Crônicas de um Chefe escoteiro.
Você sabe sentir e viver com a natureza?
Um dia andei me perguntando se hoje ainda tem aqueles que sabem viver e
sentir a natureza em todo seu esplendor. Será possível que com esta modernidade
ainda temos escoteiros sonhadores? Aqueles que têm uma queda por lugares
lindos, onde podemos sentar e ficar horas e horas sem piscar, só a observar a
paisagem, sentindo o cheiro da terra, o perfume das flores silvestres, criar
histórias fantásticas, lembrar-se do seu passado tudo no mais completo silêncio?
Dizem que assim fazem os escoteiros poetas, os que tiveram grandes amores, os
amantes da natureza e claro, aqueles escoteiros especiais que vivem e sonham em
sair por aí, procurando campinas verdejantes e floridas, os vales e bosques, as
montanhas, as gargantas enormes, os despenhadeiros longínquos e os picos mais
distantes para ver diante de sí, a interminável obra de Deus.
Será que ainda encontramos os caçadores de aventuras, aqueles que fazem
as fotos mais lindas, encontram paisagens fantásticas, curtem as cores do arco íris,
adoram a vida selvagem e lutam para estar em uma natureza intacta em uma
floresta qualquer? Acredito que sim. Acho que ainda tem aqueles escoteiros que
não desistem do sonho da aventura. Aqueles que procuram ver uma aurora no
inverno, aqueles que gostam de sentir na face, o vento da natureza mãe. Mas não
é isto que é belo? Olhar ali na colina, um belo pássaro dourado, aproximar
calmamente, sentir seu corpo vibrar e depois... O bater das suas asas
levantando voo tão próximo que você irá sentir que irá voar com ele também.
Fico pensando se a modernidade tirou os sonhos
de outrora, de ver sem ser visto no campo, de olhar o crepitar de uma fogueira,
a beleza das fagulhas subindo aos céus, lentamente levada pela brisa e fechar
os olhos como a sonhar cm o infinito. Olhar na chama do fogo, o sorriso da Escoteira,
o cantar da guia alegre, vendo em poucos segundos coisas imagináveis de um grande
acampador. Quem sabe enquanto cantam, naquela noite faceira, estrelas piscando
ao longe, uma lua que ainda não veio um cometa que passou alegre, um sorriso de
madrugada, um cantar da passarada, a esperar a aurora, ver de novo o nascer
sol, vermelho como se foi no “antante” e na volta do “seguinte” para trazer
alegria, aquela alegre escoteirada que foi ali para viver um novo sonho fantástico?
Será
que a modernidade, fez os sonhos escoteiros, deixar de existir para ver, a beleza
de tantas flores, espalhadas nas colinas, esperando que o perfume alcance, a
vida que escolheu o sonho dos escoteiros que ali estão para sentir o valor da natureza.
Olhe verdade lhe digo, não tem fortuna no mundo, que pague no horizonte, a
vista de um por do sol, do alto de uma montanha, numa floresta gigante, de arvores
verdes enormes, olhar de lado outra vez, ver milhares de borboletas, voando
naquela mata, embelezando o mundo que poucos um dia conseguiram ver. Por acaso
quantos já viram, os pingos da chuva caindo, batendo nas folhas silvestres, i
tic tac lá no lago, recebendo a chuvarada, os peixes a saltitar como a cantar
para o mundo, quem sabe querendo dizer – Como é belo ser Escoteiro!
Eu posso
ate perguntar, quantas vezes você viu um grande e belo arco íris, na garganta
montanhosa? Será que um dia qualquer você viu a águia enorme, com os raios de
sol sobre ela, parecia ser dourada e ser levada pelo vento? Tentou quem sabe
algum dia, escrever com letras brancas, de nuvens esvoaçantes, que fazem balé
no céu? Quantos pássaros conhece, quantos você imitou no seu cantar paralelo,
quem sabe o canário amarelo com a sua cara metade no ninho a proteger a prole sem
fim? Veja são coisas maravilhosas que somente os sonhadores são capazes de
sentir. Colocar no lago gelado, os pés de andar de cansado, tentar compreender na
pedra, um sapinho que toma sol, ver com carinho gostoso uma cachoeira caindo,
peixes que estão subindo a procura do seu habitat.
Meu
amigo Escoteiro, eu posso lhe garantir, não existe nada mais belo. Sem vozes
humanas, sem barulho, sem telefone, sem televisão e só você a sentir a natureza
assumindo e encobrindo você da cabeça aos pés. É nesta hora que se adquire a
percepção da visão, do olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita. Ninguém
mais para dizer sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver o balet dos
vagalumes, os grilos saltitantes no meio deles, as formigas serviçais, um tatu
que é iluminado nos seus olhos pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.
Se você que está lendo ainda pensa assim,
podemos até dizer que ainda existem sonhos. E digo com sinceridade bem
aventurados os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que militam
no escotismo, pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles, os
escoteiros, só deles esta esplêndida
natureza que Deus no deu.