Lendas escoteiras.
Verdade seja dita Antônio. O sonho não acabou!
Quando lonyalto me procurou eu fui franco com ele. – Desculpe meu amigo,
mas escotismo não é minha praia. – Vi que ele ficou chateado, claro tinha feito
a sua promessa na semana anterior e estava todo empolgado. Ele achou que eu ia
me interessar e entrar na tropa dele – Mas Antonio! Você está pré-julgando! –
Não estou não meu amigo. O Alex foi franco comigo. Prometem a você uma coisa,
te engabelam e depois você descobre que foi tudo um engodo. Ele contou tudo. E
eu acreditei nele. Disse-me que o escotismo era um movimento de jovens, onde
eles decidiam seus programas, claro sob a supervisão de um adulto, que eles
aprendiam a fazer fazendo, que eram espetaculares suas atividades ao ar livre,
que lá acampados a Patrulha fazia tudo para montarem uma réplica rústica de
suas casas. Contou ainda que lá aprenderiam a subir e descer em árvores com nós
que se desmancha que iriam fazer travessias em córregos e lagos por uma ponte
pênsil. Quantas promessas.
- Não foi nada disto Antonio, Disse-me ele. Cheguei lá e vi um chefe
mandão, em lugar de um irmão mais velho encontrei um sargento que achava que
éramos militares. Demoramos para ir ao campo e que decepção, ele só sabia
mandar correr, a dizer que o Escoteiro não corre, voa e um monte de coisas que
em vez de ensinarem a gente ele é que fazia. Desisti em dois meses. Não volto
lá nunca mais. Lonyalto não me respondeu de pronto. – Bem Antonio, sei de sua amizade
com o Alex, mas você sabe que eu também sou seu amigo. E amigo nunca mente para
outro. O Alex teve uma experiência em um Grupo Escoteiro que se esqueceu do
método do nosso fundador. Nosso grupo não. Porque não vai neste sábado fazer
uma visita? Passo aqui para irmos juntos. – Não podia negar o pedido de
Lonyalto. Afinal éramos da mesma sala de aula e morávamos na mesma rua, acho
que a idade dele era a mesma da minha. Doze anos.
No sábado ele passou em minha casa à uma da tarde. Disse a minha mãe aonde
ia – Você vai? Ela disse. Não comentou que o escotismo não era sua praia? –
Mamãe, é um pedido de um amigo. Não posso negar. A reunião começava às duas e
meia da tarde. Chegamos às duas. A maioria das patrulhas já estavam lá. Cada um
em um canto do pátio da sede. Fui para a Patrulha de Lonyalto, ele me presentou
ao Monitor. Disse que eu estava ali para ver como era os escoteiros. Vou ser
sincero, gostei do que vi. A Patrulha era de todos. As opiniões também. Vi que
havia ali uma grande amizade. O Chefe Capistrano era gente boa. Sempre com
um sorriso nos lábios, sempre com a palavra nós. Nunca eu. Consultava os
Monitores, deixava por conta deles alguns jogos e treinamento das patrulhas.
Ele sempre junto sem interferir. Sempre com aquele sorriso. Depois da reunião
me procurou – Gostou? Disse. É Chefe. Gostei.
Fomos para a sede. Ele me explicou tudo que deveria fazer para se
matricular. Perguntou-me o que eu esperava em encontrar ali. – Amizade, fraternidade
e aventura! – Ótima escolha. Se você entrar é isso que vai encontrar. Depende
de você. Quando começa sua responsabilidade também começa a nossa para lhe
atender. A tropa é de todos nós. Na sua Patrulha a união faz a força e todas as
quatro juntas é uma força descomunal. – Só tem um porem, disse. Seu pai e sua
mãe tem de vir juntos aqui fazer sua inscrição. – Não serve só um deles? Não
ele disse. E olhe, é melhor preveni-los, quem vai entrar no grupo são eles,
você vai ser aceito se eles estiverem juntos e cumprindo os deveres de sócio.
Uma pedreira. Meu pai? Ir lá? Nem que a vaca tussa! Mas não desisti. A
principio disse que não iria. Insisti. Nada. Insisti novamente. Insisti a
semana inteira. – Você venceu! Disse. Para ficar livre de você vou lá no sábado
com sua mãe. – Comentei com Lonyalto. Ele me disse – Confie no Chefe
Capistrano. Depois me conte às mudanças que vai haver em sua família. Dito e
feito. Meus pais e o Chefe conversaram por horas. Até se inscreveram em um
informativo para pais que durava cinco horas. – Meu pai chegou em casa e rindo
disse – Agora sou mais que um pai, sou um Chefe. E deu boas gargalhadas. Enfim
fui aceito no grupo. Toda aquela burocracia demorou três semanas.
Naquele sábado eu meu pai e minha mãe fomos apresentados a todos do
Grupo Escoteiro depois do cerimonial de bandeira. Não havia como escolher a
Patrulha. Só na Quati tinha uma vaga. O Monitor veio alegre me cumprimentar.
Disse aos meus pais que eu estava bem “guardado” na Patrulha, eles não
precisavam se preocupar. Convidaram meu pai e minha mãe a participar do grito
da Patrulha em minha homenagem, pois agora começava minha nova etapa como
noviço. Eu já sabia que iria demorar dois ou três meses até estar devidamente
preparado para a promessa. Sabia também que só após ela iria vestir o uniforme.
Sonhava com isto.
Após a reunião o Chefe Capistrano me chamou em particular e me disse –
Antonio, você começou nova vida conosco, vai aprender a ser homem de uma
maneira diferente, vai aprender a ter honra, ética vai aprender a Lei do
Escoteiro. Você será outro na escola, e seu procedimento vai mudar você agora é
um Escoteiro. Representa milhões de outros irmãos espalhados pelo mundo. Eles
confiam em você. Espero que você seja também mais um irmão nosso. Sua Patrulha
é sua segunda família. Mantenha o respeito para com eles e assim todos o
respeitarão. Estarei em qualquer hora e
qualquer dia a sua disposição. Precisando, não importa se é dia ou noite, eu
seu irmão mais "Velho" não vou abandonar você nunca!
Nunca mais esqueci aquele dia. Meu começo no escotismo. Até hoje me
sinto como um pesar de minha vida profissional não me dar muito tempo. Conto
para todos os meus amigos o orgulho de ter sido um. – Um o que perguntam? –
Ora, um Escoteiro meu caro, meu sonho de menino nunca acabou. Ele mantém viva a
minha chama Escoteira, que como dizia meu Monitor: de BP trago o espírito,
sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!