Lendas
Escoteiras.
O
Escoteiro Chefe lusitano vai chegar!
... – Sábado sem reunião, muitos
desanimados aprontei um continho de quatro paginas para divertir. Peço
desculpas se escrevi algum errado dos Escoteiros de Portugal. Tenho-os em alta
conta e eles tem muitos exemplos para dar a Escoteiros do Brasil. É longo, mas
dá para divertir.
- Seria
uma festa... O Escoteiro Chefe de Portugal vinha visitar Lagoa dos Açores e
seus mais de mil escoteiros de todas as classes e associações. Foi Dona Flancácia
quem contou para dona Rabanete que contou para dona Bucycleide, que contou para
dona Pamonia... Fariam uma festa para receber figura tão notável. O Brasil não
tem Escoteiro Chefe e os portugueses têm? Quem sabe um dia o país teria um
também? Foi Tumenodes da venda Dom Cabral quem disse que ele era Duque.
Descendente do Marques de Pombal. Doutor Macbeti Roubapouco o prefeito mandou
chamar o Delegado Pancrácio, Dona Flancácia, Doutor Jacumé, o Juiz de Direito
Picolé de Mamão e os Chefes dos Grupos escoteiros da cidade. Uma grande reunião
foi feita. Com seus vinte mil habitantes Lagoa dos Açores vibrava. Foi fundada
em mil e antigamente por Don Panchito Das Torres Altas neto de um figurão
escoteiro amigo da Rainha Vitória da Inglaterra. Um português que enricou ao
chegar. Vendia Café para o Brasil e para o mundo. Nunca foi visitada por um Escoteiro
Chefe. Todos se preparavam para receber o Chefão na estação da Estrada de Ferro
Leopoldina Railway. Ele chegaria na primeira “Jamiloca” soltando fumaça a granel.
Foguetes, Bandas de Musica, desfiles e uma “comidaria” de fazer inveja seriam
oferecidos à tão alta autoridade escoteira.
- Seu
Samuel Ramalho Ramires Ramos, português e o mais antigo padeiro ria a mais não
poder. – Um patrício? Graças a Deus! Quem sabe é um duque parente do meu
bisavô. Chefe Micaleide Soraia convidou os chefes para uma reunião. Eram seis
grupos e mais três discípulos de Baden-Powell. Dois da EB, dois da FET, dois da
AEBP os desbravadores e os Florestais. De última hora apareceu um Grupo
Católico e um que não dava satisfação a ninguém. As Bandeirantes ficaram de
pensar se iam ou não. A cidade era reconhecidamente escoteira. Muitas autoridades
participaram do escotismo. Todas as contribuições eram religiosamente divididas
com os grupos. Reuniram-se no Theatro Municipal Don Panchito. Presentes mais de
oitenta chefes. Todos devidamente uniformizados. Chefe Ronsato falava pelos
AEBP. Chefe Jarisol pelos FET, Chefe Micaleide pela EB, Jacomilson pelos
desbravadores e o Chefe Portal pelos Florestais. De ultima hora chegou o Padre Jacques
Sevin dos Escoteiros Católicos. Discutiram o que fazer e como fazer e quem vai
fazer. Um esboço do programa foi levado ao Doutor Macbeti Roubapouco o
prefeito. Ele olhou, pegou um enorme carimbo, molhou com tinta, deu uma forte
carimbada e disse: - Aprovado! Que conste na Ata da Prefeitura e da WOSM
(Organização Mundial do Movimento Escoteiro). - Moçoilas enfeitavam as ruas com
bandeirolas Ninguém sabia a cor da Bandeira de Portugal; Vermelho, verde,
amarelo, azul, branco e preto disse o Professor Arquimomedes o sábio da cidade.
- Pitito
Modinha era um escroque. Preso dezenas de vezes por enganar os outros. Não era
mau sujeito. Seus pais assaltantes de bancos morreram num tiroteio em uma
cidade do Uruguai. Pitito Modinha nunca matou ninguém. Enganar sim. Ria quando
era preso e o delegado Caroço de Manga dizia: - Pitito mude de vida. Um dia
alguém vai te dar um balaço bem nas “orêias” o tiro vai entrar em uma e sair
cheio de cera na outra! Pitito fingia e sorria. Prometo Doutor Delegado nunca
mais entrar em uma cela! Com os dedos trançados na mente dizia: - Enquanto
houver otário São Judas Cata-vento não anda a pé. Doutor Delegado sabia que logo
estaria de volta à sua cela conhecida de anos. Pitito Modinha leu a noticia na
Barbearia do Carioto Cariado: - Lagoa dos Açores em festa... Vai chegar à
cidade o Escoteiro Chefe, Senhor Marquês de Pombal, Conde de Caravelas, Infante
Duque de Bragança, Juparanã Rossalo, Milady D’Artanhan. Nomes demais...
Minino!
Desta vez vou enricar. Sorrindo disse para si: - - Pitito Modinha você é bom
cara, muito bom! – Lembrou quando estava na biblioteca atrás do fazendeiro Bom
Senso Cutucaaqui querendo surrupiar sua carteira. Viu em um canto um livro dos
Escoteiros de Portugal. Viu a foto de um lusitano a quem chamavam Escoteiro
Chefe. Bem afeiçoado, uniformizado nos trinques. Pitito não era bobo. Leu tudo
de cabo a rabo. Leu tudo sobre os escoteiros da terrinha. Cacilda! Desta vai
vou acender charuto com nota de duzentos! Bolou um plano. Dias pensando. Fazer
um uniforme e teria que ser igual ao deles. Calça marrom, sapato preto, camisa
marrom clara e um chapéu. Teria que achar um paninho para amarrar no meião. Procurou
Praquitinha sua noiva. - Me empresta uns tostões? Vais receber em dobro.
Praquitinha sabia que não ia receber nada, mas gostava de Pitito e ele prometeu
casar com ela. Não ia negar.
- Enviou
um telegrama para Seu Samuel Ramalho da padaria. Daí as lavadeiras da cidade,
era um pulo. Logo a cidade toda sabia. Assim seu plano começou. – Mais um
telegrama e o seu prefeito suava, gordo, barrigudo sonhava. – Agora Lagoa dos
Açores seria conhecida “nas estranjas” - O telegrama dizia - Chego no dia nove
de dezembro. Irei só. Quero conhecer a cidade dos meus conterrâneos escoteiros.
Levarei comigo uma grande foto do nosso Fundador Lordi Badi of Pawell. As ruas
enfeitadas. A praça um brinco. A escoteirada pintou tudo. Não havia um toco de
cigarro no chão. As filhas de Maria ensaiaram uma canção Escoteira. Zé Calango
dos Vicentinos fez uma poesia. Os escoteiros se esmeravam. Treinaram evolução,
a banda, a turma da bandeira com luvas brancas. Disseram para eles que o
Escoteiro Chefe era entendido em tudo. Fez pioneiria na lua quando pousou lá. Cilene
Maria era lobinha. Quieta. Quase não falava. Era uma menina autodidata. Com
oitos anos terminou o ginásio. Amava a alcateia. Nunca leu os livros escoteiros
para não humilhar o chefe dos escoteiros. Adorava acantonar amava a natureza,
as árvores os lagos e riachos de águas frias cristalinas. Adorava o nascer e o
por do sol. Na reunião a Akelá Juely Macaquinha comentou sobre a honra que
todos teriam em conhecer o Escoteiro Chefe de Portugal. Todos fazem continência
para ele.
- Cilene
Maria ficou desconfiada. Tinha lido que em Portugal havia três associações escoteiras
e nenhuma tinha Escoteiro Chefe. Associação dos Escoteiros de Portugal, Corpo
Nacional de Escutas e Associação das Guias e
Escuteiros da Europa (se eu errei peço desculpas aos meus irmãos escoteiros de Portugal)
- De qual ele representava? E o nome comprido? Isto não existia mais. Só reis
tinham tanto nome. E misturava tudo. Conde com Duque, com infante, com príncipe
regente que só Dom Pedro II foi quando seu pai voltou para Portugal. Muita
coisa errada. E porque chamava o fundador de Lordi Badi Pawell? Não sabia o
nome correto? Era analfabeto? Impossível! E a foto? Não tinha nada do fundador.
Era de um homem magrelo, novo, banguelo com cabelo preto, e uma das fotos
sorrindo. Aquele não era e nunca foi Lord Baden Powell. Cilene Maria procurou a
Akelá. Ela não acreditou. Procurou o Chefe Micaleide. Ele também duvidou.
Ninguém acreditava nela. Sabia que o talzinho que se fazia passar por Escoteiro
Chefe era um enganador. Na padaria seu Ramires Ramos ouviu o que ela dizia. Ele
também duvidava. O que ele vinha fazer aqui? Porque não na capital? Disse a Cilene
Maria que ia investigar. Passou um telegrama para seu irmão em Coimbra e pediu
que investigasse. Cinco dias mais tarde chegou à resposta. Chamou Cilene Maria
e mostrou o que seu irmão escreveu. Não havia um escoteiro Chefe em Portugal. Agora
era armar um plano. O delegado entrou no meio. O dia chegou!
O Trem serpenteava nas
beiradas do Rio Fede e não Cheira. Em cada curva Seu Japinondas Pé na Taboa o
maquinista apitava. Na beira da linha a molecada corria com o trem. Uma
fumaceira danada na chaminé anunciava a modernidade. Ele sabia que uma alta
autoridade estava viajando no seu trem. Seu bisavó Tutunael sempre contou
quando era maquinista que trouxe muitas “otoridades” para Lagoa dos Açores
Inclusive o Presidente Venceslau Brás. Agora ele podia contar para seus netos
que também carregou um. Pitito Modinha viajava de Primeira Classe. Com seu
uniforme de Escoteiro lusitano e seu chapéu sabia que seria tratado como um
rei. Mandou fazer um lindo lenço dourado. Amarelo, verde e um pouco de azul.
Comprou um anel de brilhantes fajuto para prender o lenço. Na mala alguns
presentes que conseguiu comprar nas mãos do Caixeiro Made in Paraguaise.
Ao atravessar a ponte do Rio Coça o Saco do Peixe
viu pela janela a cidade. Riu de boca a boca. Disse para sí: – Pitito Modinha,
você é brilhante. Será o maior golpe de todos os tempos. Desta vez vou encher
as burras de dinheiro. Praquitinha iria saber quem ele era. Iria visitar a
“horopa” com ela. Ela ia ver a Torri efailde. O Arco do Truque. Contaram para
ele maravilhas do tal Palácio das Vertentes. Iria mostrar para ela o Bigue Bende.
E depois nas Américas ela ia ver a Estatueta qui liberta tamem. Eles iriam
falar gringo, falar françoá, ingreis. Seriam recebidos por reis e rainhas e até
o papa abriria as portas do Vonticano. Quem sabe teriam um tituro de pobresa? Já
pensou? - Lord Duque Pitito Modinha? Misse Duquesa de Orleanas Bragantina dona
Praquitinha Castiana? O trem apitando. A cidade chegando. Ele sorrindo de oreia
a oreia. Olhou pela janela, a estação apinhada de gente. Uma escoteirada sem
tamanho. Todo mundo ali para vê-lo. Pensou consigo: Pau que nasce torno não tem
jeito morre torno. Ops! Nada disto. Pau que nasce torto é sabidão e morre
ricasso! E ria, e ria. O trem parou. Silêncio. E a Banda que pediu? Pegou sua
mala, desceu. Ninguém bateu palma. Cacilda, o que houve? Onde eu errei? Meu
uniforme está impecável aprendi a fazer o nó de escoita e barso pelo seio. Até
sei fazer a saudação deles e eles estão me olhando deste jeito? Prá lerta
coteiros! Uma mão bateu em seu ombro. – Olá Pitito Modinha. Quanto tempo eim? Deus
do céu! Era a voz do delegado Caroço de Manga! Palmas para o Delegado! Colocou
as algemas em Pitito Modinha. Entraram de novo no trem. Uma vaia sem tamanho.
Por muitos anos Pitito
Modinha foi cantado em prosa em todos os fogos de conselhos que a cidade
conheceu. Cilene Maria recebeu todas as honras possíveis. Não só do Grupo
Escoteiro, mas de toda a cidade. O Prefeito Doutor Macbeth mandou fazer a
medalha dos Confidentis e deu para ela no desfile do Oito de Setembro. Ela
dizia que não tinha feito mais que sua obrigação, era lobinha, mas não dizem
que os escoteiros estão Sempre Alerta? Alguém disse para ela - SAPs Cilene!
Valeu! SAPs? Que isto? Não é Sempre Alerta? Detesto o tal de SAPs pensou.
Risos. Escoteiros, ah Escoteiros. Estão aí por todo lado, observando, olhando,
escolhendo, sorrindo, apertando mãos dos amigos e irmãos, e claro sabendo
sempre o que acontece em sua volta. Eles são espertos, bons meninos e meninas,
vivendo a lei e a promessa como um dia juraram em suas promessas. Eles estão
sempre alerta sempre e nunca SAPs sempre. Mais risos. E eu? Eu nunca esqueço Pitito Modinha e o que
disse o meu amigo Dalai lama: - “Só existem dois dias no ano que nada pode ser
feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia
certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”!