidas. Sempre tropeçávamos com uma ou outra patrulha, desconexa, sem liderança, a fazer coisas que não estava previsto, ou mesmo fugindo da atividade em busca de uma sombra ou dos “brinquedos” que ali existiam. No retorno, lá estavam eles, formados sempre pôr patrulhas, uniforme em frangalhos, desanimados, pensando que não era aquilo que queriam. Tudo pôr culpa de um adulto mal formado, que recebeu uma responsabilidade sem estar devidamente preparado ou adestrado.

Alguns dias haviam se passado e numa noite de reunião da tropa, passei pôr uma pequena saleta onde o Chefe e mais dois assistentes do Grupo Escoteiro que eu fazia parte estavam em reunião com os monitores a discutirem uma atividade aventureira. A preparação era feita pelos jovens. Os chefes apenas completavam aqui e ali parte do programa, pois na mente daqueles monitores, tudo era muito fácil para se conseguir e quem sabe poderiam ter alguma surpresa no final, motivo pela qual os chefes davam opinião.

Pude observar que se tratava de um Bivaque, onde se pretendia percorrer vinte km a pé, de um sábado a um domingo, dormindo ao ar livre e montando abrigos naturais. O local desconhecido pelos rapazes, não o era pelo chefe da Tropa. Tudo estava sendo planejado a fim de evitar acidentes de percurso. Toda a área do bivaque seria visitada pôr um assistente à noite. (na atividade não participaria chefes ou assistentes).

O domingo findava. À tarde fria, com o tempo nublado, convidava a ir até a casa do “Velho“ Escoteiro. Era uma rotina. Eu gostava de ouvir e aprender quando ele se dispunha a falar. Pulei os seis degraus de dois em dois. A porta semicerrada deixava passar o lusco fusco da lâmpada da Sala Grande e o “Velho” Escoteiro lá estava como a adivinhar minha chegada, mantendo sua pose principal, ou seja, não dando à mínima. Eu sabia que no fundo ele aguardava minha presença com ansiedade, pois não havia outras visitas como outrora e eu era um grande ouvinte.
    
- O mundo evoluiu e mudou. Era o “Velho” Escoteiro falando de supetão. Sentei sem saber onde ele queria chegar. - Mas Atividades Aventureiras feitas ao ar livre nunca mudarão. Agora estava entendendo. Apesar de já passado semanas, ele não tinha se esquecido do meu comentário e esperou uma ocasião propícia.

- Continuou o “Velho” Escoteiro - Você pode criar outra organização tão boa como o Escotismo, com outro programa e método. Acredito que o nosso Movimento não é o único perfeito para a formação do caráter. Conheci excelentes resultados em organizações similares e sem menosprezar funcionam bem. - Nosso Movimento, porém tem um programa definido e seus métodos são simples para atrair o jovem espontaneamente. No momento que tentamos adaptar situações diferentes do que pensou o nosso fundador, garanto que vamos fracassar.

 Veja você o que está se passando ao nosso redor. Muitas mudanças e todos acreditando que vão acertar. O jovem queira sim ou não é um idealista arraigado ao passado sem o saber. Se pudéssemos conhecer o futuro, seja em qualquer época, iríamos ver que a natureza se sobrepõe a tudo. - Aquela velha foto onde mostram que ele entrou para o Escotismo pensando em encontrar aventuras, vida ao ar livre, atividades em equipe, natação, subir em arvores, armar barraca, manusear cordas, machadinhas, facões, aprender transmissões rudimentares a distancias, poder fazer seu próprio destino junto aos seus amigos sem adultos pôr perto, tudo isto e muito mais vai continuar prevalecendo pôr um bom tempo.

- Não é atoa que hoje uma atividade rentável é explorar acampamentos próprios para a juventude. Fiquei sabendo que na maioria, praticam algumas atividades aventureiras, com monitores (adultos) nem sempre preparados, e que dois meses antes das ferias estão completamente lotados e quem quiser participar de ultima hora tem que enfrentar lista de espera. (e com preços bem salgados) - Paga-se para fazer o mínimo do que o Escotismo faz sem nada cobrar. - Tire isto dele e não terá uma participação espontânea.

Eu ouvia com atenção as palavras do “velho“ Escoteiro. Estava sentindo que as mudanças até então não alcançavam objetividade. Daquela movimentação de outrora, o numero diminuiu em relação ao aumento populacional e os jovens tinham mais uma participação de sede e poucos saiam para alguma atividade com a tropa ou mesmo com a própria ou da patrulha.

Todos agora se escondem em seus grupos que se transformaram em autênticos mosteiros, sem que o público tome conhecimento de sua existência. Nunca temos tempo para acompanhar os jovens em todas as atividades que planejam. E é claro, se ficarmos acompanhando não tem graça e vai de encontro à formação deles. Em grandes cidades muitos cuidados são necessários, mas não são impossíveis para que eles façam suas atividades aventureiras sozinhos. Um treinamento adequado, dentro do perímetro da sede, bom adestramento, um pouco mais longe depois, e pronto, tenho certeza que não irão decepcionar.

- Em primeiro plano, temos que ver o valor da atividade o objetivo e a aceitação pelo jovem. Se ele absorveu ou não.  Falou o “velho“. É claro que a preparação é deles. Convenhamos que se não exista uma boa Corte de Honra, reuniões de Patrulha e claro, patrulhas bem formadas e motivadas, nunca haverá planejamento para uma boa Atividade Aventureira.

- Agora, uma tropa que se apresenta bem na frente do Chefe e na falta dele deixa a desejar não está sendo preparada no espirito da Lei Escoteira. Esta é condição primordial em qualquer atividade. - Acredito que confiando teremos o retorno. E olhe bem, a melhor propaganda do Escotismo são Escoteiros bem uniformizados, fazendo atividades e vistos pelo público. - Você pode unir o útil ao agradável e manter viva a chama das Atividades Aventureiras. Elas são primordiais para ajudar na motivação, adestramento progressivo e criar lideranças.

O tempo estava fechado. Chovia a cântaros lá fora. Aguardei até poder retornar a minha residência. Gostaria de ter participado de uma boa Atividade Aventureira. Vou propor ao Conselho de Chefes uma atividade assim só com adultos. Vai ser diferente, mas acredito que servirá para abrir o caminho que os jovens estão esperando.

Será que nós chefes escoteiros somos avestruzes?



Será que nós chefes escoteiros somos avestruzes?
Nem sei por que estou dizendo isso. Quem sabe é minha seara. Eu me pergunto: – Será que quando vemos um problema enfiamos a cabeça em um buraco para fugir dele? Mas é verdade mesmo? Claro que não, mas é tão simples dizer: - Eu trabalho com os jovens, são eles a minha alegria em participar. Não me meto com os dirigentes! E a estrutura? E o Apoio? E o suporte? Que os outros se preocupem e eu não?
Agora e quem falou que eles (os avestruzes, não confundam com chefes escoteiros) fazem isso? Olha só, essa história de que os avestruzes enfiam a cabeça no buraco quando estão em uma situação de perigo, não passa de lenda. Isso não é verdade.
Na verdade, eles encostam o pescoço e a cabeça no chão, mas não chegam a metê-la em buracos como ouvimos falando por aí. Se fizessem isso, morreriam sufocadas. Suas pernas são suficientemente grandes e fortes para se defenderem de quem as ataca ou para fugirem correndo (e por sinal eles podem correr muito). Eles, na verdade, encostam a cabeça no chão para perceber a vibração do solo e a aproximação de eventuais predadores, nessa posição, o animal escuta melhor a aproximação de algum inimigo. Ao mesmo tempo, arruma uma boa camuflagem, pois deixa à mostra apenas a parte do corpo coberta de penas, o que, de longe, pode parecer um arbusto e consegue se misturar com a vegetação e afastar qualquer perigo de ataque.
Essa história começou por causa de uma ilusão de óptica. Os avestruzes são aves muito grandes e tem a cabeça muito pequena, quando eles encostam a cabeça no solo para sentir as vibrações, dependendo a distancia que se observe ou que fotografe, dá impressão que estão realmente com a cabeça enterrada!
E nem sei por que estou publicando isso. Acho o escotismo maravilhoso e meu estímulo é ver tantos lutando como eu lutei. Gostaria de deixar os outros em paz e seguir meu caminho. Mas que caminho? Não gostaria nunca de ser um AVESTRUS!
Risos, apenas uma brincadeira. Não me levem a sério

terça-feira, 6 de março de 2012

Impisa – “O lobo que nunca dorme!”.



Impisa – “O lobo que nunca dorme!”.
Claro que Gegê não era um intrépido. Nem tão pouco valente. Mas tinha lido tantas historias de Baden Powell (BP) que ele pensou que poderia ser um assim. Bem era outra época, não havia uma tribo dos Ashantís para lutar, e Mafeking hoje era uma cidade pacificada. Pena que ele não pudesse voltar no tempo na guerra do Transwall. Se pudesse! Mas quem sabe ele conseguiria algumas aventuras na sua cidade?

Gegê tinha treze anos. Um menino cheio de ideais. Um Escoteiro sonhador. Em sua Patrulha todos achavam graça dele. Seu Monitor sabia que sua mente fervilhava. Ele não sonhava como Dibs, o menino em busca de sí mesmo ou como nas Aventuras de Tom Sawyer “O que um menino faz num sonho não faz também quando acordado?”. Dizem que todo menino normal (parodiando Mark Twain) tem hora que surge um desejo furioso de ir a algum lugar e descobrir um tesouro enterrado. Gegê era assim. Um sonhador!

Gegê não saia à noite. Sempre ia para a varanda de sua casa e ali devorava os livros de Baden Powell (BP). Fechava os olhos e pensava que podia ser um dos dezoito escolhidos por ele para o primeiro acampamento em Brownsea. Sentado na cadeira de balanço de sua vó, Gegê lia e aos poucos seus olhos se fechavam. Algum estranho aconteceu. Gegê se viu em Brownsea, olhou no relógio e viu que era vinte e nove de julho a data do inicio do acampamento.

Ele não estava acreditando. A ilha era comum, parecia muito com a ilha da Carlinga de sua cidade. Viu os meninos chegando. Contou um por um, não eram mais dezoito. Ele contou vinte! O tempo estava afirme. Alguém recebia os meninos e pelas fotos ele reconheceu Sir Percy Everett um amigo de BP.  Ele sabia que a ilha era pequena, menos de três quilômetros por um e meio. Claro tinha muitos bosques, dois lagos e que BP dizia ser um bom terreno Escoteiro.]

Gegê não estava acreditando. Ninguém o via. Mesmo chegando perto era por eles ignorado. Sabia que cada menino participante levou todo o material pedido e que sabiam de cor e salteado os nós direito, escota e volta do fiel. Gegê se lembrava do que tinha lido, pois o convite que ele enviou foi aceitos com entusiasmo. Os pais se orgulhavam dos filhos participarem com um herói de Mafeking como era conhecido na Inglaterra. Lá estava também seu amigo de armas, o Major Keneth McLaren que ficou como seu assistente.

Nossa! Que vontade de ser visto por eles, de participar de uma das patrulhas. Não importava qual. Poderia ser os Corvos, os Lobos, os Maçaricos ou os touros. Viu que os monitores já tinham sido escolhidos e eram responsáveis por tudo que faziam no campo. Sabiam que BP solicitou que a eficiência e a coragem fosse ponto de honra. Ele sabia que os meninos não usavam uniformes. Viu que cada um recebeu as fitas de Patrulhas com suas cores que ficaram para sempre como símbolo daquelas patrulhas.

Gegê estava embasbacado. Era tudo real. Viu o treinamento de Técnicas de Acampamento, observação, artes mateiras e como ele era desenvolvido. Assistiu BP contar para eles como era um bom rastreador. No Fogo de Conselho ele mostrou como seguir pistas a noite. No dia seguinte (cada Patrulha tinha uma barraca) BP adestrou os monitores e assim o acampamento seguia seu rumo. Gegê lembrava que ele mais tarde comentou que dar responsabilidade ao Monitor, foi o segredo do sucesso da atividade.

Gegê olhava e aprendia. Construção de abrigos, fazer colchões, acender fogo, cozinha mateira e se divertiu com os jogos que eles fizeram. Eu queria tanto estar com eles dizia.  O que ele mais gostou foi jogo "Caça ao Urso" - Um dos rapazes maiores é o urso e tem três bases nas quais ele pode se refugiar e estar a salvo. Ele leva um pequeno balão de borracha cheio de ar nas costas. Os outros rapazes estão armados com bastões de palha amarrados por um cabo (ou jornal enrolado) e com os bastões procuram fazer estourar o balão, enquanto o urso está fora da base. O urso tem um bastão semelhante com o qual procura tirar os chapéus dos caçadores. Se isto acontecer o caçador está morto, mas o balão do urso tem de ser arrebentado para que ele seja considerado morto.

Gegê estava vibrando com tudo aquilo. O bivaque feito só pela Patrulha foi sensacional. Mas as Atividades Práticas da Natureza foram fora de série. Relatórios de observação da natureza - “Envie suas Patrulhas para descobrirem por observação e relatarem depois, coisas como esses: Como o coelho silvestre cava sua toca? Quando um grupo de coelhos é assustado, um coelho corre apenas porque os outros correm ou olha ao redor para ver qual é o perigo, antes de também correr? Um pica-pau tira a casca para apanhar os insetos no tronco da árvore, ou apanha-os pelo buraco, ou como é que os acompanha? etc.”.

Gegê viu que Baden Powell era um esplêndido contador de estórias. Tinha um espantoso estoque de anedotas sobre os heróis de todos os tempos. Para seu próprio uso, ele havia criado um código de ética, baseado nos códigos dos Cavaleiros do Rei Arthur e nas suas próprias reflexões. Agora ele pode procurar instilar nos rapazes os mesmos ideais, contando-lhes as façanhas dos heróis admirados pelos jovens e imprimindo em suas mentes a ideia de “Boa Ação Diária”.

 Gegê procurou um lugar junto a todos e assistiu o melhor debate que BP que teve nesta ocasião com os rapazes. Foi ali que viu cristalizar o seu pensamento e a formular um código aceitável para os rapazes: A Lei e a Promessa Escoteira. Ele experimentou jogos que lhe pareciam capazes de por em relevo e dar expressão prática aos traços de caráter que ele desejava que os rapazes possuíssem. Ele pôs à prova a lealdade e a esportividade deles em jogos de equipe com regras estritas. Pôs à prova a coragem deles com alguns golpes e chaves simples de jiu-jitsu, e a disciplina e obediência num jogo em botes - a caça à baleia.

Gegê queria intervir queria participar, mas não podia. Alguém o balançava e ele assustado e tremendo acordou com sua mãe o chamando para dormir. Gegê queria chorar. Perdera a melhor oportunidade de sua vida, pois queria muito ver os olhares de todos quando o acampamento terminasse. Mas Gegê sabia que ele agora era esperar outro sonho. Poucos muito poucos poderiam dizer que viram boa parte do primeiro acampamento dos escoteiros no mundo. Mesmo em sonhos.

 Gegê viu. Contar para quem? O sonho de Gegê morreria com ele, Ninguém acreditaria. Mas isto importava? Para Gegê não. O que os outros pensassem dele não tinha nenhuma importância. Sabia que muitos gostariam de estar em seu lugar, e só ele teve esta oportunidade. Nunca deixaria de ser o Escoteiro sonhador. Sonhar é viver novamente e acreditar que o mundo pode se modificar. Os sonhos de Gegê pelo menos na sua inocência poderiam mudar o mundo!

Sonhe Gegê, Sonhe!   

Pequenas passagens da vida de Baden Powell


Pequenas passagens da vida de Baden Powell
Esta era um época formativa para B-P. Ele ainda não ele tinha a esta época da vida, dirigido missões como chefe do reconhecimento no território inimigo na Rodésia, mas também porque muitas das suas ideias mais recentes do escotismo se arraigaram aqui. Foi nesta guerra que ele começou uma amizade com o “Escoteiro” americano de nome Frederick Russell Burnham, que o introduziu ao ponto de ebulição a maneira do Oeste americano e do woodcraft (escotismo).
Foi assim que ele usou seu chapéu Stetson pela primeira vez. Mais tarde B-P participou na campanha contra a tribo dos Ashantís. Os nativos temiam-no tanto que lhe davam o nome de "Impisa", o "lobo-que-nunca-dorme", devido à sua coragem, à sua perícia como explorador e à sua impressionante habilidade em seguir pistas.
Um dia em meados de junho de 1907, Robert Baden-Powell enviou cartas a diversas famílias, pais de meninos de 11 e 12 anos de idade, velhos amigos do Exército, pais de membros da Companhia de Brigada de Rapazes (movimento juvenil já existente á época), jovens de escolas secundárias do Governo, empregados em fazendas ou filhos de operários convidando-os para uma atividade que se tornaria o primeiro Acampamento Escoteiro realizado.
 Nessas cartas, ele dizia: "Me proponho realizar um acampamento com 18 garotos para aprender exploração, durante uma semana, nas férias de agosto". O local escolhido para o primeiro acampamento foi à ilha de Brownsea, na Inglaterra. Alguns meses depois, em janeiro de 1808,Robert Baden-Powell publicou os fascículos do "Escotismo para Rapazes", vendido em tiragens quinzenais, e que se revelou um sucesso, com os jovens se organizando em patrulhas para realizar as atividades sugeridas.
Em maio daquele ano Robert Baden-Powell lançou uma edição completa, na forma de livro. Foram os próprios jovens que começaram o Movimento Escoteiro, reunindo-se em Patrulhas, e só depois surgiram as Tropas, os Grupos escoteiros e as Associações.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A FELICIDADE É FEITA DE DOCES MOMENTOS



A FELICIDADE É FEITA DE DOCES MOMENTOS

Morava em uma casinha diminuta. Apenas dois cômodos. Ali convivia com meu pai, minha mãe e um irmão mais novo. Ficava próximo a uma pequena cidade, distante umas cinco léguas. Meu pai lavrava a terra, plantando feijão, um pouco de arroz em uma várzea próxima. Também plantava mandioca e nas barrancas do Rio das Flores, colhiam muita abobora que dava para o sustento da família.

Nossa casa não tinha eletricidade e televisão só conhecíamos na fazenda do Seu Malaquias. Meu pai não tinha salário e trabalhava de sol a sol. Tínhamos um burrinho já velho e algumas galinhas e porcos no chiqueiro atrás da nossa casa. Um radinho a pilha servia para ouvirmos quando jantávamos. Gostava de ouvir a tal Hora do Brasil.

Pela manhã, corria quatro quilômetros com meu irmão até uma pequena escola na Fazenda do Seu Malaquias. Minha professora dona Niquinha era muito brava e todos os alunos tinham medo dela. Quando retornava, comia uma pequena refeição composta de um pouco de feijão com abobora e de vez em quando um peixe ou uma seriema que meu pai caçava. Não reclamava. Satisfazia-me com um prato e não pedia mais.

Meu nome é Tãozinho e tenho 13 anos. Sou alto, bem magro, ainda tenho todos os dentes, pois escovo sempre com uma escova que havia ganhado na escola. Não tinha pasta de dente e usava uma pequena planta que minha mãe fervia e deixava de molho até virar uma pasta. 

Era uma vida simples. Não conhecia outra e gostava de tudo que fazia. Nunca reclamei e sempre tinha um sorriso nos lábios. Meu irmão mais novo, com nove anos era diferente. Ficava sempre raivoso, quase não ria, mas ele era meu grande amigo de todas as horas. Quando meus pais matavam um porco, e não era sempre, minha mãe limpava a bexiga e depois de cheia de ar deixava secar. Eram excelentes bolas de futebol. Eu e o meu irmão brincávamos muito a noitinha.

No ano passado meu pai me levou até a cidade de São Quirino. Tinha ido outras vezes, mas era bem pequeno e não me lembrava de nada. Fiquei abismado com as ruas, as casas e perplexo com a igreja, uma torre alta, sinos e dentro um silencio de fazer medo. Vi a estátua de Jesus em um canto, e assustei-me com tanto sangue. Meu pai e minha mãe sempre contavam a vida de Jesus. À tarde fomos a um cinema. Não conhecia. Assustei com os tiros, era um filme de faroeste. Não entendia bem, pois falavam em uma língua estranha. Mas adorei o filme e dos pirulitos que meu pai comprou. Depois não voltamos mais a cidade.

Numa sexta feira quando retornava da escola com meu irmão, vi dois ônibus se aproximando da fazenda do seu Malaquias. Dois homens vestindo uma roupa caqui com chapéus esquisitos desceram e conversaram longamente com seu Malaquias. Fiquei refletindo quem eram, porque suas calças eram curtas e porque aqueles melões. Quem sabe eram jogadores de futebol. Havia muita algazarra e muita cantoria que eu não entendia. Após alguns minutos os ônibus tomaram rumo de nossa casa. Cortamos caminho pelo córrego das Antas e chegamos antes dos ônibus. 

Não foi preciso ir muito longe. Logo vimos os ônibus parados próximo ao córrego e distante uns 300 metros do rio das Flores. Era um descampado e sempre pensei que meu pai poderia fazer um campo de futebol. Bem perto havia um grande bambuzal e mais atrás a mata da fazenda. Uma meninada sem tamanho desceu do ônibus e fizeram fila igual na escola. Só que estavam durinhos e na frente um com um pau e uma bandeira amarrado. Todos de chapéu e também de roupa caqui com um lenço no pescoço. “Diacho” o que seria aquilo pensei.

Logo todos se abraçaram e começaram a gritar. Gritaram e voltaram para as filas. Depois o homem mais velho mexeu com os braços e todos fizeram uma corrida até ficaram em uma espécie de roda. Outro homem já havia fincado um pau maior e amarraram uma bandeira que sabia ser de nosso pais. Achei bonito tudo aquilo. Ficaram com os dedos na testa e cantaram o nosso hino. Estava perplexo com tudo aquilo. Zezé o meu irmão me cutucou e disse que era hora do almoço e a mamãe iria brigar. Não queria sair dali, mas fui correndo com ele, almocei e expliquei ao papai o que tinha visto e se ele me deixava ficar lá olhando.

Meu pai era muito compreensivo. Concordou e saí correndo com o Zezé até onde estava a meninada. Quando cheguei lá eles tinham feito um cercadinho, e dentro tinha barracas de lonas e vários bambus. Vários deles estavam cortando no bambuzal e montavam mesas, cadeiras e outras armações que não entendi. Chegamos mais perto deles e vi um com o pau e a bandeira na mão que se aproximou de nós. Cumprimento-nos e disse que eram escoteiros da capital. Se já conhecíamos. Disse que não e tentou explicar o que era. Não entendi bem, mas achei bacana tudo o que ele me dizia.

Cada turminha se chamava patrulha tinha seu cercadinho que ele dizia ser a casa deles enquanto estivem acampados. Os homens eram chamados de chefes e tinham também o cercadinho deles. Eles fizeram um fogão de barro (muito mal feito) e expliquei a melhor maneira de usar o barro com pequenos pedaços de madeira para fortalecer. Fiquei ali a tarde toda. Convidaram-me para jantar e agradeci. Fui até em casa, era hora do meu banho e quando estava no rio me lavando ouvi vários gritos. Olhei para ver o que era e vi um deles quase no meio do rio (não era largo) gritando e mexendo com os braços. Vi que estava afogando.

Eu era um bom nadador e sabia como agir. Nadei até ele, peguei por traz e puxei-o até a margem. Logo os chefes e vários escoteiros apareceram. Deitaram-no de costa e apertaram sua barriga. Um deles deu um beijo varias vezes e o menino voltou a respirar (respiração artificial boca a boca). Abraçaram-me, disseram que era herói e coisa e tal. Não entendi nada. Tirar um afogado do rio era obrigação de cada um. Conversaram com meu pai e pediram para eu participar com eles até o domingo. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer. Zezé não quis. Estava com medo.

Mamãe me colocou a melhor roupa e fui com eles. Ensinaram-me como ficar na patrulha, os apitos, como correr em fila, os sinais que o chefe fazia. Não entendia muito bem, mas olhava para os da frente e não era difícil participar. O chefe apitou e corremos até o chefe que mandou ficarmos em circulo. (chamavam ferradura e da ferradura do nosso burrinho não tinha nada). À noite, após a janta que jantei com eles (o cozinheiro deles cozinhava mal prá burro!) fizeram uma brincadeira muito gostosa. Rezaram o Pai Nosso e foram dormir. Eu fui para minha casa prometendo estar lá bem cedo. Foi uma noite linda, não conseguia dormir e só pensava no sábado com eles, os meus novos amigos.

Cheguei com o dia clareando. Estavam todos dormindo. Fiquei ali sentado na grama, olhando suas armações (alguma bem feitas outra não) até que quando o sol já estava no alto eles levantaram correndo, cada um foi fazer uma coisa e o cozinheiro foi fazer o café. Ajudei a ele com o fogo e de uniforme tomamos café juntos com um pão dormido. Mas tinha manteiga biscoitos e adorei tudo.

Logo um apito longo e todos ficaram de frente ao seu cercadinho. O Monitor me disse que era a inspeção. Os chefes chegaram, gritaram e cumprimentaram os chefes. Cada chefe ficou olhando dentro e fora do cercadinho. Naquele momento não estava entendendo nada, mas achava bonito e gostava de estar na fila durinho como eles. Assim passou o dia. À tarde fizemos um jogo na mata. Cada monitor levava um negócio que chamavam de bússola. Disseram que o chefe escondeu um tesouro nela e com um papel desenhado quem achasse o tesouro ganhava. Achar um tesouro na mata era complicado. Eu conhecia bem ela e nunca vi nenhum tesouro lá.

Um dos monitores encontrou o tesouro. Era uma caixinha cheia de chocolates. Distribuíram entre todos. Adorei o chocolate. Não lembrava quando tinha comido um. A noite foi a mais linda da minha vida. Acenderam um fogo e em volta dele cantaram, contaram piadas, juntos como teatrinho da escola brincavam e cantavam. Mostraram umas palmas esquisitas.

Depois fizeram um círculo e cantaram uma musica muito bonita. Muitos choraram. Diziam que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus e que bem cedo junto ao fogo, nos tornaríamos a nos ver. Lembrei que no dia seguinte eles iriam embora. Chorei também. E Chorei muito. No domingo logo após a inspeção começaram a desmontar as barracas e algumas construções que chamavam de pioneirias. Após subirem a bandeira foi feito outra brincadeira chamada de Escalpes. Enfiamos o lenço na cintura e tentavam tomar o lenço um dos outros. Como era um terreno grande não foi fácil, mas consegui tirar seis lenços.

À tarde, após o almoço (pedi o cozinheiro para fazer e adoraram minha comida) guardaram tudo no ônibus. Só ficou o mastro com a bandeira. Formaram e o chefe me chamou a frente com o monitor. Disse para ficar em posição de sentido e repetir com ele as palavras: - Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para – Cumprir o meu dever para com Deus e minha Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer a Lei do Escoteiro. Ao final mandou baixar o braço e explicou as leis escoteiras.

Caramba! Como era bonito tudo aquilo. Não estava aguentando vi que o choro estava chegando e não seria bonito chorar ali. Ele se aproximou de mim e colocou um lenço deles no meu pescoço com um anel. Disse que dali em diante eu era um Escoteiro Honorário, com todos os direitos de pertencer ao 825º Grupo Escoteiro Leão do Norte. Meus olhos agora estavam cheio de lágrimas.

Juntaram todos com os braços ao redor do pescoço de cada um e gritaram alto: - Só os valentes entre os valentes são escoteiros. Temos orgulho de nossa patrulha, de nossa tropa de nosso grupo! Um por todos, todos por um. Anrê, Anrê, Anrê. Para mim, um Escoteiro Honorário foi como um lindo sonho real que estava acabando.

Abraçaram-me, despediram entraram no ônibus e se foram acenando. Eu fiquei ali, parado por muito tempo. A noite chegou e eu continuava ali. Ainda em pé. Não queria sair. Não podia abandonar a mais incrível aventura de minha vida. Como fantasminhas eu os via correndo cantando e brincando. Tudo que aconteceu ficavam como lembranças vivas em minha mente.

Minha mãe e meu pai vieram me buscar. Não queria ir. Achava que podia esquecer quando saísse do calor que deixaram. Fui para a casa chorando. Dormi abraçado com meu lenço de Escoteiro Honorário. Nunca esqueci aqueles três dias que duraram para sempre em minha vida. Nunca mais os vi. Hoje, morando em Sesmaria, uma cidade a beira do rio das Flores, tenho uma pequena loja de tecidos e lembro-me daqueles dias como se fossem agora. Olhos meus três filhos ainda pequenos e desejo para eles tudo aquilo que tive em três dias, uma vida, uma história para eles.

Li muito sobre os escoteiros. São valentes, são heróis, aprendem a ser grandes homens de bem. Li também que sabem o que é ter caráter, honra e tudo mais. Eu sei bem o que é isto. Foram três dias apenas, mas também aprendi tudo isto. O melhor, a irmandade. Foram meus irmãos mesmo sem ser um deles.

Quem sabe meus filhos um dia também terão esta oportunidade?

E quem quiser que conte outra...

domingo, 4 de março de 2012

O DOCE SABOR DE UM SORRISO



O DOCE SABOR DE UM SORRISO
A menina do Águia Branca que mudou o meu dia

“Devo fazê-la descer, persuadi-la a pousar em meu pulso, ficar imóvel pelo tempo suficiente para que eu lhe ponha a peia e depois levá-la a conversar sobre o reino azul, nas montanhas verdejantes do infinito em que habita”.
 “Pois não se trata de uma Águia Branca comum a desafiar o vento, mas sim de um pássaro mágico que voa pelas tempestades, enfrentando o Deus Sol da imensidão do universo...”.

A vida é bela. Já dizia BP em seu livro o Caminho Para o Sucesso. Eu gosto da vida, adoro meus dias, e vivo cada momento como se fosse único. Mas chega de “delongas” e vamos aos “entretantos”. Sábado, um dia normal sem sol e sem chuva. Escurece e lá vou eu para uma jornada que poderia chamar de uma volta ao passado. Chego, entro, compro meu passe de entrada e ali mesmo alguns me reconhecem. Eu só os reconhecia pelas fotos aqui do face.

Caminho em direção ao pátio. Estou só. Logo aparecem chefes, dirigentes que me reconheceram. Abraços, Sempre Alerta! E como sou um “moleza” pedi uma cadeira para sentar. Ali fiquei rodeado de escotistas, pais e ao meu lado amigos do passado. Um que vi como escoteirinho e agora pertence a corte. Distrital. Insígnia (risos) mas é aquele mesmo jovem do passado. Do outro lado minha amiga de todas as horas, muitos anos de luta no escotismo e para minha alegria trabalhamos juntos na mesma empresa.

No pátio a escoteirada se divertia. Corre daqui e dali. Mais adiante em uma cobertura parece que tinha alguma coisa, pois toda hora alguém gritava. Devia divertir a todos. Não fui lá. Minha respiração e minhas pernas apesar de quando saí de casa as repreendi para não me decepcionarem as “danadas” não obedeceram. Papos, histórias, contos e claro as fofocas escoteiras da corte não faltaram. Dois insígnias (tinham vários, nunca vi tantos reunidos assim) que agora eram membros da corte cursante, zuavam gostosamente no meu ouvido as ultimas.

- Sabia da última "Chefe" Escoteiro? Estão fazendo mudanças. Querem acabar com o uniforme caqui. A turma paulista não vai deixar. Outros estados também não. Risos e risos. Nada de novo no front. E vem essa conversa fiada de dar ideias para o novo POR. Uma piada. Já tem os membros da corte tudo definido e os outros 67.000 mil que se danem! Pesquisas? Nunca! E quem quiser que conte outra! Risos e risos. Tudo como dantes no pais de Abrantes. Mas não é essa a historia aqui. Esta já foi contada e recontada. Mais risos.

Uma jovem simpática, que aqui no face sempre me faz companhia com seus deliciosos comentários veio do Rio de Janeiro só para a festividade. Uma força de mulher. Aqui e ali trabalhando. Nada de conversas paralelas. Lá estava ela na entrada junto ao chefe cozinheiro, um jovem simpaticamente educado. Outros que não reconhecia e soube que dentro do salão de festas mães e muitos escotistas estavam a fazer os seus “quitutes” que estavam sendo deglutidos com força jugular, própria de escoteiros.

Tudo ia muito bem. Muito bem. Mas algum de extraordinário aconteceu. Em tudo na vida que nos acontece tem pontos que marcam. O pátio que estava na penumbra, uma luz brilhante começou a se formar. Perspicaz como sou (gosto de me elogiar) conversava, ouvia, e claro via tudo em meu redor. A escoteirada correndo, camisas fora da calça, lenços de qualquer jeito, mas tudo bem. Era festa. Um direito de jovens alegres e audazes em busca da diversão.

Vi no meio da turba ao meu redor, uma senhora simpática que me olhava e sorria. Ao lado outra senhora e uma escoteirinha. Sumiam e apareciam de novo. Olhavam-me e sorriam. Pensei com meus botões, será alguma conhecida do face? Ou quem sabe uma lobinha de anos e anos atrás que ali labutei com chefia? Conversas paralelas, fotos distribuídas pelo meu antigo Escoteiro (hoje um homem feito) e lá e estavam de novo elas, a me olharem sorrateiramente.

Enfim, se aproximaram. "Chefe" Escoteiro esta é minha filha. Reconheceu o senhor pela foto do face! Estava envergonhada de procurá-lo. Disse que queria cumprimenta-lo, mas estava receosa! Surpresa! Seria eu mesmo? Ela "Chefe" Escoteiro falou com o senhor lá no face. Queria muito conhecê-lo. Risos, alegria, olhei para a escoteirinha. Linda, simpática à beça. Aquele sorriso contagiante que só jovens puras no pensamento nas palavras e ações sabem dar. O pátio para mim se iluminou. Meu dia transformou. A festa teve seu apoteose! Palmas para o mundo! Palmas para mim! Eu era agora o mais feliz homem do mundo! E palmas para a escoteirinha. A menina que transformou o dia em luz brilhante.

E lá fui eu de carona com outro Chefe para casa e lembrando-se da escoteirinha. Seu sorriso, seu semblante ficará marcado para sempre na minha memória. São coisas assim que nos fazem chorar, emocionar, e sentir que o escotismo tem jeito. Tem de ter. Um amor, uma fraternidade que só aqueles que passam ou passaram por isso sabem como é. Obrigado escoteirinha. Obrigado mesmo! Valeu! Vou guardar seu sorriso e seu semblante para sempre!