Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O menino Escoteiro cujos sonhos o vento levou!


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O menino Escoteiro cujos sonhos o vento levou!

(esta é uma história de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência).

              Era uma tarde “rabugenta”. Uma pequena garoa caia desde as primeiras horas da manhã. Naquela rua sem graça, molhada, escorregadia, quem passasse ia ver naquela casinha de varanda simples um velho sentado, vestindo um pijama azul e sobre suas pernas uma manta cheia de distintivos escoteiros. Se observasse melhor veria que era um velho de cabelos brancos, cacheados, pele enrugada, os olhos fechados como se estivesse dormindo. Vovô Teobaldo dormitava. Sua mente, entretanto estava viva. Não parava de pensar como nosso mundo nos deixa de vez em quando triste e muitas vezes nos falta ação para continuar a sorrir. A mente do Vovô Teobaldo voltou no tempo. Naquela manhã de domingo. Estava lendo um livro no seu quarto quando foi à cozinha beber uma água gelada. Ele gostava. Uma das suas manias.

             Na sala, sentados na poltrona estava Nininha, sua neta de oito anos e lobinha, Maninho, seu neto de doze anos e Escoteiro e em pé ao lado Landinho o neto mais velho de dezesseis anos e escoteiro Sênior. Vovô Teobaldo se assustou. Eles estavam chorando. – O que foi? Interpelou. – Vovô, meu Vovô querido, vão acabar conosco! – Acabar como? Vão fechar nosso grupo Escoteiro! – Calma isto não vai acontecer. Conheço o Chefe Mauricio. Ele nunca faria isto. – Não é ele Vovô, são os outros! - Outros? – Olhe Vovô Teobaldo, ontem na escola minha amiga Joaninha que é lobinha do outro grupo me deu uma cópia de um artigo que ela copiou de seu tio, Chefe Escoteiro. No artigo dizem que vão acabar com nosso Grupo! – Onde está este artigo? Ela entregou para ele. Ele sentou em outra poltrona e leu.

                - Era um comunicado da outra organização. Informava aos seus sócios das providencias que estavam tomando para processarem todos os que não estivessem do lado deles. Claro, um direito sem sombra de duvida. Mas ali estava escrito que eles não podiam ser chamados de escoteiros, de lobinhos, de pioneiros, de chefes, não podiam dizer a promessa Escoteira, estavam proibidos de usar a Lei Escoteira, de comprar livros deles, pois tinham registrado tudo na organização deles. Quem usasse seria processado. E terminava com uma lista dos processos que já foram abertos. Vovô Teobaldo se assustou com aquilo. Ele já sabia que isto estava acontecendo. Infelizmente os meninos que entraram naquele e em outros grupos que não eram da organização, sonharam com o escotismo. Nunca se preocuparam se eram de outra organização. Achavam que todos eram irmãos. Fizeram promessa, as leis que seguiam eram do fundador Baden Powell. Agora diziam que eles eram dono de tudo! Eles choravam copiosamente.

                 Vovô Teobaldo ficou triste. Maninho em lágrimas perguntou – E agora Vovô! Minha promessa não vale? Não posso mais ser chamado Escoteiro? Pensei que era um nome mundial. Até pesquisei e vi que tem muitos que o usam. Nas estradas de ferro chamam de locomotiva sozinha de Escoteira. Vovô, eu gosto de ser escoteiro. Não quero mudar de grupo. Eu amo onde estou. – Vovô Teobaldo não sabia o que dizer. – Landinho o Sênior também chorava. – Vovô! – ele disse. Tenho sete anos no grupo. Fui lobinho, Escoteiro, e agora sênior. Meu passado não vai mais existir? Olhe Vovô, o Senhor lembra. Eu sonhava em ir ao Jamboree deles. Não deixaram. Mesmo o Senhor indo conversar com o Comissário deles foram inflexíveis. O Senhor lembra-se disto. E olhe Vovô como sonhei em ir lá e conhecer tanto jovens como eu! O Senhor sabe Vovô, nós temos muitos amigos lá. O tal comissário já foi no grupo deles falar que deviam ficar longe de nós. Mas somos da mesma cidade. Do mesmo colégio. Somos amigos Vovô, não importa onde estamos!

                  A noite chegava mansa e gostosa e a garoa continuava. Um frio gelado soprava com a brisa noturna. Vovô Teobaldo pensava. Mundo difícil. Mundo de expiação e provas? Mundo mutante? Mas eram escoteiros, afinal não dizem que são amigos de todos e irmãos dos demais? Será que vale só para eles? Mas não eram só eles, os outros também. Dirigentes que não se entendiam. Ele sabia que de ambos os lados não havia adultos anjos. Gastavam fábulas com processos só para ver o outro lado no chão. Vovô Teobaldo pensou se Jesus de Nazaré viesse a terra para ser o juiz da contenda o que iria resolver? Ia falar que devemos amar a Deus sobre todas as coisas? Ou quem sabe lembrar a palavra do seu pai, que dizia que devemos amar ao nosso próximo como a nós mesmos? Que diria Jesus de Nazaré? Vovô Teobaldo não sabia o que dizer. Não teve palavras para consolar seus netos. Lá em cima, entre os homens fortes de cada organização só havia ataques, defesas, direitos e deveres de ambos os lados. E os jovens? E a sua neta lobinha? O que seria dela? Nunca iria perdoar os adultos que fizeram isto. Afinal é culpa dela?

                   Vovô Teobaldo dormia. Alí. Naquela cadeira em seus sonhos rezava. Rezou muito. Rezou pelos homens, pela sua promessa que eles um dia fizeram. Prometeram pela sua honra, cumprir seus deveres para com Deus e a pátria. Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro. A lei. Ora a lei. Seria só deles? Baden Powell doou tudo que fez para eles? Ah! Jesus. Deixe que eles conheçam melhor suas palavras. Não foi o Senhor quem disse que devíamos amar nossos inimigos, que devemos fazer o bem para aqueles que nos odeiam. Que devemos abençoar aqueles que nos amaldiçoam, rezar por aqueles que nos maltratam. E Jesus só você mesmo para dizer a eles, pois eu não posso – “Se alguém te bater no rosto, ofereça a outra face”.

                   Vovô Teobaldo acordou na sua varanda altas horas da noite. Todos já haviam ido dormir. Não havia mais chuva. Não havia mais garoa. Uma brisa gostosa e refrescante soprava em sua face. No céu uma lua enorme. Rechonchuda, iluminando o céu cheio de estrelas. Lá, muitas delas brilhantes pareciam escrever no céu azul, em letras grandes, enormes – Pai perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem! Vovô Teobaldo foi dormir. Sorria. Sabia que tudo se resolveria. Afinal Jesus de Nazaré não disse que “o que queres que os homens façam por ti, faça igualmente por eles”? “O amor é tudo”

“Ame seus inimigos, faça o bem para aqueles que te odeiam, abençoe aqueles que te amaldiçoam, reze por aqueles que te maltratam. Se alguém te bater no rosto, ofereça a outra face”.
Jesus de Nazaré

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Apenas uma jornada de primeira classe.


Conversa ao pé do fogo.
Apenas uma jornada de primeira classe.

        Poucos podem lembrar. Mas tivemos uma época que as provas escoteiras eram espetaculares, não que as de hoje também são. Mas pergunte quem já foi um Escoteiro Segunda Classe ou um Primeira Classe, pois para ser um deles você tinha quer ser um mateiro e um grande Escoteiro. Mas a Primeira Classe? Se alguém a tivesse na manga da camisa todos admiravam. Ali estava um autêntico exemplar de um grande Escoteiro. Ele sabia tudo, nada escapava e no campo podíamos ficar tranquilo. A sua sagacidade, os seus conhecimentos e a suas experiências eram para poucos. Outro dia comentando com um amigo Escoteiro de hoje falei da prova de Jornada, condição para chegar a Primeira Classe. - Chefe, hoje não podemos mais fazer uma jornada. A criminalidade Chefe é enorme. Já pensou deixar dois jovens sair por aí em uma estrada ou trilha solitária, onde irão dormir em local pré-determinado, onde estarão sempre sozinhos? – Não dá Chefe, não dá. – Eu ficava pensando quando me diziam isto. Onde foi parar o escotismo aventureiro? Onde foi parar nossa máxima de fazer fazendo? Como entender Kipling que dizia: - Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... “Deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”. Outro dia comentei com um Chefe amigo – Meu caro ainda fazem atividades aventureiras? Ele sorriu e disse – Claro que sim Chefe! – É Mesmo? Retruquei – Eles hoje acampam nas mais altas montanhas? Eles viajam pelas campinas verdejante? Eles já arvoraram uma bandeira em uma vale distante? – Ele me olhou calado, pensou e disse – Não dá mais Chefe, não dá mais...

         Tenho um amigo escoteiro de outra cidade, entusiasta, bem preparado e o considero grande Escoteiro. Um dia disse para ele – Sabe Chefe, no passado você chegava a uma tropa ou uma Alcateia e sabia só de olhar o seu conhecimento técnico e como eles desenvolviam suas atividades. Nos lobos só de ver quantos duas estrelas tinham já se podia imaginar. Nas tropas se encontrasse dois ou três primeiras classes então era para ficar admirado. Seria uma tropa para ninguém colocar defeito. E as estrelas de atividade? Hoje são de pano, comentam que as de metal produzem acidentes. Bah! Usei as minhas em lugares inimagináveis, meus amigos também e nunca vi nada disto. Mas era bom olhar para um jovem, se tinha estrelas feitas de metal com o fundo amarelo, marrom/grená, verde ou vermelho. Chefe era azul. Era só ver um Chefe com estrelas amarela de lobo, verde de Escoteiro, marrom/grená de sênior e vermelha de pioneiro e a gente sabia que ali tinha um bom mateiro, um bom Chefe Escoteiro. Conhecia-se o valor da Alcateia e das tropas só de olhar. A gente sorria de orgulho.

        - Chefe ele me dizia – Hoje também é assim, são distintivos novos. Ah! Tentei aprender e reconhecer, mas estavam meio misturados com as especialidades. Elas hoje estão em profusão, sempre um ou outro com dez, vinte e até quarenta eu já vi. Precisa a UEB copiar com urgência a BSA com a faixa de especialidades que eles usam. Agora com as estrelas de pano a cor é meio apagada é difícil reconhecer quem possui um, dois ou dez anos de escotismo. Ainda dá para reconhecer um Lis de Ouro, um Escoteiro da Pátria. Mas e uma primeira classe? Ou uma eficiência II? Ave Maria! Era encontrar um e ficar orgulhoso. Ali tinha uma bela patrulha escoteira e no campo só podiam tirar nota dez. Hoje? Quem sabe existe tropas de grande qualidades e a gente não vê? Entristece ver alguns sem promessa tentar acompanhar quatro ou cinco jovens iguais a ele. Quem sabe ainda encontro uma tropa de elite como já vi tantas por aí. Tropas com patrulhas antigas e membros participantes com dois três anos de atividade. Deve ser horrível acampar nos moldes de Giwell com patrulhas incompletas, patrulhas amadoras nas técnicas escoteiras.

         Quem sabe é por isto que algumas tropas não conseguem fazer um perfeito acampamento de Giwell e os jovens são levados pelo Chefe a atravessar a corda que ele esticou, ou jogar todos no barro para fazer um “rastejo” a moda índia ou militar. Mas a primeira classe, ela sim dava um toque profissional ao escoteiro. Ali você sabia que ele acampou com mais um em uma atividade aventureira longe da sede. Você confiava que ele sabia seguir um mapa, um percurso de Giwell, era bom no passo Escoteiro ou no passo duplo, sabia orientar por bussola e estrelas, orientar pelas árvores, pelos pássaros ou animais. Você sabia que ele era um perito em sinais de pista, um perfeito Sinaleiro e cozinheiro. Você sabia que ele sempre tinha um sorriso nos lábios, que olhava para você de igual para igual. Vi muitos substituindo o Chefe Escoteiro quando ele faltava por algum motivo. Hoje? Hoje é diferente, o Escoteiro acampa de olho na internet. Faz pioneiría com o Chefe na frente dele fazendo também. Cozinhando com o Chefe ali na cozinha falando e falando. Como fazer um escotismo aventureiro assim?

          Perigo? Não dá mais? Os pais são outros? – Chefe se acontece alguma coisa eles metem advogados em cima da gente! Verdade? Caramba! Que pais são estes que não colaboram na formação escoteira fazendo do seu filho ou da sua filha alguém que se pode confiar? Nunca vi isto na minha vida escoteira. Até que vá lá uma autorização por escrito dos pais, mas a parafernália burocrática que fizeram acontecer não dá para entender. Ok! Sei que cada um tem uma explicação, mas meus amigos chefes, os jovens ainda sonham em serem heróis, em ser um explorador das montanhas em fazer construções impossíveis, em atravessar rios e florestas, em descobrir cavernas, em ser um Sinaleiro, em buscar no escotismo o que poderia ser encontrado. Os que pensam ao contrário poderiam ver que muitas das provas de hoje são encontradas por eles nos meios sociais da internet, no seu celular, no seu colégio. O escotismo não, no escotismo devíamos dar a ele o espírito de aventura, a vontade de viver na natureza, o desejo de ser um herói.


         Penso que os que mudaram o programa Escoteiro não o conheceram profundamente. Não tiveram a oportunidade de ser um segunda classe, um primeira classe ou um portador da eficiência II. Em nome dos princípios modernos chegaram à conclusão que os jovens precisam de outro programa. Fico pensando por que não criaram os programas que achavam válidos, mas deixassem permanecer a nomenclatura antiga? Nada é imutável e eu acredito que os tempos são outros. Mas não gosto destes tempos. Já não vejo tantos com aquele espírito aventureiro, espirito mateiro, um daqueles que você dizia; - Neste você pode acreditar. Sei que não tem volta, não vai ter o passado no presente. Mas por favor, façam do Escoteiro e da escoteira alguém forte, alguém que sabemos que irá andar com as próprias pernas. Chega por favor, daquele Escoteiro “manteiga” onde tudo se derrete neste medo do passado onde só o presente é válido. Ah! Quem conhece a capa do caderno Avante com a escoteirada na montanha, bandeira desfraldada, sabe o que estou dizendo, e quem sabe ainda teremos o gosto da aventura de volta?    

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Enzo, o Monitor da Tropa Caapora.


Conversa ao pé do fogo.
Enzo, o Monitor da Tropa Caapora.

                   Enzo estava pensativo. Já duravam duas semanas e na patrulha não se falava outra coisa. O Arthur ia passar para os sêniores no mês que vem. Até aí tudo bem, mas o Arthur era Monitor. Mesmo com o Murilo seu sub. há muito tempo todos sabiam que haveria eleição. Era uma tradição desde que a tropa fora fundada. O sonho de Enzo sempre foi ser um Monitor. Desde que passou dos lobos para a tropa. Sabia que tinha de esperar sua vez e para isto sempre foi participativo no trabalho e nas ideias da patrulha. Havia uma amizade enorme entre eles, mas havia Julia ela também sonhava. Um dia ela disse para ele. – Enzo, eu também sonho em ser uma monitora. Os demais não tinham essa preocupação. Para eles tanto fazia ser como não ser. Enzo não entendia porque, afinal seu pai um dia disse para ele que quem fica parado é poste. – Siga seu próprio nariz se quer ser alguma coisa na vida, dizia o Chefe Tomaz. Era seu direito em sonhar e a Julia era páreo duro. Primeiro que ela sorria de uma maneira tal que ninguém dizia não. Sabia conquistar e fazer amizades.

                 Arthur o Monitor achou por bem fazer um Conselho de Patrulha. Explicar a sua ida para os seniores e combinar a data da eleição do novo Monitor. Arthur não foi um excelente Monitor, todos o achavam muito mandão. Sim ele trabalhava e muito, mas exigia demais. Quando na inspeção a patrulha falhava todos sabiam que ia haver sermão. Arthur não era participativo. O que se falava na Corte de Honra ninguém sabia nada. Nas outras patrulhas havia comentários, mas a Tamanduá não se falava outra coisa. Robertinho da Patrulha Arara morava na sua rua e lá eles eram grandes amigos. Eles tinham liberdade de conversar tudo que achavam da Tropa Caapora. Enzo nunca escondeu de sua decepção com a patrulha no último acampamento. Não se classificaram tudo porque o Arthur dormiu mais do que devia e era sempre ele que acordava a patrulha. Resultado não deu tempo para preparar o campo e na hora da inspeção a tampa da fossa de líquidos estava quebrada, no fogão suspenso havia muita cinza, uma das barracas tinha a forquilha solta e só isto jogou a patrulha lá embaixo. Enzo quase chorou e ainda bem que o Robertinho era bom amigo e o consolava sempre.

                - Sabe Robertinho, dizia Enzo – Eu queria ser Monitor, queria mostrar a todos o que deveria ser um Monitor. Iria seguir a risca o que Baden-Powell disse - ‘Quero que vocês, monitores, entrem em ação e adestrem suas patrulhas inteiramente sozinhos e à sua moda, porque para vocês é perfeitamente possível pegar cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro homem”. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestando nada. Vocês devem procurar fazê-lo todos positivamente bons. – Robertinho retrucou que não é fácil conduzir uma patrulha. Cada Monitor tem um estilo. Veja o Joel nosso Monitor. Todos o acham paradão, se não fosse o Cassio o Sub a patrulha já tinha ido para o brejo há muito tempo. Enzo lembrou quando entrou para a tropa e o Chefe Josias com sua barriga e suas pernas curtas nunca acompanhou como devia a tropa. Só sabia gritar e quando ia fazer algum comentário deixava todos de pé por vinte ou trinta minutos. – Sabe Robertinho, naquela época quase saí.

              - Ainda bem que ele foi embora e entrou o Chefe Marcelo. Ele é bom demais. Amigo, compreensivo, educado e só chama a atenção de alguém em particular. Na semana seguinte o Conselho de Patrulha votou que a eleição seria na próxima semana. Qualquer um poderia ser candidato. Arthur fez questão de perguntar a um por e um e só Enzo e Julia seriam candidatos. Claro que ele aproveitou para fazer uma preleção sobre como devia ser o Monitor, mas não disse que deviam ser diferente dele. Ninguém reconhece seus erros só os acertos. Tudo ia bem quando na quinta o mundo de Enzo explodiu. – Não era possivel! Ele pediu tanto a Deus e agora? Seu pai naquele dia entrou em casa sério, chamou Enzo, Norma sua irmã e sua mãe dizendo que tinha um importante comunicado da fazer – Entrou logo no assunto: - Fui transferido para Monte Azul. Meu salário terá um aumento considerável e lá serei o Diretor da Secretaria Fazendária. Enzo foi para seu quarto e chorou mesmo com sua irmã e mãe tentando ajudá-lo a compreender as responsabilidades na família.

          Nunca na vida Enzo chorou tanto. Queria tentar entender, mas sua mente só tinha uma preocupação o seu amor pelo escotismo e o sonho de ser Monitor. Sonho que estava tão perto! Naquele sábado as suas pernas não ajudavam. Enzo foi para a reunião com o peito queimando. Sabia que a mudança da família seria feita só em janeiro a espera do termino do semestre para eles não ficarem prejudicados na escola. Seu pai iria antes. Quando chegou a sede viu a alegria tão conhecida, as patrulhas reunidas, muitos de pé lhe dando o Sempre Alerta, os lobinhos em uma correria sem fim. – Será que vou aguentar? Ainda faltam oito meses para a mudança, mas eu conseguirei continuar aqui? Meu coração pesa, minha mente está em pedaços, meu Deus não sei o que fazer! A reunião começou, só ao termino dela a Patrulha faria seu Conselho. Conselho tão esperado por Enzo. Quando o Arthur chamou a patrulha para se reunirem na sede, na sala onde se fazia A Corte de Honra e outras reuniões importantes, Enzo fechou os olhos e rezou pedido a Jesus que lhe desse força.

          Aberta a reunião do Conselho Enzo pediu a palavra. Contou tudo. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Não haveria volta ele ia partir. Durante segundos e minutos ninguém disse nada. Todos sabiam que Julia agora seria a nova monitora. Ela pediu a palavra – Patrulheiros, pela primeira vez eu senti que não seria digna de ser monitora, não neste momento. Se todos concordarem Enzo será nosso Monitor até janeiro quando vai embora. Acho que ele merece isto. Uma tremenda de uma salva de palmas. Até Arthur no alto de sua pose de Monitor, levantou da cadeira e deu um grande abraço em Enzo. Este não sabia o que dizer. Não sabia se chorava ou se ria. Monitor por um dia? Por meses? Porque não? Todos correram a abraçá-lo e jogá-lo para o ar. Se em todos os monitores do mundo existe uma força que o faria ser por tão pouco tempo um grande Monitor, Enzo não decepcionou.


           No dia da partida foi uma festa. Uma festa que ficou marcada na vida de Enzo para sempre. Partiu sorrindo e chorando. Deixar para trás a tantos que sempre amou não era fácil, mas eles foram dignos com ele. Mereciam que ficassem gravados em sua mente para sempre. Se lá em Monte Azul não houvesse um Grupo de Escoteiros, Enzo faria tudo para que exista um. Coração de Escoteiro é assim, não desiste nunca. Não importa onde, não importa o lugar, Escoteiro é Sempre Escoteiro. Enzo foi um dos maiores monitores da história do escotismo. Onde estivesse eu sei que Baden-Powell estaria orgulhoso dele!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O celular.


Conversa ao pé do fogo.
O celular.

          Trinnn! Trinnn! Trinnn! Quem aguenta? Tem gente que adora como diz um compadre meu. Dizem alguns que não sabem viver sem ele, outros gastam o que não tem para trocar todo ano e outros acostumaram tanto que ficam olhando para ele dia e noite. Noite? Sim. Conheço um que acorda de madrugada e lá está ele com seu indefectível celular. Eu não gosto. Devia gostar. Mas nunca tive um. Meus filhos insistem para que compre um ou então vão me presentear. Não quero. Por favor, não! Outro dia me vi jovem Escoteiro lá na década de 50 e o celular fazia parte do dia a dia de todos. Que balburdia seria.

         Vi-me ali, no cerimonial de bandeira, éramos a patrulha de serviço do dia, eu com a Nacional, e junto a mim outros com a do Grupo e a do Estado. O Chefe diz – Firme! A bandeira em saudação! Começa a subida das bandeiras e puxa vida, diversos celulares começam a tocar. – Oi linda, estou na ferradura diz um, ligue mais tarde logo estarei na reunião de Patrulha e falo com você. Ou mamãe, quando acabar vou direto para casa diz outro eu prometi chegar cedo não disse? Você tem de me pagar o que deve diz a voz no celular do assistente da tropa. Ele fica vermelho. Estava no viva voz. Não sabíamos de um caloteiro na tropa. Risos. E a bandeira? Acho que o cerimonial perdeu todo o significado.

        E lá estava eu, junto a Patrulha de monitores, acampados e nos conhecendo, já noite, deitados na relva e observando o vai e vem dos cometas, o piscar das estrelas e apaixonadamente vou narrando a todos a beleza do universo, onde ficam as constelações, os olhinhos de todos fixos no espaço, sonhando e caramba! Toca um celular. Maldito barulho. Um dos escoteiros meio sem jeito levanta e atende. – Não, não posso sair com você hoje amor. Estou acampado. Eu sei. Mas saiba que adoro você. Calma. Não diga isto. Amo você, mas amo também o escotismo. – Haja paciência.

        E em pleno desfile, passando em frente ao palanque das autoridades e eis que vinte celulares tocam ao mesmo tempo. O barulho foi tanto que até escondeu o som da fanfarra. Todos atendendo ao mesmo tempo. – Não posso agora. Estamos desfilando. Entenda, não dá para atender. - Oi bela, amo você. Tudo bem Mariquinha, à noite falo com você. Mãe, estamos desfilando! Você não dá sossego!  Belo espetáculo. O prefeito riu e o celular dele tocou. O delegado franziu a testa, mas seu celular era barulhento. A diretora da escola fechou a cara e logo seu celular tocou. E os chefes? Ficaram vermelhos quando os seus também começaram a tocar. Maldito celular!

       A tropa formada. Dia de promessa. Todos perfilados. Um Escoteiro novo se preparou por três meses para agora ter o direito de usar o lenço e o distintivo de promessa. Ao lado o Monitor. O Chefe pergunta: - Você esta pronto para a promessa? Sim Chefe ele responde. Conhece a Lei Escoteira? Sim Chefe! Fale do quinto artigo para toda a tropa – E eis que o celular dele toca. Ele vira para ao Chefe. – Só um minutinho. Um amigo quer saber se vamos ao cinema hoje. Logo, logo comento o artigo. É. Mas não para por aí. O do Chefe toca também. É a esposa – Está no viva voz – Mauro! Você não deixou o dinheiro para pagar a Dona Filomena! Ela disse que se não receber não faz mais faxina em casa!

      O celular. Bela invenção. Coloca-nos junto a todos que o possuem. Não temos mais o direito de ficar sozinhos. Lá está ele nos incomodando se estamos almoçando, trabalhando, cantando no chuveiro ele toca e intrometido como é alguém diz do outro lado – Quem está falando? Ele que ligou e vem com essa? E ainda insiste em saber quem está falando? Se você diz que é o Fagundes ele diz, chama a Maricota. Nem te diz bom dia! Não pede. Ordena. Ainda bem que não tenho um. Não tenho mesmo. Até o meu fixo evito usar. Gosto do silêncio. Adoro. Quando acampava meu esporte favorito era chegar o mais próximo dos animais. Pé ante pé, rastejando, do lado contrário do vento para ele não sentir o cheiro do meu corpo, Chegar bem pertinho, sentir seu cheiro e Puff! Toca o celular e ele sai correndo! Nunca. Não quero. Já pensou você pescando uma bela traíra, seria sua janta e sabe que não pode haver barulho se não ela foge. Puff! Toca o celular! Não vou falar aqui a falta de ética daqueles que fazem questão de falar alto, de gritar, de contar à vida que está levando e nos obrigar a viajar com ele pela sua falta de educação.

      Sei que cada tropa e cada Alcatéia tem sua maneira de agir. Já me contaram tantas coisas que fico pensando se vale a pena. Mas celular, arre! Nunca. Teria perdido a graça quando nos perdemos na gruta do morcego, ou na Mata do Sargento. Mas quer saber? Não quero. Não gostaria de voltar ao passado, montando um campo de Patrulha, fazendo uma mesa, um fogão suspenso e a maioria com um celular conversando com outros a centenas de quilômetros de distância. Ainda lembro-me daqueles novatos, que quando a noite chegava choravam pedindo mamãe. E se tivessem o celular? – Mamãe, por favor! Venha me buscar! E berrava de choro no celular!


      Fiquem com os seus. Não tenho, e nunca vou ter. Celulares! Eu era feliz sem eles e continuo feliz não os tendo!