Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FOGO DE CONSELHO FASC. 31

                                                                                
O “Velho” é um personagem criado em 1976, quando comecei a escrever fascículos de Historias que os Escoteiros não Contaram. Este do Fogo de Conselho são em dois. Um já publicado aqui. Se gostarem do estilo do “Velho”, ele, a Vovó e o Chefe Escoteiro são encontrados no blog http://chefeosvaldo.blogspot.com

O fogo de conselho – Parte II – fasc. 31

“O tempo não apaga a história. Ali, era como se tivesse passado séculos e ela estava viva e presente. Não era sonho, era realidade. Tudo estava vivo ali na minha frente. O Fogo de Conselho era mais do que eu queria. As horas pareciam minutos e se eu pudesse se estenderia pôr toda a eternidade.
Às brasas chamuscavam o céu com minúsculas fagulhas, e distraiam meus companheiros de aventuras. O sorriso mostrava a realidade do ápice da aventura. O calor não era só do fogo, mas de todos nós.
Muitos outros Fogos de Conselho virão e sei que em cada um deles minhas estórias ficarão marcadas para sempre.

DE UM ESCOTEIRO NOVIÇO

AOS ANIMADORES DE FOGO DE CONSELHO, POIS ELES SÃO A RAZÃO DE SER DO DIVERTIMENTO

FINAL

      O dedo em riste do "Velho" não era em tom de desaforo, mas sim de uma maneira peculiar quando queria discordar de algum tema em discussão.

      - Eu sei que o mundo é outro e já estamos no século XXI, claro - dizia o "Velho". Mas isto não significa que os jovens também querem mudar. Eles estão aceitando o que lhes oferecem, e na falta de algum melhor, aceitam qualquer coisa, até mesmo a “tapeação”.

     - Não é bem assim "Velho", - Quem falava era um membro da Equipe de Formação, um dos poucos a visitar o "Velho" esporadicamente.

      Quando aparecia, já sabia das opiniões do “Velho! e sempre sobrava para ele às mudanças porque passava o Movimento Escoteiro. Ele era um daqueles abnegados, Engenheiro Civil, que largava seu Escritório para ajudar e ao mesmo tempo era um dos poucos que podia falar de “Cátedra” porque insistia em participar como Chefe de um Grupo Escoteiro e que pôr sinal exercia uma liderança saudável na área de sua atuação.

- Tenho participado de alguns Cursos Técnicos de Fogo de Conselho, e você sabe da minha experiência do passado.

- Conheço como você como surgiu e como BP deu significado a esta atividade noturna. Ele mesmo participou de muitos nas varias tribos africanas e em sua visita aos índios norte-americanos e australianos.
 
- Não falo pôr falar, procuro ir a fundo nas minhas idéias e não vou aceitando qualquer abelhudo dar diretrizes, querendo ensinar o que devo ou não devo fazer. Você me conhece bem e sabe como sou.

- O "Velho" “fungou”, deu umas boas tragadas em seu cachimbo, soltou “baforadas e baforadas" empestando a Sala Grande, fazendo com que a “tosse” viesse sem ser solicitada.

Era uma discussão das boas. Não fazia nem dois meses que havia participado do Curso Técnico de Fogo de Conselho e minha pesquisa tinha dado uma diretriz, que não caminhava em direção a usual, ou seja, a rotina do que hoje todos denominam Fogo de Conselho.  

- Procure compreender a minha atuação. Bem diferente da sua, que tomo a liberdade de dizer, é muito simplista e fácil. - Continuou o Chefe. - Você pode se dar ao luxo de criticar, pois não participa diretamente! - O "Velho" ouvia calado. Ele esperava sua vez. Não era o primeiro e nem o único a dizer que é fácil criticar de fora. Já ouvira de outros. Diziam que difícil é estar participando e tentar mudar, fácil é criticar mesmo sendo construtivo de longe.

- O mundo mudou e você sabe disto, - falava o Chefe - Já não podemos fazer fogueira, Pioneirias e outras tantas atividades escoteiras tão facilmente. O Fogo de Conselho também sofreu adaptações e até agora tem dado certo! - Tenho acompanhado nas sessões do Grupo que participo e não tenho me decepcionado! - Os jovens têm gostado e não reclamam.

- Se você der minhoca para pescar jacarés numa lagoa de lambaris eles vão ficar o dia inteiro pescando e não vão reclamar. Estão acreditando que ali tem jacarés, pois o Chefe “falou”. - disse o "Velho”. Aprenderam assim. Mas será que isto vai ajudar na formação? - Tenho ouvido de muitos a necessidade de mudança, mas esta não pode ser feita desta maneira. O Fogo de Conselho faz parte do Adestramento. Não parece, mas ele é muito importante.

- Olhe - continuava o "Velho" - O Fogo de Conselho é uma extensão da atividade em que o jovem participou nos dias de acampamento. Não uma cópia teatral ou televisiva do que vemos todos os dias. Ele (o Fogo de Conselho) tem que ser criativo e para isto não pode ser para uns poucos que se sobressaem na arte de representar.

- Não basta ter um animador dos bons, a idéia de BP não foi essa. Você já disse que conhece como eu como surgiu e o que vemos foi criado depois. Hoje alguém com alguma criatividade vai lá na frente com um programa escrito e pobre dos participantes, vão assistir réplicas de representações antigas ou vistas em alguns programas cômicos de TV. Canção, apresentação de uma patrulha,, palma, canção, apresentação de outra patrulha e assim vai.

O Chefe DCIM ouvia. Não sabia se concordava se esperava o final para ir embora ou se preparava para retrucar. - Continuava o "Velho" - Acredito que existe a necessidade deste espetáculo teatral, desde que seja bem montado e destinado para pais e visitantes.  A pirotecnia ali até que pode valer à pena, mas esta é a única exceção que admito.

- O melhor é aquele fogo da tropa, que ela decidiu onde e quando. Que ela (a tropa) sabe o que vai fazer. Que pode ser um simples bate papo, mas o fogo, este sim está ali em volta, e todos sentem o mesmo calor e participam em conjunto espontaneamente. Alguns ingredientes são bem vindos e devemos até motivar os nossos jovens com instrumentos musicais, mas alguns chefes acham que ali podem demonstrar seus dotes de cantores em vez dos jovens e acabam estragando tudo!

- Fazer o certo não é difícil! - Basta dar a isca correta. Com o tempo tudo irá fluir naturalmente.  Deixar pôr conta dos monitores. Não importa até quando eles estão ou não preparados. Não precisa de nenhuma técnica para isto. E nem curso, desculpe minha intromissão.

- Isto se aplica também a Tropa Sênior e claro nas tropas femininas. Discordo inclusive o que estão fazendo aos lobinhos. Claro que não seria uma réplica do fogo da Tropa, mas o inicio para eles se motivarem mais, sem aquela preparação minuciosa com um ou outro chefe se destacando, sem dar possibilidades de criatividade entre eles e o “incrível e chato” lampião fazendo às vezes de uma fogueira.

- Posso até concordar com você em alguns pontos - falou o Chefe DCIM - Mas não é tão simples assim. Hoje temos Escotistas que nunca foram ao campo e não tem a mínima idéia do que fazer. Não sabem nem acender um fogo e estão dirigindo um acampamento.

- Você chegou ao ponto! - falou o "Velho”. Este é o nosso Escotismo. Causas e efeitos. Pelo efeito estamos dando o que achamos certo, mas sem nos preocupar com as causas. Estas é que são preocupantes. - Enquanto vamos criando facilidades para aqueles novos vamos mudando o rumo do nosso fundador. Temos que atacar em todas às frentes e não ficar facilitando a vida de um interessado em ser um Dirigente Escoteiro. Compete a ele se adestrar, ler, aprender e estagiar para não prejudicar toda uma estrutura que foi montada em alicerces firmes.

- Sei que você vai me dizer que estes não estão tão interessados e que os Grupos tem dificuldades em encontrar vários deles, mas isso poderia mudar se as causas fossem sanadas. - Primeiro tentar diminuir a evasão e com isso utilizando mais os rapazes advindos do movimento. Desculpe novamente, sei que não é este o nosso assunto, mas uma coisa leva a outra.

O "Velho" viu que seu cachimbo estava apagado. Entusiasmou-se tanto que logo sentiu a falta daquela horrorosa fumaça que soltava como se fosse a chaminé de uma fábrica ou locomotiva a vapor.

O Chefe DCIM aprovou a deixa para mudar de assunto.

Conversaram mais algumas amabilidades e logo apareceu a Vovó com seu café fumegante e seus biscoitos maravilhosos. Fiquei analisando a conversa dos dois e fico com o "Velho”. O Fogo de Conselho tem tradições que foram criadas e estas não podem ser alteradas a bel prazer.

É delicioso fazer uma fogueira simples, alimentá-la à medida que se torna necessário, sentir o calor dos amigos, um bate papo legal, uma canção espontânea, uma imitação ou uma historia de improviso, um fato pitoresco, um bom café ou chá e boas risadas das dificuldades ou aventuras do dia ou dos tempos no Escotismo. Os jovens, os chefes, todos eles são amigos e não superiores. Não há ordem de seqüência e nem repetitividade. Este sim seria o meu fogo ideal.

Já participei de dezenas, centenas talvez, mas não tive o prazer de assistir e participar de um desses. Felizes são os jovens. Pena que os adultos não pensem assim. Sempre querem decidir para eles e eles não sabem que a felicidade está tão perto e basta um pequeno empurrão para alcançá-la.

- Senti o "Velho" bater a mão no meu ombro, dar um olhar enigmático e dizer -”Também concordo com você, só que eu pude participar, pois Graças a Deus, fui jovem e tive uma chefia de primeira qualidade!” –

Deus do céu! - pensei. O "Velho" agora também lê pensamentos?
                            Eu era feliz e não sabia!!!

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