Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 14 de junho de 2014

Um pouco da minha vida.


Saudades da minha terra!
Um pouco da minha vida.

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu.

                    O tempo passa, e muitas coisas das nossas vidas vão sendo colocadas em uma parte do nosso cérebro, não esquecidas, mas para serem lembradas um dia. Eu sou um homem da terra. De muitas terras. De algumas cidades. Um dia destes li de Paulo Gondim, um poema, do seu lindo Ceará. “Minha terra tão querida, a quem sempre vou amar. Um dia eu deixei, mas voltarei, ao meu lindo Ceará”.

             Ninguém esquece sua terra natal. Sua cidade, seu estado, seus amigos, suas histórias tão queridas. Nasci na minha querida Minas Gerais. Oh! Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais. Nasci em uma cidade perdida no longínquo norte do estado, pequena, sem nada para viver, quem sabe uma ou duas ruas calçadas, uma pracinha, mas eu? Morava a seis quadras mais longe. Casa de taipa, esburacada, rua sem calçamento, esgoto a céu aberto, doenças. Três irmãs foram para o céu ainda com menos de quatro anos. Eu quase fui.

            Dois anos que não lembro a não ser as histórias contadas por meus pais e irmãs. Sobraram duas delas e eu. Meu pai seleiro, família pobre, lá fomos nós para uma fazenda. Não me lembro de nada. Menos de um ano e de novo outra cidade do outro lado das Minas Gerais. Poucas lembranças. Mais três anos e de novo outra e outra até que com seis fincamos o pé por muitos anos em uma maior, bem ao lado do formoso Vale do Rio Doce. Rio Doce! Quantas saudades, quantas travessias, jangadas, comer ingá nas suas margens nas cheias, quantos peixes. Hoje soube que está como o Tietê. Dói-me fundo. Ali praticamente cresci. Fui lobinho, Escoteiro, viajando a pé, de bicicleta vivendo uma vida de aventuras sem pensar no amanhã. Voltei um dia em todas as pequerruchas cidades que vivi. Fiquei tempos na terra onde nasci. Passei ali menos de duas horas. Vi a casa onde comecei minha vida de homem terreno. Nas outras poucas lembranças de uma época que minha memória não arquivou. Não tinham mudado nada na visão dos meus pais. Nesta última foram treze anos, de alegria, felicidades até que um dia a mudança aconteceu.

           Meu pai doente, início da década de sessenta, diabete ainda desconhecida era melhor procurar médicos especialistas. Capital do Estado. Nova vida. Novo emprego. Usina Siderúrgica. Peão no inicio. Interessante. Nunca fomos ricos. Ouve fases, algumas remediados outras? Melhor nem comentar. Estudo? Terceiro ano de ginásio. Eu sou um Iletrado. Nunca fui Doutor. Aprendi muito na Escola da Vida. Não sei como fui convidado para ser o chefão Escoteiro do estado. Comissário Regional. Uma época de viagens. Cidades e mais cidades sendo engolidas pelo escotismo. Amigos e amigos novos sendo conquistados. Quantas histórias, quantas estradas de terra percorridas, quantas coisas ficaram para trás. Mas o tempo não para. Um dia alguém chegou para mim – Queres ser um Administrador de uma fazenda? Putz! Não pensei duas vezes. Celia ao meu lado. Sempre formidável minha linda Célia. Oito mil cabeças. Meu Deus! Que isso? Botas no pé, chapéu de couro, perneira, meu lindo gibão cravejado de brilhantes, um peitoril simples e lá estava eu vaquejando aqui e ali pelas largas e capoeiras da vida.

               Quantas aventuras. Viagens no Rio das Velhas, Sucuri de quinze metros, enfrentar a correnteza do São Francisco, enfrentar pistoleiros morrendo de medo. Pescarias, criação a parte, porcos, galinhas, tratores, um D-12 da Caterpillar, enorme me hipnotizava. Adora andar com ele prá e prá cá. Comprei uma vacada de um fazendeiro em Barra do Guaçuí, duzentas cabeças. 150 quilômetros de distância. Achei melhor trazer por terra. Para mostrar ao Diretor que eu era econômico. Pobre “bunda”. Seis dias ida e volta. A cavalo. Levando um gado fácil, mas trabalhoso. Cinco anos maravilhosos. Filhos crescendo. Precisavam de bons colégios. São Paulo. Meu destino final. Empregado. Luta constante. Osasco era minha morada, ou melhor, ainda é. A luta dizem que é renhida, difícil. Sempre ao olhar minha vida lembro-me do poema de Gonçalves Dias. - Juca-Pirama. “Sou bravo, sou forte, sou filho do norte”. Andei longes terras, lidei cruas guerras, vaguei pelas serras dos vis Aimorés...

               Ei, calma! Não sou bravo e nem forte. Mas o tempo vai passando. Os anos não perdoam. Não dá mais para trabalhar. Uma vil aposentadoria. Mas feliz. Muito feliz. Quatro filhos criados e casados. Oito netos, uma linda árvore genealógica dando prosseguimento as lides traçadas por milhares de anos no espaço. Rodei meio Brasil. Pisei em outras terras. Conheci outros rumos, outros destinos. Mudei demais. Não sei se fiz bem. Não vejo como traçar o meu destino de outra forma. Tenho dúvidas não arrependimento. Quem sabe nem todas as trilhas que escolhi deram em boas estradas. Um dia destes irei por aí. Sei aonde vou. Não posso levar mais minha barraca, minha mochila e meu chapéu de três bicos. Lá dizem tem lindos locais de acampamentos. Córregos dançantes de águas tão claras que dá para ver o passado e o futuro. Onde as florestas são verdes e as flores as mais lindas do universo.

               Sempre é bom lembrar o caminho. Sempre é bom ver o que se foi o que se fez. Nunca fui rico. Morei em casa de taipas. Morei em tantos lugares que de vez em quando perco a memoria onde estou. Meu carrinho está encostado. A vista já não é a mesma. As pernas obedecem reclamando. Obriga-me a forçar meus passos por aí. Melhor assim, pois sempre fiz isto em minha vida. Viajei meio mundo no lombo de uma bicicleta. Com meu Vulcabrás conquistei montes e vales desconhecidos. Adoro o que fiz. Adoro o que sou. Não tenho duvidas do que serei.


                 Eu gosto de São Paulo. Fiz dele minha morada por mais de 38 anos. Não sei se fiz aqui muito amigos. Os mais chegados já partiram para começarem tudo de novo com os novos tempos. Eu ainda não fui. Deus me reservou outro destino. Seja ele o que for estarei pronto a enfrentar. Mas sabem, não tenho medo, não tenho receios. O que tem de ser será. Não podemos fugir do nosso destino. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.

           Convenhamos que eu não seja um estudioso das tradições do uniforme Escoteiro brasileiro. Sei apenas o que vi e vivi com ele e outros amigos. Não vou dar um testemunho como foi em todo Brasil, para mim impossível, mas posso falar mais na minha área de atuação. Este é um artigo que não pretende de maneira nenhuma provocar uma discussão. Sei que nosso uniforme ainda levanta duvidas e hoje muitos que fazem parte da nova geração acreditam que o presente nada tem a ver com o passado. Tenho dito em todos os lugares aonde vou e mesmo em meus parcos escritos que faço do tema, que é difícil analisar uma era sem ter nela pisado com seus pés e sentido o calor do chão de terra. Os novos eruditos que se arvoraram em donos da verdade, muitos deles sequer conheceu o passado a não ser por escritos fazem hoje de suas belas palavras uma verdade que acreditam ser intocável. Não sei. Chega de polemizar. Já me disseram que isto não leva a nada. Fico somente com a análise do uniforme básico. Os do mar e do ar quase não sofreram mutação e até hoje se mantem no tradicional quando foram criados. Parabenizo a eles por este amor que até hoje sentem pelo seu passado.

           Uma vez em uma pequena clareira, um foguinho gostoso um Chefe meu amigo e antigo mineiro já falecido, Doutor Francisco Floriano de Paula comentou com voz calma e ponderada que em Minas no inicio do escotismo o uniforme foi o mesmo usado na Inglaterra. Uma espécie de caqui mais cinza com meiões pretos. Com o passar do tempo surgiu à calça azul com camisa caqui e assim permaneceu por muitos anos. Parece que a partir do final da década de 40, o caqui começou a se expandir por vários estados. Lembrem-se estou falando pelo meu estado Minas Gerais. Não vou contar aqui o que aconteceu quando o governo querendo uma expansão rápida do escotismo nomeou cabos e soldados para organizarem Grupos Escoteiros em todas as cidades. Os uniformes surgiram a bel prazer. Se no sul e no norte não foi assim fica o dito pelo não dito. Quando entrei para o movimento em 1947 os lobos usavam o azulão com o boné conhecido. Os Escoteiros já usavam o caqui curto, chapéu de abas largas e nunca se via adultos trajando calça comprida. Era como se diz uma tradição, pois BP nunca usou o uniforme com calça comprida. Sei que em vários estados ou cidades alguns grupos fizeram adaptações que não eram normativas. Assim apareceu o verde e cores parecidas com o caqui.

             O caqui, portanto era considerado o uniforme oficial dos Escoteiros da modalidade básica no Brasil. Em 1969 muitos já forçavam o uso da calça comprida. Discutiam que em cada estado devia haver uma abertura e varias ideias foram sugeridas. A temperatura de estado para estado, e o estilo de vida da comunidade foram dados como exemplo. Nota-se com orgulho que até no inicio da década de setenta via-se a liderança escoteira portando sempre o caqui curto em qualquer atividade nacional. Eu mesmo conheci Escoteiros Chefes e altos dirigentes não só da nacional como estaduais orgulhosos no seu uniforme caqui. Entretanto havia uma pressão enorme de adultos e seniores achando que precisávamos de um novo uniforme, mais apresentável (?) um que eles pudessem estar bem trajados em atividades sociais, reuniões extra sede e assim em 1975 formalizou-se o uniforme ou traje Azul mescla. O Chefe Darcy Malta Escoteiro Chefe na época, em visita a minha casa explicou como foi sacramentado o novo uniforme apesar de ser contra. Esqueçam esta de farda, uniforme, traje e vestimenta. No fundo tudo é a mesma coisa.

             Para que os adultos levassem a sério o novo uniforme, vamos chamá-lo de traje, a UEB enviou a todos os Grupos Escoteiros do Brasil um ofício via correio explicando como ele seria confeccionado, quais as ocasiões para o uso e juntou-se um desenho e pasmem-se: - um pedaço do pano tanto da camisa como da calça comprida. Havia a preocupação de que todos fossem reconhecidos sem nenhuma alteração no visual. Para maior formalidade foi dado à possibilidade do uso do paletó e gravata. Que eu saiba uma minoria adotou este último e que em minha opinião não tinha nada de escoteiro. No POR se sacramentou as normas e uso. Todos ficaram sabendo que o dirigente de qualquer atividade determinaria qual uniforme deveria ser utilizado. O POR era firme em um dos seus artigos que dizia nas atividades escoteiras os chefes deviam usar o tradicional, ou seja, o caqui. Eu mesmo dirigi vários cursos onde se exigia ou o traje ou o caqui. Em vários avançados da Insígnia da Madeira que fui o diretor pedia sempre os dois uniformes. Cada dia usamos um ou outro. O intuito era não só formalizar, mas mostrar que a uniformização deveria ser ponto de honra para nós Escoteiros. Interessante que sem a tecnologia de hoje, a disciplina era irreversível. Poucos destoavam e obedeciam sem discutir.

          A partir do meio da década de oitenta muitos adultos e seniores passaram a usar o azul mescla, mas com calças jeans desvirtuando o sentido da aprovação do traje no passado. Não esquecer que por volta de 1984/85 foi formalizado o escotismo feminino no Brasil e um novo uniforme foi acrescentado para elas. Dai em diante a cada liderança nova na UEB a abertura era constante. Acrescentou-se itens e banalizou-se completamente o sentido do uniforme SOCIAL. Cada grupo podia escolher com todos os seus participantes o que gostaram de usar. O próprio chapéu foi escamoteado abrindo a possiblidade do uso de bonés e outras coberturas. Lembramos que a própria UEB em sua loja vende um tipo de cobertura feita de brim ou similar e esta se espalhou por vários Grupos Escoteiros como uma chama. É comum ver o Chefe com ele e os jovens sem nenhum. Finalmente no final da década de noventa bastava portar o lenço com uma camiseta e se considerava uniformizado. A própria UEB foi quem criou esta Torre de Babel com o uniforme Escoteiro. Hoje se arvoram em dono da verdade e impuseram um novo uniforme a quem chamam de vestimenta.

          Com a participação em jamborees e atividades internacionais em outros países copiou-se o lenço preso nas pontas dando uma nova conotação da liberdade individual. Na nova vestimenta ficou a critério de cada um escolher como vestir e esqueceram-se da uniformidade o que sem sombra de duvida é o melhor marketing para o movimento Escoteiro. O tempo dirá. Cada um escolhe se quer a camisa solta ou não. Meiões ou não. Calça curta ou comprida. Lenço bem colocado no pescoço ou solto a escolha. Se isto vai dar nova visibilidade ao escotismo brasileiro vamos aguardar. Comparar o ontem com o hoje não é fácil. Era uma época que tínhamos o maior respeito com nosso uniforme. Nenhum novato poderia colocar peças antes da promessa. Todos faziam questão de estarem bem uniformizados e bem apresentados. Era uma questão de honra. Ninguém saia de casa sem ele. Impossível pensar em vestir na sede, pois o orgulho fazia parte de qualquer Escoteiro. Afinal o próprio BP já dizia que o melhor marketing do escotismo é um Escoteiro bem uniformizado.


             Brinco muito com amigos que comentam comigo sobre a uniformização que uma vez lá pelos idos de 1956 em uma jornada de mais de quinhentos quilômetros, de bicicleta pelo norte de Minas e na região do Vale do Jequitinhonha, próximo à cidade de Almenara, portando orgulhosamente o caqui curto com o chapelão, paramos em um boteco para comer alguma coisa e logo juntou ao nosso redor uma grande multidão de moradores. Em principio calados logo começaram a gritar – São os Escoteiros! São os Escoteiros! Olhamos pasmados aquela multidão que sem pedir nos saudou com uma estrondosa salva de palma. Bah! Emocionante isto. Será que teremos isto com a vestimenta?  Velhos e saudosos bons tempos!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Programando o programa.


Conversa ao pé do fogo.
Programando o programa.

       Todo mundo conhece, todos os escotistas fazem. Afinal nada se produz sem ele. Alguns simples, outros complexos, mas todos com o mesmo objetivo. Conheci em minhas atividades escoteiras, muitos programas bons, outros nem tanto. Junto a tantos outros amigos escotistas, fizemos programas de sessões, de Diretoria, de Conselho de Chefes, de Atividades Especiais, de Grandes Jogos, de Região Escoteira, De Ajuris, de Elos, de Adestramento, de Atividades Nacionais e até algumas internacionais. Quando planejamos os programas das sessões e do grupo eles devem se entrelaçar. Como? Pensando em termos que todos os órgãos do grupo os têm (um programa). Alguns grupos todo final do ano fazem uma reunião própria para este tema, (Indabas dos chefes em regime de acampamento é muito válido) e costumam convidar a diretoria e alguns pais que sempre colaboram nos programas anuais. Isto facilita muito para se planejar adequadamente.

     Se um programa geral é feito isto ajuda em muito as sessões escoteiras para fazerem os seus e a diretoria do grupo. Ninguém gosta quando um programa diz uma coisa e a diretoria programa outra sem avisar. Conheço Grupos Escoteiros que no final do ano sempre dão oportunidade aos jovens para sugerir datas do ano seguinte. Quantas excursões, quantos acampamentos, quantas atividades aventureiras e assim por diante. Os lobos também quem sabe podem ser consultados. O Diretor Técnico é responsável para que não haja comprometimento de alguma atividade que não conste do programa geral do grupo. Difícil imaginar um bom programa onde ele sofre constantemente modificações, adaptações e é fustigado por terceiros para sempre colocarem ali, mais um ou outro parágrafo que antes não estava programado.

     O Diretor Técnico, o Conselho de Chefes e a Diretoria tem a obrigação de manter o programa conforme se discutiu e foi aprovado. É importante notar que os melhores programas de sessões e que mantem os jovens ativos e Até BP no Escotismo para Rapazes dizia que o melhor programa é aquele desenvolvido pelos rapazes e moças. Afinal são eles a parte interessada e eles o fazem com perfeição em seus bairros, na sua rua, com os amigos que ali estão sempre juntos por anos e anos a fio. Difícil? Não. É bom lembrar que quem deve gostar do programa são eles. Nós chefes estamos ali para ajudar, orientar e finalizar os dados que ficaram faltando.

      Alguns chefes discordam. Eles acham que os jovens não estão preparados. Alguns dizem que se eles o fizerem, não haverá nada prático. Muitos até irão sair, pois vão ver tudo diferente. Pode até ser. Mas foi tentado? Foi dado a eles ideias sugestões, instruções e aberto um leque de oportunidades? Claro, não estou aqui a dizer que o que escreverem será feito. Tampouco será deixado de lado. Para isto tudo deve ser discutido minuciosamente no Conselho de Patrulhas, no Conselho de Monitores e só após junto a Corte de Honra (muitas tropa só tem a Corte de Honra) será tomada uma decisão de qual programa será o escolhido.

      Nenhum programa ficará sem o “tempero” do chefe e dos assistentes. O que seria o “tempero”? – Jogos, canções, Conversa ao Pé do Fogo, e claro as sugestões que não estarão ao alcance deles. Tais como, atividades distritais, regionais e nacionais. Mas é importante que estas não ocupem nada mais que 10% do programa anual. Qualquer atividade que apareça sem constar no programa os chefes devem meditar muito antes de mudar. Não aceitar não é sinal de indisciplina é sinal de organização. Ninguém deve ser obrigado a fazer um programa que não foi planejado. Ninguém gosta de sugerir, aprovar e ver tudo alterado sem uma explicação lógica. Aqueles que ainda não trabalham com os jovens nesta área eu sugiro que tentem. Mas não uma vez só. Lembrem-se que aprender a fazer fazendo e acertar até corrigir o erro faz parte do programa Escoteiro. Se derem oportunidade aos jovens na sua sessão para fazer, montar e quem sabe até dirigir um programa em sua tropa, eu garanto que a evasão irá diminuir e muito. Deixe que façam sempre e verifiquem se a presença está melhorando, se os sorrisos aumentaram e se a procura agora é maior. Se for assim estão no caminho certo.

       Aquela velha tendência de reunir chefes e assistentes para montarem programas a curto e médio prazo sem ter um esboço feito pela tropa nem sempre alcança os resultados desejados. É possível reunir jovens e fazer estes programas. Mas quanto tempo uma patrulha se mantem com seus próprios elementos por anos? Nenhum Chefe gosta de chegar à sede e ver as patrulhas formando com três ou quatro. Ninguém vai deixar seu programa com os amigos da escola ou do bairro, que fazem há anos e gostam por uma reunião de sábado onde não existe motivação e os programas não são agradáveis (para eles).

      Lembramos sempre que BP criou um estilo, um método e fugir dele é saber que os resultados não irão acontecer. Temos hoje uma evasão desconhecida. Quase ninguém fala dela, mas muitas tropas e alcateias sentem na pele a saída dos jovens. O pior, sempre depois das férias muitos não voltam mais. Crescimento técnico, intelectual, e claro, caminhar com as próprias pernas. É tão bom saber que uma patrulha está junta por anos e podemos confiar que tudo vai dar certo. E depois do passar dos anos, ver aqueles que foram nossos jovens, estarem dentro da comunidade agindo como verdadeiros escoteiros.

       O melhor caminho vencido é aquele em que os rapazes e moças estarão reunidos por um bom tempo, onde sempre estarão à espera da próxima reunião, o próximo acampamento ou a próxima atividade com ansiedade conforme o programa que sugeriram. Um Grupo Escoteiro é uma família. Unida. Fraterna. Onde o respeito mostra o grau de crescimento de cada um. Você faz parte da família. Veja onde é seu lugar e trabalhe para que todos sintam felizes no desenvolvimento de suas tarefas.


       Não existe tarefa fácil. Formar caráter não é fácil. Mas o Movimento Escoteiro através do seu método simples facilita sobremaneira a atingir esse objetivo. E é um orgulho quando podemos ver homens e mulheres que um dia conheceram a maravilhosa Lei Escoteira. E sabemos que atingimos nosso objetivo. Honra e caráter e porque não dizer – Ética e altruísmo! E para isto acontecer precisamos ter programas agradáveis e que satisfação àqueles jovens que procuraram a senda escoteira.

domingo, 8 de junho de 2014

Cozinha mateira? Sei não!


Conversa ao pé do fogo.
Cozinha mateira? Sei não!

          Hoje existe uma plêiade de bons mateiros que se divertem no campo a fazerem comida mateira. Nos dias de hoje porque não? É o pão do caçador? A sopa de cebola? O pão do minuto? Ovo no espeto? Ovo na casca de laranja? Ovo no barro? Milho assado na brasa? A maçã recheada? Frango no barro? Carne moída na batata? Arre! São centenas se deixar os mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons técnicos mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios domésticos. Dizem também que é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Um deles disse que preparar a própria comida é um desafio e sempre uma grande distração para os jovens. Saber improvisar, ter paciência ver como substituir as tradicionais panelas (pelo menos se tem uma vantagem, evitar lavar panelas, arre!).

            Nada como um bom fogo, boas achas para brasa e já pensou colocar ali uma banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de cozido se deliciar? Só não vale um churrasco no campo de patrulha. Não vale? Vale sim, uma noite fria, um bom fogo mateiro, caçar uns patos do mato ou marrecos, quem sabe uma carninha de tatu, uma cobrinha bem limpa e cortar em rodelas pequenas ficadas em espetinhos, ou de um belo Gavião que vou baixo e se danou? Bom demais. Bem sei que hoje isto não pode, mas quantos patos selvagens ainda existem por aí? Está dando sopa nas lagoas o pato-do-mato, pato-crioulo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e o pato-mudo. Haja patos para encher a “pança” dos escoteiros. Risos. Não pode? Bem o respeito à natureza e a liberdade dos animais e pássaros precisam ser respeitados. Mas ouve uma época que nós Escoteiros vivíamos da natureza selvagem. Na mochila não faltava meio quilo de sal, um vidro de gordura de porco, (quase não havia óleo de cozinha) eu gostava de uns dentes de alho e dependendo o lugar a acampar isto bastava. Lista de mantimentos? Meu Deus! Nem pensar.

             Será que teríamos jovens para um acampamento assim? Uma mochila, uma manta, mudas de roupas e material de higiene, uma pequena lona de 1,5x1,5, claro não podia faltar uma boa faca mateira, um canivete Escoteiro, uma machadinha pequena e mais nada. Ops esqueci o sal a gordura e o alho. Sem eles dava para se virar, mas no máximo alguns dias. E você quer ir comigo? Use de sua imaginação e lá vamos nós. Para onde? Para onde o vento nos levar. Quem sabe na lagoa do Epaminondas? Gente boa. Sempre a nos presentear com um franguinho vivo ou morto. Risos. A lagoa era o máximo. Dela tirávamos belas traíras, bagres e quando chovia enormes corvinas. Pegamos uma vez um pequeno Jacaré. Coitado serviu a seis seniores sem saber que eles adoraram. E os patos selvagens dando sopa a pedir: - Nos faça no espeto bem tostado, por favor! Risos. Uma sopa? Era só desencavar a macaxeira, ou melhor, o aipim, mandioca-doce, mandioca mansa e frita então? Bela lagoa. Era como dizia Pero Vaz de Caminha, nesta lagoa se plantando tudo dá. Mas ele estava errado, nela não precisava plantar, pois tudo dava.

           Mas vamos lá, não vamos ficar somente na lagoa, quem sabe ir até o Rio Chorão? Gente ali vamos nos fartar de peixe, Zé Bigode o intendente da Patrulha Leão, aquele que não tinha bigode disse que pegava com as mãos. Verdade ou não na piracema lá na curva da Cachoeira do Cavalo eu mesmo peguei vários. Mochila nas costas, desfraldem a bandeira e lá vamos nós continuar nossa jornada. Cuidado ao atravessar o Riacho do Piraçu, a correnteza é forte, mas se amarre no cipó e fique frio. Melhor arranchar ali. Tem uma clareira na Mata do Guaporé linda de morrer. Cada um faz uma coisa. Um prepara o fogo mateiro, outro veja a lenha, eu vou buscar uns timburés e uns xuxu do mato. Aqui tem dos grandes. E você Akelá entre na selva e veja se encontra uma colmeia e devagar sem alarde retire um ou dois favos. Não tenha medo das abelhas. Afinal elas sabem que você é uma escoteira. Vamos retirar da cera todo mel que precisarmos. Vamos nos empanturrar de doces de mel. Tem vasilhame? Que isto minha cara Chefe, estava na lista?

         Acho que não vai chover turma portando durmam com Deus. Que o céu seja sua barraca. Fiquei a vontade para contar as estrelas, façam seu pedido ao passar de um cometa brilhante no céu. Eu hoje nem papo quero, estou cansado e preciso de descanso, pois amanhã o dia não vai ser mole. Sei onde estão as galinhas d’angolas selvagens. Muitos as chamam de Cocar. Vamos pegar três e vamos nos regalar. Um bom cipó e aqui na floresta eles abundam em todo lugar. Você sabia que temos uma grande variedade deles? Tem espécies medicinais, são bons para diarreia, hepatite, leishmaniose e até câncer. Bem não sou medico, mas além de servirem como uma boa corda, os uso como tempero e conheço um com aroma e sabor de alho e cravo. Putz! Sua meia está furada Chefe? Troque já. Calo nas jornadas não é bom. E vamos dar belos galopes atrás delas e não acreditem nelas, são danadas para gritarem: - Tô fraco! Tô fraco! Risos. Se forem bons chefes vamos pegar umas três rapidamente. Depois abrimos o bucho, deixamos as penas, dentro um pouco de óleo e sal e já devemos ter pronto as assadeiras. Três buracos de uns 40 de fundo por 12 polegadas de diâmetro. Cobrir com barro (as galinhas d’angola) e colocar na brasa fechando o buraco em seguida.


            Agora pé na taboa. Deixe as gostosas galinhas d’angola se aquecendo. Vamos voltar em três horas e elas estarão prontas. Ao tirar o barro saem as penas. E que delicia! Mochila nas costas e lá vamos nós novamente. Na Floresta do Jangadeiro vai ser fácil encontrar a Castanha e o Açaí. E olhe o que não falta lá é o Palmito (uma delícia) e na descida vamos passar pelo Lago Vermelho. Uma vez encontrei lá belos inhames, maracujás bananas da terra e folhas de lobrobô. Não conhecem? Risos. Vais ver o ensopado que vamos fazer sem panelas. Sem panelas? Calma. É o truque que uso. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. Quem vai aguentar cinco dias assim? E dez dias? É não é fácil. O melhor mesmo é voltar a Comida mateira. Tudo é levado da sede. Lá é só preparar. Mas você que esteve comigo nesta bela viagem de sonhos aventureiros não gostou? Lembra-se do Macaquinho que pulou em seu ombro na selva do Soldado? São tantas lembranças que tenho certeza estes cinco dias vão lhe marcar para sempre. Quem sabe um dia vamos voltar?