Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Lendas Escoteiras. Era uma vez...



Lendas Escoteiras.
Era uma vez...

Não me lembro do seu nome. Pudera ele nunca disse, pois assim como chegou ele partiu. A gente o chamava de São Pedro, aquele que mora no céu. Uma barba branca que de tão branca ao ficar ao sol se tornava azulada. Magro e quem o olhasse bem de perto diria que suas carnes pelo corpo não existiam. Deveria ser formado de osso puro. Usava uma roupa simples, calça caqui curta bem puída e uma camisa verde com alguns rasgos no ombro. Usava um cinto. Era o nosso conhecido. Sem sombra de dúvida era um cinto escoteiro. Esquecemos até que em sua cabeça também morava um chapéu de abas largas, mas que agora estava decaído, pois se mostrava velho, com pequenos furos. No banco que estava sentado havia uma pequena mochila, diferente das que nos conhecíamos. Nunca vimos o que tinha dentro dela. Sua figura chamava a atenção, tinha os dentes perfeitos e quando sorria maravilhava a todos. Falava como se estive declamando poesias tipo aquelas que nosso professor de português declamava sem sorrir e querendo ser o que ele nunca foi. Um poeta.

Não lembro quem o viu pela primeira vez sentado no banco da Praça da Estação. Praça nova árvores recém-plantadas. Hoje lindas enormes e as palmeiras? Bem não estou aqui para falar dela e sim do velhinho de barbas brancas azuladas, ou melhor, São Pedro lá do Céu. Quando lá cheguei outros lá estavam. Pudera gente estranha na cidade e se fosse Escoteiro era motivo de jubilo por parte de todos. Mas o cinto e o chapéu identificavam alguém que poderia ser e claro poderia não ser. Em volta daquele simpático velhinho nós pequeninos Escoteiros agachados em sua frente de olhinhos arregalados queríamos saber de tudo. Ele tinha um leve sorriso e de vez em quando seus olhos fechavam parecendo que iria dormir. Sonhador chegou correndo. Era e sempre foi nosso porta voz. As patrulhas confiavam nele. Sabia falar como ninguém, um proseador que não perdia nunca o fio da meada.

Todos nós esperávamos que nosso acólito trouxesse a tona e desvendasse o segredo do Chapéu e do cinto que acintosamente aquele velhinho, ou melhor, São Pedro lá do céu portava. Ao menos a fivela estava limpa. Não brilhava, mas ainda tinha a cor da originalidade quando produzida. O chapéu mesmo limpo não matinha as abas retas e planas. Tinha um semblante que encantava. Sonhador disse que o ouviu falar que estava com fome. Nós não ouvimos nada. – façam uma vaquinha! Conseguimos doze paus. Perna Seca e Orelhudo foram correndo ao bar do Zé Moreno. Voltaram com quatro coxinhas e seis bolinhos de carne. São Pedro lá do Céu comeu com gosto. Educadamente. Mastigava como se estivesse contando cada mordida. Beleleu levou Narigudo até sua casa na bicicleta. Voltaram em dez minutos com um cantil cheio de água e uma garrafinha de groselha. Ele sorria e falava baixinho com Sonhador.

Lá pelas tantas discutimos onde ele iria dormir. Velho assim era difícil levar para a casa dos dezoitos meninos Escoteiros que se ajuntaram em sua frente na Praça da Estação. Seus pais poderiam estranhar. Bororó Monitor da Onça Parda sugeriu trazer a barraca de duas lonas da chefia e um cobertor do exército que ganhamos. Na grama atrás do banco a barraca foi armada. Sonhador disse para ele que podia dormir tranquilo. O Guarda Noturno era o Zé Birosca, antigo Escoteiro. Ele estava em casa. Ficamos lá até por volta de nove da noite. Fui embora pensativo. De onde era? Como chegou? Seria um antigo Escoteiro ou um Chefe? Dormi pensando e durante todo tempo de escola nem vi o que os professores disseram. Queria que as aulas terminassem para correr até a Praça da Estação.

Encontrei Bico Doce e Orelhudo conversando. Ele se foi me disseram. A barraca estava desarmada e bem dobrada nos moldes Escoteiros. Os espeques limpos e enrolados em um jornal. Se ele dormiu ali levantou cedo. Antes do alvorecer. Zé Birosca o Guarda Noturno disse que não viu ele ir embora. Seu Nonô Fogueteiro Chefe da estação disse que o maquinista Zé Be Deu o levou como carona no trem de carga das cinco da matina. Fiquei decepcionado. Se ele fosse um dos nossos quantas novidades para nos contar? Sabíamos que nossa fraternidade era enorme, mas só umas fotos apagadas de uma revista que um viajante nos presenteou vimos Escoteiros de outros países. Será que eles seriam igual a nós?

Na semana seguinte eu e Orelhudo encontramos Zé Be Deu o maquinista. – Desceu em Crenaque. Disse que iria atravessar o Rio Doce em uma jangada que ele guardava na Caverna do Morcego. Falou baixinho que iria rever seu amigo o Cacique Abaeté dos Aimorés do outro lado do rio. Eram amigos de séculos e séculos. Séculos? Pensamos no que disse o maquinista. Perguntamos mais e ele não disse mais nada. Olhei para Orelhudo que balançou a cabeça. Imortal? Seria ele realmente São Pedro lá do Céu? Meninos Escoteiros a filosofar. Durante muitos anos nos Fogos de Conselho e em Conversas ao Pé do Fogo nós levantávamos a história de São Pedro lá do Céu. Falou-se tanto que agora para os novos ele era um Santo. Santo Escoteiro?

A minha vida fechou-se duas vezes antes de se fechar –
Mas fica por saber
Se a imortalidade me revela
Um evento maior

Tão largo, tão incrível de pensar
Como estes que sobre ela duas vezes tombaram.
Partir é tudo o que sabemos do céu,
Tudo o que do inferno se pode precisar.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Primeira Classe, o sonho de Lord Jim.



Lendas escoteiras.
Primeira Classe, o sonho de Lord Jim.

              Lord Jim era um sonhador. Desde que entrou para os escoteiros ele sonhava. Sonhava com acampamentos, com excursões, com a Patrulha, com as viagens enfim, Lord Jim gostava mesmo de sonhar. Havia uma diferença em Lord Jim, ele sonhava com os pés no chão. Emocionou-se no dia de sua promessa. A tropa em posição de Alerta!  Mino o Monitor ao seu lado, o Chefe Maílson o olhando nos olhos e ele dizendo a Promessa Escoteira sem errar.  Lembrou ali na ferradura quando entrou na tropa. O abraço do Chefe, do Monitor e de todos os patrulheiros da Gavião. Era novo para ele estas provas de amizade. Nunca tinha visto. Diziam que os escoteiros são fraternos. No primeiro acampamento ele sentiu a verdadeira felicidade de viver como um herói das selvas. Aprendeu rápido. Até como cozinheiro ele uma vez ajudou.

                 Quando começou na Patrulha Gavião o batizaram como Lord Jim. Seu nome era Stefano. Gostou do apelido. Quando leu que Baden Powell também foi Lord seu orgulho mudou para melhor. Agora seu sonho era outro. A Segunda Classe. Não foi difícil. Em um ano e meio conseguiu. Melhor ainda a recebeu em uma noite de lua cheia, no Acampamento das Vertentes, ascendendo o fogo do conselho com um palito e pulando as chamas três vezes para receber seu nome de guerra. Apesar de que a tradição rezava ser um nome indígena ele pediu para continuar sendo Lord Jim. Seu Monitor o abraçou. Todos deram um enorme grito de guerra da tropa. – Viva Lord Jim! O Chefe Maílson entregou a Segunda Classe e ele se derreteu todo. Não perdia um acampamento, nenhuma excursão. Era um dos primeiros a chegar à sede para as reuniões. Não tinha sonhos de ser Monitor, seu sonho agora era ser um Primeira Classe. Os cordões claro estavam vivos nestes sonhos.

                 As provas foram feitas paulatinamente. Recebeu do seu Monitor como deveria ser e as datas. Ele mesmo procurou o Capitão Lamartine dos bombeiros para que aprendesse a prova das especialidades de Bombeiro e Socorrista. Acampador tirou facilmente. Em dois anos na tropa já tinha mais de trinta noites de acampamento. Comprou um caderno de duzentas folhas e ali anotava tudo. Datas, onde, quando, tempo e as partes importantes que lá aconteceram. Agora estava se preparando para a jornada. Era a apoteose. Todos que fizeram eram respeitados e até endeusados na tropa. Todos queriam ouvir os contos aventureiros da jornada. Aprendeu a ler mapas, tirava de letra os pontos cardeais, colaterais e sub. colaterais, sabia o que era azimute, graus, aprendeu com facilidade a fazer um esboço de Giwell e seu passo Escoteiro e passo duplo eram perfeitos. Nunca em tempo algum ele errou no seu passo duplo. A quilometragem não tinha erros.  

               O dia da jornada chegou. Ele e Levegildo que ele mesmo convidou partiram rumo ao Vale do Roncador. Não conhecia, nunca tinha ido lá. O Chefe e o Assistente distrital Escoteiro tinham conversado antes. Um ônibus o levou até a estradinha do Sitio do Marcondes. Sua mochila estava perfeita. Nada de mais nada de menos. O farnel o de sempre. Um macarrão, uma batata, um arroz, sal, alho e um vidrinho de gordura. Sabão e mais nada. Não estava pesada. Queria levar a velha Silva de guerra, mas os seniores estavam com ela. Sobrou uma Prismática. Tudo bem. Ele a dominava com perfeição. Na porteira abriram o mapa. Na mosca. Era ali mesmo. Ele contava os passos e Levegildo anotava o que via por ali. Dois pintassilgos, um Anu do Brejo, beija flores voando longe, dois macaquinhos pregos no pé de Jaca.

                Às seis e meia da tarde chegaram ao sitio do Marcondes. Não havia duvida. Duvida ouve na senhora que os recebeu. Parecia que não sabia o que eles queriam, mas disse que eles poderiam usar o riacho e acampar a vontade. Uma sopa deliciosa, lavar vasilhame, limpar bem a barraca para evitar animais peçonhentos, e após uma vista no relatório e uma oração foram dormir. Levantaram cedo. Um café, biscoitos nova arrumação e pé na taboa. Agradeceram à senhora e partiram. Sabiam que deviam atravessar a Mata do Canarinho, mas disseram que não eram mais de quatro quilômetros dentro dela.  Engano. Meio dia, uma hora e não saiam de dentro da mata. Voltaram. Foram até o sitio. Perguntaram. O mapa não ajudava. A senhora disse que eles erraram, se voltassem pela serra eles veriam o caminho.

              Duas da tarde. Combinaram de chegar à sede às cinco da tarde. Isto se o ônibus não atrasasse. Agora sim o caminho estava correto. O mapa voltou a funcionar. Só às sete da noite chegaram ao ponto de ônibus. Demorou. Chegaram à sede as onze da noite. O Chefe Maílson preocupado. O Assistente distrital não quis esperar. Foi embora. Disse que não daria a prova. Se não tem responsabilidade com horários não merecem a Primeira Classe, disse. Dito e feito. Foram reprovados. Lord Jim não chorou e nem desistiu. Ele tinha têmpera de escoteiro. Seis meses depois repetiu a jornada. Desta vez conseguiu fazer tudo no horário. Lord Jim fez do seu sonho realidade. Pediu ao Chefe Maílson para que o distintivo fosse entregue também no Fogo de Conselho. Claro que sim o Chefe disse.


             Noite escura, trovões, o fogo aceso. O Chefe queria voltar para o campo. Começou a cair uma chuva torrencial. Lord Jim chorou. Preciso receber agora Chefe! Não posso esperar outro acampamento. Terei feito quinze anos e serei Sênior! A chuva caia aos borbotões. A tropa ficou de pé. Em posição de sentido. Trovões ribombavam pelo ar. Lord Jim ali em pé em frente ao Chefe. Era mesmo um vendaval dos bons. O vento soprava forte. Mino o Monitor colocou a mão no seu ombro. - Você está pronto Lord Jim? Sim ele disse. O Chefe entregou o distintivo de Primeira Classe. Refez a promessa. Deu um enorme sorriso. Um raio assustador atravessou os céus. A luz que ele produziu mostraram um rosto de um Escoteiro orgulhoso e valente. Agora era um Primeira Classe! Agora tinha muitas histórias para contar! Com ribombos e assombros da chuva que caia intermitente, a tropa ainda em posição de sentido cantou o Rataplã. Todo o hino. A selva recebia com orgulho aquela chuva intermitente e o cantarolar dos escoteiros! Ah! Sonhos! Como é bom sonhar e os ver realizados. Viva Lord Jim. O Escoteiro Primeira Classe!  

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O maior Jamboree Mundial já realizado no mundo.



Quem sabe o impossível acontece?
O maior Jamboree Mundial já realizado no mundo.

    Isto mesmo, já pensou? O maior Jamboree no Brasil? Onde a participação seria livre? Sem imposições ou escolhas? Seriam convidadas todas as associações onde existam Escoteiros e não importa suas ideologias. Diríamos a eles que são nossos convidados – Sejam bem vindos! Um orgulho recebê-los aqui! Somos irmãos e nada pode mudar isto. Iriamos dar um aperto de mão forte, um Sempre Alerta gostoso, e quem sabe até um abraço fraterno. Convidaríamos também Escoteiros e escoteiras do mundo todo. Dez mil vinte ou cinquenta ou cem mil Escoteiros. A maior concentração possível. Uniformes de todas as cores, parecendo com o Brasil de vários uniformes coloridos. Seria próximo a um grande lago onde os Escoteiros do Mar pudessem embarcar e fazer suas atividades, e teria que ser perto de um aeroporto para que os Escoteiros do ar pudessem voar em um aeroplano, esbanjando felicidades nas asas da imaginação. Seria permitida a participação de lobinhos e lobinhas em acantonamentos próximos, pois não haveria limite de idade. A meninada brasileira e mundial ficaria perplexa! Que linda atividade diriam. Seria mesmo. Ali não haveria discriminação. Europeus, africanos, australianos, asiáticos, americanos, pobres ou ricos dando as mãos numa fraternidade sem igual.

   Estou sonhando? Pode ser. Mas porque não convidar grandes empresas para patrocinar? Porque não ir até a Força Aérea para colocar aviões a disposição dos Escoteiros do norte e do sul gratuitamente? Isto não é feito para deputados e ministros? E o Exército? E a Marinha? Afinal mesmo com esta implicância com ordem unida tenho certeza que iriam ajudar. Porque não procurar a FIESP e pedir a ela uma colaboração? Afinal ontem fiquei sabendo que seu Presidente foi Escoteiro, contou “causos” de acampamento e falou bem do nosso escotismo em um programa de TV. Vamos colocar o moço em ação! Que tal a Coca-Cola? Que tal a Petrobrás? Que tal a Vale do Rio Doce? E os Políticos? Não. Isto não. Melhor deixar os políticos em paz. Eles irão querer fazer comícios, aproveitar a singela atividade para se promoverem e não faltarão chefes a colocarem os lenços nos pescoços graciosos. Necas da tal Frente Parlamentar. Ela me dá sono. Risos. Mas voltemos à realidade. Uma enorme Lista. A Votorantim estaria presente. A TAM e a GOL. A Embraer poderia ajudar. São milhares para transportar sem ônus. E o Carrefour? O Extra? A Wal-Mart? Não nos esqueçamos do Ceconsud, do Zaffari, dos Irmãos Muffato, do Condor Super Center, dos Supermercado de BH, do Sonda Supermercados para colaborarem na alimentação destes milhares e milhares de jamborianos. Podemos dizer que são tantas empresas que nenhum Escoteiro ou escoteira ficaria sonhando em participar. Sua participação seria uma realidade.

    Teria que ter uma organização perfeita. Não seria difícil. Chame aquele Chefe humilde do Grotão do interior. Ele é bom nisto e como ele temos centenas. São mateiros perfeitos. Pessoas assim é que precisamos na linha de frente. Chamem a Professorinha. Também temos milhares delas. São Akelás para ninguém botar defeito. Sabem amar os seus lobinhos como a sí mesmo. Esqueça os chamados da corte, os sabem tudo, os chefões os que têm “casta” e os portentosos e poderosos. Como somos irmãos de sangue vamos deixar que eles participem em um Sub.campo próprio com cerca eletrificada. Colocaremos um batalhão policial para tomar conta deles. Só podem sair acompanhados. Risos. Coitados, nada disto, pois são irmãos de sangue. Eles serão livre para andar e voar como todos. A impressa teria um lugar especial, toda ela sem exceção. Vamos chamar quem sabe bons relações públicas Escoteiros e que sabem se entender com eles. Conheço muitos. E depois de escolhido o local, e de enviar carta a todos os grupos Escoteiros do Brasil pedindo sugestões do programa, vamos convidar um Chefe de cada distrito para montar o maior programa sugerido por todos e que fará de um Jamboree Mundial uma apoteose. E então, e então vamos enviar os convites para os Escoteiros do mundo:

- Meus amigos Escoteiros e escoteiras. Estamos convidando vocês para o maior evento mundial já realizado em todos os tempos. Será realizado na Floresta da Esperança, bem perto da Cachoeira do Sonhos, onde se pode avistar a Montanha da Felicidade. Fazemos questão da presença de todos. Teremos a presença dos chefes de todas as sessões presentes. Eles irão abrilhantar nosso espaço reservado às autoridades. Teremos uma taxa. Pequena mas teremos. Vocês irão pagar quando chegarem à quantia de um belo sorriso, um Sempre Alerta gostoso, uma vontade de ser mais um, e olhem se possível tragam junto seu “espirito Escoteiro” e não se esqueçam da moeda da boa ação. Ela também será bem vinda. Após este singelo pagamento da taxa, vamos exigir de vocês pouca coisa. Deverão vir com suas patrulhas completas ou quase, pois será um Jamboree onde o Sistema de Patrulhas estará presente em todas as atividades aventureiras. Não se esqueçam de lavar, passar e vestir com garbo seus uniformes. Não vamos exigir as cores, aqui todos terão um lugar ao sol. Conversem com seus chefes, façam a lista do material, chequem para ver o que falta e deixem a tralha pronta para ser usada. Aguardem nosso contato. Iremos dizer onde deverão embarcar para a maior atividade escoteira já realizada no mundo.

       Pensamos em convidar o Espirito de BP, mas ele não foi muito simpático conosco, apareceu em nossos sonhos dizendo: - “Acorde chefe, vá trabalhar! você só tem um dia na vida, portanto aproveite cada minuto. Dormirá melhor quando chegar a hora de dormir, se tiver trabalhado ativamente durante o dia inteiro. A felicidade será sua se você remar a sua canoa como deve. Desejo de todo o coração que tenha sucesso e na linguagem escoteira:” BOM ACAMPAMENTO”.

Falar o que? Melhor é acordar dos meus sonhos, mas caramba! Que sonho eim? Já pensou? Milhares e milhares da nossa fraternidade mundial unida em um só ideal? Já pensou aqueles que não podem pagar estarem junto com os que podem? Felicidade é assim. E como dizia a nossa velha oração escoteira – “Uns tem e não podem. Outros podem, mas não tem. Nós deste belo movimento que temos e podemos agradecemos ao Senhor”!

domingo, 13 de outubro de 2013

As névoas brancas do Rio Formoso.



Lendas escoteiras.
As névoas brancas do Rio Formoso.

O nada é a profecia da minha partida
o tudo é sopro que busca aquiescer
sou uma cor do arco-iris... Perdida
o lume solar na gota de chuva a correr
para beijar a névoa que deita escondida
a deleitar-se nos braços do amanhecer
Cellina


                      Faz muito, muito tempo quando a nossa Patrulha Sênior descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Pensei comigo que precisava acampar ali. Três quedas simultâneas, um som imperdível das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espaço. Em volta uma floresta ainda inóspita. A névoa se formava a qualquer hora do dia. Uma visão fantástica. Quando vi pela primeira vez eu estava com meus quinze quase entrando nos dezesseis anos. Descobrimos por acaso. Uma jornada até o Serrado do Gavião onde existiam milhares de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem árvores e muitas folhas. Era um mistério saber de onde vinham. Soubemos da história. Vamos lá disse o Romildo. Patrulha Sênior, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Está no sangue dos seniores.

                    O caminho iniciava na Mata do Tenente, famosa porque uma tropa do exército ficou vinte dias perdidos nela. Saíram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles não eram escoteiros como nós. Risos. A mata não era um obstáculo e o rio também não. Dava para andar bem nas suas margens. Com quatro horas de viagem, vimos uma bruma cinza que se espraiava no ar. A mata parecia que estava em chamas. Que seria? O ribombar da cachoeira nos fez estremecer. Um espetáculo magnifico. Incrivelmente fantástico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria certas partes da queda d’água. Os pássaros se deleitavam. Voavam de supimpa naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem sorrindo. Não entendemos o porquê da névoa. O Rio Formoso era todo formado por quedas de diversos tamanhos e na falta delas, as corredeiras davam outro brilho aquele magnífico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois o Rio era formoso e um grande espetáculo.

                    Pretendíamos chegar ao Serrado do Gavião ainda naquela tarde e se não parássemos nossa jornada seria cumprida. No entanto o espetáculo a cachoeira nos hipnotizava. Sentamos numa pedra próxima e os barulhos das quedas d’água eram tão intensos que mal dava para conversarmos. O ribombar das águas batendo nas pedras eram imensos.  Romildo levantou e fez o sinal. Mochilas as costas. Fomos em frente. Com tristeza, pois sabíamos que na volta o caminho não seria o mesmo. Voltaríamos pela Mata do Peixoto já conhecida. Subimos as pedras, olhamos novamente, pois íamos embrenhar na mata longe do Rio Formoso. Impossível prosseguir. Aquela cachoeira nos hipnotizou. Parecia dizer para nós que não podíamos deixá-la sozinha na noite que estava por vir. Paramos. Um círculo de seis seniores se formou. Ir ou parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Romildo aceitou. Escolhemos um local próximo à primeira queda para pernoitar. Não armamos barracas. Iriamos dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio Formoso nos reservaram. Sem sinal de chuva. “Vermelho ao sol por, delicia do pastor”. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo nosso cozinheiro Fumanchu. Comemos ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetáculo maravilhoso. Era uma visão dos Deuses.

                   Ficamos horas e horas sem conversar. O barulho era imenso. Cada um de nós meditava as maravilhas que nos são reservadas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetáculo maior ainda estava por vir. Uma bruma em forma de nevoa branca foi tomando conta onde estávamos e penetrando na mata calmamente. Ainda mudos. Cada um olhando. Aqui e ali um canto de um gavião procurando seu ninho. Israel acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a névoa branca. Raios vermelhos das chamas ultrapassaram a nevoa. Que espetáculo! Um céu colorido como se fossem milhares de arco íris noturnos. Ninguém queria falar. Ninguém falou em dormir. Não sei quanto tempo ali ficamos. Estávamos como encantados por uma feiticeira perdida no tempo naquela névoa e esquecidos de quem éramos.

                   Acordei de madrugada. Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca que nos fez companhia toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumamos nossa tralha. Comemos uns biscoitos de polvilho. Olhamos pela última vez aquelas quedas que nos levou sem saber a um paraíso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados e mochilas as costas nos pomos em marcha. Alguém olhou para trás, a névoa branca se dissipava. Deu para ver centenas de pássaros se molhando nos respingos da cascata imensa. Durante horas ninguém falou. Sempre olhando para trás. Somente o pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que já haviam desaparecido no horizonte. Nunca mais voltei lá. Ninguém de nós voltou. Passaram uma cerca de “arame farpado” em tudo. O homem só o homem resolvia quem entra e quem sai. Já não havia mais a natureza, pois foi substituída pelos desmandos do ser humano. Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: “sou o dono da terra, dono da natureza”.

Quanto ao Serrado do Gavião é outra historia. Não deixou tantas saudades como a Névoa branca do Rio Formoso, mas valeu.