Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Conversa ao Pé do Fogo. Páginas da vida.



Conversa ao Pé do Fogo.
Páginas da vida.

O auto Retrato

No retrato que me faço,
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas,
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem,
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!


                      O poeta O S Marden escreveu um dia que quando na vida, uma porta se fecha para nós, há sempre outra que nos abre. Em geral, porém, olhamos com tanto pesar e ressentimento para a porta fechada, que não nos apercebemos da outra que se abriu. Acredito que todos nós temos uma porta. Muitos a mantém fechada outros não. Somos milhares de adultos no escotismo. Cada um interpreta a sua maneira como viver escoteiramente para ser feliz. Uns mais outros menos. Eu não tenho direitos de analisar ninguém. Nunca tive. Um dia também fechei a porta que sempre deveria ficar aberta como escoteiro. Tentei ao meu modo deixar que só aqueles e, que eu acreditava passassem pela porta para abraçá-los. Vi que com o passar dos anos sem perceber, alguns não quiseram passar por aquela porta. Significa que na vida deles eu não podia entrar ou receber.

                     Sempre quando celebramos datas especiais que falam do escotismo estamos vendo adultos e jovens enaltecendo o que se passa em seus corações. São palavras lindas e tenho certeza à maioria a tirou dentro de sua alma. Mas o escotismo é isto? Tudo é maravilhoso? Não existem portas fechadas? Portas que não se abrem? – Todos os dias vemos aqui e ali insatisfeitos. Por quê? Não se deram bem com os demais irmãos onde montaram barraca? Graças aos céus que temos condições de analisar o bom e o mau. Assim dizem. Seremos maus? Seremos bons? Difícil dizer. Onde está a verdade? Com aquele ou comigo? Temos amigos ele também tem. Um dia fizemos a mesma promessa, a Lei Escoteira nos foi apresentada e todos nas entrelinhas disseram um dia cumprir. – Deixe-me entrar em sua porta? Posso? Não? Você não me acha merecedor? E eu o que acho de você? Um incapaz? Alguém sem Espírito Escoteiro?  

                    Não são todos com as portas fechadas. Em muitos grupos escoteiros vemos no dia a dia o afastamento de um e outro. Tentou entrar em portas daqueles que considerou amigo e não conseguiu. Afastou-se. Foi para casa. Nem todos desistiram, abriram grupos, agora novas portas foram criadas. Agora todos serão bem vindos. Mas foi isto mesmo que aconteceu? Ali também os novos não se sentiram do lado de fora? Esperamos muito. Muito dos adultos. Nem perguntamos o que eles esperam de nós. Cada um tem sua maneira de agir, de pensar, de analisar e estamos deixando de lado um fato, um ato que esquecemos completamente. Ouvir. Ouvir sempre. Augusto Branco um sábio me mostrou em um lindo comentário o que seria saber ouvir: - Saber ouvir e saber calar: nisto consiste o supremo valor do silêncio. 
Ouvir, silenciar, pensar, falar, silenciar e pensar outra vez evitaria muita coisa dita em vão.
Por falar apenas e pouco pensar, pessoas cometem erros difíceis de reparar depois. 
E por ouvir tanto menos do que pensam, piores erros cometem ainda...


                      O escotismo se cercou de muitos que falam muito. Esqueceram-se de ouvir. Resolvem, tomam atitudes, decidem e até falam palavras que machucam assustando uns e afastando outros que muito teriam a contribuir. A cada mês, a cada ano as cisões nos grupos escoteiros fecham portas que não vão abrir a não ser para quem os donos das chaves acham que merecem. A cada temporada de novos grupos que surgiram sempre estarão ali os insatisfeitos, os que queriam entrar por uma porta e a encontraram trancada. Seria este o escotismo que queremos? É tão difícil compreender? Elogiar alguém mesmo que não o achamos merecedor? Norman V. Peale disse que o mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela critica. Verdade? Assim confirma Sigmund Freud que disse também – Contra os ataques é possível nos defendermos: contra o elogio não se pode fazer nada.

                  Precisamos mudar para acreditar em nós mesmos. Sei que é difícil. Um grande poeta Chico Anísio (risos, grande sim) sempre disse que palavras são palavras, mas outro que desconheço disse também – Agua mole em pedra dura tanto bate até que fura. Não custa nada, faça um elogio honesto e sincero e vais ver quantos amigos passaram pela sua porta para lhe abraçar e agradecer. Ou nos conscientizamos que somos irmãos escoteiros mesmo com nossas deficiências, ou então as portas do futuro estarão sempre fechadas para nós. E nem precisa lembrar Baden Powell com sua frase mais famosa – A verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros. Não sei, gosto de ver os outros sorrindo. Se os fiz feliz ou não fico na duvida. Mesmo que estejam rindo de mim, das minhas palavras, dos meus escritos me sinto feliz. Obrigado, entre, pois minha porta sempre estará aberta para você! 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Jogando conversa fora. O adolescente.




Jogando conversa fora são pequenos post, onde abro um pequeno comentário de determinado tema escoteiro visando uma discussão mais ampla. São quatro chefes que após o final da  reunião, tiram o uniforme e vão a uma pizzaria jogar conversas fora. Até agora fiz oito post. Semana passada publiquei aqui o primeiro agora o segundo. Este sobre o adolescente. Irei publicar um semanalmente, mas se alguém quiser receber todos façam o pedido em meu e-mail elioso@terra.com.br – e vão receber em PDF todos os oito. Lembre-se só no e-mail. Aqui não posso enviar.
Divirtam-se.

Conversa ao pé do fogo. Parte II
Jogando conversa fora. O adolescente.

                 Os quatro estavam calados. Bebericavam devagar o chope gelado no ponto e alguém comentou - Beber a grandes tragos extingue a sede; beber em pequenos goles prolonga o prazer da bebida. Matheus o garçom e proprietário trouxe duas pizzas. Uma de calabresa e outra de mozzarella. – Hoje cheguei à conclusão que preciso me atualizar mais – Por quê? – Tem horas que não consigo acompanhar o jovem. – Sabe o adolescente para mim sempre foi uma incógnita. – Dizem que chefes solteiros nada entendem deles. - Acho que concordo com você. – Me disseram que conseguimos mudar facilmente o comportamento do adolescente – Claro que sim, todas as transformações físicas que chegam com a adolescência provocam também alterações comportamentais. – Se prestarmos atenção aquele menino ou menina agressiva e menos dado a demonstrações de afeto podem mudar – Sabem, eu acredito que se no primeiro dia pudéssemos fazer uma visita aos pais, ver o que eles tem a dizer e se soubermos fazermos as perguntas certas seria meio caminho andado.

                   - Interessante, a cada idade ele apresenta uma faceta. Ele quer ser livre, ser independente e apesar de tudo se sente bloqueado. – Veja os seniores e as guias. Querem trabalhar e ter responsabilidades para decidir suas vidas. – Concordo. Tenho lobinhos que não se enturmam e outros que se enturmam demais. - Olhe eu posso dizer que sempre conversei com o jovem desde o seu primeiro dia objetivamente. - Não espero para ver e sentir o seu interesse, assim como seus problemas e aspirações. Procuro visitar seus pais, mas meu tempo nem sempre permite uma visita a todos. A confiança tem de ser sentida no primeiro dia. Deixá-lo à vontade e conversar informalmente é sempre uma forma de compreensão e amizade. – Beberam o ultimo gole e pediram outra rodada. As pizzas ainda estavam intactas, pois comeram pouco. Matheus era um cavalheiro. Respeitava aqueles quatro escoteiros e sabia que todos eles tinham dignidade, caráter e ética. Desde quando passaram a frequentar sua pizzaria reconheceu que o escotismo forma cidadãos honestos.

                - Mudando um pouco o assunto, sabe eu descobri qual o problema com a bebida. Enquanto vocês conversavam eu enchia o copo e pensava: - Se me acontece uma coisa boa eu bebia para comemorar. Se não eu bebia para ver se acontecia alguma coisa. Gargalhadas gerais. – Querem saber? Acho que tem muitos que passam a ser pais dos meninos e meninas no escotismo. Um erro enorme. – O que somos então? – Um líder carismático? Um irmão mais "Velho"? – Na alcatéia já me policiei muitas vezes – Quando você começa a gostar deles é impossível separar o papel de irmão mais velho, líder ou que seja lá o que for sem mostrar um amor de mãe ou de pai. – Tenho um que só reclama do pai. –
Chegou a dizer que eu é quem deveria ser seu pai. – E a noite se vai. Calmamente. Sabem? A noite é uma bebida, para longos e suaves goles...

                 - Pois é. Parece fácil nosso trabalho. Fácil? Risos. – Eu costumo realizar a cada três ou quatro meses uma reunião de pais. Já tentei dar a esta reunião uma conotação diferente. Tentei até fazer com eles grupos (evitei chamar Patrulha) de discussão. Dava o tema depois deixei que eles escolhessem o tema. No inicio valeu. Hoje não sei. A presença não é boa – Eu sei como é. Fazer os pais sentirem suas responsabilidades no Grupo Escoteiro não é fácil. – Agora eu pergunto a vocês, se o pai ou a mãe não participa o que podemos fazer para ajudar na formação dele? – Matheus! A saideira. – Já? – Onze da noite. - Mas vocês mesmo não disseram que a noite é uma criança para longos e suaves goles? – Acho que o caminho certo é discutir, aprender e ler tudo que acharmos do assunto. – Eu mesmo me assusto quando vou acampar e vejo que aquele Escoteiro ou aquela Escoteira não era o que pensava. – O acampamento é a maior escola para entender o adolescente.

                   Matheus trouxe a última rodada. – Vou dizer uma coisa a vocês, só devemos beber por gosto. Beber por desgosto é uma cretinice! Gargalhadas gerais de todos. – É isto mesmo. O primeiro dia é o mais importante para dizer a ele e saber o que espera de nós. – ouvir, ouvir e ouvir sempre. – Muitos fazem o contrário. Sempre dizem o que esperamos dele. – É nesta hora que uma Patrulha bem formada pode ajudar e muito. Se ele achar que foi bem recebido em um clima amigo e sincero, suas esperanças de concretizar seus sonhos quando resolveu entrar no escotismo é meio caminho andado. – Querem saber? Ah! Hoje não sei. Mas o chope estava “danadamente” gostoso – Isto mesmo acho que um pouco de calmante e um bom chope, pode me fazer esquecer os tombos que a vida resolveu me dar nestes últimos dias.

                  Agradeceram ao Matheus – Apareça lá no Grupo Matheus! – Quem dera quem dera. Sábado a tarde é meu dia mais trabalhoso, mas quem sabe um dia? – Conseguiram um taxi e racharam a conta. A Akelá foi de ônibus. A lua redonda que nem um queijo no céu brilhava com fulgor – A Akelá ao subir para o ônibus falou para si mesma – Não devemos nos achar maior que todos. O “maior exemplo é o sol se escondendo no horizonte para a lua brilhar”.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mudando de conversa onde foi que ficou...



Conversa ao pé do fogo.
Mudando de conversa onde foi que ficou...

¶ Mudando de conversa onde foi que ficou
   Aquela velha amizade...¶.

            Não tem dia que vamos para uma reunião com a mente longe de tudo? A cabeça pesa. Afinal não somos humanos? Uma discussão no lar, um fato mal entendido, uma dificuldade que existia e brotou logo neste dia. E olhe, não adianta dizer que somos alegres e sorrimos nas dificuldades. Nesta hora não dá. Humanos! Deveríamos ser super-homens ou super-mulheres. Afinal não dizem maravilhas do Chefe Escoteiro? E sabe o pior? Alguém da família diz – “Você esqueceu-se da gente, só se preocupa com estes escoteiros”. Duro não? Mas a obrigação é maior que a razão. Você vai, chega lá, um Escoteiro ou um lobinho te cumprimenta, dá um sorriso. Puxa vida! E agora José?

¶ Aquele papo furado todo fim de noite
Num bar do Leblon ¶.


             Não sei se você já passou por isto. Saida para uma atividade. Ônibus estacionado. Horário estourando. Muitos atrasados. Tralha para colocar no ônibus, mil coisas a fazer. Uma mãe atrás de você – Chefe! Cuidado com meu filho! Chefe e as cobras? Chefe não esqueça os remédios dele! Chefe me ligue qualquer coisa! – O ônibus parte. Mães chorosas dizendo adeus. Parece o fim do mundo. Mas eles não vão aprender a ser alguém? Mal você se acomoda no ônibus e alguém começa a chorar. Tão cedo? O que foi? Fulano me bateu! Você chega ao local da atividade. Tirar a tralha, preparar tudo, corre daqui corre dali, a Patrulha tal não se entende. Lá vai você orientar. Hora do almoço. Alguns reclamando fome. Um Monitor correndo para dizer que um Escoteiro estava com a mochila cheia de biscoitos e comendo! Sua cabeça está a mil. O programa? Pluft! Foi para as “cucuias”. E agora José?

¶ Meu Deus do céu, que tempo bom!
   Tanto chopp gelado, confissões à bessa ¶.

                Dificuldades! Ah! Elas não são para nós escoteiros um bálsamo? Não dizem isto? Não está no oitavo artigo da lei? Não são elas quem nos faz sentir ser alguém? Ter coisas para contar, Lembrar... Chegar ao campo. Ufa! Esquecemos alguma coisa na sede? Alguém se lembrou? A meteorologia garantiu tempo bom. Céu pedrento? Chuva ou vento? Nuvens baixas cor de cobre? É temporal que se descobre? Um temporal. Uma ou mais barracas são levadas com o vento. Não armaram direito. A água invade o campo. Escolheram mal. Mas não dizem que se aprende a fazer fazendo? Agora não é hora de reclamar. E aí? Conseguiram cobrir o lenheiro? Putz! Lenha molhada. A chuva passou. Se tiver vento e depois água deixe andar que não faz mágoa. Mas olhe, cuidado, se tens água e depois vento, põe-te em guarda, e toma tento! E agora José?

¶ Meu Deus, quem diria que isso ia se acabar,
   E acabava em samba...¶.

              Segunda feira “braba”. Ir trabalhar. Corpo doido. Acampamento gostoso. Gostoso? Com chuva e vento? Vontade de ficar na cama. Ligar dizendo que não vou. Mas fazer o que? É melhor cantar. Não dizem que quem canta seus males espanta? Responsabilidade! Ah! Tenho que ter e dar exemplo. E a grana está curta. O dia não anda. Dizem que toda segunda feira é assim. Hoje vou tentar pensar pouco no escotismo. Você promete a si mesmo. Alguém pergunta – Como foi o acampamento? Você sorri azedo. Fala algumas palavras. O telefone toca – Chefe, meu filho está tossindo. Pegou chuva no acampamento? E ai você se pergunta – Quem precisa do escotismo, você ou ela? Mas você é e será sempre o responsável. Afinal não disseram que o Chefe é Doutor? Pluft! E agora José?  

¶ Que é a melhor maneira de se conversar,
   Mas tudo mudou, eu sinto tanta pena de não ser a mesma ¶.

                       Escotismo. Ah! Escotismo. Outro dia me chamaram de não sei o que. Não liguei. Não ligo mais. Um amigo me disse o seguinte: Olha, faça seu jogo, com poucos e com certeza, só terás alegria e não tristezas. Será? Poucos? Disseram-me que somos poucos. Tem hora que dou risadas. Ainda lembro quando me convidaram. Venha nos ajudar, é só duas ou três horas por semana. Gozado isto. Duas ou três horas? E as reuniões com chefes no grupo? E a Corte de Honra? E os conselhos de tropa e de primos? E a reunião do distrito? E a reunião com os pais? E as horas passadas em atividades ao ar livre? E os telefonemas na semana? E os e-mails? Puxa vida! Duas ou três horas? E quanto estou ganhando com isto? Nem bônus hora recebo. Se não tomar cuidado meu emprego vai para o “beleleu”. Risos. E agora José?

¶ Perdi a vontade de tomar meu chopp, de escrever meu samba,
   Me perdi de mim, não achei nada ¶.

                     Mas quer saber? Eu gosto do “danado” do escotismo. Adoro! Me sinto bem. Gosto do meu uniforme. Dos meus amigos. A turminha me enturma. Gosto de falar dele. De estar com alguém dele. De saber das novidades. Do Choro dos pais. Da alegria dos meninos. De um ônibus lotado e todos cantando o Rataplã. De ver na volta todos dormindo. Ar de cansado, dever cumprido. Aquele sono reparador. Ver todos partirem com seus pais ao retornar a sede. Passar a chave na porta e dizer: - Minha amiga até a próxima reunião! Isto não é bom? Dever cumprido mesmo? Ah! Escotismo! Tem igual? Existe outro? E agora José?

¶ O que vou fazer?
    Mas eu queria tanto, precisava mesmo abraçar você.
    De dizer às coisas que se acumularam,
    Que estão se perdendo sem explicação,
    E sem mais razão e sem mais porque,
    Mudando de conversa onde foi que ficou
    Aquela velha amizade¶...
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“Mudando de Conversa, é uma musica dos anos 60, de Mauricio Tapajós e Hermínio Belo de Carvalho. Magnificamente interpretada por Doris Monteiro”.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Orgulho de ser Escoteiro. Eu prometo, pela minha honra!



Um jovem escoteiro um dia me contou como foi sua promessa no dia do escoteiro. Emocionante.

Orgulho de ser Escoteiro.
Eu prometo, pela minha honra!

           Que semana meu Deus! Minha cabeça a mil. Sonhava com o próximo sábado e ao mesmo tempo meu corpo tremia. De medo? Claro que não. O Chefe tinha dito que nós escoteiros não temos medo. Mas sinceramente? Eu tinha sim. Seria um dia que ficaria marcado na minha vida para sempre. Afinal era o dia da minha Promessa Escoteira. Flavio me disse que eu estava pronto. Flavio é meu monitor. Disse que a Corte de Honra aprovou. O Chefe Gildo me chamou na reunião e disse – Sábado que vem você fará sua promessa. Acha que está pronto? Fiquei em duvida na hora. Sim Chefe. Eu estou pronto. Você conhece a Lei dos Escoteiros? Conheço Chefe, ainda não sei de cor, mas prometo que no sábado o Senhor pode perguntar. Direi todos os artigos.

           Passei a semana lendo, decorando, pensando e amando o que eu estava fazendo. Amava mesmo o escotismo. Na sexta fui para a pracinha do meu bairro. Ela era meu recanto favorito. Lá eu pensava em mim, na minha mãe, no meu pai e na minha Irmã Constance. Era o meu refugio. Agora estava voltando ao passado. Quatro meses antes. Eu os vi passando na minha rua. Fui atrás. Vi onde se reuniam. Adorei. Amei. Tinha de ser mais um. Minha mãe demorou a dizer sim. Meu pai trabalhava longe. O Chefe entendeu. Fui apresentado. Flavio me apresentou a Patrulha Leão. Todos me deram a mão esquerda. Não sabia o que era, mas nunca mais esqueci este dia.
     
           Não parava de dizer na minha mente, não podia esquecer agora e nunca mais. “Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para...”, e a Lei? Difícil. Muito difícil para entender tudo, mas eu consegui. Saber que tinha de ser leal, ter uma só palavra, ser amigo de todos, irmão dos demais, ser puro nos meus pensamentos. Que lei! Mas ia prometer que faria tudo para obedecê-la. Meu uniforme estava pronto. Não sei quantas vezes o vesti ali no quarto e me olhava no espelho. Gostava do que via. Estava perfeito! Seria um orgulho de mim mesmo!

           O sábado chegou. Tomei um banho pensando. Era meu dia. O mais lindo dia da minha vida. No meu quarto coloquei peça por peça. Bem passado. Meu chapéu perfeito! Ensinaram-me as dobras do meião. Era a primeira vez. Na tropa só podíamos vestir o uniforme a partir da promessa. Lá fui eu rumo à sede. Assoviava baixinho. “De BP trago o espírito, sempre na mente!” Adorava esta canção. A turma estava lá, patrulhas em seus cantos. Sempre Alerta meus irmãos! Abraços. Era assim nossa Patrulha. O apito do Chefe. Bandeira! Ferradura! As bandeiras tremularam ao vento! Subiram aos céus dos escoteiros! Uma oração. Eu a fiz. Meus olhos cheios de lágrimas.

            Chefe! Tenho um patrulheiro para a promessa! Traga-o Marcio. Lá fui eu a frente com o Marcio. – Marley! Você está preparado? Sim Chefe! Meu corpo tremia. – Sabe a lei Escoteira e entende o seu significado? Sim Chefe, e sem ele esperar falei uma por uma. Todos assustaram. Nunca ninguém disse assim. A tropa Escoteira está de acordo com a promessa do Marley? Todos gritaram sim. Levante a mão direita, faça a meia saudação e repita comigo. Interrompi o Chefe. Poderia eu dizê-la sozinho por completo Chefe? Claro. – Estava ali, orgulhoso e agora não mais tremia – “Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para: - Cumprir o meu Dever para com Deus e minha pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro”!

              Que dia meu Deus! Incrível! Meu lenço foi colocado, meu querido distinto de promessa que seria meu para sempre! Um certificado que mandei encadernar. Agora era um Escoteiro. Orgulhoso! Para sempre teria aquele dia na memória. O grito de Patrulha foi dado, abracei a todos com carinho, a tropa deu o Anrê. Que tarde linda, que beleza de vida! Como eu era feliz! Ser Escoteiro para sempre eu dizia para mim. Minha mãe apareceu, não sabia. A Mana também. Choravam de emoção.
Dizer mais o que? Foi o meu dia, um dia que jamais em toda minha vida esquecerei! Orgulho de ser Escoteiro! Claro, para sempre!             

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Katixilda, a Cascavel encantada do Vale dos Sinos.



Lendas escoteiras.
Katixilda, a Cascavel encantada do Vale dos Sinos.

                         Eu sei de muitos escoteiros que tem medo de cobras. E que medo. É uma preocupação dos pais. Eles dizem: - Mas lá não tem cobras? Cobras, cobras, quantas já vi. Aprendi a conhecer uma bela Cascavel (é linda!), adorava quando via uma bela Surucucu negra, ou uma Urutu. E as Jararacas? Tantas diferentes. Cada uma mais espetacular que a outra. Custei a aprender a identificar uma coral venenosa de outra que não era. Só fui ver pessoalmente uma Sucuri com onze anos. Linda! Enorme. Meu pai contava que uma noite na revolução de trinta a tropa parou para descansar. Sentaram em um enorme tronco. O tronco começou a mexer e andar. Assustados levantaram. Uma enorme Sucuri. Ele ria quando contava, afinal éramos no regimento mais de quarenta soldados e todos sentados no “tronco”. Este meu pai era um pandego.

                        Sempre foi uma preocupação. Eu nunca me preocupei. Quantas vezes acampei na minha vida? Centenas e centenas de vezes. Quantas cobras mordeu alguém neste período? Nenhuma. Nunca ouvi falar de um Escoteiro mordido por cobra. Aprendi que basta conversar normalmente, andar no mato sem medo, fazendo barulho, um bom fogo à noite e as cobras desaparecem. Elas é que tem medo da gente. Só atacam se sentirem hostilizadas ou ameaçadas. Mas poucos acreditam nisto. E por falar a verdade se matei duas ou três cobras foi muito. Ouve uma época em uma fazenda que as casas de cupins proliferavam. Um trator de esteira limpava, mas ficava os buracos. Lá sempre uma Cascavel. O gado não tem medo e assim uma vez ou outra morria um deles picado por elas. Resolvi então ser um “Caçador de cobras”. Fazia um pequeno fogo no buraco, elas saiam sorrateiras e eu as laçava com uma vara grande com um cabo amarrado. Toda semana mandava umas duas para o Instituto Butantã. Ele nos mandava as caixas de madeira própria para isto. Sem despesas.

                     Mas chega de “galengas” e vamos ao ponto. Vamos à história. Aconteceu as margens do Rio Parecis. Acampamos lá por três noites. O Senhor Nicodemos proprietário das terras deu permissão e nos alertou das cobras. Eram muitas, deveríamos tomar cuidado. Acampamos bem próximo ao Vale dos Sinos. Espetacular! Bambus de todos os tipos. Quedas d’água formando piscinas naturais. Uma floresta enorme, quase intocada. Um lago enorme, não deu para ver o seu tamanho. Era para mim o melhor local de acampamento que tinha visto. Eu estava com meus dezesseis anos. No primeiro dia ficamos por conta da preparação do campo. Um programa que discutimos na sede dizia que devíamos construir um pórtico, diferente, para ser feito no próximo Acampamento Distrital de Patrulhas. Soubemos que haveria uma competição e o melhor pórtico receberia um prêmio.

                    No segundo dia fui até um local descampado para ver se achava “Barro Branco”. Um barro especial muito bom para cobrir construções, fazer paredes, colocar nas panelas para ficar fácil à limpeza, construir fogões, fornos tantas coisas que nem lembro mais tantas que fiz. Logo ouvi o barulho conhecido. O chocalho de uma cascavel. Melhor voltar. Sabia que era um aviso e quem avisa amigo é. Dei meia volta quando ouvi uma voz rouca e baixa. – Pode falar comigo? – E agora? Quem seria? Procurei e não vi nada. Logo ela apareceu. Era uma linda Cascavel. Seu chocalho era maravilhoso. Mas “diabos” Cascavel fala? Não fala. É um animal peçonhento que ninguém gosta. Eu não tinha nada contra. Parei e olhei para ela. Ela levantou a cabeça e depois metade do corpo. – Fale, eu disse. Mas longe de mim! – Calma ela disse. Não vou morder você. Não posso mais. Não tenho mais veneno. Não sei o que está havendo. Todas as cobras do Vale do Sino perderam suas condições de produzir o veneno que precisam para sobreviver.

                      Caramba! E agora? Uma cobra que fala? Estou maluco? – Ela continuou – Iremos fazer uma reunião hoje na Pedra do Sapo Morto. Todas as cobras estarão lá. Eu queria convidar você. Quem sabe pode ajudar? – Eu ajudar Dona Cobra? - Claro que sim ela disse. Mas me chame de Katixilda. É meu nome de batismo. – Boa esta pensei. Cobras batizadas. Devia estar sonhando. Mas recusar? Nuca. Convite feito convite aceito. Ela me pediu para ir só. Às quatro da tarde daquele dia. – Dito e feito disse ao Monitor que ia a uma reunião de cobras. Ele riu a valer. Sabia onde era a Pedra do Sapo Morto. Lá fui eu no horário marcado. Na porta encontrei com a Katixilda. Centenas de cobras espalhadas. Jiboias, urutus, cascavéis, corais de todo tipo, jararacas, e interessante, lá estava uma Cobra Marrom que não existe por aqui, sem esquecer duas dezenas de Píton. 

                     Ninguém olhou para mim. Olhavam divertidos para uma cobra Surucucu, mais de três metros, muito velha e gorda, que contava piadas. Piadas? Isto mesmo ela ria e dizia – O cara era gordão. Resolveu fazer suas necessidades perto do meu barraco. Quando abaixou dei duas dentadas no seu gordo trazeiro. Precisavam o ver gritando – Meu Deus! Minha Nossa Senhora! Vou morrer! Ajudai-me todos os demônios. Mal sabia ele que não tinha veneno. – E lá na igreja do povoado? Foi em um domingo. O padre celebrava a missa e entrei na igreja. Afinal não posso rezar também? Devagar fui me aproximando do altar, quando ele me viu berrou alto – Cobra! O capeta na igreja! Corram meus amigos, salvem-se quem puder. Eu também corri. Sabia que um valente iria aparecer para me matar. E ela a Surucucu rolava de rir. Uma enorme Píton Amarela assumiu a presidência. Deu a palavra franca. Discutiram muito. Como achar o veneno? Onde ele foi parar?

                     Entrei na conversa – Onde bebem água? No lago disseram. Pois é lá que estão perdendo o veneno. Deve ser a quantidade de sapos que moram lá. Deixam sua gosma na beirada da lagoa e vocês bebendo engolem a gosma deles. Passem a beber só no riacho. – Uma salva de palmas. Palmas? Elas batiam o rabo nas pedras para fazer barulho. Precisavam ver o barulho de dezenas de Cascavéis batendo o chocalho. Dona Píton veio até onde eu estava e agradeceu. Agora podemos voltar ao que éramos. Muito obrigado escoteiro. – De nada respondi. Faço sempre uma boa ação e ajudar as cobras era uma obrigação. Ri do que disse. Mas ali me tornei amigo delas. Prometeram-me nunca morder um escoteiro. Confiei na palavra delas. Voltei para o acampamento. Catixilda sorria e me acompanhou. Pediu para me dar um beijo. Abaixei e ela passou a língua no meu rosto. Sumiu depois na ravina do pescador.

                    Quando conto esta história ninguém acredita. Fazer o que? Se não acreditam num escoteiro sênior irão acreditar em quem? Tudo bem, pelo menos fiquei amigo das cobras. Sempre quando ia acampar tirava um tempinho para jogar conversa fora com elas. Dizem que somos amigos dos animais e das plantas. Cobra não se enquadra? Que seja. Eu nunca mais matei nenhuma. Se precisassem de mim, podia contar. Só neguei quando uma Cascavel enorme queria saber onde era o Instituto Butantã. Queria ir lá com mais uma centena de cobras para soltar todas que estavam presas lá. “Necas” eu disse. Ela não ficou com raiva e sempre querendo me dar um beijo. Quantos beijos de cobras eu ganhei? Não sei e não quero saber. A gente não escolhe os amigos. Eles aparecem e as cobras? Claro são minhas amigas e eu adoro elas! Risos.                   

domingo, 21 de abril de 2013

Meu mundo, meu sonho.




Maria Luíza Corsi Cassiani é Guia. Trás no sorriso todo seu amor ao escotismo. É paulista de Pedreira, mas morando hoje Americana/SP. Logo será uma pioneira. É uma Escoteira de corpo e alma, acredito que a Lei e a Promessa ficarão gravadas para sempre em seu coração. Difícil dizer quanto tempo ficará no movimento. A impressão é de que vai ser para sempre. Escreveu uma história, melhor um sonho. Muito bom. Nele expressa seu interior e o que pensa do futuro. Convido a todos a lerem o Mundo e o Sonho de Maria Luiza. Vale a pena. Sejam bem vindos.

Chefe Osvaldo  


Meu mundo, meu sonho.

                             Estudos, sonhos, promessas, metas, mudanças, realizações, palavras que não saem da minha cabeça desde que comecei a planejar meu futuro e decidi qual seria minha carreira profissional. Pensar no futuro fica difícil quando ele se torna mais próximo, e me lembro com facilidade quando eu jurei que isso demoraria muito para chegar.

                            O mundo que eu sempre sonhei pode se tornar real, só falta um pouco mais de tempo e logo eu o farei existir. Um mundo em que eu pudesse observar pessoas trabalhando com seriedade, onde inexistisse a corrupção, se enxergasse a inocência das crianças nas brincadeiras de rua, no qual os mais novos aprendessem com os mais experientes. Se soubesse conviver em harmonia mesmo com extremas diferenças e a ética fosse o mais sábio principio valorizado pelos habitantes deste mundo tão sonhado por mim.

                             Quando me deparei com a juventude, percebi que eu podia começar a transformar o mundo com mudanças simples até que eu conseguisse chegar aonde eu queria. Foi aí que entrei no movimento escoteiro. No escotismo, eu aprendi valores que contribuíram muito para minha formação pessoal e, principalmente, à minha honra. Aprendi como dar audácia à minha palavra, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião, conviver em ambientes naturais onde, muitas vezes, só tive o básico para viver, dar meu melhor possível em todos os meus deveres, ter disciplina e o fundamental: virei um exemplo nos ambientes que convivia. Cada acampamento lava minha alma, compõe um milhão de histórias, deixa cicatrizes no corpo inteiro e cria amizades para toda a vida. Esses amigos são também minha segunda família, pessoas que nunca me abandonam. O escotismo é uma escola pra vida.

                           Melhor que lições de vida para eu poder seguir a trilha rumo ao meu mundo sonhado, é ter apoio. Meus pais me apoiam muito nos estudos, no meu estilo de viver e sempre me apontam o melhor caminho a ser seguido. Em busca de ajudar o próximo, dei início a outro trabalho voluntário, dessa vez, auxiliando meu pai na criação da Fanfarra da APAE, com 60 alunos e profissionais participantes. Todas as sextas feiras, meu pai e eu compartilhávamos os ensinamentos para aqueles seres iluminados, os quais mudaram a minha vida, me permitiram ser uma pessoa ainda mais sentimental. Fizeram-me ver a vida ainda mais linda quando eu enxergava os pequenos detalhes que me rodeavam, e me ensinaram que quando a gente ajuda alguém sem esperar recompensas, a gente sempre recebe algo em troca.                     Eu ajudei meu pai a criar a fanfarra e recebi o carinho de cada aluno. Uns demonstravam mais, outros nem tanto, mas cada um me conquistou de um jeito, e ganharam minha total admiração, porque sempre foram muito empenhados mesmo com suas dificuldades.

                             Através de muito esforço, em árduos sete meses de ensaio, a Fanfarra da APAE, sendo formada pelos excepcionais da instituição, abrilhantou a avenida no desfile cívico de aniversário da minha querida cidade natal e, no ano seguinte. A Fanfarra foi premiada no livro Pela Arte se Inclui do Ministério da Cultura do Estado de São Paulo, como uma das 20 melhores iniciativas do Estado voltada para pessoas com deficiência. Um ápice de orgulho ver que a minha existência começava a ser útil.

                             Neste mesmo ano, decidi fazer um curso técnico que me abriria novos caminhos na minha carreira. O curso fica em um município há aproximadamente 75 km de minha cidade natal. Ele se tornou a maior meta para o ano. Saí de casa aos 15 anos para fazer o curso de um ano e meio, e concluir também os últimos anos do ensino médio. Morando com uma senhora que eu conheci no dia que eu fui fazer o “Vestibulinho”, estou concluindo o terceiro ano do ensino médio e o último semestre de Técnico em Serviços Jurídicos.

                               Estar longe da minha família e dos meus amigos, não ter o conforto e a liberdade de estar na minha casa é muito difícil, porque sempre fui muito apegada à união familiar e valorizo muito minhas amizades, porém a experiência que eu adquiri durante este ultimo ano foi algo importante precioso para mim. Convivo com gente que me trata com um carinho especial, de tal maneira que se estabeleceu uma ligação que jamais será rompida, pois está sendo uma fase que cheia de fatos que me ensinaram muito.

                            Hoje eu sei que meu esforço me traz muitos resultados, e quando penso em um mundo melhor, logo me imagino formada em Direito e seguindo carreira como juíza. Lutando pelo mundo com justiça, de tal modo que eu possa ser exemplo para os jovens que se empenham por um futuro melhor.