Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 10 de novembro de 2012

O despertar do Chefe Teobaldo, um audacioso Diretor Técnico Escoteiro.



Crônicas Escoteiras
O despertar do Chefe Teobaldo, um audacioso Diretor Técnico Escoteiro.

                    Eles foram chegando e se assentando. Um a um. A sala da sede era pequena, mas ele sabia que eram tão poucos e que teria lugar parar todos. No semblante aquela empáfia de quem não estavam gostando. Chefe Teobaldo sabia disto. Afinal eram anos de convivência. Já chegaram a ter maior número de adultos, mas hoje não passavam de seis. – Chefe, precisamos fazer uma reunião do Conselho de Chefes. – Para Que Chefe Teobaldo? Para que? Nunca precisamos disto! No passado ele fazia e depois desistiu. Ele tinha os quatro “chefes de ouro” como ele dizia. Não importava se chovia canivete e lá estavam eles. Claro, hoje pareciam sempre estar com pressa. A maioria deixava o uniforme na sede. O vestia lá. Outros traziam no carro. Chegavam em cima da hora e quando terminava a reunião diziam Sempre Alerta e sumiam!

                     Chefe Teobaldo já não era mais aquele homem que tinha prazer em ir para a sede nos dias de reunião. Ele sabia que de alguns anos para cá, nem tudo eram flores. O sucesso do passado estava desaparecendo. Com tristeza via os lobinhos diminuindo. Antes chegaram a ter duas alcateias. Uma masculina e uma feminina. Hoje era uma só. Menos de quinze lobos. Mas nem onze estavam presentes nos ultimos meses. E na tropa Escoteira? Que desastre. De duas tropas uma masculina e uma feminina agora era um só e mista. Quando iniciava as reuniões e formavam as sessões ali estavam três patrulhas com menos de três ou quatro gatos pingados em cada patrulha. Como fazer reunião assim? Seniores? Menos de seis. Se não fossem os namoricos acho que não teriam nem isto. E os chefes? Entravam três ou quatro por ano e em pouco tempo davam uma desculpa e iam embora. Por quê? Qual o motivo? Ele sabia que eram conhecidos. O nome do grupo estava gravado em muitos estados brasileiros. Afinal eles tinham quatro jovens de famílias abastadas e que compareciam em todas as atividades nacionais e até internacionais. Distribuíam o lenço do grupo, distintivos, uma festa. Um pai de um deles inclusive dava uma boa soma mensal ao grupo. Mas era certo isto? E os demais escoteiros? Eles não podiam participar. Como pagar? Logo desistiam em pouco tempo saiam do Grupo.

                   Chefe Teobaldo sentou. Olhou para todos. Exceto dois novos chefes a maioria estava pedindo a Deus para terminar logo. O que houve com eles? Pensava. Porque esta debandada? Será que é culpa minha? Porque não havia mais procura como antigamente? Porque os adultos que vinham oferecer ajuda em pouco tempo se afastavam? Chefe Teobaldo sabia por quê. Não ligava, pois tinha os “chefes de ouro”. Mas estava certo? Eles nunca se encontravam. Até nas festividades de fim de ano era um sacrifício. Ele sabia. Precisavam mudar. Urgente! Deveriam voltar às reuniões de Patrulha. Os Conselhos de Tropa, Os Conselhos de Chefes. E a Corte de Honra? Onde foi parar? Meu Deus! Pensou. Estava tudo errado. Vamos fazer trinta e cinco anos e a cada ano mais e mais diminuímos.

                    Ele sabia que precisam de um “choque de gestão”. Não era assim que faziam as empresas que estava fracassando?  Ele hoje iria falar. Falar da amizade. Do amor. Da bondade. Iria falar que precisamos nos cumprimentar mais. Precisávamos entender o ponto de vista do outro. Precisávamos respeitar ideias, respeitar direitos e saber até onde ia nosso dever. Precisávamos sim de uma boa dose de democracia. E o mais importante. Fazer programas e saber cumpri-los. Ele já tinha tomado sua decisão. Reunião de Chefes uma vez por quinzena até acharem onde estava o erro e o consertar. Ele pessoalmente iria conversar com cada um dos que se foram e procurar entender o motivo dos seus afastamentos. A idade pesava e Chefe Teobaldo agora tinha maturidade e tinha encontrado mesmo que tardiamente a voz da razão. Iria exigir mais. Iria cobrar de cada um os programas. Não aqueles feitos as pressas, mas com o auxilio das patrulhas, dos assistentes. Iria exigir que eles se reunissem pelo menos uma vez por mês. Não iria deixar que isto fosse feito virtualmente. O grupo era uma família e devia se portar como tal. Deveriam entender o que era calor humano.

                     Chefe Teobaldo olhou nos olhos de cada um. Eram seis. Não seria assim mais. Ele queria vinte. Vinte? Sim, ele queria vinte chefes. Um Grupo onde todos se respeitassem. Ele queria uma Alcatéia completa. Uma tropa completa. No mínimo dezoito seniores e guias e jurou a sí próprio que iria conseguir. Agora eles iriam fazer escotismo. Nada de namoricos. E quando recebesse convites para atividades nacionais ou regionais ou iriam todos ou não iria ninguém! Iria dizer aos diretores do distrito e região que só participariam de uma por ano. Eles que decidissem qual. Ele agora queria ver acantonamentos, acampamentos, excursões, atividades aventureiras. Iria exigir isto no programa. Que se dane os que não concordassem. Ele sabia que os “chefes de ouro” iriam ficar espantados. Achou até que alguns se demitiriam. Mas sua decisão estava tomada. Agora ele sabia que o Grupo Escoteiro se transformaria em uma grande família Escoteira, onde o respeito, a ordem, o aperto de mão sincero e principalmente a Lei e Promessa Escoteira seriam ponto de honra para todos.

                     Senhores! – Começou Chefe Teobaldo. Nossa reunião hoje terá duração de duas horas. Nem mais nem menos. Teremos a partir de agora duas reuniões por mês até entrarmos na curva da estrada que nos levará ao caminho para o sucesso. Espero contar com todos. Mas aqueles que acham que não irão mais participar, podem sair. Eu ficarei triste e de antemão agradeço pela linda e bela colaboração que deram até agora. Vou contar com aqueles que amam o grupo e querem fazer dele uma verdadeira “Família Escoteira”. E a reunião começou. Chefe Teobaldo era outro homem. Outro Chefe. Fiquei orgulhoso quando ouvi esta história. Hoje aqui vendo tantos desistindo acho que precisamos de mais Chefe Teobaldo na liderança de grupos escoteiros. Quem sabe assim iremos perder menos chefes e escoteiros? Quem sabe irão aparecer mais Chefe Teobaldo por ai?

Oi! Você! Isto, você mesmo! Você! Tem algum Chefe Teobaldo no seu Grupo?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.

               Dizem que passado é passado. Ficou para a história. É página virada no livro da vida. Uma utopia que como o vento vem e vai. Pode ser em Xangri-lá, se não é um sonho. Quem sabe. Cada um tem uma maneira de pensar. Tem aqueles que analisam tudo friamente, outros intelectualmente e eu com o coração. Não sei escrever sem por um pouco de fantasias e ilusões em minhas palavras. Ouve uma época, não sei se foi antes ou depois de Cristo. Risos. Desculpem. Mas houve uma época em que se esperava tudo de um Escotista portador da Insígnia de Madeira. Qualidades técnicas, conhecimentos, experiência, e o melhor, o exemplo. Você não ia ver um Escotista com Insígnia se portando de maneira inadequada. Nunca. Ele sempre tinha um porte altivo sem ser antipático e que alguns que não o conheciam se sentiam constrangidos. Eu o via como destemido, ou melhor, um catedrático em escotismo. Afinal ele já era um docente no escotismo. Tinha que se portar como tal. Esquecer o abraço? O sorriso? O primeiro Sempre Alerta firme para mostrar que estava mais alerta que os demais? Sim, eram assim os Insígnias que eu conhecia no passado. Sei que haviam outros, mas não é destes que gostaria de falar. Eles não foram exemplos de que nós escoteiros somos irmãos e amigos dos demais.

              Davam gosto ver seu porte, seu olhar, alguns se sentindo escotistas de Giwell, outros se sentindo mais próximo da perfeição que nunca terminava, pois sabiam que um dia uma volta a Giwell ia acontecer. “Volta a Giwell terra boa, um curso assim que eu possa eu vou tomar”. Ele ou ela sabiam que seus conhecimentos precisavam de mais. De mais e mais. Eles ou elas sabiam que suas sessões agora seriam exemplo, mais olhadas, mais vistas e mais cobradas. Eles sabiam que seus uniformes deviam ser impecáveis. Nada de invenções. Quando você via um ou uma, com seu porte altivo, seu lenço bem dobrado, seu anel bem colocado, colarinho abotoado, uniforme bem passado, seu cinto brilhando, o orgulho do sapato engraxado você sorria. Ali está mesmo um membro de Giwell.

              Quando você convidava um para lhe ajudar em um curso qualquer, ele olhava na agenda. Diferente de hoje. Olhe Chefe preciso ver. Posso dar uma resposta outro dia? Temos acampamento, ou temos excursão ou prometi aos jovens participar com eles para assistir um filme no shopping. Era assim. Não saiam correndo e aceitando e dizendo aos quatros ventos – Agora sou da equipe! Nada disto. E quando você visitava suas sessões? Dava gosto de ver. A gente sabia que seu caderno não foi enfeite. A gente sabia que os livros de Baden Powell não foram encadernados e colocados no fundo do armário. Claro, eram outros tempos. Sei e me desculpem os amigos insígnias de hoje. Conheço centenas do presente que nada ficam a dever daqueles do passado. Eles quando se apresentam sabem que muitos sentem orgulho de suas sessões escoteiras. A eles, os de hoje meus parabéns.

              Entretanto tem alguns que não “pegaram” (termo de BP) o sentido da coisa. O que são. Suas responsabilidades. Ou quem sabe agora com o modernismo que dizem por aí, amarrar o lenço de Giwell no pescoço e sair por aí de chinelo, ou sandália. Será que eles também acreditam que é moda até para um Insígnia? Lembro quando se recebia o certificado e lenço a gente tinha um arrepio na espinha, a gente tremia, e pensava, agora será tudo diferente. Tenho que ser mais do que era. Em questão de minutos e segundos a gente se transformava.

             Hoje fico triste em saber que temos muitos irmãos Insígnias de Madeira que se foram. Não estão mais na ativa. Cada um com seus motivos. Com a falta que temos de mão de obra Escoteira qualificada é triste ver este abandono. Eu sei que nossos dirigentes não pensam como eu, mas pensaram se tivéssemos em cada direção regional ou nacional, uma pequena equipe de arregimentação? Ir atrás deles. Quanta experiência jogada fora. Porque Chefe? Volte conosco. Precisamos de você! Ajude-nos a mudar! Ajude-nos trazendo sua experiência. Mas para isto acontecer precisaríamos ser mais flexíveis, mais humildes, aprender de novo a ouvir. Saber como entender posições antagônicas. Isto seria possível?

                        Fico pensando e buscando no fundo de minhas memórias. Quantos de nós ainda vivos somos? Quantos Insígnias temos em nosso país? Quantas são entregues por ano? É sonho pensar que se pelo menos boa parte dos membros adultos atuantes em sessões poderiam ser mais um de nós como seria maravilhoso? Basta querer? E meus amigos já pensaram se todos um dia pudessem se reunir em uma maravilhosa reunião de Giwell, centenas ou milhares deles, de todas as partes do Brasil, não importando suas ideias, suas ideologias, e abraçados, com as mãos entrelaçadas, cantando com orgulho nossas canções de Giwell? Fico pensando, se estivéssemos em uma clareira qualquer, em volta de uma fogueira, sentindo o calor do fogo e da fraternidade presente, as brasas aos poucos adormecendo, as fagulhas lânguidas e serenas subindo aos céus, todos nós fecharemos os olhos e iremos lembrar que o escotismo foi e sempre será nossa vida, nosso amor. Ele sempre estará presente na nossa mente, na nossa alma e em nosso coração. Ah BP! De você trago o espírito, sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!

                     Lembranças. Eternas lembranças. Elas nunca se apagam. E nos meus sonhos, nos meus devaneios, lá naquela clareira enluarada alguém começar a cantar, e logo todos os milhares de Insígnias juntos de mãos entrelaçadas, cantando sobre o manto azul do céu, sobre o brilho das estrelas iluminando ali os corações de todos nós, pois sabemos que além de sermos todos irmãos temos uma enorme responsabilidade a cumprir!

“Em meus sonhos volto sempre a Gilwell
Onde alegre e feliz eu acampei
Vejo os fins de semana com meus velhos amigos
E o campo em que eu treinei” 

 “É mais verde a grama lá em Gilwell
Onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P
Que sempre viverá ali”


Canção de Gilwell
Letra e Música: Ralph Reader

Lendas escoteiras. A sombria sepultura do Delegado Paredes.



Lendas escoteiras.
A sombria sepultura do Delegado Paredes.

                         Dizem que em cada cidade do planeta existe uma lenda sobre locais assombrados. Podem ser casas, castelos sombrios ou mesmo cemitérios fantasmagóricos. Dizem ainda que eles são marcados por presença sinistras que os protegem da visita indevidas. Bem, nossa história é bem parecida. Claudinha era guia, já entrara com treze anos para a tropa escoteira. Morava com seu pai, viúvo, que praticamente não parava em casa. Sua Avó Rosalva era quem cuidava dela, mas agora estava com mais de noventa anos e tinha grande dificuldade de se movimentar. Desde pequena Claudinha era diferente das outras meninas. Seu pai tentou tudo e por último a levou a um analista que ficou em duvida do que ela falou em seu consultório. Claudinha dizia que via e falava com os mortos. Ninguém entendia e riam dela. Ficou então calada e não falou com mais ninguém sobre isto. O Doutor Marcondes se assustou. Quando conversava com ela, ela disse que ao seu lado estava sua mãe. Dona Esmeralda pedia que ele olhasse mais a Dircinha, pois ela era sua irmã. Ela não merecia o que estava acontecendo. Incrível! Como ela poderia saber?

                     Nos acampamentos Claudinha tinha medo da noite. Não ousava sair da cozinha e mesmo em jogos noturnos chorava para não participar. Milena a monitora era sua melhor amiga. Sabia o que se passava com ela. Milena e sua família eram espiritualistas, ela sabia que Claudinha tinha mediunidade. Mas o pai dela não aceitava de jeito nenhum. Claudinha gostava de estar nas guias, mas viu que a cada dia ficava muito difícil. Aonde ela ia lá estavam eles, os mortos do além. Alguns até simpáticos, mas outros horrendos. Os suicidas se apresentavam como estavam na hora da morte. Gritando e gemendo de dor. Outros esqueléticos e até crianças chorando. Para muitos um desespero e para Claudinha então? A Chefe Maninha começou a se interessar por ela. Procurou seu pai e quase toda semana ia lá trocar ideias com ele. Chefe Maninha era espiritualista, não uma estudiosa, mas tentava conhecer o mundo alem da vida. Diferente do Chefe Raimundo. Um homem puro, sincero, amigo e evangélico. Todos gostavam dele e o admiravam. Mas ele pensava diferente. É o demônio, dizia!

                    Ultimamente Claudinha acordava a noite, uma ou duas da manhã, e lá estava ele. Um homem grande, moreno, um enorme bigode, cabelos negros ondulados, um colete preto com botões dourados. Um paletó enorme, preto e Claudinha não via mais nada. Ele chegava e pedia para Claudinha ficar calma, ele não ia fazer-lhe mal. – Meu nome nobre Escoteira é Delegado Paredes. Preciso de você para me ajudar, ele dizia. Preciso subir aos céus. Não consigo. Tem dois anos que estou morto. Minha mãe, meu pai todos tentam me levar, mas eu não posso ir. Preciso que me ajude. – Era assim todas as noites. No início ela escondia a cabeça no travesseiro ou saia correndo para o quarto do seu pai. Depois foi se acostumando até que um dia para se ficar livre dele, perguntou: – O que eu posso fazer? Sou apenas uma menina! – Ele respondeu que só ela podia ajudar, ele sabia que ela tinha uma Patrulha. Se fossem juntas ao Cemitério do Agulhão Negro no Bairro Do Sono Profundo e tinha de ser à noite, poderiam entrar em seu Mausoléu e pegar a Medalha de Prata da Legião de Honra. Ela precisava pegar e entregar ao seu filho.

                 Contou seu sonho para Milena. Fizeram uma reunião de Patrulha. Todas estavam eufóricas com a história. Eu topo, eu também. Só Laurinha ficou receosa, mas fazer o que? Tinha de ir, afinal não diziam que era a Patrulha mais unida do Grupo? Bem agora era com Claudinha. Precisava saber como entrar no mausoléu e onde estava seu filho. O delegado Paredes explicou que na porta do mausoléu tinha uma pequena caixinha de flores. No meio da terra encontrariam uma chave embrulhada em papel alumínio. Nadir sua empregada prometeu manter sempre limpo sua morada e deixava a chave lá. Ela tinha de ir à noite, entre meia noite e uma hora. O Jacinto Boa morte o coveiro estaria dormindo e não ia incomodar. Ele ia se incumbir dos mortos que povoavam o cemitério. Eram milhares – Sexta, dia treze de agosto, lá foram elas. Meia noite. Achavam que estavam entrando nos Sete Portais do inferno. Um silêncio sepulcral. Devagar, sem fazer barulho lá vão elas. De mãos dadas, abraçadas, todas se “borrando” de medo, mas como eram escoteiras não desistiam. Chegaram ao Mausoléu. Enorme, negro, uma estatua de um anjo que parecia o demônio rindo para elas em cima dele. Uma bruma seca e com um cheiro horrível começou a se formar. Claudinha retirou a chave, entraram. Uma escuridão tremenda. Risos chorosos, tremedeiras. Algumas querendo correr.

                 Puxam o caixão do Delegado Paredes. Ninguém quis abrir. Milena tomou a frente de olhos fechados abriu. Lá dentro o Delegado agora nada mais que uma caveira de ossos horrenda. Nos dedos uma medalha. Ela pegou. Entregou a Claudinha. Um clarão enorme dentro da sepultura, o delegado apareceu. Obrigado jovens guias. Tenho orgulho de vocês! Meu filho mora na Rua Ipojucan, número cem, ele se chama Paulo Paredes. Diga a ele que enterre esta medalha junto ao Doutor Praxedes, esta medalha é dele. Deram-me a mim, não a mereço. As honras não são minhas e sim dele. Alem de salvar minha vida se arriscou por aquele "Velho" Chefe Escoteiro que estava marcado para morrer no Vale da Redenção. Ninguém falava nada. Todas tremendo. Agora conseguiam ver o Delegado Paredes brilhando no escuro. Ele estava sorrindo, não era a figura fantasmagórica de antes. Saíram dali correndo. Cada uma correu para sua casa. Dormiram com a própria roupa e com o cobertor tampando a cabeça. Algumas tiveram de trocar a roupa. Estavam molhadas (risos).

               Claudinha e Milena foram à Rua Ipojucan. Uma bonita casa. Meninos brincando no jardim. Pediram para falar com o Senhor Paulo. Ele apareceu à porta e se assustou com duas meninas de uniforme escoteiro. Explicaram. Seus olhos se encheram de lágrimas. Prometeu fazer o que o pai lhe pediu. Sábado, reunião no Grupo Escoteiro. Cerimonial de Bandeira. Todos na ferradura. A bandeira subia farfalhando ao vento. A Patrulha de Claudinha ficou petrificada. Não acreditavam no que viam. Encostado ao mastro o Delegado Paredes, um sorriso nos lábios, dava adeus a todas e dizia muito obrigado. Uma luz azulada apareceu, uma linda mulher de branco lhe deu as mãos. Ele chorava, um homenzarrão como aquele e chorando! Ele desapareceu na luz brilhante e nas nuvens brancas do céu.

               Ah! Dizem que histórias são histórias. Mas esta eu não sei. Juraram-me que aconteceu. Falar o que? Verdade ou não que o Delegado Paredes seja muito feliz no outro lado da vida. Um dia será sua vez. Não adianta se esconder. Risos. E Claudinha? Bem, esta é outra história. Quem sabe volto aqui para contar mais uma das suas lindas (?) aventuras com os mortos do além?   

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Chefe Falcão Maltês. Um perfeito cavalheiro.



Conversa ao pé do fogo.
Chefe Falcão Maltês. Um perfeito cavalheiro.

             Não sei quem colocou o apelido. Nunca perguntei. Seu nome correto? Nem pensar. Ele não dizia a ninguém. Eu só sei que foi um grande amigo enquanto estivemos juntos. Disse-me um dia que fora Chefe do Grupo Escoteiro Estrela Cadente. Nunca tinha ouvido falar. Mas não é disto que quero falar sobre ele. Chefe Falcão Maltês era um cavalheiro. Como se diz hoje uma figura que merece um lugar entre os homens de honra deste país. Nunca deixou alguém mais velho que ele em pé no ônibus. Ninguém sentava sem antes ele arrumar a cadeira e olhem, as chefes adoravam. Pagar despesas? Nem pensar. Se ele não pudesse pagar não iria. Dizia sempre que os homens devem ser boníssimos com as mulheres, pois são elas que carregam o fardo mais pesado.

             O que eu admirava muito no Chefe Falcão Maltês era seu modo de falar e dar exemplos aos e escoteiros. Lembro que uma vez estávamos em marcha de estrada indo acampar no Vale da Tartaruga, e caiu um pequeno papel de bala na trilha onde percorríamos. Ele parou toda a tropa. Chamou a todos. Disse – Sabem que somos invasores? A escoteirada não entendeu nada. – Porque Chefe? Disse um deles. Porque a relva, as árvores, os pássaros, o rio e as montanhas estavam aqui antes de nós. Portanto eles são os donos. Vocês são intrusos. Vocês gostariam que alguém entrasse em suas casas, sem pedir e jogassem papeis de bala na sala? Ninguém disse nada. Um Escoteiro foi até lá e pegou o papel e guardou na mochila. E nos acampamentos? Sua inspeção era rigorosa. Não perdoava nada. Nem fossa mal tampada. – Escoteiros! – dizia ele, porque deixar que a abelha os beija flores, os pássaros do céu sintam o mau cheiro? Não é certo, não é mesmo?

           Um dia estávamos sentados na porta da barraca, um pequeno fogo crepitava e ele começou a cantar uma linda melodia. Todos acorreram para perto dele. Ele parou e os escoteiros ficaram intrigados. – Vou continuar, aguardem. Só quero aproveitar a oportunidade para dizer a vocês, que as músicas, canções tudo que existe é belo. Sabendo cantar e sabendo ouvir. Se um dia vocês ouvirem uma musica clássica, ou mesmo uma ópera em um lugar qualquer sei que não irão gostar. Mas se assistirem a um conserto de uma Orquestra sinfônica ao vivo, ou mesmo a uma ópera em um teatro tenho certeza que irão adorar. A Musica para se gostar tem de ter sentimento. Existem músicas e músicas para cada momento da vida. As clássicas relaxam e fazem sonhar, musicas de trilhas sonoras são lindas. As românticas para quando se tem um grande amor. Temos, continuou ele – Que aprender tudo que possamos absorver. As músicas de hoje cantadas ou não desde que não tenham segundas intenções em suas letras, são válidas. Mas existem outras e um Escoteiro deve estar preparado para descobrir, ouvir e sonhar com todas elas. Não é o barulho estridente da música que nos toca o coração. Ouvir boa música faz parte de nós escoteiros que vivemos nas montanhas acampando e ouvindo o cantar do vento.

          Era assim o Chefe Falcão Maltês. Dizia sempre que podia que o Escoteiro é um cavalheiro, um fidalgo. – Lembram-se do que diziam da mulher de César? Assim somos nós, ele dizia. Não basta mostrar que somos, temos que se portar como tal. – Que tal dar a vez a um amigo? Abrir a porta para ele? Que tal dividir o doce, o farnel, seu cobertor, que tal dividir sua alegria, sua felicidade com quem não a tem? – Chefe Falcão Maltês deixou saudades. Sempre acreditei que todos nós chefes escoteiros devemos ser uma espécie de Chefe Falcão Maltês. Alguns dos nossos jovens precisam aprender boas maneiras. Claro, é função dos pais. Mas não estamos ali para colaborar? – Um dia ele me disse – Chefe Osvaldo, hoje muitos se apegam a entender o jovem como ele é e a justificar. Certo isto. Mas existem normas, direitos e deveres que são sagrados. Um pai nunca vai dizer ao filho se ele quer ir escola, se ele quer sentar a mesa para as refeições ou se ele pode escolher a hora para dormir. Isto faz parte da família. É sagrado. Temos de ser assim.

             Entendi perfeitamente seu recado. Não é porque os tempos mudaram que as boas maneiras, a educação, o cavalheirismo deve deixar de existir. O respeito aos mais velhos, o respeito ao meio ambiente, o respeito com as pessoas, o direito de um e o de outro nunca devem ser olvidados. Seria bom, seria bom mesmo que existem muitos chefes Falcão Maltês por aí. Acho que tem muitos jovens que se chamam de escoteiros e escoteiras que poderiam ouvir suas palavras e aprender.

               Já faz anos que não vi mais o Chefe Falcão Maltês. Soube que ele resolveu abrir um Grupo Escoteiro nos garimpos do Suriname. Um país perdido nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Porque a escolha? Ninguém me disse. Quem sabe ele seria um novo Cavaleiro Andante, a dizer naquelas matas e para aqueles garimpeiros rústicos que não existe hora e nem lugar para ser educado e ter honra? Que ele seja feliz. Ensinou-me muito. Tem chefes que são e tem outros que dizem ser. Eu até hoje ainda não me situei. Que Deus me ajude a cumprir minha missão, claro se eu tiver uma para cumprir.  

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Tributo a Bandeira do Brasil.



Lendas escoteiras.
Tributo a Bandeira do Brasil.

                  Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de pano que para alguns não tinham valor mas para ele era sempre foi sagrado. Vamos lá ao seu relato.

                 - Chefe, eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando em um armário, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à velha. A principio achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha dizia para a nova:

- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais para mim.

- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda, mas se eu não farfalhasse no vento naquelas alturas eles não se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro.  Entre dois vãos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não desistiam. Sempre atrás de mim.

- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava. Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber como é amada por eles!

                      O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e bem alto digo – Sempre Alerta!

                     Vi que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!             

Lendas escoteiras. A rebelião dos bichos.



Lendas escoteiras.
A rebelião dos bichos.

               Tudo aconteceu na primavera daquele ano. Foi uma surpresa, para mim e confesso que fiquei surpreso. Muito. Vi que a sede Escoteira sem ninguém saber ou ser informado, se tornou uma selva de tantos bichos, aves e peixes. Como eles respiravam não me pergunte. Vieram de todas as partes do Brasil. Claro um representante de cada espécie. Desculpe. Nada de Arca de Noé não. O motivo era outro. Em cada grupo da fauna brasileira foi escolhido o mais douto, o mais sábio e o mais educado. Afinal entre eles a ética e o respeito existe. Eles pretendiam mostrar sua civilidade aos escoteiros de todo pais. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito tempo, mas tinham de tomar uma providencia. Não me deixaram entrar. – Aqui humanos não entram. Tudo bem pensei. Fiquei na janela assistindo. Que organização eles tinham. Chegavam papagaios, corujas, cisnes de todas as cores, gavião-carijó, águias, sem contar as duas onças, uma pintada e a outra parda. Eram centenas deles. O salão nobre ficou lotado.

                A Coruja-buraqueira foi escolhida para presidir os trabalhos. Pedindo a palavra ela começou – Meus amigos, vocês sabem que aqui foram convidados somente às espécies da fauna brasileira. Ainda ontem o Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha. O mesmo aconteceu com o Tucunaré, O Sagui de tufo branco e outras centenas deles. Resolvi fazer uma pesquisa. Para mim é fácil. Sei que é difícil para os dirigentes escoteiros, mas deu para ver que os jovens hoje só querem nomes pomposos, se possíveis retirados da fauna americana ou europeia. Não vou citar aqui os nomes esquisitos em inglês que eles colocam. Até astronautas eu já vi. Um absurdo. E olhem meus amigos, tenho conhecidos nestes países e me disseram que lá ninguém liga para nossa fauna. Eles são autênticos. Uma palma estrondosa repicou no salão nobre.

               - Continuou a Coruja Buraqueira. Temos que tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores não nos escolhem, é melhor que façamos uma revolução e quando eles forem acampar, iremos gritar infernizar a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos não terão mais nosso apoio. – Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente – Riu baixinho – Deixa comigo dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e resolvemos logo este problema. Todos riram. – Não! Não é assim que vamos resolver. Precisamos estudar uma fórmula de mostrar o que somos, mas educadamente. Olhem, só para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos escoteiros. Que façam uma fila e vão passando em minha frente dizendo seu nome:

                Começou o desfile. Ali estavam o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore, A raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amazônica, O Zorrilho, a Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ouriço Preto, o Puma do Pantanal, o Macaco Prego, o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracuã do Pantanal, o Mergulhão Caçador, o Maçarico, o peixe Tucunaré, a Traíra, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco, o Príncipe Negro, o Bugio, A Ema, a Iguana, a Garça Branca, o Boto Vermelho, o Tracajá, o Canário da Terra, o Tatu Peba, o Gaivotão, o Mutum de Penacho, o Cervo do Pantanal, o Jacaré Açu, o Mocó, o Tuiuiú, o Tucano, o Quati, O Beija Flor, o Tamanduá Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guará, a Ariranha, a Arara Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Atrás deles tinham mais de cem animais e aves para desfilar. Uma tristeza enorme no salão.

                 Foi o Beija Flor dourado quem tomou da palavra – Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo açucarado que eles põem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e disse: Eles não me verão mais nos galhos próximos aos Fogos de Conselho. O Canário Belga falou lá no fundo do salão: - Eles nunca mais me verão cantar nas madrugadas. Era uma choradeira só. – Vamos tomar uma posição rosnou alto a Onça Pintada. Vamos dar uma surra neles quando forem acampar! – Nada disto, replicou a Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o próximo sábado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a reunião. Cada um de nós que tem asas fica responsável. E assim foi feito. Levaram para as patrulhas, o abaixo assinado por mais de 5.000 membros da fauna Brasileira. Lá escreveram suas insatisfações com a escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque não se lembraram deles.

                   Fui embora e eles nem notaram. Não sei no que deu. Mas acredito que daqui para frente, muitas Patrulhas novas irão pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira. Elas saberão dar valor ao que é nosso, pois se não fizermos isto desde criança, ninguém lá fora vai fazer por nós. E olhe, não participaram desta reunião nossos heróis, nossos poetas, nossos homens que um dia fizeram desta nação um país hoje respeitado. Quem sabe um dia eles irão também se reunir e dizer o que pensam?          

domingo, 4 de novembro de 2012

O fascinante Escoteiro mágico da Tropa 222.



Lendas Escoteiras.
O fascinante Escoteiro mágico da Tropa 222.

Mágico
Gostava de ser um mago, ter a dor e a sabedoria
de fazer magias de um trago e eu próprio ser a magia...
Queria ser um feiticeiro, para aprender todos os feitiços
e estar o dia inteiro a inventar sumiços!
Acho que me estaria a perder, nunca me daria a esse luxo
de transformar ferro em ouro a valer... Um sonho estaria a viver,

Se por magia fosse um bruxo; inventar uma poção e desaparecer!
Rogério Bessa.

                Ele chegou à sede do Grupo Escoteiro como se não fosse ninguém. Calado, simplório, olhando em frente e nunca para os lados. Devia ter uns doze anos não mais. Estava uniformizado. Não tinha chapéu como os nossos e sim um boné parecendo um “casquete”. Magro, cabelos louros bem altos chegou perto do Chefe Ramiro e gritou alto em posição de sentido – Be Prepared! Danou-se! Ninguém na tropa sabia inglês. Todos atônitos olhando para ele. As patrulhas se desmancharam e uma rodinha se fez. Ele levantou os braços e tirou do nada um livro Escoteiro. Presenteou ao Chefe Ramiro. Falar o que? Ele sorriu e nada disse também. Olhou-me nos meus olhos, levou a mão próxima ao meu rosto e tirou em cima do meu chapéu de três bicos uma caixa de bombons. Presenteou a Patrulha. Mais um sinal com a mão direita e ele se elevou no ar uns quarenta centímetros do chão. – Cacilda! Um bruxo? Escoteiro bruxo?

             Marly era lobinha da Alcatéia Raksha. Foi chamada pelo Escoteiro Marlon. Ele sabia que ela morou dois anos em Jamestown no estado da Virginia. Portanto poderia entender o Escoteiro Americano como o chamaram. Mas ele não deu um pio. Calado chegou calado ficou. Marly ficou ali como a olhar o nada. E agora José? Eu não estava gostando nada daquilo. Afinal a cidade era pequena. Sabíamos de quem chegava e de quem saía. Ele abaixou a cabeça enfiou a mão no bolso, fez um gesto imaginário e apareceu uma linda cadeira toda trançada de couro verde. Uma verdadeira obra de arte. Sentou-se. Olhou para o céu e um copo de limonada apareceu em sua mão. Meu Deus! O que era aquilo? O Chefe Ramiro não sabia o que fazer. A reunião praticamente acabou. Uma roda se formava em volta do escoteiro Americano. Ele ficou em pé na cadeira, fez mais um gesto e uma barraca apareceu em sua frente. Aos poucos ela foi armada como se fosse uma câmara de ar inflável. Agora não era apenas uma, mas quatro!

                Ninguém falava. O Escoteiro Americano tampouco. Levantou-se da cadeira, em frente a ela as quatro barracas. Outro gesto e uma mesa apareceu com um lindo abajur verde e amarelo cheio de flores. Que perfume exalavam. Peguei na mão da Marly. Marly! Diga que você fala inglês! Grite no ouvido dele se necessário. Isto está ficando assustador! Marly me olhava assustada. Gritar para quem? – Para o Escoteiro Americano! Este aí a sua frente. Marly assustou. Largou minha mão e saiu correndo. Olhei para o Chefe Ramiro. Ele não dizia nada, enfim ninguém da tropa dizia nada. Estavam todos calados e embasbacados. O Escoteiro Americano foi até o Chefe. Fez um pequeno sinal e colocou na mão dele uma bandeira brasileira e uma americana. Riscou no ar as seguintes palavras: Amizade sem fronteiras. Saiu do circulo em direção ao portão da sede. Fomos correndo até lá. Nada. Tudo que ele fez sumiu!

               Perguntamos a todos se era verdade. Se ele estivera ali. Todos responderam que sim. O Chefe Ramiro estava sem palavras. Ficou mudo o tempo todo. Nas mãos que recebera as bandeiras, nada. Estavam vazias. Sentamos no pátio, um silencio profundo. A Akelá assustou. O que foi perguntou! – Não viu? Um Escoteiro Americano mágico e misterioso? – Não vi nada. – Não é possível. Perguntei aos lobinhos, ninguém tinha visto nada. Pedi ao Chefe que nos desse uma hora. Uma hora para acharmos o escoteiro Americano na cidade. – Que nada! Nem sinal. As cinco e meia encerramento. Todos lá no cerimonial. Luizinho um lobinho de seis anos e meio traz nos braços duas bandeiras. Uma nacional e uma americana. Que deu a você? Perguntou o Chefe Ramiro. - Ninguém. Apareceu em meus braços e uma voz pediu para entregar ao Senhor!

E quem quiser acreditar que acredite. Eu não duvido. Eu estava lá! Risos.