Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Do outro lado da montanha.



Do outro lado da montanha.

Ei você! Não pare na subida da montanha. Prossiga. Você está apenas no inicio. Não queres ver o outro lado? Será que lá não tem coisas lindas para ver? Você é livre, livre para decidir sua vida. Corra atrás dos seus sonhos dos seus desejos. Deixe o vento levantar seus cabelos, deixe o aroma das flores perfumarem seu caminho. Do outro lado da montanha quem sabe seu espírito irá se libertar e não ficará preso nas adversidades da vida.

Olhe a frente, veja as estrelas no céu. Não podes contar quantas são. Podes imaginar. Olhe! Pense naquela estrela cadente! Para onde foi? Quem sabe depois da montanha você vai descobrir seu caminho para o sucesso? Vamos, levante, mochilas as costas, solte sua bandeira e deixe a chuva cair na sua face. Ela vai refrescar sua jornada. Voce é livre, caminhe com suas próprias pernas, veja o rumo, trace seu destino e vá... Lá depois da montanha quem sabe vais ver a beleza do universo, vai sentir a brisa a lhe afagar o rosto, irás beber a água límpida da fonte que jorra. Ouvirá o canto do sabiá, e um arco íris colorido irás dizer a você que ali mora a felicidade. Afinal meu amigo ou minha amiga, você é um bravo do escotismo. Tens o Rataplã na mente e BP no coração.

Avante! Do outro lado da montanha iremos ver um novo mundo, basta querer!

Chefe Osvaldo. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Mochila ame-a ou deixe-a.


Jogando conversa fora.
Mochila ame-a ou deixe-a.

       Já tive várias na vida. Tentei guardar a primeira, mas uma enchente me deixou órfão. Quase chorei. Na sede escoteira tinha um báu delas. Presentes do Batalhão Militar da cidade.  Com o tempo fui comprando outras. A pior de todas foi a com armação de metal. Uma jornada de vinte quilômetros acabou comigo. Jurei nunca mais usar. Aprendi desde pequeno que mochila não é armário ou guarda roupa. Aprendi usando. O Akelá disse – Não vou dar lista. Levem o que acharem necessário. - Penei. A mochila não deu. Levei mais um bornal e uma sacola. Fui alvo de gozação. Lobinho pata tenra só aprende assim. Mas aprendi. E como aprendi. Afinal subir montanhas, quilômetros e quilômetros em vales e gargantas, atravessar rios ou andar em lombos de burros foi lição para nunca mais esquecer.

       Você pode dar uma relação de itens para eles levarem. Não vai adiantar. Mamãe, titia ou Vovó sempre tem mais um. Nunca ri de Escoteiros noviços ao chegarem à sede parecendo uma árvore de natal. Mas que dava vontade de rir dava. Ele chegava vermelho. Sonhando com o acampamento. Eu só dizia – Vai precisar mesmo de tudo isto? Ele orgulhoso respondia - Claro Chefe. Afinal não foi o senhor quem disse que quem vai para o mar avie-te em terra? Tá bom. Aprender a fazer fazendo. Um quilômetro e o pobre bufando. Dois quilômetros desmaia na sombra de uma árvore. – Aprendeu? Claro que sim. Sem ajuda. Nunca deixei ajudar. Levou tem de carregar. Faz parte do crescimento.  

        Eu aprendi assim. Cortava isto, cortava aquilo e não fazia falta. Não faz mesmo. Nunca levei saco de dormir, ou melhor, em inglês sleep. Um trambolho. É isto mesmo? Não importa. Carregar um nas costas? Nem pensar. Se quero conforto fico em casa. Sempre tive dois sacos de linhagens. Era só encher com folhas secas ou capim e meu colchão estava pronto. Uma cueca, um par de meias, uma camiseta, um short, minha manta e os dois sacos de linhagens. Clara higiene e um bom livro. Mais? Não precisava. Se sujava eu lavava. Tinha técnica até para passar com dois arcos de madeira. Tive uma mochila que adorava. Simples, verde, gostosa. Nas costas não machucava. Nas laterais colocava meu facão, uma chaleira e um caldeirão. Não precisava de mais. Viajei mundo. Subi serras e picos.

       Mas dei boas risadas com as mochilas dos outros. Eu sempre fui um gozador às escondidas. Nos acampamentos nacionais, regionais e internacionais era que eu dava gargalhadas mil. Meu Deus! Cada tipo de fazer inveja. Eles chegavam posudos. Como se fossem os melhores do mundo. Mochilas enormes. Cheias de barangandãs. – Por que esta rindo? Perguntavam. – Por nada, desculpe. Mas lá no fundo eu sabia que ele era um eterno pata tenra. Você conhece. Você sabe. Só de olhar o Chefe ou o Escoteiro você sabe ate onde ele é um bom mateiro. E a Patrulha então? Só o Monitor formar e lá está. Grande ou pequena Patrulha. Não tem erro. Adorava ver um Chefe tentando me explicar sua mochila machucando na subida da serra. - Aprendeu papudo? Claro que sim. Ele aprendeu. Achou que sabia tudo e não sabia nada. Mas não é assim que se aprende?

        Quando Sênior era bom andar com meus companheiros. Ninguém reclamava. Todos sabiam o que fazer. Mochilas bem postas, somente o necessário. Hora de falar, hora de cantar e hora de prosseguir o caminho das nuvens. Andei por alguns lugares com chefes mateiros. Aprendi muito com eles. Muitas vezes as barracas ficavam. Prá que? Em meia hora sabíamos fazer uma cabana para dois ou três. Chuva? Uma capa plástica simples e mais nada. E ela nunca durava para sempre. Mas voltemos às mochilas. Cada um sabe o que quer. Cada um compra a quem mais lhe chamou a atenção. Mas cuidado. Muito cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Olhe para ela. Se sinta confortável subindo uma montanha por dois dias, sol a pino, nenhuma sombra. Como ela está nas costas? Dói? Então não compre. Veja aquela mais simples, mais leve. Você não vai mudar. Vai acampar ou excursionar e voltar para casa.


        Ainda sinto saudades. Muitas. Em ver todos chegando à sede. Dia do grande acampamento. Pais e mães brigando para ver seus lindos filhinhos colocarem a mochila e dar adeusinho. Os mateiros rindo e pensando na bela atividade pela frente. Os pata tenra vermelhos maldizendo as vovós e as mamães que lhe entupiram de material. Mas não adianta. Só se aprende fazendo. Feliz Baden Powell que nos ensinou e muitas vezes esquecemos. Bom acampamento! 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Um Grupo Escoteiro padrão.

No caminho para o sucesso.
Um Grupo Escoteiro padrão.


                    Acabava de chegar àquela cidade e quando desci do taxi em frente ao hotel, surgiu não sei de onde um Chefe Escoteiro e foi logo pegando minhas malas, sorrindo, e dizendo: Deixe que eu levo. Fiquei assim sem jeito e ele completou: - Ainda não fiz minha boa ação hoje e além do mais sou o Gerente do Hotel. - Santa Cecília! Falar o que? Adentramos ao hotel e na recepção ele me deu as boas vindas e pediu desculpas, pois tinha de ir para a reunião do seu Grupo Escoteiro. Já ia dizer a ele que também era Escoteiro quando ele se dirigiu a outro Senhor, mais velho e grisalho, também impecavelmente de uniforme caqui com chapelão. Saíram sorridentes se cumprimentando e desapareceram na porta do hotel. Intrigado eu perguntei a recepcionista quem eram. Ela sorridente me disse que o Senhor Martinho era gerente do hotel e Chefe de tropa Escoteira. O outro o Senhor Nando, Juiz de Direito na cidade e membro da diretoria do Grupo Escoteiro. Mas eles vão sempre de uniforme para a sede? - Claro! Ela disse. Afinal aqui todos conhecem o escotismo pelo seu valor, pelo seu histórico e claro pelo seu uniforme e a comunidade tem grande respeito por eles.

                  - Santa Marcelina! Eu tinha de conhecer de perto e melhor tudo aquilo. Deixe que me apresente, sou Engenheiro de Máquinas, represento uma empresa que dá manutenção e estava ali na cidade a serviço. Nas horas vagas também era Chefe Escoteiro de uma tropa Sênior (Assistente) e o escotismo era um dos meus amores que junto a minha filha e esposa me completavam. Corri até o meu quarto e logo estava com o meu uniforme. Tinha de me apresentar. Caramba! Estava com o social somente. Não tinha levado o caqui. Desci e perguntei onde pegaria um taxi. – Tem um ali na porta, Senhor, ela respondeu sorrindo para mim, pois descobrira que eu também participava desta grande fraternidade. Entrei no taxi e pedi que me levasse ao Grupo Escoteiro da cidade. – Olhe Senhor, disse o taxista, é ali na esquina – Está vendo? Se quiser o levo, mas é só atravessar a rua. Veja quantos meninos e meninas estão chegando! E sorriu. Desci agradeci e logo estava na porta. Cheguei bem na hora do cerimonial. Viram-me, dois chefes vieram até a mim, apertaram minha mão esquerda efusivamente, me deram as boas vindas e me convidaram para participar na ferradura.

                   Não vou entrar em detalhes, pois a história é longa. Era um grupo modesto, duas alcateias, uma masculina e uma feminina. Duas tropas, uma masculina e outra feminina. Uma tropa Sênior mista. Três patrulhas. Fui até a sede conhecer. Perfeita. Não era própria, era em um Colégio do Estado. – Fui apresentado a Diretoria. Três deles e mais cinco pais presentes sendo que um deles era uma mãe e Diretora do Colégio. Todos de uniforme caqui. Quem me contou o histórico do grupo foi o Presidente. Olhe Chefe começamos com poucos. Nada de correria, nada de querer ser além do que pretendemos. O Chefe Martinho tinha sido Escoteiro quando jovem e assim também o Senhor Nando nosso Juiz de Direito que foi o idealizador do grupo. O Chefe Martinho ficou três meses só com oitos jovens. Eles hoje são os Monitores e subs. Ele fez antes um curso Escoteiro na capital. A fila de espera foi crescendo à medida que os jovens da cidade viram a movimentação dos jovens no grupo, pois eles sempre estão em atividade no campo.

                 Não tinha segredo. Tudo foi feito com alguns no começo e hoje todas as sessões estão completas. Temos uma lista de espera de mais de quarenta jovens. Já conversamos com a Região de fazer outro grupo aqui na cidade, mas ainda não levaram a ideia adiante. Fiquei ali olhando a movimentação da Alcateia e das tropas. Perfeitas. Uma amizade incrível entre os jovens. Patrulhas e Matilhas completas. Chefes fazendo um perfeito sistema de patrulhas. Todos vibrando. A Alcateia parecia estar o tempo todo vivendo a mística da Jângal. – Alguém chegou até a mim. – Sempre Alerta Chefe. A tropa Sênior e guias convidam o Senhor para participar do nosso Conselho de Tropa. - Santo Agostinho! Falar mais o que? Fiquei ali assistindo e participando naquele grupo modelo. Ao final da reunião o Chefe pediu desculpas, pois hoje fariam um Conselho de Chefes do Grupo para discutirem alguns pormenores, ver como estão sendo cumpridas a programação e ouvir o que os chefes têm a dizer do desenvolvimento de suas tropas. Caso eu quisesse, poderia assistir e claro, dar minhas opiniões. Eu também estava convidado para participar de um coquetel dançante na Casa da Akelá à noite. Sempre fazemos assim quinzenalmente em rodízio.

              - Santa Madalena! Fiquei sem palavras. Vi ali um grupo que poucos ainda preocuparam em ser. Faziam questão de tudo para que nada pudesse se perder naquela família Escoteira. Tinham oito anos de atividade. As patrulhas estavam juntas e dificilmente alguém saia e isto facilitava no desenvolvimento da equipe, cujos Monitores tinham um alto grau de conhecimento. No dia seguinte fui até a fábrica olhar as máquinas. Fiquei lá umas cinco horas. Quando terminei a manutenção fui convidado a conversar com os diretores. Cheguei quando estava terminando uma reunião com um jovem de uniforme, impecável, um porte executivo e ele agradecendo pela acolhida. Perguntei ao Diretor o que houve – Há tempos vem pedindo para ser recebido. Uma proposta para sermos sócios do grupo. Uma pequena quantia anual. Sabemos do valor do escotismo. Este jovem que é um profissional Escoteiro do Grupo nos mostrou onde poderíamos ganhar no futuro, com jovens aprendendo ética, honra liderança, respeito e disciplina. Ele tem feito este trabalho no comércio e muitas fábricas aqui da cidade. 


                Santa Bárbara! Era um sonho? Não era não. Era uma realidade. Inveja não é próprio de escoteiros. Mas vi que a perfeição existe. Podemos chamar de perfeito sem sombra de dúvida aquele Grupo Escoteiro Padrão. Que Santa Edwiges me proteja. Utopia? Uma fantasia? Ou será que visitei a cidade dos sonhos, ou melhor, Xangri-lá? Bem, acreditem se quiser. Mas este grupo escoteiro existe. Quem sabe é o seu? - Santo Antônio! São Judas Tadeu! 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Qual o valor de um Acampamento de Escoteiros?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Qual o valor de um Acampamento de Escoteiros?

                Desculpem. Não estou falando de quanto custa fazer um acampamento Escoteiro. Aqui a ideia seria analisar o valor de um bom acampamento Escoteiro para a formação do jovem. Lembro que no passado isto era uma preocupação enorme. Fazer bons acampamentos para que trouxessem frutos no futuro. Já Dizia Baden Powell que – “O acampamento é de longe a melhor escola para dar às crianças as qualidades de caráter." Nada substitui no movimento Escoteiro bons acampamentos. Eu achava interessante sempre quando colaborava em cursos no passado, tirar um pequeno tempo da programação para fazer debates do tema. Achava eu naquela época que nunca poderíamos atingir nossos objetivos sem saber como fazer bons acampamentos. Os resultados de tais debates eram maravilhosos. Eu ficava maravilhado com os alunos-chefes com todas as sugestões que apresentavam.

                O acampamento para o jovem não tem valor nominal. Seu valor é incalculável.  Ele vale pela formação do jovem para a vida, para a afirmação do seu caráter, para imbuir em sua mente o trabalho em equipe. É impossível deixar de citar nosso fundador sobre o tema - "Os homens se tornam cavalheiros pelo contato com a natureza." - "Os escoteiros aprendem a se fortalecer ao ar livre. Como exploradores, realizam os seus próprios fardos e 'Remam sua própria canoa.". Nada de maneira alguma pode substituir o bom e velho acampamento Escoteiro. Principalmente nos moldes de Giwell. Acho que existem muitas tropa fazendo ainda tais acampamentos. Uma vez há muitos anos atrás, sem toda esta modernidade de hoje, começaram a surgir os Acampamentos de Férias. Na minha cidade a ideia de um surgiu por um executivo – Curumim Catu campo de férias. Fizemos lá um belo acampamento regional. Vários outros estados compareceram. Época do Bambu. Época de cada tropa ter sua intendência, época de cada Patrulha ter o seu campo. Época onde os desafios seniores eram mesmo desafios. Ninguém ia para estes acampamentos sem pelo menos ter boa parte de sua patrulha presente.

               Eles hoje se sofisticaram. A modernidade chegou! Ah! Esta modernidade infernal. Ali o companheirismo de uma Patrulha é feita na hora. Ninguém conhece ninguém a não ser quando ali estão. O jovem é massacrado por uma serie de atividades, “preparadas” por adultos e ele entra com sua vontade de jogar e brincar. Não existe a criatividade. Ele é simplesmente um robô que está ali para fazer o que os outros decidiram por ele. Alguma diferença das Atividades Nacionais que surgem aos montes por aí? Claro, eles adoram me dizem. Adoram sim. Não são mais criativos, não sabem mais opinar, seguem a corrente e esta lhe mostra a vida de alguém que não tem vontade própria. Ele simplesmente arma sua barraca, espera ver a programação, escolher aonde vai “brincar” ou “jogar” e seguir a onda até ela acabar. Refeições? Uma fila indica onde comer. Vai sentir saudades? Vai sim. Eu conheci um Chefe que um dia me disse que se você desse para um jovem uma vara de pescar lambaris e dissesse a ele para pescar um dourado ele iria acreditar.

              Vejo por aí falarem de programas nestas atividades que fico pensando. Será que vai ter frutos? São tantas coisas que um Chefe desconhecido programou, pois ele acredita que isto fará os jovens adorarem que fico pensando onde está o valor disto tudo? Outro dia alguém me disse – Chefe estou inscrita em uma atividade regional e lá vai ter uma festa “Rave”. (Rave é um tipo de festa que acontece em sítios (longe dos centros urbanos) ou galpões, com música eletrônica. É um evento de longa duração, normalmente acima de 12 horas, onde DJs e artistas plásticos, visuais e performáticos apresentam seus trabalhos, interagindo, dessa forma, com o público). Claro, acho que não será tanto assim e afinal será frequentado por escoteiros. Mas isto é um acampamento ou uma atividade escoteira?

              Meus amigos, o bom e velho acampamento nunca será substituído por estes tipos de atividades. Ali são atividades mateiras, grandes jogos e já pensou em estar em um? Onde você junto a sua Patrulha finca a bandeirola e dizem – Aqui vai ser nosso campo! Onde era mato e se transforma em sua casa! Barracas, sua nova morada, um fogão suspenso coberto, mesas, bancos e quem sabe boas cadeiras mateiras, fossas, quem sabe um lindo pórtico e as atividades? Tomar um banho no regato, aguardar o toque do intendente e correr para receber os víveres do jantar, ficar ali a olhar o cozinheiro, com a barriga doendo de fome, a ver a fumaça subindo e quando chegar a hora, uma boa oração e comer um almoço ou jantar que nunca irão esquecer? São tantas coisas que tornam um acampamento de Giwell único. – Grandes jogos pelos campos com sua Patrulha e pode até ter a noite um belo jogo de Guerra, ou uma bela competição de sinalização a de Morse. Já pensou? Ali na montanha só você e sua Patrulha com lanternas, transmitindo Morse ou outro tipo de sinal? E no último dia um belo de um Fogo de Conselho? Lá em uma clareira da mata, olhos miúdos sonhadores a rir e brincar com seus amigos?

              O valor de um Acampamento Escoteiro está aí. Nada substitui isto. Quando a gente chega à idade adulta, aprendeu tantas coisas que tem aqueles que me perguntam: Vais morar no mato? Vai se perder na floresta? Eles não entendem nada. Não sabem que o objetivo foi fazer com que eu pudesse tomar minha decisões sem erros, escolhesse a vida que fosse levar sem reclamar, aprendesse a ser honesto, a ver a lei Escoteira com clareza, a respeitar o próximo, a saber, dar valor as pequenas coisas, a ter certeza da beleza criada por Deus na natureza. E afinal o que dizer do Caráter? Da Honra? Da ética? Do respeito? Isto tem preço?

              Não seria bom que em todos os programas de tropa tivessem pelo menos três acampamentos por ano? Pelo menos quatro excursões? Pelo menos uma atividade aventureira a pé ou de bicicleta? Caro isto? Não. Não é. Um bom Chefe Escoteiro irá fazer tudo sem gastar muito. Se tiver uma boa diretoria, se a tropa tiver uma boa comissão de pais, os acampamentos terão taxas irrisórias. Mas enfim sempre tem aqueles que são mais ricos e podem pagar taxas enormes e ir para estes acampamentos caça-níqueis que muitos estados estão fazendo cujo objetivo é arrecadar fundos, divertir sem o aprender a fazer fazendo.

             E lembrem-se, o acampamento Escoteiro é outra vida. Diferente. Esquecer a rotina da cidade. Deixar para trás a internet, o celular, tudo que pode lembrar-se de algum que não vai interferir com a vida mateira que está por vir.


             BOM CAMPO E BOAS ATIVIDADES É MEU DESEJO!      

domingo, 23 de junho de 2013

A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.



Conversa ao pé do fogo.
A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.
(baseado em fatos reais)

          - Foi confirmado. Virão quatro tropas escoteiras do Distrito. Cada uma com quatro patrulhas. Virão também varias patrulhas seniores. Os lobinhos ficarão no campinho do Seu Altino. O galpão vazio foi cedido sem ônus. Nosso problema são as patrulhas. Acredito que com os seniores seremos mais de trinta patrulhas. Precisamos de um bom local para receber todos. Serão cinco dias. Pensei em vários. Defini quatro locais. Conto com vocês de visitá-los e ver se podem receber tanta gente. Conversem com o proprietário. Eles sempre ajudam. O Chefe Jessé não disse mais nada. Entendemos. Afinal seriamos anfitriões e tínhamos que caprichar. Tiramos a sorte e lá fomos nós para a Serra do Marimbondo. Um ótimo local. Acampei lá muitas vezes. Mata, bambus, nascente, riacho com quedas d’água, e um descampado arborizado. Perfeito.

             Após o almoço colocamos o pé na estrada. De bicicleta. Apenas oito quilômetros. O plano era ver e fazer um pequeno esboço de Gilwell do local. No domingo poderíamos retornar antes do meio dia e almoçar em casa. Na Fazenda do Seu Inácio ele como sempre um grande amigo dos escoteiros. Querem almoçar? – Agradecemos. Saímos almoçados. Ele ofereceu um franguinho para nós fazermos no almoço. Agradecemos. Cada um levou um pouco de macarrão, uma batata, sal, e duas linguiças. À noite a sopa seria um maná dos Deuses. A fama do Fumanchu nosso cozinheiro era conhecida por muitos. Interessante, no passado todas as patrulhas tinham seus cargos e sabíamos os que se sobressaiam nele. Era ponto de honra. Ser cozinheiro era uma honra. Conheci muitos que se orgulhavam. Chegamos barraca pronta, lusco fusco da noite e Fumanchu fazia a sopa deliciosa de macarrão. Fomos tomar um banho e no retorno levamos lenha para uma fogueira a noite.

              Fumanchu estava cabreiro. Olhava-nos de modo estranho. – Não sei se vão comer – disse. – Por quê? Romildo o Monitor inqueriu. – Fiz uma besteira. Vi um pé de pimenta malagueta coloquei uma, experimentei nada, coloquei outra e outra. Tá duro comer. Arde feito o “capeta”. – Capeta não arde Fumanchu, eu disse. Olhei a sopa. Uma fumacinha saia de dentro do caldeirão. Experimentei. Ardeu e como ardeu! – coloca água quem sabe vai dar – disse Rael. Colocou. Nada. Coloca uma colher de açúcar! Disse Zezito. Nada. Uma fome do inferno. Nunca tive tanta fome. Com a concha coloquei um pouco no meu prato. Tentei comer. Virou uma meleca. Agua, açúcar e nada adiantou. Sem nada para comer. Só um pacote de bolacha do Tiãozinho. Dormimos com a barriga reclamando. Cedo todos acordaram. Um café foi feito sem nada. Alguém deu a ideia de ir buscar o frango do Seu Inácio. Ofereci para pegar uns peixes. Era bom nisto. Rael sumiu na curva da estrada em busca do frango salvador. Eu cortei um bambu fino, pois o bambuzinho chinês para pesca não tinha ali.

               Não demorou Rael chegou com o frango. Fumanchu já tinha esquentado água para o frango amolecer e tirar as penas. Preparou umas brasas e transpassado por um pedaço de madeira verde, o frango rodava em cima para ficar no ponto. No remanso da curva do riacho sentei. Joguei a vara. Não demorou nada. Um puxão. Era um belo piau. Segurei com força. A linha era fina. Não podia perder. A vara quebrou no meio e o piau saiu com ela riacho acima. Mergulhe atrás. Um lindo jacaré correu em cima da vara. Engoliu o peixe quando pulou e levou meu anzol. Voltei triste para o campo. Mais tristes fiquei. Fumanchu cochilou, o vira latas do Seu Inácio sumiu com o franguinho. Putz! Meio dia sem comer nada. Desmontamos a barraca. Na fazenda do Seu Inácio ele viu que nós estávamos querendo alguma coisa. Contamos. Ele riu a vontade. Chamou Dona Cidinha sua esposa. Ela riu – Serve um feijão com farinha? Tenho ovos e carne de porco da lata. Tem também torresmo. Precisavam ver o sorriso de todos. Fumanchu mais ainda.


                 Chegamos em casa às seis da tarde. Sem planta, sem esboço de Gilwell. O Chefe escolheu o Vale das Flores. O acampamento distrital foi um sucesso. Seu Inácio ficou triste. – Gente! Se fosse lá nas minhas terras eu tinha separado um boizinho para vocês! – Época boa. Tudo se conseguia com facilidade. Dois dias sem comer. Valeu. Dizem que é com fome que se aprende. Quem disse isto é um idiota. Fome? Naquele domingo quase segurei o Jacaré pelo rabo. Um ensopado de jacaré? Só quem viu sabe como é o jacaré. E chega de lembranças.