Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Conversa ao pé do fogo. A Jarreteira de Daniel San.




Conversa ao pé do fogo.
A Jarreteira de Daniel San.

... – Muitas das antigas tradições escoteiras não existem mais. A validade ou não fica ao critério do julgamento de cada um. Aqui uma delas para que os novos no escotismo possam conhecer melhor seu uso e sua origem.  

                           Todos estavam perplexos com as fitas verdes e amarelas penduradas no meião de Daniel San. Ele todo posudo chegou à sede se exibindo. Foi para o canto de patrulha e o Monitor perguntou a ele o que era aquilo – Uma jarreteira Monitor, nunca ouviu falar? – Joel nem sabia o que era. Para não demonstrar ignorância não disse mais nada. Ele sabia que peças que não eram do uniforme não era permitido usar. – Falou com o Chefe? Ele perguntou. – Ainda não, mas ele vai ficar admirado da minha jarreteira. – E quem lhe disse que são peças Escoteiras? – Minha Avó disse que meu Avô foi Escoteiro em Portugal e usava. – Seu Avô? Ele era português? – Claro, meu Avô foi um Escoteiro e chefão em Funchal na Ilha da Madeira. Fez todas as provas e chegou a Liz de Prata. Olhe quando cresceu foi Escoteiro Chefe. Minha Avó sempre me conta como sua casa vivia cheia de Escoteiros! – Joel ouviu o apito do Chefe. Ele chamava os monitores. Passou o comando para Francis o Sub Monitor e saiu correndo. A patrulha ficou em silencio olhando a Jarreteira de Daniel San.

              - Estou vendo que o Daniel San colocou uma Jarreteira, - Perguntou o Chefe Jaguar. – É Chefe, ele chegou assim e disse que em Portugal todos os Escoteiros usam – Tudo bem, não diga nada a ele. Vou aproveitar para fazer uma palestra sobre as Jarreteiras. Assim todos aprendem e claro, irão saber que aqui no Brasil não usamos mais. – Joel ficou pensativo, ouviu o Chefe quanto à próxima atividade que fariam naquele dia, um jogo fora da sede e que todos deveriam ficar alertas para não acontecer nenhum acidente. O jogo foi legal. Deveriam descobrir um homem chamado Maneta que ninguém conhecia. Ele estava vestido comumente, sem nada especial, mas alguma coisa chamaria a atenção quando o vissem. Ao descobrir deveriam formar a patrulha em linha a sua frente e cantar o Rataplã. Se ele sorrisse e dissesse sempre alerta, era o procurado se não iriam dar com os burros nágua. As patrulhas se divertiram a beça em volta da sede. Muitas erraram feio, mas o Chefe instruiu a todos que a cortesia e a apresentação iria mostrar que o erro faz parte e o apresentado iria compreender bem.

                 - A Patrulha Castor ganhou o jogo. Eles viram o homem na esquina da Marechal Deodoro e foi Tonico quem reparou que seu cadarço tinha duas cores. O Chefe deu um tempo livre de dez minutos e formou todos em ferradura – Alguém já ouviu ou viu uma Jarreteira? – Todos nem sabiam o que era isto. – Reparem em Daniel San. Ele hoje veio com uma. Ela não é mais usada no Brasil e poucos países do mundo a usam. Portugal mantem a tradição. – Tradição Chefe? – Disse Bartolo Monitor da Castor. – Isto mesmo, ouve uma época que nós usamos, mas depois foi extinto o uso. Baden-Powell usou sempre em seu uniforme. Mas olhem, é melhor eu contar para vocês a história – Querem ouvir? – Todos olharam o meião de Daniel San e sorrindo disseram sim! Tudo bem, vamos lá, a Jarreteira é uma fita que serve para prender o meião à perna, desenhada com as cores dos ramos para membros juvenis e de acordo com as funções exercidas para os chefes do movimento Escoteiro. Existiu ou ainda existe uma Ordem Militar de Cavalaria, instituída por Eduardo II, rei da Inglaterra denominada Ordem da Jarreteira. É a mais nobre das oito ordens que possui o Império Britânico.

                  - Continuou o Chefe Jaguar – Ninguém sabe de concreto sobre a data da sua instituição. Vem do século XIV. Quanto ao ano a opinião dos historiadores heráldicos varia desde 1340 até 1351. Inicialmente ela só era usada pelo soberano e 25 cavaleiros. Até 1786 não sofreu nenhuma modificação. Só em 1805 se fez a segunda modificação. Finalmente em 1831 ordenou-se que o privilegio seria concedido aos descendentes diretos de Jorge II e Jorge I. Na época não se permitia mulheres na ordem. Existe uma lenda, segundo a qual por ocasião de um baile, caiu à liga da Condensa de Salisbury, dama da corte de Eduardo III e o rei abaixou-se rapidamente para apanhar e entregar à dama. Isto deu motivo de riso e graças por parte dos presentes e o rei exclamou: “Honny soit qui mal y pense”. (mal haja quem nisto põe malicia). Ouve outras lendas como aquela de Ricardo I que ao atacar Chipre invocou São Jorge que lhe deu grande ânimo e veio à ideia de atar as pernas dos cavaleiros com uma fita de couro que lhes lembrassem o feito. Eduardo II ao instituir a Ordem da Jarreteira designou a liga como seu emblema. O distintivo desta ordem é, com efeito, uma liga que, bordada a ouro e pedrarias (jarreteira) tem a legenda: - Honny soitqui mal y pense. Atada na perna esquerda junto ao joelho.

                A tropa pela primeira vez prestava a máxima atenção. Daniel San se sentia um cavaleiro britânico com suas jarreteiras. Continuou o Chefe Jaguar: - Os cavaleiros do rei usam no lado esquerdo do peito uma placa de prata ou estrela de oito pontas representando a Cruz de São Jorge. Usam também um colar de ouro, composto de 26 peças em forma de jarreteiras, esmaltadas de azul com a imagem de São Jorge abatendo o dragão. Finalmente usam uma cinta de azul escuro, atravessada sobre o ombro direito e debaixo da qual há uma joia de ouro em forma de jarreteira, rodeando a imagem de São Jorge com a divisa da Ordem. Assim esta insígnia foi concedida ao Escotismo, motivo de muitos Escoteiros ainda usarem um pedaço de tecido pendurado na parte exterior das meias do uniforme e presa pela liga. As histórias da Ordem da Jarreteira se confunde em muitas lendas que até hoje são lembradas e usadas por grandes personalidade britânicas. Lembro que em Portugal todos os Escoteiros usam as jarreteiras.

                 Chefe Jaguar se calou e olhou para Daniel San. – Obrigado Daniel San por trazer uma jarreteira onde todos pudessem conhecer sua história. Infelizmente aqui no Brasil elas não são mais usadas e assim você deu um belo exemplo em mostrar que existem histórias, lendas e tradições que marcaram muito o movimento Escoteiro por muitos anos e vai ser lembrado por toda a vida. Guarde bem sua jarreteira no seu baú do tempo para quando crescer lembrar dela com saudades! – Daniel San viu no Chefe Jaguar um cavaleiro Britânico no tempo de Eduardo II e sendo saudado por todos que pertenciam ainda a Ordem das Jarreteiras. Daniel San nunca mais usou em reuniões, mas sempre ao chegar em casa com seu uniforme, colocava sua jarreteira e ficava olhando e lembrando de um passado que hoje não existe mais!   

Comentário recebido de um Chefe Português - Recebo seus três contos, é claro que gostei, mais ainda da História da Jarreteira. Como sabe, iniciei minha vida Escoteira em Portugal, numa pequena Ilha do Arquipélago dos Açores; Ilha Terceira, 52 AEP. Para mim, e meus irmãos Escoteiros portugueses o recebimento da Jarreteira acontece numa cerimônia logo a seguir ao recebimento do Símbolo de Promessa. A partir de então temos a "obrigação" de sermos Cavaleiros da Paz, do Respeito e da Fraternidade Escoteira. Já vai longe meu 28 de abril de 1963, é bem verdade, porem esse dever jamais esquecerei. Henrique Luiz - Chefe Açor.