Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Hora de dormir e quem sabe voar até as estrelas em um sonho que se transforme em lenda.


Hora de dormir e quem sabe voar até as estrelas em um sonho que se transforme em lenda.

             Existem histórias mais lindas que não seja aquelas contadas como uma lenda? Onde os acontecimentos são misteriosos, sobrenaturais e podemos misturar os fatos reais com os imaginários ou fantasiosos? Eu conto histórias portanto também conto lendas. De um simples fato o transformo além do imaginário popular, além da imaginação. A linguagem da escrita vai se modificando e a gente deixar a mente voar pelo espaço procurando aqui e ali pontos que preencham a mente e satisfaçam aqueles que vão ler ou ouvir alguém contar... Era uma vez... Quantos adoram quando você começa uma história, estas três palavras são mágicas: - Era uma vez...  Lembro-me de uma história ou lenda, noite escura, três patrulhas de Escoteiros e duas de escoteiras. O fogo crepitava em um Fogo do Conselho inesquecível. Deixei o fogo ir diminuindo quando iniciei a história. O local era ideal, uma floresta densa e ali naquela clareira meninos e meninas esperavam ansiosos a história ou lenda que o Chefe iria contar.

           Levantei de um salto, olhei na mata e gritei: – Ouçam a floresta! Eu disse. Ela está lá, aguardando que alguém lhe mostre o caminho! Uma menina levantou assustada e perguntou – Quem Chefe? A Moça de Branco que um dia morreu ali naquela cabana e quem ninguém até hoje sabe por que seu marido a matou! Ela chora todas as noites ao andar ao leu pela floresta. A menina sentou de olhos arregalados, todos olhavam para a floresta. Eu corri até a entrada de uma trilha fechada e a chamei – Nina! Venha, não vamos lhe fazer mal! – Notei que todos procuraram ficar mais próximos uns dos outros. Ninguém falava, um silencio total!  - Não a chame, você não tem este direito! Imitei uma voz cavernosa como se ele a voz estivesse ao meu lado. – Porque Lomanto? Por quê? Afinal você não a amava? Não disse que daria sua vida por ela? – Chorando com as lágrimas caindo sobre sua face ele me disse - Chefe, eu a matei com minhas mãos, mãos que gostavam de acariciar seu rosto. Eu me maldigo até hoje e sempre que posso saio do inferno que vivo para vê-la novamente aqui na floresta. Mas ela Chefe, ela não me quer mais. Diz aos gritos que me ama mas não quer me ver. Ela não queria morrer Chefe! Ela amava a vida! E eu a matei!

           Voltei devagar de costas rumo ao pequeno fogo bruxuleante, falei baixinho e tão baixinho como se estivesse engasgado e com uma voz forte – Não vou apertar sua mão! Você é um fantasma assassino! Não venha aqui participar conosco, nenhum desses jovens meninos e meninos irá gostar de ver seu rosto cheio de cicatrizes, suas mãos apodrecendo, seus cabelos caindo, este cheiro de enxofre e seus braços cheio de bichos do inferno. Se afaste! – Um burburinho na tropa, se ajuntaram mais, o fogo ia diminuindo, a floresta parecia invadir a pequena clareira que nos servia de abrigo para aquele Fogo de Conselho. – Um menino noviço ainda tremendo me pediu quase chorando: - Chefe, mande-o embora. Ele matou sua mulher, não quero vê-lo por favor Chefe! Alguns soluçavam, outros me pediram para parar. – Não tenham medo, eu vou clamar as almas do outro mundo presas no inferno para levá-lo onde ele merece ficar. Queimando para sempre junto ao Demônio.

           Não sei se era minha história, se era minha lenda mas o fogo que quase se apagava de supetão se elevou no ar, a clareira ficou como se fosse dia. Milhares de fagulhas subiam para o firmamento. Um trovão se ouviu no céu. Todos deram as mãos, ficaram em pé e gritavam – Chefe queremos voltar à barraca, por favor Chefe! – Calma jovens Escoteiros, não precisam ter medo, Lomanto foi embora, Nina com seu vestido branco também. Não vamos vê-los nunca mais. Terminei a lenda cansado, ofegante, dei tudo de mim para que ele fosse verdade. A cadeia da fraternidade foi feita rapidamente. Na volta ninguém queria ir à frente e ninguém atrás. Os Escoteiros e escoteiras estavam juntinhos e havia um silencio sepulcral. Foram dormir, muitos rezaram, eu fui para minha barraca. Estava só. Sentei em um pequeno toco onde ainda jazia um pequeno fogo que fiz antes do anoitecer e pensei na história na lenda que contei e um arrepio correu pelo meu corpo, senti uma mão no meu ombro, tremi da cabeça aos pés! – Olhei era ela, Nina, vestida de branco, linda, a mulher que morreu. – Obrigado Chefe, o senhor me ajudou. Ele agora vai me deixar em paz!

        Fui dormir tarde depois da meia noite, sentia na pele o orvalho da madrugada caindo, dei a ultima volta nos campos de patrulha, todos dormiam, pensei comigo que história são histórias, lendas são lendas mas existem algumas que podem se tornar realidade. Que Nina descanse em paz e que Lomanto se arrependa do que fez. Os anos se passaram. Minha mente voa pelo passado quando contava histórias e lendas e fazia a escoteirada sorrir e sonhar. Contei centenas de histórias e lendas neste mundo de Deus. Em florestas, em montanhas, em vales enormes cheio de cachoeiras, em picos sem fim. Contei histórias nas campinas do meu estado e de tantos outros, contei histórias e lendas nas margens de um lago gelado história que ao contar gelei. Hoje passado muitos anos até hoje ainda encontro com alguns Escoteiros ou escoteiras que estiveram lá naquela clareira e sempre me dizem e juram que viram Nina chorar...


          Gosto de contar histórias e gosto de Lendas, porque as lendas são envoltas em Mistérios e Magias. São uma criação dos caminhos da mente, da vaga imaginação da liberação dos silêncios da alma...

Cachorro "Velho".


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Cachorro "Velho".

         Há muitos e muitos anos recebi uma Nota de Arquivo de um Diretor da minha empresa que entre diversos outros comentários me dava prazo de 20 dias pra demitir 45 funcionários. Em nosso armazém éramos 180 e sempre achei que trabalhávamos em numero muito reduzido. Ordens são ordens ou eles vão ou eu serei sacrificado pensei. Quem escolher? Os solteiros? Os mais velhos? Os mais antigos ou os mais experientes? Foi então quer me lembrei em uma conversa ao pé do fogo, onde eu e mais uns cinco chefes escoteiros estávamos acampados com o um antigo Escoteiro, muito conhecido pelos seus conhecimentos e em dado momento contou a seguinte história para todos que estavam ali:

         Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido. Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem jaguar o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço. O cachorro velho pensa: - Oh, oh! Estou mesmo enrascado! Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão, por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo e começa a roê-lo, dando as costas ao predador.

Quando o jaguar estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto: - Eita jaguar delicioso, que carne saborosa! Será que há outros por aí? Ouvindo isso, o jaguar com um arrepio de terror, suspende o ataque, e se esgueira na direção das árvores. - Caramba! Pensa o jaguar, essa foi por pouco! Aquele cachorro quase me pega! Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira. Em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido jaguar algum...

E assim foi rápido, em direção ao jaguar. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa: - Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e já faz um acordo.

O jaguar fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz: -'Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado! Agora, o velho cachorro vê uma fera furiosa, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa: - E agora, o que é que eu posso fazer? Mas, em vez de correr (sabe que suas pernas doídas não o levariam longe...) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:

-'Cadê o peste daquele macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro jaguar para mim e não chega nunca! Moral da história: não mexa com cachorro velho. Idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. Sabedoria só vem com idade e experiência.


          Portanto procurei os mais velhos e eles entraram no cabeçalho da lista de demissão. Não importa a idade eu sabia que eles naquela época não teriam dificuldade em encontrar um novo emprego. Assim dormi tranquilo por muitos e muitos anos, sem ter a consciência pesada por fazer demissões que não eram de nenhuma maneira minha escolha. Certo ou não até hoje sempre me senti como um cachorro Velho nas minhas andanças pelo escotismo. Foram tantos amigos que fiz e também tantos que queriam ver minha cabeça fincada em um bambu na curva da estrada da vida que aprendi a me virar e até hoje me viro bem. Risos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma perfeita democracia em vários grupos escoteiros. Assim falou Joãozinho, um Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Uma perfeita democracia em vários grupos escoteiros.
Assim falou Joãozinho, um Escoteiro.

- Gente, vocês devem estar sabendo que agora temos uma nova vestimenta, infelizmente o nosso azul vai acabar e temos que escolher. Ou o caqui ou a nova vestimenta. O caqui vocês conhecem, mas a vestimenta ainda não. Vou dar detalhes dela: - Blá, blá, blá e blá. Vejam são varias formas para escolher. E nos garantiram que ela é muito viável com chuva, com sol e dura uma eternidade. Vamos fazer uma eleição para vocês escolherem o que quiserem. – Chefe! Perguntou Joãozinho. O novo é este que o senhor está vestindo?

- Faço saber a todos os associados do Grupo Escoteiro que no dia tal do mês tal as tantas horas, iremos realizar uma Assembleia do Grupo para que todos possam escolher o novo uniforme conforme determinou a União dos Escoteiros do Brasil. Todos terão direito a votar inclusive os lobinhos. Lembro que o antigo uniforme azul será extinto e agora teremos um traje com mais de 18 tipos a escolher. – Chefe! Falou Joãozinho. E o caqui? O senhor lembra que saímos dele para o azul porque o senhor nunca gostou dele? Ou pelo menos nunca usou?

- A União dos Escoteiros do Brasil depois de muitos estudos e pesquisas, aprovou em sua reunião ordinária do CAN (Conselho de Administração Nacional) com o apoio do DEN e de outros órgãos diretivos o novo traje a ser usado pelos associados da UEB. Ressalva-se que o uniforme Caqui “ainda” (?) será considerado. O azul em dois anos será extinto – Chefe? – Fala Joãozinho. - Só eles votaram? E os demais associados?

- Lembro a todos que no próximo sábado iremos realizar uma eleição com todo o Grupo Escoteiro para decidir qual uniforme iremos usar. – Chefe? Nós temos o caqui e temos também que votar? E Chefe, procurei na loja escoteira o caqui e o moço que vende me disse que não tem mais. O que farei para comprar outro? Joãozinho espere a eleição.

- Conforme todos sabem, temos agora um novo traje Escoteiro. Achei-o lindo de morrer e até já comprei um para mim e meus filhos. Sábado vamos votar para decidir com qual deles iremos continuar, o caqui ou o traje. Chefe? De novo Joãozinho? - E o azul que temos? Sei de muitos que demoraram meses para comprar, pois o dinheiro é curto!

- Conforme vocês já sabem, o novo traje da União dos Escoteiros do Brasil está tendo grande aceitação. Todos admiraram seu estilo, suas cores e o temos a disposição na loja escoteira por diversos preços. Acho que está acessível a todos. Chefe? Perguntou Joãozinho. E quem não tem dinheiro para comprar?

- Não tem conversa, vamos mudar agora nosso uniforme. Quem não quiser pode pedir para sair. Todos têm quatro meses de prazo para comprar o seu. Não aceito argumentos contrários! – Chefe? Fala Joãozinho. – Chefe, dizem que este traje foi comentado e milhares de Escoteiros deram sua opinião. É verdade? Claro que sim, Joãozinho. O Senhor pode me dizer o nome de pelo menos dez?

- Vocês devem saber que eu sou da Diretoria Regional. Nosso Presidente é formador e nos foi solicitado que usássemos o novo traje da UEB para dar exemplo. Como sabemos que poucos dos lideres da UEB e Regiões usam o caqui curto, não tivemos saída ainda mais que o azul mescla será extinto. O caqui continua, mas nunca usei o caqui e nem nosso Presidente. Assim vocês terão direito a votar na próxima reunião de sábado para dizer o que querem. – Chefe? – Fala Joãozinho. – Chefe se o senhor e o Presidente não gostam do caqui e sempre usaram o azul, e se votarmos no caqui, o senhor vai usa-lo também? Afinal o senhor pertence à Direção e o Presidente é um formador!


Sem palavras. Esta é a democracia que queremos? E sabemos que nem todos os Grupos Escoteiros existem um Joãozinho cricri!

terça-feira, 20 de maio de 2014

A lenda de Zezé Saviola, superando limites.


Lendas escoteiras.
A lenda de Zezé Saviola, superando limites.

              Zezé Saviola poderia ter sido um bandido, um marginal ou um traficante de drogas. Não foi. Não foi por um motivo simples. Alguém resolveu ajudá-lo e este alguém se chamava Montana, um simples Chefe Escoteiro. Zezé Saviola era negro, magro e com o rosto marcado pela varíola que sofreu quando criança. Sua mãe vendia drogas e seu pai vigia na prefeitura vivia embriagado. Dona Leôncia morreu crivada de balas em um Beco no Jardim das flores bairro favelado onde moravam. Zezé não tinha ninguém por ele e por graças de boas almas vizinhas ele ainda tinha uma refeição e alguma roupa que lhe davam. Algumas vezes seu pai acordava sóbrio e olhava para ele chorando. - O que eu fiz? Perguntava a sí próprio ao olhar para seu filho Zezé Saviola. Ele amava o filho, mas era sair de casa seu caminho era cheio de bebidas alcoólicas. Muitas vezes acordava em uma marquise qualquer, em um banco da praça e muitos que o viam bêbado pelas sarjetas juravam que ele chorava.

             Chefe Montana fora Escoteiro quando jovem e se tinha duas coisas que amava na vida era sua esposa Dorinha e o escotismo. Eletricista formado pelo SENAI tinha uma boa casinha, um carrinho simples e não desejava mais nada. Sua simplicidade supria suas dificuldades na fala, ele era fanhoso, sua voz era horrível e quem não o conhecia dava grandes gargalhadas o que o deixava triste, mas nunca enraivecido. Sua Tropa no Grupo Escoteiro Águia de Haia o adorava. Eram 18 Escoteiros e 10 escoteiras sendo estas aceitas quando Dorinha resolveu ajuda-lo para equilibrar meninos e meninas. Os que o conheciam sabiam de suas qualidades. Os pais o respeitavam e acreditavam que seus filhos teriam o melhor na formação que se pretendia na Tropa Escoteira. Quase não ficavam na sede e sempre estavam no campo, fazendo atividades aventureiras, acampando ou excursionando.

         Zezé Saviola se sentiu encurralado. Aos dez anos desconhecia o medo e lutava com qualquer um que o desafiasse. Agora não, agora eram mais de seis meninos que o pegaram no Beco da Saudade e nem sabiam por que queriam lhe dar uma surra. Talvez pelo seu rosto “perebento” ou por ser filho de um beberrão. Zezé sabia que se tivesse oportunidade para correr ninguém o alcançaria. Corria como o vento e sempre que podia ia para a Estrada do Elefante e ali corria a mais não poder. Zezé se preparou para a defesa, com as duas mãos juntas sabia que pelo menos dois iriam arrepender-se de atacá-lo. Todos caíram em cima dele e aos gritos de mata o filho do demônio ele tentava se defender de todas as maneiras. Alguém começou a gritar com todos para largá-lo. A meninada conhecia aquela voz fanhosa e sabiam que não era hora para sorrir. Saíram correndo e gritando – Vai ter outra vez Zezé Bexiguento!

        Chefe Montana viu que ele sangrava no nariz e um olho estava inchado. O levou para sua casa e o tratou. Lourdinha o ajudou como podia. Zezé – Disse Chefe Montana – Quero ver você sábado no grupo escoteiro. Faço questão que seja um de nós – Zezé olhou para Chefe Montana ressabiado. Nunca pensou em ser Escoteiro, mas quem sabe poderiam ajudá-lo a enfrentar a molecada que sempre o espancava? No sábado ele chegou com receio. Não foi preciso, pois foi muito bem recebido e encaminhado para a Patrulha Javali. Com dois meses Zezé se sentiu outro e aquela tristeza que o acompanha se transformou em um sorriso. Disseram a ele que quem entra se transforma. Passa a acreditar que a felicidade existe. Quatro meses depois a tropa estava alvoraçada, pois sabiam que se aproximava a data das olimpíadas escoteiras distritais. Mesmo treinando muito todas as modalidades sabiam que dificilmente iriam ganhar uma medalha, no entanto isto pouco importava, pois o importante era participar como dizia o Chefe Montana.

         Chefe Montana não gostava muito de participar da Olimpíada. Eram cinco grupos e dois deles se achavam os tais. Viviam se gabando que ninguém tinha vez com eles. Um deles o Grupo Escoteiro Dez Estrelas em todas as atividades que participavam sempre ganhavam. O Chefe deles um fanfarrão dizia que quem quisesse vencer que se “ralasse”, pois o grupo era de gente de posse. Contratavam sempre bons Professores de Educação Física e treinavam quase diariamente. Todos os anos colocavam uma faixa na porta da sede dizendo – Grupo Escoteiro Padrão Ouro! O melhor da cidade! Zezé quando soube pediu para inscrevê-lo em quatro modalidades – Corrida, salto em altura, salto em distância e revezamento dos 200 metros. Inacreditável! Todos ficaram boquiabertos com Zezé. Ganhou todas. Nem Zezé sabia que era um triatleta. Zezé foi festejado e o Melhor Grupo da cidade humilhado. Se pelo menos aprenderam que a cortesia, a lealdade e a fraternidade escoteira eram um fato então valeu a pena as medalhas que Zezé ganhou.

              Aos desesseis anos já sênior Zezé soube de uma corrida famosa na capital. Não tinha dinheiro para inscrição e o Chefe Montana fez questão de pagar. A tropa fez uma vaquinha para sua viagem e ficaram torcendo por ele. Zezé não tinha roupa apropriada para a corrida, usou a calça e a camisa de Escoteiro e sem calçado foi colocado em um dos últimos locais da corrida. Os melhores na frente. O mundo se surpreendeu com o maior Corredor brasileiro de todos os tempos. Primeiro lugar disparado e seu prêmio em dinheiro foi de cem mil reais. Na cidade foi ovacionado e até um carro de bombeiro estava lá esperando a chegada do trem. Zezé humilde viu que a multidão aplaudia. Do premio fez questão de doar trinta mil ao grupo apesar do Chefe Montana tentar recusar. Com o saldo comprou uma casinha de alvenaria e prometeu ao seu pai que tudo ia mudar.


             Mudou mesmo. Zezé Saviola passou a participar de todas as corridas em todo o mundo. Ficou rico e todos se divertiam, pois ele insistia em correr descalço e com a calça e camisa escoteira. Aonde ia fazia questão de estar com seu uniforme. Dizem que toda história tem final feliz, esta não tem. Poderia ter se não fosse Trinado da Morte, um bandido que morava na capital e recebeu um bom dinheiro de um financista que queria que seu pupilo ganhasse todas as corridas. Contratou o matador para matar Zezé Saviola. Foi um tiro certeiro, mas Zezé não morreu. Ficou paraplégico. Ainda bem que guardou um bom dinheiro e ele e seu pai tinham o que precisavam. Zezé nunca desistiu de nada. Jurou a si mesmo que voltaria a andar e correr. Cinco anos depois ele sentiu uma perna e dois anos depois a outra. Dez anos passados e Zezé ficou em pé. Quando quinze anos depois se inscreveu em uma corrida novamente foi saudado como herói por todo o Grupo Escoteiro. Chefe Montana e seus Escoteiros nunca abandonaram Zezé Saviola. Sua bondade, sua simplicidade e sua maneira de ganhar sem se vangloriar serviram de exemplos para eles por toda a vida. Como dizia Ayrton Senna - Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Olimpíadas Escoteiras inesquecíveis.


Conversa ao pé do fogo.
Olimpíadas Escoteiras inesquecíveis.

             Era o meu quarto acampamento. Tão logo passei para a tropa de escoteiros as atividades aventureiras ao ar livre se multiplicaram. Conhecia bem a Mata do Quati, um local excelente para acampar, com varias aguadas, e o melhor, uma bela cachoeira que hoje deu lugar a uma pequena hidroelétrica que abastece satisfatoriamente a cidade onde morávamos. Lembro bem na época da piracema, onde nos divertíamos em pegar peixes com as mãos, que se multiplicavam na subida complexa de altos e baixos, rindo, brincando entre as pedras, com aquela nevoa a tomar conta de toda orla da cachoeira. Sempre que ali acampávamos não faltavam as fritadas de lambaris, piaus, corvinas e tantos outros peixes, feitas pelo nosso cozinheiro da patrulha. Um expert em cozinha de campo.

Podíamos escolher a vontade onde montar o nosso campo, pois beirando o Rio do Morcego, a mata deixava belas clareiras, mas a preferida era próxima da cachoeira, claro sem considerar o Córrego do Marmelo, que desembocava no rio, formando um remanso onde nos banhávamos de manhã e a tarde. As patrulhas muitas vezes ficavam até 200 ou 300 metros distantes uma da outra. O barulho diabólico e magnífico da queda d’água era como se fosse uma melodia para os nossos ouvidos e a noite, o som entre as arvores trazia toadas cantigas que a plenos pulmões desafiávamos as demais patrulhas, num quebra coco frenético.

Não tenho certeza, mas a cachoeira do Sonho não era muito conhecida da comunidade local. Pouco visitada. Talvez pela localização, afastada da cidade por mais de 10 quilômetros e precisávamos andar mais quatro mata adentro. Através de pequena trilha chegávamos até ela. A queda d’água com mais de 20 metros de altura, com aproximadamente 50 de extensão, caindo de um só salto, formava um grande lago de águas revoltas todo coberto por uma névoa algumas vezes densa outras vezes não. Lembro que sempre quando acampávamos ali, não sei se por tradições criadas por outras patrulhas mais antigas que devem ter iniciado, no penúltimo dia ininterruptamente, realizávamos nossas olimpíadas, o que na época chamávamos de competição escoteira, onde individualmente e sem representar as patrulhas, fazíamos diversas provas bem diversa das hoje realizadas.

Eu não era bom em todas. Mas a prova do macaco sempre me deixava ou em primeiro ou segundo. Na prova da machadinha e da faca, também não era tão ruim. Não era bom na prova dos nós, da escalada, da travessia e da rodada dos pneus, fora o medo do salto na cachoeira amarrado em uma bóia. Quando os seniores resolveram participar e foram aceitos, logo a alcatéia com a aprovação do Akelá foi incluída na grande olimpíada anual com atividades próprias. Foi necessário fazer um regulamento, onde os lobinhos, escoteiros e seniores pudessem participar de acordo com a idade, peso e altura. Na época não entendi bem, mas confiávamos nos nossos chefes e nunca em tempo algum discordamos de uma ou outra vitória de alguém não merecida. Escolhíamos as provas que iríamos realizar, e pelo tempo não podiam ser mais do que três ou quatro.

Toda a chefia e o Chefe do Grupo sempre estavam presentes neste dia. Eram os juízes e quem nos entregava os prêmios, tais como uma faca nova, um canivete escoteiro, um chapéu Prada de abas largas, um lenço de outro grupo, um distintivo qualquer, ou mesmo medalhas simples, bronze, prata ou ouro, como a dizer que éramos os mais perfeitos naquela contenda anual. A data programada para esta atividade escoteira era aguardada com ansiedade. Não tive muitas vitórias e meus prêmios eram raros, mas a diversão era garantida. O local, a Mata do Quati abarcava todos os seus predicados, satisfazendo as necessidades técnicas, mateiras e como tradição não podia ser alterada. Ali começou e ali teria o seu término.

Não sei quando iniciou a participação dos Grupos Escoteiros das cidades vizinhas. Não lembro bem, mas acho que a primeira idéia foi dada quando acampamos na cidade do minério, onde se localizava uma grande ferrovia que extraia minério de ferro e manganês em grandes quantidades e em enormes comboios de vagões puxados por ate cinco locomotivas eram transportadas até o porto, há mais de 800 quilômetros de distancia, situado em um estado vizinho. A Ferrovia sempre nos oferecia um vagão especial quando acampávamos em áreas próximas da estrada de ferro, (amabilidade cedida devido a um ex-escoteiro atual diretor de operações) a ponto de parar fora dos locais programados para descer. Isto em toda a sua extensão bastando planejar com antecedência. Ele, o nosso vagão era o ultimo do comboio.

Foi em um verão quando lá acampamos (na cidade do minério), e junto com o grupo escoteiro local muito amigo de todos nós, que participamos de uma olimpíada pela primeira vez. Sempre fazíamos acampamentos em conjunto, mas com atividades próprias de campismo e confraternização. De surpresa nos convidaram para participar de uma olimpíada no ginásio local, onde se conheceria o melhor corredor, nadador, saltador e outras modalidades que pouco conhecíamos. Claro que aceitamos, mas foi uma derrocada sem tamanho. No encerramento conseguimos acho eu umas oito medalhas contra mais de 50 do grupo da cidade.

Antes de retornarmos, reunimos todos os monitores inclusive os seniores e um de nós que não lembro quem, achou que aquela derrota tinha que ser revertida. Deu a idéia para que convidássemos o Grupo Escoteiro da Cidade do minério para participar da nossa competição anual, e daríamos a eles oportunidades para se preparem, pois não deram esse gosto para nós. Claro que aceitaram. E até que não foi ruim. Reunir dois grupos, mais de 50 escoteiros, 25 seniores e 40 lobinhos na Mata do Quati foram fantásticos. As competições foram realizadas com companheirismo e respeito. Era ponto de honra os anfitriões fornecerem toda a alimentação aos visitantes. Isto sempre acontecia em qualquer cidade que possuía um Grupo Escoteiro.

Na primeira Olimpíada executadas em conjunto, demos um verdadeiro banho, conquistando mais de 70% dos prêmios. No entanto, isto foi mudando através dos tempos. Os visitantes mais e mais se preparavam e não eram considerados uns pata tenras como dizíamos. Quando mudei da cidade em fins de 63, havia mais de três grupos que participavam se tornando uma tradição distrital. Não sei atualmente se ainda persiste, mas as competições escoteiras realizadas e consideradas hoje como olimpíadas olímpicas não nos traziam como as de antes, lembranças vivas de nossa vivencia mateira e técnicas escoteiras forjando aventuras reais. Acredito que podem existir vários grupos que realizam ou participaram de tal atividade. Pode ser que muitos grupos em nosso país tenham conhecimento de tal intensidade técnica e mateira. E isto é extraordinário. Eram marcantes e facilitavam sobremaneira o desenvolvimento nas provas de classe.

Algumas provas apostilo abaixo para exemplificar o que fazíamos e outras tantas não são aqui descritas para não atropelar novas idéias que surgirem com a leitura deste artigo:

- Subir em menos de um minuto em uma árvore de até 8 metros, descer pelo volta do salteador em 15 segundos. Não era para qualquer um;

- Fazer 25 nós escoteiros ou de marinheiros em seis minutos. Até que era fácil;

- Nadar de um lado ao outro do Rio do Morcego, (60 metros) no tempo máximo de 10 minutos com águas revoltas. Era um perigo constante;

- Descer o rio e cair na parte mais baixa da cachoeira preso a uma câmara de ar. Adrenalina pura;

- Receber uma caneca média, um pouco de pó, açúcar e três palitos de fósforos para fazer um café em 8 minutos sem ter nada preparado. Não era tão difícil;

- Participar da prova da faca e machadinha, com lançamentos a distancia e acertar na melancia ou mamão do campo, não era tarefa simples. Só para os mais treinados;

- Cortar uma tora de madeira de mais ou menos seis polegadas com um facão em menos de 3 minutos. Considerado tarefa fácil;

- Ir e voltar numa falsa baiana de mais ou menos 6 metros de comprimento, por cima do Córrego do Marmelo em dois minutos. Sorrisos constantes dos primeiras classes;

- Transmitir sem ajuda de um “espelho” por semáforas 30 ou 40 letras por minuto. Só para bons sinaleiros;

- Construir uma armadilha para caça de animais ou pássaros que funcionasse em menos de 10 minutos. Prova considerada relativamente simples;

- Montar uma barraca de olhos vendados em 4 minutos. Facílimo para os escoteiros pata tenras;

- percorrer uma trilha de 300 metros em semicírculo com sinais de pistas simples em 12 minutos. Para lobinhos. Os escoteiros percorriam em terreno pedregoso tentando achar pegadas feitas com botinas militar do chefe Do Grupo;

- Encontrar pelo cheiro uma onça pintada, com os olhos vendados. (a onça era representada por um cão, muito amigo nosso e colocávamos amarrado em seu corpo sacolinhas de alho picado com gordura vegetal). Só mesmo para os velhos mateiros;

- Preparar um sinal de fumaça recebendo dois palitos de fósforos com fogo verde e transmitir um S.O.S. em 4 minutos. Não era muito simples;

- Carregar nos ombros a moda escoteira outro escoteiro da sua altura e peso por 200 metros em 5 minutos. Tarefa para os melhores corredores;

- Descobrir dentre oito feridos espalhados em um raio de 150 metros, quais as tipóias corretas em 2 minutos. “Beleza”;

- Fazer uma pequena cabana para abrigo de dois escoteiros com mãos limpas só com folhas e galhos secos em 15 minutos. Muitos faziam em 06 minutos;

- Carregar um peso ou sacos de pedras de aproximadamente 50% do seu peso, sem usar as mãos atados com uma grande tipóia presa à cabeça (usávamos um pequeno lençol) em uma distancia de 100 metros em 05 minutos. Considerado prova simples;

- Discursar como um palestrante, alto e em bom tom sem interrupção, a Lei Escoteira do último ao primeiro artigo. Ou de dois em dois numero par, terminando em numero impar. Sem erro era de uma bondade só, afinal saber a Lei era obrigação;

- Ficar amarrado a uma árvore em uma distancia de 12 metros, para servir de alvo onde dois escoteiros atirariam 20 tomates maduros, distantes mais ou menos 20 metros em uma lata acima da cabeça. Tempo de duração – 5 minutos. Uma prova de coragem;

- Mergulhar em um remanso, com um ou dois metros de profundidade e ficar por 05 minutos usando um canudinho do galho (pé) da abóbora ou do mamão. Uma festa na primeira vez;

- Montar uma fogueira de Fogo do Conselho, para duração de hora e meia, não necessitando de manutenção, em 20 minutos. Só mesmo para aqueles com a especialidade de acampador;

- Mostrar na prática como é o passo escoteiro, percurso de Giwell em uma área de mata nativa por uma hora. Na Mata do Quati poucos conseguiam;

- Receber um recado verbal no inicio das atividades e ao final explicitar ao chefe o que foi falado sem esquecer nenhuma palavra. Poucos conseguiam;

Durante uma jornada de 20 minutos na Mata do Quati, identificar pelo menos seis pássaros diferentes e no retorno desenhar dois deles e imitar pelo menos três com seus cantos na floresta. Dificílimo;

Com o passar dos anos, outras provas foram acrescentadas. Sempre provas técnicas treinadas e aprendidas na arte de aprender a fazer fazendo. Muitas foram esquecidas e substituídas, pois não tinham mais o sabor da aventura ou por repetirem sempre os mesmos ganhadores. Todas elas, criadas por nós tinham seu encanto pessoal. A recompensa pelo primeiro lugar incluía o gosto da vitória. Sempre foram as patrulhas que deixavam tudo preparado quando da realização das Olimpíadas. Os escotistas eram os observadores e aqueles que serviam de juiz. Não gostávamos de receber tudo pronto, pois isto nada significava em uma avaliação de nossa capacidade técnica.   

O tempo passou. Vi outro dia grupos escoteiros participando de olimpíadas programadas para eles, uma copia dos métodos olímpicos hoje realizados. Pelas fotos vi que estavam compartilhando com alegria e júbilo. Participei na década de 80/90 de olimpíadas assim programadas, diferentes daquelas do passado, no distrito em que atuava. A participação era maciça e muito bem vista por todos os participantes. Mas sempre me lembro do Rio do Morcego, da Mata do Quati, das grandes competições lá acontecidas. Do barulho da cachoeira do Sonho que sussurravam sons repicantes e harmoniosos aos nossos ouvidos. Foram tempos que nunca serão esquecidos.  Soube que um grande aeroporto foi construído ali. Um Alto Forno siderúrgico que se alimenta com carvão vegetal também. Acredito que a mata se foi. Quem sabe substituída por uma floresta de eucaliptos.

O rio a cachoeira represada formando um grande lago e o córrego devem ainda existir. Espero que não estejam poluídos. Todas as lembranças são substituídas pelo presente e não podemos fugir da realidade. Acredito que ainda existem outros rios, matas e córregos sem os festivos temas que permaneceram na modernidade da poluição universal. Faz parte dos novos tempos. O escotismo não pode e não deve aceitar tal conjuntura. Acredito e quanto a isto não tenho nenhuma dúvida, que existe um local parecido com o Rio do Morcego e o Córrego do Marmelo em qualquer lugar deste nosso imenso território, onde grandes atividades escoteiras acontecem ou estão sendo desenvolvidas. Seja em forma de competições ou de olimpíadas, mas utilizando as técnicas escoteiras hoje tão esquecidas.


Quem sabe, muitos como eu poderão quando envelhecer, lembrar que o escotismo foi e sempre será visto como uma grande aventura. Cheio de surpresas e uma vida mateira magnífica, como uma grande escola da vida, que deu a mim e a todos que participam ou participaram deste notável programa, um orgulho próprio, sem soberba, deixando um rastro de troféus fantásticos, conquistados com o passar dos anos, que ficarão marcados para sempre em nossa memória.