Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Nunca um adeus e sim um até logo. A Canção da Despedida.



Nunca um adeus e sim um até logo.
A Canção da Despedida.

                          Velhos e longos tempos! Era assim chamada e é assim conhecida a Canção da despedida. Em Inglês Auld Lang Syne. Posso estar enganado, mas não existe ninguém que tenha passado pela trilha de Baden-Powell que não tenha cantado e se emocionado com esta linda canção. Ela conta muitas histórias no mundo escoteiro. Histórias que ficaram para trás, e outras que irão acontecer novamente. A lenda é real. Dizem que na virada do ano a humanidade festeja a ida de um e a chegada de outro. Países do mundo inteiro celebram cantando Auld Lang Syne. Orquestras tocam esta melodia de diversas formas, pessoas irão se abraçar alguns terão lágrimas nos olhos a lembrar do ano que se foi. Pessoas se abraçam, desejam dias melhores que poderão acontecer. Dizem que podem ser ruins para alguns e bons para outros. Eu costumo sentar em minha varanda nas tardes mais saudosas e ouvir meu LP de Guy Lombardo a tocar Auld Lang Syne. Nada mais nada menos que a nossa querida canção da despedida. Sem esquecer o nosso querido Trio Irakitan com magnifica interpretação.

                         Conta-se a lenda ou quem sabe a verdadeira historia desta melodia tão popular conhecida no Velho mundo que a letra original é de um poema escocês escrito por Robert Burns em 1788. Dizem que significa “Velho e longo tempo” alguns chamam de “Muito tempo atrás” e tem aqueles que dizem se chamar “Como nos velhos tempos”. Não importa o nome original, para nós escoteiros ela é a Canção da Despedida. A nossa eterna Cadeia da Fraternidade. Não sei quem adaptou nova letra a esta melodia tão maravilhosa que nos marca em todas as ocasiões quando cantamos. Sei que ela ressoa na memória e bate fundo no peito e no coração Escoteiro. É bela demais. Ela nos dá a certeza que nunca vamos nos separar que bem cedo junto ao fogo vamos nos reunir outra vez. Não temos a tradição de cantá-la na virada do ano. No Brasil poucos estados em festas da virada cantam. Temos sim a tradição de cantar no final do Fogo de Conselho, nos encontros escoteiros, em festividades e fins de acampamento.

                           Aprendemos a entrelaçar as mãos, apertar fortemente, cantar se emocionar e muitas vezes chorar. Quem não chora? Dizem que tem escoteiros durões, mas eu não acredito. No fundo do coração bate forte uma saudade uma vontade de dizer “Eu te amo” gritar naquela noite sem lua ou com lua, que o escotismo mora no meu coração para sempre. Nem sempre estamos em uma clareira da floresta, mas na nossa frente tem uma fogueira. Chamas com fagulhas subindo aos céus. Olhares de amigos que já existiam e outros que fizemos rodam o circulo do amor. Sempre nos lembraremos dela em um acampamento em uma atividade escoteira ou até mesmo um acantonamento onde os lobos sempre a cantam pela primeira vez. Dizem que as que marcam mais é no encerramento do Fogo de Conselho. Eu cantei em lugares incríveis. Cantei em florestas virgens, em picos formosos. Cantei a noite, olhando estrelas, cantei durante o dia vendo o sol ou a chuva.

                   Para mim é a mais sublime das canções Escoteiras. Nunca esqueci a primeira vez. Meu primeiro acampamento. Saudades demais. Penúltimo dia, última noite. Um fogo de conselho só da tropa. Fico arrepiado só em lembrar. Foi demais, cantei outras canções, brinquei, fingi ser um padre, aprendi palmas escoteiras, em silencio, no peito, tambor, mexicana, um dedinho, a mão toda caramba! Mas acreditem terminou. Olhamos para o Chefe. Pediu para entrelaçarmos as mãos. Não conhecia a letra, fui ouvindo e aprendendo. Comecei a entender o que ela dizia. A emoção era demais. Tocou-me fundo o coração. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Terminou a canção. Fogueira ainda crepitando, estrelas brilhavam maravilhosamente no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilos saltitando, vagalumes mostrando seus brilhos. Silencio enorme. Um olhando para o outro. Tentando disfarçar as lágrimas. Trombeta tocando. Final. Reunir, Boa noite escoteiros! É ninguém esquece. Não dá para esquecer.

                      É uma letra conhecida. Não dá para perder as esperanças, pois vamos nos tornar a ver. Neste fogo ou em outras eras nossas mãos de novo iremos entrelaçar. Não é mais que um até logo, não mais que um breve adeus. Foi bom, muito bom te conhecer. Eu sei que o Senhor que nos protege e está sempre a nos abençoar, um dia certamente vai de novo nos juntar. Letra supimpa, linda, maravilhosa, tentei descobrir quem a escreveu, não consegui. Sei que deve ter sido um iluminado quem escreveu a letra como um anjo Escoteiro. De vez em quando penso se ela dói se machuca, se a saudade marca ou se toca silenciosamente em nosso coração. É uma situação inusitada. Se contarmos para amigos eles vão rir de nós. Vão achar que somos tolos, nostálgicos. Eles não sabem o que significa para nós. É linda demais. Sempre lágrimas a cair sobre a terra, nosso chão abençoado quando cantamos.

                     Não sei se conhecem a letra original. Aquela escrita por Robert Burns. É linda, mas não se compara com a nossa. Sei que é uma canção imortal. Hoje, amanhã, no futuro milhões e milhões de pessoas pelo mundo estarão cantando e desejando que não seja mais que um até logo, não seja mais que um breve adeus. Até meus últimos dias na face da terra eu vou cantar Auld Lang Syne e quem sabe chorando. Pensando em minha vida, nos velhos tempos que nunca serão esquecidos. Pelos velhos tempos, ainda tomaremos um cafezinho no fogo de conselho, sei que percorremos colinas, montanhas vales coloridos, mas esta canção nunca será esquecida!

Aos meus amigos, deixo a letra original escrita por Robert Burns de Auld Lang Syne. A nossa não preciso escrever. É conhecida pelos milhões e milhões que um dia foram ou são escoteiros em todos os quadrantes do mundo.

- Os antigos conhecidos deveriam ser esquecido e nunca lembrados?
Os antigos conhecidos deveriam ser esquecidos e os velhos tempos?
- Pelos velhos tempos, minha querida, pelos velhos tempos;
Ainda tomaremos uma xicara de bondade, pelos velhos tempos.
- E certamente, você pagará pela sua e eu pela minha,
Ainda tomaremos uma xicara de bondade, pelos velhos tempos...
- Nós dois já corremos pelas colinas, e colhemos margaridas,
Mas já vagamos cansados por muitos lugares, desde os velhos tempos...
- Nós dois remamos na corrente, do sol da manhã até a noite,
Mas os mares entre nós já bravejaram muito, desde os velhos tempos.
- Pelos velhos tempos, minha querida pelos velhos tempos,
Ainda tomaremos uma xícara de bondade, pelos velhos tempos...

Não devemos perder a esperança de um dia nos tornar a ver. Sabemos que a partida não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus. Seja aqui neste mundo ou em alguma estrela no céu nos encontraremos para dizer que o Senhor que nos protege, nos vai abençoar e um dia certamente, vai de novo nos juntar!

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Contos de Fogo de Conselho. A Jarreteira de Daniel San.



Contos de Fogo de Conselho.
A Jarreteira de Daniel San.

Nota - Recebo seus três contos, é claro que gostei, mais ainda da História da Jarreteira. Como sabe, iniciei minha vida Escoteira em Portugal, numa pequena Ilha do Arquipélago dos Açores; Ilha Terceira, 52 AEP. Para mim, e meus irmãos Escoteiros portugueses o recebimento da Jarreteira acontece numa cerimônia logo a seguir ao recebimento do Símbolo de Promessa. A partir de então temos a "obrigação" de sermos Cavaleiros da Paz, do Respeito e da Fraternidade Escoteira. Já vai longe meu 28 de abril de 1963, é bem verdade, porem esse dever jamais esquecerei. Henrique Luiz - Chefe Açor.

                           Todos estavam perplexos com as fitas verdes e amarelas penduradas no meião de Daniel San. Ele posudo chegou à sede se exibindo. Foi para o canto de Patrulha. – O que é isso Daniel San? Perguntou o Monitor. – Uma jarreteira Monitor, nunca ouviu falar? – Joel nem sabia o que era. Para não demonstrar ignorância não disse mais nada. Ele sabia que peças que não eram do uniforme não era permitido usar. – Falou com o Chefe? Ele perguntou. – Ainda não, mas ele vai ficar admirado da minha jarreteira. – E quem lhe disse que são peças Escoteiras? – Minha Avó disse que meu Avô foi Escoteiro em Portugal e usava. – Seu Avô? Ele era português? – Claro, meu Avô foi um Escoteiro e chefão em Funchal na Ilha da Madeira. Fez todas as provas e chegou a Liz de Prata. Olhe quando cresceu foi Escoteiro Chefe. Minha Avó sempre me conta como sua casa vivia cheia de Escoteiros! – Joel ouviu o apito do Chefe. Ele chamava os monitores. Passou o comando para Francis o Sub Monitor e saiu correndo. A patrulha ficou em silencio olhando a Jarreteira de Daniel San.

              - Estou vendo que o Daniel San colocou uma Jarreteira, - Perguntou o Chefe Jaguar. – É Chefe, ele chegou assim e disse que em Portugal todos os Escoteiros usam – Tudo bem, não diga nada a ele. Vou aproveitar para fazer uma palestra sobre as Jarreteiras. Assim todos aprendem e claro, irão saber que aqui no Brasil não usamos mais. – Joel ficou pensativo, ouviu o Chefe quanto à próxima atividade que fariam naquele dia, um jogo fora da sede e que todos deveriam ficar alertas para não acontecer nenhum acidente. O jogo foi legal. Deveriam descobrir um homem chamado Maneta que ninguém conhecia. Ele estava vestido comumente, sem nada especial, mas alguma coisa chamaria a atenção quando o vissem. Ao descobrir deveriam formar a patrulha em linha a sua frente e cantar o Rataplã. Se ele sorrisse e dissesse sempre alerta, era o procurado se não iriam dar com os burros nágua. As patrulhas se divertiram a beça em volta da sede. Muitas erraram feio, mas o Chefe instruiu a todos que a cortesia e a apresentação iria mostrar que o erro faz parte e o apresentado iria compreender bem.

                 - A Patrulha Castor ganhou o jogo. Eles viram o homem na esquina da Marechal Deodoro e foi Tonico quem reparou que seu cadarço tinha duas cores. O Chefe deu um tempo livre de dez minutos e formou todos em ferradura – Alguém já ouviu ou viu uma Jarreteira? – Todos nem sabiam o que era isto. – Reparem em Daniel San. Ele hoje veio com uma. Ela não é mais usada no Brasil e poucos países do mundo a usam. Portugal mantem a tradição. – Tradição Chefe? – Disse Bartolo Monitor da Castor. – Isto mesmo, ouve uma época que nós usamos, mas depois foi extinto o uso. Baden-Powell usou sempre em seu uniforme. Mas olhem, é melhor eu contar para vocês a história – Querem ouvir? – Todos olharam o meião de Daniel San e sorrindo disseram sim! Tudo bem, vamos lá, a Jarreteira é uma fita que serve para prender o meião à perna, desenhada com as cores dos ramos para membros juvenis e de acordo com as funções exercidas para os chefes do movimento Escoteiro. Existiu ou ainda existe uma Ordem Militar de Cavalaria, instituída por Eduardo II, rei da Inglaterra denominada Ordem da Jarreteira. É a mais nobre das oito ordens que possui o Império Britânico.

                  - Continuou o Chefe Jaguar – Ninguém sabe de concreto sobre a data da sua instituição. Vem do século XIV. Quanto ao ano a opinião dos historiadores heráldicos varia desde 1340 até 1351. Inicialmente ela só era usada pelo soberano e 25 cavaleiros. Até 1786 não sofreu nenhuma modificação. Só em 1805 se fez a segunda modificação. Finalmente em 1831 ordenou-se que o privilegio seria concedido aos descendentes diretos de Jorge II e Jorge I. Na época não se permitia mulheres na ordem. Existe uma lenda, segundo a qual por ocasião de um baile, caiu à liga da Condensa de Salisbury, dama da corte de Eduardo III e o rei abaixou-se rapidamente para apanhar e entregar à dama. Isto deu motivo de riso e graças por parte dos presentes e o rei exclamou: “Honny soit qui mal y pense”. (mal haja quem nisto põe malicia). Ouve outras lendas como aquela de Ricardo I que ao atacar Chipre invocou São Jorge que lhe deu grande ânimo e veio à ideia de atar as pernas dos cavaleiros com uma fita de couro que lhes lembrassem do feito. Eduardo II ao instituir a Ordem da Jarreteira designou a liga como seu emblema. O distintivo desta ordem é, com efeito, uma liga que, bordada a ouro e pedrarias (jarreteira) tem a legenda: - Honny soitqui mal y pense. Atada na perna esquerda junto ao joelho.

                A tropa pela primeira vez prestava a máxima atenção. Daniel San se sentia um cavaleiro britânico com suas jarreteiras. Continuou o Chefe Jaguar: - Os cavaleiros do rei usam no lado esquerdo do peito uma placa de prata ou estrela de oito pontas representando a Cruz de São Jorge. Usam também um colar de ouro, composto de 26 peças em forma de jarreteiras, esmaltadas de azul com a imagem de São Jorge abatendo o dragão. Finalmente usam uma cinta de azul escuro, atravessada sobre o ombro direito e debaixo da qual há uma joia de ouro em forma de jarreteira, rodeando a imagem de São Jorge com a divisa da Ordem. Assim esta insígnia foi concedida ao Escotismo, motivo de muitos Escoteiros ainda usarem um pedaço de tecido pendurado na parte exterior das meias do uniforme e presa pela liga. As histórias da Ordem da Jarreteira se confunde em muitas lendas que até hoje são lembradas e usadas por grandes personalidade britânicas. Lembro que em Portugal todos os Escoteiros usam as jarreteiras.

                 Chefe Jaguar se calou e olhou para Daniel San. – Obrigado Daniel San por trazer uma jarreteira onde todos pudessem conhecer sua história. Infelizmente aqui no Brasil elas não são mais usadas e assim você deu um belo exemplo em mostrar que existem histórias, lendas e tradições que marcaram muito o movimento Escoteiro por muitos anos e vai ser lembrado por toda a vida. Guarde bem sua jarreteira no seu baú do tempo para quando crescer lembrar-se dela com saudades!

                 – Daniel San viu no Chefe Jaguar um cavaleiro Britânico no tempo de Eduardo II e sendo saudado por todos que pertenciam ainda a Ordem das Jarreteiras. Daniel San nunca mais usou em reuniões, mas sempre ao chegar em casa com seu uniforme, colocava sua jarreteira e ficava olhando e lembrando de um passado que hoje não existe mais!