Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Você sabe sentir e viver com a natureza?



Crônicas de um Chefe escoteiro.
Você sabe sentir e viver com a natureza?                      

                            Um dia andei me perguntando se hoje ainda tem aqueles que sabem viver e sentir a natureza em todo seu esplendor. Será possível que com esta modernidade ainda temos escoteiros sonhadores? Aqueles que têm uma queda por lugares lindos, onde podemos sentar e ficar horas e horas sem piscar, só a observar a paisagem, sentindo o cheiro da terra, o perfume das flores silvestres, criar histórias fantásticas, lembrar-se do seu passado tudo no mais completo silêncio? Dizem que assim fazem os escoteiros poetas, os que tiveram grandes amores, os amantes da natureza e claro, aqueles escoteiros especiais que vivem e sonham em sair por aí, procurando campinas verdejantes e floridas, os vales e bosques, as montanhas, as gargantas enormes, os despenhadeiros longínquos e os picos mais distantes para ver diante de sí, a interminável obra de Deus.
                           
                           Será que ainda encontramos os caçadores de aventuras, aqueles que fazem as fotos mais lindas, encontram paisagens fantásticas, curtem as cores do arco íris, adoram a vida selvagem e lutam para estar em uma natureza intacta em uma floresta qualquer? Acredito que sim. Acho que ainda tem aqueles escoteiros que não desistem do sonho da aventura. Aqueles que procuram ver uma aurora no inverno, aqueles que gostam de sentir na face, o vento da natureza mãe. Mas não é isto que é belo? Olhar ali na colina, um belo pássaro dourado, aproximar calmamente, sentir seu corpo vibrar e depois... O bater das suas asas levantando voo tão próximo que você irá sentir que irá voar com ele também.  

                          Fico pensando se a modernidade tirou os sonhos de outrora, de ver sem ser visto no campo, de olhar o crepitar de uma fogueira, a beleza das fagulhas subindo aos céus, lentamente levada pela brisa e fechar os olhos como a sonhar cm o infinito. Olhar na chama do fogo, o sorriso da Escoteira, o cantar da guia alegre, vendo em poucos segundos coisas imagináveis de um grande acampador. Quem sabe enquanto cantam, naquela noite faceira, estrelas piscando ao longe, uma lua que ainda não veio um cometa que passou alegre, um sorriso de madrugada, um cantar da passarada, a esperar a aurora, ver de novo o nascer sol, vermelho como se foi no “antante” e na volta do “seguinte” para trazer alegria, aquela alegre escoteirada que foi ali para viver um novo sonho fantástico?

                        Será que a modernidade, fez os sonhos escoteiros, deixar de existir para ver, a beleza de tantas flores, espalhadas nas colinas, esperando que o perfume alcance, a vida que escolheu o sonho dos escoteiros que ali estão para sentir o valor da natureza. Olhe verdade lhe digo, não tem fortuna no mundo, que pague no horizonte, a vista de um por do sol, do alto de uma montanha, numa floresta gigante, de arvores verdes enormes, olhar de lado outra vez, ver milhares de borboletas, voando naquela mata, embelezando o mundo que poucos um dia conseguiram ver. Por acaso quantos já viram, os pingos da chuva caindo, batendo nas folhas silvestres, i tic tac lá no lago, recebendo a chuvarada, os peixes a saltitar como a cantar para o mundo, quem sabe querendo dizer –   Como é belo ser Escoteiro!

               Eu posso ate perguntar, quantas vezes você viu um grande e belo arco íris, na garganta montanhosa? Será que um dia qualquer você viu a águia enorme, com os raios de sol sobre ela, parecia ser dourada e ser levada pelo vento? Tentou quem sabe algum dia, escrever com letras brancas, de nuvens esvoaçantes, que fazem balé no céu? Quantos pássaros conhece, quantos você imitou no seu cantar paralelo, quem sabe o canário amarelo com a sua cara metade no ninho a proteger a prole sem fim? Veja são coisas maravilhosas que somente os sonhadores são capazes de sentir. Colocar no lago gelado, os pés de andar de cansado, tentar compreender na pedra, um sapinho que toma sol, ver com carinho gostoso uma cachoeira caindo, peixes que estão subindo a procura do seu habitat.

                   Meu amigo Escoteiro, eu posso lhe garantir, não existe nada mais belo. Sem vozes humanas, sem barulho, sem telefone, sem televisão e só você a sentir a natureza assumindo e encobrindo você da cabeça aos pés. É nesta hora que se adquire a percepção da visão, do olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita. Ninguém mais para dizer sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver o balet dos vagalumes, os grilos saltitantes no meio deles, as formigas serviçais, um tatu que é iluminado nos seus olhos pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.

                Se você que está lendo ainda pensa assim, podemos até dizer que ainda existem sonhos. E digo com sinceridade bem aventurados os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que militam no escotismo, pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles, os escoteiros,  só deles esta esplêndida natureza que Deus no deu.          

terça-feira, 30 de abril de 2013

Acampar, um sonho escoteiro.



Conversa ao pé do fogo.
Acampar, um  sonho escoteiro.

 Parte I
                   Falamos muito em acampamentos. Claro escotismo sem ele está fora da realidade. Quando os jovens ficam sabendo que no programa anual vão ter vários acampamentos eles vibram. Eles adoram. Entraram no escotismo por causa deles. Mas se o último acampamento que foram decepcionou e não conseguiu despertar neles o sonho aventureiro, aí meu amigo é preciso consertar e já. Ou então é melhor não ir mais. Não adianta o melhor Fogo de Conselho do Mundo. Pode dar a eles o que quiserem, mas lembre-se você não pode falhar. Você Escotista é responsável para que os sonhos deles se tornem realidade. Quando você deu a eles as delicias de uma vida mateira, quando deixou que eles fizessem a fazer fazendo sem sua ajuda, quando o tempo foi bem distribuído e ele pode vivenciar o que disseram para ele antes de ir, então, e então o sucesso é garantido e absoluto.  

                    Costumo dizer que existem acampamentos e acampamentos. Vejamos o que o Google diz sobre ele – “Acampamento (do inglês, camping) é um local onde se estabelecem barracas ou tendas, geralmente com a proximidade à natureza onde toda a infraestrutura é levada pelos campistas, tal prática é conhecida por campismo”. - Mas será isto mesmo? É isto que os escoteiros fazem? Não, não é. Isto aí é Camping. Escoteiros acampam e não fazem camping. Eu costumo dizer que a preparação e a organização é a “alma do negocio”. Se a preparação foi perfeita e a organização idem então o sucesso será garantido. Não pretendo ensinar aos chefes escoteiros que leem este artigo. Sei que a maioria sabe melhor que eu como fazer. Seria presunção dizer que mudem e façam o que eu digo. Nada disto. Aqui simplesmente dou sugestões para os mais novos. Eles sim precisam de colaboração.

                     Vamos dentro do possível especificar alguns detalhes importantes. Antes de qualquer coisa estamos aqui falando em acampamentos escoteiros dentro dos padrões de Giwell. Todos sabem que Giwell é o centro de adestramento escoteiro no mundo. Quando dizemos a moda Gilwell é que ali se pratica conforme Baden Pawell especificou e fez no seu primeiro acampamento em Browsea. No mundo inteiro os acampamentos são realizados com os padrões de Giwell Park. A liberdade da Patrulha é absoluta. Cada uma  tem seu campo de Patrulha pelo menos a quarenta metros de distancia uma da outra. É como se fosse uma casa, um lar da Patrulha. Estranhos só entram se convidados ou se ao pedir permissão são autorizados. A Patrulha tem seu próprio material de campo, sua intendência e dentro do possível farão as pioneiras necessárias para que a comodidade, a higiene e o conforto possa dar o conforto que se espera em uma Patrulha.

                       Importante é a escolha do local. Hoje nem sempre encontramos nas cidades maiores bons locais. Tenho visto em algumas cidades locais que alugam. Quem diria. Mas não é difícil conseguir bons locais e de graça. Coloque um uniforme, chame um ou dois chefes e tentem aos domingos passear em estradas secundárias. Conversem com os nativos sobre o que estão procurando. Encontrando procurem o proprietário. Digam o que é o escotismo. Peçam autorização. Lembrem-se que não vão acampar ali somente uma vez. Assim o proprietário deve sempre ser convidado para uma bandeira e quem sabe entregar a ele um lenço do grupo em solenidade especial. Eu disse entregar e não promessar. Conheço chefes que em São Paulo tem sempre a mão quatro ou cinco bons locais. Um telefonema a cada dois meses para manter a amizade, um parabéns de aniversário, um convite para uma pizza e você vai ter a amizade do proprietário para sempre.

                        Se quiseres criar o espírito de aventura nos escoteiros o local não deve nunca ser perto de residências, postes de luz nada que mostre ou lembre-se da civilização. Até os veículos que irão transportar devem  ficar distantes das patrulhas. Entretanto, costumo sempre dizer que - Quem vai ao mar avia-se em terra; Você vai acampar. Nada pode faltar. Chefes Pata Tenras são aqueles que ficam saindo do campo toda hora para buscar o que esqueceram ou o que faltou. Um dos princípios básicos de um bom acampamento é que a Patrulha tenha todo o seu material necessário. Barracas, vasilhame, material de sapa tudo muito bem acondicionado em um saco, que a própria Patrulha pode fazer. Estes sacos tem em suas laterais alças para que com dois bastões quatro ou dois escoteiros possam transportá-los a longa distancia (se for o caso).

                       Eu sempre digo que se a tropa não foi preparada com antecedência para o acampamento tem tudo para dar errado. Claro, a não ser patrulhas que acampam juntas há anos e tem grande experiência de campo. Nenhuma Patrulha terá êxito se não tiver um bom almoxarife, um bom intendente, um bom aguadeiro, um bom socorrista, um bom cozinheiro e claro um bom Monitor. Monitor que faz tudo não tem Patrulha. Tem ele. Vai sempre reclamar de todo mundo. Se não confia nos seus patrulheiros é porque não os adestrou bem e então a falha é sua. Duas boas excursões em dois domingos com programa simples de aprender a armar barracas (olhos vendados), uso e como transportar a machadinha, o facão, aprender a usar o sisal, aprender  pelo menos cinco nós básicos, uma amarra, uma costura de arremate e saber montar pioneiras simples trarão o sucesso esperado. Claro, primeiro só com Monitores e subs. Depois com a tropa liderada pelo Monitor. Aí sim todos estarão preparados para um excelente acampamento.

                     O Almoxarife deve conhecer seu material, ter uma relação e ninguém seja na sede ou no campo apanha algum sem falar com ele. Não esqueçam, ninguém anda sozinho no campo. Sempre em dupla, com o Monitor ciente aonde vão e em distancias curtas. Duas semanas antes do campo o material deve ser revisado e se o Almoxarife for bom às barracas já foram uma vez por mês colocadas ao sol para não mofar. Claro que as  ferramentas de corte foram afiadas e bem oleadas para não enferrujarem. É importante que o tempo no campo para desenvolver o programa não deva ser corrido. Só de estar lá, na sua Patrulha, lutando lado a lado, construindo, rindo, calos nas mãos, sol quente e dando bravo quando a refeição está pronta já valeu o acampamento. Jogos, atividades técnicas como comando Crow, Falsa Baiana entre outros se forem realizados devem ser feitas pelas patrulhas e nunca pelo Chefe.

                     E o Chefe? Claro, sem ele não haveria o acampamento. Foi ele quem adestrou os Monitores, ouviu suas ideias, fez um cardápio simples (nada de nutricionista) são escoteiros e cozinheiros com simplicidade. Em noventa e nove por cento das residências dos escoteiros não existem nutricionistas para elaborarem os cardápios do dia. Se no campo é a extensão de suas casas que seja tudo muito simples, mas que seja uma alimentação forte. O Chefe juntamente com dois ou três pais são responsáveis pela lista de supermercado. É comum no campo da chefia (ela tem campo separado) ter uma barraca de intendência e se o acampamento for longo, um dos chefes será o intendente geral. Ele separa o cardápio do dia por Patrulha, chama os intendentes na hora determinada para dar inicio as refeições. Cuidados não só na Patrulha como na intendência geral com chuvas, animais peçonhentos, insetos, bichos que costumam invadir.

                       É um tema longo. Não dá para em um só post falar dele no total. Voltarei à carga novamente. Breve, muito breve. Precisamos de bons acampamentos para que nossos jovens mais e mais pratiquem um escotismo sadio e dentro dos princípios e métodos que Baden Powell nos deixou. Se o Chefe Escoteiro tem noção de como se faz e como se age no acampamento é claro que ele estará no caminho para o sucesso. Uma Patrulha é autônoma. Ela não é dependente. É uma equipe. Cada um deve agir como diziam os três mosqueteiros, “Um por todos, todos por um”. O Chefe deve dar liberdade. Lembrar-se que o campo de Patrulha é a casa deles e ele como bom orientador só vai lá quando chamado ou claro em casos especiais.

                    Quem já viveu a experiência em um acampamento do porte dos que são feitos em Giwell já tem meio caminho andado. Estamos aqui para formar cidadãos. Compenetrados no desenvolvimento da ética e do caráter. E dar a eles todas as condições para aprender a fazer fazendo. Só assim estaremos cumprindo nosso dever de escotistas. Se conseguirmos manter uma tropa por alguns anos sem evasão ou reclamações estaremos é claro no caminho certo para o sucesso. Eles estão aprendendo a agir sem os pais. Estão dando o primeiro passo para um dia, quando crescerem saber qual o caminho que irão tomar. A eles serão lembrados do livre arbítrio, mas se eles conseguirem fazer as escolhas certas então podemos nos considerar vencedores. Aguardem a parte II, claro se a Parte I foi interessante.  

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Aplausos, foguetes, palmas, gritos de guerra, alegria geral. A UEB apresentou o novo uniforme!


Conversa ao pé do fogo.
Aplausos, foguetes, palmas, gritos de guerra, alegria geral.
A UEB apresentou o novo uniforme!

                  Tento a minha maneira ser sério. Procuro me controlar para não sair por aí “com um violão debaixo do braço”. Mas adianta? Como diz o velho ditado, “Besta é quem acendeu a vela, prá defunto que nã
o é seu”. Risos. Mas amigos, essa UEB é demais. Depois de anos eis que ela apresenta o novo uniforme no Congresso Nacional. Faz uma enorme festa explicando sem explicar nada. Diz que tudo foi muito bem planejado. Bem arquitetado isto sim. Pressionada disse o que não disse em pequenos relatos para uns e outros. Argumenta que “outros” conhecedores fizeram pesquisas com escoteiros, e planejaram tudo para que seja um tremendo sucesso o novo uniforme. Sempre foi assim. Ela joga para o publico Escoteiro como se todos fossem subservientes, incapazes de opinar, e ainda se coloca como um Messias para que todos batam palmas, gritem, soltem foguetes pela sua magnifica ideia. Atenção, não discuto se ele e bonito ou feio, não é isto, discuto a maneira com que foram tratados os setenta e sete mil que a UEB alega ter.

                 Para que nada falhe, é preparada uma apoteose da apresentação, monta-se uma “fanpage” na rede social Facebook só para que os pobres mortais escoteiros conheçam seu novo uniforme, ou melhor, o novo traje escoteiro. Pela manhã deixam todos com água na boca - Aguardem! O espetáculo será à tarde!  E não foi só, a apresentação foi digna de um SPFW (São Paulo Faschion Week). Faltou o rufar dos tambores. - Respeitável público, com vocês! O novo traje. A porta se abre, os modelos e as modelos vão entrando, no recinto do teatro todos de pé. Grande expectativa. Enfim, ali está ele! Ou melhor, eles! Dezenove ao todo. Aplausos. Todos boquiabertos! Agora sim, seremos reconhecidos por toda a sociedade brasileira. Dezenove modelos para escolher. Pode? Onde vocês já viram isto antes? Eu nunca vi. Como são inteligentes não? 

                 Porque a UEB não fez isto antes? Porque não discutiu o tema? Porque não fez consultas a quem realmente interessa este uniforme? Os jovens foram consultados? A UEB diz que sim milhares de jovens dizem que não. Meia dúzia decide por milhares? Pena que muitos que acreditam na onipotência dos dirigentes iram aplaudir como se este novo traje fosse à redenção do escotismo brasileiro. Ela ainda em sua “fanpage” tenta explicar suas razões e incrivelmente colocam como fonte o também Doutor Jean Cassaigneau que fez um magnifico trabalho para a UEB em 2007. (A pedido da CAN/UEB em 1907 o Doutor Jean Cassaigneau fez um estudo para a UEB mostrando diversas situações e sugerindo modificações no escotismo brasileiro – se alguém se interessar em receber seu trabalho tenho o mesmo em PDF). Para quem não leu, o Doutor Jean Cassaigneau fez inúmeras sugestões todas elas de excelente conteúdo, mas ignorada pelos dirigentes da UEB. Alguns dizem que não, mas nunca em tempo algum colocaram os temas que ele apresentou em discussão. Agora aproveitam para colocar o novo traje como redenção, como se fosse à fonte salvadora do escotismo.

                   O Doutor Jean Cassaigneau tocou em enormes feridas da UEB. Algumas: - O escotismo é visto como um clube falta divulgação e quando é feita é desvirtuada. Os jovens escoteiros não compram muito a ideia do que estão vendo. Não existe um bom trabalho para mostrar o escotismo na sociedade e principalmente junto aos responsáveis pela educação no pais. Continua ele – O publico acredita que somos um movimento fechado, sempre dentro das sedes escoteiras. A UEB tem de mudar a imagem do Escoteiro Biscoito para um escotismo com formação do caráter, um movimento sério com preparação vocacional e compromisso social. Rebater sempre a vergonha de se mostrarem em público, nossa linguagem (o programa) muitas vezes são incompreendidas. Temos que mudar a imagem do Escoteiro “Babaca”, do Escoteiro “Cata-lixo” e diversificar para uma presença ativa na comunidade.

                   Não é só isto, o Doutor Jean Cassaigneau colocou centenas de sugestões. Mostra como “vender nosso peixe” e acabar com a centralização. Menos burocracia, menos política, menos instabilidade. A UEB é um trem com vagões pesados! – Continua ele, a UEB não faz rodar a roda que inventou o Baden Powell. A UEB é como uma ostra – apenas abre-se e fecha-se imediatamente. A UEB cuida da política e não da administração. A Estrutura da UEB é feudal e fechada! – Cada membro da UEB está fazendo do seu jeito. É preciso ser um colegiado e não levar em conta a promoção pessoal. A UEB É UMA FOGUEIRA DE VAIDADES ONDE SE BRIGA POR BESTEIRA! – Palavras dele não minha. Tudo que escreveu é um fato. Vejam estas – O escotismo antes era desafio e conquista, agora é brincadeira. Qualquer grande organização que se preze antes de “vender” um produto novo, realiza uma pesquisa de opinião para saber se o produto irá “vender” bem, ou a melhor forma de fazê-lo. Perguntar não ofende, não faz mal, pelo contrário, valoriza a pessoa e torna a política mais sábia. O programa novo é calmo demais (?).

                   A UEB simplesmente aproveitou uma sugestão dele do uniforme e o citou como pessoa capaz e importante no escotismo mundial. E as demais sugestões? Nada? Afinal ele tinha uma enorme experiência como antigo Secretario Geral Adjunto da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME). O relatório é excelente, peca em alguns itens, mas no todo atinge perfeitamente o objetivo e olhem, foi a UEB quem pediu o estudo e depois o encostou na prateleira do tempo. Fico sempre no que disse Baden Powell, o que importa são os resultados e infelizmente eles não são bons. Agora os dirigentes estão felizes. Muitos irão bater palmas. Deveriam bater palmas para os setenta e sete mil clientes cativos para o novo uniforme. Quem não gostaria de ter uma turma assim? Prestem atenção, dentro de dois anos ou por aí irão acabar com todos que existem hoje. Escotismo para ricos. Como diz um amigo meu, gostaria de ser a confecção que vai receber os pedidos.

                   Bem encerro por aqui. Se necessário volto ao tema. Ainda bem que escrevo historias contos, lendas e eu fujo em minha mente para estes que fazem um escotismo de verdade. Assim como eles que habitam a minha mente, eu sei que muitos jovens que lutam em suas patrulhas pensam como eu. Os mais novos serão facilmente enganados. Eles gostam de coisas novas. Ainda não mediram os gastos. Vamos aguardar quem viver vera!    

“Tem gente que é um gansinho no modo que vai atrás, Dos outros que vão à frente - nem sabe para onde vai... Nas pisadas do pai ganso, vai pisando o filho atrás! Ele nunca fará nada que não tenha feito o pai”.

domingo, 28 de abril de 2013

Conversa ao pé do fogo. A fantástica “Banda” do Maestro Munir.



Conversa ao pé do fogo.
A fantástica “Banda” do Maestro Munir.

               Eu tinha um sonho. Ou melhor, dois, acampar no Pico da Bandeira e participar da Banda do Munir. Com treze anos um caminhão da prefeitura nos levou até Caratinga. Lá pegamos a Maria Fumaça para Caparaó (Águas que rolam nas pedras). Minha alegria não tinha limites. Afinal estive no Pico da Bandeira. Uma linda história para contar em uma outra vez. Agora precisava entrar na Banda. Osso duro. Munir era magro e alto. Usava o chapéu Escoteiro virado, mas muitas vezes preferia uma boina preta tipo Montgomery. Eu nem sabia quem era esse tal Montgomery. Usava o uniforme caqui e uma bota cano longo. Sujeito estranho o Munir. Chamá-lo de Munir era briga na certa. Senhor Maestro Munir! Ele encarava você nos olhos, uns dois minutos, você não sabia onde esconder.

             A Banda treinava todas as quintas feiras entre sete e dez da noite atrás do cemitério do Azarão. Um campinho de futebol, próximo à cidade, mas cujo barulho não incomodava os vizinhos. Só os coitados dos “defuntos”. A Banda não era grande, não era. Tinha se não me engano, ou se me lembro bem, quatro tambores, dois tambores-mor (daqueles enormes quase um metro de altura) cinco tarois, oito caixas claras, quatro bombos, seis cornetas e dois clarins. Clarins! O meu sonho. Um dia iria tocar um. Mas precisava ter curriculum na banda para pelo menos encostar um dedo nele. Munir era severo. Ria pouco. Um olhar dele gelava todo mundo. A Banda dos Escoteiros era famosa. Nas festividades todos ficavam a espera da Banda. Ela além de passar em frente ao palanque das autoridades onde tinha uma cerimônia própria ia de rua em rua como a saudar os habitantes que saiam de suas casas e vinham para saudar a Banda dos Escoteiros.

            Precisavam ver a pose do Munir, com sua varinha, seu chapéu virado, sua bota cano alto a marchar à frente da Banda fazendo gestos, como se estivesse regendo uma grande orquestra. Alí ele era o Rei. Era exigente o Munir. Marchar bem, com honra, respeito, garbo e boa ordem. Bastava um para destoar e ficar fora da banda por meses. Sua palavra era a lei. Ninguém desfazia. Eu ia sempre aos treinos da Banda. Ficava ali abobalhado olhando cada um com seu instrumento. Antes tinha trinta minutos de ordem unida. Munir não gritava. Seus gestos eram graciosos. Sabia com perfeição fazer os sinais manuais de formaturas. Apito? Detestava. Na frente da banda um sinal seu e ela parava de tocar. Outro alguém gritava: Em frente marche! Todos juntos. Se alguém errasse valha-me Deus! Eu olhava tudo, caixas, tarol, tambores, bombos, cornetas, mas meu xodó era o clarim. Jasiel e Marquinhos eram os donos dos dois. Sentiam-se importantes demais para olhar para mim. Eram seniores.  

          Só faltava ao treino da Banda quando ia acampar. Este era sagrado. Uma excursão, bivaque, acampamento sempre estiveram em primeiro lugar. Um dia achei em um pé de Manga, um galho que se cortado iria ficar igual a um clarim. Preparei meu instrumento medieval com carinho. Ficava em casa horas com ele na mão. Levava a boca, fingia que tocava, balizava e sorria. Sonhava em tocar a Alvorada, o Silêncio, o reunir, debandar e tantos outros toques. Decorei todos. A Patrulha me absorvia. Eu amava minha patrulha. Entre ela e a Banda só tinha uma escolha. A patrulha. Um dia tomei coragem. Cheguei em frente do Munir. Conferi meu uniforme. Tinha que estar pronto como se fosse uma inspeção. Munir era exigente. Posição de Sentido, meia saudação – Sempre 
Alerta Senhor Maestro Munir, gostaria de participar da Banda! – Tinha treinado em casa em frente ao espelho como falar com ele. Se errasse ele nem na minha cara ia olhar mais.


          Tomei um susto. Ele olhou para mim. Nem piscou. Cara fechada. Ficou também em posição de sentido. Bateu um calcanhar sobre o outro. Plok! - Quinta! As sete em ponto! Se chegar atrasado não venha nunca mais! – Sai gritando de alegria. Contava para todo mundo. A Patrulha me parabenizou. E agora como você vai fazer? – Fácil disse. Os treinos são as quintas e dificilmente saímos em atividade neste dia. Nos desfiles vão todos. Portanto dá para conciliar. – Não dá não disse o Romildo Monitor. Quinta agora não vamos acampar em Bom Jesus? É feriado lá e aqui. Minha nossa! Eu pensei e agora. – Bom Jesus ficava a vinte e cinco quilômetros de distancia. Sabia que íamos de bicicleta. Não podia perder meu primeiro dia na Banda e nem no acampamento. Tinha uma menina em Bom Jesus que me olhava e ria nunca falamos, mas naquela época namoro era assim. Acho que eu estava apaixonado por ela.

           Dito e feito. Na quinta às quatro da tarde voltei sozinho a minha cidade. Correndo como um louco estrada a fora. Cheguei no campinho as sete em ponto. Suando, cansado, mas com um sorriso no rosto. Posição de sentido e lá estava eu me apresentando ao senhor Maestro Munir. No primeiro dia só treino de ordem unida. Ele me deu um tambor pequeno oito treinos depois. Terminando voltei correndo para Bom Jesus. Só três anos após comecei na corneta e o clarim quando fiz dezessete anos. Meu sonho na Banda aconteceu. Toquei clarim por muito tempo. No exército era com muito orgulho o corneteiro do dia. Nunca faltei a um treino, desfile e nem tampouco nas minhas atividades ao ar livre. Encontrei Munir muitos anos depois em Colatina. Ele bem velho. Eu com meus trinta e cinco anos. Olhou-me com aquela cara feia, ficou em pé, em posição de sentido. Sempre Alerta! Ele disse. Eu fiz o mesmo. Maestro Munir! Que prazer! Já com aquela idade ainda tinha medo do Senhor Maestro Munir. Ele riu. Nunca o tinha visto dar um sorriso. Abraçou-me. – Sabe Osvaldo, eu sempre gostei de você. Nunca o esqueci. 

             Os tempos são outros. As bandas não são como antigamente. Não existem mais os Maestros como o Munir. Sei de muitos grupos escoteiros que venderam ou doaram sua banda. Imposição dos dirigentes? Que pena. Dá para conciliar. Da para treinar sem incomodar. Até hoje olho com saudades os desfiles. Quando vejo uma banda fico “arretado” e “arrepiado”, adoro isto. Na minha juventude a Banda símbolo era a dos Fuzileiros Navais. Tive o prazer de vê-la tocar muitas vezes. Mas os tempos foi passando, as bandas foram ficando para trás. As histórias de uma banda no Grupo escoteiro se foi e quase não é contada mais. Se eu pudesse, se meu corpo ajudasse eu teria um grupo. Um Grupo Escoteiro fantástico. Meninos vibrantes. Acampamentos mil. E mais o que? Claro, uma banda. Ia com certeza achar um Maestro Munir por aí. Que vida louca seria. Mas sonhos são sonhos. Com a minha idade não dá mais para que meus sonhos sejam realidade.

Sempre Alerta corneteiro! Toque por favor, um toque da alvorada! Adoro-o e quantos já ouvi quando o sol vermelho, escondido pelo orvalho da noite, resolvia aparecer em um céu de brigadeiro. Vou cantar para você a mais linda canção da alvorada de todos os tempos! Sei que irá adorar!