Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Lembre-se, você é responsável pelo que faz

 
Porque não se orgulhar do que somos?
Lembre-se, você é responsável pelo que faz.
         Não e não, eu sei que você tem uma explicação, lógica para você, mas ilógica para mim. Pode me dizer o que quiser que o mundo seja outro que agora vivemos outro estilo de vida e mesmo assim não vou concordar com você. Nosso uniforme não está numa passarela de um desfile de modas e nem tampouco pode julgar que a moda agora é assim. Eu sei que você gosta, é seu estilo, achou bonito e porque não modificar e usar? Esqueceu que do outro lado você representa uma organização? Já pensou se todos que usam seus uniformes escolhessem o que acham bonito como ficaríamos? Sei que não dá bola para o que dizem que sua vida é sua, mas quando representa uma organização como a nossa você tem a obrigação de representá-la bem. Sei que nossos lideres não foram razoáveis nas alterações e nem se preocuparam em ser mais severos com as normas. Mas isto não nos dá o direito de vestir e postar o que achamos válido para nossa vaidade. 

          Eu lhe pergunto, será que as outras organizações fazem isto? Veja os militares, claro não somos militares, mas na uniformização somos iguais. O que você diria se um representante das forças armadas ou das policias estaduais e locais vestindo de qualquer jeito, chinelos, quepe virado, camisa solta em cima da calça, cabelos despenteados? E nos colégios? Cada um vestisse o que quiser claro levando em conta que aquele colégio tem normas? Eles estarão certos se apresentando assim e que no jargão de muitos que dizem ser desleixo, indisciplina e tantas outras colocações? Não e não. Eu não posso aceitar. Eu sou daqueles que acreditam na boa uniformização e ela é quem nos diz quem somos. Não me venha com a história de que quem faz a pessoa é ele mesmo e não o seu uniforme. Você pode acreditar nisto, mas eu não. Quer saber? Nosso movimento deixou de ter credibilidade para muitos por pensarmos assim e será que não temos culpa? 

         Quando nosso movimento começou havia uma centelha se espalhando por todos os continentes. Todos viam os Escoteiros de uma forma educacional, formação do caráter, crescimento individual e o apoio se firmou em todos os lugares onde ele começou. Na Inglaterra em 1910 quando ele tomou pé e começou a se espalhar como um rastilho de pólvora foram dez países que acreditaram na ideia de BP e disseram avante formando sua organização. Destes 10 nós éramos um deles. Hoje se alegram porque chegamos aos 85 mil e daqui a alguns anos chegaremos com 100 mil. E os outros nove que começaram junto conosco? Nenhum deles tem menos de 200 mil e alguns passaram do milhão de membros com uma população bem menor que a nossa. Em todos eles o escotismo é visto como uma força de formação da juventude, as autoridades educacionais dão o maior apoio, a imprensa falada e escrita sempre dizem – Palavra de Escoteiro e todos sabem do que se trata. Nestes países o escotismo é um orgulho da nação. Porque perdemos com o passar do tempo esta corrida de afirmação de identidade? Porque mudamos tanto? Vais dizer que são coisas de saudosistas? Que são coisas daqueles que se apegaram a uma tradição e nem sabe mais porque ela existe e de que se trata? 

         Por favor, não me diga que hoje somos outra organização. Para mim ela é e será sempre a mesma. Claro há não ser que mudem o método e o programa. E também os objetivos a que nos propomos com a formação dos jovens. Portanto meu amigo e minha amiga quando você em publico se porta mal, uniformização desleixada (pense nestas palavras) e apresentação pessoal sem pensar no que diz a lei escoteira é claro que seremos criticados. E olhe, você sabe, não seja uma “Maria vai com as outras”. Dizem que vendemos biscoitos. Quem dera! Melhor vender biscoito que vender imagens distorcidas do que somos ou podemos oferecer a uma juventude que cresce a olhos vistos longe das fileiras escoteiras.  Poucos nos dão as mãos. Temos que correr atrás de colaboração das autoridades que sorriem para nós só nas épocas de eleições e esta nem sempre é dada com prazer. Somos sempre subservientes colocando lenços e dizendo – Vejam, ele agora é um de nós! Você acredita mesmo nisto? Sei que cada um tem uma opinião de tudo e isto não nego que seja um direito. Mas acredito que ainda não temos uma democracia autêntica onde todos podem sugerir através da voz e voto.
 
         Se ainda não tens a força das palavras, se ainda não tem o dom da oratória, pelo menos esforce na sua apresentação pessoal. Esqueça estes adágios que correm por aí que ser Escoteiro não é vestir uniforme e sim ter o amor no coração. Um não vive sem o outro. Ambos são importantes não só para o seu crescimento como para o reconhecimento da nossa organização. Seja ela em qualquer âmbito. No grupo, no distrito na região e na Nacional. Nem também venha dizer que uma andorinha só não faz verão. Faz sim. Se uma pessoa olha para você e diz – Veja esta jovem ou este jovem como estão garbosos. Será que isto não vai dar mais força ao escotismo? Lute com todas as suas forças para que possamos ser reconhecidos como uma organização de jovens que tem tudo para colaborar na formação e afirmação do nosso País. Você faz parte e não tente mudar as coisas conforme sua escolha pessoal e nem seja como o papagaio que faz tudo que os outros fazem.

              Bah! Abaixo as mudanças sem normas, abaixo o desleixo, abaixo aos que copiam o que os outros fazem abaixo a tudo que nos denegrida. Temos que levantar a cabeça e dizer: Somos Escoteiros de corpo e alma. Foi por sua causa que mudamos nosso estilo de vida, a ele vivenciamos uma nova concepção de ser alguém, foi por ele que nos deu o dom da observação da natureza que ficamos sabemos que o aprendizado teve um Caminho para o Sucesso. Bendito o dia que todos dirão que o escotismo fez parte do crescimento da nação, que a formação do caráter da ética e da verdade está no coração de todos nossos dirigentes, sejam eles políticos, empresariais e por que não naqueles que vivem com o pensamento em Deus?

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Monitor.


Conversa ao pé do fogo.
O Monitor.

Interessante. Em minha vida Escoteira fui Monitor por apenas seis meses. Como Sênior nem sub fui. Isto não impediu que tivesse um grande amor pela Patrulha. Uma convivência diferente talvez pela proximidade, cidade pequena, onde nós patrulheiros estávamos sempre juntos nos horários fora das reuniões. Lembro que nos seniores quando um ia ver a namorada os outros iam atrás. Elas não gostavam é claro. Eu mesmo quando me enamorei de uma, ia lá com mais doze seniores. Ela assustou é claro. Mas era uma época. Mesmo assim aprendi muito sobre o Monitor. Baden Powell dizia que o mais "Velho" e mais forte mesmo não tendo boa liderança deveria ser o Monitor. Como foi uma época que ainda não tinha os seniores, os rapazes de quinze, dezesseis e dezessete anos atuavam na monitoria. Hoje não. Existe toda uma preparação para eles. Muitos se preocupam em demasia com sua liderança isto é muito bom. Ouve tempos que se discutiu muito sobre o tema. O líder já nasce líder ou podemos formar um líder?

Se o escotismo além de suas necessidades e pensando no método Escoteiro que ele também é uma escola de formação de liderança é claro que temos que confiar a monitoria a um Escoteiro mesmo que este não seja líder nato. Isto, no entanto é responsabilidade do Chefe. Vejo dois lados da questão. O primeiro aquele que o Chefe escolhe seu Monitor. O segundo o que foi escolhido pela Patrulha. Qual o melhor? Tem correntes fortes para um e correntes fortes para o outro. Eu fico com o segundo. Acho que a eleição é a melhor maneira para nomear um Monitor. Poderia ficar horas e horas comentando sobre o Monitor, mas hoje dei uma lida rápida do livro de Roland E. Philips, o Sistema de Patrulhas. Antiguíssimo. Mas super valioso. Pode ser adaptado sem sombra de duvida aos dias atuais. (Tenho outro em PDF e quem quiser é só pedir via meu e-mail – elioso@terra.com.br).

Já escrevi vários artigos sobre os Monitores sendo o último com o titulo A Patrulha de Monitores. (vejam nos meus blogs e claro posso enviar via e-mail). Posso garantir que nenhum Chefe Escoteiro (a) conseguirá desenvolver o Sistema de Patrulhas sem bons Monitores. Nos cursos atuais acredito que é um tema muito falado, mas da teoria a prática a um longo caminho. Vejamos algumas observações sobre como deveria ser um bom Monitor: 

Guia - um exemplo a seguir;
Companheiro - um amigo que dá ajuda e conselhos, compreensivo;
Comunicativo - diz as suas ideias;
Leal - de confiança, preocupa-se muito com o que faz;
Democrático - respeita todas as opiniões da mesma maneira;
Humilde - não mostra a toda à gente as capacidades que tem e dá valor às dos outros;
Trabalhador - aplica-se nas suas tarefas;
Responsável - faz sempre as suas tarefas; 
Assíduo e pontual - chega na hora e não falta;

Participativo - ajuda em tudo o que é preciso, está sempre pronto.
Não esquecer ainda a velha máxima de um Chefe Escoteiro que disse: “O Monitor não manda, o Monitor orienta!”. BP também disse que o Monitor não empurra a Patrulha. Providencia para que ela vá ao seu lado.

E para encerrar, porque não lembrar também que o Monitor não é e nem deve ser:
- O sabichão, saber tudo ou ter a mania que sabe;
- O mandão, mandar em todos ou ser mandado;
- O mauzão, zangar-se quando as coisas estão mal; 
- O patrão, delegar tarefas e não fazer nada; 
- A carne para canhão, assumir sozinho as responsabilidades de uma situação de
patrulha; 

Para os que estão tendo a felicidade de acertar meus parabéns. Bons Monitores sempre são sinais de tropas excelentes. Parodiando o livro Monitores, transcrevo o que lá está escrito - Já ouvi um Chefe Escoteiro dizer que “Designei meus Monitores tal como B-P. desejava, mas eles não são capazes de dirigir suas Patrulhas em coisa nenhuma. Na prática eu é que tenho de assumir a chefia”.
A resposta para esse queixa é a seguinte:
A principal função do Chefe Escoteiro no Movimento é fazer com que seus Monitores sejam capazes de dirigir as suas Patrulhas.


Leiam muito. Conversem muito. Ouçam muito. Verão que em pouco tempo suas patrulhas estarão sem sombra de dúvida no Caminho para o Sucesso

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sugestões de um "Velho" Escoteiro




Conversa ao pé do fogo.
Sugestões de um "Velho" Escoteiro

A Patrulha de Serviço
Devemos se possível (caso não tenham) criar a Patrulha de serviço no grupo Escoteiro. Anualmente o Conselho de Chefes e cada sessão em particular determina a patrulha de serviço do dia. A responsabilidade deve ser repartida com todos. Afinal a sede Escoteira e as atividades ali programadas tem o objetivo da formação do jovem e este deve também ser responsável pelo andamento, limpeza apresentação.
Compete à patrulha de serviço, limpar a sede durante a semana (será vistoriada e vale para a inspeção diária), preparar as bandeiras, arriar e hastear as mesmas no inicio e fim de reunião. Quando da Alcatéia pode ser feito pelos primos e segundos assessorados por um assistente do ramo. Em qualquer caso, uma comissão formada pelo Diretor Técnico, chefes de sessão e um pai, sempre deverão dar suas opiniões sobre o serviço realizado e até pode ser que atingindo uma determinada nota, recebam o parabém especial que pode ser uma bandeirola ou um premio qualquer. Alguns grupos tem uma mística própria da passagem do serviço para a outra patrulha ou matilha. Cada um deve ver o que pode ou não ser feito.

Reuniões de Patrulha ou Conselho de Patrulha.
Varias tropas tem sua maneira de fazerem suas reuniões de patrulhas. Sei que muitos chefes a fazem sempre durante as reuniões. Que estas possam ter suas discussões durante o andamento da reunião não tenho nenhuma duvida. Mas devem ser curtas, sempre com uma finalidade de se preparar para um jogo, para uma técnica escoteira ou algumas bases que irão fazer parte do programa. Mas não é este o sentido da Reunião de Patrulha. Alguns chamam Conselho de Patrulha e até lavram Livros de Ata. Acredito por experiência própria que esta reunião ou conselho deve ser fora dos dias de reuniões. Claro a sede pode ser um local apropriado e para isto o Chefe irá dar uma cópia da chave ao Monitor que a passará para outra patrulha, pois não é válido as patrulhas fazerem suas reuniões no mesmo local e no mesmo dia. Algumas patrulhas se revezam fazendo estas reuniões em suas casas. Sempre a família avisada para não atrapalhar. Até que um pequeno lanche é válido, mas almoço ou jantar está fora de questão.

Quando as patrulhas se reúnem sozinhas, sem a presença do Chefe a autonomia faz parte do aprendizado. Neste caso o Monitor não deve ser a figura central, sempre falando, ensinando e exigindo. Ser bom ouvinte, conversar, fazer amizades sem ser um mandão. Os temas podem ser vários de acordo com o interesse da patrulha. O tempo combinado deve ser padrão. O horário de inicio e termino chamamos de pontualidade escoteira. Claro para os Escoteiros responsáveis que levam a sério o seu tempo e o dos outros. Boas patrulhas sempre fazem suas reuniões semanais. Algumas fazem quinzenais ou mensais eu fico sempre nas semanais. A ordem, a disciplina, o respeito, a cidadania e a ética fazem parte importante da reunião. Lavrar uma ata contando tudo que se passou sempre trás vantagens. Não só para se lembrar do combinado e o aprendido como no futuro ser fonte de lembranças boas dos tempos de patrulha.


Sobre admissão de novos (noviços)
É de responsabilidade do Chefe do Grupo, ou de alguém indicado por ele. É necessária uma norma, visando valorizar a admissão, a Tropa e o Grupo Escoteiro. Muitos grupos já possuem uma planificação e nossa sugestão é só para aqueles que ainda não a possuem.
Uma boa admissão, feita corretamente traz dividendos excelentes. É a hora de fazer com que os pais sintam suas responsabilidades e participem da vida do grupo. Costumo dizer que tudo que é fácil não se dá valor. Exigir dos pais quem sabe um cursinho informativo, onde teriam melhores condições de saber o que é o Movimento Escoteiro. Dificilmente a inscrição é aceita no mesmo dia e nem o jovem é conduzido à patrulha, matilha sem antes cumprir etapas já formalizadas. Pensar em facilidades é prejudicar o futuro onde os pais irão achar que não são imprescindíveis e mais cedo ou mais tarde deixarem tudo sobre a responsabilidade dos chefes. No primeiro dia, os pais devem estar presentes. Ambos. Se não podem, verificar outra data onde poderão participar. O Chefe do Grupo explica as normas, o que se pretende dos pais, do jovem, o que o escotismo tem a oferecer, sua organização, as atividades ao ar livre, as viagens, as responsabilidades e finalmente os pais preenchem na hora a ficha de inscrição, com assinatura de ambos.

Eles se comprometem a participar das reuniões de pais feitas pelas seções, ficam sabendo de suas responsabilidades como conselheiros do grupo, da reunião anual ou extraordinária do Conselho (assembleia) do Grupo, da indicação de prováveis conselheiros regionais, dos acampamentos, das excursões, da colaboração que o grupo fará na formação do jovem junto a sociedade, a igreja e na educação extraescolar. Importantes que saibam que o chefe também tem família trabalham e estão ali para ajudar.
Feito todo o roteiro e dependendo de vagas nas sessões os jovens serão apresentados com certo formalismo. Sempre sós. Nada de ter mais de um ou dois pais neste dia. O Diretor Técnico é quem apresenta o jovem e seus pais ao grupo. Após o Chefe da sessão onde ele ficará, o apresenta a todos de sua tropa ou Alcatéia. Isto sempre é feito após o cerimonial e deve ser rápido para não atrapalhar a programação já feita. Quando do termino, uma palma Escoteira, o grito da Patrulha onde o jovem vai participar. Na Alcatéia quando da realização do Grande Uivo o Akelá irá apresentar o noviço a todos, claro ele só ira assistir, pois ainda não está pronto para participar do Grande Uivo.
Feito assim, valorizando os pais os dividendos serão enormes. Não esquecer que o contato com os pais não deve ser só no primeiro dia. Mensalmente um telefonema, um e-mail é importante para manter o vinculo até que ele possa ser aproveitado em alguma atividade ou responsabilidade maior no grupo Escoteiro. Conheço grupos que fazem atividades sociais em casa de um ou outro pai uma vez por quinzena, após as reuniões de sábado (lá pelas oito nove da noite). Os comes e bebes são divididos. Sem caráter de obrigação, mas dão ótimos resultados. “QUEM ENTRA NO GRUPO ESCOTEIRO SÃO OS PAIS. OS JOVENS FAZEM PARTE DA FAMILIA”.

Por hoje é só. Até outra vez com outras dicas. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

. Essa temida tradição escoteira.


Artigo escrito por Fernando Roblëno um estudioso Escoteiro.
. Essa temida tradição escoteira.

Nas eleições deste ano (2012), fui votar no colégio municipal onde estudei quando criança. Permiti-me passear pelo bairro onde cresci. Foi pitoresco, quase surreal, ver crianças empinando pipa, jogando bola na rua e trocando figurinhas na calçada. Até porque é um bairro de periferia e imagino que não são todos os que têm um computador ou um videogame como opções de ócio. O escotismo aqui, lembremos, é de inclusão, ou seja, contempla os do “Playstation” e os da “pipa”.

Se a questão da tradição escoteira girasse ao redor da substituição de uma bússola por um GPS, ou de um Atari por um Wii, ou de uma pipa por um aeromodelo, quão fácil ficaria o diálogo neste ou em qualquer outro blog. Bastaria estar por dentro das novas tecnologias e pronto. Mas não se trata somente disso.

Pessoalmente, não assimilo a questão da tradição escoteira.  Não sei quando ela começou. Seria aquela que vivi no final dos nos 80 como membro juvenil? Ou aquela, para os mais entrados em idade, vivida na década de 60? Não sei, ademais, se ela deveria existir, já que a escravidão, por exemplo, foi uma tradição neste país.  Não entremos no mérito da “tradição de Baden-Powell”, já que é digna de uma tese, sendo separada por fragmentos a começar pelo próprio Escotismo para Rapazes, o qual sofreu atualizações das mãos do próprio fundador até pouco antes de sua morte; mas há, ainda, os que insistem em que a primeira edição pensada para uma Inglaterra colonialista é a que vale.
Cabe ao povo, e somente a ele, decidir quando uma tradição acaba e quando ela começa. E não uma junta diretiva ou uma comissão. Não adiantará assinar leis estabelecendo uma tradição ou decretando seu fim se o povo não a aceitar. Não sendo assim, cedo ou tarde, ela acaba minguando e caindo no esquecimento, provando que não passou de uma moda passageira, longe do que entendemos por tradição. O próprio escotismo é prova disso: se é uma tradição encontrar escoteiros na rua aos sábados, é porque de 1907 pra frente o povo aderiu à ideia.

Para ilustrar o pensamento, a bandeira do Mercosul deveria ser hasteada, por lei (sequer é uma tradição), em todos os estabelecimentos públicos oficiais. Quantos de nós já vimos uma bandeira do Mercosul?

E não há meio de afrontar uma tradição sem deixar feridos pelo caminho. E esses feridos podem ser os que mais precisamos num movimento em queda livre, já que trazem na bagagem as rugas de alegria em relação ao que deu certo, e as cicatrizes daquilo que não vingou.

Traslademos o pensamento à associação escoteira. Uma instituição que não aposta na própria imagem e no que ela representou e representa há décadas, não poderá mostrar seriedade ou firmeza naquilo que crê ou faz. Um desenho que sempre estampou aqueles uniformes levados com galhardia, livros publicados na década de 60 (período mais fértil da literatura escoteira), se é apagado de nossa história da noite para o dia por uma comissão sem que haja uma justificativa de impacto à margem da démodé “são os jovens”, não somente mostrará que a associação não acredita em sua imagem, mas que sente dificuldade em valorizar aquilo que fez dela o que é hoje - “um país que não conhece sua história, tende a cometer os mesmos erros no futuro”.
E se por uma questão de moda se tratasse, ela, a moda, é tão passageira como o passar das estações. Não podemos afirmar o mesmo no que se refere à tradição, que se perpetua com o passar dos tempos, é aceita e mantida pelo povo: ela fala por si e não há necessidade de vendê-la, sequer enfeitá-la.

Não se trata de mudanças somente de imagens, ou de roupas, ou de modas, ou de gadgets. É que a própria instituição se resiste às mudanças. E por uma dessas ironias que nos cruzam o caminho, nos mostra essa resistência justamente porque ela, a instituição, não quer mudar sua forma de governar, sua “tradição” política, mesmo que seja para um bem comum e mesmo que os associados a reivindiquem.

Com o artifício da internet, o povo desfruta de portais de transparência, mas parece que o escotismo não precisa disso. Enquanto o voto direto representa uma democracia, nós não o temos. Enquanto a participação dos associados, o patrimônio máximo de uma associação, é levada em boa conta em qualquer segmento, no escotismo se faz a engenharia inversa.

Há aqueles com o discurso na ponta da língua: “mas o foco é o jovem”. Lembremos que são 12 mil adultos os que mantêm essas crianças interessadas em escotismo.  A modernização que traz resultados, como se vê lá fora, é justamente essa: a de se saber dar o devido valor ao adulto - a meritocracia. Mas nossos sites, longe de se atualizarem, preferem apenas gastar umas poucas linhas ao voluntariado.
No meu tempo era melhor? Lembro-me de minha infância com carinho, mas não me atrevo a equipará-la a outra infância ou adjetivá-la de “a melhor”.
Hoje é melhor? Para os jovens que vivem esse tempo, sim.

Mas para os adultos, que são os alicerces do movimento escoteiro, talvez seja um fardo demasiado grande que carregam a favor de crianças, porque a associação contribui para tanto. O escotista, o adulto, quer atuar onde a meritocracia funcione; quer ser ouvido, quer estar onde possa apertar a mão de um comissário distrital; ter uma conversa ao pé do fogo com algum dirigente nacional; receber uma carta lhe congratulando. A associação, ao contrário, se distancia cada vez mais do seu maior patrimônio, daquele que defende o nome da causa escoteira esteja lá onde estiver: o adulto, o “chefe”.

Não sei se será outra quimera, mas acredito piamente que o escotismo brilha mais por inciativas isoladas destes adultos do que associativamente falando.

O movimento escoteiro no Brasil não perde jovens para a internet ou para videogames. Os perde para ele mesmo. Passamos de um movimento que oferecia algo único, praticamente competindo sozinho, a um movimento que oferece o mesmo que outros, apenas com outra roupagem. A premissa da “escola de cidadania” não passará de um mantra se não nos fazemos ver e, por conseguinte, não sermos lembrados.