Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Místicas e tradições do escotismo. Os símbolos de Gilwell Park.



Conversa ao pé do fogo.
Místicas e tradições do escotismo.
Os símbolos de Gilwell Park.


 Prologo: - O Parque de Gilwell e o Curso da Insígnia de Madeira trouxeram ao Escotismo uma série de símbolos que nos são, ainda hoje, bastante familiares: o lenço, a anilha, o colar de contas, o portão dos leopardos e o machado enterrado no tronco.

O lenço.
Francis Gidney, o “homem-rapaz” foi o primeiro Chefe de Campo de Gilwell Park. Gidney criou o chamado 1º Grupo de Gilwell e o respectivo lenço. Isto em 1921. Fazem parte deste grupo, por tradição todos os dirigentes, de todo o mundo, portadores da Insígnia de Madeira. Aos primeiros formandos dos cursos era entregue um lenço, de cor exterior cinzenta (cor da humildade) e interior rosa-vermelho, pertença do parque, passando a usar todos um lenço igual, independentemente da posição que ocupassem no escotismo. No final do curso, os lenços eram devolvidos ao parque. Posteriormente o cinzento exterior foi substituído por um tom bege-areia, não havendo registro de quando passou a ser usado esta cor.


Chegou a ser usado um lenço feito totalmente com o Tartan do clã Maclaren, em homenagem ao homem que doou o dinheiro necessário para a compra do parque, mas, devido ao custo excessivo do tecido, o Tartan passou a figurar apenas num retângulo no vértice do lenço. Inicialmente, o lenço do 1º Grupo era também usado pelo staff do parque, mas, a partir de 1924, passou a ser restrito aos portadores da Insígnia de Madeira. O Tartan é propriedade registada do clã Maclaren. O seu uso é permitido apenas no lenço de Gilwell e não pode ser usado para outro fim.

O colar
Originalmente, B-P tinha pensado em oferecer aos formandos do curso dois pendões para o chapéu, à semelhança do que os oficiais americanos usavam. Entretanto, enquanto vasculhava nas recordações que tinha trazido de África e da Índia, encontrou um colar com contas de madeira, tendo optado por estas. Ainda assim, as suas primeiras ideias para o uso das contas foram para o chapéu, a imitar os pendões, ou na casa de um dos botões do casaco.

Em breve, B-P decidiu alterar estas ideias, provavelmente pelo fato de que os portadores da Insígnia de Madeira só poderiam usar as contas quando estivessem com o chapéu (ao ar livre) ou de casaco. O uso das contas num colar, usando um atilho de couro, permitiria aos seus portadores usá-las em todas as circunstâncias. A ideia do atilho e do colar poderá ter tido origem noutra recordação que B-P trouxe de África.

 Durante o Cerco de Mafeking, numa das rondas que B-P fazia frequentemente pela cidade, um rapaz indígena interpelou-o, admirado por ele não andar a assobiar e sorrindo, como era costume. Numa breve troca de palavras, em que B-P se mostrou menos esperançado quanto ao futuro, dadas as condições adversas e dramáticas do cerco, o rapaz ofereceu-lhe um atilho de couro, que lhe tinha sido dado pela mãe à nascença, para dar sorte e afastar os maus espíritos. Nesse mesmo dia, a cidade recebeu a notícia de que o Coronel Plumer e as suas tropas iriam chegar a Mafeking nos próximos dias.

A Insígnia de Aquelá (Insígnia de Akelá dois dentes)

De 1922 a 1925, aos formandos do curso para Chefes de Alcateia que terminassem com sucesso, era oferecido um dente canino de lobo - A Insígnia de Aquelá -, em vez das contas de madeira. Os formadores destes cursos recebiam dois dentes. 

Em 1925, a mesma comissão que decidiu acabar com o uso do dente, instituiu o uso de uma pequena conta colorida, imediatamente acima do nó do colar, para identificar a secção a que respeitava o curso tirado: amarela para lobinhos, verde para escoteiros e vermelha para pioneiros. Em 1927, a mesma comissão decidiu-se por cancelar o uso da conta. O padre Jacques Sevin, fundador dos Scouts de France, foi um dos recebeu a Insígnia de Aquelá (dois dentes).

 Colares com mais de 4 contas. (ver colar de seis contas de BP.).
Quando os primeiros países estrangeiros começaram a ministrar os seus próprios cursos de Insígnia de Madeira, os diretores desses cursos eram nomeados representantes do Parque de Gilwell nos seus países, usando um colar com cinco contas, uma suposta tradição lançada por B-P. O próprio B-P usava um colar com seis contas. O outro colar de seis contas que surgiu foi oferecido por B-P a Sir Percy Everett, que o auxiliou desde os primeiros dias do escotismo e esteve diretamente ligado à formação de dirigentes. Em 1949, Everett entregou o seu colar de seis contas ao Chefe de Campo do Parque de Gilwell, John Thurman, para ser usado pela pessoa responsável pela formação de adultos na Inglaterra, tradição que se mantém ainda hoje.

 A anilha (anel ou arganéu como é conhecido hoje).
No início da década de 1920, B-P terá sugerido ao staff do parque a criação de uma anilha especial para ser usada com o lenço de Gilwell. William Shankley, um australiano de 18 anos, membro do staff do parque, terá usado um atilho de couro (muito usados para fazer fogo por fricção, uma prática comum nos primeiros cursos) para produzir um Nó de Cabeça de Turco com duas voltas, que foi adotado como anilha oficial de Gilwell. O termo “woggle”, que não é usado fora do escotismo, pode ter sido ideia do próprio Shankley, mas Gidney tornou-o popular, ao publicar um artigo sobre o assunto na revista “The Scout”, em 1923. Em 1943, o Chefe de Campo, John Thurman, instituiu a atribuição da anilha aos dirigentes que completassem a primeira parte (formação básica) do curso, sendo o lenço e o colar de contas atribuídos no final da segunda parte do curso (formação avançada).

 O machado no tronco
Francis Gidney, o primeiro Chefe de Campo em Gilwell, procurava um símbolo especial para o parque, que marcasse uma grande diferença entre este e a sede nacional, apesar de ser, também, propriedade da associação. Gidney queria que o símbolo representasse bem as atividades ao ar livre e a técnica Escotista, que eram vividas em Gilwell, em contraste com o ambiente administrativo e comercial dos serviços centrais. Os cursos ministrados no parque eram muito práticos e o uso do machado era frequente, sendo dada muita importância a questões de segurança com estes e outras ferramentas. Sempre que não estavam a uso, os machados deviam ser cravados num tronco, para evitar acidentes, pelo que havia bastantes machados em troncos espalhados pelo parque. Foi neles que Gidney se inspirou ao criar o símbolo de Gilwell.

 Portão dos Leopardos
Construído por Don Potter, em 1928, é, ainda hoje, um elemento simbólico do Parque de Gilwell. O portão marca a entrada do Parque de Gilwell, embora não seja usado. O portão tem este nome por causa de dois pequenos leopardos, esculpidos em madeira, no topo de cada uma das cancelas. Um dos leopardos desapareceu, há muitos anos atrás, tendo sido substituído, mas voltou a desaparecer, tendo Potter feito outro, em 1997, quase aos cem anos de idade. Potter fez parte do staff de Gilwell durante vários anos, tendo-se especializado no trabalho com madeiras.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “Sobras” de acampamento.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“Sobras” de acampamento.

Prólogo: - “Sobras” de Acampamentos/acantonamentos, são objetos deixados pelos lobos e escoteiros (até mesmo seniores) na inspeção final de acampamento/acantonamento encontrados durante a inspeção final.

                   Alguns chefes praguejam, outros aproveitam para comentar onde está o erro e tem alguns que dão belas risadas. As sobras de acampamento e acantonamento existem mesmo em alcateias e tropas bem adestradas. Uns chamam de sobras, outros de bagaço e tem aqueles que explodem com os monitores e dizem: De onde veio este lixo?

                   As boas alcateias e boas tropas nas suas atividades sejam elas quais forem fazem inspeções diárias ou de surpresa. O material individual é bem periciado. Confere-se tudo. Desde o material de higiene individual aos talheres e roupas. Na maioria das vezes está tudo lá e o Chefe experiente pensa que desta vez as “sobras” serão de menor monta. Não é. Lá está a indefectível sobra quando se faz a inspeção final.

                   Assim como eu, os velhos chefes escoteiros e de lobos já devem ter visto coisas do arco da velha em uma inspeção de Gilwell. Coisas de estarrecer o Chefe de Campo de Gilwell Park. Tudo bem que os meninos e as meninas (estas são mais cuidadosas) estão aprendendo. Não é assim que se diz? “Aprender a fazer fazendo”. Mas isso acontecer em um curso de chefes, adultos experientes (assim pensamos) é madeira de dar em doido.

                   Já vi em final de Cursos quando da inspeção final, objetos que nunca pensei encontrar nas “sobras” de acampamento. Cigarros, caixa de fósforos, cuecas, garfo, caneca, meias e tanta parafernália que uma vez achei uma revista Playboy com várias folhas arrancadas. Pode isso? Olhe que naquela época se exigia muitos conhecimentos dos chefes alunos para participarem de um curso desta envergadura. Mas não vamos muito longe, na Barraca da chefia ao ajudar no desmonte, lá estava um garfo, uma caneca e uma carteira cheia de dinheiro. Nossa!

                   Agora nos acantonamentos e acampamentos, principalmente quando ainda são jovens pata tenras (noviços, iniciantes) a coisa se complica. A coisa? “Minino eu vi”! Ao final de acampamento/acantonamento, a inspeção por Matilha ou por Patrulha muitas vezes seria necessário levar um carrinho de mão para recolher as sobras. E achar os donos? Sempre sobrando alguma coisa e levando para a sede. Agora era esperar a mamãe reclamar com o Chefe.

                   Como aprendemos que entregar o local melhor que encontramos seria ponto de honra, a inspeção final não pode deixar de existir. Um raio de 300 metros em volta do local de acampamento deve ser inspecionado. É ali que se encontram coisas do arco da velha. Se houver caminhada até a sede ou até o transporte de volta, os novatos aproveitam para esvaziar a mochila e carregar menos peso. Mentira?

                   Bem pode ser para você. Para mim não e olhe para muitos chefes também. Conheci chefes adestrados e bons mateiros ao fazerem a inspeção final ficam de boca aberta. Cobertores, calças, camisas, estojo de higiene, sapatos, pratos, garfo colher canecas deixadas ao leu. Haja carro para levar tudo de volta.

                   Mas meus amigos chefes sabem que isso faz parte do adestramento e do aprender a fazer fazendo. Sabemos que a maioria dos chefes treina ou adestra seus monitores e a Akelá os seus primos. Algumas sessões fazem isso pelo menos uma vez por mês. Afinal manter seu material faz parte do nono artigo da lei. Não é fácil equipar o material da Patrulha, da chefia ou da alcateia. Perder materiais de sapa muitas vezes é desleixo e vai fazer enorme falta para a próxima atividade de campo. Bom quando se tem um intendente ou almoxarife bem adestrado. Merecem uma medalha de Parabéns!

                   O importante é treinar ou adestrar como se diz os chefes de antigamente. Todos podem errar uma duas ou três vezes, mais que isso alguma coisa está errada. É ruim quando a mãe nos cobra a falta de algum objeto do seu filho. Podem não acreditar, mas em um acampamento de distrito, quando todos já tinham ido embora encontrei uma mochila com todo seu material encostado em uma árvore de um Chefe que displicentemente pegou o ônibus e foi o mais alegre cantante na viagem!