Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Zé das Quantas um herói escoteiro.




Conversa ao pé do fogo.
Zé das Quantas um herói escoteiro.

Prefácio: - Zé das Quantas é um Chefe escoteiro. Daqueles que lutam de sol a sol para ganhar uns trocados para sua família e os escoteiros. Zé das Quantas é o Chefe do Escoteirinho de Brejo Seco. A sua maneira ambos são felizes. Para mim eles representam o verdadeiro espírito escoteiro de Baden-Powell.

                    O escotismo difere de tudo que se conhece em termos de estrutura, normas e regulamentos de outras organizações ou associações. A burocracia é grande demais. São normas, estatutos, POR, determinações e etecetera e coisa e tal. Como ele tem uma filosofia jeitosa, catita e formosa atrai um séquito de admiradores que tudo fazem para servir a associação. Não existe discordâncias e as poucas que existem são logo cortadas pela raiz. Sem dó sem piedade!

                          Nossa liderança hierárquica desde o topo até o mais novo lobo aprende desde cedo que servir faz parte do crescimento individual. Belo isso e não se pode negar. Elogios aos chefes quase não existem, há não ser um ou outro que faz por amizade. Sei que quando tudo vai mal dizem que a culpa é dos chefes. Todos sabem que são eles os heróis para manter a associação, por os jovens na trilha com suas bandeiras cantando pelos quatro cantos do pais. Seria possível ter escotismo sem os chefes? Os arautos e distintos dirigentes dirão que não. Mas se perguntar ao Zé das Quantas ele dirá sem sobra de duvida que sim.

                          Nada se compara a Inglaterra pós-vitoriana de 1908 quando BP sentiu a necessidade de buscar ajuda para que os jovens não se perdessem nas práticas copiadas do “Scout for Boys”. Pergunte ao Zé das Quantas, ele dirá que nem sabe o que é isso. Ele ainda faz escotismo do cipó, da carretinha, do arroz com macarrão, do pé na estrada em busca de um lugar para acampar. Os Escoteirinhos de Brejo Seco adoram. Zé sabe que sua vida é dura, tira seus sustento do seu trabalho e sem ele não teria arroz com feijão. Adora falar aos seus escoteiros sobre a Lei sobre a lealdade, sobre a honra e o caráter.

                      Zé dá belos sorrisos quando as tardes em sua casinha de taipa a escoteirada chega para contar “causos” falar de jogos, de aventuras de andanças por estradas e trilhas desconhecidas. O Escoteirinho de Brejo Seco é o primeiro a chegar. Ele já viu chefes capitalistas, endinheirado e nunca se sentiu preterido. Nunca foi a uma atividade regional ou nacional. Só conhece Brejo Seco e ama seus escoteirinhos.  

                         O Chefe Zé das Quantas acredita em anjos. É um rezador sempre pedindo ao senhor em primeiro lugar pela sua família e em segundo para seus meninos. Mas no fundo ele sabe que este anjo não vai aparecer. Ele sabe que tem de trabalhar sozinho. Seus meninos e meninas mesmo poucos e pobres precisam dele. Ele sabe que os pais não se preocupam. Ele não pode simplesmente abandonar tudo. Dizer: - Melhor fechar o Grupo Escoteiro. A luta é difícil. Ele sabe que não fará isto. Entristece por falta de um certificado, um distintivo, um registro, mas está sempre alegre quando aos sábados muitos estão a sua espera faça sol ou não.

                             Zé das Quantas é um daqueles heróis escoteiros desconhecidos que sabe que o vento nem sempre sopra a favor. Ele ama o que faz. Nunca critica seus superiores. Sempre com um sorriso quando lê sobre as reuniões, Indabas, Jamborees e assembleias e sabe que dificilmente estará presente. Para isso precisa ter muitos tostões coisa que ele não tem. Não tem ideia de como “tirar” uma Insígnia e nem tem ideia de Gilwell Park. Sabe que nunca será registrado, nem vai receber medalhas e certificados. Ele é um eterno desconhecido. Tentou uma vez fazer um curso. A taxa salgada. A meninada trabalhou duro, fizeram uma vaquinha, mas na última hora desistiu. "Mainha" sua esposa encantada adoeceu. Quem sabe um dia? Suspirou sem se sentir culpado.

                             Zé das Quantas sabia dos sonhos do Escoteirinho de Brejo Seco. Queria ir num Jamboree, qualquer um – Chefe vai ser bom demais. Dizer o Que para o Escoteirinho? Olhou para seu uniforme, já desbotado, doado por alguém que cresceu e não está lá mais. Cara mirrada, escola idolatrada, dizendo sempre que ia ser doutor. Zé das quantas nunca se importou com elogios, condecoração, pois na sua mente seus únicos sonhos era vivenciar com amor a sua família e seus escoteiros. Nunca sonhou em ter uma Bom Serviços, Gratidão e até mesmo um tal de Tapir. Diziam que isto é só para quem prestou enormes serviços ao escotismo. Afinal ele um esfarrapado pelintra sem eira nem beira não podia sonhar com essas coisas.

                            Zé das Quantas tinha medo. Medo que se um dia fosse morar na casa do Senhor não haveria substituto. Nas reuniões, nas estradas, nas trilhas ou em marcha sempre conversava com seus escoteirinhos sobre isso. Dizia que onde tem um escoteiro tem uma tropa, onde tem bons monitores tem uma penca de chefia. Caminhem com suas próprias pernas! Repetia o bordão de Caio Vianna Martins o herói da tropa. Um dia fez um pé de meia e partiu para um curso escoteiro. Engraxou seu sapato da missa, mandou colocar uma meia sola. Ajeitou sua meia puída, meteu no seu chapéu um pouco de goma e lá foi ele no trem das onze da noite para a capital.

                            Chegou humilde, dizendo “tarde” “Alerta” e só uns poucos responderam. Adorou o curso, aprendeu sobre um tal de POR de Estatutos, aprendeu sobre a tal ECA (lembrou-se das risadas de seus escoteirinhos quando contou) viu que havia lei e norma para tudo inclusive para criança. Interessantes que não comentaram sobre patrulhas, Monitor, encargos e tantos mais que ele queria saber. Até pensou que um dia iria receber a visita do Doutor Comissário. Nunca apareceu.

                           Até hoje aos sábados e domingos, Brejo Seco vibra com a passagem dos seus escoteirinhos, marchando animados, com suas mochilas feitas de pedaços de lona que ganharam de Seu Postácio dono do Chevrolet Boca de Sapo de 1950 que fazia transporte mesmo fiado para qualquer morador. A verdade é que assim vivem muitos escoteiros em muitas cidades deste enorme país. Sem registro, sem sede, poucos badulaques na sua intendência, mas sempre com sua bandeira puída, com um belo sorriso e aprendendo com seu Chefe a arte de ser um homem honesto e bom.

                           Se você meu amigo é um Zé das Quantas, Chefe dos Escoteirinhos de Brejo Seco, aceite meu abraço. Meu orgulho em ver quem faz escotismo independente de ter lideres que não valorizam quem faz o melhor escotismo no Brasil!

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Pequenos contos de fim de ano em volta do fogo. O ano assim como chegou ele se foi...



Pequenos contos de fim de ano em volta do fogo.
O ano assim como chegou ele se foi...

                    Não era uma praça, não era uma selva, era um descampado fora da cidade onde aqueles chefes irmãos se reuniam após a noite de natal em volta de um fogo, para cantar, relembrar, louvar as aventuras, as vicissitudes e tantas coisas mais. 2018 se foi, agora era a hora de 2019. Dava prazer em ver através da chama vermelha os sorrisos, os sonhos a mostra, cantados em versos e a alegria reinante por vários anos de eterna amizade.

                    Ele chegou calmo como aconteceu nos anos anteriores. Um sorriso simples pediu licença e sentou junto a eles em volta da fogueira. - Chefe desculpe... Não sei se tenho direito a palavra, mas a peço educadamente. Sei que devemos ser exemplos, mostrar força, agir como educador. Mas Chefe, minha força de um Escoteiro saudável não é mais aquela do passado. Aquele “Eu vou fazer” eu “vou enfrentar” são sombras de uma lembrança que vão ficando para trás. A memória vez ou outra parece estar brincando de esconde-esconde. Eu tento a minha maneira de Lobinho o que aprendi sorrindo e me esquecendo de chorar.

                    Afinal Chefe não dizem que tentar levar a vida a sério não tem a menor graça? Meu eterno monitor Sênior vivia a dizer para mim: Meu irmão escoteiro valorize cada momento enquanto estiver vivo como se fosse o mais especial da sua vida. Afasta o que te machuca. Reaproxima o que te faz bem. Saudades dele também Chefe. Foi um Monitor e amigo que nunca mais esqueci.

                   Vou fazer agora o que nunca fui bom em fazer. Repousar e deixar a vida passar. Terei outro substituto. Preciso de férias do abecedário. Está difícil continuar. A mente não é mais aquela que dava um salto e do nada aparecia uma trilha para descobrir um bom lugar para acampar. Dizem para mim Chefe que eu tenho ainda muita estrada para percorrer. Sinceramente não sei...

                   Como dizia Zé do Monte um amigo Pioneiro, alma mole, vida dura... Tanto bate até que cura. Sabe Chefe, peço desculpas pela intromissão. Assim como cheguei estou saindo. Não me leve a mal, são reclamações entre Velhos escoteiros. Afinal a vida nos ensina tanto, não é Chefe? Sei que vai me dizer com a bondade de sempre que nunca perca a esperança. Aceito Chefe. A gente não sabe o que o amanhã vai nos trazer.

                   Levantou-se do banco de madeira, esfregou as mãos no calor do fogo, olhou sorrindo para mim e disse: Sempre Alerta Chefe. Obrigado por tudo. Vou dormir e tenho certeza que amanhã é outro dia. Tenho certeza que alguém mais novo virá me substituir em 2019. Dizem que será o ano da redenção! - Como foi o que o poeta disse Chefe? – “Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira”.

                   Saiu cantando a “Bela Polenta” rumo desconhecido, passos calmos e sensatos, pegou a estradinha do ano que passou e sem olhar para trás e dizer adeus sumiu na curva do caminho de final do ano. Ainda dava para ouvir baixinho sua canção. Os chefes ali sentados sorriram e quem sabe com uma pitada de inveja, também cantaram a Bela Polenta em homenagem aquele ano tão cheio de graça esperando que o que vai chegar seja o que todos os Antigos Escoteiros do mundo sonham e esperam!