Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Cascudo um Escoteiro sonhador. (Repeteco)


Lendas escoteiras.
Cascudo um Escoteiro sonhador. (Repeteco)

       O ônibus parou no ponto e desci. Meu tempo era curto, portanto não podia ficar olhando aqui e ali. Estava na Av. São João e mais dois quarteirões eu iria encontrar a Rua Santa Efigênia. Talvez pela pressa eu dei um esbarrão forte em um transeunte e ele olhou-me desaforado. Não queria briga e pedi desculpas. Ele que tinha caído no chão levantou e me encarou. Poxa, pensei! Não vim aqui para isto. O desconhecido deu um belo sorriso – Monitor! É você? – Olhei para ele. Não reconheci. Estava de terno, um sujeito forte, cabelos negros bem penteados. O danado até que era simpático. – Desculpe amigo, pelo jeito estivemos juntos no passado no escotismo. Ele deu belas risadas chamando a atenção de outros que passavam. – Olhe bem Monitor! Sou eu, Josiel de Arimatéia a que você e os outros da tropa chamavam de Cascudo! Caramba, como ele mudou, agora eu me lembrava de nosso glorioso passado. Ele se aproximou de mim bateu os calcanhares e gritou bem alto: – “Sempre Alerta Monitor”! Quem passava sorria.

       Nos abraços efusivamente – Vamos beber alguma coisa. Eu pago ele disse. Na esquina bem proximo a Avenida Ipiranga encontramos um barzinho aconchegante. Olhei para ele, se transformou em um homenzarrão bem mais alto que eu. Ele ria de satisfação – Monitor! Como foi bom encontrá-lo. Quanto tempo eim? – É meu amigo – falei. Muito tempo. Mais de quarenta anos. E você me fale de você – eu disse. Monitor eu ralei muito neste mundo. Você deve se lembrar do meu pai um pobretão. Coitado. Mas me formei e hoje sou Promotor de Justiça. – Nossa! Pensei. – Que bom eu disse. Mas desistiu do escotismo? Lembro que você era um entusiasta. – Olhe Monitor, acho que você sabe, é muito difícil entrar e participar de um Grupo Escoteiro como o nosso no passado. Enquanto estudava nem pensei em procurar um grupo depois quando me formei achei que podia ajudar. Ele riu e continuou – Mas eles não querem ninguém como eu. Preferem pessoas mais humildes que não discutem muito. – Pensei comigo como as coisas mudaram.

      - Mas Monitor não vamos falar sobre isto. Porque não se lembrar daqueles tempos? – Porque não pensei. – Olá posso me sentar com vocês? Olhei e vi um senhor de uns sessenta anos cabelos grisalhos, óculos de grau bem grossos e uma bengala – Não estranhem meu pedido ele disse. Também fui Escoteiro e sênior. Estive na luta pelas estradas da vida e só me dei conta que era hora de parar a cinco anos passados. Cansei. Estava solteiro, não tive ninguém ao meu lado. Tentei como você entrar em um grupo. Sempre amei o movimento Escoteiro, foi ele quem me deu a força para enfrentar tudo que enfrentei. – Ele já estava sentado. – Não parou por ai, outro sentado numa mesa próxima sorria. Deu-nos o sinal de Sempre Alerta. – Posso participar com vocês? Claro eu disse. Quatro antigos Escoteiros se encontrando por uma cisma do destino. Cada um querendo lembrar e contar histórias do seu passado. Todos dizendo que não se adaptaram ao escotismo de hoje. Tentaram mas viram que eram um peixe fora d’água.

        Mas bons Escoteiros não ficam reclamando. Eles quando se encontram é para contar causos e causos. Lembrei-me de um Chefe que me enviou um convite -
Chefe! Aguardamos sua visita. No meu grupo o senhor vai poder contar muitas “historinhas”. Ri a valer. Contar “historinhas”! Sei que quando começamos a contar nosso passado era onze da manhã. Agora passava das seis da tarde. Cada um telefonou para sua cara metade explicando. Não guardei o nome de todos e eu pouco falei. Quantas histórias foram contadas. As noites das cobras, o vale seco, o Calcanhar de Aquiles onde todos tinham medo de ir, o Delegado que prendeu uma patrulha inteira, quinze escoteiros correndo de seis emas selvagens, e assim foi até o cair da noite. Pensei comigo que não era só eu o contador de histórias. Todos aqueles antigos Escoteiros também tinham a sua.

        Se quatro antigos Escoteiros em um pequeno bar tinham tantas coisas para contar quem diria se estivessem em uma floresta, numa clareira qualquer, uma noite sem lua e o céu estrelado eles contariam histórias a noite toda. Nos olhos de cada um eu via a chama da esperança, a vontade de voltar no passado, às saudades que machucam, mas que ajudam a viver. Ninguém comentou sobre suas dificuldades atuais, sua vida familiar ou profissional. Ali os quatro saudosos só lembraram-se do passado. Ah! Os poetas, sempre eles para nos dizerem tudo do passado, a dizer que saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que no machuca, é não ver o futuro que nos convida... Aguinaldo Silva escreveu isto. Melhor é ler Confúcio dizendo que a experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.


       Cheguei e em casa quase meia noite. Pelo meu sorriso a Célia sentiu que eu estava feliz. Contei para ela o encontro com Josiel de Arimatéia, o Cascudo, um escoteiro da minha patrulha, contei do Geraldo Nonato que nunca vi e que devia ter sido um grande escoteiro e do Leandro Farias um Velho Escoteiro como eu. Ela me ouviu com um olhar gostoso e um sorriso carinhoso. Existem muitas felicidades que não vemos. A maior delas é estar ao lado de uma criatura maravilhosa que sempre me apoiou. Uma grande companheira, a mulher que amo. Não esperem muitas aventuras neste conto simples. Comecei do nada e termino com a história de um grande amor. Um não são dois. O primeiro minha linda esposa querida e o segundo meu escotismo maravilhoso. Ambos jamais esquecerei!

domingo, 27 de abril de 2014

Para que eles servem?


Coisas de velhos Escoteiros.
Para que eles servem?

      Dizem por aí que velhos Escoteiros só têm uma utilidade: - Servir de poste para que os outros comentem o que ele foi e mais nada. Afinal o mundo é outro e ele o Velho Escoteiro já expirou seu tempo e aqui na terra e insiste em fazer hora extra. Assim pensando, pois ninguém quer ouvir suas ideias e sugestões eu fico na minha de escrever e publicar. Ainda bem que em minhas publicações tem alguns comentários e uns poucos que leem e curtem. Podem me contradizer, mas se você é um Velho Escoteiro me diga se sempre é consultado pelos membros dirigentes nacionais ou regionais e em alguns casos no seu grupo escoteiro? Quem sabe sim, podem ter-lhe perguntando se ser um Velho Escoteiro chato e “maniento” rende dividendos financeiros. Risos. Brincando somente e que me perdoem os outros velhos Escoteiros não vou compará-los a este quem vos escreve.

      Meu intuito aqui hoje é escrever esta pequena crônica é somente para lhe contar um fato do acontecido ontem, sábado, 26 de abril de 2014. Lá estava eu gostosamente cochilando no Santuário Mãe de Deus, onde se reuniam alguma centenas de Escoteiros paulistas que religiosamente assistiam a missa que por sinal foi uma das mais belas que já tinha visto. As canções do Padre Marcelo marcam profundamente. Missa é missa e não se sai abraçando e dando sempre alerta apesar de que um ou outro gato pingado aparecia. E foi então um chegou – Me olhou de esguelha sorrindo! Sou eu Chefe Osvaldo o Chefe Castanha. Beleza! Abraços e apertos de mãos saudosos. O tempo passa e eu ainda cochilando. Um Chefe, uma Chefe me cutuca e diz que sempre lê minhas histórias. Outro diz que sempre se emociona. Bom isto. Fico orgulhoso quando ouço alguém dizer assim. Mas além da rotina do Velho Escoteiro pouco reconhecido entre os jovens, pois ele não é nenhuma sumidade eis que chega ao final a missa e eu maravilhado com o cantar de todos a pedido do Bispo. Cantam a Canção da Promessa. Lindo. Espetacular! Parabéns!

    Termina tudo e eis que cada Grupo Escoteiro orgulhosamente dá seu grito de guerra. Um aqui outro ali e outro acolá. Bonito isto. Eu conversando com amigos vejo que formam um grande círculo. Poxa! Seria hora da Cadeia da Fraternidade? Não posso perder de maneira nenhuma. Aperta ali, aperta aqui e eu me aboleto entre uma senhora e uma escoteira. Adoro isto. Nunca fiquei de fora de uma Cadeia da Fraternidade e agora no fim da minha vida não ia perder esta. Foram mais de quatro centenas delas. Cada uma sempre diferente e emocionante. Começam a cantar, o dirigente como todos – Gente, para a direita, para a esquerda. Porque perder a esperança de nos tornar a ver, porque perder a esperança se há tanto querer”♫... O Velho Escoteiro tenta acompanhar com suas pernas bambas, uma voz fanhosa e canta somente com os lábios. Linda Cadeia da Fraternidade. Bem cantada todos sabem como fazer. Uma pausa um silencio, eu um Velho Escoteiro achei que acabou.

    Não tinha acabado, mas aquela euforia de participar de tantas, de sentir na veia a canção que ninguém esquece e de olhos fechados pensando que seu passado voltou fiz o que ninguém esperava... Gritei bem alto e olhe nem sei como saiu minha voz – “Escoteiros, um por todos” todos respondem – “Todos por um”! Repito novamente. E depois acrescento – Uma vez Escoteiro? Todos respondem – Sempre Escoteiro. E achando que era um Baden Powell renascido da Fênix, dou um sorriso e finalizo: Sempre? – respondem todos Alerta! - Missão cumprida. O Velho Escoteiro se sentiu realizado. Mas não, impossível, eu não era o dirigente, eu não tinha este direito! Arvorei em um direito que não tinha! O dirigente, o que realmente possuía este direito veio direto a mim, educado é claro – Chefe o senhor cortou a canção! Não estava na hora! No fundo ele queria dizer que ele é quem estava dirigindo e era dele o direito. Ele educadamente podia até ter completado – Porque não me pediu Chefe?

     Tentei sorrir e contar uma piada. Não sabia onde enfiar a cabeça. Preferi brincar com ele pedindo desculpas e me despedi de todos. Fui embora olhando para trás e imaginando os comentários, mas sorrindo baixinho. Mas quer saber uma verdade? Eu gostei. Gostei muito e adorei o que fiz. Certo ou errado mesmo não tendo este direito não posso dizer se o faria de novo. Eu sei que direitos são direitos, que norma é norma, mas quando eu poderia fazer isto novamente? Quantas Cadeias da Fraternidade eu ainda participarei? Se o Chefe dirigente estiver lendo esta crônica eu peço sinceras desculpas, mas me desculpando ou não, não me arrependo. Lembrar só de lembrar o passado é bom, mas agir como se você estive nele presente ainda é melhor. Não sei onde tirei a voz em um circulo com mais de quatro centenas de Escoteiros. Mas ela saiu sem eu esperar, gritada, forte alegre e parecia que eu era o Osvaldo, um Escoteiro com meus vinte e seis anos, naquele longínquo tempo passado, nas minhas Minas Gerais onde dirigi uma Cadeia de fraternidade com mais de dois mil Escoteiros. Uma apoteose!


       Obrigado amigos por me compreenderem, pois não vi nos olhos de nenhum jovem nenhuma admoestação. Para eles não importava quem estava dirigindo, cumpriram sua missão e aceitaram que outro ali dissesse as palavras mágicas de todo fim da Cadeia da Fraternidade. Senti um orgulho “danado” deles. Uma meninada alegre, cantante, que estavam lá prestando sua homenagem e nem sabiam que alegraram o coração de um Velho Escoteiro que achou que podia... Mas ele não podia nunca ter tomado a liderança. Pois é, são coisas de velhos Escoteiros, afinal para que eles servem?