Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 25 de agosto de 2018

Recordações de uma época. O Pistoleiro do Rio das Velhas.



Recordações de uma época.
O Pistoleiro do Rio das Velhas.

Nota – Reminiscências de minha passagem como Gerente de uma Fazenda no Norte de Minas na década de cinquenta onde escoteirei como nunca.

- Não titubeei nenhuma vez. Proposta feita, proposta aceita. Afinal vivia a vida bela de um escoteiro, me considerava um campista nota dez. Conhecia pássaros, conhecia animais, sabia a água boa e a má, era bamba em previsão do tempo, tinha conhecimentos de orientação, faca, machadinha, pioneirías, porque não aceitar? Amigos disseram que era loucura, outros disseram me invejar. Telefonei para a Célia que passava férias em Vitória ES com os filhos na casa da sogra: - Osvaldo, se você acha que vai ser bom para nós não tenho nada a contradizer!

Admirador nato dos filmes de western de Hollywood, o sonho de ser um vaqueiro, vaquejar, campear, viver ao ar livre seria um desafio que não poderia recusar. Meus antigos chefes de Usina Siderúrgica desaconselharam, disseram que ali eu teria mais futuro. Trabalhava de parede e meia onde lingotes de aço de toneladas e toneladas passavam para serem produzidos os futuros tubos sem costura da famosa Mannesmann Alemã. Um calor intenso, um ar impregnado de minério de ferro e meu sonho de outras terras onde iria respirar a vida na natureza ao lado de dois rios famosos, (rio das Velhas e São Francisco) lá vou eu de mala e cuia para minha nova experiência de vida.

Ainda existia o trem noturno de Belo Horizonte para Pirapora. No trem me sentia um desbravador, um novo pioneiro a desbravar as lindas terras montanhosas de Minas Gerais. Ninguém a me esperar, um Taxi me levou até parte da entrada da fazenda fechada a cadeado. Avisado o antigo Gerente veio me receber. Um sorriso debochado daquela figura sem eira nem beira sem um chapéu de boiadeiro, sem perneiras, sem capota sem bota sem nada.

Dez mil cabeças de gado! Vai ter gado assim na China! Sabe diferenciar uma vaca de um boi? Eu ria... Quem não sabe? E a coisa começou. Cinco largas onde se manejava o gado, aprender a arriar a montar, a campear parecia coisa de Pata Tenra. Uma hora duas e a pobre “nádegas” pedindo para parar e sentar em uma bacia de água com sal. Mas tudo se aprende, tudo passa tudo se vive e tudo se torna história.

Quantas? Dezenas, cada uma mais interessante. Não vou contar que insisti com o Mané Chefe de um piquete dos vaqueiros que cuidavam da bezerrada recém-parida. Cinco dias para conhecer a divisa das terras da fazenda a cavalo. Foi de doer. Uma das histórias que não esqueço aconteceu numa junta de gado para cumprir o calendário de vacinação contra aftosa. Sentado na cerca de madeira da curralama dois (eram seis) Olhava a vaqueirada manusear uma vacada nelore que eram nascidos por inseminação artificial.

Eis que notei na estrada de entrada, alguém a cavalo. Eram dois. Um moreno forte e outro nada mais nada menos que um vaqueiro da região no seu colete e na sua pose simples de matuto mineiro. O moreno fazia questão de se apresentar como um perfeito vaqueiro, treinado e desconfiado dos donos da Fazenda São Vicente do qual eu era o Gerente. – Parou na entrada do curral. Não desceu. Disse em voz baixa e arrastada: Quem é o gerente?

- Olhei para ele que cuspiu de lado e respondi: - Sou eu! – Se apresentou: - Maneco da Fazenda das Flores do outro lado do Rio das Velhas. Soube que algumas de nossas reses saltaram o rio e vieram para cá! – Olhei para Totonho e ele só disse não balançando a cabeça. – Amigo, aqui não tem gado seu! – Ele me olhou como se me fuzilasse com os olhos. Foi então que notei o Colt 45 amarrado na perna direita. Ele na melhor pose desapeou do cavalo, calmamente, devagar sem tirar os olhos de mim que coitado só tinha um canivete no bolso.

Sua pose me lembrou de Jack Palance no filme Shane. (Os Brutos também amam). Quando ele (Jack Wilson) apeia do seu cavalo, de olho em Shane e ambos só têm vista para um e outro sem interferir nas demais personagens do filme. Shane é para mim um misto de sonho escoteiro e sonho de explorador. O filme Inspirado no romance de Jack Schaefer, foi rodado nas montanhas do Wyoming, como uma alegoria entre o Bem e o Mal: o “mocinho” é louro e veste roupas claras; o bandido é moreno e se veste de preto. O ator Alan Ladd teve, aqui, o melhor papel de sua carreira.

- Posso dar uma olhada na vacada? – Senti um desafio em sua voz. Com a mão direita em cima do cabo da 45 ele subiu a cerca, olhou nada viu nem agradeceu e partiu. Mané Vaqueiro chegou correndo na sua égua Chouriço. O que Topeira queria? Topeira? O Vaqueiro cheio de balangandãs! Dizem que tem muitas mortes nas costas. Sempre é contratado para recuperar gado roubado! Sorri. Então aqui ainda impera o faroeste? Olhei para minhas vestes, não parecia um perigoso gerente de fazenda. Resolvi mudar a indumentária.

Em Pirapora procurei seu Laerte um Seleiro famoso. – Encomendei: - Um par de perneiras, colete, chapéu de couro preto, cinto com fivela grande, um par de botas cano longo. Se ele era considerado um pistoleiro, se ele se achava ser Jack Wilson, porque eu não poderia ser Shane? Mas diversamente dos filmes, minha vida na fazenda teve lindas aventuras, mas nunca precisei de uma arma para me defender... Salvo... Risos comprei um 32 gastei 50 balas e não acertei a latinha nem uma vez!

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A primeira Chefe (Akelá) de lobos. O início da formação dos Lobinhos.



A primeira Chefe (Akelá) de lobos.
O início da formação dos Lobinhos.

Na edição original do livro "Escotismo para Rapazes", Baden Powell não fixou um limite de idade mínima, nem máxima para o ingresso do menino no Movimento Escoteiro. Como consequência disso as tropas tinham meninos cujas idades variavam entre 9 a 18 anos.

As coisas, no entanto, não eram tão simples assim! Imediatamente levantaram-se agudas e persistentes vozes dos meninos que eram muito pequenos para serem escoteiros, irmãos menores, que não estavam na faixa etária da "diversão" organizada no princípio do século, queriam entrar na brincadeira e não podiam esperar mais.

Os "pequenos" foram tão persistentes, intrometendo-se nas reuniões de Tropa e iniciaram alguns ensaios por volta de 1909. Os primeiros esforços de trabalhar com meninos menores não obtiveram sucesso. Alguns escoteiros sentiram em receber estas crianças como "Junior Scouts", mas os resultados foram desastrosos. A tropa desestruturou-se, os mais velhos não desejavam misturar-se com os pequenos e estes não conseguiram acompanhar as vigorosas atividades feitas pelos escoteiros.

Tomar providências para que o que mais tarde foi chamado "Junior Scouts" (Escoteiros Junior), foi uma tarefa muito árdua para Baden Powell, pois embora ele estivesse receptivo à ideia, teve que tomar precauções para evitar a impressão que seu Movimento estava criando um jardim de infância para escoteiros.

Baden Powell não teve tempo suficiente para escrever o Manual do Lobinho durante a Primeira Guerra Mundial, porém, anunciou que o faria pouco tempo depois.

Com a erupção da guerra, as mulheres tomaram os lugares antes ocupados pelos jovens, que haviam respondido aos apelos do exército. Assim, foi permitido o ingresso de senhoras e senhoritas no Movimento, estas estavam encantadas com a ideia de que pudessem adestrar os pequenos. Suas idéias foram de grande valia na elucidação de problemas especiais que surgiam no adestramento dos pequenos. E nesta leva feminina que surge o braço direito do Fundador, no ramo lobinho: a Srta. Vera Barclay.

O seu encontro com o Fundador deu-se no dia 16 de junho de 1916 em uma conferência em Londres, onde Chefes de Lobinhos reuniram-se para reivindicar o esperado Manual do Lobinho, que contivesse um esquema específico para o ramo.
Vera Barclay não compareceu a conferência movida pelos seus objetivos uma vez que lobinhos não lhe interessavam, sua fixação eram os escoteiros. Porém, havia recebido um convite especial de B.P. que queria conversar com ela.

O objetivo de B.P. era contratá-la para juntar-se a equipe do Headquarters e trabalhar no projeto dos lobinhos. A ideia não a entusiasmou muito uma vez que lobinhos não era o seu trabalho, e fechar-se em um escritório em Londres não estavam em seus planos.

Em sua atuação com escoteiros nas áreas carentes de Londres recebeu de companheiros mais formais a crítica de que os rapazes não atendiam perfeitamente a todos os aspectos da Lei Escoteira. Deu, então, uma resposta que se tornou famosa: "O que interessa é, que pelo escotismo, os rapazes se tornem melhores!".

No entanto, em virtude de um joelho machucado, estava afastada de suas funções de enfermeira no "Netley Red Cross Hospital" e além do mais, como admitiu posteriormente, era um grande serviço para o escotismo isolar os meninos pequenos e seus persistentes chefes dentro de suas próprias competências.

Não demorou muito, porém, e os lobinhos conquistaram completamente a sua simpatia, instalando-se definitivamente dentro de seu coração, de forma que a fizesse fazer de tudo para que eles fossem aceitos na fraternidade escoteira, pleiteando junto ao Headquarters tudo o que eles queriam.

Ela dedicou-se com entusiasmo na organização do Manual do Lobinho, intercalando ao famoso manuscrito de B.P. recortes, seus desenhos feitos a pena e bilhetes que encontrava jogados sobre sua mesa, contendo novas idéias de B.P. muitas vezes anotadas em papéis de suas lâminas de barbear. O Manual ficou também enriquecido com suas próprias opiniões acerca das insígnias e especialidades que constituiriam a parte II do Manual.

O Manual do Lobinho está impregnado de suas influências, feitas com entusiasmo e imaginação e, principalmente de um grande conhecimento da natureza de meninos pequenos. Ela via claramente a necessidade de conservar a essência, tanto quanto o método de treinamento, o tão distinto quanto possível daqueles do escoteiro.

Esta posição futuramente influiu fortemente para a sua indicação como Comissária do Quartel General para Lobinhos, posto que ela manteve até 1927. Porém, o que veio responder a procura de Baden Powell por algo atraente, especial, capaz de sustentar a fantasia e contribuir com a formação da criança foi o Livro da Jângal, cuja adoção revolucionou completamente o esquema.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Conversa ao pé do fogo. Inspeção de chefes por monitores existem?



Conversa ao pé do fogo.
Inspeção de chefes por monitores existem?

Nota - Já pensou algum dia em ser inspecionado pelos seus Escoteiros? E pelos seus lobinhos? Impossível? Sei não. Eu já fui e adorei. Ver o rosto e a seriedade deles quando fazem isto vale muito para quem ama o escotismo como eu!

                    - Quando comento com chefes eles dão boas risadas – Pergunto sempre porque estão rindo. A resposta vem na hora: - Meu Chefe se eu fizesse isto meus jovens iriam acabar comigo! – - Eu nunca deixaria. – Eu disse. – Não tenho nenhum preconceito meu caro Chefe. Afinal quando fiz inspeção os tratei com a maior cortesia e respeito. Sei que vai haver reciprocidades. – Ele de novo: - Nunca fiz chefão e olhe não sei se terei coragem em fazer. Pensei comigo que ele não confiava em seus monitores e não era leal quando realizava uma inspeção.

                    – Já pensou um Chefe em um acampamento, ficar em frente a sua barraca esperando monitores que virão fazer a inspeção? Sorri baixinho. Para dizer a verdade nem sabia se ele fazia mesmo a Inspeção de Giwell em seus acampamentos. Expliquei para ele que a inspeção de Giwell são inspeções com características daquelas utilizada em Gilwell Park. Todos nós fazemos as inspeções nestes moldes. Minha mente voltou no tempo. Quantas vezes eu convidei monitores para fazer a inspeção em minha barraca e na minha tralha?

                     Lembro-me de certa vez tendo conversado com um formador famoso, DCIM sobre este tema e ele coçou a cabeça. – É Chefe, não sei se seria capaz. Até hoje não experimentei. - Você também? Eu pensei. Afinal devemos ou não confiar em nossos monitores? Qual o melhor exemplo para eles virem em meu campo e ver como está minha barraca, como está meu material individual, se dobrei bem as mantas, se minha roupa está bem dobrada? E porque não eles aprenderem que meu campo de chefia é a natureza e o que não for dali está fora de lugar? Lembro que foi divertido nas primeiras vezes. Eles me olhavam espantados. Eu claro estava em posição de alerta e quando chegaram fiquei em posição de sentido, dava meu sempre alerta e apresentava meu campo. Inventei um nome para meu campo na hora.

                     Eles sabiam que deviam ver meu material de higiene, se minhas pioneiras eram boas e firmes, e se minha barraca foi esticada novamente pela manhã. Se o chão em redor estava limpo, se tinha fossas de líquido e detrito e WC bem tapadas como se aprende no manual da higiene de campo.  Se as amarras e costuras estavam perfeitas. Se o vasilhame foi limpo conforme se espera de um Escoteiro. Se o material de sapa estava limpo e oleado. Foi divertido. Sempre de olho em mim, rodaram o campo viram tudo e no cerimonial um deles comentou: - Chefe seu campo está um brinco!

                        Olhe, dizem que não, mas eu também gosto de inspecionar os lobinhos. Sempre em matilhas. – Soube de um grupo que tem uma inspeção na sede todas as reuniões. Cada Patrulha é responsável durante uma semana por ela. Durante a semana as patrulhas limpam, varrem tiram a poeira de tudo, e é responsável pelo cerimonial da bandeira naquele dia. São chamadas patrulhas de serviço. Dizem que lá eles conseguiram excelentes resultados.

                     – Eu sempre gostei de uma boa inspeção não importa onde. Agora já vi chefes fazendo inspeções que não condiz com a Lei Escoteira. Não precisavam disto nas inspeções de Giwell, mas se divertiam. Achavam que isto os levava a serem respeitados e admirados. Nunca aceite isto, Chefes sujando o campo de patrulha só para dizer que não são tão bons! – Pense bem, isto é papel de um Chefe? Ele gosta disto? Gosta de ser desleal? O que ele espera com seu ato? Acho que a inspeção deve ser delicada e não ofender e nem ferir ninguém.

                 Acredito que o Chefe tem de ser honesto com sua tropa. Respeito para ser respeitado. Isto deve ser considerado como questão de honra. Se isso acontece porque não ser inspecionado pelos monitores? Quando a noite ficávamos horas trocando ideias nas Conversas ao pé do fogo este tema vinha em primeiro lugar. Gosto de trocar ideias e bater papo, e nas Conversas ao Pé do fogo, sem programa era sempre um lugar especial para contarmos “causos“ Histórias, quem sabe treinar uma palma escoteira, cantar uma nova canção e saborear as antigas.

                 Sempre gostei de boas inspeções na tropa. Respeitando é claro a individualidade de cada um. Comentando em separado com o Monitor como melhorar. Quando você faz uma inspeção de Giwell você sabe como está sua patrulha, se ela está crescendo e pode fazer um comparativo na formação de um Escoteiro e sua equipe.

                  Nos acampamentos antes das inspeções, impreterivelmente no horário (britânico) os chefes devem estar preparados para ter a mesma norma e não criar uma durante a inspeção. Sempre é bom encontrar patrulhas que nos dão boas surpresas tornando a inspeção agradável sem ter motivos para reclamações e revolta. Quem sabe muitas vezes erramos ao fazer exigências e não preparamos os monitores adequadamente? Nunca se abre mão de horários, uniformes dentro dos padrões do campo. Uniformes completos sim senhor!

                 Quando somos amigos de nossos monitores sabemos como eles são. A assimilação entre a hierarquia Chefe/Monitor deve ser honesta e franca. Lembro e até hoje dou risadas em um acampamento na Serra do Cipó quando fui inspecionado. Um Monitor fez questão de puxar minha camisa para dizer: - Está frouxa Chefe! Acho que ele tinha razão, mas depois comentei com ele que nunca fazemos isto em público e sim em particular. Se ela estava fora de lugar porque não conversar em particular? 

                  Devemos sempre ser exigente, pois caso contrário sempre haverá desculpas por não ter feito isso e aquilo. Se temos um uniforme devemos estar com ele em marchas de estrada, em acantonamentos, em atividades aventureiras e ou reunião de sede. Claro que durante as atividades de campo mais difíceis, aceita-se a camiseta. Mas sempre pensando que ali estão escoteiros e não jovens de uma agremiação qualquer. Dá gosto de ver jovens bem uniformizados. Seja em qualquer situação. Afinal temos tão pouco tempo para fazermos escotismo em um dia só na semana e vamos ficar apresentados de qualquer jeito?

                   Inspeções... São ótimas para aprendermos a ser Escoteiros. Uma vez um Chefe em um curso me disse: - Olhe não é só porque você vai para o campo que vai virar bicho. Lembre-se que ali você não é bicho, é um ser humano e está fazendo ali a extensão do seu lar. Procure se apresentar como tal! E é verdade. Aprendi que devemos sempre portar como Escoteiros seja no uniforme, ou não. Afinal somos Escoteiros e cumprimos com nossas normas ou escolhemos as normas que devemos cumprir?


domingo, 19 de agosto de 2018

O acampamento. Comentários de Lord Baden-Powell. Baseado no livro “Rastro do fundador”.



O acampamento.
Comentários de Lord Baden-Powell.
Baseado no livro “Rastro do fundador”.

Nota - Quando cheguei à arena, em Budapeste, no meio duma intensa chuvarada, fui mais uma vez aclamado como “Baden Meister” (campeão). Expliquei então aos rapazes que tinha trazido à chuva comigo de propósito, para melhor poder julgar as suas qualidades, uma vez que esperava que eles não fossem Escoteiros só de bom tempo. AMBIÇÃO A ambição de fazer o bem é a única que vale.

 O acampamento é a grande atração que chama o rapaz para o Escotismo e oferece o melhor ensejo para ensiná-lo a confiar em si próprio e a desenvolver o espírito de iniciativa, além de lhe dar saúde e robustez. Um acampamento é um lugar espaçoso, mas não há nele lugar para um indivíduo só: aquele que não quer desempenhar a parte que lhe cabe-nos muitos trabalhos que sempre há para fazer. Não há lugar para o fingido nem para o resmungão. O Pata-Tenra queixa-se da “dura vida do acampamento”, mas o Escoteiro que conhece as regras do jogo bem sabe que a vida em campo está longe de ser dura.

O objetivo de um acampamento é (a) ir ao encontro do desejo que o rapaz tem de gozar a vida ao ar livre dos Escoteiros, e (b) pô-lo completamente nas mãos do seu Chefe durante um período definido, para formação individual do caráter e do espírito de iniciativa, e desenvolvimento físico e moral.

Todo o Escoteiro sabe que quando levanta o acampamento só há duas coisas que deve deixar atrás de si: 1. Nada; 2. Os seus agradecimentos - a Deus pelos bons momentos que viveu, e ao proprietário do terreno por tê-lo deixado fazer uso dele. Se o acampamento for utilizado como um mero pretexto para a inação e o amolecimento, quase que mais vale não acampar. Só quando estamos acampados é que podemos verdadeiramente aprender a estudar a Natureza como deve ser, pois é ali que nos encontramos frente a frente com a Natureza em todas as horas do dia ou da noite.

O acampamento ideal, para mim, é aquele em que todos andam alegres e ocupados, em que as Patrulhas se mantêm intactas em todas as circunstâncias, e todos os Guias de Patrulha e todos os Escoteiros sentem verdadeiro orgulho no seu acampamento e nas suas construções. Sempre que acampares ou partires em expedição, lembra-te que muito se espera dos Escoteiros. Precisamos manter o bom nome do Movimento.

O acampamento, essencial para os Escoteiros, não o é para os Lobinhos, e com estes é de longe melhor nem sequer tentar acampar, a menos que se possa contar com todos os meios e se tenha a experiência necessária. Um bom acampamento pode ter efeitos benéficos e duradouros sobre os Lobinhos. Um acampamento mau será uma vergonha permanente para o Chefe, a Alcateia, e provavelmente para todo o Movimento. Mais vale educar os rapazes por métodos talvez menos atraentes e mais lentos do que de correr este risco.

O acampamento é a melhor oportunidade para estudar os Lobinhos, pois em poucos dias aprendereis mais a seu respeito do que em muitos meses de reuniões normais, e podereis exercer sobre eles, no domínio do caráter, do asseio e da saúde, uma influência tal que crie neles hábitos duradouros. Na vida de acampamento aprendemos a passar sem uma porção de coisas que achamos necessárias quando vivemos em casas, e descobrimos que conseguimos fazer sozinhos muitas coisa que pensávamos não ser capazes de fazer.

É difícil haver um único artigo da Lei do Escoteiro que não seja cumprido melhor, depois de teres acampado e de o teres posto em prática no acampamento. Não deixemos que os nossos acampamentos se convertam nos piqueniques aborrecidos e indolentes que seriam se organizados ao estilo militar. O que nós queremos é a arte da exploração e da vida na natureza, e é isso que os rapazes mais desejam. Que o tenham, e em força. Enquanto os Grupos e as Patrulhas não estiverem acostumados a acampar, ainda não começaram a ser Escoteiros.

O acampamento é o jardim celestial do rapaz, e a oportunidade do Chefe. E, além disso, é Escotismo. Há um aspecto que eu gostaria de insistir junto de todos aqueles que assumem a responsabilidade de um acampamento; esse aspecto tem a ver com a minha velha divisa “vistas largas”, e consiste em compreender que, por muito elevado que seja o grau de perfeição a que possa ser levado, o campismo não é o fim último do Escotismo. É apenas uma das etapas - embora a mais cheia de potencialidades - em direção ao nosso objetivo de formar cidadãos felizes, saudáveis e úteis.