Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 11 de maio de 2013

Conversa ao pé do Fogo de Conselho. Um comentário sem futuro.




Conversa ao pé do Fogo de Conselho.
Um comentário sem futuro.
  
Vacina Bitipiniana para Chefes Escoteiros. (XP456).

                          Há tempos pensei que poderiam fazer uma vacina para chefes escoteiros e dirigentes. Claro, só para os que precisam. Os que já foram vacinados não. Tentei no Instituto Butantã. Não me levaram a sério. Peguei um avião da ponte aérea (fiquei quatro horas no Aeroporto da Pampulha e mais três no Galeão) e fui até o Bio-Manguinhos – Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos no Rio de Janeiro e nada. No Brasil acho que não ia encontrar nenhum, mas tentei a FUNED – Fundação Ezequiel Dias em Minas Gerais. Riram na minha cara e me chamaram de louco. Claro, podem achar que sim, pois nunca foram escoteiros. Só tinha uma saída, pegar um avião da Pan American e ir aos Estados Unidos. Desculpe, sei que a Pan pediu falência a muitos e muitos anos e olhem que diziam que os ônibus espaciais teriam seu logotipo no futuro, mas ela pelo menos tratavam com fidalguia os escoteiros. Por isto viajei por ela. Seus diretores todos foram agraciados com a Eagle Scout e quando me viram de uniforme fui tratado como se fosse Baden Powell em pessoa. Minha nossa!

                  Bem lá chegando procurei a BSA. Um prédio enorme. Um Executivo Escoteiro me recebeu com honras de Chefe Estado. Serviu uísque dos bons. Gosto de coisas boas e aquele Jack Daniels graças a Deus não era do Paraguay. Adorei. Ele disse que se impressionou com meu uniforme caqui de calça curta e meu chapelão de três bicos. Não disse para ele que agora temos um novo, vários tipos. Podemos escolher. Ele achou que eu era o Escoteiro Chefe do Brasil! Risos. Eu? Só ele para achar isto. Preferi comentar que aqui no Brasil não tem Escoteiro Chefe, só presidentes e diretores. São muitos! E adoram seus cargos. Mas olhe apesar dos seus mais de dois milhões de escoteiros fiquei um pouco decepcionados com eles. O tal Executivo só falava nos mais de 5.000 profissionais que tinham no plano de metas para os quatro milhões, em dobrar a receita atual (não me disse quanto) e fazer o maior Jamboree de todos os tempos. Totalmente de graça! Incríveis estes americanos. Neste eu acho que vou.

Afinal entrei no assunto que me levou até lá. Me ouviu atentamente. Não riu e não chorou. Esta é a vantagem dos gringos. “Business-Business” Amigos, amigos, negócios a parte. Ainda bem. – Olhe eu disse, procuro uma vacina que contenha em sua fórmula o seguinte:

- Crescimento em qualidade e quantidade urgente para o Brasil para chegarmos aos quinhentos mil escoteiros. Necas de setenta ou oitenta mil que está abaixo de muitos países sul americanos bem menores que o nosso país.
- Mudança geral na maneira de pensar de todos os dirigentes; Que eles procurem ouvir mais e decidir menos. Que eles façam pesquisas amplas antes de qualquer mudança.
-  Que todos procurem saber que são meros colaboradores, que esta procura de pertencer à casta de dirigentes seja feita de maneira amiga, gentil e fraterna.
- Mudanças completas nos estatutos visando uma participação efetiva de todos os grupos no destino de nosso movimento.
-  Abraços e saudações entre todos os adultos que atuam no escotismo deste o chefão ao lobinho sem aquela pose de Chefão ou de "Velho" Lobo. Afinal não somos todos irmãos?

                Ele me olhou enviesado e riu. Scout ele disse. Já passamos por isto hoje não. Não posso ajudar. – Voltei para casa triste. Fazer o que? Afinal somos dependentes e aprendemos a aceitar tudo sem reclamar. O jeito é ficar sonhando. Afinal sonhar é de graça! Mas quem sabe um dia aparece esta vacina? Sei não. Vai ser uma guerra se aparecer para os “homes” lá de cima aceitarem. Sei que não. Vamos torcer ou então aceitar o que está aí. Disse para um amigo que em breve tudo que BP nos deixou ficará na história e quem sabe num museu escoteiro. Eles os donos do poder sabem que a rotatividade é grande e é bom que apareçam mais e mais novatos. Eles nunca irão reclamar! E tome mudanças!   

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os maravilhosos contos de Panchito Flores. Um Escoteiro aventureiro como eu fui.



Lendas escoteiras.
Os maravilhosos contos de Panchito Flores.
Um Escoteiro aventureiro como eu fui.

                      Nunca esqueci Panchito Flores, foi da Patrulha Onça Parda da mesma tropa onde fui da Raposa. Apesar de patrulhas diferentes havia uma amizade entre nós bem diferente dos demais da patrulha. Eu gostava de ouvi-lo contar histórias e ele parecia gostar também das minhas. Desde pequeno tinha aquele “it” de contador de historias. Eu sei que quem conta um conto aumenta um ponto. Mas não seria isto o doce sabor delicioso de uma boa história? Quando passei para Sênior Panchito Flores foi embora com seus pais. Passaram-se anos até que nos encontramos novamente. Era normal quando voltava do meu trabalho parar no bar Aurora e tomar um chope com dois quibes fritos. Sentava em uma mesa e refastelava de um dia da “Boca do Forno” na usina siderúrgica que trabalhava. Ficava pouco tempo e logo embarcava no ônibus que me levava a minha morada.

                      Lembro que um dia ao procurar uma mesa, pois o bar estava cheio me dei conta que lá estava Panchito Torres. Mais velho é claro, mas não podia ser outro. Aproximei-me e ele também me reconheceu. Efusivamente ficou de pé e gritou alto em posição de sentido: - Sempre Alerta Escoteiro Osvaldo! Fiz o mesmo. Juntando os “cascos” gritei – Bem vindo amigo Panchito! Sempre Alerta! Sem perceber atraímos atenções gerais e sorrisos dos que estavam ali. Depois de abraços sem beijos nos sentamos para colocar a conversa em dia. E como rendeu. Dei conta por volta de uma da manhã. A barra ia pesar com a Célia. Fazer o que? Panchito era demais. Contou-me em pormenores as cidades por onde passou o que fez e os grupos escoteiros onde atuou. Combinamos de nos encontrar ali no Bar Aurora toda quarta feira do mês. Ele nunca faltou e eu também. A última vez notei que ele estava alegre, dando risadas, e sabe, é sempre bom estar em companhia de pessoas assim.

                    Panchito! Hoje você está na sua eim? - Pois é Osvaldo, hoje lembrei que poderia estar rico, muito rico, mas não acreditei e deixei a oportunidade passar. Mas quem não passa pela vida nunca aprende não é? Dizem que quem passa aprende mais que quem fica parado. – Verdade amigo, verdade. – Osvaldo, lembra-se da enorme Pedra que existia em Jardim Formoso? – lembro sim, A chamavam de Pedra da Laguna. Fui lá uma vez e jurei nunca mais voltar. Que subida! E olhe que era bom de escalada. – Pois é. Aconteceu comigo também, mas não tinha jeito, a patrulha sempre querendo saber tudo da pedra. Eu achava que ela tinha um certo encantamento. Dizem tinha mais de mil e oitocentos metros de altura. Não sei se era tudo isto. Você deve lembrar que acompanhando a pedra tinha um recôncavo de mais de seiscentos metros de extensão e fui aí que a história começou. Achamos que se fizéssemos uma picada até na ponta do recôncavo teríamos uma vista maravilhosa do Rio Formoso e outras cidades. Assim foi feito. Combinamos de voltar munidos de bons facões e machadinhas. Não seria difícil. O terreno era coberto por uma vegetação rasteira coberta por enormes samambaias. Mais de dois metros de altura.

                   Vi que a história seria longa. Mais uma vez iria enfrentar os olhos da minha querida esposa. Risos. Grande Célia. Dizem que ao lado de um péssimo Escoteiro sempre tem uma grande mulher – Mas voltemos a Panchito. – Pois é Osvaldo, mochila nas costas lá fomos nós. Bem cedo que era para aproveitar os dois dias. Sábado e domingo. Metemos a cara nas samambaias. Aprumei o rumo SSW para não haver duvidas e cair pelas beiradas da encosta e fomos em frente. Meia hora para cada um de facão e machadinha. Levou o dia inteiro. Levamos lanche para o primeiro dia e a velha e gostosa sopa de macarrão com linguiça para a noite. Interessante. Achei que em menos de quatro horas chegaríamos ao ponto. Nada disto. Começou a escurecer. O melhor a fazer era acampar por ali. Dia limpo, céu sem nuvens claro que não iria ter tempestades. Fizemos das estrelas nossas barracas. No domingo bem cedo continuamos. Ao meio dia chegamos na encosta. Não dava para ver nada.

                Tentamos limpar o mato e as samambaias na busca de uma ponta para ver o vale, notamos que pisávamos em umas pedras bem colocadas em forma de escadaria. Interessante. Ela descia pela encosta como se fosse um enorme caracol. Não dava mais tempo. Tínhamos que voltar. Engrenamos cinco sábados e domingos seguidos. Foi um custo convencer o Chefe Jessé da nossa nova atividade. Mas eram outros tempos. Patrulhas faziam escotismo no campo e não na sede. Bem cedo no sábado lá estávamos nós percorrendo com nossas bicicletas os vinte e dois quilômetros que separavam nossa cidade até o pé da Pedra da Laguna. Queríamos desvendar a todo custo o que seria a escadaria. No topo não tinha nada. Nenhum rastro de construções antigas. O que seria não sabíamos. Meio dia e chegamos na ponta da encosta. Notamos que o mato e as samambaias cresceram onde capinamos na escadaria. Impossível crescer assim em uma semana! Meninos, jovens cheios de vida não desanimamos. Escada abaixo eis que lá estávamos nós a procurar o mistério da escadaria sem fim.

                        A escadaria fazia a volta no recôncavo e na pedra. Notamos que para dar a volta nela precisaríamos de mais de oito fins de semanas. Não desanimamos. Foi Locardo um Escoteiro caladão que nos mostrou ao lado da escadaria um pequeno busto de uma Deusa Inca coberta de poeira e barro. Voltamos, pois o horário já estava avançado. Levamos conosco o busto. Na segunda feira mostramos para o Diretor do Colégio Dom Bosco o padre Esculápio. Ele achou que tínhamos roubado e deu o golpe do João sem braço. Recolher para averiguações. Bem meninos inocentes acreditam em tudo. Voltamos de novo na Pedra da Laguna. Descobrimos um enorme Cálice pesado, mais de trinta quilos. Foi difícil para trazer. Só com uma maca improvisada de camisas escoteiras. Você sabe, elas sempre foram uma salvação para nós. Desta vez procuramos o Professor Pinta Silgo. De novo em nome da ciência nos tomou o cálice.

                         A história se espalhou. No domingo seguinte centenas ou milhares de pessoas da cidade estavam lá tentando achar algum tesouro. Uma bagunça grande. Ninguém se entendendo. Foi necessário a policia e o prefeito mandou colocar uma cerca. Veio da capital uma equipe de arqueólogos. Não ficamos sabendo de nada. O tempo passou. Semana passada lendo um jornal da cidade li sobre as descobertas. O filho do Professor Pinta Silgo vendeu para um Museu de Berlim o Cálice por quarenta e cinco milhões de dólares e o sobrinho do Padre Esculápio vendeu para o museu de Madrid o Busto da deusa Inca por cento e vinte e cinco milhões de dólares! Osvaldo, não deu para chorar. Dizem que rir é o melhor remédio não achas?

                        Despedimo-nos e pela rua deserta era mais de meia noite fiquei pensando em tudo que aconteceu conosco no passado. Eu mesmo tinha muitas histórias para contar, mas não encontrei riquezas. Consegui sim fazer de minha vida uma felicidade que muito me valeu. Meu ônibus só chegou às duas da manhã. Agora era enfrentar a “baixinha”. Muitas e muitas quartas feiras eu e o Panchito Flores trocamos histórias. Aumentando um ponto ou não. Isto é que realmente dá sabor ao conto. Saber florear, procurar transmitir no papel o perfume das flores silvestres, tentar dar a visão ou a dádiva de ver um sol nascer em pontos distantes. Assim era Panchito Flores. Um dia vim para a capital. Esqueci de trocar endereços com ele. Nunca mais o vi, mas nunca mais esqueci suas histórias. São muitas. São coisas de escoteiros, coisas de aventuras. Só quem as teve sabe como é! 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Lendas escoteiras. Judas... Da galileia.



Lendas escoteiras.
Judas... Da galileia.

                  Existem acasos e ocasos. Ocasos porque foi seguindo um belo por do sol e acaso porque sem querer fui parar em Galileia. Don Janvier de Waldívian me procurou um dia. Osvaldo eu estou precisando achar bons curtumes para me fornecer boas “vaquetas” você sabe, aqueles couros curtidos e preparados à mão. São para calçados finos de uma fábrica em Perúgia na Itália. Disseram-me que são calçados especiais e estão à procura de bons couros. Como sócios podemos ganhar algum. Ideia na cabeça pé no caminho e lá fui eu por informações encontrar o Curtume do Salgado em Tainhomim. Na época tinha uma vespa que mais quebrava que andava. Disseram-me que não era longe, uns duzentos e trinta quilômetros de estrada de chão batido. Isto se fosse pela serra da Bodoqueira. Quatro horas depois a pobre da vespa começou a pipocar. Vi uma estradinha pequena e uma placa – Galileia, seis quilômetros – A vespa aguentou firme até lá. Anoitecia. Cidadezinha deserta. Um guardinha me mostrou a pensão da Dona Inês. Melhor pernoitar. Amanhã consigo algum eletricista para ver o que tem a vespinha.

               Não vi a Dona Inês. Um garoto de uns quinze anos me atendeu. Um quartinho simples e disse-me que o jantar seria até às oito da noite. Banho no chuveiro do corredor, e lá fui eu para o restaurante. Pequeno, oito ou dez mesas. Apenas eu de hospede na hora. Sentei e logo trouxeram uns paizinhos deliciosos. Depois uma sopa de cebola estupenda. Ainda trouxeram um arroz solto, feijão preto e costelinhas de porco frita com torresmo. Deus do céu! Eram quase oito da noite e aquele manjar dos deuses iriam me fazer mal e muito mal. Mas dizem que escoteiros são gulosos e não medem as consequências. Comia gulosamente bebericando uma cervejinha e uma senhora escura, gorda, cabelos presos por um lenço azul e de uma simpatia tremenda sentou-se ao meu lado. – Olá, sou a Inês. Seja bem vindo a minha humilde pensão! Simpática. Muito. – Já conhecias Galileia? – Não eu disse. – Aqui já foi uma bela cidade. Chegamos a ter mais de trinta mil habitantes. Hoje? – Nem oito mil e a cada dia mais e mais moradores se mudando.

                 - Fiquei ali ouvindo sua história sobre a cidade. – Olhe, ela disse – A mais de quarenta anos Galileia crescia a olhos vistos. Tínhamos quatro olarias, um enorme curtume e o Prefeito pretendia montar uma indústria têxtil e uma malharia. Foi nesta época que Judas da Galileia nasceu. A Parteira saiu correndo ao ver a marca de corda em seu pescoço. Seus pais arregalaram os olhos. Logo o povo todo da cidade sabia. O tabelião Juventino benzeu o menino, mas aceitou registrá-lo como Judas da Galileia. O porquê sua mãe escolheu este nome ninguém sabia. Judas cresceu se escondendo nas sombras da cidade. A meninada quando o via saia correndo atrás gritando Judas! Judas! Traidor de Jesus! – Quando ele fez dezesseis anos um dia na Rua do Caroço ele parou – Virou para a molecada, botou a língua para fora, dizem alguns que mais de meio metro e deu um urro tão grande que todos correram como corre o diabo da cruz. Deste dia em diante ele andava no meio da rua e ninguém aparecia nem para olhá-lo. As janelas fechavam a sua passagem.

                   Quando ele fez vinte anos queria ir embora da cidade. Não conseguia emprego. Uma tarde uma turma de escoteiros chegou à cidade de bicicleta. Eram uns doze aparentando quinze a dezessete anos. Armaram barracas no campinho do Zé das Coisas e atraíram atenção de boa parte da meninada. Judas da Galileia também foi lá. Um dos escoteiros o chamou para jantar com eles. Não perguntaram da marca de seu pescoço, não perguntaram nada. O trataram muito bem. Foi à primeira vez em sua vida que Judas da Galileia foi bem tratado. Até seus pais não conversavam com ele. Judas da Galileia chorou muito quando eles foram embora. Foram dois dias os mais lindos que teve em sua vida. Deixaram com ele dois livros que disseram ser do fundador. Escotismo para Rapazes e o Guia do Chefe Escoteiro. Judas da Galileia ficou uma semana lendo os livros. Leu uma, duas, três e até quatro vezes.

                  Judas da Galileia queria ser Escoteiro. Sonhava ser Escoteiro. Na sua cidade seria difícil. Não tinha grupo e ninguém interessado em organizar um. Só havia uma solução. Ele mesmo fundar um. Mas como? – Dona Inês me cativava com sua narrativa. Era uma emérita contadora de histórias. Sabia como falar, como mostrar e seus gestos eram perfeitos. – Sabe Seu Osvaldo, eu nunca me aproximei de Judas da Galileia. Eu tinha medo. Achava que ele podia ser o próprio Judas reencarnado. O traidor de Jesus. Mas ele me procurou um dia. Olhou-me com uns olhos tão chorosos que não pude dizer não. – Pediu se meu filho o Florindo podia participar. Chamei florindo e ele de cabeça baixa concordou. Outros pais ficaram sabendo. Ele conseguiu oito meninos. Andava com eles para todo lado. Marchando, fazendo acampamentos, fazendo nós, sinais, tinham umas bandeirolas que se divertiam na praça e assustar as moçoilas com os recados que iam e viam dos quatro cantos da cidade.

                 - Lembro bem  que foi em um domingo a tarde que Anselmo Três Dedos chegou à cidade com mais de vinte bandidos. Cercaram tudo. Prenderam o delegado, o prefeito, o juiz e mais oito ordenanças na cadeia local. Vários bandidos deram ordens para ninguém sair de casa. Se uma janela se abrisse eles entravam e matavam todo mundo. Um medo geral. O gerente do Banco do Brasil foi obrigado a abrir a agencia e o cofre. Foi nesta hora que Judas da Galileia adentrou a cidade com seus oitos escoteiros vindo de um acampamento. Notou a movimentação dos bandidos. Mandou os escoteiros correrem para suas casas. Anselmo Três Dedos o viu parado em frente à fonte da praça. Gritou para ele correr. Ele não correu. Devagar com seu olhar mortífero se dirigiu até a onde estava Anselmo Três Dedos. Colocou a mão em sua testa. Anselmo gritou. Um grito horrível. Mesmo assim puxou o gatilho do seu quarenta e cinco. Seis tiros. Judas da Galileia continuou imóvel. Anselmo Três dedos caiu morto. Parecia que um raio o matou. Estava queimado feito carvão.

                        Coloquei os braços na mesa. Parei de comer. Olhava sem tirar os olhos de Dona Inês. – Ela continua séria, contando sua história infernal. – Os bandidos que assistiram aquilo saíram correndo da cidade. Não ficou ninguém. Judas da Galileia foi devagar até a praça e sentou ali, naquele banco amarelo. – Olhei pela janela e vi o banco – Todos os políticos vieram abraçar Judas da Galileia. Mas ele estava sentado, calado, de olhos abertos e morto. Não havia mancha de sangue nos buracos das balas. Só na marca da corda de seu pescoço escorria sangue. Ninguém mexeu no corpo. No dia seguinte o corpo desapareceu. Ninguém nunca mais soube de nada. – Parecia que uma praga caiu sobre a cidade. A cada mês, a cada ano famílias e famílias iam embora. Hoje a cidade morreu. Aqui não se vê alegria, ninguém brinca ninguém canta. Dizem e eu posso afirmar que a noite sempre está lá no banco da praça, o mesmo amarelo, Judas da Galileia. Fica lá hora sem se mexer. De vez em quando parece que se ouve um tal de Rataplã cantado com voz rouca.

                 Ela se calou. Olhei para a praça. No banco amarelo vi um vulto. De uniforme caqui e chapéu de três bicos. Assustei-me. Sai correndo em direção à praça. Precisava ver de perto. No banco não tinha ninguém. Voltei e ouvi baixinho alguém cantando o Rataplã! De novo não vi ninguém. Dormi pensando em tudo aquilo. No dia seguinte Joel Boca Torta arrumou minha vespa. Parti sem dar adeus a ninguém em Galileia. Nem a Dona Inês. Perguntei por ela ao menino porteiro. – Minha mãe morreu há muito tempo ele disse. Aqui só minha Vó e minha Tia. Falar mais o que? Ainda bem que fiz bons negócios em Tainhomim. Nunca mais voltei em Galileia. Outro dia procurei no mapa. Nada. Olhei no Google, nada. Mas acreditem, havia um Judas da Galileia. Lá constava que era Escoteiro no céu. Foi perdoado e agora faz parte da tropa do além. Deus me livre. Que ele seja feliz e não venha à noite cantar para mim o Rataplã!       

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Conversa ao pé do fogo. O belo do escotismo está em sua simplicidade.



Conversa ao pé do fogo.
O belo do escotismo está em sua simplicidade.

                     Faça escotismo não faça a guerra. Uma metáfora interessante. Hoje me questionei sobre muitas coisas. – Quanto tempo nós escotistas ficamos com nossos jovens? – Duas horas por semana? Três? Poderíamos somar as atividades extra sede, mas sei que na maioria dos grupos elas não são tanto assim. Nestas horas procuro ver se nosso caminho percorrido foi ou está sendo realmente frutífero. Gosto muito de ver o vídeo de Ian Hislops, detalhando o Escotismo para Rapazes de Baden Powell. (Youtube Escotismo para Rapazes segundo Ian Hislops-Ficheiro único(pt-pt)). Claro ele faz uma analise subjetiva do escotismo de BP. Disseca de uma forma simples e deliciosa o livro Escotismo para rapazes. Pergunto-me se o passado e o presente não podiam andar na mesma trilha. Muitos acham que não e dão centenas de exemplos. Então me pergunto novamente – Quanto tempo ficamos com os jovens por semana? Porque a pergunta?

                          Estamos hoje com uma preocupação constante com o Escotista. Seja na Alcatéia seja na tropa. Desenvolveu-se uma parafernália de cursos, visando aprimorar e qualificar o adulto para que possa desenvolver bem suas funções de líder Escoteiro. São centenas de formadores por todo o Brasil dando todo apoio aos chefes na sua labuta na Alcatéia e na tropa. Mas eu me pergunto. Será isso excencial? Tantas informações, técnicas, para apenas duas ou três horas por semana? É necessário mesmo? Convenhamos que se olharmos um simples professor de uma escola secundária ele não recebe tantas informações assim para desenvolver sua atividade. Bem não cabe aqui comparar, mas vejam onde quero chegar. Nos primórdios do escotismo BP sentiu que não poderia deixar os jovens ao “Deus dará”, sem ter pessoal qualificado para ajudá-los no seu novo sonho aventureiro. Nos bosques, matas via-se meninos a correrem como se estivessem fazendo tudo àquilo que leram nos fascículos que ele escrevia. Ansiavam aventuras. Viver na natureza. Fazer o que ele descreveu tão bem de atividades aventureiras.

                           Para testar as habilidades e conhecimentos BP fez acontecer o primeiro acampamento Escoteiro em Browsea. As bases para deixá-los fazer fazendo foram assentadas. O tempo foi passando. Até alguns anos atrás (acredito até a década de oitenta) tínhamos três cursos básicos para que o adulto pudesse adquirir conhecimentos e chegar a Insígnia de Madeira, sem esquecer uns três ou quatro técnicos. Nestes cursos ele vivenciava muito a vida ao ar livre, os acampamentos, vida em equipe, e com isto o método e o programa foram mantidos na formula que BP acreditava. Aconteceu que muitos jovens começaram a abandonar o escotismo. Não por este motivo, outros que irem especificar oportunamente. Os adultos começaram a mudar para atraí-los. Não era mais uma continuidade nas tropas chefes advindo da própria tropa. Começou-se a criar uma estrutura burocrática que sem perceber dominou todo o movimento escoteiro. Os cursos foram alterados. Experiências e experiências foram feitas. Muitas sem esperar os resultados e implantadas como fato consumado.

                            Criamos sem perceber uma oligarquia que decide em nome dos jovens, fala pelo jovem e acredita piamente o que eles os jovens desejam e sonham. Claro, não esqueceram as belas coisas do método Escoteiro. Mas sem querer alienaram o jovem. É comum escotistas exaltarem seus feitos dizendo que a atividade foi linda! Que isto foi ótimo, que “meus” escoteiros adoraram. Esqueceram-se de perguntar os interessados e muitas vezes até perguntaram, no entanto a maneira usada para a pesquisa não deixa dúvida que o jovem vai dizer que gostou. Difícil dizer se é verdade ou não. De noventa para cá a saída foi enorme. A procura aos poucos foi desaparecendo. Vejam o uniforme. Muitos escotistas dizendo o que o jovem vai ou não dizer a respeito dele. Outros até comentam que agora a procura será bem maior com o novo uniforme. Alguns chegaram a afirmar que fizeram pesquisas (?) e muitos jovens não entravam por achavam o uniforme “feio”! Pelo que sinto o novo uniforme ou traje vai atrair centenas de jovens de volta ao movimento. Acreditam nisto? Os que vierem foram “comprados” por uma vestimenta?

                             Não sei, posso estar enganado, mas estão a cada dia complicando mais a estrutura Escoteira. Esqueceram que não somos profissionais, somos voluntários, temos nossas obrigações familiares e profissionais e o escotismo devia ser uma atividade que não assoberbasse tanto nosso tempo. Tentam toda sorte de dar conhecimentos nos cursos de formação. Para que? Duas ou três horas por semana? Não vou me iludir, sei que a responsabilidade é grande, mas o objetivo é um só. Formar jovens com ética, amor, fraternidade, honra respeito tudo isto vivenciado na Lei e na Promessa Escoteira. Mas afirmo se não estivéssemos complicando, se pensarmos como BP pensou, em deixar que o jovem aprenda a fazer fazendo, que lá na Patrulha ele vivencie sua turma de amigos e amigas, que eles pudessem fazer seu próprio programa baseado na orientação do adulto conforme prescreveu Baden Powell, quem sabe a participação não seria mais efetiva?

                          São duas ou três horas por semana. Só. O que precisamos? Simples. Motivar ao jovem participar espontaneamente, sentir que ele gosta de sua “turma”, que ele foi lá em uma tarde de sábado sabendo que ele seria mais um. Que ele poderia dar opinião, que ele fizesse o que gostaria de fazer. O Sistema de Patrulhas é simples. Na escola e em seu bairro ele vivenciou outras atividades, agora gostaria de encontrar outras. Muitas vezes nós mesmo complicamos tudo. O jovem na sede quer ver e sentir tudo aquilo que não vivencia fora de lá. Ficar em forma por mais de quinze minutos com alguém falando para ele, com alguém pegando em sua mão para ensinar, com Monitores brigões, com exigências descabidas, com ameaças gerais que costumam acontecer ele logo, logo vai desistir.

                         Ainda acho que dois ou três cursos de formação seriam suficiente. Estamos enchendo os fins de semana com cursos e cursos e os resultados ainda não foram animadores. Escotismo não tem segredo. Qualquer um que entenda os objetivos do método e do programa, do fazer fazendo, do Sistema de Patrulha vai sem nenhum problema atingir o sucesso esperado. Já disseram e eu torno a repetir alguns temas que  John Thurman (antigo Chefe de campo de Giwell Park) disse em seu artigo os sete perigos: (os que não leram podem pedir o artigo completo).


2. Centralização. Acampamentos Nacionais, Regionais e Jamborees são muito bons, mas quando muito frequentes, podem ser desastrosos. Devemos dar ao Escotista a maior oportunidade possível para trabalhar com a sua Tropa e infundir-lhe os bons princípios e não juntar os rapazes em grandes massas para um grande espetáculo. Às vezes existe tal número de atividades organizadas pelo Distrito ou Região que praticamente não resta tempo ao Escotista para trabalhar com as Patrulhas ou Alcateias;

4. Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes como para os rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de "amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.

6. Austeridade demasiada. Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo.

7. Trabalhar para fazer super escoteiros. Devemos estar conscientes, no que diz respeito a adestramento, de não tratar de começar um curso a partir de onde deixamos o anterior, sem pensar que necessitamos começar e recomeçar sempre pelas bases e os princípios para progredir a partir destes.

Para terminar, recordemo-nos que Baden-Powell, em 1938, proclamava com orgulho e alegria o número de três milhões e meio de Escoteiros no mundo. Agora podemos ver um movimento que ultrapassou os oito milhões, (1957) devido justamente à sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo.

Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou.

OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.

Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.

Feliz palavra de John Thurman. O mundo está mudando, e a mudança que o escotismo tem feito não está dando certo. Muitos rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades. Precisamos meditar. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Jogando conversa fora. Inspeção.


Jogando conversa fora são artigos em série onde quatro chefes discutem temas que no dia a dia vemos em nossas atividades escoteiras. Eles simplesmente levantam o problema que deixa para os leitores chegarem as suas próprias conclusões. Este é o terceiro da série. Os dois anteriores já foram publicados aqui. Todos os oito disponíveis em PDF no meu e-mail. elioso@terra.com.br


Conversa ao pé do fogo. Parte III
Jogando conversa fora. Inspeção.

                    - Contei para um Chefe no curso e ele deu boas risadas – Por quê? Achou que se ele fizesse isto seus jovens iriam abusar. – Disse isto mesmo? – Disse. Falei da minha experiência em convidar Monitores para inspecionar o campo de chefia. – Mas eu já faço quase na inspeção Monitores me acompanham. Não é assim a inspeção de Gilwell? – Acho que sim – O Diretor Técnico resolveu “piruar” – A inspeção de Giwell são inspeções com caracteristicas daquelas utilizada em Gilwell Park. Todos nós fazemos as inspeções nestes moldes – O que seria? – Obrigado Matheus (o garçom e proprietário). E o tira gosto? Já vem? Hoje corações de galinha? E espeto de lombo? Boa meu amigo. Vamos aguardar – Hoje estavam em cinco. O Diretor Técnico avisou em casa e resolveu participar.

                       - O shope foi servido. Um silêncio sepulcral. A Akelá estava calada. Quem sabe seu namorado deu o “bolo”. Alguém disse para ela – Coração e shope só prestam se estiverem bem gelados. – Ela respondeu, se ele quiser pode partir meu coração. Só não pode derrubar o meu copo de chope - Todos caíram na risada. O pratinho de coraçãozinho acabou. Pediram mais – Mas voltando à inspeção. No último curso um formador tentou explicar como ela pode ser um grande elemento de apoio na utilização do Método Escoteiro e no Programa de Jovens – Não me vai dizer que falou o de sempre: Olhar a Higiene pessoal, ver o garbo e disciplina, ver a união coletiva, ver a criatividade em pioneirias claro se for no campo, claro se a patrulha é democrática e suas atividades físicas. – Isto mesmo. Ele não esqueceu nada. – Ele comentou que a inspeção é importante nas reuniões e no campo? E que podem existir inspeções surpresas? – Matheus! Mais uma rodada de chope e olhe traga três porções de coraçõezinhos.

                      - Matheus não demorou – Uma pausa para um belo gole. Alguém comentou – “Ontem eu bebi para esquecer, bebi tanto que esqueci. Hoje tou bebendo para lembrar” – Gargalhadas gerais. Sabiam que não era verdade. Eles se divertiam brincando. – Olhe, dizem que não, mas eu também gosto de inspecionar os lobinhos. Sempre em matilhas. – Soube de um grupo que tem uma inspeção enorme na sede. Cada tropa é responsável durante uma semana por ela. A tropa limpa, varre, tira a poeira de tudo, e é responsável pelo cerimonial da bandeira naquele dia. Dizem que lá eles têm excelentes resultados. – Eles hoje em cursos fazem também as inspeções de Giwell? – Depende do curso sim – Eu vi casos que não gostei. Chefes sujando o campo só para dizer que não éramos tão bons! – Não é bom isto. Acho que a inspeção deve ser delicada e não ofender e nem ferir ninguém.

                    - Eu sempre deixo que os membros da chefia visitem as patrulhas separadamente. Isto assegura que toda a tropa esteja simultaneamente sob inspeção e nenhuma Patrulha fica esperando. – Acho isto correto, você faz o certo. – Já vi em uma tropa chefes comentando erros nos próprios campos de Patrulha ou quando em reunião direto com o inspecionado – Um erro não acham? – Claro que sim. – Matheus, a saideira! Já? Mas é cedo. O Combinamos que devíamos controlar a bebida e nosso horário e já são onze da noite. – Você está certo – Mas continuando, aprendi que toda inspeção deve ter certo padrão. Incentivar a todos a alcançar o padrão previamente discutido com os Monitores via Patrulha. – Eu costumo dar uma bandeirola as que atingirem o padrão.  Tenho bandeirolas para ser usada até o próximo acampamento ou no mês seguinte nas reuniões.

                      - O chope estava delicioso. No ponto! – O Diretor Técnico foi o último a comentar – As inspeções servem para incentivar e não desencorajar. Elogiar antes e se tiver que criticar só com todos e construtivamente. Os jovens respeitam a justiça e tem sentimentos reais da imparcialidade – Racharam a conta. Antes de partir um Assistente não deixou de dar sua contribuição – Quem bebe dorme, quem dorme não peca, quem peca não vai para o céu. Então vamos beber para irmos todos juntos para o céu! – Gargalhada geral.  Como sempre foram de ônibus – A Akelá de taxi. Ei não é o contrário? Risos, isto mesmo. Esqueci, já tomei três chopinhos! Risos e risos!