Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 22 de junho de 2013

Quando termina a motivação o que fazer?


Hoje li aqui que um companheiro que não tive a honra de conhecer pessoalmente está saído do movimento Escoteiro. Não deu suas razões. Pode ser que sejam legitimas e devemos aplaudir. Mas temos muitos que nos deixam por sentirem-se desprestigiados. Por não serem valorizados. Tantos os motivos que não vou alongar.
Ao amigo virtual que nos deixa dedico este artigo. A ele desejo tudo de bom que mesmo não participando que a felicidade seja sua companheira sempre.
Meu abraço fraterno.

Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação o que fazer?

                    É difícil aconselhar. Quem não passou por isto? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Se procurarmos um serviço de autoajuda teremos vários. As belas frases de efeito pululam por todos os lados. Todas com belas palavras, mas que não nos fazem sentir revigorados como antes. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca de novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados que não foram catequisados espantam com tanto carisma, com tanta alegria e demonstração de que ele alcançou um novo patamar, uma nova vida. Agora sou feliz ele pensa. Será mesmo?

                  Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Mas o maior poeta já tinha dito que tudo isto são palavras e palavras nada mais são que palavras. Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os problemas são diversos. Familiar, profissional, falta de ética, de amor, tratamento diferenciado, de sinceridade dos que se dizem irmãos de uniforme e de sangue e tantos sorrindo para você e você querendo chorar. Sabe da vontade de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre uma explicação para tudo. Mas será que dizem a verdade?

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira ela é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões que sabe podemos chegar a aproximadamente quinhentas horas anuais. Claro, prevendo quatro atividades (e aí considerei às de vinte horas do dia) e considerando também nove meses de atividade, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas trabalhadas. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Olhem, existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Querer abancar o mundo e dizer que o líder é aquele que sabe liderar e ser liderar é fácil. Mas nem todos pensam assim. Tem os déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora mesmo vindo de alguém que se diz amigo de todos e irmãos dos demais.

                Nestas horas é que todos nós sentimos falta de um aperto de mão carinhoso sincero. Que falta que faz um abraço, um sorriso uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivemos em ambiente que achamos familiar no grupo Escoteiro. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas não é assim a maioria. Estes nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada! Lembrem-se da promessa! Para ser como eu tem que “ralar”. E então vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Nem sempre fazemos na hora. A promessa que fizemos é um nó que nos atou nos sonhos escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros, estes não conseguem. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram considerados eternos desconhecidos.

                   Não é o programa somente que nos afeta. Não são quem sabe nossa finanças que apertam a cada atividade, a cada taxa cobrada seja em cursos e tem alguns que pagam mensalidades. Pode! Está ali ajudando e paga para ajudar. Não sei e até posso estar enganado, mas se todos que labutam nas lides escoteiras, do mais alto escalão a aquele que está dando tudo de si pudessem mudar tentar um pouco ser mais irmão, não pensar em si próprio e dizer ao seu amigo ou não:

- Que alegria em te ver novamente!
- Aceite um forte aperto de mão sincero!
- Posso te dar um abraço?
- Quero que saiba que você é muito importante para nós, não nos deixe nunca, pois sem você iremos perder muito na expansão do nosso Movimento Escoteiro.

                     E aí quem sabe, seu desânimo seria guardado lá bem no fundo do bornal, pois você passou a acreditar que agora estava vivendo entre irmãos escoteiros. E você iria acreditar que não haveria mais os superiores, não haveria mais aquele sorriso de desdém, não haveria mais a conversa de esquina, a conversa de comadre. Ninguém iria desmerecer seu trabalho. Mas olhe, de vez em quando é bom dar um passo a frente. Faça um pouco a sua parte. Como dizia o nosso fundador e repetido por muitos, a felicidade só é completa quando você também conseguir fazer a felicidade dos outros!

¶Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri, sorri e sorri,
O que importa é vencer o mal, mantem sua alegria,
Não importa você se zangar, pois o mal há de acabar e então!

Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri, sorri e sorri.¶.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

“Boas ações dignificam o caráter!”



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
“Boas ações dignificam o caráter!”

               Paulo Coelho acertou em cheio ao definir a ajuda ao próximo como ajudar a si mesmo. Diz ele – “Cuidado com as palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com as suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com os seus atos: eles moldam seu caráter. Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino”. Acredito que tudo começa pela boa ação. Um poeta dizia que as causas não determinam o caráter da pessoa, mas apenas a manifestação desse caráter, ou seja, as ações. É isso mesmo. Tudo na vida se diz que é um hábito de comportamento. Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião nos mostra que devemos ajudar e ser bons para os outros. Baden Powell foi firme ao dizer que o dever de um Escoteiro é ser útil e ajudar o próximo. Simples assim. Acredito que ele se baseou na figura de São Jorge e dos Cavaleiros Medievais. Eles diziam que era preferível morrer honesto do que viver envergonhado e que o cavalheirismo requer que o jovem seja treinado para que possa realizar serviços complexos ou simples com alegria e bondade, e para ao bem do próximo. (vide café mateiro – blog).

                Desde os primórdios que o escotismo foi implantado no Brasil que a boa ação é sinal de escoteiros estão em atividades. Especificar o que as escrituras dizem sobre isto é alongar muito. Mas até hoje a ajuda ao próximo é considerada como condição importante para qualquer cidadão honesto. O Escoteiro aprende desde o primeiro dia que a sua boa ação diária irá fazer parte por toda a sua vida. Afinal um dos artigos da nossa Lei diz que o Escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica todos os dias uma boa ação. A boa ação acho eu ainda é um marketing que nos marca na comunidade. A história da velhinha atravessando a rua ajudada por escoteiros tem e terá suas versões ampliadas ainda por muito tempo. Eu não duvido e tenho certeza que os escoteiros de todo o mundo inclusive em nosso país fazem da boa ação uma obrigação se não diária quem sabe semanal. Acredito também que a maioria das tropas devem ter bons programas para incentivar este habito tão salutar.

                  Lembro quando Escoteiro nossa MOEDA DA BOA AÇÂO era sagrada. Bolso esquerdo sem fazer. Bolso direito feita. E o NÓ NO LENÇO? Pontinha com nó sem fazer, pontinha sem nó feita. Mas não era só isto. Tínhamos uma bandeirola que ficava abaixo do totem. Se chamava “BOA AÇÃO“. Quando a Patrulha ainda não tinha feito sua boa ação coletiva, a bandeirola era amarrada ao bastão de cabeça para baixo. Para cima sinal que tínhamos feito. Nas inspeções diárias no inicio da reunião era escolhido um Escoteiro aleatoriamente para contar sua boa ação do dia. Aplausos silenciosos para as boas ações “mixurucas”. No nosso programa anual da tropa constava sempre uma boa ação dela. Discutíamos em Patrulha o que fazer. A Corte de Honra definia o que. Ir a uma casa de menores abandonados, limpar a área, brincar com as crianças fazendo jogos que conhecíamos (separávamos também em Patrulha os meninos) e tinha outra coisas que adorávamos. Ver nosso parque da cidade em perfeito estado. Sim, tínhamos adotado um parque. Ali tinha nossa placa. Parque Tropa Escoteira Cruzeiro do Sul.  Foi uma época que nunca esqueci. Lembro do “Troféu Boa ação!”. Uma bandeirola de couro verde escrito a fogo – Primeiro Lugar em boas ações. Que orgulho colocá-la no bastão da patrulha.

                 Sei que eram outros tempos e agora nesta época vertiginosa da modernidade, onde a juventude talvez nem pense nestas coisas, quem sabe poderá surgir alguma boa ação virtual. Não sei. Não sou bom nisto. Não sei como fazer boa ação teclando aqui. Mas deve ter chefes ou dirigentes que podem sem sombra de dúvida colocar nas etapas escoteiras a BOA AÇÃO VIRTUAL. Eles não inventam tantas coisas? Vivendo e aprendendo. Claro que acredito e sem sombra de duvida na formação e no aprendizado Escoteiro que é feito lá na tropa, e também acredito que deve ser uma obrigação nossa fazer com que os escoteiros, escoteiras, seniores e guia sejam iniciados neste arte tão salutar. Só assim isto poderá vir a ser um hábito de comportamento, tão útil para formar homens e mulheres no que esperamos deles. Honra, caráter, ética e ajuda ao próximo. Afinal ajudar os outros faz parte da lei, faz parte da nossa formação escoteira e isto é insubstituível. Já diziam os poetas que “Aquilo que você faz, fala mais alto do que aquilo que você diz”. O que você plantar hoje certamente colherá amanhã. Já um disse um sábio: “Plante uma ação e você colherá um hábito. Cultive o hábito e você desenvolverá um caráter!”. E não esqueça, qualquer mudança nos seus escoteiros depende de você. Se der o exemplo então você vai fazer a diferença. Ficar naquela máxima de façam o que eu digo e não façam o que eu faço não é próprio e digno de um Chefe Escoteiro.


                     Boas ações. Sim, não duvidem. Sem elas não existe escotismo. Afinal não são elas que todos dizem que dignificam o caráter? 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.



Lendas escoteiras.
Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.

                      Joyce sentiu quando o grilo pousou em seu ombro. Lobinha amiga dos animais plantas e insetos ela olhou de lado e sorriu. Já tinha visto muitos grilos. Gostava de ver os saltos que eles davam. Como inseto ela achava que eles eram um dos maiores existentes no Brasil. Ela sabia que nem todos possuíam asas, mas tinham os melhores órgãos auditivos para perceber os sons produzidos pelas suas próprias asas. – O que vocês vieram fazer aqui? Perguntou o Grito. Joyce riu. Um grilo falante? - Você fala? Disse ela. – O grilo olhou para ela indignado – Claro, ou você acha que eu estou latindo? – Não precisa ser mal educado seu grilo – Me chame de Pikitito. Este é meu nome que meus pais me deram quando nasci. – Mas me diga o que ele e o outro estão medindo com uma trena? – Vamos fazer aqui um grande acampamento de Escoteiros. Serão mais de mil, ela disse – Nem pensar! Não podem. Neste capinzal está nossa cidade, ou melhor, nossa capital. Grilolândia está aqui a mais de mil anos. Não podem destruir nossa cidade.

                       - Veja você continuou o grilo, ou melhor, Pikitito. – Aqui neste pastinho temos nosso alimento. Se vier a noite aqui vai nos encontrar almoçando e jantando. Aqui temos plantas, cereais, fungos, tecidos de lã e restos de outros insetos. – Se acamparem aqui irão destruir nossa cidade – Olhe seu Pikitito não estou duvidando, mas meu tio é um cara chato. Chato mesmo. Quando põe na cabeça um plano difícil desfazer dele. Sabe como ela se chama? João Cabeçudo. – Você diga a ele que se não desistir vamos chamar os grilos de todo o mundo. Serão milhões, pois cada grilo femea não sei se sabe coloca mais de 100 ovos por mês. – Quer conhecer nossa cidade? Quero sim disse Joyce. O grilo disse, põe o dedo nas minhas asas e repita comigo – Pic, pok, kilo, vou para a cidade dos grilos! Mas fale o mais alto que puder. Joyce não se vez de rogada. – Depois de gritar as palavras mágicas ela ficou pequenina do tamanho do grilo, ou melhor, Pikitito.

                          A cidade era linda. Praças, chafariz, prédios enormes, escolas, universidades tinha tudo da cidade dos homens. – Nem tudo disse Pikitito. Aqui temos a paz e vocês não tem. Não precisamos de policia, nem de exércitos. Somos todos irmãos. Não é assim que dizem vocês Escoteiros? – Joyce estava entusiasmada com tudo que via. Foi apresentada ao Mestre Catuaba, que fazia às vezes de prefeito e juiz. Ao Doutor Magnésio que curava todas as dores dos grilos. E a maior surpresa. Visitou o Grupo Escoteiro Grilo Feliz. Tudo que nós fazíamos eles faziam também. Só que melhor. Uma disciplina incrível. As patrulhas completas, os uniformes bem postados, fomos até próximo da Lagoa dos Mares onde estava acampando duas tropas uma masculina e uma feminina. Próximo em uma fazenda lobinhos grilos se divertiam felizes.

                            - Me leve de volta, pediu. Meu tio tem de entender. Ok! Repita de novo - Pic, pok, poney vou para a cidade dos homens! Joyce voltou ao tamanho normal. Falou com seu tio que deu risadas – Joyce, lugar de sonhar é na cama. Aqui não. Cidade dos grilos? Só você para contar esta piada. – Tio, se não desistir do Ajuri Escoteiro aqui eles irão chamar todos os grilos do Brasil e comerão tudo que encontrem pela frente. Irão destruir todo o acampamento – João Cabeçudo morria de rir. Sua sobrinha tinha uma mente fértil. – Joyce pegou na mão dele. Tio me faça um favor. Só um e não falo mais nada – Diga comigo junto – Pic, pok, Kilo!  - está bem ele disse. E gritou alto o que ela pedia. Sentiu uma pressão no corpo. Estava diminuindo. Vários grilos o carregaram até uma pedra enorme que havia no meio do lago. Milhares de grilos estava lá. Quando o levaram ele levou o maior susto. Viu embaixo uma grande cidade onde iriam acampar.

                                 Mestre Catuaba e Doutor Magnésio presidiam um júri e ao lado vinte grilos que seriam os jurados. Mestre Catuaba explicou a ele que seria julgado e se culpado e devorado pelos grilos. João Cabeçudo não acreditava no que via. Começou a gritar – A grilaiada ria de morrer. Lá grandão era valente aqui um chorão. – Leve-o Joyce, disse Doutor Magnésio. Ele aprendeu a lição. Pic, pok, poney e eles voltaram. João Cabeçudo quando viu que voltaram pulou de alegria. Chamou seu amigo Chefe e disse que deveriam escolher outro lugar – Mas não tem terreno limpo como aqui – João Cabeçudo riu e disse – Não se preocupe. Fiz novos amigos. Eles me prometeram me ajudar para limpar a área escolhida.

                                Todos os sábados Pikitito o Grilo Feliz visita Joyce na reunião da Alcateia. Os lobos aprenderam a gostar dele. Foi uma amizade que durou muitos anos. João Cabeçudo aprendeu uma lição. Respeitar os direitos dos outros mesmo que estes outros sejam insetos. E assim termina a história.

NO FINAL

Entrou por uma porta
Saiu pela outra
Quem quiser que conte outra
Entrou por uma porta
Saiu pela outra
Mande El rei, meu senhor
Que me conte outra.
Entrou pelo pé de um pinto
Saiu pelo pé de um pato
Mande El rei, meu senhor
Que conte quatro.
Minha história acabou
Um rato passou
Quem o pegar
Poderá sua pele aproveitar.
E assim terminou a história...

Silvia Bortolin Borges

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Parábola da Televisão, Internet, Celular e o Acampamento. A lição de Olhos Azuis Profundos!



Parábola da Televisão, Internet, Celular e o Acampamento.
A lição de Olhos Azuis Profundos!

                    Olhos Azuis Profundos chegou a sua casa aborrecida. Todos os dias a rotina era a mesma. Escola, amigas, casa, TV, internet e seu inseparável celular que lhe fazia companhia vinte e quatro horas por dia. Queria mudar. Fazer outra coisa. Mas fazer o que? Entrou e quando chegou à porta do seu quarto ouviu alguém conversando. Quem era? Ninguém podia entrar ali. Seus pais, seu irmão sabia que ela não aceitava intrusões em seu quarto. Queria privacidade.

                   Abriu a porta devagar. Viu a Internet falando. Junto a Televisão e uma Barraca imaginária. Depois soube que era o símbolo do acampamento. Dizia a Internet: - Ainda bem que Olhos azuis Profundos têm a mim. Dou diversão a ela o tempo todo. Comigo ela viaja pelo mundo, conversa com os amigos, faz trabalhos escolares e me lendo pode até sonhar! Todos riram da Internet. Deixa disso metida, disse a Televisão. - Olhem quem dá ela as novelas? Quem a deixa ver em uma tela grande seus filmes preferidos? Quem lhe dá opção de deitada ou descansando em uma poltrona ao simples toque de um controle escolher os melhores canais do mundo? E olhe, se ela dormir, ou cochilar eu não paro de funcionar. Fico colocando em sua mente tudo que passa em mim. – Uma revolta se apossou do celular que estava em sua mão.

                - Ele gritou e esbravejou. – Metida e metido! Podem cair fora! Eu sou o preferido dela. Afinal ando em sua bolsa, em sua mão, ela faz de mim o que quiser. Conversa com amigas, lê suas mensagens, passeia no Facebook e no Orkut comigo e quando quer acha em mim todos os canais que você Televisão soberbamente se jacta de ter! Eu sou o único. O seu preferido. Quando não me tem a mão ela chora. Reclama. Por isto tenho que estar sempre presente.

                O acampamento estava calado. Era humilde. Nunca se revoltou. Agora mais triste se sentia, pois só falavam em novos tempos. Sabia que Olhos Azuis Profundos não era Escoteira. Pensou em nada dizer. Mas ele sabia de sua importância. Pediu se podia falar. A Internet, a Televisão e o Celular riram bastante. O que uma barraquinha “mixuruca” tem a dizer? O acampamento era educado. Não gostava de jactar-se. Nunca fez isso. Sabia de sua importância para quem o conhecia.

                  - Eu meus amigos, poderia oferecer a ela o perfume das flores silvestres. Poderia mostrar a ela a mais bela e misteriosa flor da floresta, o desabrochar de Orquídea branca lá em cima da montanha no carvalho centenário. Ela iria ver os olhos brilhantes como os dela na Coruja buraqueira da noite escura.  Poderia mostrar a ela a beleza do Balé dos Beija Flores na primavera. Ensinar a ela a seguir as estrelas brilhantes no firmamento. Quem sabe um passeio de sonhos na Via Láctea? Iria ensinar a ela a reconhecer as estrelas, que sabe a Alfa-Centauro? Já pensou ela ver a chuva caindo na mata? Leve, calma como se fosse uma linda sinfonia imperdível aos ouvidos de um mateiro. E a noite iria cantar com ela em volta do fogo junto a tantas amigas que lá estarão.

                  - E continuou – Ela iria sorrir com o nascer do sol, e maravilhar-se com o por do sol, iria jogar, passear, fazer jornadas, ter uma fome tal que comeria um elefante o que não faz agora. Iria tenho certeza maravilhar-se na piracema, a ver os peixes saltitantes na cascata da nevoa branca, tentando alcançar o inatingível.  Ela meus amigos iria sentir orgulho de si mesma. Não seria mais dependente, pois ali iria aprender junto à natureza uma vida de aventuras. Ela iria colocar uma mochila e partir para um mundo de sonhos, onde nada estava previsto. A descoberta seria dela. Ela iria aprender a fazer fazendo e depois meus amigos quando retornasse, ela saberia que o escotismo e eu poderemos lhe oferecer muito mais.

                     - O Acampamento com tristeza disse para terminar – Nossa jovem meus amigos em breve terá as pernas e os braços atrofiados. Ela não anda mais. Agora viajam com vocês vendo outros fazerem e ela nada fazer. Sua mente irá desaparecer na loucura do tempo. Nunca irá ver Deus em plena natureza, na cascata do riacho, nas campinas verdejantes, na noite e no amanhecer de um novo dia. Eu fico triste por ela. Triste porque só ela pode dizer sim ou não e vocês e eu somos meros coadjuvantes! E sabem? Fico triste por vocês, pois se a luz faltar e a bateria acabar vocês desaparecem como o vento na tempestade. Eu? Nunca vou desparecer, com chuva ou não, tendo eletricidade ou não. Eu sou a mão de Deus aqui na terra!

                     Olhos Azuis Profundos suspirou fundo. Nunca imaginou que aquela barraca era tão sábia. Quem era ela? Escoteiros? Já tinha ouvido falar. Tomou uma decisão. Procurou na Internet endereços de um Grupo Escoteiro. A Internet riu com orgulho. Ligou a TV e viu um belo acampamento passando em um canal. A TV deu gargalhada. Chamou pelo Celular uma amiga que conhecia outra que era Escoteira. O Celular explodiu em felicidade.


                     Olhou para o Acampamento e disse meu amigo, você me convenceu. Vamos acampar? E lá foi ela com o acampamento, sua nova mochila e deixando para trás a Internet, A Televisão e o Celular. Eles tentaram reclamar, mas Olhos Azuis Profundos disse – Não vou levar vocês. A natureza não pode se misturar a modernidade. Verei Deus ao meu lado e poderei sonhar com uma viagem nas estrelas brilhantes e quem sabe, pegar uma carona em um cometa azul? Mas eu volto, sempre pensando no meu amado e adorado acampamento. Adeus, ou melhor, até logo meus amigos eletrônicos, que surgiram com a natureza, pois foi ela quem fez vocês!

domingo, 16 de junho de 2013

O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.


Lendas Escoteiras
O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.

Levei o dia todo, a minha tarde inteira,
Não joguei futebol e até nem quis brincar
De soldado e ladrão...
Ajoelhado na sala, a minha brincadeira,
Foi cortar os papeis de cores, e os juntar.
Fazendo o meu balão...
J.G. Araújo Jorge.

             Eu estava ali com todo aquele populacho. Espremia-me para ficar a frente. Meus olhos brilhavam e meus lábios sorriam levemente mostrando o êxtase que sentia, me arrebatava como se fosse ele levado pelo ar. Quantas vezes sonhei em voar pelos céus em um balão. Meu arroubo de criança só via o encanto. Meu entusiasmo cobria o perigo e a alegria de estar ali não me deixava triste em desobedecer meu pai e minha mãe. Eu tinha duas forças que me faziam sentir bem. Balões no céu e ser Escoteiro. Todas as vezes que Seu Nonô Baloeiro soltava seu enorme balão eu corria para lá. Meu pai descobriu algumas vezes. Meu pai! Nunca me encostou um dedo. Chegava a casa e ele pacientemente dizia –Zezé balão mata. Muitos morreram assim queimados. Uma dor horrível. Quando não morrem ficam marcados para sempre!

            Mas eu, nos meus treze anos sabia que o perigo era grande. Mas fazer o que? Eu amava os balões. Quando ele se elevava ao céu, quando os foguetes estouravam, quando se lia a placa que os baloeiros colocavam, eu pulava de contente. Minha alegria era contagiante. Se pudesse eu ficava ali por toda a noite a ver os balões subirem aos céus. Um espetáculo que a criança que era se arrebatava e nos meus sonhos eu estava lá, junto ao lindo balão colorido que subia sôfrego aos céus até que um vento sul ou vento norte o levasse para longe. Muitas vezes sugeri em Reunião de Patrulha que fizéssemos um dia uma competição de patrulhas para ver quem soltava o mais lindo balão. Nunca aprovaram. O Chefe Valdez muito educado dizia – Balão só trás a infelicidade. Alegrias de uns tristeza de outros.

           Nas reuniões de Tropa, nas excursões, nos acampamentos eu vibrava como se estivesse soltando balões. Para dizer a verdade eu não sabia daquela minha sina. Nos meus sonhos de adultos eu estaria lá com seu Nonô Baloeiro, a fazer e a soltar os balões. Invejava toda sua equipe. Trabalhadores, sem nada a receber. Tentava explicar isto ao Chefe Valdez mas ele sorria de leve e dizia – Zezé, eles sabem trabalhar em equipe mas muitos deles gastam o que não tem para que o balão suba aos céus. Eles deixam suas famílias, sacrificam o pequeno salário que recebem e nem pensam o que suas escolhas podem fazer aos outros. Fecham os olhos para as desgraças, as desventuras e a infelicidade dos queimados, a miséria por ter perdido seu ganha pão, sua casa.

           Zezé dos Pinhais sentia pena mas ele não sabia quem um dia disse para ele – O que os olhos não veem o coração não sente. Verdade ou não os balões e o escotismo eram os sonhos de Zezé. O acampamento anual se aproximava. Iam acampar no Rancho da Lagoa Dourada. Ele nunca tinha ido lá. Mas não importava. Fosse onde fosse Zezé vibrava. Amava sua Patrulha Morcego. Sentia uma enorme alegria em estar junto aos seus amigos da patrulha. Vibrava com os jogos, já estava ficando bom em pioneiras e quando do fogo de conselho Zezé olhava para o céu estrelado e pensava – Não poderia ter um enorme balão passando?

           Zezé não contou a ninguém. Em casa escondido construiu um lindo balão azul. Ele sonhava em fazer um. Sonhava em ver o balão coriscando nos céus em uma linda noite de inverno. Não haveria foguetes. Ele não podia comprar. Sabia que todos seus amigos na patrulha nunca iriam “vaquear” para comprar. Custou para comprar o papel, construiu devagar à cangalha e depois a tocha. Levaria para o acampamento escondido. Não mostraria para ninguém. Ele sabia que na segunda noite haveria um jogo noturno. Iria fingir ter dor de cabeça e zarparia para uma área descampada e então soltaria seu balão. Sabia como fazer. Seus olhos cintilavam quando pensava no seu plano.

            O grande dia chegou. A sede escoteira lotada de gente. Pais e mães preocupados pedindo aos chefes para tomarem conta. Dois ônibus e uma longa viagem. Chegaram à tarde. Um lanche já havia sido preparado. A patrulha sabia como fazer. Barracas armadas rapidamente. Cozinha, mesas, toldos e em pouco tempo o campo de patrulha já podia dar todo o conforto de uma casa na selva. Houve até momentos que Zezé se esqueceu do seu balão. Mas ele não saia de sua cabeça. Dito e feito. No segundo dia o grande jogo. Zezé falou ao Monitor que falou ao Chefe. - Está dispensado, disse o Monitor. Logo que o Jogo começou “Guerra” Zezé saiu de mansinho nos fundos de seu campo de patrulha. Nas mãos o bornal com seu lindo balão azul. Sonhava! Sorria! Cantava canções de louvores. Avistou um belo campo e um rio que corria com suas águas tranquilas em direção ao mar.

            Zezé tirou o balão. Desdobrou. Pegou a cangalha e a tocha. Quando ia acender a tocha para que o gás espalhasse pelo balão ele ouviu um choro de criança. Não viu ninguém. Onde seria? Largou seu balão e foi até a barranca do rio. Sentado em um tronco uma menina de cinco anos chorava em prantos. Ela estava toda queimada. Zezé sentiu o cheiro de carne viva queimando. Zezé não sabia o que fazer – Venha comigo, vou levar você até o acampamento. O Chefe vai lhe ajudar – Ela não respondia, mostrava sua casa toda queimada. Zezé viu saindo da casa um Velho e uma velhinha também queimados. Saíram gritando. Uma dor terrível. – Meu Deus! Pensou Zezé. O que foi? O que foi? – Corra menino ele o Velho dizia. Corra! É um balão nos céus. Matou minha família. Destruiu minha casa, queimou minha plantação de milho!

            Zezé acordou dentro da barraca. Ainda bem que foi um sonho. Sonho terrível. Eu poderia destruir uma família com meu balão? No ultimo dia Seu Pataxó, um índio que morava próximo ao rio contou a história do Velho Manequinho, Dona Valquíria e sua filha Martinha a quem chamavam de Por do Sol e que morreram no ano passado. Um balão caiu na plantação de milho, que atingiu sua casinha de sapé e não deu tempo para fugir. Morreram todos. Os olhos de Zezé se encheram de lágrimas. Poderia ter sido o meu balão pensou. Eu poderia ter matado todos eles! Juro meu Deus! Nunca mais mas nunca mais mesmo vou tocar em um balão. Direi a todos meus amigos o mal que ele faz!


           Assim como Zezé tem muitos jovens que sonham com balões. Que está historia sirva de lição. Não é uma lenda. Todos os anos centenas de casos como este acontecem. Morrem adultos e crianças, perdem-se plantações que foram plantadas com o suor de quem precisa viver.

"Balão no céu, perigo na terra". Todo mundo já deve ter ouvido essa frase em algum lugar, mas as pessoas não costumam dar muita atenção a ela. Os incêndios causados por balões, podem ser bastante graves e podem destruir as casas, indústrias, plantações e até mesmo causar mortes. Seja um bom Escoteiro. Nunca solte balões!