Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 12 de março de 2014

Leis, regras, normas, artigos, parágrafos e outros “escambal”!



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Leis, regras, normas, artigos, parágrafos e outros “escambal”!

"Tenho seis regras que me ensinaram tudo o que sei: O quê, Por que, Quando, Como, Onde, e Quem?" (Rudyard Kipling).

                  O mundo é feito de regras, normas, artigos, leis, decretos, parágrafos e até me assusto com tudo isso. Nada podemos fazer nada sem pensar que podemos infligir alguma delas. Claro. São necessárias. Assim dizem. E no escotismo então? Uma parafernália. Cada dia que passa mais normas, mais regras, mas artigos dizendo o que podemos e não podemos fazer. Não satisfeitos os nossos dirigentes criaram uma tal de Comissão de Ética. Li e não gostei. Achei meio ameaçador. Ela põe por terra nossa fraternidade. No final da década de cinquenta, uns sábios de nossa liderança criaram o nosso POR. Princípios, Organizações e Regras da União dos Escoteiros do Brasil. Lindo! Um grande livro. Muitas páginas, completo. Diz tudo que você podia ou não fazer. Foi mudando, mudando e a direção nacional não satisfeita de novo adaptou novas regras as suas páginas. Se que muitas coisas estão evoluindo e a adaptação é necessária. Acho que pouca gente leu tudo!

              Tem hora que me sinto cerceado. Se hoje estivesse à frente de uma sessão escoteira não sei se me desincumbiria bem das minhas responsabilidades. Aquele escotismo alegre e solto onde o jovem corria pelos campos hoje está todo mudado. Nada se faz sem pensar nas leis, regras, artigos, parágrafos ou o escambal. Certo? Sei não! Têm tantos por aí exigindo direitos que podem aparecer no escotismo alguém a exigir os seus. “Quero meus honorários”! Quero meus direitos! Quero minha Insígnia! Quero meu Tapir de Prata! Quero meus tacos! Que se faça justiça! Vou processar quem for contra mim! Saudades dos velhos tempos. Oi Romildo! E aí? Vamos acampar sábado? Era assim. Colocava minha mochila, ração A ou B, uma meia lona da barraca e lá íamos nós cantando pelos campos o Rataplã! Hoje? Adeus liberdade juvenil.

                Pense comigo se você quiser ser voluntário no escotismo, vai ter de enfrentar mil normas, mil regras, mil leis. E ainda pagar por isto. Voluntário que paga? Isto mesmo. Paga taxas, paga mensalidades e ainda tira do bolso para o seu menino pobre que precisa! Isto é um escambal. Antes não. Os chefes vinham dos pioneiros, que vinham dos seniores, que vinham dos escoteiros, que vinham dos lobinhos... Um escambal de “beleza” mesmo. Difícil isso hoje. Prefiro nem comentar. Mas se queres mesmo ser um voluntário “pagante”, preencha a ficha, leia as normas, as leis e observe bem se não tem letrinhas miúdas (ou tem?). Se tiver nem pense em se socorrer no PROCON. Será malhado, esculhambado, julgado e expulso. Mas se topou e aceitou “beleza”. Vais receber um “Tutor ou assessor pessoal” Será o responsável pelo seu desenvolvimento. (que luxo! não tínhamos isto no passado). Ele vai lhe orientar, pois aprendeu em um curso como agir e sabe tim tim por tim tim. Cuidado com ele. Pode querer vir a ser seu dono e dirigir seu destino Escoteiro. Brincando. Nada disto. Todos eles são gente boa.

                 De muitos tutores e assessores que vejo atuando a maioria ou são os Presidentes ou Diretores Técnicos do próprio grupo. Para mim nada mudou nada de novo no Front. Sempre os Chefes de Grupo ficavam de olho! Afinal não temos tanta gente por aí “dando sopa” para tomar conta de “marmanjos” escoteiros. Um belo dia você vão lhe ensinar a amarrar a ponta do lenço, colocar um chapéu esquisito e já está promessado. Irão lhe dizer que se quiseres reclamar procure o local certo. Uma tal de Assembleia. Brincadeira. Sei que não é assim em muitos grupos. Mas têm tantos amarrando o lenço, sem uniforme, um belo chapéu australiano, um lindo tênis branco, uma bermuda amarela que parodiando um comediante eu digo - Será que vale a pena, meu? Escoteiros avante! O amanhã será nosso! Rataplã!

                  Acampar virou um nome proibido. Acampar? Deus me livre. Não tem o pedido de autorização para o Comissário do distrito? E se for sair do seu Estado de origem, já pediu autorização dos estados onde vai passar? E fora do Brasil? Isto deve ser feito em quatro vias. Uma para o grupo, uma para o distrito uma para a região e uma para a direção nacional. Se possível com firma reconhecida! E depois? Uma autorização por escrito dos pais. Também com firma reconhecida e é melhor não esquecer. Fora do Brasil só com a tal nova vestimenta. E tome cuidado. Se houver um gritinho mais alto do chefe, os pais podem processá-lo. Se um pai for advogado é melhor não acampar mesmo. Fique em casa que vai ganhar muito mais. Risos.

                Depois, depois, é fazer centenas de cursos de aperfeiçoamento burocrático, como manusear o SIGUE, como agir com o tal voluntário que apareceu no seu grupo, como entender os estatutos da juventude, o papel dos nossos lideres (eles gostam!). Haja papel e tempo para Liz de Ouro, para Escoteiro da Pátria, para Insígnia de BP, para Condecorações, Para os cordões de eficiência, para, para, para... Melhor contratar um contador para isso e que seja bom e entendido em internet. Nunca vi tantos processos e ainda dizem que o escoteiro tem uma só palavra. Mas enfim, isso é a modernidade. Cada dia recebendo novas normas, novos programas. – “A partir desta data, fica determinado que a determinação anterior não vai determinar mais nada!”.

                 Prefiro ficar em casa. Minha saúde não é a mais mesma. Meu escotismo era outro. Um escotismo alegre e solto, feito por uma juventude que sabia dos seus sonhos e ideais, onde todos falavam o mesmo idioma, onde nos encontrávamos para contar histórias, onde os fins de semana eram nos campos e campinas, a subir montanhas e dormir sobre as estrelas. Hoje não se pode mais. É papel que não acaba mais, ou melhor, é SIGUE que não acaba mais. Temos que ficar de olho para não infligir alguma norma. Meus olhos se confundem quando leio tanto as tais normas, leis, decretos, regras, artigos, parágrafos... Isso é um escambal. No bom sentido.  Mas enfim, sempre me lembram de que o mundo é outro. Tudo é mais moderno. Deve ser. Mas quer saber? As estrelas que via quando menino ainda estão no mesmo lugar. As terras com boa aguada são as mesmas, a nascente ainda mostra um filete de água cristalina e brilhante. E os sonhos dos jovens ainda têm muito de uma “pitada” de aventura. O que mudou? Deus meu! Tudo! Agora temos leis, regras, normas, artigos, parágrafos e outros “escambal”!


"A verdade é que muita gente cria regras para não ter de tomar decisões." 
 (Mike Krzyzewski).

terça-feira, 11 de março de 2014

Programando o programa.


Conversa ao pé do fogo.
Programando o programa.

       Todo mundo conhece, todos os escotistas fazem. Afinal nada se produz sem ele. Alguns simples, outros complexos, mas todos com o mesmo objetivo. Conheci em minhas atividades escoteiras, muitos programas bons, outros nem tanto. Junto a tantos outros amigos escotistas, fizemos programas de sessões, de Diretoria, de Conselho de Chefes, de Atividades Especiais, de Grandes Jogos, de Região Escoteira, De Ajuris, de Elos, de Adestramento, de Atividades Nacionais e até algumas internacionais. Quando planejamos os programas das sessões e do grupo eles devem se entrelaçar. Como? Pensando em termos que todos os órgãos do grupo os têm (um programa). Alguns grupos em todo final do ano fazem uma reunião própria para este tema, (Indabas dos chefes em regime de acampamento é muito válido) e costumam convidar a diretoria e alguns pais que sempre colaboram nos programas anuais. Isto facilita muito para se planejar adequadamente.

     Se um programa geral é feito isto ajuda em muito as sessões escoteiras e a diretoria do grupo. Ninguém gosta quando um programa diz uma coisa e a diretoria programa outra sem avisar. Conheço Grupos Escoteiros que no final do ano sempre dão oportunidade aos jovens para sugerir datas do ano seguinte. Quantas excursões, quantos acampamentos, quantas atividades aventureiras e assim por diante. Os lobos também quem sabe podem ser consultados. O Diretor Técnico é responsável para que não haja comprometimento de alguma atividade que não conste do programa geral do grupo. Difícil imaginar um bom programa onde ele sofre constantemente modificações, adaptações e é fustigado por terceiros para sempre colocarem ali, mais um ou outro parágrafo que antes não estava programado.

     O Diretor Técnico, o Conselho de Chefes e a Diretoria tem a obrigação de manter o programa conforme se discutiu e foi aprovado. É importante notar que os melhores programas de sessões e que mantem os jovens ativos e Até BP no Escotismo para Rapazes dizia que o melhor programa é aquele desenvolvido pelos rapazes e moças. Afinal são eles a parte interessada e eles o fazem com perfeição em seus bairros, na sua rua, com os amigos que ali estão sempre juntos por anos e anos a fio. Difícil? Não. É bom lembrar que quem deve gostar do programa são eles. Nós chefes estamos ali para ajudar, orientar e finalizar os dados que ficaram faltando.

      Alguns chefes discordam. Eles acham que os jovens não estão preparados. Alguns dizem que se eles o fizerem, não haverá nada prático. Muitos até irão sair, pois vão ver tudo diferente. Pode até ser. Mas foi tentado? Foi dado a eles ideias sugestões, instruções e aberto um leque de oportunidades? Claro, não estou aqui a dizer que o que escreverem será feito. Tampouco será deixado de lado. Para isto tudo deve ser discutido minuciosamente no Conselho de Patrulhas, no Conselho de Monitores e só após junto a Corte de Honra (muitas tropa só tem a Corte de Honra) será tomada uma decisão de qual programa será o escolhido.

      Nenhum programa ficará sem o “tempero” do chefe e dos assistentes. O que seria o “tempero”? – Jogos, canções, Conversa ao Pé do Fogo, e claro as sugestões que não estarão ao alcance deles. Tais como, atividades distritais, regionais e nacionais. Mas é importante que estas não ocupem nada mais que 10% do programa anual. Qualquer atividade que apareça sem constar no programa os chefes devem meditar muito antes de mudar. Não aceitar não é sinal de indisciplina é sinal de organização. Ninguém deve ser obrigado a fazer um programa que não foi planejado. Ninguém gosta de sugerir, aprovar e ver tudo alterado sem uma explicação lógica. Aqueles que ainda não trabalham com os jovens nesta área eu sugiro que tentem. Mas não uma vez só. Lembrem-se que aprender a fazer fazendo e acertar até corrigir o erro faz parte do programa Escoteiro. Se derem oportunidade aos jovens na sua sessão para fazer, montar e quem sabe até dirigir um programa em sua tropa, eu garanto que a evasão irá diminuir e muito. Deixe que façam sempre e verifiquem se a presença está melhorando, se os sorrisos aumentaram e se a procura agora é maior. Se for assim estão no caminho certo.

       Aquela velha tendência de reunir chefes e assistentes para montarem programas a curto e médio prazo sem ter um esboço feito pela tropa nem sempre alcança os resultados desejados. É possível reunir jovens e fazer estes programas. Mas quanto tempo uma patrulha se mantem com seus próprios elementos por anos? Nenhum Chefe gosta de chegar à sede e ver as patrulhas formando com três ou quatro. Ninguém vai deixar seu programa com os amigos da escola ou do bairro, que fazem há anos e gostam por uma reunião de sábado onde não existe motivação e os programas não são agradáveis (para eles).

      Lembramos sempre que BP criou um estilo, um método e fugir dele é saber que os resultados não irão acontecer. Temos hoje uma evasão desconhecida. Quase ninguém fala dela, mas muitas tropas e alcateias sentem na pele a saída dos jovens. O pior, sempre depois das férias muitos não voltam mais. Crescimento técnico, intelectual, e claro, caminhar com as próprias pernas. É tão bom saber que uma patrulha está junta por anos e podemos confiar que tudo vai dar certo. E depois do passar dos anos, ver aqueles que foram nossos jovens, estarem dentro da comunidade agindo como verdadeiros escoteiros.

       O melhor caminho vencido é aquele em que os rapazes e moças estarão reunidos por um bom tempo, onde sempre estarão à espera da próxima reunião, o próximo acampamento ou a próxima atividade com ansiedade conforme o programa que sugeriram. Um Grupo Escoteiro é uma família. Unida. Fraterna. Onde o respeito mostra o grau de crescimento de cada um. Você faz parte da família. Veja onde é seu lugar e trabalhe para que todos sintam felizes no desenvolvimento de suas tarefas.


       Não existe tarefa fácil. Formar caráter não é fácil. Mas o Movimento Escoteiro através do seu método simples facilita sobremaneira a atingir esse objetivo. E é um orgulho quando podemos ver homens e mulheres que um dia conheceram a maravilhosa Lei Escoteira. E sabemos que atingimos nosso objetivo. Honra e caráter e porque não dizer – Ética e altruísmo! E para isto acontecer precisamos ter programas agradáveis e que satisfação àqueles jovens que procuraram a senda escoteira.