Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 11 de abril de 2020

Lendas Escoteiras. O Escoteiro Chefe lusitano vai chegar!




Lendas Escoteiras.
O Escoteiro Chefe lusitano vai chegar!

... – Sábado sem reunião, muitos desanimados aprontei um continho de quatro paginas para divertir. Peço desculpas se escrevi algum errado dos Escoteiros de Portugal. Tenho-os em alta conta e eles tem muitos exemplos para dar a Escoteiros do Brasil. É longo, mas dá para divertir.

- Seria uma festa... O Escoteiro Chefe de Portugal vinha visitar Lagoa dos Açores e seus mais de mil escoteiros de todas as classes e associações. Foi Dona Flancácia quem contou para dona Rabanete que contou para dona Bucycleide, que contou para dona Pamonia... Fariam uma festa para receber figura tão notável. O Brasil não tem Escoteiro Chefe e os portugueses têm? Quem sabe um dia o país teria um também? Foi Tumenodes da venda Dom Cabral quem disse que ele era Duque. Descendente do Marques de Pombal. Doutor Macbeti Roubapouco o prefeito mandou chamar o Delegado Pancrácio, Dona Flancácia, Doutor Jacumé, o Juiz de Direito Picolé de Mamão e os Chefes dos Grupos escoteiros da cidade. Uma grande reunião foi feita. Com seus vinte mil habitantes Lagoa dos Açores vibrava. Foi fundada em mil e antigamente por Don Panchito Das Torres Altas neto de um figurão escoteiro amigo da Rainha Vitória da Inglaterra. Um português que enricou ao chegar. Vendia Café para o Brasil e para o mundo. Nunca foi visitada por um Escoteiro Chefe. Todos se preparavam para receber o Chefão na estação da Estrada de Ferro Leopoldina Railway. Ele chegaria na primeira “Jamiloca” soltando fumaça a granel. Foguetes, Bandas de Musica, desfiles e uma “comidaria” de fazer inveja seriam oferecidos à tão alta autoridade escoteira.  

- Seu Samuel Ramalho Ramires Ramos, português e o mais antigo padeiro ria a mais não poder. – Um patrício? Graças a Deus! Quem sabe é um duque parente do meu bisavô. Chefe Micaleide Soraia convidou os chefes para uma reunião. Eram seis grupos e mais três discípulos de Baden-Powell. Dois da EB, dois da FET, dois da AEBP os desbravadores e os Florestais. De última hora apareceu um Grupo Católico e um que não dava satisfação a ninguém. As Bandeirantes ficaram de pensar se iam ou não. A cidade era reconhecidamente escoteira. Muitas autoridades participaram do escotismo. Todas as contribuições eram religiosamente divididas com os grupos. Reuniram-se no Theatro Municipal Don Panchito. Presentes mais de oitenta chefes. Todos devidamente uniformizados. Chefe Ronsato falava pelos AEBP. Chefe Jarisol pelos FET, Chefe Micaleide pela EB, Jacomilson pelos desbravadores e o Chefe Portal pelos Florestais. De ultima hora chegou o Padre Jacques Sevin dos Escoteiros Católicos. Discutiram o que fazer e como fazer e quem vai fazer. Um esboço do programa foi levado ao Doutor Macbeti Roubapouco o prefeito. Ele olhou, pegou um enorme carimbo, molhou com tinta, deu uma forte carimbada e disse: - Aprovado! Que conste na Ata da Prefeitura e da WOSM (Organização Mundial do Movimento Escoteiro). - Moçoilas enfeitavam as ruas com bandeirolas Ninguém sabia a cor da Bandeira de Portugal; Vermelho, verde, amarelo, azul, branco e preto disse o Professor Arquimomedes o sábio da cidade.

- Pitito Modinha era um escroque. Preso dezenas de vezes por enganar os outros. Não era mau sujeito. Seus pais assaltantes de bancos morreram num tiroteio em uma cidade do Uruguai. Pitito Modinha nunca matou ninguém. Enganar sim. Ria quando era preso e o delegado Caroço de Manga dizia: - Pitito mude de vida. Um dia alguém vai te dar um balaço bem nas “orêias” o tiro vai entrar em uma e sair cheio de cera na outra! Pitito fingia e sorria. Prometo Doutor Delegado nunca mais entrar em uma cela! Com os dedos trançados na mente dizia: - Enquanto houver otário São Judas Cata-vento não anda a pé. Doutor Delegado sabia que logo estaria de volta à sua cela conhecida de anos. Pitito Modinha leu a noticia na Barbearia do Carioto Cariado: - Lagoa dos Açores em festa... Vai chegar à cidade o Escoteiro Chefe, Senhor Marquês de Pombal, Conde de Caravelas, Infante Duque de Bragança, Juparanã Rossalo, Milady D’Artanhan. Nomes demais...

Minino! Desta vez vou enricar. Sorrindo disse para si: - - Pitito Modinha você é bom cara, muito bom! – Lembrou quando estava na biblioteca atrás do fazendeiro Bom Senso Cutucaaqui querendo surrupiar sua carteira. Viu em um canto um livro dos Escoteiros de Portugal. Viu a foto de um lusitano a quem chamavam Escoteiro Chefe. Bem afeiçoado, uniformizado nos trinques. Pitito não era bobo. Leu tudo de cabo a rabo. Leu tudo sobre os escoteiros da terrinha. Cacilda! Desta vai vou acender charuto com nota de duzentos! Bolou um plano. Dias pensando. Fazer um uniforme e teria que ser igual ao deles. Calça marrom, sapato preto, camisa marrom clara e um chapéu. Teria que achar um paninho para amarrar no meião. Procurou Praquitinha sua noiva. - Me empresta uns tostões? Vais receber em dobro. Praquitinha sabia que não ia receber nada, mas gostava de Pitito e ele prometeu casar com ela. Não ia negar.

- Enviou um telegrama para Seu Samuel Ramalho da padaria. Daí as lavadeiras da cidade, era um pulo. Logo a cidade toda sabia. Assim seu plano começou. – Mais um telegrama e o seu prefeito suava, gordo, barrigudo sonhava. – Agora Lagoa dos Açores seria conhecida “nas estranjas” - O telegrama dizia - Chego no dia nove de dezembro. Irei só. Quero conhecer a cidade dos meus conterrâneos escoteiros. Levarei comigo uma grande foto do nosso Fundador Lordi Badi of Pawell. As ruas enfeitadas. A praça um brinco. A escoteirada pintou tudo. Não havia um toco de cigarro no chão. As filhas de Maria ensaiaram uma canção Escoteira. Zé Calango dos Vicentinos fez uma poesia. Os escoteiros se esmeravam. Treinaram evolução, a banda, a turma da bandeira com luvas brancas. Disseram para eles que o Escoteiro Chefe era entendido em tudo. Fez pioneiria na lua quando pousou lá. Cilene Maria era lobinha. Quieta. Quase não falava. Era uma menina autodidata. Com oitos anos terminou o ginásio. Amava a alcateia. Nunca leu os livros escoteiros para não humilhar o chefe dos escoteiros. Adorava acantonar amava a natureza, as árvores os lagos e riachos de águas frias cristalinas. Adorava o nascer e o por do sol. Na reunião a Akelá Juely Macaquinha comentou sobre a honra que todos teriam em conhecer o Escoteiro Chefe de Portugal. Todos fazem continência para ele.  

- Cilene Maria ficou desconfiada. Tinha lido que em Portugal havia três associações escoteiras e nenhuma tinha Escoteiro Chefe. Associação dos Escoteiros de Portugal, Corpo Nacional de Escutas e  Associação das Guias e Escuteiros da Europa (se eu errei peço desculpas aos meus irmãos escoteiros de Portugal) - De qual ele representava? E o nome comprido? Isto não existia mais. Só reis tinham tanto nome. E misturava tudo. Conde com Duque, com infante, com príncipe regente que só Dom Pedro II foi quando seu pai voltou para Portugal. Muita coisa errada. E porque chamava o fundador de Lordi Badi Pawell? Não sabia o nome correto? Era analfabeto? Impossível! E a foto? Não tinha nada do fundador. Era de um homem magrelo, novo, banguelo com cabelo preto, e uma das fotos sorrindo. Aquele não era e nunca foi Lord Baden Powell. Cilene Maria procurou a Akelá. Ela não acreditou. Procurou o Chefe Micaleide. Ele também duvidou. Ninguém acreditava nela. Sabia que o talzinho que se fazia passar por Escoteiro Chefe era um enganador. Na padaria seu Ramires Ramos ouviu o que ela dizia. Ele também duvidava. O que ele vinha fazer aqui? Porque não na capital? Disse a Cilene Maria que ia investigar. Passou um telegrama para seu irmão em Coimbra e pediu que investigasse. Cinco dias mais tarde chegou à resposta. Chamou Cilene Maria e mostrou o que seu irmão escreveu. Não havia um escoteiro Chefe em Portugal. Agora era armar um plano. O delegado entrou no meio. O dia chegou!

                      O Trem serpenteava nas beiradas do Rio Fede e não Cheira. Em cada curva Seu Japinondas Pé na Taboa o maquinista apitava. Na beira da linha a molecada corria com o trem. Uma fumaceira danada na chaminé anunciava a modernidade. Ele sabia que uma alta autoridade estava viajando no seu trem. Seu bisavó Tutunael sempre contou quando era maquinista que trouxe muitas “otoridades” para Lagoa dos Açores Inclusive o Presidente Venceslau Brás. Agora ele podia contar para seus netos que também carregou um. Pitito Modinha viajava de Primeira Classe. Com seu uniforme de Escoteiro lusitano e seu chapéu sabia que seria tratado como um rei. Mandou fazer um lindo lenço dourado. Amarelo, verde e um pouco de azul. Comprou um anel de brilhantes fajuto para prender o lenço. Na mala alguns presentes que conseguiu comprar nas mãos do Caixeiro Made in Paraguaise.

                         Ao atravessar a ponte do Rio Coça o Saco do Peixe viu pela janela a cidade. Riu de boca a boca. Disse para sí: – Pitito Modinha, você é brilhante. Será o maior golpe de todos os tempos. Desta vez vou encher as burras de dinheiro. Praquitinha iria saber quem ele era. Iria visitar a “horopa” com ela. Ela ia ver a Torri efailde. O Arco do Truque. Contaram para ele maravilhas do tal Palácio das Vertentes. Iria mostrar para ela o Bigue Bende. E depois nas Américas ela ia ver a Estatueta qui liberta tamem. Eles iriam falar gringo, falar françoá, ingreis. Seriam recebidos por reis e rainhas e até o papa abriria as portas do Vonticano. Quem sabe teriam um tituro de pobresa? Já pensou? - Lord Duque Pitito Modinha? Misse Duquesa de Orleanas Bragantina dona Praquitinha Castiana? O trem apitando. A cidade chegando. Ele sorrindo de oreia a oreia. Olhou pela janela, a estação apinhada de gente. Uma escoteirada sem tamanho. Todo mundo ali para vê-lo. Pensou consigo: Pau que nasce torno não tem jeito morre torno. Ops! Nada disto. Pau que nasce torto é sabidão e morre ricasso! E ria, e ria. O trem parou. Silêncio. E a Banda que pediu? Pegou sua mala, desceu. Ninguém bateu palma. Cacilda, o que houve? Onde eu errei? Meu uniforme está impecável aprendi a fazer o nó de escoita e barso pelo seio. Até sei fazer a saudação deles e eles estão me olhando deste jeito? Prá lerta coteiros! Uma mão bateu em seu ombro. – Olá Pitito Modinha. Quanto tempo eim? Deus do céu! Era a voz do delegado Caroço de Manga! Palmas para o Delegado! Colocou as algemas em Pitito Modinha. Entraram de novo no trem. Uma vaia sem tamanho.

                   Por muitos anos Pitito Modinha foi cantado em prosa em todos os fogos de conselhos que a cidade conheceu. Cilene Maria recebeu todas as honras possíveis. Não só do Grupo Escoteiro, mas de toda a cidade. O Prefeito Doutor Macbeth mandou fazer a medalha dos Confidentis e deu para ela no desfile do Oito de Setembro. Ela dizia que não tinha feito mais que sua obrigação, era lobinha, mas não dizem que os escoteiros estão Sempre Alerta? Alguém disse para ela - SAPs Cilene! Valeu! SAPs? Que isto? Não é Sempre Alerta? Detesto o tal de SAPs pensou. Risos. Escoteiros, ah Escoteiros. Estão aí por todo lado, observando, olhando, escolhendo, sorrindo, apertando mãos dos amigos e irmãos, e claro sabendo sempre o que acontece em sua volta. Eles são espertos, bons meninos e meninas, vivendo a lei e a promessa como um dia juraram em suas promessas. Eles estão sempre alerta sempre e nunca SAPs sempre. Mais risos.  E eu? Eu nunca esqueço Pitito Modinha e o que disse o meu amigo Dalai lama: - “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”!

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Conversa ao pé do fogo. O Chifre de Kudu.




Conversa ao pé do fogo.
O Chifre de Kudu.

... - Nos anos 1890, Baden-Powell lutou na Campanha Matabele onde agora está o Zimbabwe. Os guerreiros Matabele tinham um método único de sinalização militar, usando uma nota profunda de um chifre de Kudu para enviar sinais codificados através de longas distâncias. Após a campanha, B-P levou um desses chifres para casa como um troféu - o chifre tinha pertencido ao oficial Matabele Siginyamatshe.

De volta a minha rotina do “Fique em casa” cá estou eu a rebuscar temas que poderiam interessar aos meus amigos Escoteiros. Às vezes acerto às vezes nem dão bola para o tema do dia. Meu escolhido de hoje é o “Chifre de Kudu”, muito conhecido nas hostes escoteiras e bastante comentado anteriormente em algumas páginas das redes sociais. O Chifre de Kudu tem sido usado em cursos avançados (hoje dizem que não mais) e como tradições em muitas tropas escoteiras em todo o mundo. No Brasil é adotado por poucas tropas. Por ser um toque simples e ouvido a distancia substitui o apito cuja estridência muitas vezes prejudica os tímpanos de quem houve. Essa é sua história. Os que ainda não conhecem leiam e se divirtam.

- O Kudu (Tregelaphus strepsiceros) é uma espécie de antílope cujo habitat vai desde a África do Sul á Etiópia. Um touro Kudu pode chegar a uma altura de 1,5 metros e tem uma coloração que vai de um cinzento avermelhado até quase azul. As suas características de visão aguçada, bom sentido de audição, olfato apurado e grande velocidade fazem dele um animal difícil de capturar. Seguindo uma tradição que remonta há mais de 90 anos, as patrulhas são chamadas a reunir com o toque tradicional do chifre de Kudu, durante os cursos da Insígnia de Madeira. Pode parecer estranho que o chifre de um antílope africano, do tipo usado pelos Matabeles como clarim de guerra no século XIX, seja usado para chamar Escoteiros e Chefes por esse mundo a fora. Mas foi precisamente com um toque deste chifre que os primeiros Escoteiros foram acordados.

Quando reuniu os primeiros escoteiros em Brownsea, Baden-Powell lembrou-se do chifre de Kudu que tinha trazido das guerras contra os Matabeles, e usou-o para dar um toque de aventura e divertimento ao acampamento. De fato, foi durante o acampamento experimental de Brownsea, em Poole Harbour, no verão de 1907, que Baden-Powell colocou ao serviço do Escotismo, e pela primeira vez, o chifre de Kudu. William Hillcourt, um dos grandes pioneiros do Escotismo, o mesmo que escreveu o resumo da história de BP no final do «Escotismo para Rapazes», descreve assim a primeira alvorada em Brownsea:

"O dia começou ás 6h da manhã, quando BP acordou o acampamento com o som esquisito do longo chifre de Kudu em espiral - o clarim de guerra que tinha trazido da sua expedição à floresta de Somabula durante a Campanha Matabele de 1896".

John Thurman, grande nome do Escotismo britânico, conta como BP conheceu o chifre de Kudu: "Como coronel na África, em 1896, Baden-Powell comandou uma coluna militar na Campanha Matabele. Foi num raid pelo rio Shangani abaixo que ele primeiro ouviu o som do chifre de Kudu. Ele andava confundido pela rapidez com que os alarmes eram espalhados entre os Matabeles, até que um dia se apercebeu que eles usavam o chifre de Kudu, o qual tinha uma grande potência sonora. Era usado um código. Assim que o inimigo era avistado, o alarme era tocado no Kudu, para todos os lados, e assim transmitido por muitas milhas em pouco tempo.”.

Depois da ilha de Brownsea, o chifre de Kudu voltou para a casa de BP onde permaneceu silenciosamente durante 12 anos, enquanto o movimento que ele anunciara se tornava moda e se espalhava pelo mundo fora. Então, em 1919, Baden-Powell entregou o chifre ao Parque de Gilwell para ser usado nos primeiros cursos para treino de Chefes. William Hillcourt comenta assim o início do uso do chifre de Kudu no Parque de Gilwell, na floresta de Epping, Inglaterra, a oito de Setembro de 1919:
"O primeiro acampamento para treino de chefes feito em Gilwell começou a oito de Setembro. Seguiu o padrão que BP tinha usado com os rapazes em Brownsea, 12 anos atrás. O sistema de patrulhas foi novamente posto á prova com 19 participantes divididos em patrulhas e vivendo uma vida em patrulha. A instrução tomou a mesma forma que em Brownsea. Cada dia um assunto novo era introduzido e aplicado em demonstrações, prática e jogos. O chifre de Kudu dos Matabeles que tinha sido usado para chamar os rapazes em Brownsea foi usado para todos os sinais."

Dez anos mais tarde, aos 72 anos de idade, Baden-Powell levou consigo o chifre de Kudu para a abertura do 3º Jamboree Mundial, em Arrowe Park, Birkenhead, Inglaterra, a 28 de Julho de 1929. Foi constatado, pela experiência de Arrowe Park, que fazer soar o chifre de Kudu é um desafio. Os resultados, no entanto, foram tão impressionantes quanto se poderia desejar, segundo as palavras de William Hillcourt:

O dia da abertura do 3º Jamboree Mundial começou com uma forte chuvada que aumentou com o passar do dia; mas, à hora prevista... o tempo tornou-se «ameno». BP tinha trazido consigo para Arrowe Park o velho chifre de Kudu dos dias da guerra com os Matabeles que tinha sido usado para acordar os acampados em Brownsea no primeiro acampamento de escoteiros do mundo e para abrir o primeiro curso para chefes no Parque de Gilwell. Levou-o aos lábios para dar um toque que haveria de ecoar pela extensa parada em frente dele, mas, com o excitamento, os lábios recusaram-se a fazer o que deviam. O som do chifre não passou de um fraco «pff». No entanto, como que chamados para a ação pelo chifre, a marcha começou, com os contingentes a desfilarem atrás de contingentes em frente da plateia, com as bandeiras de quase todas as nações civilizadas desfraldadas ao vento, com milhares de pessoas a aplaudirem cada nação entusiasticamente.”.

- Ah! Até hoje entrando nos meus 73 anos de escotismo, me surpreendo com Baden-Powell como conseguiu fazer um movimento de jovens sem igual em todo o mundo. Cada lenda cada mito ou ideia tem uma origem fundada na simbologia e mística que encanta aos escoteiros não importando a idade até hoje. Ainda hoje o chifre é usado para reunir chefes em cursos de formação em todo o mundo. Para todos os que seguem as pegadas do fundador, é um viver do Escotismo no seu melhor. Fraternos abraços e não esqueçam, ao acabar essa pandemia use o Chifre do Kudu, deixem o apito para os juízes e crianças que gostam do barulho. Sempre Alerta!

terça-feira, 7 de abril de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Chefes Escoteiros que ficaram na história.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Chefes Escoteiros que ficaram na história.

... - Um artigo que demorei a escrever. Precisava lembrar. Escrever sobre homens que foram heróis do escotismo e deram sua vida e sua alma pela palavra, pela lealdade, pela fraternidade e respeito ao próximo. Homens forjados como escoteiros padrões que nunca mais serão esquecidos. Quantos deles hoje temos por aí?

- Estamos vivendo uma nova era do escotismo. Lideranças aparecem e desaparecem sem deixar rastro. Alguns permanecem tentando escrever seus nomes nas páginas da história do Escotismo Brasileiro. Os antigos deixaram um rastro de realizações muitas vezes esquecidas. Os mais novos tentam mudar nosso destino como se eles soubessem onde devemos chegar. Quem acompanha os autores do novo escotismo sabe que muitos desaparecem e a gente não ouve mais falar. Nas páginas dos novos poetas, pensadores, doutores professores e pedagogos a educação escoteira tem outra forma de fazer e interpretar. As idéias de B-P não servem mais para os novos tempos. Alguns falam pelos jovens dizendo que eles se preocupam mais com as descobertas da física, da matemática, das descobertas tecnológicas e que o sonho escoteiro em viver na natureza desapareceu. O escotismo está sendo substituído pela sala de aula, pela sede, por um programa dito moderno e viver na natureza é coisa do passado. Sabemos que os interessados ou os jovens não foram consultados e nem deram oportunidade a eles de experimentar a verdadeira vida escoteira no campo.  

Como sou um eterno encarquilhado vivente no passado costumo às vezes dar asas à imaginação e lembrar-se dos velhos tempos para não morrer de tédio nos dias de hoje. Acho que sou e serei sempre um eterno saudosista dos tempos idos que marcaram uma geração. Homens e mulheres forjados no verdadeiro espírito Escoteiro onde a fraternidade o respeito era um fato não importando sua hierarquia sem distinção de classe, credo ou mesmo burocracias exigidas para provar que é um Escoteiro do Brasil. Hoje me lembrei de alguns nomes que ficaram na história escoteira. Nomes que dignificaram o Escotismo Brasileiro e adeptos “Sine qua non” do programa Badeniano. Nomes que nunca serão esquecidos passe o tempo que passar. Se eles estão lá no Grande Acampamento, se abraçando, confraternizando seja de que pais ou associação for eu não sei. Desculpem-me não anotar tantos outros que merecem também seu lugar no “Panteão Escoteiro da Pátria”. Minha única intenção foi de mostrar que já tivemos homens escoteiros que pudemos orgulhar.

- Quem já ouviu histórias do Velho Lobo? O primeiro a ter este cognome no Escotismo Brasileiro. Benjamim Sodré, o Almirante famoso que emprestou seu nome para a história escoteira e soube muito bem explorar a metodologia entre os pares que viveu e conheceu. Sua história escoteira é rica em detalhes, em construir felicidades, em dar sem receber e dar um aperto de mão honesto e dar toda sua colaboração no engrandecimento do Escotismo Brasileiro. Vamos pular o grande Velho Lobo e procurar nas páginas da história outro que foi um orgulho para todos nós. O Ministro Guido Mondin. Ministro? Sim, tivemos um ministro, valoroso, não vaidoso, que fazia questão da flor de lis da lapela onde estivesse. Gostava de dizer que era Escoteiro de coração. Não tinha meias palavras, não gostava de bajulação. Sempre pronto a colaborar com o escotismo brasileiro sem ostentação. Não se colocou em um pedestal, como muitos fazem hoje. Seu poema ficou na história e dizia tudo sobre seu temperamento e do que achava dos novos chefões que hoje pululam por aí.

- Escoteiro... - “Despe teu uniforme, interesseiro, Pois não é nele que vive a Disciplina”. Nem por vesti-lo te fazes Escoteiro, Como o exige nossa lúcida doutrina. Que importa a Promessa que te ensina a ser da nossa causa um Cavalheiro, sem a conquista da insígnia peregrina do caráter de um homem verdadeiro? Escotismo é escola de Lealdade, de Amor, de Ação e Inteligência, isenta de arrogância e veleidade. Se não o compreendeste, então importa que o construas primeiro, na consciência. Cumpre a nossa Lei… e depois volta! – Falar mais o que deste homem?

- Vamos em frente. Não podemos esquecer-nos do Chefe João Ribeiro dos Santos. Um Escoteiro que preferia o título de Chefe a ser chamado de doutor. Um homem cativante, alegre e conhecedor do escotismo que nem podemos imaginar. Seu exemplo foi servir. Servir ao próximo, a comunidade e principalmente o escotismo que era um apaixonado. Suas obras Escoteiras ficaram para sempre marcadas na memória. Suas letras musicais inesquecíveis. Quem não se lembra da divertida “Panelas”? Da “Canção do Lobinho”? E daquela que é cantada até hoje de norte a sul do Brasil? – “Viemos do norte, do sul e do leste, viemos do oeste de todo Brasil”! Demais. Quando milhares de jovens repetiu seu canto dizendo: Lavando as panelas somos todos irmãos! Uma frase que ficou na história. Ele viajava pelo Brasil para dar cursos, foi agraciado na época com os títulos mais desejados de Gilwell Park tais como ADCC (Assistente Deputado Chefe de Campo) e depois DCC (Deputado Chefe de Campo) sabemos que poucos conseguiram ter.

E o Chefe Francisco Floriano de Paula? Seus livros foram sucesso e até hoje lembrados. “Para ser Escoteiro” ficou na história. Desmembrado em três partes, Noviço, Segunda Classe e Primeira Classe foram lidos pelos escoteiros de norte a sul do Brasil. Doutor, Professor catedrático, deu sua vida pelo escotismo. Já Velho quase cego dirigia cursos nos campos escola sempre ajudando e colaborando. Tivemos muitos homens escoteiros valorosos, mas não posso me esquecer dele, um exemplo de amor ao próximo, que teve a audácia de conseguir verba estadual para custear cursos a chefes de todo o estado. Tive a honra de tê-lo como Diretor do meu primeiro Curso da Insígnia de Madeira. Tive a honra de apertar sua mão, tive a honra de abraçá-lo como um filho e nunca mais esquecê-lo.

Foram muitos os Grandes Chefes que ficaram na história. Discorrer sobre cada um deles seria uma honra, mas precisaria de um livro. Fico aqui algumas pequenas lembranças. O meu amigo Sauro Bartolomei, um sorriso nos lábios, incapaz de uma critica ou uma ofensa. Viajava para onde o convidavam sem nada cobrar. E o meu líder meu mentor e orientador Chefe Darcy Malta, um homem a quem devo tudo na vida escoteira. Fico em lágrimas só de lembrar. E hoje? Como são forjados os novos lideres do Escotismo Nacional? Tem algum que vai para os anais da história? Que raça temos que não sabe ouvir, que se acha salvador do Escotismo, esquece artigos da Lei como o que diz que somos todos irmãos. Que raça estamos criando onde primeiro se vê brigas, processos condenatórios, exigências burocráticas, e uma corrida desenfreada atrás de valores financeiros? Arrogam-se como juiz a dizer que é o dono do nome Escoteiro? Já me perguntei e não reluto em perguntar novamente: - Baden-Powell deu por escrito seus direitos autorais? Disse que o escotismo pertence a algum país? Quem pode se arvorar como dono? Isto é escotismo?

                              Ainda lembro com saudades do nosso passado, do nosso marketing, do proselitismo Escoteiro, de grandes empresas, organizações da mídia que faziam para nós. Hoje isto não mais existe. Normas, exigências, fiscais escoteiros para saberem quais são as nossas ideias e ideais escoteiros. Se alguns destes novos lideres que dirigem ao seu modo o escotismo brasileiro ficarão na história do Escotismo Brasileiro eu não sei. Temos sim uma nova safra junto aos jovens, se sacrificando, dando o seu melhor, ouvindo e entendendo o que eles querem e sonham. Uma pena que quando temos oportunidade de nos apresentar para a sociedade e ser visto pela população somos comentados achincalhados em nosso garbo e apresentação. Sei que ainda temos chefes de valor, que procuram dar nome e honra a sua atuação escoteira. Saudades de uma época, de homens dignos que elevaram o nome Escoteiro neste nosso país chamado Brasil.