Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 16 de junho de 2012

A empáfia de todos nós.



A empáfia de todos nós.

Não, todos nós? Claro que não. Afinal dizer que todos nos somos possuidores de arrogância, desdém, intolerância são adjetivos fortes demais. Porque não dizer que somos prudentes, discretos, humildes, circunspecto? Isto assim seria melhor. Mas seria isto mesmo o que eu queria dizer? Bem, procurei outros adjetivos e não encontrei o que queria e quem sabe hoje não estou muito inspirado. Mas vejamos será que estamos mesmos ouvindo os jovens em nossas sessões? O que? Claro que sim irão me dizer. Mas eu ainda insisto, e porque tantos se afastam? Porque não temos a maioria das sessões escoteiras em todo o país completas, sem vagas, e com isto nosso movimento iria atingir proporções excelentes dentro da comunidade?
É costume ver por aí, alguns dizendo – Eu sei o que eles querem. Eu sei o que o meu Escoteiro quer. Eu sei o que meu Monitor quer. Eu sei o que os lobinhos querem. Eles sabem que eu os entendo. Dou o meu melhor. Mas porque não temos patrulhas completas anos a fio? Agora é fácil dizer que sabe o que eles querem. Aprendemos com nossos dirigentes. Eles sempre agem assim. Dizem saber o que precisamos e o que nós queremos. Sei da boa intenção de todos, mas boas intenções? Sem polemizar vejam a ata (no site da UEB) onde se comenta o novo uniforme. Leiam calmamente. Analisem e pensem – Porque pelo menos não deram ciência ou colocaram em votação na Assembleia Nacional? Notem que alguns dos membros falam sobre isto. E no final dizem – Vamos mostrar no Jamboree. Mostrar e dizer – Eis o uniforme novo. Podem bater palmas! Só nas lojas escoteiras!
Mas não quero falar sobre uniforme. Já me enchi com os tais que se arrogam em defensores de tais atos com justificativas plenas e abrangentes que satisfazem a muitos. Eu sinto que temos uma falha muito grande em não sabermos fazer pesquisas, ouvir a todos (dependendo do tema todos setenta mil como consta no relatório) para se ter uma ideia do que fazer. Mas pesquisa não é coisa de amadores. Hoje mesmo vi um artigo do Ombudsman da Folha de São Paulo, que critica o jornal pelas pesquisas e diz coisas interessantes sobre ela – Não devemos nos impressionar com milhares de entrevistas realizadas. – É preciso saber como foi o questionário aplicado – Desconfiar sempre em pesquisas da Internet – Transparência é importante. O tema é longo, e olhem não sou um expert no assunto. Mas do jeito que anda as coisas está ruim. Atenção, nada a ver com a explicação da UEB sobre a pesquisa que fizeram do novo uniforme.
Uma vez, dirigindo um encontro de jovens (aproximadamente oitenta deles de todo o estado) o tema principal fugiu devido à liderança de dois ou três que resolveram colocar em questão o uniforme. Deixei a discussão andar. Oitenta discutindo? Nada disto. Não mais que cinco ou seis. Os demais acompanhando sem opinar. E no final chegaram à conclusão que o uniforme usado no exercito pelas forças de fronteiras (no Amazonas) seria ótimo para os seniores. Bem, no ano seguinte as mesmas discussões agora aprovaram outro. Das forças especiais americanas. Porque isto? Cada ano uma escolha? Acredito que os chefes não ensinaram para eles os valores básicos do escotismo e que dai se incluem as tradições.
Quando ouço alguém falar que sabe o que é melhor para sua tropa fico preocupado. Se verificarem bem todos que assim procederam pode ser que alguns não tiveram bons resultados finais e não foi BP quem disse que só os resultados interessam? Até hoje os resultados não foram os piores, mas também não foram os melhores. Estas mudanças quem sabe influíram no nosso crescimento quantitativo e qualitativo. Quando todos chegarem à conclusão que o Grupo Escoteiro é a parte mais importante em toda a organização e para isto ele deve ser ouvido em qualquer mudança então só assim poderemos acreditar na força do nosso movimento. Até lá parece que não temos direitos e como dizem alguns nós somos a parte que devemos preocupar como nossos jovens e fazer deles cidadãos de bem. E os dirigentes? Liberdade para fazerem o que quiserem? Normas dirigidas por uma pequena fração representativa?
Comece agora a ouvir seus jovens. Faça-o como BP nos ensinou em seus livros escoteiros. O Escotismo para Rapazes e o Guia do Chefe Escoteiro. Não acredite no que dizem alguns que eles estão ultrapassados. Não estão. Adaptações sem alterar o conteúdo são válidas. Mas ali está a essência do escotismo. Se isto não tiver mais valor, é melhor chamar de outro nome, mudar a organização e deixar de lado as bases do escotismo que deu enorme contribuição e pode ainda dar muitas contribuições na formação da juventude de uma nação. Quem se arroga como proprietária do nome Escoteiro no Brasil deveria honrar as tradições. Pelo menos isto! 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A lenda do Sapo Vermelho.



A lenda do Sapo Vermelho.

(Nesta historia simples, coloquei o nome de muitos amigos meus do Facebook. As personagens nada têm a ver com a personalidade de cada um. Fazem parte do desenrolar da história. Aos demais amigos peço desculpas por não ter colocados todos na historia. Não ia ser fácil. risos).

                O Grupo Escoteiro Águia do Deserto estava em polvorosa. O Chefe Castanha, Diretor Técnico conversava com o presidente do grupo o Chefe Rogerio. Conclusões? Ninguém sabia. Como agir? Diversas sugestões. O próprio Conselho de Chefes reunidos no dia anterior ficou por mais de quatro horas tentando achar uma solução. Eram e sempre foram um Grupo Escoteiro padrão e bem respeitado em sua cidade. Hiury o Chefe da Tropa estava lá. Esteban o Mestre Pioneiro quase não falou. Hilda da Tropa de Guias era uma grande amiga da família de Milinho. Antônio Carlos calado. Sempre fora assim.  Felipão um assistente muito falante falava sem parar. Carlos Adl da tropa Escoteira que sonhava em receber sua insígnia não perdoava. Rodrigo assistente nos seniores e Rosa assistente da tropa das escoteiras eram os mais exaltados. Os pais de Milinho (Murilo) Rui e Marcia choravam durante a reunião. Pensavam o que fizeram para ter um filho assim. Foi uma discussão das boas.
               Era verdade. Milinho o lobinho não era flor que se cheire. Traquinas era pouco para chamá-lo. Quase pôs fogo na sede na semana anterior quando acendeu cinco velas para chamar o “Espirito de Mowgly” como ele dizia. Ainda bem que a Bagheera Elizete chegou a tempo para evitar a catástrofe. Na Alcatéia todos gostavam dele. Vanessinha pata tenra era sua preferida. Talvez porque ela sempre o ajudou nas suas “lambanças”, mas sabida, ficava com um pé atrás com cara de inocente arrependida. Milinho tinha sido expulso de duas escolas primárias. Mesmo os pais insistindo, pois ele só tinha sete anos Dona dryka à diretora disse que não aguentava mais. Na classe nenhuma professora podia dar aula. A professora Aline um dia achou que ia vencer a batalha com ele. Colocou de castigo na ultima carteira e assim ninguém veria sua traquinagem. Sorrindo foi sentar quando sentiu uma pontada enorme no traseiro. Alguém colocou na cadeira varias tachinhas e ela não aguentou mais. - Já para a diretoria disse!
              Os pais de Milinho eram pobres, mas a vizinhança que gostava muito deles tentaram ajuda-los a pagar um psicólogo e quem sabe ele melhoraria? Seu Nilton o presidente dos amigos do bairro e sua esposa Dona Luiza foram a casa deles levar a boa notícia. Ao subir na escada da varanda não viu uma cordinha esticada. Tropeçaram e caiu em suas cabeças uma lata cheia de água. Os pais pediram desculpas. Na semana seguinte o levaram ao psicólogo. O Doutor Marcelo Bezerra riu quando disseram como era Milinho. – Deixa comigo disse. Vamos tentar ajudá-los. Tudo foi bem na primeira consulta. Na Segunda o cheiro ruim invadiu o consultório. O Doutor Marcelo descobriu um barbante que fedia à medida que queimava as pontas. Olhou para Milinho e não disse nada. Bem foram só três consultas. – Olhem disse o Doutor Marcelo, tentem os escoteiros. Se eles não puderem dar um jeito nem Deus pode. E riu.
               Ilda era da Matilha Verde. Detestava Milinho. O mesmo pensavam Amanda e Anny duas lobinhas Cruzeiro do Sul. Quando entrou ele foi para a matilha delas. Mas em menos de duas reuniões as mães dona Lilian e dona Taufica, sem contar o pai de uma o senhor Marcos Roberto disseram que iam tirar as filha do grupo. Conversa daqui e dali tudo se ajeitou. Foi Celia Regina e Isabel que o deixaram ser da matilha Azul. Nunca se arrependeram, pois adoravam as trapalhadas de Milinho. A Patrulha da Onça Pantaneira através do seu escriba o Escoteiro Jefferson resolveu contar sua historias em um livro. O Monitor Mario não achou boa ideia. Dermival o sub também não gostou. Mas a história foi escrita e muitos anos depois se tornou um dos livros mais lidos em sua cidade.
               No verão de 68, a Alcatéia foi fazer um acampamento no sitio da Viúva Sabrina. Ela morava com sua irmã, Dona Monica. Elas adorava os escoteiros e quando eles iam lá sempre se juntava a eles. Joaquim Neto o caseiro não gostava principalmente quando Milinho ia acantonar. Ele já o conhecia de longa data. A Akelá Ieda combinou com Moreira o Balu e Eliana a Kaa ficarem de olho em Milinho. O lobinho era um desastre. Ninguém entendia porque até hoje não o mandaram embora. Achavam que devia ser os pais Rui e Marcia, pois sempre quando eram chamados só ficavam chorando e todos tinham pena. Walkiria a lobinha da marrom corria quando via Milinho. Uma tarde ele desapareceu. Tantos sempre o olhando que dormiram no ponto e ele sumiu. Foi Luana a menina que sonhava ser Escoteira uma morena dos cabelos negros e filha do caseiro que disse saber onde ele estava.
               O lobinho Milinho se escondeu no banheiro, pulou a janela e correu para um arvoredo próximo e lá deitou embaixo de uma árvore. Deve ter dormido, pois se transformou em um horrendo sapo vermelho. Ele tinha muito medo da lagoa, pois lá tinha uma cobra enorme e um gavião que queriam comê-lo de todo jeito. Num canto da lagoa, Douglas o gavião malvado olhava o Sapo Vermelho. Carla a cobra mansa e amiga de todos também espreitava embaixo d’água. Milinho o Sapo Vermelho estava com sono, mas não podia dormir. Acordou com o José Alves o Grilo Falante gritando – Corra Sapo! Eles vem te comer! . Correr prá onde? Alberto Franco o Jacaré cinzento disse – pule nas minhas costas eu o levarei a margem. E agora? Confiar neste jacaré? Mas não se fez de rogado. Pulou. O jacaré afundou e levou Milinho o Sapo Vermelho com ele. No fundo da lagoa estava o Jacaré, A cobra, O Gavião e até Vilma a malvada Peixe Espada comedora de sapos. Paty a linda estrela cadente lá no céu assistiu a tudo e deu belas risadas junto aos cometas Walter Dohme, Elmer e Fernando Robleño que passavam. Na via láctea, Natalia Cristina e Cris outras estrelas cadentes também sorriram.
                Milinho acordou gritando. A Akelá e todos os lobinhos estavam em volta dele. Todos davam enormes gargalhadas. Vera uma mãe que ajudava veio abraçá-lo. Ele chorava e suava. Bruno e Carlinha de sua matilha Azul também vieram abraçar Milinho. Ele olhou todo mundo e ali mesmo fez um juramento. Juro Akelá que nunca mais farei traquinagem. Acho que aprendi a lição. E foi assim que Murilo Homem, mais conhecido como Milinho o traquina se transformou em um lobinho que todos passaram a orgulhar. Foi um susto na Alcatéia. Chegaram a telefonar para o delegado Ricardo Frugoli e o detetive Wagner que deram belas gargalhas com tudo. Ainda bem que ele tinha muitos amigos e todos o ajudaram em ser um cruzeiro do sul. Quando passou para a tropa, todas as patrulhas o queriam.
              Uma história simples. Mais que uma história uma lenda. De amigos de Milinho e amigos meus. Para ficar na lembrança de todos os meus amigos aqui quando um dia eu me for. Que eles no escotismo ajudem sempre a um Milinho dos milhares que existem por aí a ser um bom Escoteiro. A lenda do Sapo Vermelho é um conto dedicado a todos. Obrigado!  

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Do destino ninguém foge.




Do destino ninguém foge.

Acho que o nome dele era Matheus, não tenho certeza. Mas todos o chamavam de Miltinho, porque não sei. Nunca me disseram. Talvez porque seu avô era assim chamado e como ele tinha todo o jeito dele, nada como manter o apelido carinhoso.
Era filho único e com 12 anos já estava no quinto ano do fundamental. Estudava em um bom colégio pago e mesmo não sendo um estudioso por natureza, não tinha por que reclamar de suas notas. Não diferia muito dos jovens de sua idade. Gostava de futebol e sempre que podia, ia para a quadra do colégio bater uma bola com os amigos. Também não era um futuro craque.
Em seu bairro tinha alguns amigos, não muitos. A noite se encontrava com eles para um papo ou até uma brincadeira qualquer. Nos fins de semana nem sempre saia com seus pais. Sempre ia até uma pequena quadra esportiva, próximo a sua casa e lá passava as tardes de sábado ou domingo.   
Seu pai trabalhava como gerente financeiro de uma cadeia de lojas e nunca chegava em casa antes das 9 da noite. Sua mãe, dona de casa era quem mais estava junto a ele no dia a dia. Nunca seu pai o levou para passear nos finais de semana e pouco interessava pela sua vida não perguntando nada quando se encontravam.
Um tarde de um sábado, vindo da quadra de futebol, viu três escoteiros vindos em sua direção. Já os tinha visto antes, mas não sabia como eram o que faziam e onde se encontravam. Passaram por ele conversando entre si e dobrando a esquina desapareceram como fumaça no ar. Ele ficou ali meditando, meditando e ponderou o que seria aquilo e como fazer para participar.  
Comentou com sua mãe sobre sua intenção. Ela não disse nem sim e nem não. Resolveu investigar por conta própria. Descobriu o local deles. Era um colégio a oito quadras de sua casa. Foi lá em um sábado. Viu muitos meninos e meninas brincando, correndo e um chefe apitando. Não entendeu muito, mas pelo sorriso estampado no rosto de todos, achou que devia ser bom.
Ficou ali até alguém de uniforme aparecer perto dele e perguntou como era para participar. O encaminharam para a sala onde estava o que devia ser o chefão. Ele o olhou de alto a baixo. Perguntou por que queria ser escoteiro. Ele não soube responder, mas disse que queria experimentar.
Gentilmente explicou o que fazia um escoteiro. Suas responsabilidades suas atividades e muita responsabilidade quando fizer sua Promessa Escoteira.
Encantou quando contou como eram os acampamentos, as excursões às viagens de longa distancia a grande fraternidade mundial que sempre se encontra nos Acampamentos Nacionais, Regionais ou Distritais.
Emocionou-se ao saber o que era um Jamboree e não conseguia imaginar mais de 10.000 escoteiros reunidos e acampados em um só local. Ficou sabendo de um tal General Inglês que foi o fundador. Soube que mais de 150 países possuíam grupamentos escoteiros.
Pensou que seria bom pertencer a uma patrulha. Jogar com eles. Tomar decisões, vida em grupo imaginou. Já imaginava ter seu distintivo, fazer sua promessa, mas logo acordou do seu sonho, pois era apenas narrativa do Chefe para ele, pois precisava de tomar uma serie de providencias antes de sua aceitação.
Recebeu uma ficha de inscrição que devia ser preenchida pelo seu pai e sua mãe. Tudo bem. Ele foi para a casa sonhando acordado e quase se perdeu no retorno, tomando um rumo desconhecido.
Entregou a ficha e a sua mãe. Com o pai achava difícil de falar, não se entendiam bem. Quando a noite surgiu viu o barulho do carro. Estava chegando do trabalho. Um comprimento seco, um banho, o jantar e logo foi para a sala ver o jornal da noite na TV. Já estava desistindo. Sua mãe se aproximou e sussurrou para o pai o desejo do filho. Entregou a ele a ficha de inscrição para sua assinatura.
Ele a principio não estava entendendo. Riu e veio falar com ele. Parabéns disse agora você escolheu bem. No próximo sábado irei com você até lá para conversar com o responsável. Ele não acreditou e seu pai o levou até seu quarto (o dele) e tirou de dentro de uma mala antiga, um uniforme de escoteiro e o lenço e o presenteou. Era o seu quando jovem. Participara por quatro anos. Fora monitor e primeira classe. Mudaram de cidade, onde foram não havia grupos. Mas ele não tinha esquecido.
Sempre pensou em colocá-lo em um Grupo Escoteiro, mas não sabia onde e ele não tinha se manifestado a respeito. O tempo foi passando e ele se esqueceu de tudo. O trabalho o absorvia muito. Pediu desculpas ao filho. Disse que iria apoiá-lo e acompanhar em todas as situações que se fizessem necessárias.
Foi um dia feliz. Foi para o seu quarto e colocou o uniforme na cama. Ficou ali a admirá-lo. Não se conteve. Vestiu a camisa, colocou a calça curta, devagar colocou os meiões. Olhando no espelho colocou o lenço. Ainda não sabia como colocar. Como gravata ou mais longe do pescoço. Viu que o uniforme era grande para ele. Não se importou. Achou que era o máximo.
Durante a semana o vestia se olhava e sonhava. Era como estivesse fazendo a promessa, acampando, junto a novos amigos, vivendo em uma patrulha e ele sonhava com o dia em que iria participar pela primeira vez. Logo que o dia amanheceu, acordou e foi até a janela. Sorriu para o sol e fez sua oração matinal agradecendo a Deus pela oportunidade.
Saiu de casa para conversar com um amigo e contar para ele a novidade. Vibrava com a possibilidade de ser Escoteiro. Ao atravessar a rua, foi pego por um carro a toda a velocidade, fugindo da policia que vinha logo atrás. Foi arremessado à grande distancia. Ficou inconsciente.
Levado ao hospital ficou em coma dois meses. Saiu do coma, mas sem movimentos no corpo, ficara paraplégico.
Durante um bom tempo não lembrou mais de seus sonhos. Agora eram outros. Pensou que com o tempo seus movimentos voltariam, ele não desanimou e o tempo passou. (um dia conto o final da história)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quando as saudades chegam, não importa a idade.



Quando as saudades chegam, não importa a idade.
Maria Luiza Silveira.

Sinto saudades do antigo movimento escoteiro, sinto saudades de enfiar o pé na lama, de fazer comida mateira, saudade de poucos momentos que vivi que realmente pareciam com o escotismo fundado há 105 anos atrás. Ah! Escotismo, você anda tão diferente, as pessoas não tem o mesmo amor pelo escotismo que tinham antes, pelo menos, nem todas. Posso sentir no tom com que cantam a canção da despedida em acampamentos, certas pessoas estão ali, mas é como se não estivessem. Eu te amo tanto movimento escoteiro. Não, não sou uma senhora que está lembrando-se de seus momentos quando era uma jovem escoteira, sou só uma garota que prefere o tradicional escotismo.
Também não sou a favor do uso do traje, acho o uniforme cáqui mais tradicional, e lembra mais o escotismo de antigamente. Pessoas fazem promessa por fazer, isso me deixa triste. Sei que ainda é o melhor meio de transformar pessoas, e eu gosto de você assim como é, mas não posso negar que prefiro o tradicional, a parte boa. Acampamentos onde a ajudante de cozinha do grupo faz comida? Não gosto disso, gosto de enfiar a mão na massa e cozinhar para minha patrulha na fogueira. Eu sei, eu sei, o mundo está mudando cada vez mais e temos que mudar junto com ele, mas não vamos muito depressa e nem façamos mudanças muito radicais, os verdadeiros valores estão se perdendo. Não vamos deixar que junto com o mundo o escotismo se perca já se passaram milhões de pessoas por aqui, e saíram pessoas melhores graças ao escotismo.
Hoje sinto um tom diferente nisso tudo. Vamos rever nossos conceitos, ver se todas essas mudanças no escotismo estão valendo a pena. Eu gosto mesmo da parte de enfiar o pé no barro, acampar com chuva, gosto da parte difícil, pouco se aprende com as coisas fáceis. Será que nosso mestre B.P lá do grande acampamento está feliz do jeito que estamos? Não que o trabalho dos chefes esteja sendo ruim, nada disso, não julgo ninguém, afinal, quem sou eu para julgar? E o escotismo é ótimo, eu absolutamente amo, amei e continuarei amando o escotismo, mesmo sem forças, mesmo sem vida, honrarei minha promessa até a última batida de meu coração e continuarei acampando, excursionando, fazendo o que faço hoje, até que minhas pernas parem, pois para as pessoas que não são escoteiras isso é apenas um texto grande e chato, mas eu dou muito valor a ele.
É tanto orgulho em cantar a canção da despedida num fogo de conselho que as pessoas se assustam a me ver chorando na primeira estrofe da musica, mas é assim mesmo, são muitas lembranças boas para uma única pessoa. Só acho que aos poucos isto está se perdendo, as lembranças, os valores. Tenho muito medo que isso se acabe, porque o escotismo é uma das poucas coisas boas que ainda restam nesse mundo. Por mim continuaríamos daquele jeitinho, como B.P criou, mas sei que sou uma das poucas pessoas que preferem essa coisa à moda antiga. Só não deixem que os verdadeiros valores se acabem. Sempre alerta. 

19º Grupo escoteiro Campo Belo, Itatiaia - RJ. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

As canções que eu cantei para mim.



As canções que eu cantei para mim.

Hoje estava tomando um banho frio. Frio? Risos. Gosto muito são os meus preferidos. E não é que em dado momento comecei a cantar? Gente! Quanto tempo não cantava. Já fui um bom cantor de chuveiro hoje não mais. A voz é péssima, sai rouca e quem houve assusta. Sempre parando para respirar, pois o ar some. Motivo pela qual evito cantar as mais lindas canções escoteiras que amo e gosto muito. Até minha gaita saudosa dos acampamentos onde a beira da fogueira tocava musicas gostosas, eu abandonei. Meu violão que tocava mal e muito mal doei para um menino que disse não poder comprar um. Não dá mais. A música no chuveiro saiu normalmente. Não era grande coisa, mas me lembrei de quando compomo-la em um barzinho perdido por aí, com mais oito participantes. Um sábado, após a última atividade Escoteira no Conselho Regional em uma cidade do interior e nada melhor que um bate papo gostoso com amigos escoteiros. Três jovens Akelás, Celia e outros escotistas todos novos. De "Velho" ali só eu com 27 anos. Um Chefe estava triste, pois seu noivado acabou. Mesmo todos sendo solidários e consolando nada ajudava e ele resolveu se embebedar bebendo guaranás Antártica aos montões (risos). Sabíamos que era por poucos dias. Logo estariam de volta e tudo voltaria ao normal novamente (hoje ele e ela estão casados, três filhos já homens feitos).
Brinquei dizendo que ia fazer uma canção para ele. Todos riram. Na época era metido a compositor. Sem me considerar o bom e me colocar em um patamar que não mereço, fiz diversas canções escoteiras no passado. Ainda tenho as letras de algumas, mas as músicas só na cabeça, pois nada entendo de partituras e notas. Com um guardanapo escrevi com ajuda de todos a canção do Chefe Escoteiro apaixonado, vamos à letra (a musica está na cabeça):

O Chefe Escoteiro apaixonado.

Preciso encontrar uma Akelá para mim,
Me sinto tão só, reze por mim! (repeteco)

Vejo na distância, montes e vales,
Excursões e acampamentos, não curam meus males,
Me sinto tão só, Baden Powell me ajude!

Cantamos por muito tempo, rindo e bebendo guaranás (se falar nos chopinhos e dois uisquezinhos que tomei vão dizer coisas aqui) e vimos uma das jovens chefes chorando. Também tinha perdido seu amor. E agora? Claro, fazer uma canção para ela. De novo um guardanapo e saiu em menos de meia hora a canção:

A Akelá apaixonada:

- Procuro um rapaz bem solteiro,
Bonito que me faça feliz.
Deve ser um Chefe Escoteiro,
E que tenha uma flor de lis.

Deve, ser, alguém, que entenda o meu desespero,
O Grande Uivo é minha luta, pois quero amar,
Alguém de calças curtas!

Risos. Foi uma noite memorável. Um mês depois todos estavam de volta com seus amores, mas as canções foram cantadas em muitos e muitos fogos de conselho e barzinhos por este mundão afora.
Nunca mais os vi e nem sei onde andam. Um eu sei que casou como disse e a Akelá não tive mais notícia. Bem uma historinha real meio sem graça, mas fazer o que? Lembranças são lembranças e vou mesmo cantar todas no meu chuveiro! Quem sabe alguns deles estão aqui lendo e após lerem vão lembrar-se daquela noite gostosa, quente, vendo as águas tranquilas da lagoa de Furnas iluminada por uma lua rechonchuda, em uma cidade do interior, comendo moqueca de peixe, pedaços lindos e deliciosos de cascudo frito, lá no fim do mundo onde chefes escoteiros uniformizados alegres, sentimentais, cantaram e riram de suas histórias e de suas canções? Ah! Lembranças! Como é belo lembrar! 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A trilha Escoteira



A trilha Escoteira
A embriaguez da primavera!
“O homem ao homem”! É o desafio da Jângal!
Já parte aquele que foi nosso irmão.
Ouvi, então, julgai, ó vós, gente da Jângal.
Respondei: quem irá detê-lo então?

O homem ao homem! Ele soluça na Jângal!
O nosso irmão se aflige dos males supremos.
O homem ao homem!  Nós os amamos na Jângal!
Esta é o sua trilha e nós não mais o seguiremos.
DO LIVRO DA JÂNGAL DE RUDYARD KIPLING

            - Ao pular os três degraus que levava a varanda da casa do “Velho” Escoteiro, o sentido da audição ficou alerta e captou sem grandes surpresas uma tarde com a 3a Sinfonia de Beethovem (Primeiro Movimento - Alegro com Brio) e que fluía suavemente pela janela da Sala Grande. Vovó e o “Velho” estavam de mãos dadas, lado a lado, sentados na poltrona de couro preto, olhos semicerrados, como que transportados para os floridos jardins do “Nosso Lar”, inebriados com os doces aromas das flores que exalavam naquela outra dimensão do infinito. Como um velho cão de caça, entrei e sentei calmamente no meu banquinho de três pés sem fazer barulho fiquei ouvindo a doce melodia que tanto me encantava.
            O “Velho” pigarreou e me acordou de pronto. Sem delongas disse o que me levou ali nesta noite. A trilha. O conselho de chefes quase se engalfinhou quando o tema foi levantado. Uns acusavam os outros pela falta de adaptação e pouco tempo que os lobos ficavam na tropa posteriormente. O "Velho" me ouvia e à medida que piscava os olhos, esticava suas grisalhas sobrancelhas notava que o tema lhe interessava. Fechei o “assunto” sem dar meu ponto de vista. O “velho” sorriu e continuou calado. Também me mantive mudo. Nada como fazer o “velho“ falar, pensei.
– você me trouxe um tema interessante, disse o "Velho". Pode ser que não tenha dados concretos para lhe responder. Pelo que vejo e olhe falo em nome de poucas alcateias que visito também eles estão preocupados com a maneira como a trilha vem sendo desenvolvida. Muitos lobos abandonam em pouco tempo, talvez desmotivados pela recepção, por serem considerados patas tenras e outros que não foram lobinhos e da mesma idade tem sempre preferencia nas atividades de Patrulha.
Uma vez acompanhei uma reunião em uma Alcatéia e fiquei alegre com o que vi. Primeiro a Alcatéia não se prendia muito ao novo programa e sem abandoná-lo introduziu nele muitas atividades ao ar livre, tais como nós, sinais de pista, mapas, bussolas e barracas tudo sem a pretensão de substituir o programa ou o método de tropa Escoteira. Isto me agradou um pouco. Fugiam destas atividades desculpe em dizer, mas de faz de contas, tais como muitas canções, muitas danças, desenhos e brincadeiras muitos infantis. A Akelá me disse que eles sempre quando ela os procurava para saber o que achavam (sempre fez isto) diziam que agora estava bom. Antes o que faziam nada diferenciava da escola e por isto perdiam o interesse. Notei também que ela e seus assistentes se portavam como irmãos mais velhos e não substitutos de mães e avós com palavras melosas de meu lobinho, meu amor etc.
Ela também me garantiu que agora os lobinhos com primeira e segunda estrela eram olhados de outro modo pelos novatos. No último acampamento apesar de ter uma casa próximo para eventualidades, eles dormiram em barracas, tiveram inspeção, fizeram um café (três pais tinham uma cozinha separada) seguiram a pista de Shere Khan, fugiram dos bandarlogs subindo em árvores altas (bem protegidos com outras cordas) e o melhor, foram para a cidade dos homens em um comando Crow em cima de um córrego. Eles adoraram. Já me pediram para repetir a dose.
Agora estamos fazendo uma trilha bem combinada com o Chefe Escoteiro e o Monitor. Este o prepara para a promessa e ele aprende todas as etapas e provas necessárias. Quando fazemos a passagem, ele entra em uma barraca armada, troca o uniforme de lobinho pelo de Escoteiro, e recebido pela tropa e Patrulha faz a promessa como escoteiro. Claro, seu distintivo de cruzeiro do sul, pois brigo para todos atingirem esta etapa está pregado na camisa onde mostra suas qualidades quando lobinho. A Patrulha sente que agora tem mais um para ajudar e não para carregar.
A mística nunca é esquecida. Ela procura fazer tudo naturalmente sem enfeitar ou criar situações muito infantis que não agradam os lobinhos mais velhos. Dei boas risadas quando ela me disse que a alcatéia é um todo, mas que ela dá atenção especial aos primos. Faz reuniões em separado e até fez um acantonamento delicioso com eles. Soube inclusive que um assistente distrital viu e não gostou. Tentou mostrar a ela que aquele não era o caminho. Ela educadamente disse – Me mostre uma Alcatéia que você possa citar como exemplo, que não há desistências, que depois de passar para a tropa e ficam pelo menos dois anos então eu irei concordar com você. E foi mais alem. Veja a nossa alcateia, tem 24 lobinhos. O mais novato tem seis meses. Temos já oito com o cruzeiro do sul e vários sendo preparados na trilha Escoteira. Estou pronta a mudar se tiver mesmo alguma Alcatéia que possa me dar subsídios maiores.
Não tinha. Ele ficou de pensar e voltar depois. (não deve ter voltado) Dei uma boa olhada na Alcatéia. Gostei do que vi. Na tropa eles tinham um dia para uma atividade entre as patrulhas e matilhas pelo menos a cada dois meses, bem programadas com antecedência. Muitos dos novos escoteiros que foram lobinhos são sempre autorizados a ficar com a Alcatéia uma vez por mês. É interessante quando você assiste tal integração, uma fraternidade lobo/Escoteiro como via ali. Não tinha nada mais a dizer. Alí eles tinham encontrado o caminho para o sucesso.
Fiquei pensando no que o "Velho" me disse. Eu já tinha lido o livro de Kipling o Livro a jângal. Para mim um dos livros mais interessantes que tinha lido. Tem tantas coisas interessantes que qualquer alcatéia tem plenas condições de desenvolver bons programas de reuniões. Vovó observava o “Velho” e servia nosso café.  Fechei os olhos. Parecia que eu estava lá no alto de uma montanha e avistava uma Alcatéia, via lobinhos e via uma tropa de Escoteiros escalando montanhas. Um escoteiro apertava a mão de um lobinho como a dizer:

 -"O amanhã é nosso. Somos do mesmo sangue, tu e eu... Boa caçada!”.
“As estrelas desmaiam, concluiu o Lobo Gris, de olhos erguidos para o céu”. Onde me aninharei amanhã? Porque dora em diante os caminhos são novos! 

domingo, 10 de junho de 2012

Meu amigo João Peçanha – o famoso Chefe Borboleta



Meu amigo João Peçanha – o famoso Chefe Borboleta

O nome dele era João Peçanha. Nós o chamávamos de Chefe Borboleta. Nada de eufemismo não. Também não tinha nada de afeminado. Não sei por que do apelido, mas era comum em nosso Grupo Escoteiro. Não perdoávamos ninguém. Um dia ele apareceu na sede com o livro do Velho Lobo na mão, O Guia do Escoteiro. Disse que tinha comprado de um amigo e que este ganhou de outro. Nada contra. Para nós naquela época era nossa Bíblia. Pediu para olhar nossas atividades e ali ele ficou por uns dois meses. Conseguiu conquistar amizades e eu mesmo tinha por ele enorme consideração.
Pelos meus cálculos, devia ter entre 28 e 30 anos. Era até simpático, mas se vestia pobremente (quando aceito como Escotista, demorou um bom tempo para adquirir o uniforme completo) Procurou-me um dia se podia participar. Disse-me que conhecia de cor e salteado tudo que o Velho Lobo escreveu no livro. Podia fazer os nós de olhos fechados e sabia todas as provas ali descritas. Eu nesta época era Escotista de tropa e “sapeava” nas horas vagas nos seniores. Sempre era convidado para suas atividades.
Conversei com o Chefe Batista, nosso Chefe de Grupo e ele que também ficou amigo do Chefe Borboleta concordou de pronto. Ficamos sabendo que ele tinha uma pequena oficina de conserto de bicicletas e morava com a mãe num bairro afastado. Foi uma grande surpresa. Na primeira atividade da tropa Sênior (onde ele foi como assistente) demonstrou um conhecimento que nos deixou boquiabertos. Nunca tínhamos visto nada igual, pois se declarara nunca ter sido escoteiro em sua vida.
Sabia como ninguém aplicar amarras, costuras de arremate, dar nós, mostrou-nos novas técnicas de armar barracas de duas lonas suspensas, sabia como construir pioneirias só com cipós, para nós todas novas, nadava como um peixe, nunca se cansava, era o primeiro a levantar (sempre cantando o Rataplã) e o último a se deitar. O que marcou mesmo o chefe Borboleta foi uma excursão de cinco dias feita nas férias de janeiro (lá pelos idos de 1959) onde iríamos percorrer aproximadamente 450 quilômetros entre ida e volta de bicicleta, por quatro cidades, sendo duas com atividades interessantes.
Na primeira delas soubemos por fonte não autorizada que existia um Grupo de Bandeirantes. Isto chamou a atenção dos seniores e eu também fiquei interessado. Nunca tínhamos visto uma bandeirante. Só de histórias e de algumas leituras aqui e ali. Na segunda era aniversário de um Grupo Escoteiro amigo de uma cidade localizada no Vale do Rio Doce.
No dia marcado partimos pelas cinco da matina. Borboleta foi conosco. Eu era um convidado da tropa Sênior. A primeira cidade ficava a uns 110 k, atrás de um pico famoso em nossa cidade e não conhecíamos o caminho. Não foi fácil. Só subida. Nestas, empurrávamos as bicicletas a pé. Éramos um total de 15 sendo 12 seniores e três chefes. Borboleta era o mais animado. Enquanto estávamos sem ar na subida, ele cantava a Arvore da Montanha a pleno pulmões. Alegre, prestativo e o nosso salvador quando alguma bicicleta dava defeito. Lembro-me como se fosse hoje que cruzamos com um jipe cheio de “capuchinhos” que nos benzeram com o sinal da cruz!
Chegamos por volta das nove da noite. Encontramos um pequeno campo de futebol e armamos as barracas. Ninguém por perto. Dormimos. Acreditamos serem todos pacíficos e não montamos guarda. Levantamos cedo. Lá pelas seis e meia. Surpresa. Uma enorme multidão fazia círculo em volta das barracas. O prefeito chegou pouco depois. Deu-nos as boas vindas. Não sabíamos como agir. Convidaram-nos para um almoço no Lions Club da cidade. E sabe quem praticamente nos chefiou? O meu amigo Chefe Borboleta. Ficou amigo do Prefeito, do Delegado, do Juiz e não sei de mais quem.
Na hora do almoço, apareceram as Bandeirantes, olhe meus amigos, um espetáculo sem igual. Eram mais de 150 moças. Nenhum chefe masculino. Ficamos embasbacados. Muitas de cair o queixo, lindas! Muito bem uniformizadas de blusa branca, saia azul e um lencinho dobrado no pescoço com um delicioso chapeuzinho azul. Os seniores perderam a voz! Nada diziam a não ser admirar o que nunca tinham visto.  Estavam formadas em fila de três, me parece por “batalhões”, como se fossem desfilar. Maravilha. Bandeirantes militares. Fizeram algumas evoluções ao som de uma fanfarra, muito boa por sinal e depois de algum tempo partiram em direção ao centro da cidade, marchando garbosas, sem dizerem adeus. Nenhuma delas. Não houve apresentação e assim como chegaram partiram.
Após o almoço perguntamos onde era a sede delas. Disseram-nos que era proibida a entrada. Mas insistimos e lá fomos. Não encontramos ninguém. Mesmo sendo uma cidade pequena, não vimos nenhuma de uniforme a passear pela rua. Sumiram! Não entendemos nada. Era ou não um núcleo de Bandeirantes? Ou era uma imitação fazendo a vez de jovens militares? Nunca tivemos a resposta.
Nada mais havia a fazer ali. Nosso programa era de partimos a tarde e assim foi feito. Anoiteceu e uma bela lua cheia iluminava a estrada. A estradinha de terra foi ótima. Só descida. Mais de quarenta quilômetros percorridos pela noite adentro. Foi aí que aconteceu a tragédia. Numa curva, em grande velocidade, levei um grande tombo, rolando pelo chão e terminando em uma cerca de arame farpado.
Dito e feito. Fratura na perna. Osso pontudo aparecendo. Uma dor incrível. Todos em volta assustados. Eu gemendo baixinho, mas querendo mostrar uma força que não tinha. Era impossível suportar, principalmente vendo o osso e o sangue que saía aos borbotões. Nesta hora conheci o verdadeiro Chefe Borboleta. Mandou-me esticar a perna e sem avisar mexeu com o osso e ele voltou para o lugar. Uma dor terrível. Gritei alto. Tirou seu lenço e pediu outros cinco. Amarrou forte em cima da fratura. Saiu e voltou com quatro pedaços de madeira. Amarrou em cima da sua atadura. A dor continuava. Colocou-me nas costas e partiu a pé. Os outros levaram minha bicicleta e a dele.
Chegamos numa fazenda e o proprietário foi muito gentil. Tinha uma pequena charrete e após colocar um cavalo nela, nos levou até a próxima cidade. Graças a Deus lá tinha um médico que sorriu e cumprimentou a todos com a mão esquerda. Disse ter sido escoteiro quando jovem. Ótimo. Engessou. Mas sabia que ali tinha terminado minha excursão. Voltei para casa no noturno da Vale do Rio Doce. Os outros partiram para o acampamento do grupo amigo. O Chefe Borboleta com eles.
Fiquei sabendo que foi uma grande atividade, O chefe Borboleta ficou no grupo por mais alguns anos. Soube depois que resolveu ir tentar a sorte em Serra Pelada, época do inicio da garimpagem de ouro e que estava atraindo muitos brasileiros. Nunca mais ouvimos falar dele. Quem sabe ele aparece um dia e conta suas aventuras na Amazônia? Nada dele é impossível de acontecer!