Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Conversa ao pé do fogo. Era uma vez... Uma inspeção de Gilwell!




Conversa ao pé do fogo.
Era uma vez... Uma inspeção de Gilwell!

Prólogo: - Todos formados na entrada do campo ao lado do pórtico. Havia uma placa pendurada com os seguintes dizeres: - Campo da Pantera - Lema “Verdade e amor”. Cantavam... “Acampei lá na montanha, de manhã fiz meu café”! Esperavam o Chefe que exigia pontualidade. - Nove em ponto! – Desta vez não iriam falhar... Uniformes lavados, sapatos engraxados. Todos estavam de posse do seu lenço e pente. As facas e canivetes devidamente limpas e talqueadas. Os materiais individuais postados dentro dos padrões. Poderiam perder, mas se acontecesse perderiam com honra!

Jovialto sorria... Não brincava com suas responsabilidades. Desde que nomeado Intendente/Almoxarife que ele se sentia prestigiado. Sua lista de materiais de Patrulha ele conhecia de cor. Não deixou para o dia da inspeção para fazer alguma limpeza. Sempre trazia tudo limpo e oleado. Na barraca de intendência tudo bem guardado e limpo. Panelas, frigideira, colher de pau, Coador de pano, facão, machadinha, escavadeira, enxada, chibanca... Sabia quem usou e quando não entregava cobrava. Sorria ao lembrar-se dos pequenos acampamentos eram menos materiais. Sua intendência estava pronta. Tudo limpo e arrumado. Não iria falhar quando o Chefe o chamasse para a inspeção.  

Marcha Ré era o xodó da patrulha. Passava horas com sua mãe e sua avó aprendendo os quitutes para fazer no acampamento. Olhou pela ultima vez sua cozinha. Um toldo bem esticado, um fogão de barro firme e com amarras perfeitas na mesa em forma de L. Exigia tudo limpo e bem cuidado. Votaram a favor de deixar os utensílios de refeição em uma pioneira própria, mas ele fazia questão de inspecionar. Seu lenheiro bem cuidado e pronto para se defender da chuva. Seu aguadeiro nunca deixou nada sem ter uma boa porção de água. Que o Chefe viesse, ele estava pronto!

Cafundó tinha as pernas tortas, mas era o mais veloz da Patrulha. Sonhava um dia ser o cozinheiro, mas por enquanto se contentava como auxiliar de cozinha e aguadeiro. Sempre ao lado de Marcha Ré, não deixava faltar nada. Sabia que todos gostavam dele e nunca deixou a “peteca” cair. Tinha grande facilidade em escolher uma água boa para beber e outra má. Ajudava na limpeza do vasilhame e era exímio em barrear as panelas para que o não ficasse grude ou carvão. Sorria quando cantava: - “No acampamento, o nosso tormento é ter que usar... Panelas”!

Calango não era tão novo na patrulha. Esperava um cargo melhor, mas ninguém saia e ele se esforçava como Lenhador. Para ajudar fez um curso nos bombeiros como Socorrista e era conhecido como o escoteiro Cura-Cura. Sempre deixava uma boa pitada de madeira no lenheiro. Tudo separado... Gravetos, galhos secos, achas de pequeno e maior tamanho. Quando levantava já deixava o fogão aceso. Era um perito e se orgulhava do seu ofício. Na formatura olhava para Manfredo e sorria.

Manfredo era o mais novo. Seis meses de Patrulha. O chamavam também de Pata-Tenra e ele não se incomodava. Ajudava Jovialto a afiar e olear as ferramentas de corte. Colocava nos canecos a identificação dos alimentos. Afinal era o Escriba e Tesoureiro. Fazia questão de anotar tudo no Livro da Patrulha. Sonhava o dia que eles receberiam a Insígnia de Campo. Contaram que no ano anterior a Patrulha tirou nota máxima e conseguiu. Olhou para Tiago o Sub e fez o sinal de ok!

Tiago chegava nos seus quatorze anos. Sabia que Palafita breve iria passar para os seniores. Seria seu substituto na monitoria. Sempre foi um Sub Monitor dedicado. Ajudava em tudo e combinou com seu anjo da guarda fazer tudo para conseguirem neste acampamento a Insígnia de Campo. Estava sonhando acordado e rezava. Tinha orgulho da Pantera. Desde quando saiu dos lobos ele nunca duvidou da amizade da fraternidade de todos na Patrulha. Foi um dos últimos a dormir no dia anterior. Checou tudo. Com sua lanterna olhou todo o campo a procura de objetos estranhos ao campo. Fez o sinal de perfeito a Palafita. Que o Chefe viesse. Desta vez não iriam perder!

Palafita sorria. Já havia inspecionado os nós, as amarras, os estiques e espeques das barracas. Tinha um enorme orgulho de sua Patrulha. Fazia questão de um abraço, de um aperto de mão seja no escotismo ou fora dele. Dizia ao pé do ouvido de cada um “Obrigado por ser meu amigo, tenho orgulho de você”! Havia dois anos que assumiu a monitoria substituindo Peixe D’água. Hoje está nos seniores preparando para ser pioneiro. Eram amigos até hoje. Sempre dizia a todos que o importante é competir com honra, vencer é uma questão de oportunidade. Lembrou da reunião do dia anterior ideia de Manfredo. O Pata-Tenra. Deram as mãos e disseram: - Desta vez vamos conseguir! Olhou na trilha da Chefia, viu o Chefe Tornado chegando.

Tornado se orgulhava de sua tropa. Fazia questão de ser amigo e irmão e nunca um Chefe no bom sentido da palavra. Conhecia um por um. Havia visitado a casa de todos e era amigo dos seus pais. Diziam que era um bom aconselhador. Ele sorria... Conselhos? E quem os quer? Hoje estava sozinho na inspeção. Combinou com os monitores ajudá-lo. Exceto a Patrulha inspecionada os demais participariam. Explicou as normas apesar de que já conheciam de outros acampamentos. Ele sabia do valor de uma inspeção, de como era motivo para o crescimento da tropa, da Patrulha e do jovem escoteiro. Não havia primeiro lugar, o importante era alcançar a nota estipulada em Corte de Honra. Torcia para que todos alcançassem, mas sabia que nem sempre isso acontecia.

Nove horas... O vento calmo soprava nos campos de Patrulha. As canções evoluíram para os Gritos de Patrulha. Sempre Alerta Chefe! Patrulha Pantera pronta para a inspeção! Ah! E logo veio a apresentação da Elefante, da Jaguar, da Coruja... Ali imperava a fraternidade. Todos desejavam que cada Patrulha alcance o objetivo e pudesse receber com honra a Insígnia de Campo. Seria mais um dia memorável todos esperavam o grande jogo, a aventura na Serra do Sol, as conversas ao pé do fogo, a travessia do Rio Vermelho e o Fogo do Conselho. Quatro dias... Dias de alegria e dias de vitória, não importava quem vencesse, pois o importante era participar!

“Senhor, ensina-me a ser obediente às regras do jogo. Ensina-me a não proferir nem receber elogio imerecido. Ensina-me a ganhar, se me for possível. Mas se eu não puder, acima de tudo, ensina-me a perder”! – (Inscrições encontradas nas paredes da Biblioteca Real do Palácio de Buckingham).

terça-feira, 21 de maio de 2019

Crônicas de um Chefe Escoteiro. O Caminho dos desgastados e caducos Velhos Escoteiros.




Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O Caminho dos desgastados e caducos Velhos Escoteiros.

Prólogo: - Hoje ao voltar da minha caminhada diária pensei em pausar um pouco das minhas lides de escritor, coisa que não sou e tento sem saber aonde chegar. Eis que me pus a pensar o que pensam de mim e o que penso do mundo escoteiro que vivo. Sentei na cadeira, liguei a telinha, metí os dedos no teclado e escrevi... Tantas bobagens que nem sei se valeu. Se eu fosse você passava longe... Ler é perder tempo! Afinal sou ou não sou um Velho Escoteiro senil, arcaico e borocoxô? Risos.

Não sou mais o "Velho" leitor e estudioso do escotismo moderno. Vivo preso no passado e as amarras do tempo não me deixam sair. Ainda tento ler quando possível às novas mudanças escoteiras, mas sinto dificuldades em interpretá-las. Meus olhos e minha mente estão cansados. São tantas resoluções normas, artigos que fazem da minha cabeça um redemoinho. Sei que sem entender bem os novos ventos escoteiros não posso discutir os velhos ventos que já se perderam no tempo. Antes achava tudo muito simples. Três ou quatro e o feijão com arroz ficava pronto. Hoje não.

Outro dia recebi um email de um jovem Chefe. Dizia – Leio seus escritos. Alguns bons outros não. Se não vai até um grupo trabalhar, melhor não ficar dando opinião. Eu estou em uma tropa. Amo o escotismo. Porque não faz como eu?  O passado Osvaldo ficou para trás. Agora temos outro escotismo. Mais moderno mais atual. Chamava-me de Osvaldo. Não chefe Osvaldo ou escoteiro Osvaldo. Até aí tudo bem. Fiz um exame de consciência. Tentei me colocar com a idade que tenho como um novo voluntário em um Grupo Escoteiro. Sabem? Eu teria que aprender a “navegar” no PAXTU, aceitar exigências para minhas andanças quando de uniforme. Tudo muito complicado. Fazer continência para chefões seria o fim da picada. Fiquei pensando se deveria tentar, mas nos conformes vi que não iria me enquadrar em nada. Mas suponhamos que fosse aceito. Teria um “assessor pessoal”, (Deus do céu!) ele iria dizer o que deveria fazer e agir. Afinal não é assim que funciona?

Passado alguns meses, vi em sonhos o assessor pessoal dizendo ao seu superior o seguinte – Olhe chefe, acho que o "Velho" não serve. Não me ouve e sempre discute comigo o que tento passar para ele. Veja, ele no primeiro dia já criticou a forma como fazemos o cerimonial. Disse que devíamos ter uma patrulha de serviço ou matilha. Pode isso? Deixar para os meninos tamanha responsabilidade? O pior, nas reuniões fica dizendo aos chefes que não devem ficar dando palestras, por mais de 10 minutos, e procurar um local adequado com sombra. E enche a paciência comentando que devemos trabalhar com os monitores e eles com seus patrulheiros. E completou. Falar demais a todos depois de 10 minutos ninguém está mais prestando atenção!

E sabe o que mais? No acampamento criticou o tempo todo porque levamos os lobinhos, escoteiros, seniores todo mundo junto e fazíamos jogos e atividades escoteiras e devíamos fazer em separado. E olhe, falou um monte dos pais estarem lá e fazerem as refeições para todos. – “Usem as patrulhas, elas devem ser autônomas”. Uma piada chefe. O cara não dá é “carne de pescoço” vive cobrando que devemos fazer pelo menos uma reunião de chefes por mês. Reclama de tudo. Acha que somos ásperos e sorrimos poucos para a garotada. E ainda quer que nos transformemos em anjos. Detesta uma piadinha do “Bocage” e reclama dos meninos e meninas dizerem de vez em quando uns palavrões! E a Lei escoteira? Como é chato. Só reclama.

Cobra da gente tudo. Boa ação, treinamento dos monitores, um pouco de autonomia as matilhas, mais atividades no Waingunga e menos papeis coloridos. Disse-me na cara de pau que a alcateia esqueceu da Jângal, do Mowgly, da Kaa e da Bagheera e do Balu. Existe que recebamos os jovens com cavalheirismo e fraternidade. Reclama por que nos os chefes arrumamos a sede e não os escoteiros. Fala com nosso Diretor Técnico como se ele fosse seu professor. Vive enchendo a paciência que não somos democráticos. Não ouvimos o que os meninos têm a dizer. Outro dia fizemos a promessa de seis de uma vez. Foi uma festa. Sei que nosso grupo é bom. Padrão Ouro. Sei que muitos estão saindo, mas eu disse a ele que nem todo mundo nasceu para ser escoteiro. Se quiserem ir embora xau!

Reclama sempre porque o distrito faz muitas atividades. Reclama mais ainda porque nós os chefes sempre vamos a Jamborees, Grande atividades escoteiras e os meninos não vão e ainda pagamos para trabalhar como Staff. Pode? Afinal somos adultos. Podemos pagar. Para isso trabalhamos. Quando eles crescerem poderão fazer o mesmo não acha? Olhe se fosse enumerar tudo o mandaria para a “Tonga da milonga do cabuletê”. O cara é carne de pescoço mesmo! E olhe, fique lá conosco uma reunião e você vai ver o "Velho". Só “enchendo o saco”!

- É... Tenho que aceitar. O melhor é ficar na minha. São tantas atribulações e exigências que não iria ser aceito mesmo. E se me aceitassem o que diria o distrital? O Regional? Nem pensar na Nacional que fez uma norma para a entrada de Velhos Escoteiros e Antigos Escoteiros. Escreveram para tomar cuidado. Estes tipos se acham os melhores e podem atrapalhar o bom escotismo que estão fazendo. Eu sei que sou um "Velho chato” e não vou parar. Podem me chamar do que quiserem. Minhas idéias do que aprendi eu irei insistir até o fim da minha vida. Não sou perfeito eu sei, mas queira ou não é a única coisa que posso fazer. Lutar pelos meus ideais!

E por fim admito que sou um velho senil antigo e borocoxô. Vocês conhecem Velhos Escoteiros decrépitos e caducos? Ele é aquele que já viu de tudo, sabe de tudo, comeu de tudo, e se gaba de ter trabalhado e deu duro na vida. Foi sapateiro, fazendeiro, vaqueiro, técnico de alto forno, programador, gerente, lenhador, pescador, corneteiro soldado e metido a Escoteiro. Diz que em sua época serviu o exército e fez maravilhas que nem o Indiana Jones faria. Os peixes que ele pescava mal cabiam no mar. Adora falar sobre escotismo e sempre te dá conselhos... QUE VOCÊ NÃO DEVE SEGUIR! A esposa dele não é chata, é uma velhinha carinhosa e cansada, sentada numa cadeira, fazendo tricô, que só quer te oferecer pão de queijo bolinhos, biscoitos e cafezinho. Se a velhinha ficar viúva, aí lascou tudo... Ela é boazinha, mas quando fala não para mais. Se receber uma visita faz questão de te tratar como um príncipe, mas você não gosta de velhinhas e tá morrendo de pressa! Só passou na casa dela pra fazer dizer que foi conhecer o seu velho escoteiro. Pois é, a principal função dos velhinhos chatos é tomar o seu tempo e gastar os seus ouvidos!