Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Porque o
jovem quer ser escoteiro?
Prólogo: - Deploro a
tendência moderna de pôr «primeiro a segurança» antes de tudo o mais. É
necessário que haja na vida certa porção de risco e certa prática em
enfrentá-lo para prolongar a mesma vida. Os Escoteiros precisam estar
preparados para enfrentar dificuldades e perigos na vida. Não queremos por isso
educá-los com demasiada moleza. Baden-Powell.
- É notório que a
maioria dos chefes tem uma conversa franca e aberta com os candidatos a
escoteiro e escoteira quando são procurados pelos jovens. Se assim não for sua principal
função de conhecer os desejos as aspirações e os sonhos deles ele nunca
conseguirá levar adiante a formação dentro dos princípios e métodos que se
baseia o Escotismo. Às vezes quando cito Baden-Powell nos meus alfarrábios
muitos torcem o nariz. A defesa da maioria sempre é baseada no eu sei, eu
conheço, eu tenho experiência neste tema. E costumam finalizar que o mundo hoje
é outro. É mesmo parceiro? “Ouvir o ponto de vista do Rapaz”? Cá prá nós, como
levar adiante uma tropa onde não se tira um tempo para uma conversa, para
conhecer melhor os pais, trocar ideias, e saber realmente o que o jovem pensa
quando entra para o escotismo e quando vai seguindo a trilha com dúvidas sem
ter alguém para lhe aconselhar mostrar o melhor caminho e a dar o passo certo?
- Eis uma pérola de BP:
- À medida que entramos na nossa carrancuda velhice, temos tendência a
esquecermo-nos de que em tempos fomos jovens. A primeira coisa a fazer é, pois,
estudar o próprio rapaz; descobrir os seus gostos e antipatias, as suas
qualidades e defeitos, e orientar por estes a sua educação. Os rapazes querem
variedade. Não fiques surpreendido quando eles se cansam de uma coisa.
Mantém-te alerta, tem já pronta a seguinte. Uma criança não pode estar quieta
durante dez minutos quanto mais horas inteiras, como por vezes se lhes exige na
escola.
- Agora, porque ele
entrou para ser escoteiro? Você explicou a ele o que seria? Você perguntou?
Ouviu? Entendeu? Prometeu dar a ele o que sonhou? Tive diversas experiências e
meu ouvido mouco fazia questão de ver as diversas opiniões de cada um a dar seu
motivo para ser escoteiro. Tive o privilegio de aprender a ouvir os jovens. Saber ouvir é tão importante quanto saber falar. Muito se fala em como devemos nos expressar para
garantir uma ótima comunicação. Porém, a comunicação é uma via de mão dupla. Saber ouvir é tão importante quanto saber falar. Penso que isto tem sido usado muito pouco
com os rapazes e moças. Convenhamos não sou um perito na coeducação, mas penso
que mesmo com um objetivo final o pensamento tem duas vias de atuação. O
caminho pode ser diferente para um e outro. Não é onde quero chegar, pois sou
um desconhecido nestas hostes de escotismo misto.
- Ficaria extremamente surpreso se um dia um jovem me
dissesse que entrou para o escotismo para aprimorar seus conhecimentos da
tecnologia moderna, aprender os arroubos científicos das descobertas, aprender
as mazelas do vício, jogar bola, praticar esporte e aprender a manusear melhor seu
smart fone. Ele nos procurou na sede do grupo para dizer que estes são seus
sonhos? Nada de aventura? Nada de atividades fora da cidade? Nada de dormir sob
as estrelas? Nada de dormir em barracas com amigos e viver em equipe fazendo estropelias
aventureiras? Não sei, acho que tal tipo de conversa não é muito empregado
pelos atuais lideres de chefia escoteira e porque não dizer de lobos e
seniores.
- Sabemos que nem todos os jovens tem tendência para
participar como escoteiro. As sedes escoteiras não estão abarrotadas de candidatos.
Afinal sem um maciço marketing poucos se aproximam. Sei de grupos bem
estruturados que a procura é boa e muitos são levados pelos amigos que
participam do escotismo. Quando ele encontra um Chefe ouvinte, que o informa
antes o que é ser escoteiro e cumpre sua promessa de que o programa ali é
cumprido, então existe uma aceitação melhor. Quando o jovem acredita e vê no Chefe
um irmão mais velho, quem sabe um herói e não se decepciona com seu exemplo
pessoal é meio caminho andado para dar a ele toda a metodologia com prazer e
alegria de estar ali participando.
- Plagiando
BP ele escreveu: - O
rapaz é geralmente fino como uma agulha. O rapaz não é capaz de se apegar a um
trabalho durante mais de um ou dois meses porque precisa de mudança. Quando
encontra alguém que se interessa por ele, o rapaz corresponde e vai para onde o
levam. Os rapazes são ordinariamente amigos leais entre si, e a amizade é quase
um sentimento natural neles. Gosto de comparar o homem que procura levar os
rapazes a estarem sob boa influência a um pescador que pretende apanhar peixe.
Se o pescador iscar o anzol com a comida de que ele próprio gosta, é provável
que não apanhe muitos peixes. Usa, portanto, como isca, o alimento de que os
peixes gostam. - O mesmo se dá com os rapazes, se tentarmos pregar-lhes aquilo
que consideramos coisas elevadas, não os apanharemos. A única maneira é
estender-lhes alguma coisa que realmente atraia e os interesse. Porque é que a
psicologia do rapaz se pode comparar a uma corda de violino? Porque precisa ser
afinada no tom exato, e pode então emitir música a valer. Em grande parte, o
rapaz adquire a correção do espírito através de ações corretas, na medida em
que a ação do homem é inspirada pelo seu espírito.
- Portanto meus amigos
os dizeres de Baden-Powell não são ultrapassados. Dizer e repetir sempre que
sabe o que os jovens querem confirmar que existe um novo caminho mais moderno é
esquecer a verdadeira finalidade do escotismo. É muito fácil liderar uma tropa
fazendo o mínimo e dando o que a tal modernidade prega nas reuniões escoteiras.
Reuniões de sede, atividades sociais e filantrópicas deve haver, mas o campo, o
campo este sim é o verdadeiro caminho para o sucesso. Escotismo moderno?
Pergunte ao rapaz o que ele viu para ser um escoteiro. Acampamentos? Um sucesso
se bem feito e realizado. Conte aos rapazes, diga a ele o que vão encontrar e
verão que a maioria irão se entusiasmar e partir para fazer suas grandes
aventuras. Chega deste despautério de criar um novo escotismo. Não me bato em
dizer que precisamos de mudanças, mas sem tirar a caraterística da metodologia
de BP.