Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

“Pelas barbas do Profeta”. Adônis conseguiu sua Insígnia de Madeira.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
“Pelas barbas do Profeta”. Adônis conseguiu sua Insígnia de Madeira.

                     Ninguém acreditava que ele um dia seria mais um Insígnia de Madeira. Claro, todos sabiam que era um Chefe Escoteiro esforçado. Presente. Seus 25 anos lhe davam um aspecto juvenil. Quem não soubesse diria ser ele um Sênior ou Pioneiro. Foi sim Escoteiro quando jovem. Ficou menos de três anos. Não voltou mais. Um dia viu uma Patrulha em um shopping. Não gostou do que viu. Parecia não ter espírito Escoteiro. Não deviam estar preparados para esta atividade. Os interpelou. Não o levaram a sério. Foi para casa pensando. Criticar não adianta. Porque não voltar a participar? – Voltou. Cheio de gás. Foi bem aceito no grupo. Um ano como Assistente. Não perdeu tempo. Engoliu livros, fez todos os cursos que podia fazer. Era o orgulho do seu assessor pessoal.

                     Com dois anos na tropa assumiu a chefia. Não porque quisesse, mas o titular desistiu. Achou que seu tempo estava sendo usado muito no escotismo e sua família estava sendo prejudicada. Adônis deu tudo de si. Os jovens o amavam e ele amava os jovens. Aprendeu a ser amigo. Aprendeu a ser um irmão mais "Velho". Aprendeu a respeitar. Sem ninguém saber começou a responder o questionário. Na parte prática já tinha feito o avançado. Seu “caderno” foi devolvido. O leitor colocou várias ponderações. Estudou tudo e enviou de novo. Mais uma vez devolvido. Espere mais um ano. Você é novo. Só está no escotismo há três anos. Não concordou. Enviou um oficio – Qual a idade para ser um Insígnia de Madeira? O leitor ficou sem jeito. 

                     Um dia, um sábado apareceu um chefe. Desconhecido. Olá! – disse. Entabulou conversa. Cutucou. Olhou seu programa, conversou com alguns meninos. Não disse para que veio, deveria ter dito. Adônis acreditava que entre escoteiros não existe segredos. A lealdade acima de tudo. O Chefe se foi. Dois meses depois o Comissário Distrital e um Assistente Regional apareceram na sede. Após o cerimonial ele foi chamado à frente. Entregaram-lhe a Insígnia. Ele tremeu. Ficou vermelho. O lenço de Giwell agora adornava seu pescoço. Os demais chefes do grupo o saudaram. Não estavam acreditando que ele conseguiu. A maioria tinha seis sete ou mais anos de escotismo.

                     Adônis não dormiu naquela noite. Pensava – O que muda em mim com este lenço? Sei que muitos me olharão com respeito, mas não sou o mesmo quando não o tinha? Meus conhecimentos não eram o mesmo? Agora irão me convidar para muita coisa no escotismo. Deverão achar que agora sou tutor e não mais tutorado. Só um lenço mudou tudo? Já posso dar curso? Serei aconselhador? Serei chefão? Que lenço é este que só me trás duvidas e não certezas? – Adônis dormiu. Sonhou muito. Teve até pesadelos. Leves, mas alguém lhe tomava o lenço no sonho. Acordou suado. Meu Deus! O que é isto?

                     Passou a ir para as reuniões sem o lenço da Insígnia, usava o do grupo não só nas reuniões como também em outras atividades. Deixou em casa também seu colar de contas. Pretendia fazer um enorme quadro com seu certificado. Desistiu. Cobraram dele sua Insígnia. Ele abaixou a cabeça e não disse nada. Durante meses tentava ser o mesmo. Difícil. O que um lenço não faz. Em minutos após você receber passa para outra dimensão. A dimensão dos que tudo sabem. Mas não era o caso dele. O que ele sabia aprendeu antes. O Distrital mandou lhe chamar. – Soube que não tem usado seu lenço? – Por quê? – Não sei respondeu. – Explique melhor – Ele não sabia o que falar. Queria dizer que era mais feliz antes de ter este lenço. Antes eu dava risadas, brincava com todos e achava que era irmão de todos. Agora tudo mudou. Quando me colocaram o lenço disseram que eu era outro, agora eu pertencia ao Grupo do Giwell, que eu devia agir como um líder IM. Os chefes não mais o olhavam olho no olho Não gostava nada disto.


                     Um fim de semana prolongado resolveu reler o livro O Guia do Chefe Escoteiro de Baden-Powell. Já tinha lido. Ficou o dia inteiro com ele lendo. No sábado seguinte chegou à sede com o lenço e colar. Nunca mais o tirou. Viu que muitos chefes IM em seus grupos usavam o colar com o lenço do grupo. Não fez assim. Amava o Grupo Escoteiro. Todos sabiam disto. Não era usando um lenço do grupo que seu amor iria aumentar. Nunca aceitou nenhum cargo. Nunca aceitou ser considero melhor. Era apenas um Chefe, um Chefe amigo, simples, fraterno, um Chefe como tinha pensado BP no passado. Tinha orgulho do seu lenço, mas seu passado de amigo e irmão dos jovens não ia mudar nunca. Até hoje ele é um portador da Insígnia, mas para seus meninos ele é seu Chefe independente do lenço que usava. Tem mais? Sim, ele nunca aceitou outro cargo fora da tropa. Ali era seu lugar!  

BADEN-POWELL – CIDADÃO DO MUNDO!


BADEN-POWELL – CIDADÃO DO MUNDO!

155 ANOS SE PASSARAM DO NASCIMENTO DE BADEN-POWELL – SEM ELE O ESCOTISMO NÃO EXISTIRIA E O MUNDO ESCOTEIRO NÃ OSERIA O MESMO.

“Em 22 de fevereiro de 1857 nasceu, em Londres, capital da Inglaterra, o menino Robert Stephenson Smith Baden-Powell, que mais tarde seria famoso no mundo inteiro, como Fundador do Escotismo”. 

Hoje uma data histórica, data que mais de 160 países lembra com alegria o nascimento de um grande homem. Acredito que ninguém sobrepujou BP entre os jovens Escoteiros do mundo que festejam hoje a sua moda o nascimento do seu fundador. Seu escotismo é hoje praticado de maneira idêntica e se mantem inalterado sua metodologia. Falar de sua vida, de suas paixões não é preciso. Todos os jovens conhecem sua trajetória nunca igualada.

Apenas para não passar em branco, pequenas histórias de seu passado glorioso:

Baden-Powell foi sempre um apaixonado pela África. Não só adorava este continente, mas também as suas pessoas e a sua cultura. Desde cedo que estudava os seus dialetos, procurando conhecer os povos africanos, respeitando-os como aliados e adversários. BP seguiu de perto o povo Zulu que se impressionou com o jovem militar britânico, sobretudo pela sua coragem e destreza. Este povo atribuiu-lhe vários nomes com base em aspectos da sua personalidade.
 M’hlalapanzi – O homem que faz os seus planos com cuidado;
 Kantankye – O homem do chapéu grande;
 Impeesa – O lobo que nunca dorme;
 Baden-Powell de todos os nomes que os Zulus lhe deram aquele que sempre admirou foi o de Impeesa, por considerar o maior elogio que jamais recebera.
Impeesa é o apelido dado pelos nativos da África do Sul para Baden Powell e significa "O lobo que nunca dorme" e refere-se à grande capacidade que tinha em planejar e perseguir seus inimigos.

QUE SEU NOME SEJA LEMBRADO POR TODA A VIDA COMO NOSSO CHEFE ESCOTEIRO MUNDIAL.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Caminho para o Sucesso.


Crônicas escoteiras.
O Caminho para o Sucesso.

           Lenin tinha oito anos. Um menino triste e como lobinho não sorria. Estava ali sempre nas reuniões de Alcateia porque sua mãe sempre o levava. Se dependesse dele não voltaria mais. Quando entrou pensou que era o que disseram para ele, mas se enganou. Não ia negar que fez vários amigos e que aprendeu algumas coisas. Quase nenhuma tinham significado para ele. Os chefes exigiam muito e sempre chamando a atenção. Ele preferiria sua professora. Ela pelo menos lhe dava os parabéns quando ele tirava uma nota mais alta. Sua matilha cinza parecia estar sempre cansada e desanimada. Ninguém corria ninguém se interessava. Diversas vezes falou com sua mãe que gostaria de sair. Não estava sentindo nada e nem gostando das reuniões. Sua mãe insistia. Disseram para ela que o escotismo era uma fonte de sabedoria, onde o menino aprende muitas coisas. Insistia para ele continuar. Obediente Lenin continuou.

             Corina ia para as reuniões sem nenhuma motivação. Porque deu sua palavra ao Chefe Jaildes antes de morrer, ainda continuava. Mas por quê? Afinal ela não gostava de seus lobinhos? Podia até ser. No entanto a cada dia mais e mais ela estava desanimada. Até que quando entrou pensou que seria diferente. Nos primeiros meses foi ótimo, mas o tempo foi passando e ela não encontrou o que queria como Chefe de lobos. Mas afinal de conta o que ela queria? O que pensava? Tinha inteira liberdade e nunca foi questionada na Alcateia. Acostumou a ver os minguados lobos e lobas presentes. Eram seis meninos e oito meninas. Dificilmente os 14 estavam presentes. Sempre tinha três ou quatro faltas.  Ela lembrava no passado quando a alcateia chegou a ter 26 meninos e meninas. Foram saindo um por um. Chegou a ter quatro assistentes, mas todos a deixaram na mão. Ninguém quer sacrificar. Só querem “moleza” ela pensava. Ela nunca olhou para dentro de si.

               Marco Polo estava desiludido. Dois anos de lobo e mais dois de Escoteiro pensava o que estava fazendo ali. Devia ter saído. E porque não saiu? Achava que foi porque sempre acreditou que tudo ia mudar. Um ou dois acampamentos por ano, o Chefe levava todo mundo e lá tinha lobos, Escoteiros e seniores. Seniores? Um dia pensou em ser um deles. Agora com treze anos dizia para si próprio que não ia chegar lá. Não via eles fazerem nada. Eram quatro dois rapazes e duas moças. De vez em quando davam um grito de guerra que ser sênior é bacana, que o sênior é o tal, que o senhor desconhece as dificuldades e por aí eles gritavam como se estivessem com sono ou quase dormindo. Chegou a comentar com Rildo da sua patrulha que ia desistir. Nunca falaria com o Chefe Benevides. Ele sabia que ia ouvir o que não queria. O chamaria de fracote e que ali na tropa era lugar para homens de coragem.

              Chefe Benevides era daquele tipo bonachão, sempre risonho. Era caixa de banco e nunca mandou em ninguém. Quando lhe convidaram para a chefia ele pensou que iria gostar. Até que não era ruim. Ver a turma esticada e correndo ao ouvir o apito lhe dava prazer. Mas ele gostava mais era de cursos. Lá todos da sua idade e ele podiam mostrar que era um grande Escoteiro. Adorava fazer amigos, discutia com qualquer um as vantagens do escotismo. Era bem quisto por muitos chefes que o conheceram. Mas sua tropa fazia pena. Insistia em ter quatro patrulhas mistas, mas até a Lobo que sempre a presença era boa estava agora diminuindo. Eram quatro meninos e oito meninas. Nunca a tropa cresceu e ele acostumou em ver patrulhas com dois ou três jovens. E dai? Ele gritava para todos. Aqui é lugar para quem tem fibra, afinal nem todos nasceram para ser Escoteiros. Quem faltar vai para a rua!

            Chefe Galdino tinha 63 anos. Mais de vinte e cinco de escotismo. Julgava-se o tal. Era o diretor Técnico. Mandava em tudo. Determinava o que fazer a cada um. Quando se aproximava um pai ou um interessado em ajudar ele ficava igual ao galo de briga. Bem vindo! Mas quero lealdade, meu grupo só tem amigos. Temos uma disciplina e não saímos dela por nada. Eu serei seu assessor pessoal e vou lhe ensinar tudo. Infelizmente o voluntário quando era encaminhado para uma das sessões desistia logo. Era só conversa atravessada e ele sentia que ali não era seu lugar. Na Alcateia a filha da Akelá fazia o que lhe desse na telha. Seu uniforme cheio de distintivos. Via que ela não gostava de dividir tarefas e nem pedir sugestões. Chefe Galdino sabia que ali era seu terreiro. Ele o galo mandava. O Distrital o admirava. Quando comparecia em reuniões do distrito e da região era festejado como um grande Chefe e dos mais antigos. Ganhou três medalhas. Se ele mereceu ninguém perguntou.

                Jofre sempre quis ser Escoteiro. Jofre não tinha família. Foi criado por uma amiga de sua mãe que sumiu no mundo. Jofre adorava Dona Lena. Estudou muito e se formou como Engenheiro de minas. Viajava muito e foi eleito para ser o Diretor/Presidente da empresa que trabalhava. Agora como executivo ele viajava pouco. Procurou o grupo Escoteiro perto de sua casa. Uma recepção fria, não era o que e esperava. Jofre era um homem instruído apesar dos seus vinte e seis anos. Conhecia bem sobre relações humanas e sentiu que naquele grupo isto não existia. Nem na área militar poderia ser visto o que viu. Jofre não desistiu. Chefe Galdino o olhou enviesado. Via ali um inimigo, mas não aceitar? Deixa-o comigo pensou. Como seu assessor pessoal eu o coloco no lugar ou ele sai daqui com o rabo entre as pernas! Sempre foi assim.

              Jofre não era homem de fugir. Desafios para ele eram como doce de leite que ele sempre comia com prazer. Comprou uma verdadeira biblioteca escoteira. Lia em suas horas vagas e mesmo não concordando com as normas do Regimento Interno ele fez dele seu amigo de cabeceira. Esperou pacientemente o dia da Assembleia de Grupo. Como não viu nenhum comunicado interpelou o Chefe Galdino. – Não fazemos sempre. Mas este ano é de eleição e vai ter. Jofre sabia que ele era o dono de tudo. Nas sessões os chefes também não abriam mão. Não davam valor aos assistentes. Não havia reuniões de Chefes de Grupo. A tropa definhava e a Alcateia também. Conversou com alguns pais insatisfeitos. Montou as claras uma diretoria. Um susto para o Chefe Galdino. Nas assembleias sempre comparecia um numero mínimo. Poucos pais compareciam. Naquela assembleia ele se assustou mesmo. Nunca viu tanta gente. A diretoria do Chefe Jofre foi eleita com folga de votos.

              Chefe Galdino chorava num canto. Chefe Jofre foi até ele e lhe deu a mão. – Preciso de você, você é importante no grupo. Um abraço sincero e Chefe Galdino de olho aberto aceitou continuar. O grupo cresceu. Em dois anos já estava com um efetivo de mais de oitenta membros. A chefia cresceu. A Akelá Corina não aceitou a nova liderança. Chefe Benevides não quis perder seu status. Lenin hoje é Escoteiro e vibra com sua patrulha e sua tropa. Marco Polo é sênior e adora dar o grito de guerra com eles. Tudo mudou da água para o vinho. Chefe Jofre era um democrata. Nada fazia sem consultar a todos. As reuniões de chefia passaram a ser toda primeira sexta feira do mês. A frequência do grupo aumentou. No ano anterior só seis jovens entre oitenta existentes saíram do grupo. O distrito a princípio ficou de olho. Afinal o distrital também era daqueles que não passavam o bastão a ninguém. O mesmo na Região.
       

Já dizia Zíbia Gasparetto que a vida nunca pune. Ela ensina do seu jeito. Sinaliza de diversas formas, tenta advertir as pessoas provocando situações nas quais ela pode perceber a verdade, mas para os resistentes, que se acomodam e não querer mudar, ela permite que colham os resultados de seus enganos para que aprendam o que já estão maduros para saber. A verdadeira família é aquela unida pelo espirito e não pelo sangue. Aquele grupo hoje se orgulha em ser uma grande família. Escotismo é assim, ser franco sem ser egoísta, mesmo a contragosto tentar o máximo aceitar as pessoas como são, mas orientando quanto ao melhor caminho. Fim.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

João Papudo que morava nas florestas verdes do Brasil.


Lendas escoteiras.
João Papudo que morava nas florestas verdes do Brasil.

            O aviso estava dado. Chefe João Soldado (era sargento, mas o apelido pegou) autorizou. Batista nosso intendente logo nos disse que não nos preocupássemos. O material estaria pronto em vinte e quatro horas. Platão o cozinheiro iria entregar a lista de mantimentos para cada um dia seguinte bem cedo. Tudo era dividido. Pedrinho o Monitor sorriu de orgulho da patrulha. Todos sabiam como e quando deviam fazer. – Sairemos na quinta pela manhã. Vamos aproveitar bem o feriado. A reunião de patrulha acontecia na casa do Mino Pastel o sub. monitor. Seriam quatro dias bem aproveitados. Destino? As Florestas Verdes do Brasil. Que nome eim? Mas foi Ditinho quem a batizou assim. Estivemos lá duas vezes. Na primeira vez ao chegarmos ao cume do morro do João Papudo ficamos abismados. A floresta era verde, um verde musgo lindo, no seu seio muitos Ipês das flores amarelas. – Ditinho, para ser o Brasil falta o branco e o azul, eu disse. Ele riu. Vado Escoteiro O céu meu amigo e as nuvens em sua volta.

         Ninguém nunca esqueceu João Papudo. Ele tinha no pescoço um papo enorme. Hoje chamam de Bócio que é devido ao aumento da glândula tireoide. Fácil de operar nos dias de hoje, mas naquela época não. Ficou nosso amigo pelo simples fato de o cumprimentarmos, tomar café com ele e comer sua “brevidade” uma das melhores que já comi. Ninguém gostava dele. Logo ele uma alma de Deus. Só por causa do papo no pescoço todos tinham medo e asco. Um absurdo. Na primeira vez que chegamos lá para acampar assustamos. Ele estava na porta com uma foice enorme. Ninguém se mexeu. – Um café? Ele disse. - Porque não? Respondeu Pedrinho. Daí para a amizade foi um pulo. Ele queria conhecer o grupo e a escoteirada. –Apareça amigo, será bem recebido. Nunca foi. Quando ele precisava fazer compras ou vender suas plantações só ia à cidade à noite, e enrolava no pescoço um cachecol para ninguém ver sua deformidade.

           Foi Motosserra, isto é o Lorenzo o escriba da patrulha quem deu a ideia de uma vez por mês fazermos uma campanha do quilo e levar para ele. Na primeira vez chorou e disse não. Ele não merecia. Não falamos nada. Deixamos lá e voltamos. Pedrinho colocou em votação qual o melhor local para acamparmos naquele feriado prolongado. Foi descartada a Lagoa da Lua Branca, a montanha do Gavião, o vale do Esplendor e as campinas da flor vermelha. Eram ótimos locais, mas as Florestas verdes do Brasil ganhava de longe de todas e iriamos saudar nosso amigo João Papudo. Dito e feito, seis da manhã café no papinho, pé no caminho. Sete e meia a bordo das nossas máquinas voadoras chegamos. Na porta ninguém. Estranhamos. João Papudo sempre estava lá nesta hora. A porta estava aberta e chamamos. Nada. Entramos, pois ficamos preocupados. João Papudo estava gemendo e suando na sua cama de palha. Seu corpo tremia. No chão vimos muita água e sujeira, sinal que ele estava ali a mais de dois dias.

          O que fazer? Sabíamos que nosso acampamento nas Florestas Verdes do Brasil foi para o brejo. João Papudo tinha prioridades. Nunca iriamos deixá-lo ali a mingua e sem ninguém. Tinhamos que levá-lo urgente para o Hospital Santa Inês, o único da cidade. Mais de quinze quilômetros. Patrulha boa não se aperta. Luiz Nantes o Porta Corrente, nosso Sinaleiro e socorrista deu a solução. Mãos a obra. Duas horas e estava pronto. Fizemos uma maca com o toldo da cozinha, cada ponta amarramos em uma bicicleta. Usamos quatro e pé na taboa. Antes das onze estávamos na porta do hospital. Não o deixaram entrar. Ninguém se arriscou a ir ver o que se tratava. Pedrinho correu a chamar o Chefe João Soldado. Estava na sede do batalhão e veio correndo. Ameaçou, xingou fez tudo e eles nem deram bola. Foi até a casa do Juiz Ponderado e nada. Chamou o Delegado Praxedes e nada. Uma enfermeira Dona Adelaide nos chamou e deu uns comprimidos. Quem sabe ajuda? Com nosso cantil fizemos João Papudo tomar.

          Os Escoteiros e seniores do grupo estavam chegando. Uma aglomeração se fez. – Vamos levá-lo para a porta da prefeitura. Se o prefeito não tomar providencias ele vai ver com quem estão se metendo, disse o Sênior Jovialto, nove anos no grupo. Um mestre na ação no grupo. Aliás, tínhamos poucos amadores. O prefeito chamou a policia. Chefe João Soldado era policia. Nem deu bola. A patrulha Touro correu a sede e trouxe um enorme toldo da chefia. Armado com rapidez no jardim da prefeitura. Uma cama foi improvisada. João Papudo era tratado pelos Escoteiros na porta da prefeitura. Doutor Melão o prefeito foi lá reclamar. Pé de Pato um lobinho segunda estrela pegou na mão dele. – Doutor prefeito, venha ver como ele está. Afinal o senhor não tem coração? Ele deu meia volta e sumiu nas salas da prefeitura.  O povo aglomerava na praça em frente. Doutor Noel um medico antigo na cidade veio ver João Papudo. – Malditos disse – Um simples bócio faz dele um homem marcado? – Venham comigo a minha clinica.

               A história termina aqui. Doutor Noel tratou dele e conseguiu uma internação para operar na Santa Casa da Capital. Dois meses depois eu estava recebendo meu Correia de Mateiro. Orgulhoso, já tinha o cordão dourado e o vermelho e branco. Esperando a Primeira Classe. Poucos conseguiam. Tinham de ralar para conseguir. Todo mundo olhou para o portão. Eis que ali estava João Papudo em carne e osso. Agora não tinha mais o papo. Orgulhoso levantava a cabeça como a mostrar – Nunca mais! Doutor Noel, vocês e Deus me deram a alegria de viver. João Bonito (mudamos o apelido dele) entrou na ferradura, foi saudado com uma enorme palma escoteira. Não teve jeito, chorou igual menino. Fez questão de dar um abraço em cada um. Abraço gostoso, sincero, amigo.


             Seis meses depois João Bonito fez a promessa. Nunca vi ninguém chorar assim. Vá lá, uma promessa é uma promessa. Nossa tropa ganhou um novo assistente. João Bonito era um novo homem. Trabalhava durante o dia na prefeitura (o prefeito com vergonha e não querendo perder as eleições o admitiu como auxiliar geral) e a noite estudava. Três anos depois terminou o curso Técnico em Contabilidade. João Papudo perdeu o papo, mas ganhou uma cidade. Hoje e feliz cortejando Dona Mocinha uma alegre e linda jovem do Bairro Tatu Bola. Ficou um Chefe Escoteiro todo pomposo. As Florestas Verdes do Brasil tiveram nossas presenças por muitos anos. A casa onde João Bonito morava foi jogada ao chão para uma nova estrada até Muzambinho. Histórias que se foram histórias de Escoteiros. E quantas mais por este Brasil imenso?