Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 25 de agosto de 2012



Publicado por Marcelo Mallmann

AJUDE OS ESCOTEIROS A MUDAR A PERCEPÇÃO DE QUE O ESCOTISMO NÃO É “DA HORA”

                 Os Escoteiros da tropa X desfrutam de excelentes aventuras, mesmo assim sofrem provocações por serem Escoteiros. Como os líderes podem ajudar a mudar a percepção de que o Escotismo não é legal
*Represália molecada!
               Devemos ensinar nossos Escoteiros a responder quando alguém faz um comentário negativo. Exemplo: “Escotismo é coisa de boiola? Quando foi a última vez que você caminhou 30 km, rapelou 25 metros, pedalou 90 km, escalou um pico de mais de 2000 metros, ou navegou de canoa até uma ilha?” “Se houver alguma emergência, você pode confiar que eu estou preparado para cuidar de você. Você seria capaz de cuidar de mim?” “Onde você acha que eu aprendi as habilidades de liderança para ser o capitão do time da escola?” “Pelo menos eu serei capaz de pôr no meu currículo que alcancei o Escoteiro da Pátria. O que é que você vai colocar no seu?” “Você faz parte de alguma coisa onde você e outros da sua idade planejam e executam o que fazem? Eu faço. A gente organiza e planeja nossos encontros e atividades. Não é como todo o resto, onde os adultos é que comandam!”.
              Quando os Escoteiros respondem desta forma, normalmente os comentários negativos se calam, e muitas vezes aquele que fez os comentários sobre o Escotismo acaba entrando para o grupo.
*Seja Pertinente
             Já que o entretenimento é tão imersivo hoje em dia, temos que intensificar nossos esforços para mantermos o alcance. Por exemplo, preparando uma edição “Sobrevivência Zumbi” da especialidade de Defesa Civil, Primeiros Socorros e Prevenção de Incêndios. Os requisitos são os mesmos, mas a instrução é apresentada de forma teatral e imaginativa. Tenho certeza que a conquista deste distintivo será memorável, eficaz, e digna de comentários. Medir a eficácia do nosso programa através da boa vontade dos jovens em contar aos outros sobre isso nos dá a certeza de que como adultos estamos indo na direção certa.
*Mochilão, não Meião. 
           Muitas pessoas não entram para o Escotismo porque o uniforme é tudo o que elas veem. Mais atenção deve ser dada ao que fazemos do que ao que vestimos: sair em grandes viagens, fazer amigos incríveis, e aprender liderança, serviço e novas habilidades. Temos que mudar a imagem do Escotismo de uma camisa bege e meião cinza para uma visão de escaladas em rocha e aventuras com mochilão. Não é mudando o uniforme que mudaremos nossos números.
*Aproveite a Tecnologia. Tire fotos dos jovens em ação, fazendo as coisas divertidas e legais que os Escoteiros fazem, e procure publicar essas fotos no jornal local, no blog da tropa e no Facebook. Fazendo que os jovens tenham orgulho de aparecer “like a boss" nas atividades que participam. O Escotismo é um esporte para o ano todo, e deve ser vendido como tal.
            Faça com que toda sua seção, se não estiver de uniforme escoteiro, esteja com camisetas iguais, assim você ainda parece uniforme como grupo, e aumenta um pouco o fator da hora.
           *Faça a Diferença. Alcateias e tropas devem começar a trabalhar juntas para mostrar à comunidade como é legal ser Escoteiro, não só porque descemos corredeiras em botes e construímos torres com nossas próprias mãos, mas porque servimos nossa comunidade e fazemos a diferença. Nós precisamos fazer um trabalho melhor para ter certeza que a comunidade sabe quem nós somos e qual o impacto que nós temos só então os jovens vão achar que é legal tanto estar limpando um parque ou fazendo uma trilha na montanha.
           *Foque no Sucesso. Pergunte aos Escoteiros, “O que você quer ser quando crescer?” Executivos líderes públicos, oficiais das forças armadas, atletas, etc. todos foram Escoteiros. Dos 312 pilotos e cientistas selecionados como astronautas desde 1959, pelo menos 207 foram identificados como tendo sido Escoteiros. Dos 24 homens que viajaram para a Lua, 21 foram Escoteiros, incluindo 10 dos 12 homens que fisicamente caminharam sobre a superfície da lua. Três viajaram à Lua duas vezes. Precisamos dar alguns exemplos e demonstrar como as lições de vida e habilidades aprendidas no Escotismo contribuem para o sucesso futuro.
           Além do mais, quem não acha facas e fogueiras algo da hora?

Chatos! Existem no escotismo?


Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e... Os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Chatos! Existem no escotismo?

              Não sei. Alguns amigos meus dizem que sim. Dizem que eu sou um deles. Um até me disse que sou um “Chato de Galochas”. Poxa! Logo eu? Nunca tive galochas. Não sabia que era chato. Dizem que a palavra “Chato de Galocha” é aquela pessoa que mesmo num dia de chuva, põe sua galocha e vem exercitar sua “chatura”. Outros dizem que o Chato de Galocha é o chato prá chuchu que saiu do mundo agrário e ingressou na era moderna. Mas como sou Escoteiro e um chato por profissão, pensei comigo: - Será que tem chatos no escotismo? Pensando bem acho que sim. Já que me coloquei como um deles porque não dizer dos outros? Vejamos a descrição de alguns chatos e tenho certeza que você minha amiga e você meu amigo não se enquadram em nenhum deles. Ainda bem!
- Fãs de entendidos - São aqueles chatos que não podem ver um Escotista mais graduado que correm para conversar com ele. Ficam ali com cara de aluno junto ao seu professor e querendo absorver toda a pose, todo sorriso e todo conhecimento do Chefão!
- Politizados em demasia – São aqueles chatos que defendem com unhas e dentes sua organização, seus superiores, suas ideias. Nunca admitem erros. Mesmo não tendo nenhuma experiência, jactam-se de tudo que falam. Os dirigentes adoram estes chatos.
- Carentes – Estão chatos estão sempre reclamando. Reclamam de tudo. Do Chefe, dos assistentes, do Diretor Técnico, do Comissário dos acampamentos ruins, das taxas baratinhas cobradas, enfim reclamam de tudo. Quando te pegam na esquina para reclamar haja “saco”!
- Amigos do passado – Gosto destes chatos. Se te pegam na rua, logo convidam para uma cerveja, uma pizza, e sempre pagam as despesas. O ruim é que ficam lembrando, lembrando e você olhando para o relógio sem jeito de sair.
- Viciados em aplicativos – Estes não são “moles”. Adoram te mandar recadinhos para aplicativos no facebook. Você acessa sua conta ou o celular e vê um monte de notificações. E quase sempre são aos mesmos. Não adianta deixar recados. Todo o dia lá estão eles. Irmãos de farda. Irmãos de ideal. Difícil convencê-los que são chatos.
- O olheiro – Desculpem. Não é do meu tempo. Hoje o chamam de Assessor. Desde que criaram a função de assessor para tudo logo o escotismo também criou o seu. A diferença é que é de graça! O chamo de olheiro porque ele vive de olho em você. Quer ser seu orientador, dizer o que fazer. Ensinar a você o caminho para o sucesso, mas quase sempre é o caminho que ele imaginou. Até que gosto da ideia destes chatos. Mas desculpem, não deixam de ser chatos.
- O metódico – É o Chefe que tem o jeito dele de trabalhar, de fazer as coisas. Ele já tem na cabeça o seu jeito certo de realizar suas tarefas. Nunca pede ajuda. Quando estão juntos acampados ele acha que você faz tudo errado. Com aquela “fleuma” Escoteira de Escoteiro bem educado, ele te enche as “paciências”.
- O perseguido – Fica o tempo todo falando que existem complôs contra ele. E o seu Chefe, seu Presidente, seu distrital, enfim querem tirá-lo do escotismo. Não sabe o que fazer. Pensou em mudar de lado, mas soube que do outro lado seria a mesma coisa. Não sabe se sai ou se fica. Que medo ele tem de ser demitido ou levado a tal comissão de ética! E o salário oh!
- O nervoso – Nuca está satisfeito com nada. Explode por qualquer coisa. Reclama que não recebeu um agradecimento, uma condecoração. Reclama que já devia ser o Chefe da tropa, do Grupo, reclama que Já devia ter recebido sua insígnia. Reclama de tudo!
O dono do mundo – Este chato é um perigo. Considera-se o maioral. Está acima da lei e quando ela não lhe agrada, a faz de novo. Não quer perder o seu cargo e finge ser seu amigo para se perpetuar no poder.
            É, tem tantos tipos de chatos que poderia ficar aqui o dia inteiro falando sobre eles. Os chatos amigos, que lhe dão beijinhos na frente e que fazem nas suas costas você não sabe. Tratam-te com carinho e lá ao longe preparam sua cama para ver você dormir e não voltar mais!  O folgado, que não levanta a bunda para fazer nada e sempre lhe pedindo para fazer tudo. Tem muitos mesmos. Mas o pior deles é o Capachão. Que puxa saco meu Deus! Os diretores, dirigentes, formadores adoram estes tipos. Ele quer a todo custo ser um deles! Haja paciência com eles, pois pior que eles só eu mesmo. Como sou chato meu Deus! Mas meu conselho é um só, Corra destes tipos! Só não sei como você vai correr de você mesmo!
          Enfim, é melhor ser como eu. Um chato de galocha! Um chato rei dos chatos. Risos. E vivam os chatos, ainda bem que o escotismo não vive sem eles! Rsrsrsrsrsrsrs, ou melhor... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

As crônicas do Chefe escoteiro. Evasão – Rotatividade – Turnover.



As crônicas do Chefe escoteiro.
Evasão – Rotatividade – Turnover.

               Eu sei que muitos de voces chefes escoteiros sabem o que significa perder a cada ano jovens em suas tropas e alcateias. É triste saber que alguns não vão vir mais. Quando isto acontece com um ou dois por ano vá lá, mas quando o número aumenta é sinal que a luz de alerta deve ser acesa. Meus dados são escassos, mas conversando aqui e ali com amigos, chegamos à conclusão que quase empata a saída com a entrada de jovens e adultos nos grupos escoteiros. É alarmante. Infelizmente ainda não vi nenhum estudo sério por parte dos nossos dirigentes. A cartilha deles eu conheço de longa data.  São explicações que não convencem. Pois entra ano e sai ano tudo continua na mesma.
Será que sempre foi assim? No passado que vivi não. Claro não tínhamos um crescimento satisfatório como em outros países e isto era bem compreensível. Difícil contato, condições adversas de estradas, meios de comunicação, e muitos grupos viviam praticamente isolados e sem registros e as visitas a eles se feitas eram com muitas dificuldades. Mas se não me engano chegamos mesmo assim a registrar quase setenta e cinco mil na década de 80/90. (iniciando com as moças a partir de 84. Devíamos com elas ter dado um salto no efetivo o que não aconteceu). Era comum conhecer em patrulhas e matilhas, jovens com dois e três anos de atividade. (saudades da segunda estrela, da segunda classe, da primeira classe) Poucos saiam.
                Dizem que a saúde de uma organização se define pela relação entre o número de pessoas que entra e pelo número de pessoas que sai. Isto em muitas empresas e organizações em todo o mundo define se tem algum errado. Lá os números são outros. A partir de cinco por cento já é assustador. E aqui? É preocupante. O envolvimento de todos os órgãos escoteiros para alertar ou mesmo discutir o porquê de tudo ainda não aconteceu. Não sei se é prioridade da UEB.
               Não seria bom que houvesse um alerta e quem sabe uma orientação para que cada Escotista fizesse em sua sessão um trabalho a respeito? Dizer o obvio todos dizem. Até eu. (novos programas nada adiantaram) Mas e então? Se você não tem uma tropa completa, se sua Alcatéia é pequena e pensa em aumentar e não aparecem candidatos é porque suas atividades não estão agradando. Uma tropa Sênior resolveu em Conselho de Tropa fazer as reuniões quinzenais. Por quê? Quem sabe ir lá aos sábados não tinha atrativos. Sempre achei que a pesquisa era o caminho ideal. Sempre aconselhei em cursos, em palestras que este era o melhor caminho. Pesquisar. Pesquisar muito. Ouvir sempre os jovens. Justificar e explicar não adianta. Se eles saíram é claro que lá no bairro tem programas melhores. Ir a casa deles. Conversar com os pais. A intenção seria a de saber o que houve e não tentar se redimir e claro sem pedir sua volta à tropa ou alcatéia com promessas fantasiosas.
                  Se estivéssemos fazendo isto há tempos, se descobríssemos o que eles querem, (tem muitos que dizem saber o que eles querem, e porque a evasão continua?) Se houvesse um trabalho bem feito quem sabe poderíamos ter um retorno ao sucesso que todos nós esperamos. Em conversa com formadores é sempre aquele pensamento – Conhecimento, bons programas etc. Eu também já disse isto. Programas. E então? Não estão havendo cursos? Centenas e milhares de escotistas participando e a evasão não cessa? E o pior ela acontece em todas as idades. Desde os lobinhos até os escotistas. Não sei quantos, mas Insígnias de Madeira também fazem parte desta evasão. Se ela caísse para menos de vinte por cento nosso efetivo amentaria sem sombra de duvidas. Não como hoje.
                  Enquanto os dirigentes não se tocarem de uma tomada de posição englobando todos, digo todos do movimento Escoteiro, enquanto não houver uma preocupação geral e uma discussão séria sobre o tema, nosso crescimento será pífio. Se levarmos em consideração os últimos quarenta anos qual foi o aumento da população brasileira e comparar com o escotismo, veremos que em termos de juventude não crescemos nada, isto é, regredimos e muito. (Vide relatório do Doutor Jeans publicado no blog).
                 A evasão é a praga do nosso movimento. A cada ano ela aumenta. Tentar explicar a evolução dos tempos, a nova metodologia e a mudança radical de um mundo moderno que os jovens estão vivendo não me convence. E nem mudar programas sem ver a realidade também convence. Temos muitos grupos no Brasil que ela praticamente não existe. O porque deste sucesso não ser de todos tem de ter uma explicação. Dizem que devemos sempre ouvir os jovens na confecção dos programas. Porque isto também não foi feito ou mesmo não é feito hoje em nível nacional com os jovens? Com a palavra nossos dirigentes. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Lendas escoteiras. A lenda de Chico Mortalha – O malvado.



Lendas escoteiras.

A lenda de Chico Mortalha – O malvado.

        Todos os habitantes de Floradas na Serra conheciam a lenda. Claro, lenda é lenda e serve para contar, não para acreditar. Mas a criançada da cidade acreditava. Mamães, professoras, pais, vovós quando queriam chamar atenção por uma simples travessura lá estava Chico Mortalha presente para amedrontar. Se foi verdade ou não isto não posso dizer. Quem me contou foi o Padre Josenilton. Chico Mortalha era um pistoleiro famoso. Um matador. Matava tudo que encontrava. Velhos, moços, jovens, crianças, animais. Matava tudo que aparecesse em sua frente. Seu último crime foi à morte do Bispo Marcelino. Gente boa, boníssima. Mas o prefeito encrencou com ele. Pagou a Chico Mortalha para dar um sumiço no bispo. Dito e feito. O Bispo sumiu! Ninguém nunca mais o viu.
         Desconfiaram que fosse crime encomendado. Chamaram o Delegado Paredes da capital. Não provou, mas disse que foi Chico Mortalha. O povo se revoltou. Foi na casa dele. Levaram-no para a Lagoa das Piranhas. Tiraram a roupa dele e amarraram em todo seu corpo nacos de coração de boi. As piranhas adoram. Amarraram ele em um galho que dava em cima da lagoa. Iam descendo aos poucos seu corpo. As piranhas devoravam tudo que mergulhava na água. Primeiro suas pernas, depois seu corpo, só sobrou à cabeça de Chico Mortalha. Dizem que não deu um gemido. Por fim cortaram a corda e Chico sumiu nas aguas profundas da lagoa. Contava-se que uma vez por ano, na data de sua morte, ele aparecia na lagoa, em pé, sem afundar e dava gemidos imensos que nenhum peixe, nenhum animal ficava por perto.
          Há mais de trinta anos existia um belo Grupo Escoteiro em Floradas na Serra. Quase todos os homens da cidade haviam passado pelas suas fileiras. Uma grande Alcatéia, uma ótima tropa, três Patrulha seniores e um Clã que precisa definir quantos poderiam participar, pois em suas reuniões sempre apareciam mais de cinquenta pioneiros. Seria um tema para o próximo Conselho de Chefes do Grupo. Chiquinho Mortalha era Sênior. Desculpe. Risos. Seu nome era Lorenildo Simplício das Mercês. Não gostava do nome. Nunca gostou. Quando foi lobinho colocaram nele este apelido. Não se incomodou. Ficou para sempre. Talvez por ficar sempre de cara amarrada. Não sorria. Mas todos gostavam dele. Tinha uma força descomunal para sua idade. Não era alto, mas levantava toras, pesos enormes com facilidade. Nos acampamentos o pau para toda obra. Era bem quisto na Patrulha. Desde quando Escoteiro. Conseguiu a Primeira Classe. Pretendia ser Escoteiro da Pátria.
          Em sua Patrulha todos os temiam. Não pela sua força, mas pela sua astúcia. Dizia que quando desse na telha ia enfrentar este tal de Chico Mortalha lá na lagoa na data que costumava aparecer. Ninguém acreditava. Dito e feito. Em onze de agosto, data da morte do tal Chico Mortalha lá foi ele rumo à lagoa. Sozinho é claro. Levou sua faca, sua machadinha e uma corda de dez metros. Lá chegando subiu no pé de uma Copaíba enorme. Se amarrou nos galhos e esperou. Não tinha pressa. Que venha o Chico Mortalha. Estava na hora de enfrentá-lo. Sete horas da noite, nove, dez, onze, meia noite. Nada do Chico. Era fanfarronice. Ela assim pensava. Uma hora cochilou. Dormiu. Não caiu, pois estava amarrado. Mas alguém o desamarrou. Ele caiu do alto dentro da lagoa. Afundou. Abriu os olhos e viu com horror o Chico Mortalha. Só a caveira, pois as piranhas não deixaram nada. Chico sorria para Chiquinho. Não teve medo. Pegou sua faca e disse que ele era Escoteiro. “O Escoteiro não tem medo de nada” A caveira começou a rir.
         Gargalhadas enormes. Chiquinho isto é Lorenildo precisa de ar. Subiu até a borda da lagoa, respirou e mergulhou de novo. Danado de Sênior. Não tinha medo mesmo. A caveira o pegou pelo ombro, o levou até o pé da árvore fora da lagoa. O abraçou e disse a ele que era bom conhecer um Escoteiro. Poderia ter sido um, pois quem sabe não seria o que tinha sido. Ficaram amigos. Conversaram toda a madrugada. Chico Mortalha contou muito da sua vida. De seu grande amor por Nininha, mas nunca disse a ela. Morrera de tuberculose e solteira. Hoje ela faz companhia a ele no fundo da lagoa.
         O dia amanheceu. Lorenildo voltou para sua casa. Seus pais preocupados. Todos os escoteiros a procurada dele. Resolveu não contar nada. Não devia. Agora era amigo de Chico Mortalha o Malvado. Tinha prometido a ele que voltaria no próximo aniversário e iria conhecer Nininha. O tempo passou. Lorenildo casou. Contou para seus filhos, mas eles riam e achavam que seu pai era um bom contador de histórias.
        Todos os anos, durante toda a sua vida Lorenildo voltava à lagoa. Fizera um amigo, ou melhor, amigos. Chico e Nininha. Sentava a beira da Copaíba e Chico Mortalha aparecia com Nininha e eles se abraçavam. Ficavam ali conversando por toda a madrugada. A cidade sabia, mas tinha medo. O Grupo Escoteiro não comentava. A Patrulha entendia. Amigos são amigos. Durante toda sua vida agora como Chefe Escoteiro não deixava de visitar Chico Mortalha e Nininha na Lagoa das Piranhas. Amigos para sempre. Diferente, pois Chiquinho era um Escoteiro do bem. 
           E como dizem por aí, boi não é vaca, feijão não é arroz e quem quiser que conte dois! E como dizia minha avó, “Pedro, nem tê-lo, nem vê-lo, nem querê-lo, nem a porta da casa consegui-lo... mas sempre é bom na casa havê-lo”. Risos.
E quem quiser que conte outra!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe Escoteiro. Pioneirias, sonho do Escoteiro?



As crônicas de um Chefe Escoteiro.
Pioneirias, sonho do Escoteiro?

             Não existe maior alegria para um Escoteiro ou uma Escoteira quando ao terminar de fazer uma pioneiria dar uns passos atrás e olhar com carinho sua obra. Um sorriso brota, os olhos brilham e dá uma vontade de tirar foto, filmar e mostrar para todo mundo. – Fui eu quem fiz! Fui eu quem fiz! Pode alguém aparecer e dizer que está mal feita, podem dizer o que quiser, mas ele ou ela estão ali orgulhosos pela construção que dedicaram horas, calos nas mãos, suor e mosquitos a enlouquecer qualquer um. Nesta hora é que todo o escotismo brota no coração. Bate aquela chama que nos dá orgulho em pertencer ao movimento.
             Todos jovens que entram no escotismo logo ouvem falar nesta palavra mágica. Pioneirias. O que é isto? Perguntam. Construções rusticas feitas com nós e amarras diz o Monitor. E ele fica com aquilo na cabeça. Doido para acampar e fazer uma. Depois não importa se o vento sul a jogou ao chão, ele vai ter “causos” e muitos para contar. De um simples banco um dia ele vai dizer aos seus netos que construiu uma linda poltrona reclinável e que bastava fechar os olhos e ela balançava ao sabor do vento. Os netos irão ouvir com orgulho e sonhar também em fazer o que seu avô fazia.
             Dizem e contam por aí que pioneiria tem técnica. Já vi artigos, livros, desenhos todos escritos. Eu mesmo publiquei vários. – Técnicas de Pioneiras. Tenho lá minhas dúvidas. Quando as fiz não tinha livros nem desenhos. Eram criadas da imaginação. Um pau ou bambu aqui, outro ali, umas amarras com sisal ou cipó e elas iam brotando conforme as necessidades. De vez em quando vejo fotos de algumas, lindas, esplêndidas, algumas obras de carpinteiros/engenheiros e não de jovens escoteiros. Dias e dias para fazer. Não sei se tem graça. A graça meus amigos é o Escoteiro ou Escoteira fazer. Chefe! Xôô! Se manda. Não fale, não fique ai olhando. Não dê palpites. Deixa-os crescerem! Faz parte do nosso método!
             Para mim vale mais uma pequena amarra dada por um jovem que uma casa em cima de uma árvore que não tem finalidade no adestramento progressivo e que foi feita pelo Chefe/engenheiro. Ao dar a Amarra de acabamento ou fazer um simples Volta do Fiel é o inicio de tudo. E a Costura de Arremate? Simplesmente maravilhosa! Quando visitava acampamentos escoteiros no passado, ficava orgulhoso em ver no campo de Patrulha, como um simples sisal ou cipó cercava o campo. Ninguém pulava ou entrava por ali. A entrada era pelo pórtico. Rústico, simples sem aquelas belezas que vemos em fotos ou em grandes acampamentos escoteiros e sempre feitas pelos chefes. – Sempre Alerta Patrulha! Licença para entrar? Todos respeitavam.
              E durante a inspeção de campo pela manhã, ver uma mesa simples, um toldo mesmo que enrugado, bancos para sentar nas refeições, um fogãozinho suspenso, um lenheiro, um porta ferramentas, fossas de líquidos e detritos com tampas, mais ao fundo um WC bem feito ou mal feito, um tripé para o lampião, chapéus, um porta bastão e por aí afora eu me orgulhava. Nunca gostei de chefes que em vez de ajudar prejudicavam a Patrulha. Tudo limpo alguns levavam no bolso palitos, papeis para jogar ao chão e dizer: Não estava tão limpo. É correto? O que dirá a Patrulha? - Chamei a atenção de muitos e até em cursos que dirigi apareciam chefes assim. Vejam bem, eram formadores!
              E quando o cerimonial de bandeira terminava, era bom dizer o que tinha achado do campo, e fazer muitos elogios. Entregar a bandeirola de eficiência, cumprimentar o Monitor e toda a Patrulha, era bom demais! Que orgulho! Vê-los sorrindo! Pioneirias! Ah! Como são belas quando feitas por eles. Xôô Chefes! Voces não. Voces não precisam disto. Treinem seus monitores. Orientem-nos a ter ideias, mas deixe que eles façam, deixe que eles criem e um dia, um belo dia eles dirão: - Chefe vamos fazer um acampamento de dois ou três dias só para grandes pioneirias? Já pensou? Eles dizendo isto e não você?
             Pioneirias! Quem já fez nunca esquece. Mesmo aquelas que o vento malvado jogou ao chão. Mesmo aquelas que umas vacas invadiram o campo e pisaram em tudo. Mesmo aquelas que um dia passamos uma noite sentados nos bancos sobre a proteção do toldo, pois a chuva torrencial encheu de água e barro as barracas. Lembranças. Belas lembranças de pioneirias que brotaram na mente do escoteiro. Trazer água de um córrego próximo usando bambus, fazer uma ponte, Jangada de piteiras, Pórtico de três metros ou mais, estrado para barracas suspensa, escadas de cordas ou cipó, o caminho do Tarzan, um ninho de águia, uma passagem suspensa de bambus ou madeira de lei e até um elevador rústico. Tantas e tantas que começaram com uma simples amarra! Isto meus amigos, isto é escotismo!
“Deixai-os fazer, deixai-os seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido!” (Kipling). (Xôô Chefe!)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe escoteiro. Manias.



As crônicas de um Chefe escoteiro.

Manias.

Dentre as manias que eu tenho uma é gostar de você
Mania é coisa que a gente tem, mas não sabe por que
Mania de querer bem, às vezes de falar mal
Mania de não deitar sem antes ler o jornal
De só entrar no chuveiro cantando a mesma canção.


        Eu gosto desta canção. Linda. Claro é cantada por Dolores Duran grande cantora. Mas tirei o dia para falar de manias. Quem não as tem? Hoje resolvi mudar. Manias e rotinas deixar de lado. Esconder debaixo da cama. Comecei por ficar mais tarde sem me levantar. Que dificuldade! Cinco seis sete horas e não aguentava mais. Levantei. Rosto, dente e etc. Sem comentários o etc. Inalar, e café. Sempre as seis hoje as oito. E agora? Pé na estrada. Meus oitocentos metros que faço em quase quarenta minutos. Devagar se vai ao longe. Na varanda abri um livro. Já o li não sei quantas vezes. Seara Vermelha de Jorge Amado. Li e não prestei atenção. Hoje seis folhas. Parei. Olhei para a Rodovia Castelo Branco, carros parados. Sempre assim esta hora.
        Onze horas, laranjas ou mexericas? Que duvida cruel! Resolvido. Laranjas. Duas. Agora ligar o PC e ver os e-mails, entrar na internet. Rotina e rotina, todo dia isto. Afinal não ia mudar? Pensei um dia em ficar uma semana sem ligar o PC. Facebook? Que Mania! Vou ficar longe! Consegui ficar mais de vinte minutos. Não deu para ficar mais. Um dia largo tudo isto e boto o pé na estrada. Quem sabe quando chegar ao fim dela não existirá esta rotina que hoje me dá ordens e não consigo ficar sem obedecer? Hora do almoço. Hora da soneca, hora de escrever. Escrever o que? Sem ideias. Porque não falar de escotismo? Risos. Não é um bom tema? Mas falar o que?
         Pensei em falar sobre o poder no Escotismo. O poder que tem uma atração incrível. Disseram-me que isto acontece com todos. Não existem inocentes. Todos almejam o poder. Será mesmo? Mas o duro é que quando entram não querem sair mais. E fazem tudo para manter de fora aqueles que querem entrar. Que rotina meu Deus! Preciso deixar de falar de escotismo. Em minha vida criei inúmeras inimizades com isto. Deveria ter sido submisso como muitos dos meus amigos foram. Hoje abarrotados de medalhas. Idi Amim Dada se ainda estivesse no poder ficaria morto de inveja. Risos. Caramba! Mas não ia eu mudar hoje? Sair da rotina? Que manias eu tenho! Será que não tenho outro tema que não escotismo? Mensalão? Nem pensar. Corinthians? Deus me livre. Sou um cruzeirense calmo. Não brigo. Afinal eles ganham muito e eu não ganho nada!
          A tarde se foi. Ainda um sol raquítico no horizonte. Na Castelo Branco o trânsito flui melhor. Outra inalação. Uma hora. Não sei se gosto disto. Mas fazer o que? Mania ou rotina? Rotina. Esta não dá para mudar. Um ar que não vem obriga a maquininha a jogar em minhas narinas remédios da vida. Eureka! Uma grande ideia! Quem sabe lá não tem poder? Ou tem? Acho que não. Se temos o livro arbítrio aqui teremos lá também. Mas seria bom se os lá de cima procurassem entender os cá de baixo. Pelo menos ouvir. Como é bom ouvir o próximo. Ver o que ele tem a dizer. Em você! Isto mesmo você que é da turma dos Catorze do Forte, que manda e desmanda, ouça um pouco. De norte a sul. Não só uns poucos privilegiados.
         Preciso escrever uns artigos. Sem ideias. Preciso escrever uns contos. Sem ideias. Preciso escrever, preciso... Rotina, manias, até quando?

Manias

Dentre as manias que eu tenho uma é gostar de você
Mania é coisa que a gente tem, mas não sabe por que
Mania de querer bem, às vezes de falar mal
Mania de não deitar sem antes ler o jornal
De só entrar no chuveiro cantando a mesma canção.

De só pedir o cinzeiro depois da cinza no chão
Eu tenho várias manias, delas não faço segredo.
Quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo
De contar sempre aumentado tudo o que diz ou que fez
De guardar fósforo usado dentro da caixa outra vez
Mania é coisa que a gente tem, mas não saber por quê.

Dentre as manias que eu tenho uma é gostar de você
...

...uma é gostar de você.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Leis, regras, normas, artigos, parágrafos e outros “escambal”!



As crônicas de um Chefe Escoteiro.

Leis, regras, normas, artigos, parágrafos e outros “escambal”!

"Tenho seis regras que me ensinaram tudo o que sei: O quê, Por que, Quando, Como, Onde, e Quem?" (Rudyard Kipling).

                  O mundo é feito de regras, normas, artigos, leis, decretos, parágrafos que até me assusto com tudo isso. Nada podemos fazer sem pensar que podemos infligir alguma delas. Claro. São necessárias. Assim dizem. E no escotismo então? Uma parafernália. Cada dia que passa mais normas, mais regras, mas artigos dizendo o que podemos e não podemos fazer. Não satisfeitos os nossos dirigentes criaram uma tal de Comissão de Ética. Li e não gostei. Achei meio ameaçador. No final da década de cinquenta, uns sábios de nossa liderança criaram o nosso POR. Princípios, Organizações e Regras da União dos Escoteiros do Brasil. Lindo! Um grande livro. Muitas páginas, completo. Diz tudo que você podia ou não fazer. Foi mudando, mudando e até que concordei. Muitas coisas estavam evoluindo e a adaptação era necessária. Acho que pouca gente leu tudo!
              Tem hora que me sinto cerceado. Se hoje estivesse à frente de uma sessão escoteira não sei se me desincumbiria bem das minhas responsabilidades. Tudo mudado. Nada se faz sem pensar nas leis, regras, artigos, parágrafos ou o escambal. Certo? Claro que sim. Têm tantos por aí exigindo direitos que podem aparecer no escotismo alguém a exigir os seus. “Quero meus honorários”! Quero meus direitos! Quero minha Insígnia! Quero meu Tapir de Prata! Quero meus tacos! Que se faça justiça! Quero, quero... Saudades dos velhos tempos. Oi Romildo! E aí? Vamos acampar sábado? Era assim. Colocava minha mochila, ração A ou B, uma meia lona da barraca e lá ia eu cantando o Ra-ta-plã! (falando nisso você sabe cantar ele completo?).
                Agora? Se você quer ser voluntário no escotismo, vai ter de enfrentar mil normas, mil regras, mil leis. E ainda pagar por isto. Voluntário que paga! Um escambal. Antes não. Os chefes vinham dos pioneiros, que vinham dos seniores, que vinham dos escoteiros, que vinham dos lobinhos... Um escambal de “beleza” mesmo. Difícil isso hoje. Prefiro nem comentar. Mas se queres mesmo ser um voluntário “pagante”, preencha a ficha, leia as normas, as leis e observe bem se não tem letrinhas miúdas (ou tem?). Se tiver não esqueça, o PROCON pode ajudar. Risos. Depois vais receber um “Tutor ou assessor pessoal” Será o responsável pelo seu desenvolvimento. (que luxo! não tínhamos isto no passado). Ele vai lhe orientar, pois aprendeu em um curso tim tim por tim tim. Cuidado com ele. Pode querer vir a ser seu dono e dirigir seu destino Escoteiro. Brincando. Nada disto. Todos eles são gente boa.
                 De muitos tutores e assessores que vejo atuando a maioria é Diretor Técnico. Afinal não temos tanta gente por aí “dando sopa” para tomar conta de “marmanjos” escoteiros. Um belo dia você vai amarrar a ponta do lenço, pode ser com uma camiseta do grupo, ou pode ser sem camisa, tanto faz e já está promessado. Brincadeira. Sei que não é assim em muitos grupos. Mas tem tantos amarrando o lenço, sem uniforme, um belo chapéu australiano, um lindo tênis branco, uma bermuda amarela... Escoteiros avante! Rataplã!
                  Acampar? Deus me livre. Não tem o pedido de autorização para o Comissário do distrito? E se for sair do seu Estado de origem, já pediu autorização dos estados onde vai passar? E fora do Brasil? Isto deve ser feito em quatro vias. Uma para o grupo, uma para o distrito uma para a região e uma para a direção nacional. Se possível com firma reconhecida! E depois? Uma autorização por escrito dos pais. Também com firma reconhecida. E tome cuidado. Se houver um gritinho mais alto do chefe, os pais podem processá-lo. Se um pai for advogado é melhor não acampar mesmo. Fique em casa no Facebook que vai ganhar muito mais. Risos.
                Depois, depois, é fazer centenas de processos. Haja papel e tempo para Liz de Ouro, para Escoteiro da Pátria, para Insígnia de BP, para Condecorações, Para os cordões de eficiência, para, para, para... Melhor contratar um contador para isso. Nunca vi tantos processos e ainda dizem que o escoteiro tem uma só palavra. Mas enfim, isso é a modernidade. Cada dia recebendo novas normas, novos programas. – “A partir desta data, fica determinado que a determinação anterior não vai determinar mais nada!”.
                 Prefiro ficar em casa. Já não posso mais andar direito mesmo. Falar então? E olhem, meus olhos se confundem quando leio tantas normas, leis, decretos, regras, artigos, parágrafos... Isso é um escambal. No bom sentido.  Mas enfim, sempre me lembram de que o mundo é outro. Deve ser. Estou aqui no computador, no Facebook. Não existia antes. Mas não será que antes eu era mais feliz e não sabia?

"A verdade é que muita gente cria regras para não ter de tomar decisões." 
 (Mike Krzyzewski).

"Aprenda bem as regras e depois as esqueça." (Matsuô Bashô).

domingo, 19 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe Escoteiro. Quando setembro vier.



As crônicas de um Chefe Escoteiro.

Quando setembro vier.

         Setembro vem aí, um mês calmo, mês que gosto de sentar na varanda e me lembrar do passado. Assim é setembro. Todos os tempos, todos os períodos são bons enquanto vivemos. Pode ser no passado ou presente. Podemos fazer diferente, igual e isto não é importante. O escotismo é único e mesmo querendo que outros passassem pelo que muitos antigos escoteiros passaram sei que é impossível. Lembro que era um tempo de ventos amigáveis, sem as atribulações de hoje. Podíamos sair por aí sem as preocupações que acometem a esta era moderna. Ainda bem que a promessa, as formaturas e o sistema de patrulhas mal ou bem se mantêm e isto é bom. O que não mudou são os sorrisos. Os mesmo ontem e hoje. Adoro-os. Os meninos e as meninas nos fazem rejuvenescer. De vez em quando converso com um e outro e vejo que eles também têm histórias para contar. Formidável. A chama ainda não se apagou e acho que não irá se apagar nunca.
        Hoje vejo que muitos se complicam para fazerem um programa. Nas mãos dos chefes. Antes não. Em mãos dos escoteiros. Claro, hoje não seria possível dizer a minha mãe e meu pai que iria acampar em Santa Maria de bicicleta. 250 quilômetros ida e mais 250 quilômetros volta. Oito dias. Qual Chefe vai? Nenhum! Qualquer pai de hoje cairia da cadeira se ouvisse isto. E se dissesse que conseguimos passagens gratuitas até Caparaó de trem. Pai, vamos aproveitar as férias. Serão só dez dias. Sabia pai que Caparaó significa águas cristalinas que rolam da serra? Sabia pai que o Pico da Bandeira se chama assim porque o Imperador Pedro II mandou colocar uma bandeira em seu cume? Sabia pai que A serra do Caparaó, além do pico da Bandeira, tem ainda o Pico do Cruzeiro, o Pico do Calçado, O Morro da Cruz do Negro, o Pico da Pedra roxa, o Pico dos Cabritos ou do Tesouro, o Pico do Tesourinha e ainda a Pedra Menina?
       Vai ser difícil qualquer pai entender hoje. E quem vai com voces? Ninguém pai. Somos Sênior e o senhor sabe, tropa Sênior, Sênior é, é que é bacana! Risos. Não cantávamos assim naquela época. Mas e o pai de hoje? Olhos esbugalhados, pensando, que diabos este escotismo pensa que é? E se ele nos visse no campo cortando madeira. “MADEIRA!” gritávamos. E Lá ia a tora caindo. Hoje não pode. Mas naquela época? Florestas enormes. Entrávamos nela como se estivéssemos passeando no “foot” de nossa cidade. (foot, praça onde aos sábados e domingos a noite ficávamos ali a paquerar as lindas meninas). De dia ou de noite varávamos trilhas, matas, atravessávamos rios, e quando desse sono era só deitar na relva, na pedra ou em qualquer lugar e dormir. Hoje? Impossível.
         Já pensou? Um Chefe no nosso campo dando “pitacos”? Nem pensar. Bastava um sisal ou um cipó a 30 cms do chão e ninguém passava. Todos sabiam que deviam ir na entrada onde existia o pórtico bater palma e pedir licença. Afinal era nossa casa e não a casa da “mãe Joana!”. Chefe, você ensinou ao nosso Monitor, deixe a patrulha fazer, por favor! Vá para sua barraca, faça lá suas pioneirias, sua refeição. Quem sabe hoje à tarde quando da apresentação do jantar pronto o convidamos?
         Setembro vai chegar e não vai demorar em ir embora. Não dá mais. Agora precisamos tomar cuidado. A marginalidade. Minha prova de jornada? Hoje poucos fazem. Pai, vamos eu e o Israel fazer uma prova de jornada. Só nós dois. Serão só cinco dias. Vamos descer o Rio Boitanga de jangada que nós mesmos faremos e só levaremos sal e óleo. Serão pouco mais de cento e vinte quilômetros de corredeiras até a ilha dos Aimorés. Lá vamos conseguir comida! O que diria o pai hoje com este pedido? Só rindo. Está louco? Nem pense. Esqueça! Vou tirar você do escotismo.
        Setembro, tão próximo e vai passar tão rápido. Ainda acredito que podemos fazer muito do que nós os antigos escoteiros fizemos. Não sei. Alguns chefes me dizem que fazem. Acredito. Mas rezo para que os chefes lembrem que seus escoteiros precisam de liberdade. Nem que seja vigiada, mas precisam. Lembro-me sempre do passado e das palavras de Kipling e até hoje penso que o escotismo tem ainda muito que aprender:

  “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.
KIPLING