Conversa ao
pé do fogo.
Era uma
vez... Uma inspeção de Gilwell!
Prólogo: - Todos
formados na entrada do campo ao lado do pórtico. Havia uma placa pendurada com
os seguintes dizeres: - Campo da Pantera - Lema “Verdade e amor”. Cantavam... “Acampei
lá na montanha, de manhã fiz meu café”! Esperavam o Chefe que exigia
pontualidade. - Nove em ponto! – Desta vez não iriam falhar... Uniformes lavados,
sapatos engraxados. Todos estavam de posse do seu lenço e pente. As facas e
canivetes devidamente limpas e talqueadas. Os materiais individuais postados
dentro dos padrões. Poderiam perder, mas se acontecesse perderiam com honra!
Jovialto sorria... Não brincava
com suas responsabilidades. Desde que nomeado Intendente/Almoxarife que ele se
sentia prestigiado. Sua lista de materiais de Patrulha ele conhecia de cor. Não
deixou para o dia da inspeção para fazer alguma limpeza. Sempre trazia tudo
limpo e oleado. Na barraca de intendência tudo bem guardado e limpo. Panelas,
frigideira, colher de pau, Coador de pano, facão, machadinha, escavadeira,
enxada, chibanca... Sabia quem usou e quando não entregava cobrava. Sorria ao lembrar-se
dos pequenos acampamentos eram menos materiais. Sua intendência estava pronta.
Tudo limpo e arrumado. Não iria falhar quando o Chefe o chamasse para a
inspeção.
Marcha Ré era o xodó da
patrulha. Passava horas com sua mãe e sua avó aprendendo os quitutes para fazer
no acampamento. Olhou pela ultima vez sua cozinha. Um toldo bem esticado, um
fogão de barro firme e com amarras perfeitas na mesa em forma de L. Exigia tudo
limpo e bem cuidado. Votaram a favor de deixar os utensílios de refeição em uma
pioneira própria, mas ele fazia questão de inspecionar. Seu lenheiro bem
cuidado e pronto para se defender da chuva. Seu aguadeiro nunca deixou nada sem
ter uma boa porção de água. Que o Chefe viesse, ele estava pronto!
Cafundó tinha as pernas
tortas, mas era o mais veloz da Patrulha. Sonhava um dia ser o cozinheiro, mas
por enquanto se contentava como auxiliar de cozinha e aguadeiro. Sempre ao lado
de Marcha Ré, não deixava faltar nada. Sabia que todos gostavam dele e nunca
deixou a “peteca” cair. Tinha grande facilidade em escolher uma água boa para
beber e outra má. Ajudava na limpeza do vasilhame e era exímio em barrear as
panelas para que o não ficasse grude ou carvão. Sorria quando cantava: - “No
acampamento, o nosso tormento é ter que usar... Panelas”!
Calango não era tão
novo na patrulha. Esperava um cargo melhor, mas ninguém saia e ele se esforçava
como Lenhador. Para ajudar fez um curso nos bombeiros como Socorrista e era
conhecido como o escoteiro Cura-Cura. Sempre deixava uma boa pitada de madeira
no lenheiro. Tudo separado... Gravetos, galhos secos, achas de pequeno e maior
tamanho. Quando levantava já deixava o fogão aceso. Era um perito e se orgulhava
do seu ofício. Na formatura olhava para Manfredo e sorria.
Manfredo era o mais
novo. Seis meses de Patrulha. O chamavam também de Pata-Tenra e ele não se
incomodava. Ajudava Jovialto a afiar e olear as ferramentas de corte. Colocava
nos canecos a identificação dos alimentos. Afinal era o Escriba e Tesoureiro.
Fazia questão de anotar tudo no Livro da Patrulha. Sonhava o dia que eles
receberiam a Insígnia de Campo. Contaram que no ano anterior a Patrulha tirou
nota máxima e conseguiu. Olhou para Tiago o Sub e fez o sinal de ok!
Tiago chegava nos seus
quatorze anos. Sabia que Palafita breve iria passar para os seniores. Seria seu
substituto na monitoria. Sempre foi um Sub Monitor dedicado. Ajudava em tudo e
combinou com seu anjo da guarda fazer tudo para conseguirem neste acampamento a
Insígnia de Campo. Estava sonhando acordado e rezava. Tinha orgulho da Pantera.
Desde quando saiu dos lobos ele nunca duvidou da amizade da fraternidade de
todos na Patrulha. Foi um dos últimos a dormir no dia anterior. Checou tudo. Com
sua lanterna olhou todo o campo a procura de objetos estranhos ao campo. Fez o
sinal de perfeito a Palafita. Que o Chefe viesse. Desta vez não iriam perder!
Palafita sorria. Já
havia inspecionado os nós, as amarras, os estiques e espeques das barracas. Tinha
um enorme orgulho de sua Patrulha. Fazia questão de um abraço, de um aperto de
mão seja no escotismo ou fora dele. Dizia ao pé do ouvido de cada um “Obrigado
por ser meu amigo, tenho orgulho de você”! Havia dois anos que assumiu a
monitoria substituindo Peixe D’água. Hoje está nos seniores preparando para ser
pioneiro. Eram amigos até hoje. Sempre dizia a todos que o importante é
competir com honra, vencer é uma questão de oportunidade. Lembrou da reunião do
dia anterior ideia de Manfredo. O Pata-Tenra. Deram as mãos e disseram: - Desta
vez vamos conseguir! Olhou na trilha da Chefia, viu o Chefe Tornado chegando.
Tornado se orgulhava de
sua tropa. Fazia questão de ser amigo e irmão e nunca um Chefe no bom sentido
da palavra. Conhecia um por um. Havia visitado a casa de todos e era amigo dos
seus pais. Diziam que era um bom aconselhador. Ele sorria... Conselhos? E quem
os quer? Hoje estava sozinho na inspeção. Combinou com os monitores ajudá-lo.
Exceto a Patrulha inspecionada os demais participariam. Explicou as normas
apesar de que já conheciam de outros acampamentos. Ele sabia do valor de uma
inspeção, de como era motivo para o crescimento da tropa, da Patrulha e do
jovem escoteiro. Não havia primeiro lugar, o importante era alcançar a nota
estipulada em Corte de Honra. Torcia para que todos alcançassem, mas sabia que
nem sempre isso acontecia.
Nove horas... O vento
calmo soprava nos campos de Patrulha. As canções evoluíram para os Gritos de Patrulha.
Sempre Alerta Chefe! Patrulha Pantera pronta para a inspeção! Ah! E logo veio a
apresentação da Elefante, da Jaguar, da Coruja... Ali imperava a fraternidade. Todos
desejavam que cada Patrulha alcance o objetivo e pudesse receber com honra a Insígnia
de Campo. Seria mais um dia memorável todos esperavam o grande jogo, a aventura
na Serra do Sol, as conversas ao pé do fogo, a travessia do Rio Vermelho e o
Fogo do Conselho. Quatro dias... Dias de alegria e dias de vitória, não
importava quem vencesse, pois o importante era participar!
“Senhor, ensina-me a
ser obediente às regras do jogo. Ensina-me a não proferir nem receber elogio imerecido.
Ensina-me a ganhar, se me for possível. Mas se eu não puder, acima de tudo,
ensina-me a perder”! – (Inscrições encontradas nas paredes da Biblioteca Real
do Palácio de Buckingham).