Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O dia em que Lagoa Vermelha parou para assistir o casamento do Chefe Bento Soares.



Lendas escoteiras.
O dia em que Lagoa Vermelha parou para assistir o casamento do Chefe Bento Soares.

                 Era uma cidade feliz. Muito mesmo. Todos lá se conheciam e eram grandes amigos. Aos sábados e domingos se reunião na praça central, cumprimentando-se, contando “causos” e lembrando-se dos velhos tempos. Chefe Bento era uma figura de destaque na cidade. Não porque fosse politico, mas pela sua bondade, pelo seu sorriso e pelo seu trabalho em prol da comunidade. Além de Chefe da Tropa Escoteira Andrômeda ele trabalhava no Posto de Saúde da cidade há mais de vinte anos. Dizia-se que quase todos os habitantes de Lagoa Vermelha foram escoteiros e isto quem sabe explica a grande amizade entre eles. Chefe Bento era mesmo diferente. Se fosse padre estaria explicado, mas não era. Sua tropa Escoteira o adorava. Nunca faltou a uma reunião. O Padre Albertinho não fazia nada sem o consultar. Fizeram tudo para ele se candidatar a prefeito e sempre recusou. O Prefeito Belarmino e as demais autoridades tinham por ele o maior respeito.

               Morava em uma casa simples bem próximo da sede Escoteira motivo pela qual ela estava sempre cheia de escoteiros. Sua mãe dona Lindalva tinha uma paciência enorme. Nunca brigava com a meninada. Ela comentava sempre que se Jesus dizia “vinde a mim as criancinhas” porque eu também não faço o mesmo? Chefe Bento estava noivo de Cidinha, uma jovem simples, que trabalhava como servente no Grupo Escolar Flores da Cunha. Magra, loira e uns olhos azuis que quase não se via, porque ficava sempre de cabeça baixa. Cidinha também era um amor de pessoa. Os alunos adoravam seu estilo e só não entrou para o Grupo Escoteiro porque achava que não tinha “estudo” suficiente. Fizera somente o quarto ano primário e parou de estudar para trabalhar. Sua família dependia dela. Chefe Bento e Cidinha namoravam desde crianças. Ambos achavam que não podiam viver um sem o outro. Nunca houve palavras bonitas entre eles de “eu te amo” “estou apaixonado” e só se beijaram uma vez, mas um beijo calmo, nada de língua prá lá e prá cá.

             A cidade em peso esperava o dia do casamento. Seria em 22 de novembro próximo. Menos de cinco meses. Seria uma festa de arromba. O Padre Albertinho fez questão de celebrar o casamento sem nenhum ônus para eles. A igreja vai ajudar também nos móveis do casal. Os lobinhos, escoteiros, seniores e pioneiros se cotizaram para as demais despesas. Uma lista foi passada de mão em mão de casa em casa. Estava quase cheia. Vários fazendeiros prometeram bois, porcos, galinhas e o clube de mães da igreja e do Grupo Escoteiro comprometeram-se a fazer tudo. Tudo caminhava a mil maravilhas. Em 12 de junho a tropa foi acampar na Serra da Felicidade. Sempre acampavam lá. Ficava nas terras do Coronel Adauto, um fazendeiro amigo e conhecido de todos. Na abertura do campo o Coronel Adauto estava presente. Ele gostava de ver a escoteirada formar e cantar o hino Nacional. Todos se espantaram desta vez. Ao lado dele uma bela morena de olhos negros, saia curtinha, cabelos negros longos, corpo escultural. Linda de morrer! – Minha sobrinha disse. Veio morar comigo.

            As patrulhas estavam cismadas. Chefe Bento presente como sempre foi, mas agora tinha ao seu lado a bela Francisca e eram somente sorrisos. Dia e noite juntos. Um dia Pedrinho os viu beijando junto ao moinho do Ventor. Um susto. A tropa toda ficou sabendo. Logo a cidade em peso sabia. Segredos? Ali em Lagoa Vermelha não havia. Todos sabiam de tudo. – Coitada da Cidinha diziam. Ela calada. Parecia que não estava revoltada. Claro, Chefe Bento continuou indo a sua casa como se nada tivesse acontecido. Um dia procurou o Padre Albertinho. - Senhor Padre, disse – Não vou confessar agora. É só um conselho. Não sei o que diz meu coração. Não quero ficar sem a Cidinha. Ela é meu sonho para vivermos juntos para sempre. No entanto não sei, mas estou amando a Francisca. O que faço padre?

                 Lagoa Vermelha em peso “cochichavam” entre si. O disse me disse das comadres eram enormes. Quem é essa Francisca? De onde veio? Tomar o Chefe Bento da Cidinha? Vai ver que é uma “pistoleira” da cidade grande. Onde o Coronel Adauto arrumou esta bruxa? Durante um mês o buchicho não parou. Chefe Bento não sabia o que fazer. Não tinha coragem de olhar nos olhos de ninguém. Sempre de cabeça baixa. O Coronel Adauto um dia pediu para ele ir até a fazenda. E agora pensou Chefe Bento? Ele vai me imprensar na parede. Não sei o que fazer. Nem mamãe soube me aconselhar.

               O dia acabava de amanhecer. Um céu avermelhado prenuncio de um dia quente e sem chuva. Um carro preto, grande atravessou a cidade de ponta a ponta e se dirigiu a fazenda do Coronel Adauto. O povo só ficou sabendo quando Zé das Flores, um vaqueiro da fazenda, entrou no Boteco do Martinho e contou as novidades. O marido da Francisca veio buscá-la. Era não queria ir. O Coronel Adauto ficou calado. Eram casados e ela devia obrigação a ele. Não concordou com a farsa dela se apaixonar pelo Chefe Bento. Pensou várias vezes contar o que sabia. Era casada com um mafioso da capital. Sujeito perigoso. Ela fugiu dele e mesmo aconselhando a voltar não aceitou.

                 O povo viu o carro preto pegando a estrada da capital com a Francisca dentro. Quando Chefe Bento soube, dizem seus amigos lá do posto de saúde que ele chorou. Dois meses depois o casamento foi realizado. Vieram escoteiros de varias cidades. Fizeram uma bonita passagem de bastões para ele e Cidinha passar quando saíram da igreja. Padre Albertinho sorria também. Quem sabe ele toma jeito? A nova casa estava preparada, mas eles pouco ficaram ali. Pegaram o ônibus de Lagoa Formosa naquela tarde e foram em lua de mel merecida.

                Acompanhei tudo. Sei que o Chefe Bento nunca mais foi o mesmo. Seu sorriso espontâneo desapareceu. Todos diziam que Cidinha estava sempre com os olhos vermelhos. Dois anos depois nasceu Tomé, um ano mais e Marcela veio ao mundo. Pararam por aí. Sei que depois dos dois rebentos o sorrisos voltou ao rosto do Chefe Bento. Sei também que eles viveram felizes para sempre.                       

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Legião dos Esquecidos



“Examinai todas as ações que se fazem debaixo do sol; na verdade, não passam de vaidade e correr atrás do vento."
 (Textos Bíblicos)

Conversa ao pé do fogo.
A Legião dos Esquecidos

            Estou à procura deles. Alguém sabe onde estão? Porque os procuro em todos os lugares e não consigo encontrá-los? Agora são outros? Não tem rostos? Não tem nomes? Desapareceram no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na memória e ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas saudades. Difícil não relembrar os momentos vividos um dia. Se eles foram bons ou maus não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou. A Associação peca. Eu sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela é inanimada. Não aproxima de ninguém. Se hoje eles não estão mais ao lado dela para ela sim, eles se tornaram uma Legião de Esquecidos.

            E foram tantos e tantos. Foram aqueles que deram o que tinham e não tinham pela Associação. Eles fizeram parte da história e a organização esqueceu. Eles sempre diziam que não era para ela e sim para colher flores colorida nos jardins da juventude. Ah! Foram pessoas que passaram e se foram. Tiveram seus momentos e de repente viraram lembranças. Ações que foram geradas no calor de um ideal e hoje, delas os acontecimentos se acabaram. Mas a organização é implacável. Tem as suas convicções e dela não abre mão. Ela vive o sonho de seus devaneios de altivez de pensar que eles aqueles que são a Legião dos esquecidos não tem mais serventia para ela. Ela sabe que tem sempre uma Legião dos presentes que quem sabe um dia poderá ir para outras plagas e ficaram também no limbo da Legião dos esquecidos.

            A Associação não lembra que eles um dia foram presentes sacrificaram o que podiam e não tinham acreditando que ela, a organização estaria sempre ao seu lado. Não foi assim. Nunca foi. Já disse a Associação nunca se interessou por eles. Interessa sim pelos vivos presentes nas fileiras do altar que jazem nos escaninhos da Associação. Ela se sente bem com a fila que se forma, da reverência que se faz, do sim e o não sem discordar. Para ela todos os momentos que eles viveram intensamente acabaram se transformando em memórias tristes que ela faz questão de apagar e esquecer. Pergunta-se a organização o porquê ela não os procurou? O porquê ela não mandou pelo menos uma carta, pequena, simples, sem afetação, com poucas palavras escritas – Obrigado! Você me fez feliz um dia. Não. Nem isto ela fez e sabemos que ela nunca fará.

           Para ela, esta Legião dos Esquecidos não existe mais. São ignorados, não existe gesto de nobreza, não importa o que eles fizeram, se sacrificaram os seus que viviam ao seu redor, se fez dos seus proventos uma doação sem volta. Se ele ficou sem dormir para domar o vento e que ele pudesse soprar com carinho aqueles que estavam ali a dormir sob as estrelas. Ele deu tudo que tinha e nunca foi agraciado e um dia ele achou melhor partir. Tentou ao seu modo achar o caminho a seguir. Ele não acreditava que todos os momentos vividos intensamente acabariam se transformando em apenas memórias tristes ou quem sabe alegres. Para ele agora não vale a pena lutar. Lutar por um ideal. Não o da Associação e sim daquele que criou o espirito aventureiro, que pensou que o amor, que a força de um ideal nunca seria esquecido. Pensou que ali estava o verdadeiro caminho do sucesso para formação de caráter. Esta sim foi sua paga quando ali estava sem um retorno da Associação.

            São tantos, são milhares, estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos deixou. Eles hoje vivem com suas memórias ainda vivas de um passado. Uma poetiza sintetizou tudo sobre eles. O tempo. O tempo passa tão rápido. O tempo deixa para trás, os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são esquecidos. Não há volta, não existe convite de retorno. A Associação não se presta para isto. Ela não importa de quem chega e de quem se foi. Claro, já foi dito e falado, ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem volta. Não haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos escaninhos de seu ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela eles são a Legião dos Esquecidos.

             Ah! Associação. Não precisava ser assim. Esta legião podia voltar. Tantas coisas a ajudar. Quem sabe um sorriso furtivo ajudaria? Quem sabe uma palavra de carinho? Porque não apagar esta insensatez, esta frieza e pensar que dar as mãos seria melhor? Sei que não. Não adianta remar sua própria canoa. As águas revoltas e os turbilhões da vida levaram a canoa e ela se foi para sempre. A organização esqueceu-se dos remos, agora ela tem quem rema para ela, sempre será assim, com rumos definidos que não comportam em suas fileiras esta Legião dos Esquecidos. E eu fico aqui matutando, e copiando Estefani Moury, que dizia, - E eu continuo olhando as estrelas e lembrando-se do seu sorriso, dos momentos com você vividos que nunca mais voltarão!  

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O último duelo ao por do sol.



Lendas escoteiras.
O último duelo ao por do sol.

                     Pedalando sobre o sol forte da manhã, eu me mantinha na fila que fora organizada pelo Chefe Rildo na Estrada do Quinzinho. Quatro patrulhas indo acampar na Garganta do Rio Mimoso. Iriamos ficar na área mais larga onde nunca tinha acontecido uma enchente. Ficava entre as Montanhas do Roncador e a Montanha da Lua. Eu conhecia muito bem. Acampei diversas vezes com a Patrulha. Agora melhor, todas as patrulhas presentes. Chegamos por volta das onze da manhã. Corre- corre para montar campo e fazer o almoço. Eu tinha uma predileção pelo local. Tinha muitos amigos lá. Habitantes da floresta e da garganta do Rio Mimoso. Já contei a vocês que eu tinha um dom. Entendia e conversava com os animais e pássaros da floresta. Eram todos meus amigos. Esperava encontrar lá A Coruja de Olhos Verdes, O Tatú Bola que jurava ter mais de cem anos. A Família Zuarte deveria ter crescido. Antes eram quinze macaquinhos prego e muitos deles esperavam filhotes.

                     Sabia que na calada da noite a Onça Parda e o Lobo Guará iriam me esperar na curva da tartaruga. Um local onde sempre a bicharada se reunia. Meus amigos da Patrulha sabiam do meu dom. Mas nem todos acreditavam. Nem mesmo quando o Gavião Maltes veio avisar que o rio formava uma enchente enorme na cabeceira. Foi à conta de desarmar as barracas, pegar as tralhas que o rio começou a subir. Questão de minutos. Dei falta da Coruja de Olhos Verdes. Só apareceu por volta do lusco fusco do entardecer. – Oi Escoteiro, como vai? Olhei e lá estava ela na grande árvore onde fazia sua morada. Disse ao Monitor que ia tentar achar umas bananas e ele riu matreiramente. Sabia que ia procurar a Coruja de Olhos Verdes. Ela já chegou? Sim. Ela não quer vir aqui. Muitos das outras patrulhas não iam entender.

                       - Sabe Escoteiro, amanhã vai ser um grande dia, dizia a Coruja de Olhos Verdes. Toda a bicharada da garganta, da mata do Jambreiro e acho que até das Montanhas da Lua e roncador já confirmaram presença.  Vão vir para a luta mortal! - Luta? Que luta Coruja dos Olhos Verdes? Perguntei. – A luta das cobras venenosas. – Mas porque vão lutar? Sempre foram de paz e  respeitavam até os humanos que passavam por aqui! – Sempre foi assim, respondeu. Mas ontem começaram a discutir na Prainha do Melão quem era mais forte, quem era mais valente, quem tinha o veneno mais poderoso e quase saíram às raias de fato ali mesmo. A cascavel Mor e a Surucucu Papaia gritaram tão alto que a bicharada que foi lá beber água se assustaram e correram. Quando cheguei os olhos das duas estavam vermelhos. Chispas azuis, vermelhas e douradas salpicavam em todas as direções. Vi que iam se engalfinhar, mas o Quati da Floresta Negra separou e deu ideia para o duelo.

                          Fiquei pensativo. Não iam duelar e sim entrar numa luta de mortal. Eu conhecia a Chefe da Tribo das Cascavéis. Uma ou duas vezes conversei com a Surucucu do Rabo cortado. Nunca me fizeram mal. Eu sabia que ali e nas matas distantes existia uma lei. Não escrita, mas que todos obedeciam. A Lei da Selva. A própria Coruja de Olhos Verdes que era considerada a mais sabia já dizia que “uma coisa não é justa porque é lei, mas deve ser lei porque é justa”. Ali o respeito existia. Sabiam todos que um dia iriam servir de antepasto para um mais forte, mas só quando sentiam fome. Achei que devia interferir. A Coruja dos Olhos Verdes achou que não. Não disse nada, mas iria estar presente. – Onde iriam duelar? Perguntei. – Na Pedra Cinzenta do Papo Amarelo. Sabia onde era. Fui lá varias vezes. Escolheram bem. Todos ali seriam vistos.

                          Combinei com o Monitor para me liberar entre quatro e sete da noite do dia seguinte. Ele um grande companheiro não se fez de rogado. Cheguei por volta das cinco da tarde. Quase toda a bicharada estava presente. Lá estava o Tamanduá Bandeira, O peixe-boi, a Arara azul-de-Lear. Várias onças pintadas, Jaguatiricas, quatis, gaviões, águias coloridas e falcões de todo o tipo. Era bicho que não acabava mais. Iam chegando e procurando o melhor lugar para ver a luta mortal. A Cascavel chegou acompanhada de duas aranhas negras. Logo chegou a Surucucu com mais de vinte escorpiões amarelos ao seu redor. Não houve conversa, não houve apito e nem gongo. Elas logo se engalfinharam. Eu sabia que não seria uma luta de morte. Não tinham veias e nem sangue, portanto os venenos das mordidas não fariam efeito. Lutaram-se, engalfinharam-se, tentaram enroscar uma na outra até que cansadas cada uma se estirou em um canto.

                          Houve um silencio momentâneo e depois uma vaia infernal. Os Macacos Prego guinchavam e urravam nas arvores. Outros rugiram, aves cantavam gritantes no ar. – Uma lutinha! Uma lutinha de nada! Diziam. Resolveram fazer uma Indaba ali na hora. Fizeram oito comissões. Tema – Castigo para as cobras venenosas que não eram de nada. Cada comissão fez um relatório e apresentou para a Coruja de Olhos Verdes. Esta no alto da árvore gritou alto – Que se lavre em ata, que hoje, 12 de fevereiro, ano santo, Foi dado uma punição a Dona Cascavel e a Dona Surucucu por seis meses. Elas ficarão proibidas de morder quem quer que seja. Nem poderão caçar o sapinho do lago dourado. Iram se alimentar de folhas e tomates verdes!

                          Um urra! Mais um e outro. A bicharada cantou alto a Arvore da Montanha e foram cada um para suas casas. Cheguei ao campo era mais de oito da noite. O Monitor disse que o Chefe perguntou por mim na hora do jogo. Deu uma desculpa de dor de barriga. No ultimo dia após o cerimonial a Surucucu e a Cascavel vieram me pedir desculpas. Pediram para eu interceder por elas na Corte de Honra das Corujas Buraqueiras. Mandei uma carta por escrito e parti com a escoteirada para minha cidade. Devo voltar lá no próximo domingo. Só eu e o Monitor. Vou tentar ver se ele vai ser aceito na comunidade dos bichos e animais da floresta. E também saber se perdoaram as cobras venenosas.

E acreditem se quiser... Mas é bom saber que eu falo com eles. Eu Juro pela Alma do Jumento Cinzento que morreu de tanto comer capim. Que assim seja!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O filho do "Chefe".



Conversa ao pé do fogo.
O filho do "Chefe".

               A meditação nos trás paz e muitas vezes respondem as nossas inquisições do dia a dia. Eu gosto de meditar. Principalmente sobre o nosso Movimento Escoteiro. Voltei os olhos para o passado, aquele bem distante e depois fui percorrendo o caminho que conheci até chegar os dias de hoje. Quando jovem nossos escotistas eram oriundos do próprio movimento Escoteiro. Difícil explicar e difícil de muitos entenderem. Os jovens ficavam mais anos e a evasão era menor. Enquanto isso aconteceu se manteve o tradicional e o sistema de patrulhas que aprenderam em sua mocidade.

              O tempo foi passando. Já não havia tantos escotistas oriundos das próprias tropas. Alguns voluntários adentraram no escotismo. Isto foi bom, pois mantivemos o crescimento que desejávamos. Pequeno é claro, mas satisfatório. Infelizmente a evasão começou a aumentar. Acontece que as cidades crescendo e a falta de adultos se tornou uma tendência que poderia até prejudicar o andar do escotismo em termos nacionais. O número de escotistas advindo das tropas foi suplantado pelos pais. Um número crescente deles adentrou no escotismo. Aos poucos eles assumiram posições diversas na hierarquia escoteira e para nossa felicidade mantiveram o escotismo unido. No entanto foi aí que começaram as mudanças. Todos é claro sempre acreditaram que o faziam em beneficio do escotismo.

             A maioria dos pais permaneceram nas sessões escoteiras do grupo. Muitas tropas e alcateias devem agradecer a eles as suas atividades e continuidade. Como foi essa chegada dos pais? O jovem interessa em participar. A mãe ou o pai ou ambos o levam a um Grupo Escoteiro mais próximo. Isto acontece muito nas cidades maiores. Difícil deixar o jovem ir e vir só. Já não confiamos como antes. O pai ou a mãe ficam ali esperando o final da reunião. Duas três horas (depende muito do Grupo que leva a sério a pontualidade Escoteira e a retidão do horário). É cansativo. Mas chega uma hora que passam a gostar das atividades. E se já ficam ali esperando porque não participar diretamente? (o começo do vírus Escoteiro. Começa assim – risos).

              Quando entra o casal muito bom. Se não pode haver discordâncias no lar. Claro que o filho une a todos e o seu sorriso quando de uniforme faz com que os pais se entendam.  Ai vem à parte mais difícil. Deixar que o filho ande com suas próprias pernas. A proteção familiar sem perceber se estende ao grupo. Muitos pais acreditam piamente que isto não acontece. Os demais chefes da sessão olham de outra forma. Quando o Grupo Escoteiro tem boa estrutura tudo se resolve satisfatoriamente. Mas não é fácil. O espirito Escoteiro ainda não foi assimilado. Existem casos que isto até prejudica ao filho. Principalmente quando um dos pais é o titular da sessão e quer mostrar que ali não tem proteção.

              Outros casos são que os pais tem receio de fazer certos tipos de atividade que julgam ser perigosas. Não viveram aquela situação e não é fácil participar confiando. Se temos nas sessões escoteiras escotistas bem formados o problema inexiste. Caso contrário à discórdia poderá se um fato que prejudica em muito o filho ou a filha que aos poucos vai sentindo uma animosidade com sua pessoa. Não é fácil a convivência entre adultos seja no escotismo ou em qualquer parte da sociedade. Uma solução seria um Diretor Técnico com mentalidade aberta, democrático e com boa vivencia no escotismo. Teria que ser um “Salomão” para resolver contendas, um psicólogo para aconselhar e um político (no bom sentido) para resolver tudo entre todos os participantes adultos.

                     Mas sabemos que temos poucos desses escotistas no cargo de Diretor Técnico.  Pelo que vejo pelo que ouço e por histórias contadas o Conselho de Chefes de Grupo praticamente inexiste em boa parte dos grupos escoteiros. Apesar de tudo, se não fossem os pais o destino do escotismo teria sido outro. Talvez bem pior. Eles trouxeram sangue novo. Ideias novas. Vontade de fazer e agir. Louvo isso. Só está faltando um pouco de bom senso, pois tem alguns que galgaram postos nos órgãos superiores e estão a mudar achando que o mundo mudou. Tem até alguns que dizem que BP está ultrapassado, que o mundo é outro, que os jovens aspiram outra forma de atividade. Mil explicações.

                  Não discuto. Até acho válido. Poderia até ser um caminho que precisamos para trazer todos os jovens a uma organização como a nossa. Difícil é dizer como fazer com que os pais respeitem a individualidade dos seus filhos. Eu fui pai. Sei como é tive dois que alcançaram o lis de Ouro e o Escoteiro da Pátria. Os outros não. Nunca interferi. Em casa os tratava como pai e não como um Chefe Escoteiro. O incentivo existiu de forma simples. Nunca em tempo algum interferi em sua sessão com seus chefes escoteiros. Não gosto e nunca gostei de chamarem meus filhos do “filho do Chefe”.

Bem vindo os pais. Eles são hoje o baluarte do Escotismo nacional. Tem um longo caminho ainda a percorrer, mas quem sabe eles serão a solução do futuro? E claro seus filhos irão ficar mais tempo no movimento. Serão com certeza excelentes Escotista no futuro. Não existe outro caminho hoje. Sem os pais o movimento não seria nada do que é hoje. Mas os filhos são lobinhos e escoteiros ou seniores. Só isto. No grupo não são filhos. Não esqueçam. Não deixe que eles se ressintam por ser chamados o filho do Chefe. Você é Chefe de todos que estão lá e seu filho faz parte do todo e não individualmente.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Corte de Honra está em seção!



Conversa ao pé do fogo.
A Corte de Honra está em seção!

                     No escotismo sempre encontramos situações que nos fazem analisar e pensar se o caminho percorrido seria este mesmo. Algumas vezes tomamos decisões que poderemos nos arrepender depois. Outras vezes deixamos para o amanhã e quando ele chega à conclusão é que teria sido melhor se tivéssemos resolvido ontem. Sou um Chefe Escoteiro da II Tropa do Grupo Ventos do Norte. Não sei se sou um bom Chefe, dizem que sou meio mole, sempre tomo decisões baseadas em relações humanas que estão dentro do coração. Nunca prejudiquei ninguém Fui convidado pelo Comissário Distrital para uma troca de ideias. Pediu para passar na casa dele. Assim feito e conversa em dia retornei, pois queria participar da Corte de Honra marcada neste dia na tropa. Sabia que os dois Assistentes estavam preparados, mas eu gostava de ver a atuação dos Monitores e subs Monitores. Ao passar em frente ao Grupo Escoteiro Sol Nascente resolvi dar uma parada para cumprimentar um Chefe amigo.

                    Não o vi, e depois soube que tinha se afastado por motivos profissionais e um Assistente assumiu a tropa. Os escoteiros estavam à vontade no pátio jogando uma “gostosa pelada”. Estranho. Nunca foi assim. Perguntei a um dos jovens onde estava o Chefe. – Estão em Seção! Seção? Perguntei. – Isto mesmo Chefe. A Corte de Honra está em seção. Estão resolvendo se expulsam o Juan Melchior. Fiquei pensativo. Uma Corte de Honra decidindo a vida de um menino? Resolvi ficar ali e esperar o desfecho da Corte de Honra. Meia hora depois um Monitor saiu correndo da sede e gritando: - Conseguimos! O Juan Melchior foi expulso! Alguns da tropa que jogavam sua bola nada disseram outros apenas levantaram a cabeça. Seria isto mesmo? Eu pensei. Aguardei o Chefe da tropa. Queria conhecer a história e os erros do jovem.

                   Logo ele apareceu e com três apitos formou a tropa em ferradura. Já o tinha visto em uma reunião distrital. Com a tropa formada ele leu a ata da Corte de Honra. Deu um sorriso quando disse que dos sete presentes, quatro foram a favor da expulsão. Nesta hora ele me viu e abanou a mão de longe. Esperei. As patrulhas foram preparar uma atividade e me aproximei. - Chefe! Eu disse. Que crime cometeu o garoto para ser expulso assim? Ele ficou sério e respondeu – Faltar às reuniões, não respeita o Monitor, agora deu para falar palavrão. – Mas porque ele não estava presente para se defender? - Porque não quis disse. Mandei para ele uma convocação com A.R. e ele não deu satisfações. Ele falta muito? – Claro, só para ter uma ideia tem mais de dois meses que não aparece!

                  Não tinha mais nada a dizer. Deu um até logo, um sempre alerta e fui embora. Pelo que vi na tropa deveria ter outros também para ser “expulsos”. Só uma Patrulha com seis, as demais com três ou quatro patrulheiros. Os Monitores presentes gritavam alto davam ordens e dificilmente conversavam calmamente. Fui para o Grupo Escoteiro pensando. Eu não tinha nenhuma autoridade para agir ou conversar com ele. Pensei até em dialogar, mas com seu estilo arrogante não iria me ouvir. Eu sabia que nestes casos a culpa não é do menino e sim do Chefe. Chegou-se a este ponto foi porque ele não tomou as providencias necessárias com antecedência. Se o menino há três meses não aparecia era porque já havia se desligado. Neste caso seu julgamento e expulsão não passou de um teatro e uma maneira vulgar de se vingarem.

                   Não se concebe uma Corte de Honra julgando um jovem e decidindo como se estivessem preparados para aquilo. A Corte de Honra é parte importante do Sistema de Patrulhas. É uma comissão permanente que resolve os negócios da tropa. Existem casos que o Chefe assiste, opina, mas não vota, no entanto é dele a decisão final. Eu sei que ela toma decisões sobre programas, acampamentos, recompensas e muitos relativos à administração da tropa. Alí o segredo é absoluto. Neste caso mesmo sem ter a autoridade para tal, a Corte de Honra poderia ter sugerido ao Chefe que tomasse as providencias cabíveis pelas faltas. Esqueceram-se dos pais do menino que um dia o levaram ao grupo e nem comunicado foram. Agora expulsar? Porque o Chefe não o procurou pessoalmente em sua casa, conversou com seus pais, tentou ver o que pudesse ajudar e até quem sabe em ultimo caso dar a ele uma licença para decidir se voltava ou não, mas com a disciplina Escoteira em primeiro lugar?

                     Afinal era um menino de doze anos. Seus amigos iam comentar sobre sua expulsão. Isto seria benéfico para o Grupo Escoteiro? E o Monitor a gritar que ele foi expulso, estaria certo? Claro que não. Muitos chefes esquecem que o escotismo tem seu método baseado na colaboração para a formação. Se pretendêssemos ter somente jovens de caráter ilibado, boa educação, formação exemplar não sei se aí caberia o método Escoteiro. Temos que trabalhar com aqueles que precisam de uma correção de rumo. É nossa obrigação e nosso dever. Gritar com jovens, ameaçar, suspender e expulsar são medidas que nunca deveriam ser colocadas em prática com jovens. Claro que todos são aceitos sem exceção. E cá prá nós, nada é mais difícil e por isso mais precioso do que ser capaz de decidir honestamente. Dizia Drummond que fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado. É assim que perdemos pessoas especiais.

                    Somos um movimento de educação e formação do caráter. Trabalhamos para isto. Acredito que muitos chefes perdem jovens frequentemente por tomarem decisões sem conhecimento de causa. BP nos deu um manancial. Estão ai diversas literaturas escoteiras que falam do assunto. Se soubermos trabalhar bem nossos Monitores, se procurarmos ver o individuo e não o todo aí sim o sucesso será garantido.  Quem mais precisa do escotismo são os jovens rebeldes e cuja sociedade não dão a eles nenhum valor ou oportunidade. Não vamos confundir com uma instituição de menores, nada disto. Vivemos em nossa vida julgando pessoas. Julgamos os atos e até as motivações como se soubéssemos quais eram. Julgamos tudo, seu modo de falar, andar e vestir.

                  O escotismo não é assim. Muitos caminham pelo lado errado, e estes é que deveriam ser julgados. As palavras do Cristo me vinha à mente enquanto dirigia, pensando que a Corte de Honra deveria ser valorizada pela sua possibilidade em melhorar os padrões da tropa e não para decidir a vida de um menino. E que foi que o Cristo disse? "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?”

Voltaremos ao tema proximamente.

Lembrar é bom. Não custa nada. O lado bom das coisas ruins que acontecem em nossas vidas.


   
 Lembrar é bom. Não custa nada.
O lado bom das coisas ruins que acontecem em nossas vidas.

             Vejo pessoas aqui e ali a reclamar de suas dores. São muitas as estradas que devemos percorrer. Chorar por elas? Quem sabe sim e não. As dores do passado e do presente não são diferentes apesar de que em outras épocas tudo que acontecia parecia natural. Claro dor é dor, seja onde for. Mas tem a dor da ferida, a dor da doença e a dor do coração que machuca muito. Saudades são difíceis de suportar. A perda de um ente querido dói demais. Não existe época para a dor no coração. Mas é fácil controlar. Dizem que o trabalho é o melhor remédio para todo tipo de dor e eu acredito nisto. Nem sempre as dores são produzidas por feridas na pele ou uma fratura qualquer. Se você sentiu muitas dores em sua vida, deve saber que elas são um bálsamo para o seu aprendizado e seu crescimento interior.

              O mundo é uma escola. Quando aproveitamos as aulas que nos são ministradas melhor. Cair, levantar, cair de novo e isto faz parte do nosso crescimento. O que é dor para um nem sempre é dor para outros. Chico Xavier disse que um arranhão em uma senhora acostumado a ser servida, dói mais em uma pessoa simples com uma faca cravada em alguma parte do corpo. A dor não é igual para ninguém. Veja aquele casal levando sua mudança nas costas em uma estrada esburacada, e ao seu lado sua esposa e seu filho e sem dinheiro até para um lanche, lá vão eles sem destino sem saber aonde ir. Você sabe que a dor não é aparente. Ela é profunda. Ela não é menor para aqueles que não tiveram na infância os prazeres dos jovens de hoje. Mas acredite os jovens de hoje também tem suas dores. E muitas.

            Existem muitas espécies de dores. Muitas mesmo.  É sempre bom lembrar para dizer que não foi nada. Como dizemos para os nossos filhos sempre – Calma, vai passar! As dores acontecem como uma passagem na vida para que a gente possa aprender. Difícil descrever todas elas. Todas as dores. São tantas! Mas no fundo todas valem a pena. Se alguém pudesse voltar ao passado não iria fugir de nenhuma delas. Elas fazem parte da vida e claro do nosso crescimento e dores são dores. Sei de muitos que tiveram mais que eu ou você. E estes sabem que um dia vão partir. Lá aonde irão acredito que não vão existir tantas dores, mas se tiver que assim seja. Elas fazem parte da nossa vida. Sem elas nosso mundo de aprendizado e prova não teria valor!         

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O altar dos egos e vaidades existe?



Conversa ao pé do fogo.
O altar dos egos e vaidades existe?

            Se você perguntar irão jurar de “pé junto” que no escotismo não tem. Quando me dizem isto abaixo a cabeça e dou uma risadinha sem graça.  “Minino”! Não ria alto. Será mal interpretado. Pode ser que eles chamam por outros nomes, mas é um festival de vaidades e altos egos na nossa associação que poderíamos chamar de o Altar dos Egos e Vaidades Perdidas. Sei que existe em todo lugar. Mas aqui? Conheci alguns que para falar, se apresentar faziam trejeitos, voz pastosa ou cavernosa, peito inflado, firmando-se nos dois pés, cabeça alta e a técnica de “olho nos olho”. Um muito amigo meu me disse que eles estudavam em frente a um espelho como ficariam mais apresentáveis. Dias e dias ali. Faziam até discursos para a pasta de dente, a escova e o sabonete. Espontaneidade ali não existia. Meu amigo dizem-me, isto não existe mais. Hoje acabou. Todos são “iguais perante a lei”. A lei. Ora a lei.

               Em mil novecentos e antigamente conheci duas escotistas famosas. Ambas DCIM. Uma em um estado e a outra em outro. Também havia mais duas, mas distante ainda do estrelato. Quando se encontravam rajadas de ventos e raios pipocavam por todo o lado. Mas quem visse de longe veria duas chefes sorrindo uma para outra. Sorriso perfeito. Sorriso de grandes atrizes de Hollywood. Ah! Ainda bem que o lobismo ganhava com grandes performances das duas. Eram “feras” na história da jângal. Eu mesmo fiz um curso com uma delas. Mas não vamos deixar de lado os DCIMs que pipocavam de estado em estado. Um ar professoral pose de Velho lobo, não conheci pessoalmente, mas tinham jeito de BP. Alguns diziam que eles sabiam mais do o Velho fundador. Era assim – Pode galgar escada, mas, por favor, não me ultrapasse. Aguarde sua vez aqui ou na eternidade. Risos e risos.

               Garantem-me que isto hoje não existe mais. Só vendo para crer. As vaidades fazem parte da vida. Quem diz que não tem vai direto para um mundo melhor na espiritualidade ou no céu. No meio dos dirigentes infelizmente ainda existem aqueles vaidosos e aqueles que querem um dia ter a sua oportunidade também de ter a honra de ser vaidoso. Nietzsche foi feliz em dizer que a vaidade dos outros só vai contra o nosso gosto quando vai contra a nossa vaidade. Verdade verdadeira. Participei em minha vida de algumas centenas de reuniões onde os Grandes Chefes estavam presentes. Sempre faziam e ainda fazem as reuniões de Giwell. Sem menosprezar o festival de vaidades ali tinha seu lugar ao sol.

               Ei! Espere! Não vamos generalizar. Conheço milhares que não tem isto. São os abnegados. Os que dão a alma e o sangue pelo escotismo. São eles realmente que movimentam a engrenagem desta máquina maravilhosa que é a associação Escoteira. Você dificilmente irá ver neles, ou ostentando orgulhosamente uma Medalha Tiradentes, Uma Cruz São Jorge, uma gratidão ouro ou um Tapir de Prata. Não. Estas são reservadas para outros. Julgados mais importantes para ter este direito. Não me condenem. Tem muitos que recebem estas condecorações e não são vaidosos. Trabalham com amor e esforço para um escotismo melhor. Mas os vaidosos! Hummm! Ego ou egocêntricos? Sem lá.

              Toda vez que escrevo sobre algum tema que machuca na alma, recebo centenas de e-mail, e perco a conta daqueles que discordam falando francamente onde devia colocar a postagem. Risos.  Paciência. Não sou daqueles que arrastam frases como “A verdade dói”. Cada um tem a sua verdade. Mas será que eu já fui um deles? Se fui juro que não fui! Risos. Mas quantos não correm atrás de um taco a mais. De um cargo a mais. Não preciso dizer. Você que me lê e não é um deles sabe quem são. São aqueles que quando estão na alta cúpula e veem você, lhe dão um tapinha, um sorrisinho sem graça, um oi e um até logo. Estão sempre com pressa. Os grupinhos deles se formam na calada da noite. Os temas secretos. Mudanças. Nomeações. Escolhas. Fico com Augusto Cury que dizia – A Vaidade é o caminho curto para o paraíso da satisfação, porém ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve. Risos.

               Tenho saudades deles. Daria tudo para estar presente de novo nas assembleias e nos Congressos. Adorava no passado a apresentação da equipe em curso. Formados em linha. Empertigados. Podia ali marcar sem sombra de duvida os vaidosos. Já pensou? Eu em uma assembleia? Arre! Tremo só em pensar. Irão olhar para mim, olhos faiscando, dando um risinho sem graça – Você então é o Chefe Osvaldo? Risos. Turma é ele! Podem bater a vontade! Risos. Sem comentários. Não estarei lá. A saúde não permite. Tenho medo de ser expulso sem direito a defesa nas reuniões secretas que ali fazem. São elas sim que deviam ser abertas. Mas o melhor é ficar aqui. Um ermitão que já deu o que tinha de dar. Chega por hoje. Os vaidosos que me desculpem, mas prefiro lembrar-me de Jean de La bruyere e Paul Valéry que diziam - A falsa modéstia é o ultimo requinte da vaidade. Agradar a si mesmo é orgulho, aos demais, a vaidade.

domingo, 27 de janeiro de 2013

O caminho da felicidade.



Conversa ao pé do fogo.
O caminho da felicidade.

O céu estremece.
A terra balança.
E num sorriso de criança;
Ainda existe a esperança
de sermos felizes!


                       Terminou a reunião. Alguém vai procurar você. – Chefe, por favor, assine aqui. Assinou. Eram os seus proventos. Você está sendo regiamente pago. Um ótimo salário. Poucos te invejam, entretanto. Eles não sabem o valor do seu salário. Sua assinatura foi feita com as pupilas dos seus olhos. Não tem canetas, lápis, nada. Ali estavam espalhados pelo pátio, centenas de milhões de reais, melhor dizer, centenas de milhões de felicidade. Este é o nome dos seus proventos. Seu holerite tinha forma de estrela brilhante com poucas coisas escritas. Ali estava os olhinhos do Lobo Feliz, da Lobinha que pensava primeiro nos outros. Ah! Lá está também a face faceira do Escoteiro. Da Escoteira cortes. Sem falar no Sênior que aprendeu o que é honra. Da guia que se orgulha em ser leal. Chiii! Eram muitos os escritos nos seus proventos, no seu holerite.

                       Um dia convidaram você. Seja um voluntário escoteiro. Quanto pagam? Você perguntou. Muito! Vais ter o maior salário do mundo. Sem muito esforço pessoal. Apenas dedicar parte do seu tempo para complementar sua renda familiar. Coisa pouca. Coisa de milhões! Terás aborrecimento sim, terás tristezas também. Poderá até ficar doente pelas intempéries do tempo. Mas quando receber e ler o que ganhou no seu holerite Escoteiro irás ficar orgulhoso. Nenhum astro, nenhum cantor, nenhum alto membro da comunidade científica, nenhum político terão a oportunidade de receber o tanto do que irás receber. Eles nunca farão o que você faz. Eles nunca poderão julgar sua vitória para ter direito a este enorme salario. Eles não sabem o que é isto.

                    Vais ter sim que ser um deles para justificar sua paga. Serás claro um professor. Ensinar muito. Quem sabe um astro também, pois terás de jogar com eles em todos os momentos. Claro vais ser um religioso. Terás de entender a espiritualidade de cada um e ajudar na vida pessoal de todos. Terás que mostrar o valor de Deus, da natureza, das florestas, dos rios e oceanos. Irás com eles inventar coisas maravilhosas que poderão deixar para trás os maiores cientistas da humanidade. Irás cantar como nunca cantou em sua vida. Vais ter que saber politica para resolver os problemas que irão aparecer. E serão muitos. E claro, irás ser um Chefe, um líder, um sargento ou até um general, mas diferente. Usarás como arma o seu coração.

                      Irás viajar com eles por longas terras, irás fazer longas jornadas e sabe, vai se maravilhar quando os ver sorrir pela primeira vez. Ai começa o seus proventos. Vais lembrar-se de Bruno Raphael que dizia: - Da bravura dos grandes nasce à glória. Do sorriso das crianças a felicidade. Do olhar dos inocentes a certeza da esperança. De suas mãos a construção do futuro e assim você pode continuar a sonhar... Com os pés no chão. Lembre-se da lei do retorno, pois não haverá consideração com seus erros. Mas lembre-se que saber perdoar é importante para que outros perdoem você também. Irás tirar do próprio bolso para ajudar, suas horas de lazer e alegria serão outras. Muito mais difíceis, mas muito superior a tudo que fizeste. Não é só diversão. Agora tem um propósito.

                     A sua volta muitos o olharão com desconfiança até que irá chegar o dia do seu salario. A cada ano irás receber seu décimo terceiro salário. Isto quando um deles estampar em suas fardas as conquistas que você ajudou-os a receber. Dizem que a cada década você terá um prêmio extra. Os ver entrando na sociedade, homens feitos alegres, com altivez não exagerada, mas que olharão para você e o verão como um dos responsáveis pela formação de suas vidas. A cada aperto de mão, a cada Melhor Possível ou Sempre Alerta seus bolsos ficaram mais avolumados com os aumentos dos proventos que virão. A cada volta de um acantonamento ou acampamento verás pilhas de sorrisos financeiros aos seus pés.

                     Não será fácil seu trabalho. Irás enfrentar relâmpagos e tempestades. Pais insatisfeitos, amigos de farda com críticas, trabalho extra e adicional noturno acrescido de alta periculosidade pelas intempéries da vida, e até quem sabe com pagamentos atrasados. Foram sorrisos tardios. Mas no fim, seus proventos serão enormes. Horas sem dormir. Horas de correria. Atender a todos sem olhar a quem. E quando chegar ao final da jornada, na hora de receber, vais dizer – Valeu a pena. Valeu sim. Olhar a volta e ver sorrisos em profusão. Sorrisos de crianças. Os mais lindos sorrisos que existem na face da terra. E eles, os sorrisos serão sim, o maior valor dos seus proventos. Enormes, e a cada um mais você ficará mais rico. Uma grande soma no Banco da Felicidade. E pode sacar quando quiser. Com cheque ou não. Ele está lá armazenado. Um bilhão de felicidade.  Para você. Pois foi você quem o fez por merecer o sorriso de uma criança. E não foi ele, o seu chefão quem disse que a verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros?       

Olhe para o sorriso singelo de uma criança, deite na grama e olhe para as estrelas e cante com os amigos. Depois disso, ainda há quem diga que o simples fato de viver e se fazer realmente existir, seja tão complicado?